2 de fevereiro de 2010

O Ministério da Reconciliação –parte 2

O Ministério da Reconciliação –parte 2

2 CORÍNTIOS 4-7

EXPOSIÇÃO

Paulo forneceu um exemplo completo de sinceridade e vulnerabilidade e estabeleceu o alicerce para um ministério do Novo Concerto (capítulo 1). As boas novas do evangelho são que Deus está presente na vida do crente, dando a todos nós a esperança de transformação gradual em direção à semelhança de Cristo (capítulo 3). Construindo sobre esta realidade, Paulo afirma duas vezes: “Por isso.., não desfalecemos” (4.1,16). O ministério do Novo Concerto rejeita o uso ela “falsidade” para pregar as perfeições de Cristo, e não “a nós mesmos” (4.1-6). Somos como vasos de barro que contém um grande tesouro; o que importa não é o que é visto, mas o que não é visto; não o temporário, que está desaparecendo, mas o núcleo da eternidade interior (4.7-18).

Paulo faz uma pausa para observar que nossa mortalidade certamente será “absorvida pela vida. Vida, aqui, é sinônimo de perfeição. Isto não modifica nosso objetivo de procurar agradar ao Senhor, seja agora ou na glória (5.1-10).

Uma vez mais, Paulo afirma um princípio básico do ministério. Diferentemente daqueles que se orgulham do que pode ser visto, Paulo conta com o que não pode ser visto: a realidade de Cristo no coração do crente, e fato de que o amor motivará o crente a viver para o Senhor. Paulo está completamente convencido disto. O propósito da morte de Cristo foi que “os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. E inimaginável que o sacrifício de Cristo deixasse de cumprir seu propósito (5.11—15).

Com esta perspectiva, Paulo já não mais considera a ninguém “segundo a carne”. Não se trata das aparências, mas da realidade espiritual. Não são as falhas atuais, mas a promessa do futuro que é mais real para o apóstolo. Uma vez que o crente está agora em Cristo, o novo chegou. E o novo certamente renovará o crente. Assim, a missão de Paulo para com o cristão é insistir na reconciliação isto é, uma vida que esteja em completa harmonia com Cristo, e com o fato de que, ao tornar-se pecado para nós, Cristo nos capacitou “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (5.16-21). E isto acontecerá hoje! (6.1,2)

Com esta fundação teológica estabelecida, Paulo retorna a assuntos mais pessoais. Em todo o seu sofrimento, Paulo falou livremente aos coríntios, abrindo seu coração a eles (6.3-13). Com completa integridade, Paulo pode insistir para que os coríntios evitem a intimidade com os incrédulos, e confiem na promessa de Deus de que a pessoa que se purifica do pecado, será recebida por Deus como sua (6.14—7.1).

Quanto aos coríntios, as críticas de Paulo nunca tiveram a intenção de serem condenações. Paulo continua a ter grande confiança nestes crentes e os ama intensamente. Mas ele não lamenta as palavras que possam ter parecido ásperas, pois estas palavras foram ouvidas com uma “tristeza segundo Deus” que levou ao arrependimento. A reação dos coríntios às suas ásperas palavras demonstrou exatamente o que Paulo já sabia: que o Jesus invisível em seus corações realmente é a influência que controla suas vidas. E a reação deles trouxe alegria ao apóstolo e a outros que os amam como ele os ama (7.2-16).

ESTUDO DA PALAVRA

Pelo que, tendo este ministério, segUndo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos (4.1; cf. 4.16). Em grego, a palavra é ouk egkakeo, “não se comportar com fraqueza’, e indica perseverança. Paulo entende a natureza da obra transformadora do Espírito nos crentes, e isto o mantém no caminho correto, não importando que revezes possam acontecer.

Corno é importante que nós também entendamos. E tão fácil ficar desencorajado, quando nossos filhos nos desapontam ou, quando alguém em quem investimos muito tempo, e por quem oramos, retorna ao seu antigo modo de vida. Como Paulo, nós precisamos perceber que temos um ministério do Novo Concerto ministério que reconhece as fraquezas humanas, e ainda confia no Espírito do Senhor para realizar aquela transformação interior gradual que, com o tempo, capacitará cada crente a refletir melhor a glória de nosso Senhor.

Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós (4.7). A imagem vívida do vaso de barro (ostrakinon skeuos) atraiu a atenção de muitos comentaristas. Tais vasos, freqüentemente usados como lâmpadas de azeite no século 1, eram ao mesmo tempo frágeis e baratos. Em nossos frágeis corpos mortais arde a chama do Espírito, revelando uma glória que é muito mais maravilhosa em vista da simplicidade de seu recipiente.

O fato de que Deus revelou-se no Cristo encarnado foi um grande milagre. Talvez um milagre ainda maior seja o fato de que Deus seja capaz de revelar-se para você e eu.

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós, a vida (4.12). Os tradutores da versão NIV colocam “opera” na primeira sentença, o que pode levar a interpretação equivocada. A expressão en humin aqui é um dativo de vantagem, e a expressão deveria ser “mas é vida para vós” Paulo relatou as constantes pressões sob as quais ele desempenha seu ministério (4.7-9). Para Paulo, esta experiência de morte constante (sofrimento) não é apenas seu destino, mas também prova de seu chamado.

Sua constante exposição ao sofrimento e à sua fraqueza evidente significa somente que, nele, a vida da ressurreição de Jesus é manifestada (phanerothe [4.101). Paulo sofre voluntariamente porque seu compromisso contínuo, apesar de sua “morte”, exibe o poder de Jesus. Ele também sofre voluntariamente porque sua “morte” tem grande vantagem para os coríntios, pois seu sofrimento lhes trouxe a nova vida em Jesus de que eles agora desfrutam.

Existe um sentido no qual todos nós, que conhecemos Jesus, somos chamados ao sofrimento, da mesma forma como Jesus foi. Somente em nossas fraquezas nós podemos verdadeiramente exibir a força de Jesus. E, muito freqüentemente, somente sacrificando alguma coisa importante para nós, poderemos levar o dom da vida aos outros. Mas, como é bom quando podemos fazer nossos sacrifícios com a mesma alegria que Paulo expressa quando escreve: “Tudo isso é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundante a ação de graças, para glória de Deus” (4.15).

Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas (4.18). A palavra é skopounton, normalmente usada com o sentido de “fixar os olhos em”, e indica um exame minucioso, um olhar penetrante que determina o valor da coisa examinada e mantém em vista aquele valor.

Este versículo é crucial para a compreensão do argumento de Paulo nestes capítulos. Claramente, ele vê falhas nos coríntios, e com a mesma clareza ele vê a aflição e os sofrimentos que estão associados com seu compromisso de servir a Cristo. Mas estas coisas são deixadas de lado por serem proskaira, “temporárias” (4.18). Paulo olha além dos meros fenômenos sensoriais, percebendo que tudo o que ele pode sentir e ver é passageiro e, em última analise, irreal. Paulo está preocupado com aquilo que é eterno, com uma realidade que está além do poder que nossos sentidos têm de descobrir. E essa realidade que ele descobriu em Cristo, e na qual ele fixou seu olhar (“atentou”) que determina seu caminho.

Quanto melhor entendermos os métodos de Deus, e quanto mais firmemente estivermos comprometidos com eles, melhor veremos nosso próprio caminho pela vida. Manter o olhar fixo no Eterno é a melhor maneira de proteger-se contra os desapontamentos e as aflições da vida.

Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus (5.1). Uma profissão impressionante de interpretações faz desta passagem uma das mais debatidas do NT.

A maioria dos estudiosos, entretanto, iguala a “casa terrestre” ao corpo mortal, e a “casa eterna” ao corpo da ressurreição ou a algum corpo intermediário com o qual o crente será “revestido” até a chegada do dia da ressurreição.

