21 de fevereiro de 2013

O LEGADO DE ELIAS


O LEGADO DE ELIAS – Ev. José Costa Junior


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O assunto desta lição diz respeito ao legado deixado por Elias. A vida de­les estava repleta de adversidade, Jezabel constantemente tentava matá-lo. No entanto, cons­tatamos que, ao invés de detê-los, a adversidade o tornou mais forte. Ele foi instruí­do para se esconder no córrego Querite. Lá ele podia beber do riacho, e Deus ordenaria aos corvos para lhe trazerem comida. Noite após de noite, quando ele se deitava, po­dia ouvir a água que corre no riacho. Deve ter sido um som tranqüilizador ouvir a água. Porém, notou que cada noite que se deitava o som se tornava menor. Finalmen­te lemos que o riacho secou. Onde estava Elias? Continuava esperando em Deus. Deus não lhe dera ordens para partir. Se estivéssemos nos sapatos ou nas san­dálias de Elias, a maioria de nós provavelmente estaria cavando seu próprio poço. Não Elias. Ele depositou sua esperança em Deus.

Depois que o riacho secou, Deus lhe disse que fos­se até uma mulher viúva em Sarepta. Sarepta ficava na terra de onde viera Jezabel. Deus o estava enviando ao quintal de Jezabel. A mulher estava procurando esse ho­mem no mundo inteiro, e Deus o envia ao quintal dela. Que teste! Mas Elias vai. Era um homem de compromisso.

            Pessoas determinadas são pessoas de mente sin­gela. Pessoas com determinação são como o apóstolo Paulo, que disse: "Uma coisa eu faço." São gente com um objetivo, e esse alvo é a "glória de Deus": "É claro, irmãs e irmãos, que eu não penso que já consegui isso. Porém uma coisa eu faço: Esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha frente. Corro di­reto para a linha de chegada, a fim de conseguir o prê­mio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus, Todos nós que somos espiritualmente maduros devemos ter essa maneira de pensar. Porém, se alguns de vocês pensam de maneira diferente, Deus vai tornar as coisas claras para vocês. Portanto, vamos em frente, na mesma dire­ção que temos seguido até agora" (Fp 3.13-16).

O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão sobre o legado deixado por Elias. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.

O LONGO PERCURSO DE ELIAS

Mesmo um Elias, capaz de declarar tão fortemente que era um homem que permanecia diante do Senhor, estava em um dado momento tão desanimado e desencorajado, tão chocado pelos estranhos tratamentos de Deus com ele, que foi encontrado prostrado sob o zimbro.
Elias foi despertado abruptamente e avisado de que Jezabel estava a postos para tirar-lhe a vida. A esta altura seu cansaço, fome e tristeza se transformaram em temor. Apesar da vigorosa fé que o havia sustido nas horas anteriores do dia, Elias agora deu lugar a cego pânico e se dispôs a salvar-se a si mesmo. Fugiu para o deserto, abandonando seu posto do dever, tentando escapar das ameaças de Jezabel. Estava tão desanimado que acabou pedindo a morte, pensando ser o único que havia ficado em Israel fiel a Deus.

 Ele que tinha permanecido tão firme por tanto tempo, agora tinha caído. E por quê? Principalmente porque ele olhou ao seu redor para o resto do povo que estava todo caído em incredulidade e medo. Ninguém havia que se juntasse a ele em seu auxílio. Ele parece ter dado vez à autopiedade, pois reclamou ao Senhor: “Eu, tão somente eu, fui deixado” (IRe 19:10). Isto não era de fato verdade. Raramente é verdade que os servos de Deus estão tão sozinhos como lhes parece. Mas mesmo que tivesse sido verdade, esta não era razão para que Elias caísse com o resto deles. E não há razão pela qual devamos permitir que nossas dificuldades e aparente falta de apoio dos outros nos levem a cair. Sua casa é feita daqueles que sabem como permanecer em pé – se necessário, permanecer só.

Que contraste entre o temeroso e fugitivo Elias e o Elias do cume do monte Carmelo que bradou às multidões: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O." I Reis 18:21. “...era homem sujeito às mesmas paixões que nós. (Tg 5.17.)

