31 de julho de 2009

AMOR: O TESTE SOCIAL

AMOR: O TESTE SOCIAL

l João 2.7-11

Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ou vistes. Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia. Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz e nele não há escândalo. Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir: porque as trevas lhe cegaram os olhos.

Em um apêndice de seu excelente livro e The Church at the End of the 20° Century (A Igreja no Final do Século XX), Francis Schaeffer fala sobre o amor como a “marca do cristão”. Seu estudo é baseado em João 13.34-35, em que se registra que Cristo deu um novo mandamento aos seus discípulos:

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Schaeffer ressalta que “apenas com essa marca o mundo pode saber que os cristãos são de fato cristãos e que Jesus foi de fato enviado pelo Pai”.

Ele está certo. Pode-se acrescentar a isso, no entanto, que é também pelo amor que os cristãos podem saber que são cristãos. Ou seja, o cristão pode saber que realmente foi vivificado por Cristo quando começa a amar e de fato ama as pessoas por quem Cristo morreu.

Esse é o tema do próximo trecho de 1 João, pois é nesses versículos (2.7-11) que o apóstolo ancião desenvolve o segundo teste, o social, para verificar se uma pessoa que considera conhecer a Deus de fato o conhece ou não. O primeiro teste se encontra nos versículos 3-6. É o teste moral, o teste de retidão.

O terceiro teste está nos versículos 18- 27. É o teste da crença ou doutrinário. Aqui, porém, o teste é de amor. Será que a pessoa que professa amar a Deus ama também o seu próximo? Se ama, pode ter certeza de que foi vivificado por Deus. Se não ama, João diz que essa pessoa não tem mais direito de se considerar um filho de Deus o que aquela que diz que conhece a Deus mas desobedece aos seus mandamentos.

Esse trecho é dividido em duas partes: primeiro, a lei cio amor, segundo, a vicia de amor. A segunda parte contém três aplicações contrastantes cio princípio básico.

A Lei do Amor (vv. 7,8)

Nos versículos precedentes, João exortou os crentes a guardar os mandamentos dc Deus. Mas isso era urna declaração geral. Agora ele traz à luz um mandamento específico: o mandamento de amar.

É verdade que os versículos 7 e 8 não contém a palavra amor e que, de fato, ele só é mencionado uma vez em todo esse trecho (no versículo 10). Mas o mandamento cio amor é o que João obviamente tinha em mente, como a referência ao “novo mandamento” de João 13 indica de modo evidente. A progressão de pensamento é que, se urna pessoa conhece a Deus, vai aguardar os mandamentos dEle, e se guardar os mandamentos de Deus, vai amar o próximo de acordo com o ensinamento de Cristo.

Amor como um antigo mandamento

No entanto, não existe nada fundamentalmente novo em tudo isso, pois João lembra seus leitores de que o mandamento é o que eles tinham recebido desde o princípio. É possível compreender essa última frase de duas formas diferentes. Ela pode se referir ao princípio do cristianismo, como a mesma frase parece fazer no capítulo 1. Ou pode ser entendida como uma referência ao princípio da religião revelada, ou seja, ao mandamento como existia na era do Antigo Testamento.

Provavelmente, é melhor optar pelo último sentido, pois é mais fácil ver um contraste antigo-novo entre a lei do amor contida no Antigo Testamento e a lei do amor restabelecida por Jesus para os cristãos do que imaginar um contraste entre o que existia no princípio do cristianismo e o cicie de algum modo ainda soa novo quando João escreve sua epístola.

O mandamento do amor é antigo, pois já existia e era conhecido antes da vinda de Cristo. Em sua forma mais simples, pode ser encontrado em Levítico 19.18, que diz: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. É a esse versículo que Jesus se refere quando lhe pedem sua opinião quanto ao primeiro e maior mandamento. Ele disse que o maior mandamento era o registrado em Deuteronômio 6.5: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder”. Mas o segundo, ele disse, era aquele encontrado em Levítico 19.18.

Amor como um novo mandamento

Em que sentido, então, o mandamento de amar é um novo mandamento? É novo no sentido que recebeu uma ênfase inteiramente nova e foi elevado a tini novo nível pelos ensinamentos e pelo exemplo de Jesus. Willian l3arclay sugere dois modos de como isso é verdade, aos quais também vamos acrescentar um terceiro.

Primeiro, em Jesus o amor se torna novo quanto à sua extensão. Na época de Cristo, o amor não era algo novo, mas ao mesmo tempo havia alguns que consideravam o amor como uma obrigação limitada a um círculo fechado de amigos ou, numa extensão maior, a uma nação. Para os judeus ortodoxos, o pecador não deveria ser amacio. Em vez disso, ele era alguém que Deus desejava destruir. Tampouco os gentios deveriam ser amados. Eles foram criados por Deus para o inferno. Em contraste, Jesus estendeu seu amor a todos.

Ele se tornou o “amigo dos pecadores”, um ouvinte simpático e professor de mulheres (que também eram desprezadas), e eventualmente alguém por quem a salvação foi estendida até para o mundo gentílico. Suas últimas palavras aos discípulos foram para que fizessem discípulos de todas as nações (Mt 28.19) e que eles deveriam ser testemunhas “em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8).

Segundo, em Jesus o amor se tornou novo quanto à sua distância. Aqui as pessoas precisam olhar para a cruz, pois é na cruz que a altura e a profundidade do amor de Deus são vistas, e não são vistas com a mesma gradação em nenhum outro lugar. A que distância vai o amor de Deus? A distância até a qual o Filho de Deus assume sobre si a forma humana, morre na cruz, carrega sobre si os pecados de toda uma raça caída para que, ao receber a punição por aquele pecado, Ele esteja de fato alienado de Deus, o Pai, e assim grita em profunda agonia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15.34). Essa é a distância até aonde o amor de Deus vai. É aí que o amor se torna uma coisa inteiramente nova em Cristo.

Terceiro, em Jesus o amor se faz novo quanto à sua intensidade. João indica isso ao acrescentar no versículo 8 “é verdadeiro nele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia”. Nesse versículo, “verdadeira” (alethes, alethinos) significa “genuína”, e a questão é que o amor verdadeiro ou genuíno, como a retidão genuína, agora está presente não apenas em Jesus, mas também naqueles que nele foram feitos vivos. Nesse sentido, o que não era possível na dispensação do Antigo Testamento agora é possível; pois a vicia de Jesus, que se expressa em amor, está em seu povo.

A Vida de Amor (vv. 9-11)

João estabeleceu que as trevas se passaram e a verdadeira luz está brilhando; porém as trevas não se firam completamente ainda, nem a luz é vista em toda parte ou em todas pessoas. Assim, ele destaca três exemplos daqueles para quem o teste do amor deve ser aplicado. Existem dois exemplos negativos e um positivo

Confissão sem amor

O primeiro exemplo é o da pessoa que “alega estar na luz ruas odeia seu irmão”.

João diz que tal pessoa “está em trevas”. O sujeito desse versículo (“Aquele que diz”) lembra declarações similares e de algum modo paralelas cio capítulo 1 ( “Se dissermos”, vv. 6,8,10), seu lugar no argumento corresponde diretamente com 2.4:

“Aquele que diz: Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”. Nesse caso, porém, João não diz que a pessoa que confessa conhecer a Deus enquanto na verdade odeia seu irmão é um mentiroso, embora isso também seja verdade, mas em vez disso que ele está em trevas e anda em trevas até agora. Nesse versículo a referência é obviamente aos oponentes gnósticos de João, como também é o caso nos outros versículos que começam com “Se dissermos”.

Os gnósticos alegavam ser os iluminados. Mas eles na verdade estão em trevas, diz João, se falharem em amar seus irmãos.

Paulo disse a mesma coisa quando escreveu aos coríntios sobre o amor: “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria” (1 Co 13.2). Plummer declara: “A luz em um homem são trevas até que seja aquecida pelo amor”.

Amor brotando da luz

O segundo exemplo é positivo. É o da pessoa que demonstra que habita na luz por amar seu irmão. João diz que nesse comportamento “não há escândalo”.

A idéia cio escândalo pode ser aplicada de dois modos. Primeiro, pode ser aplicada aos outros no sentido de que uma pessoa que ama seu irmão não apenas caminha na luz, mas também é livre de ter ofendido o próximo. Esse é o sentido geral do mundo no restante cio Novo ‘Testamento. Por outro lado, também pode se aplicar ao indivíduo no sentido de que, se ele ama, caminha na luz e assim não causa escândalo.

O contexto quase exige essa segunda explicação, pois a questão levantada pelos versículos não é sobre o que acontece aos outros, mas sim sobre o efeito cio amor sobre o ódio do próprio indivíduo. O equivalente negativo dessa declaração ocorre apenas um versículo depois. Nesses versículos, João introduz a importante idéia de que “nosso amor e ódio não apenas revelam se já estamos na luz ou nas trevas, mas contribuem de fato para a luz ou as trevas na qual nós já estamos”.2 Aquele que anda na luz tem mais luz dia a dia. Aquele que caminha em trevas está cada vez mais imerso em trevas.

Ódio levando a mais trevas

O último dos exemplos de João também é negativo e segue-se naturalmente ao que o antecede. Ele falou sobre o homem que ama seu irmão e demonstrou as conseqüências disso. Agora ele volta ao caso daquele que odeia seu irmão e demonstra as conseqüências disso. Existem três conseqüências. Depois delas, João dá uma explicação final e resumida.

A primeira conseqüência está na natureza de uma observação: aquele que odeia seu irmão está em trevas. Essa é a expressão mais simples do teste em sua forma negativa.

A segunda conseqüência é que ele anda em trevas. Isso acrescenta a idéia de uma ação contínua ou de uma esfera contínua de atividade. Não é apenas um homem que falha em amar seu irmão que não tem conhecimento de Deus; também é que tudo o que ele faz está em trevas e é caracterizado pelas trevas. Ele continua nelas. Finalmente, João acrescenta que embora continue em sua caminhada de trevas, ele faz isso sem ter o conhecimento claro de um objetivo. Ele prossegue, pois o caminho da pessoa sem Deus é o de uma atividade sem descanso. Mas ele “não sabe para onde vai” (Jo 12.35).

Só existe uma explicação para essa incrível situação, uma situação na qual os homens andam em trevas, muito embora a luz verdadeira esteja brilhando, sem um objetivo, muito embora o objetivo de Deus em Cristo seja muito claro, O problema é que os homens são cegos e não conseguem ver a luz nem discernir o objetivo. Claramente não existe esperança para essas pessoas exceto em Deus, que é capaz de dar vista ao cego e conduzir os pés do pecador num caminho de retidão,

Conclusão

Esse último versículo introduz um termo qe pode ser aplicado à vicia de amor. É o termo “andar”, que sugere dar passos. O que é o amor afinal? Não é apenas um certo sentimento agraciável. Não é um sorriso. É uma atitude que determina o que alguém faz. Assim, é impossível falar sobre o amor sem pelo menos sugerir algumas das ações que deveriam fluir a partir cicie, assim como é impossível falar sobre o amor de Deus sem mencionar coisas tais quais a criação cio homem à sua imagem, a entrega da revelação cio Antigo Testamento, a vinda de Cristo, a cruz, o derramamento cio Espírito Santo e outras realidades.

O que significa amar? O que vai acontecer se aqueles que professam a vicia de Cristo amarem de fato uns aos outros? Francis Schaeffer, a quem me referi no início deste capítulo, tem diversas sugestões.

Primeiro, significa que quando o cristão falhou em amar seu irmão e, assim, agiu de modo errado com relação a ele, então irá até ele e dirá que sente muito. Parece fácil, mas não é, como qualquer um que já tenha tentado fazer isso sabe. Mesmo assim, mais do que qualquer outra coisa, expressa o amor e restaura aquela unidade que Jesus disse que deveria fluir do fato de que os cristãos amam uns aos outros e pela qual sua confissão é verificada ante o mundo.