Embora este debate nunca possa ser adequadamente solucionado, vemos aqui um tema básico no pensamento cristão. Muitos, no século 1, acreditavam que a alma “nua” (5.3) poderia aproximar-se de Deus “despida” (sem um corpo). Para eles, a “ressurreição” era mais espiritual que corporal. Paulo resolveu este problema em 1 Coríntios 15, mas aqui retorna brevemente a ele. Aquela morte da qual o próprio Paulo está tão consciente (4.7-15), não é perda maior do que a morte física será; pois a perda do corpo mortal simplesmente significará ultrapassar o visível para um campo no qual embora invisível para nós agora — seremos revestidos novamente, e desta vez pela vida! (5.4). E esta maravilhosa transição do visível para o invisível, da mortalidade para a experiência completa da vida eterna, é assegurada pelo Espírito que está presente em nós (5.5).

Como são insignificantes nossas especulações sobre se Paulo tem ou não um corpo temporário, transitório, em vista nestes versículos. Nós temos certeza da verdadeira mensagem da passagem: além do tempo, existe a eternidade. E o retorno deste corpo presente ao pó é um evento completamente insignificante, pois um corpo celestial glorioso espera aqueles que morrem em Cristo.

Confiantes desta maravilhosa verdade... “o que nós queremos é agradar o Senhor, seja vivendo em nosso corpo aqui, seja vivendo lá com o Senhor” (5.9, versão NTLH).

Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo (5.10). O bema em Corinto era uma plataforma elevada, localizada perto do centro da cidade. Embora fosse deste tribunal que as autoridades da cidade anunciavam as sentenças judiciais, a imagem não era assustadora para os leitores de Paulo no século 1. Era do bema que se faziam todas as proclamações públicas, aquelas que elogiavam as pessoas e aquelas que as censuravam.

Aqui Paulo não se refere ao julgamento final, mas àquela avaliação das obras do crente, mencionadas em 1 Coríntios 3.10-15. Na volta de Cristo, os crentes não somente irão sentir a plenitude da salvação, mas também comparecerão perante o Senhor hina kornisetai, “para que cada um receba segundo o que tiver feito” (5.10). O retorno de Cristo será tempo de colheita para nós, assim como para o Senhor. Nós somos a colheita de Deus, ao passo que cada um de nós colherá “segundo o que tiver feito por meio do corpo”.

Estejamos certos de viver de modo que nossa colheita seja abundante, e as palavras que Jesus dirá do bema celestial serão palavras de elogio e não de censura.

Porque o amor de Cristo nos constrange (5.14). “O amor de Cristo” é mais freqüentemente compreendido como um objetivo e não como um genitivo subjetivo. E o amor que Cristo tem por nós e expressou no Calvário, e não o amor que nós sentimos por Cristo, que exerce força constrangedora na vida do cristão. “Constranger” é sunechei, “estar controlando alguém”. Há mais coisas implicadas além da influência moral, O amor de Cristo liberou em nós um poder que não pode ser negado. Esse amor é transformador em caráter, e com muita certeza renovará o crente da mesma maneira que transformou Paulo que antes era inimigo do Senhor em seu servo mais dedicado.

Julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (5.14,15). Os termos de ligação neste texto explicam o significado das palavras de Paulo. Por que o amor de Cristo nos constrange? Porque esse amor encontrou expressão em sua morte por “todos” (aqui, claramente todos os crentes). Portanto, o crente, em união com

Jesus, também morreu, e em união com Jesus ressuscitou para uma nova vida (Rm 6.1-14). “Para que” é bina, que aqui expressa propósito mais do que resultado. O que Paulo quer dizer é que por meio da morte de Jesus e de nossa união com Ele, Deus pretende trabalhar tanto em nossas vidas que nós chegaremos ao lugar em que Paulo está agora um lugar onde viveremos para Jesus e não paia nós mesmos!

O que Paulo fez aqui foi lançar a base teológica na qual ele constrói seu ministério a grande verdade que modela a maneira como se relaciona com os coríntios e os outros. Paulo não perde a coragem, mesmo quando a igreja de Corinto está dividida por disputas e pela imoralidade. O apóstolo continua a ministrar com confiança, porque ele está absolutamente convencido de que nada no mundo será capaz de impedir o propósito de Deus na expiação! Deus, certamente, cumprirá sua vontade na vida de cada crente. O Senhor fará aquilo que planejou fazer quando deu seu Filho por nós.

Como Deus cumprirá seu objetivo? Unindo-nos a Jesus, para que compartilhemos tanto de sua morte quanto de sua ressurreição. Esta obra realizada pelo amor de Cristo exercerá força impulsionadora na vida do crente, e assim também os crentes de Corinto, certamente, crescerão à semelhança de seu Salvador.

Que verdade vital para ter em mente. As vezes, parece que damos um passo em direção à vida cristã, somente para retroceder dois. E freqüentemente aqueles que amamos parecem indiferentes, inabaláveis pelo chamado de Cristo ao pleno comprometimento. Quando desencorajados, nós podemos ter esperança. Deus certamente realizará seu objetivo em nós e neles. Por meio de seu grande amor, foi introduzido dentro de nós um poder que nos levará, como levou a Paulo, a “não viver mais para [nós mesmos], mas para aquele que por [nós] morreu e ressuscitou” (5.15).

Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne (5.16). O mundo avalia as pessoas com base em seu desempenho, no que elas fazem ou deixam de fazer. De uma perspectiva mundana, os próprios coríntios poderiam ser considerados como fracassos cristãos defeituosos, na melhor das hipóteses, indistinguíveis dos “homens carnais” (1 Co 3.3). Mas, Paulo vê Cristo, vivo em seus corações, influência motivadora que modificará cada raciocínio deles até que decidam alegremente viver somente para Ele.

Ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo, agora, já não o conhecemos desse modo (5.16). O verbo é egnokamen, “conhecer”, usado aqui no sentido de maneira de encarar ou compreender a Cristo. A idéia é introduzida para esclarecer a importância de não encarar os outros de maneira mundana (segundo a carne). Aqueles que julgam pelas aparências poderão pensar que Jesus foi um fracasso um Messias rejeitado por seu próprio povo e entregue por eles para a crucificação. Sob o ponto de vista do mundo, alguns poderão pensar que Jesus foi figura trágica ou cômica. Mas, como a realidade é diferente! A crucificação, longe de marcar sua missão como um fracasso, provou ser o principal pilar de seu sucesso. E a ressurreição demonstrou que Ele é o eterno Filho de Deus.

Que lembrete para nós, de que as coisas espirituais raramente são o que parecem ser. Nós aprendemos a olhar além das aparências, e devemos basear nossa vida em crenças que, apesar de freqüente falta de evidências visíveis, sabemos que refletem a realidade.

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (5.17). O termo “velho” em grego é archaias, aquilo que vem de um tempo anterior. O novo ato da criação realizado no crente deixou em nosso passado a antiga ordem do pecado, da morte e da carne que está associada com Adão. A partir de agora, devemos encarar os outros e a nós mesmos a partir de uma perspectiva modelada pela realidade da obra de Cristo em nossas vidas. Paulo não está ensinando aqui o perfeccionismo. Nem está dizendo que devemos sentir agora libertação da influência daquilo que é “velho” em nossa vida.

O que Paulo está dizendo é que o velho “já passou” no sentido de que seu poder sobre nós está rompido. A nova dinâmica da vida em Cristo nos promete liberdade transformadora a liberdade que virá.

E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação (5.18). Paulo prossegue seu argumento observando a tensão entre nosso estado reconciliado atual, e nossa experiência de reconciliação.

“Reconciliar” (katallasso) é um termo teológico crítico no NT, e indica mudança nos relacionamentos pessoais entre os seres humanos e, particularmente, entre os seres humanos e Deus. O Zondervan Expository Dictionary ofBible Words observa que diversas verdades vitais estão expressas em passagens nas quais esta palavra aparece.

(1) São os seres humanos que precisam ser reconciliados; sua atitude pecadora em relação a Deus deve ser modificada.

(2) Deus atuou em Cristo para realizar a reconciliação, para que, com nossos pecados já não mais computados contra nós, os crentes já não mais tenham base para considerar Deus como um inimigo.

(3) Quando cremos no evangelho, sentimos mudança psicológica e espiritual, pois nossas atitudes passam a estar em harmonia com a realidade divina (p. 515).