Graças a Deus por isso! Ele deitou-se em baixo de um zimbro, como você e eu já fizemos tantas vezes; queixou-se e murmurou, como nós também fazemos tantas vezes; foi incrédulo, como tantas vezes temos sido. Mas, quando realmente tocou a Deus, não foi isso que aconteceu. Embora "homem sujeito às mesmas paixões que nós", "ele orou em oração". É interessante observar que o original não diz "fervorosamente", mas "ele orou em oração". Ele continuou orando. Qual a lição aqui? Precisamos continuar orando. Você sabe como orar dessa maneira, como orar em oração? Traga a vista as desanimadoras notícias que trouxer, não lhes dê atenção. O Deus vivo ainda está nos céus, e mesmo a demora é parte da Sua bondade. Descobrimos nesta passagem bíblica que Deus usa a adversidade para construir em nós o cará­ter que ele quer.
Deus ordenou a Elias que escolhesse Eliseu como seu ajudante e para que levasse a termo o ministério depois que partisse. Eliseu não foi encontrado na escola de profetas, estudando e meditando, mas trabalhando na lavoura (1 Rs 19.15, 16, 19).
           
ELIAS NA CASA DE ELISEU

            Elias, ao aproximar-se de Eliseu, não suplicou que este o acompanhasse, nem usou de sua autoridade profética forçando-o a entrar no ministério. Toda pessoa precisa calcular o preço e entrar no treinamento do discipulado voluntariamente. Percebe-se, pelo diálogo entre eles, que Elias não ligava se Eliseu quisesse continuar a arar a terra. Já que seria seu colaborador, Eliseu deveria aprender de forma voluntária (1 Rs 19.19-21).
Eliseu pagou um alto preço para seguir a Elias. Com a perversa rainha Jezabel aterrorizando o reino de Israel, não era uma época favorável para alguém se dispor a ser profeta de Deus ou associar-se a um deles. Se fosse consultar carne e sangue, Eliseu seria aconselhado a permanecer atrás do arado, cuidando da lavoura, o que afinal era mais seguro e lucrativo.

Eliseu, entretanto, estava ciente da tremenda riqueza espiritual a seu dispor, se gastasse tempo com o profeta de Deus. Assim, depois de quebrar o arado e matar os bois, seu ganha-pão — numa demonstração de entrega total —, seguiu a Elias (1 Rs 19.21). Para fazer o que? Servi-lo. Os que lideram, primeiro devem aprender a servir. Também é verdade que quando treinamos indivíduos temos de nos conscientizar de que devemos gastar horas com eles, conversando e associando-nos às atividades normais de seu dia-a-dia.

Ao estudarmos a forma associativa desses dois homens, descobrimos que Elias numa exigiu que Eliseu continuasse ao seu lado, Ao contrário, em três ocasiões, pediu que Eliseu reavaliasse seu relacionamento com ele e o deixasse, se assim o desejasse. Eliseu soube escolher. Tanto em Gilgal quanto em Betel e Jericó, Eliseu teve a oportunidade de desistir, mas decidiu permanecer ao lado de Elias (2 Rs 2.1-6).

Permanecer ao lado de Elias foi uma decisão irreversível. Ele calculara o preço e decidira que aquele era seu ministério. Portanto, ao escolher alguns homens e associar-se a eles no ministério, você deve deixá-los livres para que ouçam a Deus em várias questões; deve saber dimensionar o envolvimento que terá com eles e conscientizar-se de que os encontros entre vocês não deverão servir para seu benefício pessoal, mas sim para o deles.

ELIAS E O DISCIPULADO DE ELISEU
           
Elias defrontou-se de novo com Acabe, condenando-o e a Jezabel por assassinarem seu vizinho Nabote a fim de lhe tomarem a vinha. O rei enviou duas companhias de soldados para capturar o profeta, mas Elias invocou fogo do céu a fim de destruí-los. Uma vez mais ele declarou o destino do rei.

Logo depois disso, Elias e Eliseu saíram para um passeio, analisando os problemas que a nação enfrentava. Chegados ao Jordão, Elias dividiu as águas ferindo-as com o seu manto. Atravessaram com toda a calma, como se fora um prática cotidiana! Enquanto conversavam à margem do rio, um carro de fogo desceu do céu e arrebatou a Elias num redemoinho, e seu manto caiu sobre Eliseu.

Nada de errado existe em depender de Elias enquanto for Deus a deixá-lo consigo, mas lembre-se de que chegará a hora quando ele terá que partir, para deixar de ser seu guia e líder, porque Deus não quer mais que seja assim. Você dirá: "Não posso prosseguir sem Elias". E Deus lhe dirá que terá que fazê-lo mesmo assim.