Segundo, como a ofensa vem freqüentemente da parte dos outros, devemos demonstrar nosso amor pelo perdão. Isso é muito difícil, em particular quando a outra pessoa não pede desculpas. Schaeffer diz:

Devemos reconhecer continuamente que não praticamos o coração perdoador como deveríamos. E uma vez mais a oração é “perdoe nossas dívidas, nossas ofensas, assim como nós perdoamos nossos devedores”. Devemos ter um espírito perdoador antes mesmo de a outra pessoa expressar arrependimento pelos seus erros.

A oração do Senhor não sugere que quando a outra pessoa diz que sente muito então é que nós devemos demonstrar unidade ao ter um espírito perdoador. Em vez disso, somos chamados para ter um espírito perdoador sem que o outro tenha dado o primeiro passo. Podemos ainda dizer que ele está errado, mas ao mesmo tempo em que dizemos devemos perdoar.

O próprio João aprendeu a amar a esse ponto, pois anteriormente em sua vida ele era conhecido como um dos “Filhos do trovão”.

Certa vez ele desejou que viesse fogo do céu sobre aqueles que rejeitavam a Jesus (Lc 9.54). Mas à medida que passou a conhecer mais sobre o Espírito, passou a amar cada vez mais e mais.

Terceiro, precisamos demonstrar o amor com ações práticas, mesmo quando isso custa muito, O amor custou ao samaritano da parábola de Cristo. Custou a ele tempo e dinheiro, O amor custou ao pastor que se esforçou para encontrar sua ovelha, O amor custou a Maria de Betânia que, com seu amor, trouxe um frasco com líquido caríssimo aos pés de Jesus. O amor vai custar para todos que o praticam. Mas o que é comprado com ele será de grande valor, embora intangível; pois será a prova da presença da vida de Deus tanto para o indivíduo cristão quanto para o mundo que o observa.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

As Epístolas de João de James M. Boice

20 de julho de 2009

UMA CHAMADA Á SANTIDADE

UMA CHAMADA À SANTIDADE

1 João 2.1,2

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.

Nada do que João escreveu pode ser considerado um endosso para o pecado. Mas é possível que algumas pessoas possam compreender de forma errada suas declarações e assim chegar a essa conclusão. Ele não argumentou que todos os homens pecam? “Bem, se o pecado é inevitável, por que lutar com ele? Você vai pecar não importa o que faça. Então, é melhor resignar-se aos fatos”, podem sugerir. Ou, outra coisa, João não disse que existe perdão para o pecado através daquilo que Jesus fez e, de fato, continua a fazer? “Tudo bem”, eles podem acrescentar. “por que se preocupar sobre cometer peca- dos? Se Deus nos perdoa, o resultado está garantido. Na verdade, por que não pecar mais, para que Deus possa perdoar mais e obter uma glória maior cru tais circunstâncias?”

As palavras de João não dizem isso, é claro, nem seus princípios levam a essa direção. De fato, levam precisamente a conclusões opostas. Para demonstrar isso, ele agora interrompe o formato que vinha adotando, de apresentar e responder as visões falsas dos gnósticos (teria havido um “se caminharmos’ ou um “se confessarmos” seguindo o texto em 1.10), e começa uma nova frase na qual o problema do pecado do cristão é trabalhado de forma bem direta, A frase contém uma chamada clara à santidade, que por sua vez é baseada em duas grandes certezas cristãs. A primeira é a promessa de Deus de perdoar o pecado, já estabelecida no capítulo 1. A segunda é a obra de Cristo, sobre a qual a primeira é elaborada.

A Promessa de Deus (v. 1)

O objetivo da mensagem de João é evidente, tanto no apelo em si quanto no tom no qual ele é feito: “Meus filhinhos, estas coisas VOS escrevo, para que não pequeis”. É um apelo amoroso e tem o efeito de garantir aos seus leitores que, sejam lá quais sejam as implicações de suas declarações anteriores, sua preocupação com eles é precisamente nisto, que eles não pequem. Nada do que ele disse deveria ser visto como a valorização da falta de retidão.

Uma pergunta ainda permanece, no entanto. João obviamente deseja que as pessoas a quem está escrevendo permaneçam livres do pecado, mas, de forma precisa, como será que as verdades sobre as quais ele está falando levam à perfeição? O que no capítulo 1 realmente promove esse objetivo? Ou, para colocar numa linguagem diferente, a que exatamente isso se refere? É possível, primeiro, que seja uma referência a quase tudo o que vem antes. Mas não é provável que o prefácio esteja envolvido (o que limita o material aos versículos 5-10); e, se isso é assim, então a referência pode ser ainda mais restrita.

Em segundo lugar, é possível que João esteja se referindo à tese principal dos versículos anteriores; a saber, que Deus é luz. Se isso é assim, a lógica é óbvia. Os cristãos não devem pecar porque Deus não tem pecado.

Terceiro, existe a possibilidade de que João esteja se referindo à declaração do versículo 9, na qual disse que Deus vai perdoar nossos pecados se os confessarmos. Essa referência pode ser a mais provável em virtude da proximidade dos 2 versículos, e por causa do tom e cio conteúdo de 2.1,2, que fala sobre o perdão num relacionamento familiar.

Mas como a garantia do perdão realmente leva à santidade? Não seria o contrário? Se sabemos que estamos perdoados de antemão, não nos sentimos livres para pecar? A objeção parece lógica, mas não é. De fato, ela se contradiz pela experiência humana. Na verdade, o conhecimento desse amor tão grande e desse perdão imerecido torna o cristão profundamente desejoso de não pecar contra eles.

Uma ilustração torna-se necessária para deixar essa questão mais clara. Pouco depois da Segunda Guerra Mundial, Donald Grey Barnhouse, que na época era pastor da Décima Igreja Presbiteriana em Filadélfia, estava aconselhando um certo jovem. Ele era professor em uma grande universidade e tinha uma história triste para contar. Ele fora segundo-tenente do exército americano e havia partido para a França, onde caiu em más companhias. Não era cristão na época, e enquanto serviu naquele país viveu uma vida de muitos pecados.

Agora, porém, tinha voltado para casa, se tornado cristão, conheceu urna jovem cristã e desejava casar-se com ela. Mas havia um problema. Ele se lembrava de seu passado de pecados e tinha medo de voltar a cair neles. Se isso acontecesse, ele feriria a jovem que amava. O que deveria fazer? Por causa de sua incerteza, havia hesitado sobre declarar seu amor por ela.

O pastor aconselhou que ele conversasse francamente com a jovem e lhe contasse sobre sua vicia no passado. “Ela precisa saber que você a ama e que algo o está impedindo”, disse. “Por isso, você precisa deixar tu cio claro. Se vocês vão passar o resto de suas vidas juntos, não pode haver barreiras entre os dois”. Ainda assim, o jovem hesitava.

Nesse momento, Barnhouse lhe contou uma história que é contada aqui para introduzir o comentário que foi feito pelo jovem professor quando ele terminou.

“Algum tempo atrás, conversei com um homem cuja história não era muito diferente da sua. Ele também tinha vivido uma vida de pecado sob condições similares àquelas que existem numa missão de resgate. Ele se casou então com uma jovem mulher cristã para quem tinha contado sua sórdida história. Depois de ter contado a sua esposa tudo isso, ela o beijou e disse: “John, queria que você compreenda algo de modo pleno. Conheço bem a minha Bíblia e sei quais são as obras de Satanás. Sei que você é um homem completamente convertido, mas também sei que você teve uma velha natureza para a qual Satanás decerto vai apelar.

Ele vai fazer tudo o que puder para colocar a tentação no seu caminho. Pode chegar o dia e oro para que nunca chegue — em que você vai sucumbir à tentação e cair em pecado. Imediatamente o Diabo vai dizer que você estragou tudo, que Você pode então continuar a pecar e que acima de tudo você não deveria me falar nada porque vai me magoar. Mas, John, quero que você saiba que este é o seu lar. Você pertence a este lugar. E quero que você saiba que existe perdão total e de antemão para qualquer mal que possa vir a acontecer em sua vida.

À medida que o Dr. Barnhouse contava essa história, o professor abaixava sua cabeça até as mãos. Porém, quando chegou ao fim, o jovem levantou sua cabeça e disse com reverência “meu Deus, se qualquer coisa pudesse manter um homem direito, seria isso”.

Esse é o princípio de 1 João 2.1,2: perdão de antemão para qualquer pecado que pode ocorrer em nossas vidas. Essa é a promessa de Deus que nos é dada precisamente para que não pequemos. Deus não fica chocado com o comportamento humano, como ficamos com freqüência, pois Ele vê tudo de antemão, incluindo os pecados dos cristãos. Mais ainda, e apesar disso, Ele nos enviou seu Filho para morrer pelos pecados de seu POVO a fim de que possa haver perdão total. Esse amor é incomparável. Tal graça fica além da compreensão. Mas Deus nos fala sobre esse amor e essa graça para que possamos vencer por eles e determinar, dando-nos Deus a força, que não vamos falhar com Ele.

A Obra de Cristo (vv. 1,2)

Às vezes falhamos com Ele, apesar de sua garantia de perdão. E então? Nesse caso, diz João, devemos ir a Deus para confessar o pecado e buscar perdão, sabendo que somos capazes de chegar a Ele por meio da obra de Cristo, como os filhos se aproximam de um pai. Nessa declaração, as referências à purificação por meio do sangue de Cristo (1.7), à promessa de perdão e purificação para aqueles que confessarem seus pecados (1.9), e à chamada à santidade (2.1,2) estão juntas.

Jesus, nosso advogado

A obra de Cristo é a base sobre a qual o cristão pode se aproximar de Deus em busca de pleno perdão e total purificação. João usa três termos para descrever isso. O primeiro é “advogado”, ou “alguém que fala em nossa defesa”. Esse é um termo legal, em grego e em português; mas em grego, ao contrário do português, a palavra tem um sentido passivo, e não ativo. Descreve alguém que é chamado para ajudar outro, em particular num tribunal.

É fácil de ver, então, como João consegue usar a palavra para Jesus; pois ele simplesmente quer dizer que Jesus é aquEle que chamamos para nos ajudar perante o tribunal de Deus. Como diz I3arclay, “não devemos pensar sobre Ele como alguém que passou sua vida na Terra, morreu na cruz e então não tem mais nada a ver com a humanidade”. Em vez disso, “Ele ainda carrega a preocupação com a humanidade dentro de seu coração”.

A palavra advogado não aparece fora dos escritos de João, mas o ministério de Cristo ao qual se refere ocorre em muitos lugares. Jesus prometeu a Pedro que iria interceder por ele para que sua fé não falhasse após ter negado seu Senhor (Lc 22.32). João 17 registra uma oração com esse mesmo objetivo em favor de todos os crentes.

Jesus declarou: “E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus” (Lc 12.8). Paulo descreve Jesus como sendo aquEle que “Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34).

Porém, existe uma coisa que deve ser percebida no uso feito por João da palavra “advogado”. Quando o termo é usado no sentido legal nos dias de hoje, normalmente pensamos sobre o trabalho de um advogado ao apresentar todo o caso a respeito do réu; ou seja, ao defender o acusado a respeito dos méritos de seu caso. Em João, a idéia de mérito da parte do acusado é ausente; em vez disso, o mérito vem da parte do advogado. A antiga idéia é ilustrada pelo uso de um termo do antigo tratado rabínico Pirke Aboth: “Aquele que segue a lei ganha para si um advogado, e aquele que comete uma transgressão ganha para si um acusador” (4.13). No Novo Testamento, é inteiramente uma questão da graça de Deus.

Jesus, o justo

O segundo termo usado por João a respeito de Jesus é “justo”. De fato, essa é a palavra que é enfatizada.