Esta passagem confirma a obra objetiva de Cristo ao realizar a reconciliação. Também concentra nossa atenção naquilo que é psicológico e espiritual. O “ministério da reconciliação” de Paulo está direcionado aos crentes e não aos incrédulos (5.18-20). O objetivo deste ministério é realizar essa mudança em percepção e em atitudes em relação a Deus, que irão capa- citar o cristão a tornar-se verdadeiramente novo. Com nosso exterior em completa harmonia com o próprio exterior de Deus, nós seremos... “Nele.., feitos justiça de Deus”.

Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados (5.19). O argumento de Paulo nesta passagem é bem fundamentado. A morte de Jesus foi uma propiciação, no sentido de que Ele pagou o preço que o pecado exige. A morte de Jesus foi redenção, no sentido de que o preço que Ele pagou, comprou nossa liberdade. E a morte de Jesus é reconciliação, no sentido de que ela exibe a graça de Deus e constitui prova de que Deus verdadeiramente perdoa, em lugar de computar nossos pecados contra nós.

A expressão me logizomenos autois, “não lhes imputando seus pecados” reflete uma verdade enfatizada em Romanos 4.

Deus não imputa os pecados contra ninguém que tenha fé em Jesus (Rm 4.3; = SI 32.2). O evangelho de Cristo enfatiza o perdão, não a condenação! Deixemos que a lei e nossa consciência nos condenem e nos deixem desconfortáveis a respeito de nossa situação com Deus. Jesus deixa tudo aquilo para trás e nos convida a ir livremente a Deus, certos de que os pecados já não são problema mais em nosso relacionamento com o Senhor.

O que torna este tema tão importante, é que o “ministério da reconciliação” do Novo Concerto divulgado por Paulo mantém esta mesma ênfase! Em seu relacionamento com os coríntios, ele não parece inclinado a computar seus pecados. E ele não os usa contra eles! Ao contrário, ele é positivo e otimista. Olhando além dos problemas atuais, ele diz, com total sinceridade: “Grande é a ousadia da minha fala para convosco, e grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de consolação e transbordante de gozo em todas as nossas tribulações” (7.4).

Paulo está absolutamente convencido de que o amor de Cristo é a influência controladora na vida dos coríntios, e que eles chegarão à posição em que, como Paulo, viverão alegremente para o Senhor e não para si mesmos. O papel de Paulo não é culpar ou condenar, mas continuar a expressar a confiança que ele tem na obra de Cristo dentro deles e expressando esta confiança, ajudar os coríntios a viver mais e mais em harmonia com o Senhor.

Uma vez mais, que grande lição para nós. O pai ou o pastor que confia na crítica constante, cujas palavras produzem culpa, mais atrapalha que ajuda o crescimento espiritual. Mas o pai ou o pastor que diz “eu tenho grande confiança em você”, e se recusa a permitir que esta confiança seja abalada por falhas, mesmo que repetidas, realiza um ministério de reconciliação que produz frutos. Cristo está no coração de cada crente. O Espírito está presente para realizar sua obra de transformação. Devemos crer e confiar a Deus o crescimento e a transformação de nossos filhos, até que, pelo exemplo de nossa fé, eles venham a crer nele por si mesmos.

Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo (6.4). A palavra é sunistanein, “provar ou mostrar”. Paulo está partindo de sua própria experiência para fornecer um esquema que capacitará o leitor a reconhecer um verdadeiro servo de Deus.

Esta imagem, desenvolvida nos versículos seguintes, que lembra quadros de Rembrandt, é um estudo sobre a luz em contraste com as trevas. Contra o cenário das aflições (6.4,5), o servo de Deus exibe qualidades interiores através das quais brilha a luz de Jesus.

As nove aflições do cenário são apresentadas em grupos de três: provações gerais (“aflições, necessidades, angústias”); perseguições (“açoites, prisões, tumultos”) e as conseqüências naturais do compromisso (“trabalhos, vigílias, jejuns”). Mas a escuridão projetada por estas dificuldades serve mais para enfatizar do que para extinguir “a pureza, a ciência, a longanimidade e a benignidade” juntamente com “o amor não fingido” e “a palavra da verdade”, que o Espírito Santo e o poder de Deus operam na vida daqueles que servem a Cristo de forma voluntária (6.6,7).

Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis (6.14). A palavra aqui é heterozygountes, um “arreio duplo”, e só é encontrada aqui no NT Os comentaristas concordam que a instrução baseia-se na proibição do AT contra lavrar com animais diferentes (Dt 22.10), e quem sabe também contra o cruzamento de tipos diferentes de animais domesticados (Lv 19.19).

O problema é determinar como se aplica este princípio. Paulo já disse que os coríntios não devem se retirar da associação com os não cristãos, mesmo que estes sejam imorais (1 Co 5.9-13). E ele disse aos cônjuges cristãos que permanecessem com seus cônjuges não cristãos, pelo tempo que aquela pessoa desejasse viver com eles (1 Co 7.12- 14). Mas fica claro que Paulo espera que os cristãos só contraiam uru novo matrimônio “contanto que seja no Senhor” (1 Co 7.39).

Paulo afirmou um princípio geral, que nós podemos parafrasear. Não entre em nenhum relacionamento com infiéis que possa envolver um comprometimento dos padrões ou testemunhos cristãos. Sejam quais forem esses relacionamentos sociais, de negócios, ou outros Paulo sabe que cada um de nós precisa confiar na orientação do Espírito, que nos ajudará a decidir.

Mais tarde, Paulo nos dá uma palavra adicional de orientação. Devemos nos lembrar de que Deus nos chama para uma vida de pureza, eliminando de nossa vida qualquer coisa que contamine a carne e o espírito (7.1). Se um relacionamento que estivermos considerando não promover o “aperfeiçoamento da santificação no temor de Deus”, então ele deve ser evitado.

Recebei-nos em vossos corações (7.2). Apalavra choresate foi parafraseada como “abram espaço para mim’. A palavra transmite a idéia não somente de abertura, mas também de expansão. Paulo está dizendo: expandam seus corações, ampliem sua capacidade de reagir.

Freqüentemente, quando reagimos a alguma desconsideração real ou imaginária, quase podemos sentir nossos corações fechando-se. Paulo lembra os coríntios que não importa quais acusações possam ter sido feitas contra ele, “a ninguém agravamos, a ninguém corrompemos, de ninguém buscamos nosso proveito” (7.2). E mesmo seu pedido de que eles abram espaço para ele em seus corações, não é pronunciado em um espírito de condenação.

A melhor maneira de ajudar alguém a abrir o coração para nós é seguir o exemplo de Paulo e reafirmar nosso próprio amor, tendo cuidado para não atacar, criticar nem condenar.

Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte (7.10). A palavra traduzida como “tristeza” é lupe em cada caso. Esta palavra grega, também traduzida como “pesar” e “dor” no NT, é um termo amplo que abrange todos os tipos de aflições físicas e emocionais. Curiosamente, os tradutores da Septuaginta a usaram para traduzir cerca de 13 termos hebraicos diferentes que exibem nuances sutis de significado não encontrado na língua grega.

Aqui, no entanto, a ênfase de Paulo está no fato de que a reação de uma pessoa a lupe será “segundo Deus” ou “segundo o mundo”. Quando a tristeza leva ao arrependimento aquela mudança no coração e na mente que nos coloca no caminho que leva à salvação esta tristeza cai na categoria das tristezas “segundo Deus”. E importante recordar que “salvação” é freqüentemente usada no sentido da libertação atual. Aqui, o que Paulo quer dizer é que o arrependimento reverte nossa corrida para o desastre, e redime a situação, de modo que somos libertos das conseqüências associadas às escolhas anteriores, e erradas, que fizemos.

Por outro lado, a tristeza é “do mundo”, se tudo o que ela produz é pesar, ou até mesmo um reconhecimento de que estivemos errados — mas, sem nos levar ao arrependimento. Um bom exemplo de tristeza do mundo é vista em Saul, que parece ter sentido arrependimento, quando admite a Davi “Pequei... Eis que procedi loucamente e errei grandissimamente” (1 Sm 26.21). Mas, apesar desta admissão, Saul não se arrependeu e seu fracasso em fazê-lo levou à sua morte pouco tempo depois.