Sozinho e abandonado nas margens do seu Jordão, v.14. O Jordão é símbolo de uma separação na qual não há comunhão com mais ninguém e onde não há mais ninguém que possa assumir essa responsabilidade por nós. 

Agora você tem que pôr à prova aquilo que aprendeu quando ainda estava com o seu Elias. Você já esteve junto do Jordão muitas vezes, mas com Elias; só que agora está ali sozinho. Não adianta dizer que não pode prosseguir; a hora da experiência chegou e você tem que seguir adiante. Se quiser uma prova de que Deus é o Deus que você crê que seja, então atravesse esse seu Jordão a sós desta vez.

Sozinho na sua Jericó v.15. Jericó é o lugar onde você viu o seu Elias fazer grandes coisas anteriormente. Mas assim que chega a Jericó, sente uma forte aversão em tomar a iniciativa por si próprio para confiar em Deus; quer que alguém o faça consigo. Se permanecer fiel ao que aprendeu com Elias, receberá o sinal de que Deus está deveras consigo também.

Sozinho na sua Betel v.23. Na sua Betel você vai descobrir que sua sabedoria chegou ao seu fim e irá achar ali a sabedoria de Deus. Quando você se vir sem saber o que fazer e estiver em vias de sucumbir e se entregar ao pânico, controle-se; permaneça fiel a Deus e ele manifestará a sua verdade de forma a tornar a sua própria vida uma bênção também. Ponha em prática o que aprendeu com o seu Elias, tome o manto dele e ore ardentemente. Decida-se a confiar em Deus e não mais porque Elias o fez.

O LEGADO DE ELIAS
           
            Venha ao cume do Carmelo e veja aquela admirável lição de fé e vista. O necessário agora não era a descida de fogo, mas de água; e o homem que pode ordenar a vinda de um, pode ordenar a vinda de outro, pelos mesmos meios e métodos. Lemos que ele se prostrou com o rosto entre os joelhos; isto é, fechou-se de tudo o que entrasse pela vista ou pelos ouvidos. Colocou-se numa posição em que, sob seu manto, não podia ver nem ouvir o que se passava em volta.
            E disse ao servo: "Sobe, e olha." O servo foi, voltou e disse: "Não há nada."
            Dizemos: "É exatamente como eu pensei!" e desistimos de orar. Foi o que Elias fez? Não, ele disse: "Volta." O servo voltou e veio outra vez, dizendo: "Nada!" "Volta." "Nada!"

            Mas uma vez ele voltou, dizendo: "Eis aqui uma pequena nuvem, como a mão de um homem". A mão de um homem estivera erguida numa súplica, e em breve caiu a chuva; e Acabe não teve tempo de voltar até à porta de Samaria com todos os seus rápidos cavalos. Eis uma lição de fé e vista — a fé, fechando-se a sós com Deus; a vista, observando e nada vendo, a fé, prosseguindo, e "orando em oração", ainda com as desesperançosas notícias da vista.

            Logo após isso nós vemos Elias em Querite, as margens de um pequeno rio. As semanas iam-se passando, e Elias com espírito alevantado e firme, ia observando aquela torrente diminuir; muitas vezes, por certo, foi tentado a vacilar por incredulidade, mas recusou-se a deixar que as circunstâncias se interpusessem entre ele e Deus. De fato, a incredulidade vê Deus através das circunstâncias, como nós às vezes vemos o sol despido de seus raios, através do ar esfumaçado; mas a fé põe Deus no meio, entre si e as circunstâncias, e olha para estas através dEle.

            Então, a torrente diminuiu até se tornar em um fio prateado; e o fio, em pequenas poças de água acumulada junto às pedras maiores. Depois, as poças também diminuíram. Os pássaros sumiram; os animais selvagens do campo e da floresta não vinham mais beber ali: a torrente estava seca. Só então foi que, ao seu espírito paciente e firme, "veio a palavra do Senhor, dizendo: Dispõe-te, e vai a Sarepta".

            Muitos de nós teríamos ficado preocupados e nos cansaríamos de fazer planos, já bem antes de o fato consumar-se. Teríamos parado de cantar, assim que diminuísse a música da torrente no seu leito; e dependurando a harpa no salgueiro, passaríamos a andar pensativos, de um lado para outro, sobre a relva seca. E provavelmente, muito antes de a torrente estar seca, já teríamos elaborado um plano de salvamento, pedido a bênção de Deus sobre ele, e partido para outro lugar.