Em que sentido ela é utilizada? É possível que João esteja se referindo à retidão judicial que o Pai aplicou aos crentes com base no sacrifício de Cristo por eles, o significado usualmente dado ao termo por Paulo, como em Romanos 10.4:

"Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê”. Mas isso é improvável por diversas razões. Primeiro, é estranho compreender a palavra em dois sentidos em tão pouco espaço (em 1.9 sobre o Pai e em 2.1 sobre o Filho), algo que precisamos fazer se essa interpretação é adotada.

No primeiro caso, a palavra se refere à justiça da ação de Deus ao perdoar o pecado.

No segundo, a idéia das bases suficientes da advocacia de nosso Senhor é adequadamente desenvolvida na expressão que se segue, que nos diz que Ele é “propiciação pelos nossos pecados”. Assim, não é necessário aqui. Finalmente, a idéia dominante nesses versículos não é a da justificação feita com base na retidão de Cristo.

Em vez disso, é a advocacia de Cristo direcionada para o crente que pecou. Por essas razões, parece melhor assumir a palavra como descrevendo não a retidão legal que Cristo tem e representa, que nos é oferecida no evangelho, mas a retidão de seu caráter, que governa a natureza de sua advocacia direcionada a nós.

Nem todos os advogados são assim, como qualquer pessoa que já tenha enfrentado alguma causa na justiça sabe. Freqüentemente eles são injustos. Muitas vezes servem a seus próprios interesses em vez de servir aos interesses de seus clientes. Alguns usam detalhes técnicos para escapar da justa censura da lei. Mas Jesus não opera desse modo. Em vez disso, Ele é fiel à nossa causa e apresenta o caso com fidelidade e perfeição.

Jesus, a propiciação

Por fim, João chama Jesus de “propiciação pelos nossos pecados”, acrescentando “e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. A palavra propiciação) era utilizada extensivamente em antigos escritos pagãos para referir—se a oferendas dadas a um deus raivoso de modo a aplacar a sua ira. Mas isso é incompatível com o caráter do Deus cristão, dizem alguns acadêmicos. Deus não é um Deus raivoso, de acordo com a revelação cristã. Ele é gracioso e amoroso.

Mais ainda, não é Deus quem fica separado de nós por causa cio nosso pecado, mas sim nós que nos separamos de Deus. Ou, ainda, não é Ele que tem de ser propiciado, mas nós mesmos. De acordo com esse pensamento, devemos nos referir à propiciação não como aquilo que Jesus fez com relação a Deus, mas com o que foi feito por Deus em Cristo pela nossa culpa. Ela foi” coberta”, “desinfectada” ou “expiada” por sua morte. Assim, por essa vi.são, a Bíblia nunca faz de Deus o objeto da propiciação.

Mais isso não é tudo. Em primeiro lugar, mesmo sendo verdade não podemos misturar o conceito cristão de Deus com o caráter petulante de deidades do mundo antigo, ao mesmo tempo também não podemos esquecer sua justa ira contra o pecado, de acordo com a qual ele será punido, seja em Cristo ou na pessoa do pecador. Aqui, todo o âmbito da revelação bíblica precisa ser levado em consideração.

Segundo, embora a palavra propiciação seja utilizada nos escritos bíblicos, não é usada exatamente com o mesmo sentido que nos escritos pagãos. Nos rituais pagãos o sacrifício era o meio pelo qual um homem aplacava um deus ofendido. No cristianismo nunca é um homem que toma a iniciativa ou faz o sacrifício, mas o próprio Deus que, em virtude de seu imenso amor pelo pecador, providencia o meio pelo qual a sua própria ira contra o pecado possa ser aplacada.

Em 1 João 4.10, a única outra passagem do Novo Testamento que usa exatamente a mesma forma da palavra encontrada em 2.2, o amor de Deus é enfatizado. Essa é a verdadeira explicação para que Deus nunca seja o objeto explícito da propiciação nos escritos bíblicos. Ele não é o objeto porque é, o que é mais importante ainda, o sujeito. Em outras palavras, Deus aplaca a sua própria ira contra o pecado para que seu amor possa abraçar e salvar totalmente o pecador.

É no sistema sacrificial do Antigo Testamento que a idéia verdadeira da propiciação é observada mais claramente, pois se alguma coisa é estabelecida pelo sistema de sacrifícios (no sentido bíblico de sacrifício), é que o próprio Deus forneceu o meio pelo qual um pecador pode se aproximar dEle.

Pecado significa morte. “Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá. [.1 A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade cio filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele” (Ez 18.4,20).

Todavia os sacrifícios ensinam que existe um modo de escapar e de se aproximar de Deus. Outra pessoa pode morrer no lugar do pecador. Isso pode parecer impressionante, e até mesmo (como alguns sugeriram erroneamente) imoral; mas é isso o que o sistema de sacrifícios ensina.

Como conseqüência, o indivíduo israelita era instruído a levar o animal para o sacrifício sempre que se aproximasse de Deus; a família tinha que matar e consumir um animal na observância anual da Páscoa; a nação tinha que ser representada pelo sumo sacerdote anualmente no Dia do Perdão, quando sangue era aspergido sobre o trono de misericórdia da Arca da Aliança dentro do Santo dos Santos no templo judaico. Essa última cerimônia pode ser no que João está pensando nessa passagem. É bom lembrar que João referiu-se ao derramar do sangue de Cristo poucos versículos antes (1.7).

O próprio Jesus é a propiciação, então, é pela virtude de seu ser que Ele pode ser nosso advogado. “Nosso advogado não alega nossa inocência; ele reconhece nossa culpa e apresenta o seu sacrifício vicário como a base para nossa absolvição”, como indica Ross.3 Mais ainda aqui repousa a confiança do cristão, pois não é com base em nosso mérito, mas com base apenas na obra completa de Cristo que temos a ousadia de nos aproximar de um Pai reto e celestial.

A última frase do versículo 2 nos apresenta problemas não usuais, mas pode ser que a idéia cio sacrifício propiciatório, que sublinha essa passagem, explique. A frase é “e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Ela vem seguindo a descrição de Jesus como “a propiciação pelos nossos pecados” de modo a ampliá-la ou de algum modo universalizá-la. Isso é claro o bastante; mas não é claro que isso pode ser dito para ser verdade. Conseqüentemente, comentaristas não acharam fácil averiguar a natureza precisa do universalismo visto aqui. Em geral, eles desenvolveram urna resposta fácil e outra muito comum, mas nenhuma satisfatória.

A resposta fácil é uma afirmação do universalismo em seu sentido completo; ou seja, que Jesus de fato morreu pelos pecados de cada ser humano e que como resultado todos são salvos por Ele. Todos estarão no céu. Essa é uma interpretação popular para aqueles que estão abertos ao universalismo de qualquer modo, mas dificilmente é apoiado por qualquer escritor bíblico, incluindo João.

De fato, é João quem, entre todos os escritores do Novo Testamento, distingue com mais clareza aquele que pertence a Cristo e o mundo (Jo 13.1; 17.9; 1 Jo 3.1,10). Nem todos serão salvos. Assim, seja lá o que a frase signifique, é evidente que não pode ser tomada como representando um universalismo amplo.

A resposta mais comum é que a morte de Cristo se aplica a todo o mundo potencialmente, mas que se torna eficaz para a salvação apenas no caso daqueles que se apropriam dela por meio da fé. Aqueles que se apegam a essa visão mais naturalmente enxergam o texto como uma refutação importante ao terceiro argumento do calvinismo, comumente chamado de “reconciliação limitada”, e o opõem à idéia da eleição em si. Isso não é, no entanto, de todo satisfatório, pois se a reconciliação de Cristo deve ser tornada como apenas reconciliação em potencial, então não é de fato reconciliação. Ou seja, seria algo ineficaz; pois, a não ser que alguém se mova para o campo do universalismo, ele não salva de fato o mundo, uma vez que muitos que estão no mundo vão perecer.

Qual é a resposta então? Uma resposta é dada por B. B. Warfield em um artigo intitulado “Jesus Cristo. a Propiciação para o Mundo”. De acordo com Warfield, João está pensando sobre a salvação do mundo em termos temporais mais cio que espaciais. Assim, Jesus “veio ao inundo por causa do amor ao mundo, para que pudesse salvar o mundo, e Ele de lato salva o mundo” mas apenas, como conseqüência, à medida que o impacto da mensagem cristã é proclamada cada vez mais e torna-se largamente alvo da fé. “Hoje somos um pequeno grupo: amanhã seremos o mundo”. No final, embora não no início, Cristo deverá ter um mundo salvo para apresentar a seu Pai.

A resposta de Warfield poderia ser a correta, embora haja razões para duvidar que a I3íblia ensina que o mundo como um todo será salvo (1 Tm 4.1,2; 2 Tm 4.3,4; 2 Pe 2.1-3; Jd 18). Contudo, uma resposta melhor é possível.

Se João, como judeu, está realmente pensando sobre o sacrifício propiciatório como era praticado em Israel, em particular no Dia do Perdão e corno não poderia? — então pode ser sobre ele mesmo e outros judeus, em oposição aos gentios, que usou a palavra “nossos” nessa frase. O contraste seria, então, não entre cristãos e o mundo não salvo, mas entre aqueles judeus por quem Cristo morreu e aqueles gentios por quem Cristo morreu, ambos que agora formam ou viriam a formar a Igreja. Esse uso do pronome na primeira pessoa do plural não é impossível, já que João o utilizou em diversos sentidos diferentes até aqui.

Segundo essa visão, o que João deseja dizer é que Jesus cumpriu um padrão estabelecido pelos sacrifícios do Antigo Testamento mas que o fez de tal modo que tanto os gentios quanto os judeus são salvos.

Isso é uma maravilha e causa de grande louvor, pois, como Paulo diz ao concluir uma série similar de observações no final de Romanos 11,

Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas: glória, pois, a ele eternamente. Amém! (Rm 11.32-36)

Conclusão

A conclusão dessa avalanche de reflexões é evidente. Se Jesus fez tanto por nós, e não apenas por nós mas também por homens e mulheres espalhados por todo o mundo, e se isso naturalmente nos leva a louvá-lo, será que isso também não nos deveria levar à santidade? Não deveria nos impelir a cumprir o desejo de João de que seus filhos não pecassem? Claro que sim, hoje e sempre. De fato, deveríamos dizer com Paulo: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.14,15).

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

As Epístola de João de James M. Boice

22 de junho de 2009

O RELACIONAMENTO ENTRE OS IRMÃOS

O RELACIONAMENTO ENTRE IRMÃOS

TEXTO ÁUREO = “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Sl 133.1).

VERDADE PRATICA = Nenhum relacionamento real subsiste entre Deus e o homem, se este não se relaciona bem com os irmãos.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = 1 PEDRO 4.7-11; 3.8,9

INTRODUÇÃO

Toda a primeira epístola de Pedro gira em torno de como deve ser a nova vida daquele que se converteu a Cristo.

Esta lição tem por objetivo nos ensinar que os homens foram criados por Deus para viverem em paz e harmonia, uns com os outros, em mútua cooperação e assistência. Aprenderemos sobre como devemos nos relacionar com os nossos irmãos na fé, tendo sempre em vista que o fim de todas as coisas está próximo (v.7).

1 - VIVENDO NO LIMIAR DA ETERNIDADE

1. O fim está próximo. O primeiro versículo da lição (v.7) adverte-nos com a sentença: “Está próximo o fim de todas as coisas”. Diante dessa afirmação, qual a maneira correta de vivermos perante a sociedade? Se o fim é iminente, como devemos nos preparar?

A perspectiva profética e certeira do fim dos tempos deve nos estimular a estar sempre prontos quanto a nossa vida aqui, e principalmente a vida espiritual. Pedro usou a esperança da vinda de Cristo como incentivo para uma vida reta e um serviço responsável diante de Deus, através da ajuda ao próximo.