A tristeza, o pesar ou a dor, não importa como interpretemos lupe aqui, é um presente de Deus para nós. O arrependimento significa que o aceitamos como um presente e transformamos a dor em alguma coisa que nos traz benefícios, apesar da dor.

Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós (7.16). O verbo “confiarem tudo” é tharrein, “ter confiança, coragem”, ou ainda “ter completa confiança”. Paulo olha para frente sem medo, confiante no contínuo progresso dos coríntios em direção à fé.

Anteriormente, vimos que a confiança de Paulo está baseada em sua convicção de que Cristo morreu para trazer os crentes a uma situação de compromisso em que eles vivam para Ele e não mais para si mesmos (5.15). O apóstolo não baseia sua avaliação no que pode ser observado, mas no fato de que Cristo está no coração, e seu amor os “impelirá” às transformações.

E assim, a ênfase de Paulo, vista pelo lugar proeminente que foi dedicado à Palavra no início da sentença, não está na reação dos coríntios, tuas sim na sua própria! Chairo! “Regozijo-me!”

Como é bom ver nos outros a evidência de que, mesmo agora, estão reagindo positivamente àquela compulsão interior, e dando passos rumo ao temor e à obediência ao Senhor. Como é bom ver que nossa confiança não está equivocada!

Assim é com Paulo. Ele não está confiante porque eles foram “obedientes”, tendo recebido Tito com “temor e tremor” (7.15). Ao contrário, sua resposta era esperada, era confirmação da confiança que Paulo já possuía. O que esta resposta cria não é aumento da confiança, como se tivesse havido dúvida, mas sim alegria!

O TEXTO EM PROFUNDIDADE

O Ministério da Reconciliação (5.11-21)

Contexto. Paulo afirmou que não fixa os olhos “nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (4.18). Este é um princípio básico do ministério do Novo Concerto, que Paulo desenvolve em sua importante exposição da natureza de seu “ministério da reconciliação” aos coríntios.

Esta ênfase está em grande contraste com o judaísmo. Por um lado, o judaísmo tem um credo definido. Talvez a melhor representação do credo do judaísmo esteja expressa nos “Treze princípios da fé”, expostos por Moisés Maimônides (1135-1204 d.C.). Esse credo, preservado no livro de orações diárias, começa com... “eu creio, em perfeita fé, que o Criador, bendito seja seu nome e continua enumerando os seguintes princípios:

(1) Deus é o único Criador,

(2) exclusivamente Único,

(3) Ele está além de toda a concepção e forma, (4) o Primeiro e o Ultimo, e

(5) o verdadeiro Deus da oração, e

(6) são verdadeiras as palavras dos profetas,

(7) Moisés é o Primeiro e o verdadeiro profeta,

(8) toda a Torá foi dada a Moisés,

(9) não há Novo Concerto,

(10) o Criador é onisciente,

(11) e recompensa e castiga a observância dos mandamentos;

(12) em seu próprio tempo Deus ainda trará o Messias,

(13) e ressuscitará os mortos.

Mas embora o judaísmo seja um sistema teológico, é basicamente um sistema ritual, que coloca sua ênfase prática no princípio número 11 acima: a crença de que o que é visto é importante, pois Deus recompensa e castiga a observância dos mandamentos.

Em um livro útil, entitulado Judaism, Michael A. Fishbane, professor de História Religiosa Judaica na Brandeis University, na cadeira que homenageia Samuel Lane, escreve sobre o judaísmo como um sistema ritual:

No judaísmo tradicional, todos os aspectos da vida têm rituais segundo regulamentos halakhic desde os primeiros pensamentos e orações matinais até as orações finais na cama à noite, desde os alimentos permitidos ou não permitidos, até as práticas comerciais permitidas ou não permitidas, desde as obrigações diárias de oração até os requisitos para a celebração das festas e para o luto pessoal. Da mesma maneira, todos os aspectos da vida assumem o caráter legal de mutar e asur, ou ato “permitido” e “proibido”; e outras categorias como bayyav e patur, ou “obrigatório” e “livre” (não obrigatório), e qodesh e bol, ou “sagrado” e “profano”, também dominam a consciência religiosa diária e a experiência dos judeus tradicionais. Da mesma maneira, o judeu observante será tipicamente escrupuloso na execução de suas obrigações halakhic, ou seja, altamente atento à ocasião adequada e à maneira de cumprir os mandamentos (p.83).

Esta era, naturalmente, a formação de Paulo como fariseu, em uma das seitas judaicas mais rígidas no século 1. Portanto, o fato de Paulo dizer, como ministro do Novo Concerto abandonemos o que é visível, porque é temporário e transitório, e, deste modo, basicamente sem importância é realmente surpreendente.

De fato, a afirmação deve ter maravilhado também os pagãos do século 1. Como todos os homens de todas as épocas que tivessem a mais vaga noção de moralidade, ou de uma divindade que avaliava as ações de um homem segundo algum padrão moral, eles teriam avaliado a si mesmos e aos outros somente de acordo com o comportamento — pelo que faziam, não com base no invisível, mas somente no que podia ser observado.

Por que Paulo passou para a posição radical que agora assume? Porque, como ele disse no capítulo 3, ele é um ministro do Novo Concerto de Deus — um concerto que o credo de Maimômides nega abertamente. A obra do Antigo Concerto de Deus foi uma Lei externa, escrita em pedras. A obra do Novo Concerto de Deus é transformação interna do caráter do crente, escrita no coração. As obras do homem, sob o Antigo Concerto, eram visíveis; a obra de Deus no Novo Concerto é invisível. Ainda assim, o antigo é transitório e basicamente inútil, ao passo que o novo é eterno, repleto da promessa de salvação.

O ministério da reconciliação de Paulo está enraizado nesta percepção de realidade do Novo Concerto, percepção que modela o modo como ele se relaciona com os coríntios e com cada crente nas igrejas que ele ou outros tenham fundado por todo o império.

Interpretação. Muitos pontos do Estudo da Palavra (acima) analisaram os termos e idéias essenciais desenvolvidos nesta passagem. Portanto, aqui, para evitar repetições, é necessário somente explicar brevemente o argumento do apóstolo.

Paulo, com temor ao Senhor, está completamente comprometido com a missão de persuadir os homens. Ele rejeita a acusação que alguns lançaram contra ele, de apresentar um caminho “fácil” para a salvação, com a finalidade de obter o favor dos coríntios e de outros. E ele considera necessário explicar novamente o princípio do ministério em que ele opera: “Para que tenhais que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração” (5.12). Aqui, vemos novamente o contraste entre o visível e o invisível. Os críticos de Paulo baseiam suas afirmações em resultados visíveis; Paulo baseia suas esperanças em algo o que não pode ser visto nem medido, naquilo que está no coração. Embora isto possa parecer loucura para alguns, não o é para o apóstolo, que conta com o amor de Cristo para “dinamizar” (ou “impelir”) uma transformação que flui do coração para o exterior.

Mas, tal transformação de dentro para fora realmente acontecerá? E preciso, uma vez que Cristo morreu por todos (os crentes), e os crentes “portanto morreram”, O propósito de Deus neste grande ato foi o de transformar inimigos não apenas em amigos, mas em seguidores. Ele morreu “para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (5.15).

Isto modificou completamente a perspectiva de Paulo sobre a realidade espiritual. Ele não mais avalia os outros “segundo a carne” (5.16). Uma vez mais, nós retornamos ao contraste entre o visível e o invisível, O mundo, sem a percepção espiritual, só pode formar julgamentos com base nas evidências que estejam disponíveis aos sentidos. Paulo olha mais além, para o coração, e percebe que, “se alguém está em Cristo, nova criatura é” (5.17). O antigo elo com Adão, que mantinha a pessoa em escravidão, sem esperanças, está quebrado. O novo elo irrompeu em seu coração!