            Às vezes, Deus tem que nos desembaraçar de certas situações; e Ele o faz, porque a Sua misericórdia dura para sempre; mas se tivéssemos esperado para ver o desenrolar dos Seus planos, não nos teríamos encontrado no meio de tão emaranhado labirinto; e não precisaríamos ter que voltar atrás com lágrimas de vergonha. Espere, espere pacientemente!
           
CONCLUSÃO

Também o preparo da nossa fé será incompleto se não entendermos que há uma providência na perda, um ministério na falha e enfraqueci­mento das coisas, uma dádiva no vazio. As inseguranças materiais da vida contribuem para a sua firmeza espiritual. A tênue corrente­za junto à qual Elias estava assentado e meditando, é uma figura da vida de cada um de nós. "E sucedeu que... o ribeiro se secou" — eis a história do nosso ontem e a profecia dos nossos amanhãs.
            De uma forma ou de outra, teremos que aprender a diferença entre confiar no dom e confiar no Doador. O dom pode ser bom por um tempo, mas o Doador é o Amor Eterno.

            Querite representava um sério problema para Elias, até que chegou a Sarepta. Então tudo ficou claro como o dia. As palavras duras de Deus nunca são Suas últimas palavras. Os ais, as perdas e as lágrimas da vida fazem parte do interlúdio, não do fim.

Se Elias tivesse sido levado diretamente a Sarepta, teria perdido uma experiência que ajudou a fazer dele um profeta mais sábio e um homem melhor. Junto a Querite ele viveu pela fé. E quando em nossa vida se secar algum ribeiro de recursos terrenos, aprendamos que a nossa esperança e socorro estão no Deus que fez o céu e a terra.

Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão maravilhoso tema e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS. 

EV.  JOSÉ COSTA JUNIOR







12 de fevereiro de 2013

A VINHA DE NABOTE


A VINHA DE NABOTE

TEXTO ÁUREO = “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifarã” (GI 67)

VERDADE PRÁTICA = A trama orquestrada pela rainha Jezabel e o rei Acabe contra Nabote demonstra quão danoso é render-se aos desejos da cobiça e de uma satisfação pessoal.

LEITURA BIBLICA = I Reis 21: 1-5; 15,16

INTRODUÇÃO

A história do rei Acabe é a evolução de uma sequência de erros: Primeiramente ele trocou o Deus verdadeiro por um falso. Isso ele fez quando tentou erradicar o culto ao Senhor e implantar a adoração cananeia no deus Baal.

Em segundo lugar, ele tentou substituir os profetas do Senhor pelos profetas de Baal. Para que seu intento fosse alcançado, promoveu o extermínio dos profetas verdadeiros e pôs em seus lugares os profetas de Baal e de Aserá.

Em terceiro lugar, ele tenta transformar uma vinha em uma horta. O problema residia no fato de que a vinha não era dele, mas de um dos seus súditos que como legítimo proprietário possuía seu direito de posse. Em conluio com sua esposa, a famigerada Jezabel, esse rei fraco e sem personalidade arquiteta uma das mais sórdidas tramas registradas nas páginas Sagradas — a morte do inocente Nabote. E exatamente nesse último episódio que Acabe recebe a visita do profeta Elias, que ao contemplá-lo anuncia um duro julgamento sobre ele (1 Rs 21.1-29).

O episódio envolvendo o rei Acabe e a vinha de Nabote é um dos mais tristes do registro bíblico. Uma grande injustiça é cometida contra um homem inocente. Triste porque vemos até onde pode chegar um coração cobiçoso. Por outro lado, esse fato é um dos que melhor revela a manifestação da justiça divina ante as injustiças dos homens. Acabe matou Nabote e apropriou-se de suas terras, todavia não pôde participar do fruto de seu pecado porque o Senhor, através do profeta Elias, o denunciou e o disciplinou.

Infelizmente a injustiça está presente em todas as culturas e povos,me se manifesta das mais variadas formas, como essa narrada na poesia de
Patativa do Assaré:


Seu moço, me escute uma triste verdade,

Que até dá vontade
Da gente chorar;
Escute quem foi que azarou a minha vida,
Nas terras querida
Do meu Ceará.

Eu era rendeiro do J. Veloso,
Um rico invejoso,
Malvado sem par,
Senhor de dinheiro e de léguas de terras,
De baixa e de serra,
Disponível para arrendar.

Eu, vendo as terras daquele ricaço,
Um certo pedaço
Com gosto arrendei,
Pois vi que o terreno para tudo convinha,
A terra só tinha
Madeira de lei.