No texto em estudo, o apóstolo nos apresenta quatro linhas de condutas a serem observadas: sobriedade com oração diária (At 10.9; Cl 4.2,12), amor fraternal com sinceridade e fervor (1.22; Mt 22.37-39; 1 Ts 4.9,10; 2 Pe 1.7), hospitalidade e generosidade sem murmuração (v.9) e mordomia generosa dos dons (v.10).

2. Sobriedade e vigilância em oração. É necessário que o crente tenha absoluto autocontrole, mantendo-se tranqüilo, esperando sempre a direção de Deus em meio as situações difíceis. E, além disso, deve manter-se em constante oração, pois é através da oração que ele se sustenta em vigilância, com seus olhos voltados na direção certa.

A expressão “vigiai em oração” aponta para uma só coisa: a necessidade de moderação, de sobriedade e discernimento, não deixando que nada venha nos privar da capacidade de ver e pensar claramente. Assim, mesmo que o Senhor demore a retornar, seus servos estarão prontos e alertas ante aos ataques do Diabo, que sempre quer derrotá-los (cf. 2 Co 2.11; 11.14; = Ef 6.11).

II - O AMOR EM EVIDÊNCIA

1. Acima de tudo, o amor (v.8). A expressão “sobre tudo”destaca um tema importante neste texto: o amor entre os irmãos. O texto mostra que o amor fraternal já existe no crente; isto porque o Espírito Santo habita em nós (Rm 8.11).

Agora é preciso que ele seja mais intenso, mais ardente. Se amarmos nossos irmãos ardentemente, estaremos sempre prontos a perdoá-los. Ou seja, se o nosso amor for suficientemente forte, poderemos exercê-lo a despeito das graves faltas que algum irmão possa cometer contra nós. Assim como Deus trata-nos graciosamente, a despeito dos nossos pecados, devemos tratar os outros com amor divino: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós” (...) “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (Jo 15.12; 1 Jo 3.16).

Isso significa que devemos amar as pessoas com o mesmo amor com que Cristo nos amou, amor ágape, divino. Em termos práticos, devemos desejar aos nossos irmãos tudo de bom que desejamos para nós mesmos. Se queremos uma boa escola para os nossos filhos, devemos esperar que os nossos irmãos e amigos também consigam uma boa escola para os seus.

Se ansiamos por qualquer outro bem que nos permita viver confortavelmente, também devemos desejar essas coisas ao nosso próximo. Esta mensagem já havia sido comunicada em 1 Pel.22. Os crentes devem ser conhecidos pelo amor que demonstram uns aos outros, porque assim estarão imitando seu Senhor e Mestre (Jo 13.3 5).

2. O amor cristão. O amor divino em nós é a maior de todas as virtudes cristãs, mais importantes que a fé ou a esperança (1 Co 13.12). O amor cristão não consiste meramente em emoção; é uma qualidade da alma, mediante a qual o crente sente vontade de servir ao próximo. Ele leva a pessoa a considerar seus semelhantes sempre com benevolência, estima, respeito, justiça e compaixão. Este amor exemplificado por Cristo permeia todo o evangelho (Jo 3.16; Mt 22.34-40; Jo 15.9-13) e é, em resumo, a essência do Cristianismo.

“No Cristianismo, tudo começa no amor, se sustenta no amor e culmina no amor. ‘Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho... = = (Jo 3.16); ‘Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores’ (Rm 5.8); ‘Andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave’ (Ef 5.2)”. (Conhecidos pelo Amor, CPAD)

Quando o crente, como discípulo do Senhor, rende-se inteiramente a Cristo, seu amor flui — transborda em relação aos outros, sabendo nós que o nosso amor a Deus implica também em odiarmos o mal (não as pessoas)(SL97.10).

III - PRATICANDO O AMOR

1. A hospitalidade (v,9). O texto bíblico a seguir aborda outro aspecto do amor entre os irmãos: a prática da hospitalidade, também lembrada pelo escritor aos hebreus: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns sem o saberem, hospedaram anjos” (Hb 13.2).

Qual o valor da hospitalidade? Naqueles tempos, as hospedarias eram escassas, muito caras e freqüentadas por meretrizes e maus elementos. Os cristãos acolhiam em seus lares outros crentes que por ali passavam de viagem. Muitos missionários foram agraciados por aqueles irmãos enquanto viajavam em suas jornadas evangelísticas. O próprio apóstolo Pedro fora recebido por Cornélio, e Cesárea (At 9.43; 10.5,23-48). Esta abençoada prática continua ainda hoje.

Não havia templos e as reuniões congregacionais eram feitas em casas, que se abriam para receber a congregação. Os lares dos crentes eram o centro da vida comunitária cristã e da missão evangelizadora e, por isso, era mister que eles fossem hospitaleiros. Todos nós devemos ser hospitaleiros (Rm 12.13). A importância da hospitalidade é também vista no fato de ela ser um dos quesitos de quem aspira o santo ministério (1 Tm 3.2; Tt 1.8). Ela deve ser prestada, sobretudo aos estranhos (Hb 13.2), aos pobres (Is 58.7; Lc 14.13,) e até mesmo aos inimigos (2 Rs 6.22,23; Rm 12.20).

2. Serviço (v.1O). O amor de Deus é expresso pelo amor ao próximo, por isso a vida cristã deve ser uma vida de serviço aos outros. Jesus “não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10.45). Ele se identificou com os necessitados e desabrigados, por isso considera aqueles que mais dão de si mesmos, como os que mais se assemelham a Ele, que nunca poupou coisa alguma de si mesmo em seu serviço aos outros. Aqueles que servem aos seus semelhantes, na realidade estão servindo a Deus e a Cristo (Mt 25.40).

3. A mordomia dos dons (v. 10). Todos recebemos dons e talentos para servirmos aos outros.

Esses dons podem ser naturais, ativados pela ação do Espírito ou de capacitações sobrenaturais concedidas ao crente pelo Espírito Santo, para com a finalidade de servir.

Cada um deve colocar o seu dom a serviço de todos, e assim o cristão se torna despenseiro da graça de Deus. A graça divina manifesta-se de muitos modos e concretiza-se na vida humana de muitas maneiras. Deus concede dons de modo multiforme, de acordo com as necessidades da Igreja.

CONCLUSÃO

O fim está próximo! Daí ser necessário mais sobriedade, discernimento, oração e um profundo amor entre os irmãos, numa vida de sinceros préstimos e dedicação. Seja qual for a ajuda ou serviço que prestemos aos outros, conforme o dom ou graça que recebemos de Deus, deverá ser feito no espírito de amor para que o produto final do nosso trabalho seja sempre a glorificação de Deus. Amém

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS


15 de maio de 2009

Os Limites da Liberdade Cristã

1 – INTRODUÇÃO

A liberdade do crente permanece como tema da segunda unidade do nosso estudo. Estamos aprendendo que essa liberdade, para ser benéfica, deve ter os seus limites impostos pelo crente e baseados no conhecimento da Palavra de Deus e na consciência de ser ele o templo do Espírito Santo. O cristão modela sua liberdade pelas normas morais contidas na Bíblia e pelo que percebe ser a vontade de Deus para a sua vida.

Nessa lição, enfocaremos uma área vital em que precisamos usar com sabedoria na nossa liberdade cristã — o matrimônio. São múltiplas as dificuldades. E verdade que Deus deseja nossa autenticidade individual na vida cristã e na relação conjugal. Mas nossa liberdade não deve retirar a do nosso cônjuge e nem rebaixar os outros. Ao contrário, nosso livre-arbítrio para escolher uma vida abundante e plena de serviço cristão deve abençoar a vida dos nossos semelhantes e glorificar o nosso Deus.

Em muitos países, os conceitos de matrimônio, lar e família são desprezados e atacados abertamente. Satanás está destruindo a unidade fundamental da sociedade civilizada — a família. Se você é casado, lembre-se de que manter uma boa relação conjugal faz parte da obra de Deus. Não tente fugir da sua responsabilidade de marido ou esposa, com o pretexto de que “Deus vem em primeiro lugar”. Peça ao Senhor a graça de ser bondoso e compreensivo com relação à sua família e a outros (especialmente os novos crentes) que estão passando dificuldades matrimoniais.

II - LIBERDADE E LIMITES NO CASAMENTO
(7.1-24; MT 19.3-11; EF 5.15-33)


As palavras “quanto às coisas que me escrevestes” (7.1) dão a entender que Paulo irá responder a certas perguntas específicas colocadas pelos coríntios. O capítulo 7 pode ser dividido em duas partes relativas à vida conjugal: nos versículos 1-24, Paulo se dirige principalmente aos casados e nos versículos 25-40, aos solteiros.

1. Liberdade e limites nas relações sexuais

No capítulo 6, Paulo declara que os crentes não devem ter relações sexuais fora do casamento. Passa agora a dar uma orientação acerca do papel das relações sexuais no matrimônio. A expressão “tocar em mulher” se refere, na Bíblia e na literatura antiga, ao ato sexual (Gn 20.6; Pv 6.29), não ao casamento em si.
Paulo bem sabia que o celibato, tal como praticava (v. 7) tem as suas vantagens, mas apesar disso, não ensina contra o casamento. Veja suas magníficas palavras acerca do matrimônio em Efésios 5.15-33, como exemplo da relação de Cristo com sua Igreja. Paulo escreve aos coríntios para corrigir uma idéia errada acerca do corpo. A filosofia gnóstica exaltava o conhecimento e considerava o corpo como algo vil; só importava o espírito. O resultado dessa filosofia foram dois pontos de vista exagerados entre os coríntios:

1. “Já que o corpo não importa e vai morrer logo, vamos satisfazer todos os desejos da carne” (1 Co 15.32).

2. “O corpo é vil; por isso, não devemos satisfazer os seus desejos, mesmo nas coisas normais, como é o sexo no casamento”.

Paulo tratou do primeiro desses erros no capítulo 6 e passa agora a tratar do segundo. E bom estudarmos esse ensinamento, porque sempre há pessoas que afirmam que o castigo do corpo engrandece e agrada a Deus, o que não é verdade.

O sexo no casamento condiz plenamente com a vontade de Deus e nada tem de pecaminoso. Deus instituiu a família e ordena a procriação para garantir a continuidade da raça humana (Gn 1.27,28; 2.24; 9.1; Hb 13.4). A criação de filhos para servir a Deus é parte integral do plano dEle (Gn 18.19). O matrimônio é uma relação ou “sociedade” mútua, em que cada participante deve zelar pelos direitos e bem-estar do parceiro.

SEXO NO CASAMENTO

1 Coríntios 7.1-7
Normal, não pecaminoso
Salvaguarda contra a imoralidade
Satisfação mútua
Relação considerada equilibrada
Abstinência por consentimento mútuo

Em muitas culturas, os homens tratam suas esposas como escravas ou propriedade material. Mas o Cristianismo proporciona liberdade, respeito mútuo, amor e consideração ao casamento. O marido é o cabeça da família, mas tem a obrigação de tratar a esposa com amor e consideração (Ef 5.15-33).

Paulo recomenda o casamento como salvaguarda contra a imoralidade e a paixão (Mt 5.27,28). Nem todos têm o dom do celibato, a capacidade de permanecer virgem (vv. 7-9). Não há base bíblica para o celibato do clero. Alguns ministros conseguem permanecer solteiros pela graça de Deus, para melhor realizar a obra especial que o Senhor lhes destinou. Mas não seria justo exigir tal celibato de todo o clero, como querem alguns (1 Tm 4.1-3).
Debate-se bastante a questão do possível casamento e viuvez de Paulo. Creio que ele já era casado porque:

1. É difícil acreditar que um judeu tão zeloso como Paulo não tivesse casado, porque o celibato contradizia o ensino judaico.

2. Era evidentemente participante do Sinédrio, ou Supremo Tribunal Judaico (At 26.10), cujos membros eram todos casados.

3. É óbvio que, ao escrever suas cartas aos coríntios, Paulo era celibatário (9.5). Portanto, é razoável supor que sua esposa tivesse falecido ou abandonado o apóstolo após a conversão dele.