Portanto, o que Paulo tem é um “ministério de reconciliação”. Da mesma maneira como uma semente é regada para que possa crescer, também Paulo encoraja o crescimento do novo que, como uma semente esperando para irromper e florescer, reside no coração. No que se refere à posição legal, o crente foi trazido à harmonia com (reconciliado com) Deus por Cristo. Agora, é simplesmente uma questão de trazer o modo de vida de alguém à harmonia com Cristo; simplesmente questão de incentivar a nova vida a se expressar na maneira de viver.

Novamente vemos o agudo contraste entre o Antigo Concerto e o Novo. Aquele enfoca no que é exterior: no comportamento ritualizado. Este olha além das falhas e fracassos atuais e enfoca na “nova criatura” que está dentro. Aquele exige conformidade. Este incentiva a transformação.

Mas como um ministério de reconciliação do Novo Concerto incentiva a transformação? Paulo vê a chave na própria atitude demonstrada por Deus em relação à humanidade. Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não considerando os pecados cometidos pelas pessoas. Da mesma maneira, Paulo recusa-se a considerar os pecados dos coríntios. E se recusa a usar os fracassos deles contra eles mesmos! Em lugar de condená-los por suas inúmeras falhas, Paulo simplesmente continua implorando, pedindo, rogando (parakalountos, 5.20) que os coríntios conduzam suas vidas em harmonia com Cristo.

E ele o faz com tanta confiança e certeza, que deve ter incentivado os coríntios a se lançarem com total submissão. Afinal, aconteceu a grande transação. Deus colocou todo o peso de nossos pecados sobre Jesus Cristo, e em transação correspondente plantou nova vida em nossos corações, “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (5.2 1).

Aplicação. E muito fácil cair na armadilha de avaliar com base no visível. Isso acontece nas igrejas que tendem a medir o sucesso e o fracasso em termos de crescimento numérico.

Acontece nas famílias em que os pais tendem a avaliar seu sucesso mais em termos das falhas de seus filhos no presente, do que em termos de seu potencial futuro. Acontece em nossa própria vida, quando nos encontramos às vezes tão oprimidos pela culpa e por nossos fracassos, que não estamos dispostos a arriscar dar outro passo em nova jornada de fé.

Mas, o entendimento de Paulo reflete a realidade como Deus a conhece, e como Deus quer que nós também a conheçamos. Coisas que podem ser vistas são transitórias. Por mais desencorajador que possa ser o presente, o dia de hoje não só está sujeito a mudança; as mudanças com certeza ocorrerão! A mensagem maravilhosa do Novo Concerto é que esta mudança — pelo fato de Cristo estar no coração d0 crente dar-se-á em direção à semelhança com nosso Salvador.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento 3º. Edição

31 de janeiro de 2010

O Ministério de Reconciliação – parte 1

O Ministério de Reconciliação – parte 1

1 - INTRODUÇÃO

Já estudamos em 2 Coríntios 1—4, o exemplo que Paulo nos dá como ministro eficaz do Evangelho que é a Nova Aliança. As palavras que ele oferece aos coríntios continuam ministrando-nos consolação, luz e glória. Agora, nos capítulos 5—7, contemplaremos mais um aspecto do ministério — o nosso ministério de reconciliação.

Em termos teológicos, 2 Coríntios 5.17-21 é um dos trechos mais significativos das epístolas paulinas. Paulo toca nos temas de regeneração, redenção, perdão, evangelismo e justificação. E percorrendo toda a passagem, a grande verdade da reconciliação baseada na expiação de Cristo.

Quando duas pessoas inimigas (que foram separadas por alguma disputa violenta) fazem as pazes e tornam-se novamente amigas, acontece o que chamamos de reconciliação. Veja como isso se dá no caso de Deus e dos seres humanos. O homem, criado por Deus e habitando um mundo criado por Ele, rebelou-se contra o seu Criador. Tornou-se, assim, escravo de Satanás e do pecado, tendo agora uma natureza pecaminosa e rebelde que o destrói e o impede de submeter-se ao governo de Deus. Ele é, efetivamente, um inimigo de Deus.

Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Sendo assim, iniciou as negociações visando à paz definitiva. A justiça exige o castigo pelos pecados. A reconciliação só se tornaria possível se os pecadores abandonassem a sua rebelião. Por isso, Deus mandou seu Filho, o Príncipe da Paz, para pagar a “multa” (receber o castigo) do nosso pecado e possibilitou a reconciliação do mundo com o seu Criador. Agora, Deus nos nomeia embaixadores de Cristo; persuadimos as pessoas a aceitarem os termos propostos por Deus e ficarem em paz com Ele. Nisso consiste o importante ministério da reconciliação.

II - A DOUTRINA DA RECONCILIAÇÃO (5.1-10)

Já vimos como Jesus Cristo, o “Segundo Adão”, veio restaurar para a humanidade tudo aquilo que o primeiro Adão perdeu. Uma parte essencial dessa perda foi a paz com Deus, ou seja, a comunhão com Ele. A podridão e morte física iniciaram seus processos na terra e nas vidas humanas, quando o homem se rebelou contra Deus, a fonte de toda a vida e perfeição. Mas um dos benefícios da restauração da comunhão com Deus é a vitória final sobre a morte.

A reconciliação com Deus subentende a nossa aceitação do plano dEle para as nossas vidas, o qual remonta à criação do mundo. Pode incluir trabalho e sofrimento agora (como vimos no capítulo 4), mas vemos ali adiante um eterno galardão de glória, delineado em 1 Coríntios 15.35-58.

Em 2 Coríntios 5.1-10, vemos que o nosso espírito vive em uma morada, que é o nosso corpo. Vemos nesses versículos que, após a morte, o espírito do indivíduo reconciliado receberá uma morada diferente. Qual a diferença entre as moradas terrestre e celestial? Em primeiro lugar, notamos que Paulo chama o nosso corpo físico de “tabernáculo” (“tenda”), como também Pedro (2 Pe 1.13). Nosso corpo celestial, por outro lado, é chamado “edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. Seu espírito viverá na sua nova morada, bem como agora habita no seu corpo físico. Da mesma forma, uma casa sólida, feita de tijolos ou pedras, é superior a uma tenda de lona, também nosso corpo espiritual (nossa morada celestial) será muito superior ao nosso corpo atual! (releia a seção “Um corpo perfeito” no capítulo 10).

Veja bem as palavras de Paulo em 5.3,4: “... Estando vestidos, não formos achados nus... não porque queremos ser despidos...” O espírito humano precisa de um corpo para desenvolver alguma interação com o seu ambiente e realizar as suas funções. Deus fez o corpo de Adão antes de soprar-lhe o fôlego (espírito) da vida (Gn 2.7). Ao morrermos, o nosso espírito e alma irão imediatamente à presença do Senhor (5.8). Mas o Senhor tem trabalho para nós ao se estabelecer o seu Reino na terra. Teremos que funcionar simultaneamente no mundo espiritual, habitado por Deus e seus anjos, e aqui na terra. Por isso, quando Jesus voltar para levar a sua igreja, os mortos em Cristo e aqueles que ainda estiverem vivos receberão corpos glorificados (1 Ts 4.13-18). O espírito, antes “vestido” nessa tenda terrestre, vestirá sua “morada celestial”. E uma das bênçãos que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Co 2.9).

Em 2 Coríntios 5.5 temos um bom resumo: Deus nos criou para “habitarmos com o Senhor”. Jesus prometeu preparar um lugar para nós. Ele diz: “Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14.3). Mas os seres humanos, finitos e decaídos, habitam um corpo que é mortal e perecível; por isso, não podem morar na presença de um Cristo imaculado, infinito e glorificado. O homem precisa ser transformado. Essa mudança se inicia na hora da sua conversão, pois ele nasce de novo em termos espirituais e morais. Quando se der o arrebatamento da Igreja, ele recebera seu corpo celestial. A reconciliação já preparou seu espírito e a glorificação preparou seu corpo, “e então estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.17).

O fato de que o Espírito Santo habita agora em nós, crentes, é uma garantia de que o nosso espírito habitará finalmente um novo corpo nossa morada celestial (2 Co 5.5). Por enquanto, “andamos por fé e não por vista” (5.7).