Joguei-me deveras na serra fechada,
De foice Conrad,
Machado Collins
Jucá revirava, pau d’arco caía,
E a cobra fugia
Com medo de mim.

Depois de algum tempo, no dito baixio,
De carga de milho
Quebrei mais de cem.
Havia de tudo, melão, macaxeira,
E muita fruteira
Vingando também
De tudo o tributo correto eu pagava,
E sempre me achava
De bom a melhor.
Vivia contente, gostando da vida,
Com minha querida
Maria Loló.

Então, seu moço, fugiu a penúria,
Chegou a fartura
Me enchendo de fé;
Mas veio depois uma inveja danada,
A filha gerada
Do monstro Lusbel.
O J. Veloso, me vendo arranjado,
Ficou afobado,
Pegou a invejar,
Falando zangado, com raiva e com grito,
Dizendo que o sitio
Me vinha tomar.

Pedi a justiça com muito respeito,
Meu justo direito
Naquela questão,
Porém ao matuto sem letra e grosseiro,
Faltando dinheiro,
Ninguém dá razão.
Deixei minha terra, a querida Mombaça,
Que grande desgraça
Seu moço, eu sofri!

Deixei as belezas da terra adorada,
E triste e sem nada,
Cheguei por aqui.
Por causa de inveja, por esse motivo,
Doente hoje eu vivo
No seu Maranhão.
Sofrendo saudade, tormento e canseira,
Gemendo na esteira
Com febre e sezão.

Me resta somente a feliz sepultura,
E a vida futura
Que Nosso Senhor
Promete a quem sofre e padece inocente;
A vida presente
Para mim acabou.
Eu hoje devia viver sossegado,
No sitio arrendado,
No caro torrão:
Porém ao matuto sem letra e grosseiro,
Faltando o dinheiro,
Ninguém dá razão!”

O direito à propriedade no Antigo Israel

De acordo com o livro de Levítico, a terra pertencia ao Senhor (Lv 25.23). Um israelita da Antiga Aliança estava consciente de que o Senhor havia lhe dado o direito de explorar a terra como uma concessão. Assim sendo, ele não poderia vender aquilo que lhe fora dado como uma herança do Senhor. O livro de Números destaca esse fato: “Assim, a herança dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se hão de vincular cada um à herança da tribo de seus pais” (Nm 36.7,9). Com isso o Senhor queria proteger seu povo da cobiça, além de garantir-lhe o direito de cultivar a terra para sua subsistência.

A herança de Nabote = Acabe queria a vinha de Nabote de qualquer jeito, mas diante de sua insistência, Nabote contra argumentou (1 Rs 21.3). Nabote era obediente ao Senhor e invocou o poder da lei para se proteger. Diante desse fato o rei cobiçoso ficou triste, pois sabia que até mesmo um monarca hebreu precisava se submeter à lei divina (1 Sm 10.25). Mas Jezabel, sua esposa, que viera de um reino pagão, ficou escandalizada com esse fato.

Entre os reinos pagãos os governantes não eram apenas soberanos, eram também tiranos (1 Rs 21.5-7). Dessa forma ela arquitetou um plano para se apossar da vinha de Nabote (1 Rs 21.8-14).

Os comentaristas Jamieson, Fausset e Brown (1994, pp.288,289) destacam que: “Acabe estava desejoso, devido à proximidade do seu palácio, de possuir esta vinha para fazer uma horta. Propôs a Nabote dar-lhe uma melhor em troca, ou obtê-la por compra; mas o dono se negou a se desfazer dela; e ao persistir em sua negativa, Nabote não foi motivado por sentimentos de deslealdade ou por falta de respeito ao rei, senão por uma consideração consciente da lei divina, a qual por razões importantes havia proibido a venda de uma herança paterna; ou se por extrema pobreza ou dívida, fosse inevitável a cessão dela, a transferência era feita sob a condição de que fosse resgatada a qualquer momento; e em todo caso, que seria devolvida a seu dono no ano do jubileu.

Enfim, não poderia ser desanexada da família, e foi por esse motivo (v.3) que Nabote se negou a cumprir a demanda do rei. Não foi, pois, alguma ignorância ou falta de respeito que irou e desgostou a Acabe, senão seu espírito egoísta que não podia tolerar ser frustrado em seu propósito.