4. Limites no abandono da relação conjugal (7.10-24; Mt 19.3-1 1).

Os coríntios estavam confusos acerca do dever do crente com relação ao cônjuge descrente. Alguns ensinavam que deviam separar-se ou se divorciar. Paulo dá a sua resposta: “Não se divorciem!” Ele se baseia nos ensinamentos de Jesus em Mateus 5.3 1,32 e 19.3-11.

Os problemas relativos ao divórcio e separação são difíceis de resolver. Não há nos ensinos de Paulo ou de Jesus Cristo uma única regra abrangente e inflexível. Está claro que o Novo Testamento não admite divórcio quando se trata de um casamento crente (1 Co 7.10,11). Mas nos versículos 12-16, Paulo trata do casamento misto (crente com descrente). Mesmo nesse caso, os cônjuges não devem se separar, a menos que o descrente resolva abandonar a família ou exija a separação.

Em alguns casos, as condições parecem impossíveis. Por exemplo, um marido bêbado que surra a esposa e ameaça matar os filhos, ou uma esposa infiel que tem relações com um terceiro; um marido criminoso que tenta fazer sua esposa de cúmplice. “Deus chamou- nos para a paz” (v. 15) e, às vezes, a separação pode ser a única solução. Por outro lado, muitas esposas e maridos, pela graça de Deus, têm permanecido fiéis ao cônjuge nessas circunstâncias, e Deus tem feito milagres em seu favor. Em muitos casos, até em lares cristãos, o divórcio resulta do egoísmo, e não da situação difícil do(s) cônjuge(s). Qualquer crente que esteja contemplando o divórcio deve ler diariamente Efésios 5.15-33.

Nos casamentos mistos, o cônjuge descrente que não se submete à lei de Deus tem a opção de se separar e muitas vezes assim o faz (v. 15).
Mas o cônjuge crente, se possível, deve manter-se fiel e permanecer onde está, orando e confiando que o Senhor lhe dará a solução. Muitas vezes, o cônjuge descrente se entrega a Jesus e o lar passa a ser transformado pela sua influência santificadora.

Deve-se manter a família unida, se possível, em benefício das crianças. Muitos delinqüentes juvenis vêm de lares desfeitos. As crianças precisam entregar-se a Jesus Cristo. Elas merecem ter pai e mãe. Pais crentes exercem uma influência santificadora sobre seus filhos.

2. Problemas e princípios

Os pastores são chamados com freqüência a aconselhar casais ou indivíduos com problemas conjugais. Alguns já têm problemas tão complexos ao se entregar a Jesus, que seria preciso a sabedoria de Salomão para solucioná-los: divórcio, segundas núpcias, poligamias, famílias extraconjugais, cônjuges infiéis etc. Devemos buscar cuidadosamente as soluções bíblicas para problemas tão comuns como esses e aplicá-las aos nossos dias. Não há na Bíblia regras para todos os casos, mas Deus nos tem dado princípios válidos. Cabe-nos apelar ao Espírito Santo para nos orientar na aplicação deles a cada problema que enfrentamos.

O princípio dado nos versículos 20 e 24, num sentido prático, é um dos mais importantes do Novo Testamento. Leia duas vezes os versículos 17-24. Aquilo que Paulo “ordena” não vem da mente dele; é um princípio divino que ele simplesmente repete. Lembremos o seguinte:

1. Paulo escrevia sob inspiração do Espírito Santo.

2. Ele estava respondendo a problemas específicos.

3. Tratava alguns problemas não mencionados por Jesus nos Evangelhos.

4. Estava falando com novos crentes numa cidade com verdadeiro “fanatismo sexual”.

5. Tanto ele quanto os coríntios acreditavam que Jesus voltaria logo.

Esses fatos nos ajudam a entender melhor o capítulo inteiro. Já não moramos na Corinto do século 1, mas os princípios elaborados aqui são aplicáveis aos problemas de hoje. Paulo emprega o exemplo da circuncisão e da escravidão para ilustrar o princípio do versículo 20: Cada um permaneça na vocação em que foi chamado. Exemplifica também a sua aplicação. Somos incapazes de modificar determinadas situações (quem, por exemplo, tentaria desfazer a sua circuncisão?).
A tentativa de modificá-las só pioraria a situação; como no caso de desfazer o lar porque um dos cônjuges não é crente ou porque a situação não pode ser regularizada legalmente sem o divórcio de um cônjuge anterior, O exemplo da escravidão (vv. 2 1-23) nos mostra que “permanecer na sua vocação” não constitui uma ordem determinante; se a situação é suscetível de melhoramento. Deus compreende as nossas circunstâncias e geralmente conseguimos servi-lo melhor na situação em que já nos encontramos.

O princípio de permanecer na sua vocação (v. 24) tem inúmeras aplicações à vida em geral e aos dons que Deus dá a cada um de nós. Não obrigamos o músico nato a ser mecânico, nem o fazendeiro a tornar-se advogado. A igreja deve deixar que o evangelista faça aquilo que é a sua vocação sem tentar obrigá-lo a ser pastor (Rm 12.6-8). Deus nos chamou primeiro à salvação


(1 Co 1.9) e depois a várias funções.

Vamos considerar a aplicação do princípio do versículo 24 a certos problemas. Toda regra imposta pela igreja e toda solução proposta para problemas conjugais têm de levar em conta as leis e costumes de cada país; alguns permitem o divórcio, outros não. Devemos considerar também as circunstâncias de cada caso. Os problemas são tão diversificados que não bastam regulamentos simples e generalizações exageradas. Mas é muito útil a aplicação dos vários princípios bíblicos que temos à disposição.

Por exemplo, um indivíduo que esteve amigado com três mulheres antes da sua conversão deveria deixar a terceira (com quem vivia quando convertido) e tentar voltar à primeira? Até certo ponto, a sua resolução poderia depender de qual delas (se alguma) foi a sua legítima esposa, da existência de filhos etc. Contudo, em muitos casos, o bom senso indica que esse homem deveria ficar com a esposa com quem vivia quando se converteu.

Muitos problemas são dificílimos de resolver. Devemos pensar na solução mais benéfica para cônjuges e filhos (se existem). A meu ver, a melhor resposta reside, na maioria das vezes, na aplicação do princípio contido nos versículos 20 e 24 do capítulo 7.

3. Liberdade fora do casamento


3.1. Liberdade de não casar

Paulo passa a responder outra pergunta específica no versículo 5. Tem a ver com o casamento (ou não) de virgens. Nesse trecho vv. 25-40), emprega-se cinco vezes a palavra virgem com significado feminino. (Apocalipse 14.4 fala de virgens do sexo masculino mas a linguagem é simbólica e não vem ao caso.)
Paulo diz não ter recebido mandamento específico do Senhor a respeito dessa questão (v. 25). Os Evangelhos nada dizem sobre essa situação, e Paulo não recebeu nenhuma revelação particular do Senhor. Mas ele dá a sua opinião, como pessoa digna de confiança. Ao lermos os versículos 25-40, temos a impressão de que o apóstolo Paulo se opõe ao casamento. Nada mais longe da verdade! Ele simplesmente aconselha o celibato às jovens coríntias daquela época. Isso não contradiz o ensino geral das Escrituras a respeito do casamento encontrado em gênesis, nas palavras de Jesus e em outros trechos bíblicos: “Venerado seja entre todos o matrimônio” (Hb 13.4).

O solteiro (ou solteira) não deve se sentir pressionado a casar simplesmente porque é “costume”. Nem precisa sentir-se desprezado, inferiorizado ou envergonhado. Esse trecho bíblico oferece uma excelente resposta àquelas pessoas que aconselham “casamento a todo custo”. O primeiro motivo dado por Paulo em apoio ao celibato é a existência de uma “angustiosa situação”. Qual foi essa situação? Não sabemos. Mas é verdade que certas crises tornam necessário o adiamento ou abandono de planos matrimoniais: doença, guerra, responsabilidade de cuidar de pais idosos ou sustentar a família etc.


4. Motivo de celibato


Depois, Paulo menciona “angustia na carne”. Há problemas bem conhecidos aos casados: falta de emprego, buracos no telhado, colheita ruim, carência de comestíveis, nenê doente, frustração sexual, vizinhos desagradáveis, filhos rebeldes, o desafio de alimentar, vestir e educar uma família etc. Os solteiros não têm de enfrentar os mesmos problemas que o casal é obrigado.

O marido cristão tem o dever de sustentar a sua família, e os demais maridos também possuem responsabilidade igual (Gn 3.19; 1 Tm 5.8). Paulo não condena tal situação, mas mostra como a vida celibatária é vantajosa para o ministério cristão. Compreendemos bem a dificuldade de equilibrar simultaneamente os deveres de pai (ou mãe) e de ministro do Evangelho, sem prejudicar nenhum aspecto da nossa vocação total. O próprio Paulo não poderia ter desenvolvido o ministério que teve no vasto campo missionário, se tivesse a responsabilidade de criar uma porção de filhos.
Mesmo assim, vemos que Pedro e outros apóstolos viajavam acompanhados por suas esposas (9.5). Às vezes, o ministério de um pastor se torna mais eficaz por causa do apoio da família.

No versículo 7, Paulo nos informa que algumas pessoas sentem a vocação do celibato, recebendo de Deus o dom de permanecer celibatárias com grande alegria e contentamento. Em 7.39, vemos que o crente não deve se casar com o descrente. E as palavras “com quem quiser” implicam na não-obrigação de casar com alguém de quem a pessoa não goste. Outro motivo do celibato é a falta de ocasião ou de pessoas idôneas para o casamento.

Em algumas regiões do mundo há muito mais mulheres que homens. Nas áreas onde se prática a poligamia, existem menos moças que rapazes livres para casar. Seja por livre alvitre ou por falta de ocasião de realizar um bom casamento, as pessoas que permanecem solteiras levam sempre vantagem sobre as malcasadas.

5. Liberdade de casar

Os versículos 36-38 constituem um trecho difícil. Muitos comentaristas têm lutado com o significado da expressão: “sua virgem” (filha) no versículo 36, por exemplo. O trecho pode referir-se às seguintes relações:

1. Pais e filhas virgens.

2. Um rapaz e sua noiva.

3. Um casa, cujos cônjuges convivem como irmãos num “casamento espiritual”, evitando as relações sexuais.

Pessoalmente, prefiro a primeira dessas três interpretações porque:

1. Naquela época, os pais costumavam arranjar o casamento das suas filhas; ainda hoje se pratica esse costume em muitos países.

2. O verbo que inicia o versículo 38 significa “dar em casamento” e não “casar-se”.

Vemos a natureza toda especial desse capítulo, ao nos darmos conta de que o apóstolo Paulo enumera apenas três motivos ou vantagens do casamento num total de quarenta versículos. O primeiro (v. 8) refere-se à paixão sexual (“abrasado”); pode ser também uma alusão ao fogo do julgamento divino sobre aqueles que caem na imoralidade ou desleixo pessoal. Deus nos fez, homens e mulheres com um desejo sexual normal, para garantir a continuidade da raça humana.
Mas a mera atração sexual não basta como fundamento do matrimônio. Um casamento baseado apenas nisso pode fracassar caso apareça alguém mais atraente. O segundo motivo em favor do casamento aparece no versículo 39: casar não é pecado. Já estudamos a atitude dos coríntios a esse respeito e a resposta dada pelo apóstolo.