Primeiramente, porém, teremos que comparecer “ante o tribunal de Cristo” (2 Co 5.10), onde nossas obras serão julgadas (e não as nossas almas). Receberemos um galardão conforme essas obras. Faça uma rápida revisão desse assunto na lição 3 e releia 1 Coríntios 3.11-15.

1. A motivação dos reconciliados

Efésios 2.8-10 constitui um texto-chave das epístolas paulinas. Somos salvos pela graça mediante a fé e não pelas obras (8,9). O versículo 10, porém, acrescenta que somos “criados em Cristo Jesus para as boas obras”. Em outras palavras, não somos salvos por nossas obras, mas praticamos boas obras porque somos salvos.

Durante quase vinte séculos da Era Cristã, pouquíssimas pessoas têm trabalhado tanto e sacrificado tantas coisas por amor a Deus e ao seu Reino como o apóstolo Paulo. Que força o teria motivado? Medo? Ambição? Fama? Desejo de poder? As primeiras palavras de 2 Coríntios 5.14 nos dão a resposta: “Pois o amor de Cristo nos constrange”.

A idéia central dos versículos 11-13 é a preocupação e amor que Paulo sente pelos crentes em Corinto. Os falsos apóstolos (2 Co 11.13) questionavam os motivos de Paulo e seu ministério em Corinto. Por isso, ele lembra aos coríntios seus bondosos esforços em beneficio deles, abrindo-lhes o coração (6.3-10), descrevendo-lhes os sofrimentos, açoites, labores, fome e noites passadas em claro por amor aos coríntios. Paulo padeceu muito para compartilhar as Boas Novas de Cristo com os não-evangelizados. O amor de Cristo o constrangia.

A maioria jamais experimentará o que Paulo passou e nem atingirá o seu amor total, seu zelo consumidor e seu intenso sofrimento por Cristo e pelo Evangelho. Mas é possível que uns poucos se aflijam, ou tenham sido atormentados ainda mais que ele. Seja como for, uma vez que Cristo morreu por todos: “Os que vivem não vivem mais para si mesmo, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (5.15). Na salvação morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele (Rm 6.5). Agora vivemos por Ele, e devemos viver também para Ele.

A reconciliação com Deus traz amor às nossas vidas. Em determinada altura, antes da sua conversão, Paulo contemplava Jesus Cristo de uma perspectiva mundana, sem reconhecer a sua divindade e o propósito da sua vida e morte.

Mas após se encontrar com o Cristo glorificado no caminho de Damasco, houve uma radical transformação na vida dele! De repente, Paulo viu Cristo por outro prisma e logo se entregou a Ele como Senhor da sua vida. O antigo inimigo de Cristo tornou-se o mais entusiasta embaixador dEle; o antigo perseguidor da Igreja converteu-se no seu principal propagador. Uma vez foi motivado por seu ódio à igreja e seu zelo à Lei, mas agora Paulo estava disposto a morrer pela igreja por causa do seu grande amor por ela, e pregava por toda a parte a liberdade em Cristo.

À semelhança de Paulo, também podemos afirmar: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (5.17). Não mais contemplamos Jesus por um prisma mundano. Nascidos de novo, ganhamos não somente o perdão dos nossos pecados, mas uma nova motivação para nossa vida, no encontro com Ele. O amor de Cristo nos constrange: por isso não podemos, nem devemos mais viver só para nós mesmos. Deus chama “Ouro, prata, pedras preciosas” ao cristão que se dedica ao bem-estar de outros, em vez dos interesses egoístas. São essas as obras que sobreviverão à prova de fogo (1 Co 3.12-15).

2. A base da reconciliação

Quando duas nações, famílias ou pessoas tornam-se inimigas, geralmente brigam de qualquer forma. A inimizade só cessa quando se lavra algum tratado de paz, aceito por ambas as partes. Pode ser um tratado muito favorável para o lado “forte” e bastante prejudicial para o lado “fraco” que tem que assiná-lo ou ser destruído por ele. Ou pode ser um tipo de convênio mutuamente beneficente. Em todo caso, a reconciliação põe fim à luta e, por sua vez, baseia-se em alguma condição uma promessa solene, o reconhecimento de certos direitos, talvez o pagamento de uma importância em dinheiro ou a entrega de algum território.

Vejamos agora a reconciliação entre Deus e os seres humanos. Uma das grandes verdades ensinadas nas epístolas paulinas é a apresentação de Cristo como o grande reconciliador o mediador entre Deus e o homem (1 Tm 2.3-7). Deus Pai não podia concordar com a escolha humana de levar uma vida pecaminosa. Ele não podia fazer as pazes com um mundo que rejeitava a sua autoridade e o seu plano traçado para o futuro deles. Deus não podia reconciliar-se com um mundo amaldiçoado pelo pecado, mas amou esse mundo de tal maneira que elaborou uma estratégia de reconciliação.

O rebelde só pode ser reconciliado com Deus pela morte de Cristo no Calvário em lugar dele. Deus pagou a pena do pecado humano e estipulou os termos da paz, isto é, todos aqueles que rejeitarem o pecado e aceitarem a Jesus como seu Salvador serão libertos do pecado e se tornarão filhos de Deus! “E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (1 Pe 1.21).

Por meio da ressurreição, Deus mostrou seu agrado e sua aceitação do sacrifício (morte) de Cristo, como pagamento total dos nossos pecados. Agora nos aproximamos dEle como pecadores, mas somos reconciliados com Deus. “Nisso está a caridade: não em que tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 J0 4.10).

Paulo diz em Tito 2.11: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. Se assim for, por que nem todos os seres humanos são salvos? Porque a reconciliação é bilateral. Compete ao homem crer, isto é, não somente reconhecer que Deus existe e que Ele é amor, mas aceitar os termos de reconciliação estipulados por Deus. Deve entregar sua vida ao Salvador que morreu por ele, crendo no seu coração que

Cristo o salva plenamente do castigo e poder do pecado. Veja João 3.14-16 e Atos 16.31. Paulo pergunta ainda: “Como crerão naquele de quem nada ouviram? (Rm 10.14). E por isso que percebemos bem a responsabilidade dos reconciliados. Somos chamados para ser embaixadores de Cristo, levando a mensagem da reconciliação pelo mundo inteiro em cada geração. (Leia agora Romanos 10.8-15).

3. O lado pragmático da reconciliação

3.1. O preço de reconciliar o homem com Deus

Nos últimos versículos do capítulo 5, lemos que Deus nos tem dado o ministério da reconciliação e que, portanto, somos seus embaixadores. Ora, raramente os embaixadores de Cristo chegam a ser honrados como aqueles do mundo diplomático. Nos primeiros séculos da Era Cristã, milhares de líderes da igreja e outros crentes foram martirizados pela causa de Cristo. Parece que só um dos doze apóstolos (João) morreu de morte natural; os outros morreram como mártires. Pedro foi crucificado e Paulo degolado.

Vimos no capítulo 12 que o sofrimento muitas vezes produz bênçãos, não somente para quem sofre mas também para os outros. Será que Deus permite a perseguição para estimular o crescimento e amadurecimento da sua igreja? A história parece ensinar-nos que é assim. Costumamos até dizer: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja”. Mas cada moeda tem duas faces:

Em nossos dias, algumas religiões e governos opressivos estão limitando severamente o crescimento das igrejas.

Seja como for, a lembrança da experiência dos crentes neotestamentários nos ajudará a entender o princípio fundamental de que a perda leva ao aumento, a morte à vida, e o sofrimento à bênção.

Os primeiros capítulos de Atos falam de opressão, prisões, apóstolos açoitados e o martírio de Estevão. Depois disso, Paulo foi ameaçado, açoitado, preso e apedrejado. Ele padeceu fome, sede, sofreu devido à falta de abrigo, às dificuldades, aos naufrágios e passou por muitos outros perigos no decorrer de suas viagens evangelísticas. Os outros apóstolos e muitos outros obreiros também enfrentaram perseguições.

III - CRESCIMENTO DE UMA IGREJA PERSEGUIDA NO LIVRO DE ATOS

Durante os primeiros 25 anos após a ressurreição de Jesus, cerca de cem mil pessoas em três continentes se converteram a Jesus. Parece ter havido alguma relação entre o índice de sofrimento e perseguição e o crescimento da Igreja.