A casa de campo de Acabe e sua horta = Como já ficou demonstrado, o livro de 1 Reis destaca que Acabe possuía uma segunda residência em Jezreel (1 Rs 18.45,46). Era uma casa de verão. Já vimos que a vinha de Nabote estava, pois, localizada próxima a residência de Acabe (1 Rs 21.1). Acabe possuía uma casa real, uma casa de campo, mas não estava satisfeito enquanto não possuísse a pequena vinha do seu súdito Nabote.
Há um grande número de pessoas, mesmos sendo ricas, que não se satisfazem com o que tem. Estão sempre querendo mais, todavia não conseguem encontrar satisfação verdadeira nesse processo. Nenhum ser humano conseguirá se satisfazer plenamente se o seu centro de satisfação não estiver em Deus.

Acabe estava dominado pelo desejo de “ter”, de possuir. Somente a casa de verão, que sem dúvida era majestosa, não lhe satisfazia. Queria agora construir ao seu lado uma horta para que seus desejos pudessem ser realizados. Não se importava em quebrar o mandamento divino: “Não cobiçarás” (Êx 20.17). Queria por que queria aquilo que pertencia a outrem (1 Rs 21.1,2). Mais do que qualquer motivação externa, Acabe estava totalmente dominado pelos desejos cobiçosos de seu coração. Acabe, portanto, estava mais preocupado com questões estéticas do que éticas. Ele não estava preocupado como agradar a Deus através de sua administração, mas como desfrutar prazerosamente a vida.

Uma excelente exposição sobre o ato de “desejar”, tanto em seu aspecto positivo como negativo, foi feito pelo reverendo J.A. MacDonald na obra The Pulpit Commentary (2011, pp.520,521).

Em primeiro lugar, MacDonald observa que o simples desejo não se configura como cobiça. Ele destaca que a troca é um dos princípios naturais do comércio, visto que se as pessoas não tivessem vontade de irem além do que já possuem, então não haveria motivos para se fazer negócio algum. Todo comércio está fundamentado sobre o desejo de se fazer intercâmbio.

Em segundo lugar, MacDonald destaca que o comércio pode se configurar como uma fonte de bênçãos. Ele põe em relevo os males que se juntam ao comércio como, por exemplo, quando práticas desonestas se agregam a ele. Mas ele observa oportunamente que essas intrusões ilegítimas devem ser vistas como exceções e não como se fossem a regra.

O fato é que o comércio genuíno coloca os países e povos do mundo inteiro em intercâmbio. Dessa forma, o comércio amplia o nosso conhecimento desses países, seus povos e produtos, o que de outra maneira estimula a ciência. Ele também incentiva a filantropia. Socorro é oferecido para angústias que vem através de: fomes, inundações, incêndios, terremotos, e dessa forma missões religiosas são organizadas.

Em terceiro lugar, observa MacDonald que o desejo ilícito se configura em cobiça. Assim sendo não devemos desejar aquilo que Deus já proibiu. Nesse sentido, Acabe estava errado em querer a vinha de Nabote.

Era herança de seus pais, transmitida na família de Nabote, desde os dias de Josué, e que teria sido ilegal se ele se desfizesse dela. (Lv 25.23; Nm 34.7). Acabe estava errado em tentar fazer Nabote transgredir o mandamento do Senhor. Ele nunca deveria ter incentivado o desejo, uma gratificação que teria uma consequência.

MacDonald conclui chamando a atenção para o estudo sistemático da
Palavra de Deus como uma forma de proteção contra toda prática errada.  Não podemos alegar ignorância quando temos a Bíblia em nossas mãos. Também não podemos transferir agora a nossa responsabilidade para os outros. Fazemos pouco uso de nossas Bíblias? Será que a lemos em oração? Não devemos vender a herança moral que temos recebido do passado.

Falso testemunho, assassinato e apropriação indevida As atitudes de Acabe foram acontecendo como uma reação em cadeia. Ê evidente que um desejo pecaminoso não pode dar frutos bons. O problema agora não era somente de Acabe, mas também da sua famigerada mulher, Jezabel (1 Rs 21.7). Foi ela que arquitetou um plano sórdido para se apossar da propriedade de Nabote. Diz o texto sagrado que ela envolveu várias pessoas nesse intento, incluindo os nobres do reino (1 Rs 21.8). Nobres sem nenhuma nobreza! Escreveu uma carta e selou com o anel de Acabe, portanto, com o seu consentimento, para que Nabote, o Jezreelita, fosse acusado de ter blasfemado contra Deus e contra o rei (1 Rs 21.10). Um falso testemunho. Um simples desejo que evoluiu para a cobiça e transformou-se em falso testemunho.