6. Motivos para o casamento

Melhor casar que viver abrasado 7.9
Não é pecado casar 7.36
Desejo de casar 7.39

7. Outras escrituras

Relação instituída por Deus Mt 19.4-6
Vantajoso ao homem Gn 2.18-24
Continuar a espécie Gn 9.7
Em prol das crianças Dt 6.1-9
Estado digno de honra Hb 13.4
Desejo normal 1 Tm 5.11,13,15

O terceiro motivo diz respeito à liberdade ou direito de casar (v. 39) e estabelece um limite. Paulo fala nesse trecho das segundas núpcias de um viúvo ou viúva. Após a morte do cônjuge, o sobrevivente tem a liberdade de casar-se com quem quiser, contanto que seja crente (“somente no Senhor”).

Nos dias de hoje, Satanás está tentando destruir o casamento, o lar e a família. A promoção do sexo, prostituição, homossexualismo, divórcio e concubinato são sinais desse fato; há em tudo isso uma fuga de responsabilidade dos participantes. Muitas nações e civilizações do passado foram destruídas por esses mesmos males. Hoje vemos epidemias de doenças venéreas sem cura; as crianças inocentes sofrem mais, tanto nas doenças que lhes são transmitidas quanto no abandono familiar e na falta de treinamento moral. Esposas e filhos abandonados lutam para sobreviver sem recurso jurídico ou sustento paternal.

O matrimônio implica num compromisso mútuo e voluntário que dura até a morte dos cônjuges. A família estável e temente a Deus é a pedra fundamental da comunidade ou nação bem-sucedida. Os lares de crentes devem ser o modelo da retidão do plano de Deus e a evidência da sua bênção divina. Paulo escreveu esse segmento da sua epístola para responder a certas perguntas específicas, sem o propósito de tratar de forma abrangente o assunto do matrimônio. Mesmo assim, os princípios que ele comunica são válidos até os nossos dias. “O que acha uma mulher acha uma coisa boa, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22).

III - LIBERDADE, ÍDOLOS E COMIDA (8; 10.14-23)

1. Liberdade no conhecimento da idolatria

No capítulo 8, o apóstolo Paulo responde a mais uma pergunta dos coríntios, referente ao consumo de carne oferecida a ídolos. Antes da sua conversão, muitos dos crentes em Corinto eram pagãos, adoravam ídolos e sacrificavam animais aos seus deuses. Nesses sacrifícios, juravam sua devoção às respectivas deidades, invocavam a bênção dos deuses representados pelos ídolos e se comunicavam com as forças diabólicas, enquanto comiam uma parte da carne sacrificada (1 Co 10.18). Tudo isso era um ato de louvor pagão. O restante da carne era consumida pelos sacerdotes ou vendida no mercado. Após a sua conversão, os crentes coríntios desejavam saber se ainda seria lícito comer daquela carne oferecida aos ídolos ou se deveriam abster-se de tal consumo.

A adoração aos ídolos é bem antiga no nosso mundo; as civilizações antigas acreditavam que certos animais eram portadores de espíritos divinos que divinizavam os próprios animais. Fabricavam-se imagens de touros, peixes e crocodilos, as quais se tornavam deuses do povo. Lembremos ainda o que Arão (irmão de Moisés) fez com o bezerro de ouro (Ex 32.5,6; J5 24.14). Deus proibiu Israel de fazer imagens (Ex 20.4) e até mandou destruir os ídolos de deuses estrangeiros (Dt 12.2,3). Houve, de fato, uma história de fracassos a esse respeito, mesmo assim muitos judeus escolheram morrer a deixar a idolatria.

O povo dos tempos de Paulo (e algumas civilizações de nossos dias) adoravam deuses da natureza e também ídolos feitos de madeira, pedra e metal. Cultuavam, conforme a crença pagã, o Sol, a Lua, as estrelas, as montanhas, os rios e as árvores. Certos deuses e deusas deviam controlar a chuva, o sucesso na guerra, a agricultura etc. Os gregos adoravam muitos deuses (At 17.23). Os romanos proclamavam também a divindade dos seus imperadores. Rodeados de tais práticas, os cristãos podiam evitar contatos freqüentes com a idolatria.

Antes da sua conversão, os gentios viviam com medo dos seus deuses, mas o Evangelho os havia libertado dessa opressão. Eles, como o apóstolo Paulo, sabiam que os ídolos não eram nada e não conheciam o Deus verdadeiro, cultuado por judeus e cristãos. Ele é único, eterno, o Criador, onipotente e onisciente. O poder dEle ultrapassa o poder dos demônios. Os crentes não precisavam mais apelar aos ídolos. Eles amavam o seu Deus, e por isso não mais adoravam a ídolos. Mas deviam ou não comer da carne oferecida a eles? Isto é o que não sabiam, e houve entre eles duas opiniões bem divergentes; alguns achavam que sim e outros não.
Os crentes que comiam tal carne baseavam-se na sua liberdade e no conhecimento da nulidade do poder dos ídolos. Paulo dá o seu parecer a respeito, frisando que o conhecimento dos fatos deve ser equilibrado pelo amor.
Tanto o conhecimento quanto o amor são essenciais para a atividade humana e constituem parte importante da vida cristã. “Sabemos que todos temos ciência”, diz Paulo (v. 1). As vezes, o saber (conhecimento) ensoberbece o sábio, e foi assim que aconteceu no caso dos coríntios.

CONHECIMENTO AMOR
No cérebro No coração
Adquirido pelo estudo Cultivado com a ajuda de Deus
Ensoberbece — 1 Co 8.1 Edifica
Inferior — 13.2 Superior
Provisório 13.8,13 Permanece


O conhecimento (saber) sem o amor pode ser destrutivo, tanto na vida do “sábio” quanto na sua relação com os demais; pode até afastar as pessoas do Senhor (8.11). Como no caso do fogo e da água, precisamos de ambos os elementos para levar uma vida equilibrada e não devemos desprezar nem negar a sua utilidade.

Os mesmos elementos têm função construtiva e destrutiva, conforme o uso; o perigo está no exagero ou na falta de controle. O conhecimento que obtemos através do estudo pode abençoar e instruir a humanidade, e assim devemos fazer.

2. Liberdade limitada pelo amor

Paulo salienta a existência de um só Deus, manifesto em três pessoas — o Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. (Compare o versículo 6 com Cl 1.15-17 e Ef 4.6.) Os judeus crentes em Jesus que moravam em Corinto entendiam bem a nulidade dos ídolos, mas nem todos os habitantes da cidade percebiam esse fato (vv. 4,7-9). Os gregos recém-convertidos, que passavam a vida inteira cultuando os ídolos, levariam um choque se vissem alguns cristãos mais maduros na fé fazendo sua refeição num templo idólatra.

Tal exemplo poderia levá-los a fazer igual e a confiar novamente no valor ou poder do ídolo por causa do mal-entendido. Assim, os irmãos menos estáveis poderiam ser “destruídos” (vv. 10-13). Por isso, diz Paulo, o crente mais maduro ou experiente nem sempre deve insistir nos seus direitos espirituais, pois seria pecado exercer toda a sua liberdade, se essa causasse a queda dos irmãos mais fracos.

O versículo-chave é o 9. Memorize esse versículo. Paulo reconhece a liberdade dos crentes coríntios: “Todas as coisas me são lícitas...” mas apela a eles no sentido de aplicarem em tudo uma lei superior, a lei do amor. Para não ferir ou ofender o irmão de consciência mais frágil, o crente forte deve estar disposto a restringir sua própria liberdade.

3. O amor limita a liberdade

Não deixe que o exercício de sua liberdade escandalize os mais fracos, conduzindo-os ao erro.

A lei do amor aplica-se de diversas maneiras. Os costumes e normas dos crentes variam bastante de uma igreja para outra no que diz respeito à comida, bebida, ao vestuário, ao uso de enfeites, às diversões etc. Tais diferenças têm causado até rupturas e mal-entendidos em algumas congregações. A semelhança do apóstolo Paulo, devemos estar dispostos a “ceder um passo” em nossas convicções para ajudar os nossos irmãos na fé (v. 13). Podemos por à prova a nossa liberdade e seu exercício, colocando três perguntas sugeridas por Paulo como critério de atuação:

1. É benéfico?

2. Convém aos demais?

3. Prejudica aos demais?

Vamos supor que você seja um pastor, e os membros da sua congregação costumam beber vinho leve com boa consciência, como fazem muitos crentes na Europa. Então vai pastorear uma outra igreja com forte preconceito contra o consumo de bebidas alcoólicas, por haver naquela congregação vários ex-bêbados salvos pela graça de Jesus. Qual deve ser seu procedimento e por quê? Lembre-se de que a ciência às vezes incha, mas o amor sempre edifica.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Thomas Reginald Hoover

23 de abril de 2009

As marcas do ministro da igreja (I Co 4.1-21)- 2º. Parte

ASSIM COMO PAULO USOU três imagens para a igreja no capítulo 3, também utiliza três figuras para descrever o ministro cristão. O obreiro é um mordomo que vive com fidelidade, um espetáculo ao mundo que revela humildade e um pai que demonstra amabilidade.
É sobre esses três aspectos que vamos discorrer neste capítulo.

O ministro é um mordomo fiel (4.1-6)

Paulo ainda está corrigindo o mesmo problema identificado desde o capítulo 1, a divisão na igreja em virtude do culto à personalidade. O mundo estava entrando na igreja de Corinto e a filosofia do mundo conduzia os seus assuntos internos.

Corinto era uma cidade grega e o grande hobby dessa cidade era ir para a praça, a 4gora, a fim de escutar os grandes filósofos e pensadores discutirem suas idéias e exporem a maneira como viam o mundo ao seu redor. Eles se identificavam com um ou outro líder, com esse ou aquele filósofo. Eles acabavam se tornando seguidores de homens. Centrando-se em seus líderes, os coríntios estavam prestando fidelidade a homens; homens de Deus é verdade, mas apenas homens.

Essa era a maneira que o mundo se comportava e ensinava. Sempre que a igreja segue os grandes nomes e gira em torno de homens, está imitando o mundo. 70 Uma vez que eles estavam acostumados a vivenciar isso no mundo, queriam, agora, fazer o mesmo dentro da igreja. Por isso, diziam: Eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cefas e eu de Cristo.

Como Paulo combate essa idéia do culto à personalidade? Após afirmar que os obreiros da igreja são apenas servos ou diáconos, ele prossegue em seu argumento, dizendo que eles são escravos condenados à morte que trabalham sob as ordens de um superior (4.1). Vamos examinar alguns pontos importantes:

Em primeiro lugar, o obreiro é um escravo sentenciado à morte. Paulo escreve: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo” (4.1). A palavra “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. O ministro é uma pessoa que ocupa uma alta posição política, de grande projeção na liderança, e tem em suas mãos um grande poder e autoridade. Se olharmos a palavra “ministro” no campo religioso, estaremos falando de alguém que exerce a função de líder na igreja local. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo Paulo para definir o ministro nos dá uma idéia totalmente contrária.

A palavra grega usada é huperetes, que significa um remador de galés. Essa palavra era utilizada para a classe mais simples de servos. Os ministros são meros servos de Cristo. Eles não têm autoridade procedente deles mesmos. A palavra huperetes só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Nos grandes navios romanos existiam as galés, que eram porões onde trabalhavam os escravos sentenciados à morte. Aqueles escravos sentenciados à morte prestavam um serviço antes de morrer. Eles tinham os seus pés amarrados com grossas correntes e trabalhavam à exaustão sob o flagelo dos chicotes até à morte.

Paulo diz que o ministro não deve ser colocado no pedestal como o dono da igreja ou como o capitão do navio, antes deve ser visto como um escravo que serve ao capitão até à morte. Paulo está dizendo para não colocarmos os holofotes sobre um homem, porque importa que os homens nos considerem como huperetes e não como capitães do navio. O obreiro da igreja é um escravo já sentenciado à morte, que deve obedecer as ordens do capitão do navio, o Senhor Jesus Cristo.