Até em nossos dias, evidencia-se um fenômeno semelhante. Em certo país da América do Sul, por exemplo, recentemente, os crentes em Cristo foram ferozmente perseguidos e houve muitos mártires. Agora, a Igreja naquele país está crescendo rapidamente.

Releia 2 Coríntios 6.4-10; 11.23-29. Você verá que Paulo escreve sobre três tipos de sofrimentos angústia mental (dificuldades, desonra, perigos e preocupações pelas igrejas), dor física imposta por outros (açoites, prisões), privações e desconfortos aceitos voluntariamente (trabalho duro, fome, insônias e viagens difíceis).

Muitos obreiros de Deus hoje em dia se dispõem voluntariamente a aceitar uma vida de dificuldades para reconciliar os seus semelhantes com Deus.

Conheço pessoalmente crentes brasileiros que caminham muitos quilômetros a pé pela chuva e lama, para celebrarem cultos evangelísticos. Nesse país, onde trabalho há mais de 25 anos, muitos alunos de instituto bíblico se levantam antes das seis horas, trabalham o dia inteiro, assistem às aulas de três a cinco noites por semana e voltam para casa à meia-noite. Quase todas as igrejas pentecostais têm vigília de vez em quando, sendo comum um período de jejum e oração. As igrejas pentecostais do Brasil estão cheias, não somente de crentes, mas também de pecadores em busca da paz com Deus. Muitas pessoas se convertem nos cultos da semana e ao ar livre. A rede evangélica continua se enchendo, e se o índice atual de conversões se mantiver durante a década de 1990, mais de um milhão de pessoas por ano se converterão a Cristo no Brasil.

Jesus sofreu perseguições por ter praticado o bem. Como seguidores dEle, devemos estar dispostos a carregar a nossa cruz também sofrendo perseguições ou sacrificando voluntariamente nosso tempo, dinheiro e conforto físico para implorarmos aos nossos semelhantes: “Reconciliai-vos com Deus!” Paulo, apesar dos seus sofrimentos pelo Evangelho, foi vitorioso no poder de Deus e como seu colaborador (6.1,7). Ele plantou igrejas em dois continentes e atingiu multidões em nome de Cristo. Temos à disposição os mesmos recursos para a realização da nossa missão.

2. A conduta dos reconciliados

Em 1 Coríntios, já vimos como Paulo apela para os crentes viverem em santidade na base da sua relação com Deus.

Veja a freqüência com que ele especifica as relações entre Deus e o homem como base de conduta. Estude o quadro acima, buscando as referências bíblicas.

Após o apelo pessoal de Paulo aos seus “filhos” em Corinto, ele oferece um sermão bem compacto acerca da santificação em 2 Coríntios 6.14—7.1. Santificar significa “tornar santo, separar de outros usos, consagrar ao uso de Deus”.

Paulo já mandara aos coríntios que se afastassem de pessoas imorais, especialmente qualquer hipócrita que se chamasse irmão. enquanto vivesse na imoralidade ou na bebedeira (1 Co 5.9- 11). Esse trecho e 2 Coríntios 2.14-18 não significam que devemos agastar-nos de todo contato com descrentes. Jesus foi amigo de pecadores e os conduziu ao seu Pai. Ele não orou para que pudéssemos ser tirados do mundo, mas que fossemos guardados do mal (Jo 17.13-19). Satanás adora aproveitar as relações entre crentes e os descrentes para afastar os fiéis do seu Deus. Precisamos da proteção divina.

Algumas dessas relações, se previamente estabelecidas, não devem romper-se, como vimos no caso do crente casado com descrente. Muitos jovens crentes têm país e irmãos incrédulos, e muitos pais cristãos têm filhos descrentes. Devemos externar o nosso amor por nossos parentes e amigos descrentes, mas não podemos participar simultaneamente de suas atividades pecaminosas e da comunhão com nosso Deus. Por isso não devemos comprometer-nos intimamente com incrédulos.

Deus nos manda: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis” (2 Co 6.14). Um jugo, ou canga, obriga os animais emparelhados a andarem juntos com passo igual e colaborarem em tudo. Imagine a frustração e atrito de ficar emparelhado com alguém que queira seguir princípios ímpios, enquanto você tenta seguir a Cristo!

Pode ser questão de matrimônio, sociedade comercial ou intimidade social. A formação de laços estreitos com pessoas não cristãs, quase sempre prejudica o testemunho do crente e enfraquece a sua experiência cristã. A maior perda, porém, seria estranhar a presença de Deus e virar as costas a Ele. E por isso que Paulo, citando Isaías 52.11, urge: “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor” (6.17). E um bom conselho para nós também!

Paulo encerra seu sermão de santidade (7.1) com uma exortação dupla. A primeira parte é negativa, referindo-se ao que não devemos fazer. A segunda, positiva, refere-se àquilo que devemos fazer levar uma vida santa por causa da vossa reverência para com Deus.

3. Reconciliação na Igreja

Comecemos com 2 Coríntios 7.7: “As vossas saudades, o vosso choro, o vosso zelo por mim”. Parece que os coríntios magoaram o apóstolo Paulo de qualquer maneira, e agora desejavam sarar a ferida. Na carta referida em 2.4, Paulo lhes escrevera de forma bem dura, repreendendo a falta de disciplina do irmão pecador que tinha ofendido a igreja inteira. A prova de que aquela carta surtiu efeito é dada nas palavras: “Basta ao tal essa repreensão feita por muitos” (2.5,6).

Já comentamos as emoções contrastantes de Paulo em 7.2-16. E óbvio que os coríntios tinham aberto seu coração ao apóstolo. Paulo lhes corresponde com um transbordar de alegria no trecho sob exame. E em Corinto, a tristeza provocada pelo problema conduzira ao arrependimento, resultando na tomada das providências necessárias para a solução do problema e na restauração de comunhão entre os membros.

De uma certa maneira, a reconciliação entre Paulo e os coríntios exemplifica a grande reconciliação entre Deus e os seres humanos. Paulo, que sofrera o insulto, iniciou a tentativa de reconciliação: mandou por seu colega Tito, uma carta expressando seu amor por sua preocupação, pela lamentável situação existente e seu desejo de que respondessem com autêntica confiança e amor. Deus mandou seu Filho, o verbo feito carne, para nos mostrar a verdadeira condição das nossas vidas e o imenso amor do Pai para conosco. Ele não é nosso inimigo, mas apela em favor da reconciliação, possibilitada pela morte de Cristo, nosso Redentor. Agora, uma autêntica e profunda tristeza por nosso pecado, nossa inimizade para com Deus, leva-nos ao arrependimento. Aceitamos os termos de reconciliação determinados pelo Pai e encontramos uma verdadeira alegria na paz com Deus. Houve muito júbilo quando Paulo soube, pela comunicação de Tito, que os coríntios tinham se arrependido dos seus erros. Semelhantemente, há grande gozo no céu quando um pecador se arrepende e se entrega nas mãos de Deus (Lc 15.10).

Impressiona-me, nesse trecho bíblico, a importância da comunicação no episódio referido e em nosso ministério de reconciliação:

1. A visita difícil de Paulo — possivelmente comunicação defeituosa (2.1).

2. Uma carta que conduziu a tristeza e ao arrependimento — boa comunicação (7.8).

3. A visita de Tito, embaixador da boa vontade — ótima comunicação (7.7).

4. A busca inútil em Troas (Paulo não encontra Tito) — nenhuma comunicação (2.12,13).

5. Tito traz boas notícias de Corinto — ótima comunicação (7.6,7).

6. Paulo escreve uma carta amável, confirmando sua confiança e perdão com relação aos coríntios --- ótima comunicação (2 Co).

Que exemplo para nós! Se Paulo não tivesse persistido na sua comunicação, talvez nem houvesse produzido a desejada reconciliação. Estamos dispostos a ser igualmente persistentes e longânimos no nosso próprio ministério de reconciliação entre familiares, amigos e membros da igreja? Recebemos a bênção que Jesus prometeu aos pacificadores? Que possamos realizar um ministério bem frutífero e abençoado.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Comentário Bíblico 1 e 2 Coríntios Thomas Reginald Hoover

O que a Bíblia diz sobre a reconciliação?