A trama precisava ser bem feita para não gerar desconfiança, e por isso um jejum deveria ser proclamado, como sinal de lamento por haver Nabote blasfemado contra Deus (1 Rs 21.9). Uma prática religiosa foi usada para dar uma roupagem espiritual ao caso. Como foi planejado, Nabote foi apedrejado e morto injustamente! (1 Rs 21.13). Quantas vezes a Bíblia é usada para justificar práticas pecaminosas! Resolvido o problema, agora o rei poderia se apoderar da vinha de Nabote (1 Rs 21.16). Um abismo chama outro abismo. O pecado havia evoluído da cobiça para um assassinato!

Julgamento divino = Acabe e sua esposa Jezabel estavam convencidos de que ninguém mais sabia dos seus intentos. De fato ninguém dentre o povo soube dos bastidores desse estratagema diabólico, exceto Elias, o Tesbita. Tão logo Acabe se apossou da vinha de Nabote, a Escritura diz: “Falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o S e n h o r : Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança? Dir-lhe-ás mais: Assim diz o S e n h o r : No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo” (1 Rs 21.17-20).

Deus, portanto, envia o seu julgamento como punição contra a desobediência (Lv 26.14-16; 2 Co 7.19,20); desprezo às advertências divinas (2 Cr 36.16; Pv 1.24-31; Jr 44.4-6); murmuração contra Deus (Nm 14.29); idolatria (2 Rs 22.17; Jr 16.18); iniquidade (Is 26.21; Ez 24.13-14); pecados dos líderes (1 Cr 21.2,12).

Arrependimento e morte = Duas atitudes podem ser tomadas diante de uma sentença divina de julgamento: arrepender-se ou rejeitar a correção. No caso de Acabe o texto sagrado destaca que logo após receber a profecia sentenciando a sua morte, ele: “rasgou as suas vestes, cobriu de pano de saco o seu corpo e jejuou; dormia em panos de saco e andava cabisbaixo. Então, veio a palavra do S e n h o r  a Elias, o tesbita, dizendo: Não viste que Acabe se humilha perante mim? Portanto, visto que se humilha perante mim, não trarei este
mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho o trarei sobre a sua casa” (1 Rs 21.27-29). Acabe arrependeu-se, mas mesmo assim não teve como se livrar das consequências de suas ações (1 Rs 22.29-40; 2 Rs 1.1-17). O pecado sempre tem seu alto custo!

Mesmo no caso de Acabe, a graça de Deus superabunda! A graça de
Deus é de fato algo surpreendente! A graça faz com que um julgamento iminente seja adiado! É, contudo, no Novo Testamento que encontramos quão maravilhosa é a graça de Deus.

Vejamos alguns fatos sobre essa graça:

1. A graça é salvadora — “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). A nossa salvação tem origem na graça de Deus; não foi fruto de méritos pessoais! Todos pecaram (Rm 3.23), mas a graça foi estendida a todo pecador. Onde deveria haver o julgamento, a graça trouxe o perdão! Onde deveria haver morte, a graça trouxe a vida. O texto do capítulo 27 de Atos dos Apóstolos ilustra o poder dessa graça. Esse capítulo revela que o apóstolo Paulo, com muitos outros detentos, era conduzido a Roma para ser julgado. No total estavam no navio 276 pessoas. O texto não diz, mas podemos imaginar que havia no meio dos detentos aqueles que haviam sido presos por roubo, homicídios, etc.

Quando o navio ameaçou afundar, os soldados eram de opinião que os presos, inclusive o apóstolo Paulo, deveriam ser mortos!
Todavia Paulo já havia sido revelado que Deus, por sua graça, não permitiria que ninguém daquele navio morresse naquele naufrágio.
Deus poupou a vida não somente da tripulação do navio, mas de todos os demais presos (At 27.22-44)!

2. A graça impede que o passado nos machuque —- ‘Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co 15.9-10). Paulo disse que não merecia ser um apóstolo e, se dependesse do seu passado jamais teria sido. Mas a graça foi muito além disso, ela não levou em conta o seu passado e não permitiu que ele machucasse o apóstolo. Não havia mais passado!

3. A graça nos faz operantes — “Trabalhei mais do que todos eles”
(1 Co 15.10). Sem dúvida, Paulo foi o mais ativo dos apóstolos. Por quê? A resposta está no poder da graça de Deus na vida dele. A graça nos tira de uma vida sem sentido e inoperante para nos dar um sentido para viver. A graça nos fortalece!