Em segundo lugar, o obreiro é um mordomo que obedece as ordens do seu Senhor (4.1). Paulo usa agora uma nova figura. Ele diz que o obreiro é um despenseiro ou mordomo. A palavra grega usada por Paulo é oikonomos, de onde vem a nossa palavra mordomo. O ministro é um despenseiro, aquele que toma conta da casa do seu senhor. Em relação ao dono da casa, o mordomo era um escravo, mas em relação aos outros serviçais, ele era o superintendente. Sua função era cuidar dos interesses do seu senhor. Ele cuidava da alimentação da casa. Ele prestava contas, não aos seus colegas, mas ao seu senhor.

Os mistérios de Deus representam aqui o evangelho, a Palavra de Deus. O mordomo ou oikonomos era a pessoa que cuidava da despensa, da dieta, da alimentação de toda a família. O oikonomos era um administrador, mordomo, dirigente de uma casa, com freqüência um escravo de confiança que era encarregado de todos os negócios do lar. A palavra enfatiza que a pessoa recebe uma grande responsabilidade, pela qual deve prestar contas.74 O que isso nos sugere?

a) Não era competência do mordomo prover o alimento para a família; essa era uma responsabilidade do dono, do senhor da casa. O ministro do evangelho não tem de prover o alimento, porque esse já foi providenciado. Esse alimento é a Palavra de Deus. Compete ao ministro dar a Palavra de Deus ao povo. O ministro não é o provedor, ele é o garçom que serve as mesas. Ele não coloca alimento na despensa, mas prepara o alimento e o serve. Ele não pode sonegar o alimento que está na despensa, ou adulterá-lo nem substituí-lo por outro. Ele precisa ser íntegro e fiel, dando ao povo o mesmo alimento que o dono da casa proveu para a família.
Sabemos, porém, que é possível ter na despensa os melhores alimentos e, mesmo assim, ter na mesa a pior refeição. A competência do mordomo era pegar a riqueza do alimento que estava na despensa, que é a Palavra de Deus, e preparar uma refeição gostosa, saborosa, e balanceada: Leite para a criança, alimento sólido para aqueles que podem suportá-lo.

Não é conveniente preparar a mesma refeição todos os dias. O ministro precisa ensinar todo o desígnio de Deus. Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16, 17).

b) Não era função do mordomo buscar nova provisão ou servir qualquer alimento que não fosse provido pelo senhor. A Palavra de Deus deve ser ensinada de formas variadas. Paulo diz para ensinarmos todo o conselho de Deus (At 20.27). Hoje, não temos mais profetas nem apóstolos como tinham as igrejas primitivas! Eles pregavam mensagens de revelação. Quando os profetas diziam Assim diz o Senhor, eles estavam recebendo uma mensagem inspirada, inédita, e nova da parte de Deus. E essa mensagem iria fazer parte do cânon das Escrituras.

Nos dias atuais, porém, nenhum homem e nenhuma mulher recebe mensagens novas de Deus. Tudo o que Deus tem para nós já está nas Escrituras. Mesmo que um anjo descesse do céu e pregasse outra mensagem que vá além daquela que está nas Escrituras, deve ser prontamente rejeitada e considerada como anátema! (GI 1.6-9).

A Bíblia já tem uma capa posterior. Ela já está concluída, fechada e é por isso que no livro do Apocalipse diz que nós não podemos acrescentar ou retirar mais nada do que nela está escrito (Ap 22.18,19). A pregação hoje não é revelável, mas expositiva. Você não acrescenta mais nada ao que está na Palavra, mas expõe apenas o que está na Palavra. Não recebemos mensagens novas, mas damos ao povo o conteúdo da Palavra de Deus já revelada.

c) A função do mordomo era servir as mesas com integridade. O ministro não é um filósofo que cria a sua própria filosofia. Não é assim o despenseiro. Ele não cria uma doutrina, uma teologia ou uma idéia a fim de aplicá-la e ensiná-la. Cabe a ele transmitir o que recebeu. E Paulo sempre usa essa expressão: “[Eu] vos entreguei o que também recebi” ( I Co 15.3).

O despenseiro não pode entregar o que não recebeu. E o que é que ele recebeu? É o que está na Palavra! Sendo assim, o despenseiro não podia mudar o alimento. De igual forma, nós não podemos mudar a mensagem. Também o despenseiro não podia adulterar o alimento, ou seja, ele não podia mudar o conteúdo, a substância, e a essência do alimento.
Nós não podemos mudar nem diluir a Palavra de Deus. Ainda, o despenseiro não podia acrescentar nenhum alimento no cardápio além daquele que estava na despensa. Nós não podemos pregar o evangelho e mais alguma coisa. E o evangelho, somente o evangelho e, todo o evangelho.

Finalmente, o despenseiro não podia reter as iguanas que o senhor da casa havia provido para toda a casa, para toda a família. Ele tinha de distribuir todo o alimento que o seu senhor providenciara para a família e para o restante da casa. E isso significa dizer que o despenseiro precisa pregar para a igreja todo o conselho de Deus. Não pode pregar apenas as doutrinas da sua preferência. A melhor maneira de fazer isso é pregando expositivamente, livro por livro. Essa é a maneira mais adequada de se colocar na mesa todas as iguanas providenciadas pelo Senhor.

Em terceiro lugar, o despenseiro precisa ser absolutamente fiei no exercício do seu trabalho. A função do mordomo não era agradar às demais pessoas da casa, nem muito menos aos outros servos, mas ao seu senhor. Diz o apóstolo Paulo:

“Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (4.2). De acordo com a filosofia dos gregos e a sabedoria do mundo, as pessoas valorizam a popularidade e o sucesso. Mas Deus requer dos despenseiros fidelidade. Sucesso sem fidelidade é consumado fracasso. No dia em que formos prestar contas da nossa administração, o que Deus vai pesar não é o critério do sucesso nem o da popularidade, mas o critério da fidelidade.

O que Deus requer do despenseiro não é sucesso nem popularidade, mas fidelidade: fidelidade ao Senhor, fidelidade à missão e fidelidade ao povo.
Em quarto lugar, o despenseiro esta exposto ao julgamento (4.3-6). O ministro, na qualidade de mordomo, passa por três crivos de julgamento: O julgamento dos homens (4.3a), o julgamento próprio (4.3b, 4a) e o julgamento de Deus (4.4b).

a) O julgamento dos homens. Diz o apóstolo: “Todavia, a mim mui pouco se me dá ser julgado por vós, ou por tribunal humano” (4.3a). O julgamento dos homens não é o mais importante, porque nós não estamos servindo a homens, mas servindo a Deus. Paulo está dizendo que se ele fosse servo de homens ou procurasse agradar a homens, ele não seria servo de Cristo (Gl 1.10). O grande projeto do ministro de Deus não é ser popular aos olhos dos homens, mas fiel diante de Deus.

b) O julgamento da consciência (4.3b-4). Os filósofos gregos e romanos (Platão e Sêneca, por exemplo) consideravam a consciência como o juiz máximo do homem. Para Paulo, apenas Deus pode sê-lo.

O apóstolo Paulo continua: “E...] nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado. (4.3b-4). Paulo diz que os gregos e os romanos estavam errados quanto a essa matéria. Platão e Sêneca estavam equivocados com respeito ao julgamento da consciência. O nosso supremo juiz não é a nossa consciência.
Nós podemos ser aprovados pela nossa consciência e reprovados por Deus. A nossa consciência não é totalmente confiável.

c) O julgamento de Deus. Paulo conclui, dizendo: “E...] pois quem me julga é o Senhor” (4.4b). Por que é que o julgamento de Deus é o julgamento perfeito? Porque Deus é o único que conhece todas as circunstâncias e todas as motivações. O julgamento de Deus é final e perfeito.

Em quinto lugar, a igreja precisa ter cuidado para não julgar os ministros apressadamente (4.5,6). Paulo traz para a igreja de Corinto três tipos de repreensões erradas em relação aos ministros: julgar na hora errada (4.5), pelo critério errado (4.6) e pelo motivo errado (4.6b).

a) O primeiro cuidado que a igreja precisa ter é de não julgar os servos de Deus no tempo errado (4.5). Paulo diz que é errado julgar os servos de Deus fora do tempo ou antecipadamente. Paulo diz que somente na segunda vinda de Cristo é que se terá o julgamento final e completo. Somente Deus pode julgar e conhecer o coração humano, pois só Ele vê o coração (l Sm 16.7) e não apenas a aparência. Paulo está combatendo a idéia de exercermos juízo e julgamento precipitado dentro da Igreja de Deus.

b) O segundo cuidado que a igreja precisa ter é de não julgar os servos de Deus pelo critério errado (4.6). Os crentes da igreja de Corinto estavam julgando por meio de critérios mundanos provenientes da sabedoria humana, pois uns diziam ser de Paulo, pelo fato de ele ter sido o fundador daquela igreja; e outros de Apoio, por ser esse um grande e eloqüente pregador; e ainda outros de Cefas, pelo fato de serem eles judeus prosélitos e gostavam do rigor da lei judia. Os coríntios julgaram Paulo, Apoio e Pedro por suas preferências e preconceitos. Entretanto, Paulo diz que não devemos julgar uns aos outros por esses critérios. Veja o que diz o apóstolo Paulo:

“Estas cousas, irmãos, apliquei- as figuradamente a mim mesmo e a Apoio por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro” (4.6). O que significa ultrapassar o que está escrito? Se você tem de examinar alguém, limite-se ao ensino das Escrituras. A única base de avaliação é a Palavra de Deus e não nossas opiniões. Não superestime os ministros além da medida das Escrituras.

c) O terceiro cuidado que a igreja precisa ter é de não julgar os servos de Deus com a motivação errada (4.6b). O grupo de Paulo estava desprezando o grupo de Apoio e o grupo de Apoio o grupo de Pedro. A maneira mais vil de me promover é criticar o meu irmão. Sempre que eu critico alguém estou promovendo a mim mesmo. Sempre que começo a macular a imagem do outro estou projetando a minha imagem e essa maneira de agir tem uma motivação errada.

Nós não estamos na Igreja de Deus competindo uns com os outros. Não estamos disputando primazia. Não estamos disputando quem é mais importante. Essa motivação em querer derrubar uns a fim de erguer outros é totalmente carnal e mundana e jamais será aprovada por Deus. Não basta apenas a integridade na doutrina, é preciso também fidelidade nos relacionamentos.

O ministro é um espetáculo diante do mundo (4.7-13)

O ministro é um espetáculo para o mundo (4.9). Por que Paulo usa essa figura? Essa era uma imagem muito familiar para o povo do império romano.
Para o imperador romano manter a hegemonia do seu governo bastava dar ao povo pão e circo. Os imperadores procuravam trazer entretenimento e diversão para o povo. Criou-se, então, em quase todas as cidades do império romano anfiteatros onde se promoviam espetáculos para a população. O governo entretinha o povo, apresentando espetáculos nos anfiteatros nas várias cidades do império.

E quando um general ia para a guerra e retornava vitorioso, ele acorrentava pelo pescoço os vencidos e entrava na sua cidade, montado em sua carruagem numa grande procissão trazendo os derrotados que eram sentenciados à morte e levados ao anfiteatro para serem lançados às feras ou passados ao fio da espada. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo: “Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo...” (4.9).

A palavra grega teatron, “espetáculo” dá origem à nossa palavra “teatro”. Paulo diz que o ministro cristão é o teatro do mundo, e que a sua vida se desenrola num palco e numa arena de morte. O coliseu romano se tornou o centro desses espetáculos, onde os cristãos eram colocados para lutar contra feras e expostos à morte. Essa é a figura que Paulo evoca para os apóstolos de Cristo. Os ministros não estão no pódio para os aplausos dos homens, mas na arena do teatro, para serem entregues à morte. Fritz Rienecker ensina que Paulo usa a ilustração para a humilhação e a indignidade a qual os apóstolos são sujeitados. Deus é aquele que comanda o espetáculo e utiliza as fraquezas de seus servos a fim de demonstrar Seu poder e força.