O que a Bíblia diz sobre a reconciliação?

A reconciliação pode transformar relações pessoais que tenham sido quebradas e já não têm cura. É a mensagem central do evangelho. A reconciliação acaba com relações pessoais quebradas.

É importante examinarmos cuidadosamente o que a Bíblia diz sobre a reconciliação. Vamos examinar alguns princípios bíblicos, a fim de nos ajudar a pensar sobre os motivos pelos quais os cristãos deveriam se envolver no incentivo à reconciliação. Estes princípios também podem ser compartilhados com os cristãos afetados pelo conflito, de forma que eles possam ser piedosos em suas atitudes e ações durante ou após o conflito.

Primeiro aspecto: Reconciliação com Deus

Nosso modelo para a reconciliação é a reconciliação com Deus através de Jesus Cristo.O primeiro capítulo do Gênesis fala sobre a criação de Deus. Deus criou os céus e a terra. Deus viu que o que estava criando era “bom”. Ele, então, criou o homem e a mulher e os declarou “muito bons”. Adão e Eva viviam na terra de Deus sob a benção de Deus. As pessoas tinham shalom (paz) com Deus, umas com as outras e com o meio ambiente. Entretanto, em Gênesis 3, nos é dito que a criação de Deus foi danificada pelo pecado. O shalom do jardim do Éden foi destruído. As relações das pessoas com Deus foram rompidas. Isto resultou no rompimento das relações entre as pessoas e entre as pessoas e o meio ambiente.


O resto da Bíblia é um relato do plano de Deus para restaurar Sua criação – trazer sua criação de volta para a relação certa com Ele. Isaías cap. 9 profetiza a vinda de Jesus. O versículo 6 descreve-o como o “Príncipe da Paz”. No Novo Testamento a paz vem através da morte de Jesus na cruz.


Colossenses 1:19-20 diz : “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele em Cristo] habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”.

Segundo aspecto: Reconciliação com os outros

Os cristãos devem comprometer-se com a reconciliação das pessoas com Deus. Paulo diz que Deus nos deu a todos o ministério da reconciliação. Ele nos chama de “embaixadores de Cristo” para compartilharmos a mensagem de reconciliação com os outros.

Este é o nosso chamado para testemunharmos para os que ainda não estão reconciliados com Deus através da cruz.

2 Coríntios 5:18-20 diz: “Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação; pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois rogamos que vos reconcilieis com Deus”.

Relacionamentos: nossa identidade e o desafio da unidade

As pessoas com quem nos relacionamos melhor geralmente são as com quem temos algo em comum. Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem, mas não nos fez a todos únicos. Não existem duas pessoas completamente iguais no mundo. Todos possuímos uma identidade diferente. Isto se deve, em parte, às características herdadas, tais como nossa etnia. Ela também pode ser moldada pelas pessoas com quem convivemos ou por onde trabalhamos. Achamos mais fácil nos relacionarmos com pessoas do mesmo grupo étnico, familiar, lingüístico, etário ou do mesmo sexo, ou com pessoas que possuem interesses semelhantes. Deus gosta da idéia de grupos, tais como a família e os grupos étnicos. O desejo de pertencer a um grupo faz parte da natureza humana, criada por Deus, mas não é fácil o convívio em grupo.

Amar o próximo

Muitas vezes, na Bíblia, somos chamados a amar nosso próximo. Jesus nos ensina através desta parábola que o nosso próximo não é apenas a pessoa ao lado ou mesmo alguém do mesmo país.


A parábola do Bom Samaritano explica o mandamento “amarás o teu próximo”. (Lucas 10:25-37). A mensagem importante que Jesus está transmitindo é que nos devemos amar uns aos outros sem nos limitarmos pelas fronteiras culturais e sociais. (Sacerdote – Levita – Samaritano) Entretanto, um sacerdote e um levita, que eram ambos membros da elite religiosa de Israel na época, passaram pelo homem ferido. Na época de Jesus, os samaritanos eram desprezados pelos judeus. Entretanto, nesta parábola, é um samaritano viajante quem vê o homem ferido e sente compaixão por ele.

Amar os inimigos


Muitas vezes, é difícil mostrar compaixão para com as pessoas que não conhecemos ou com quem achamos difícil nos relacionar. É ainda mais difícil, quando somos odiados ou ameaçados pelas pessoas que poderíamos ajudar devido à nossa situação. O ensinamento bíblico sobre a questão de como abordar nossos inimigos é bastante clara.

Em Mateus 5:43-48, Jesus pede a seus ouvintes que amem seus inimigos. Ele usa o exemplo de Deus, que faz com que o sol se levante e a chuva desça igualmente sobre justos e injustos. Ele está falando do amor incondicional. A maior mostra de amor incondicional é a graça de Deus através de Jesus Cristo. Ele nos ama apesar do nosso pecado. É muito fácil amar e estar com aqueles que nos amam. Embora nunca venhamos a ser perfeitos nesta terra, devemos procurar seguir o exemplo de Deus, mostrando graça para com nossos inimigos.

Bem-aventurados os pacificadores (Atos 15.1-4; 36-41)

Em Mateus 5:9, Jesus diz a seus discípulos: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus". A pacificação é um aspecto essencial do caráter cristão. Observe a palavra “pacificadores”. É necessário fazer as pazes; isto não é algo que simplesmente acontece. É interessante que nossa natureza pecadora nos torna perturbador da paz. Isto é visto no mundo de hoje tanto quanto na época de Jesus.

Por causa do pecado, as pessoas perturbam a paz com demasiada facilidade. Isto pode ocorrer através de guerras em grande escala, conflitos destrutivos entre indivíduos e, infelizmente, conflitos entre as igrejas. Significa também que o conflito nas igrejas seja resolvido. Há muitas passagens no Novo Testamento que lidam com a questão do conflito nas igrejas. Este problema existiu no início da igreja assim como ainda existe hoje em dia.

Perdoar uns aos outros

O perdão é um elemento importante da reconciliação. Para a vítima, o perdão significa “desprender-se” do ressentimento resultante da dor que lhe foi causada. Isto consiste em encontrar alívio em Cristo, como aquele que suporta a nossa dor. Na Bíblia, muitas vezes, somos chamados a perdoarmos uns aos outros (por exemplo: Mateus 6:15, Mateus 18:21-22 e Colossenses 3:13). Philip Yancey, em seu livro - O que é tão surpreendente sobre a graça? mostra como o perdão é necessário para romper a cadeia da falta de graça que existe no mundo.

A falta de graça é um estado humano natural, enquanto que o perdão é um ato desnatural. Assim como a graça, não há nada de justo sobre o perdão. Perdoar é uma coisa muito difícil de se fazer. Yancey explica:

Por que devemos perdoar? A graça e o perdão fazem parte do caráter de Deus, e somos chamados a sermos como Deus. Uma das frases da oração do Pai Nosso é: “Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido". Jesus pede que perdoemos neste mundo onde há falta de graça . Ao não perdoarmos uns aos outros, estamos, na verdade, sugerindo que as outras pessoas não sejam dignas do perdão de Deus. O perdão rompe o círculo de dor e culpa. Ao desprender-se do ressentimento, a pessoa que perdoa cicatriza suas feridas. Há também a possibilidade de que o transgressor possa se transformar.


Como vemos que somos capazes de perdoar? Nossa experiência de sermos perdoados por Deus ajuda-nos a achar cada vez mais fácil perdoar os outros. O perdão é um ato desnatural. Portanto, precisamos da força e da graça de Deus para sermos capazes de perdoar os outros. Onde a justiça se enquadra neste princípio de perdão? Romanos 12:17-21 ajuda-nos a compreender isto. Depois de ler essa passagem, Yancey deu-se conta de que “Ao perdoar o outro, estou confiando no fato de que Deus sabe melhor do que eu como fazer justiça. Ao perdoar, largo mão do meu próprio direito de vingança e deixo todas as questões de justiça para que Deus as resolva”

Por:- aureaguiar.blogspot.com