4. A graça nos ajuda a conviver com as adversidades — “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.8Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte (2 Co 12.7-10).

A graça de Deus fez com que o apóstolo encontrasse até mesmo no sofrimento razão para se alegrar! Isso soa muito diferente das mensagens pregadas hoje em dia por aqueles que se intitulam “apóstolos”. Esses apóstolos de hoje pregam uma vida abastada e livre de sofrimento. Todavia é um evangelho desprovido da graça de Deus.

5. A graça nos faz vitoriosos — “Graça a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.57). A graça nos faz vitoriosos! O relato da vinha de Nabote revela que o pecado não compensa.

Todas as nossas ações terão consequências, e algumas delas extremamente amargas. Deveríamos medir nossas intenções primeiramente pela Palavra de Deus e somente assim evitaríamos dar vazão aos nossos instintos. Nossas ações glorificariam [a Deus em vez de satisfazer nossos egos. Acabe fracassou porque se esqueceu da Palavra de Deus, preferindo ouvir e seguir a orientação de uma pagã que nada sabia sobre a Lei do Senhor.

Quando alguém quebra a Palavra de Deus, na verdade é ele quem está se quebrando! O texto nos mostra que o nosso Deus é em primeiro lugar onisciente. Acabe fez suas ações sem o conhecimento do povo, mas não de Deus. Ele inspeciona todas as ações dos homens.

Ele é um Deus que perscruta todas as nossas motivações. Isso nos leva à conclusão que nada está oculto aos seus olhos. Por outro lado, o relato nos mostra que o Senhor é grande juiz. Ele faz com que experimentemos o amargor de nossas ações quando elas estão erradas. Essa passagem também demonstra que todo julgamento atende ao propósito de Deus.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

BIBLIOGRAFIA

1 -A obra The Pulpit Commentary, relaciona os sete pecados de Acabe: 1 O pecado da divisão — mantendo a adoração falsa em Dã e Betei; 2. O pecado de seu casamento — uma clara violação da lei (Dt 7.1-3); 3. O pecado da idolatria — ele cometeu abominação seguindo os ídolos; 4. O pecado da impureza — ele seguiu a impureza da adoração Cananeia; 5. O pecado de perseguir os profetas — ele também concordou com as ações de sua esposa; 6. O pecado de se relacionar com o perseguidor do povo de Deus — quando poupou Bem-Hadade, rei da Síria; 7. O pecado de assassinar Nabote e seus filhos (vol. 5, Kings, pp.517,518).

2 - Todas as poesias de Patativa do Assará foram compiladas na íntegra no livro: Cante Lá que eu Canto Cá—filosofia de um trovador nordestino. Nessa excepcional obra a editora Vozes optou por manter a fonética do trovador.

3 - JAMIESON, Roberto, FAUSSET, A.R, BROWN, David. Comentário
Exegetico Y Explicativo de La Biblia - tomo I: El Antiguo Testamento. Casa Bautista de Publicaciones. El Paso, Texas, USA.

4 - “Kimchi informa-nos que era costumeiro às pessoas mais ricas ocupar-se de pequenos projetos agrícolas, próximo de suas casa, a fim de embelezá-las, além de dar-lhes um suprimento de verduras frescas. Acabe ofereceu uma vinha melhor, ou dinheiro, se Nabote assim preferisse: mas esse homem não queria fazer nenhum tipo de negócio. Isso lhe custaria a própria vida. A oferta de Acabe, pois, foi “cortês e liberal (ellicott, in loc). Mas era contrária à herança dos hebreus.” (CHAMPLIN, Russel N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, CPAD).

5 - MACDONALD, J.A. in The Pulpit Commentary, vol V, Kings. Hendrickson, USA. Tradução e adaptação do autor.
6 - (berakta) é literalmente “tem abençoado.” Porque era considerado blasfêmia mencionar uma maldição contra Deus (cf. Jó 1.5; 2.5, 9; SI 10.3), os judeus empregavam um eufemismo para mencionar essa prática. A NVI coloca a mensagem no discurso indireto e dá o sentido pretendido: “amaldiçoado” (The Expositors Bible Commentary - 1 & 2 Kings, 1 & 2 Chronicles, Ezra, Nehemiah, Esther,Job. Vol. 4. Zondervan, 1988.
7-  Enciclopédia Temática da Bíblia. São Paulo: Shedd Publicações.

8 - Livro Porção Dobrada - Casa Publicadora das Assembleias de Deus - José Gonçalves – 2012