Paulo faz quatro contrastes para revelar a sua ironia com a igreja de Corinto: reis-prisioneiros (4.7-9), sábios- loucos (4.10a), fortes-fracos (4.10b) e nobres-desprezados (4. 10c-13).

Em primeiro lugar, reis e prisioneiros (4.7-9). Visto que a igreja estava cheia de vanglória, Paulo ironiza os crentes de Corinto, dizendo: “Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós” (4.8). Paulo diz para eles: Vocês estão fartos e ricos demais! Eles estavam como a igreja de Laodicéia, satisfeitos com a sua espiritualidade. Pensavam que tinham tudo. Estavam cheios de vanglória. Eles tinham um alto conceito de si mesmos.

Os coríntios pensavam que eles eram uma igreja de muito sucesso, muito madura e eficiente. Mas Paulo afirma que aquilo que você tem, é o que você recebeu. “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias como se o não tiveras recebido?” (4.7). Paulo está dizendo que não há margem para a vaidade, para a soberba e para o orgulho espiritual. Se Deus lhe deu um ministério de projeção, você não tem de ficar vaidoso com isso, isso não é seu. Não é devido aos seus méritos, não é devido à sua inteligência ou capacidade humana. E graça de Deus. E por que, então, você se vangloria como se fosse mérito seu?

Paulo começa a mostrar para aquela igreja que a teologia da glória é precedida pela teologia da cruz. E a grande bandeira do cristão é a teologia de João Batista que dizia:

“Convém que ele [Jesus] cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Deus colocou os apóstolos em primeiro lugar na igreja, mas o mundo coloca os apóstolos em último lugar. três princípios na metáfora reis-escravos condenados. Se nós estamos sendo abençoados, outros estão sendo esbofeteados; se nós estamos sendo esbofeteados, isso vai abençoar outras pessoas; todos os cristãos são, ao mesmo tempo, reis e prisioneiros sentenciados à morte.

Somos tanto reis quanto escravos. Somos ricos em Cristo e desprezados pelo mundo. Jamais alcançaremos a bem-aventurança plena aqui. Ainda somos humanos. Ainda estamos no mundo. Ainda somos mortais. Ainda estamos expostos ao pecado, ao mundo e ao diabo.

Em segundo lugar, sábios e loucos. O apóstolo diz: “Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo” (4.1 Ob). Paulo usa uma linguagem de ironia, pois todos o consideravam um louco, pelo fato de ter deixado o judaísmo e o rabinado, uma carreira promissora de grandes vantagens, com muito dinheiro e sucesso, com muita projeção, para se tornar um homem andarilho, um itinerante que não tinha morada certa, que passava fome, sentia frio, era açoitado e preso.

Imagino que diziam para ele: Tu és louco Paulo! Houve um momento em sua vida em que ele achava que ser sábio era se gloriar nas coisas que tinha (Fp 3.4-8).

Mas ele considerou todas essas glórias do seu passado como esterco, como lixo, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo (Fp 3.8). Paulo era louco de acordo com o critério dos homens. Ele abandonou seu status, sua posição e suas vantagens. Contudo, na verdade, os coríntios que se consideravam sábios aos próprios olhos, eram tolos aos olhos de Deus.

Paulo diz: “Ninguém se engane a si mesmo; e se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (3.18,19). O caminho para se tornar espiritualmente sábio é tornar-se tolo aos olhos do mundo.
O mártir do cristianismo, Jim Elliot disse: “Não é tolo aquele que dá o que não pode reter, para ganhar o que não pode perder”. Houve um momento em que Paulo confiou na sua força, mas depois que Cristo o salvou, ele passou a gloriar-se apenas em sua fraqueza (2 Co 12.7-10).

Em terceiro lugar,fracos e fortes. Diz o veterano apóstolo: “[...j nós fracos, e vós fortes” (4.10b). Aos olhos de Deus os apóstolos são os primeiros (I Co 12.28), mas aos olhos do mundo, eles são os últimos. A igreja de Corinto se considerava forte, poderosa e Paulo chegou a dizer que teve um tempo em sua vida em que ele se achava forte e poderoso. Nesse tempo ele perseguiu a igreja.

Mas agora, ele se considera fraco e se gloria na sua fraqueza. Assim, Paulo mostra à igreja que o alto conceito que ela possuía de si mesma era uma cortina de fumaça e uma máscara. Os coríntios estavam cheios de orgulho por causa da sua espiritualidade, mas isso era fraqueza aos olhos de Deus. Não há poder onde Deus não recebe a glória.
Em quarto lugar, honrados e desprezados (4.10c-13).

Os crentes de Corinto queriam glória vinda dos homens. Eles se consideravam importantes por estarem associados a homens famosos. Mas Paulo lhes diz que os apóstolos não são nobres, mas desprezados. Os crentes de Corinto ficavam todos empavonados, dizendo: “Nós somos de Paulo. Ou nós somos do grupo de Apolo.

Ou ainda nós somos importantes porque pertencemos ao grupo de Pedro”. Paulo diz que nós não devemos achar que somos importantes por pertencermos ao grupo de homens famosos. Os apóstolos não são famosos, disse Paulo; os apóstolos são desprezados: “[...j vós nobres, e nós desprezíveis” (4.lOc).

Ele diz que os apóstolos enfrentam privações: “[...] sofremos fome, e sede, e nudez” (4.11). E os apóstolos ainda sofrem maus-tratos: e somos esbofeteados, e não temos morada certa” (4.11). E Paulo conclui: “[Somos] caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos” (4.13). Paulo diz aos crentes de Corinto para não colocarem os holofotes nos homens, porque assim como os homens trataram Jesus, o Filho de Deus, e O prenderam e lhe cuspiram, levando-O a cruz, assim também tratarão os apóstolos. Nossa vida está sendo observada por homens e anjos. Nós somos jogados nas arenas para enfrentarmos a própria morte, como escravos condenados.

O ministro é um pai amoroso (4.14-21)

A última figura que Paulo usa nesse capítulo é a figura de um pai que precisa exercer doçura e temor. Paulo já tinha comparado a igreja local a uma família (3.1-4), mas agora sua ênfase é sobre o ministro como um pai espiritual. Paulo dá uma guinada de 180 graus, saindo de uma severidade imensa, onde usou de ironia, para uma figura repleta de doçura, a figura de um pai. A severidade de Paulo dá lugar à ternura. Ele agora se dirige à igreja como um pai aos seus filhos.

Normalmente quando temos de usar a vara para disciplinar nossos filhos, choramos mais do que eles. Sofremos e sentimos mais do que eles. Parece que é isso que Paulo está sentindo, pois ele acabara de disciplinar severamente a igreja, chamando a atenção dos crentes de maneira dura. Agora, ele se volta cheio de ternura, doçura, mansidão e carinho dirigindo-se à igreja como filhos amados. Vejamos como ele escreve: “Não vos escrevo estas cousas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados” (4.14).

O que é um pai espiritual?

Em primeiro lugar, o pai é aquele que gera os filhos pelo evangelho (4.14,15). Paulo fala do pai espiritual: “Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo” (4.15). A palavra “preceptor” aqui é paidagogos. E o escravo que tinha a responsabilidade de cuidar de uma criança e conduzi-la à escola. Ele não era o professor, mas aquele que levava o filho à escola e o deixava aos pés do mestre. E Paulo diz: Vocês podem ter muitos que levam instrução até vocês ou, levam vocês à instrução. Porém, vocês só têm um pai. A minha relação com vocês é estreita, sentimental, familiar, e íntima. E uma relação de coração e de alma. Eu sou o pai de vocês! Eu gerei vocês!

Em segundo lugar, o pai é aquele que é um exemplo para os filhos (4.16,17). Paulo diz: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” (4.16). A palavra “imitadores”, no grego, é mimetai, de onde vem a palavra mimetismo, mímica. Ou seja, você ensina o filho não apenas por aquilo que você diz, mas, sobretudo, por aquilo que você faz. Os filhos aprendem primeiro pelo exemplo, depois pela doutrina. Albert Schweitzer, um grande pensador alemão, declara que o exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz. Paulo podia ser exemplo para os seus filhos e os seus filhos podiam imitá-lo porque ele imitava a Cristo. Ele diz: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (11.1).

Em terceiro lugar, o pai é aquele que é fiel em disciplinar os filhos (4.18-21). O pai é aquele que gera, que ensina pelo exemplo e também, o que disciplina com amor. Veja o que diz o apóstolo Paulo: “Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco; mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos. Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder. Que preferis? Irei a vós outros com vara ou com amor e espírito de mansidão?” (4. 18-2 1).

Há um momento em que a intolerância precisa ter um fim. Há um momento em que a única forma de alcançar o coração do filho e’ o expediente da disciplina. Reter a vara do filho é pecar contra ele. Aborrece a alma do filho o pai que retém a disciplina. Chega um momento em que um pai responsável precisa disciplinar os seus filhos. Um pai que ama não pode ser indulgente com os filhos. O pai não apenas dá exemplo e ensina, mas também disciplina os filhos quando eles se tornam rebeldes.

Paulo diz que existia dentro da igreja uma dicotomia, um hiato, um abismo entre o que os cristãos falavam e o que eles viviam. Paulo contrasta discurso e poder, palavras e obras (4.19,20). Os crentes de Corinto não tinham problema com discursos pomposos, mas eles não tinham poder. Falavam, mas não viviam. Havia um abismo entre o que falavam e o que praticavam. Eles eram uma igreja falante e eloqüente, mas não praticante. Então Paulo lhes diz que o problema não é falar, mas viver, pois o Reino de Deus não consiste em palavra, mas em poder! Não adianta você falar bonito, ter um discurso bonito, não adianta ser eloqüente, fanfarrão, tocar trombeta! O Reino de Deus é poder, é vida, é transformação.

Em quarto lugar, o pai é aquele que dá afeto e carinho aos filhos (4.14,2 1). O pai gera, dá exemplo, disciplina, e também dá carinho. O filho que só apanha fica revoltado e recalcado. O filho que só recebe carinho fica mimado e imaturo. Precisamos dosar disciplina com ternura. Tem o tempo certo de usar a vara e o tempo certo de pegar o filho no colo.
Precisamos equilibrar correção com encorajamento. Paulo pergunta: “Que preferis? Irei a vós outros com vara, ou com amor, e espírito de mansidão?”
Paulo era aquele homem de coração doce e cheio de ternura, um pai que tinha vontade de colocar os filhos no colo. Precisamos desenvolver esse sentimento de proximidade, de intimidade e de amabilidade na igreja.

Veja a intensidade dos sentimentos desse apóstolo veterano. Quando ele escreve aos gálatas, afirma: “[...] meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19).

A figura que ele usa é a de uma mãe dando a luz. Depois ele diz aos presbíteros de Efeso, que ele era aquele pai que exortava dia e noite com lágrimas a cada um (At 20.3 1). Ele ainda disse aos tessalonicenses que ele era como uma ama, que acaricia os filhos (l Ts 2.7).

NOTAS

Wwisrsv, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006:
p. 760-765.
70 PRIOR, David. A mensagem de lCoríntios. 1993: p. 65.
71 BARCLAY, William. IyllCorintios. 1973: p. 48.
72 HODGE, Charles. Commentary on the First Epistie to the Corinthians.
1994: p. 64.
PRIOR, David. A mensagem de iCoríntios. 1993: p. 65.
»I RIF:N1cKI3R, Fritz, e ROGERS, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. 1985: p. 292.
‘ HODGE, Charles. Com mentary on the First Epistie to the Corinthians. 1994: p. 65.
76 WIERSBE, Warren W Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760.
WIERSBE, Warren W Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760.
78 PRIOR, David. A mensagem de iCoríntios. 1993: p. 66.
WIERSBE, Warren ‘Ç Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006:
p761.
80 RIENECKER, Fritz, e ROGERS, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. l985:p.293.
81 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006:
p. 762.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS