9 de julho de 2013

ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE

ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE

TEXTO AUREO =  “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filp                 1 .21).

VERDADE PRÁTICA = Nenhuma adversidade poderá reter, a graça e à poder do Evangelho.

LEITURA BIBLICA = FILIPENSES 1: 12-21

INTRODUÇÃO

Todas as ocasiões em que Deus derramou do Seu Espírito, a igreja experimentou uma profunda paixão por Deus e pelas almas perdidas; o avivamento sempre deságua em evangelização; sempre se transforma em uma cachoeira demissões transculturais. No avivamento, a igreja entende que a tarefa da evangelização é uma tarefa sua e não de anjos.Quando o Espírito Santo é derramado, a visão de Deus passa a ser a visão da igreja e o mundo passa a ser a sua paróquia; no avivamento, os que são alcançados e trazidos aos celeiros, logo são enviados e levados aos campos.

O VALOR DA ADVERSIDADE, 1.12-18

Paulo expressou seu louvor a Deus pela participação dos crentes filipenses no progresso do evangelho, e fez uma petição por eles. Agora ele procura dissolver as inquietações que sentiam relativas a ele, obviamente em resposta às investigações que fizeram. E quero, irmãos, que saibais (12). Eles desejam saber as perspectivas do apóstolo (12), a possibilidade de visitá-los (25), o estado de saúde de Epafrodito (2.26) e quando ele pode lhes enviar ajuda (4.10ss.). Eles sofreram com ele por causa do evangelho numa participação comum na adversidade (1.7,28,30), e estão ansiosos em ter informações de suas condições pessoais e da situação do evangelho em Roma. Ele os assegura que Deus está tirando o bem do mal, está glorificando a si mesmo e está revertendo os acontecimentos a favor dos servos que o amam.

1. O Progresso do Evangelho (1.12,13)

As coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho (12). O compromisso de Paulo é tão completo, que ele não consegue dizer como ele está sem dizer como está o evangelho. Lucas nos conta algo da situação que Paulo vivia. O apóstolo era constantemente vigiado, mas tinha permissão para morar em casa alugada, receber visitas e lhes anunciar as boas novas do Reino de Deus (At 28.16,30,31). Seu aprisionamento não restringiu o evangelho; pelo contrário, maior (mailon) se tornou a ocasião para o seu avanço.

O uso do termo grego mailon dá a entender que os crentes filipenses esperavam notícias ruins. Na opinião de certos expositores, o termo evidencia mudança nas circunstâncias de Paulo, particularmente quando analisado à luz da referência à sua “defesa” (apologia, ).
A sugestão é que Paulo tivesse sido transferido de sua residência provisória (At 28.30) para a prisão, onde os indivíduos sob julgamento ficavam presos. Por essa razão, os filipenses esperariam que esta custódia mais rígida significasse mais sofrimentos.

Mas o apóstolo acaba com a suposição. A palavra grega prokopen (proveito; “progresso”, BJ, NTLH, NVI, RA; “avanço”, AEC), que também ocorre no versículo 25, era usada para descrever sapadores que abriam fossos, trincheiras e galerias subterrâneas em preparação à chegada de um exército ou outro grupo bélico. E derivada do verbo prokoptein, que significa “cortar árvores e vegetação rasteira”. Em vez de impedir o “progresso” do evangelho, a prisão de Paulo serviu para tirar obstáculos e aumentar a propagação das boas novas (cf. 1 Tm 4.15). Este é o desejo supremo de Paulo, pouco importando o que lhe aconteça pessoalmente.

De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana (13). Melhor tradução: “As minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas” (AEC, RA). Em Cristo quer dizer “por causa de Cristo” (NVI). O termo grego praitorio é interpretado de quatro modos importantes: a) A guarda pretoriana, significando os soldados; b) o palácio do imperador; c) os quartéis da guarda pretoriana; d) as autoridades judiciais ou as pessoas que ouvem os casos dos prisioneiros. A última opção, caso aceita, se ajustaria com a referência à “defesa” no versículo 7, sendo possibilidade aceitável.  Lightfoot demonstrou imparcial e categoricamente que praitorio não pode ser aplicado ao palácio, nem aos quartéis os soldados ou ao acampamento pretoriano. Refere-se a um grupo de homens, uma guarda ou companhia de soldados. Embora não excluamos a interpretação que diz se tratar de autoridades judiciais, a idéia de uma companhia de soldados afigura-se melhor. Augusto tinha dez mil desses homens. Esta interpretação se harmoniza com a declaração lucana de Paulo ter morado durante certo tempo em casa alugada.

Em Efésios 6.20, carta escrita na mesma prisão pouco antes de Filipenses, Paulo fala de ser “embaixador em cadeias” (halusei; cf. At 28.20). A alusão é à corrente que prendia guarda e prisioneiro. A cada mudança de guarda Paulo tinha nova oportunidade de testemunhar de Cristo. Na prisão de dois anos grande número de guardas teria ouvido o evangelho de Paulo. Ele havia testemunhado na prisão filipense (At 16.25-32); e agora ainda testemunhava (4.22). Além deste testemunho pessoal, é possível que Paulo já tivesse defendido oficialmente a si mesmo e ao evangelho (7).

“A palavra de Deus não está presa” (2 Tm 2.9), de forma que ele pode dizer que o evangelho é apresentado por toda a guarda pretoriana e por todos os demais lugares (13). A tradução todos os demais lugares é obviamente inexata. Leitura melhor é: “todos os demais” (AEC, NVI, RA; cf. CH, NTLH).

Esta frase confirma a dedução de que Paulo não se refere a um palácio, mas a um grupo de pessoas; provavelmente aos que o visitavam e a outros a quem subseqüentemente contaria a Palavra do Senhor. Sua prisão proporcionou nova oportunidade para testemunhar de Cristo.

2. O Incentivo dos Romanos (1.14)

E muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor (14). Muitos (pleionas) dos irmãos indica que alguns não se abalaram com o fato de Paulo estar preso. A expressão no Senhor é mais bem compreendida se não for considerada junto com irmãos, mas com tomando ânimo. Esta tradução é mais precisa: “Os irmãos, em sua maioria, motivados no Senhor pela minha prisão” (NVI; cf. BAB, BJ, CH, NTLH, RA). Muitos dos irmãos romanos ficaram “mais [extraordinariamente] ousados para” (BAB) falar a palavra.

Os melhores manuscritos têm “palavra de Deus” (CII, RA) ou “Palavra do Senhor”. O verbo grego latem (falar) denota o fato de falar e não o conteúdo do discurso.6 Ou seja, a tendência ao silêncio foi de fato vencida. Não que eles não estivessem falando, mas que ganharam nova e maior ousadia para proclamar a Palavra de Deus sem medo. A vitória sobre o medo não se baseava na probabilidade da libertação de Paulo, pois esta de maneira nenhuma era certa. Os fatores determinantes dessa vitória foram o espírito triunfante de Paulo e seu sucesso evidente em testemunhar. Foi sua coragem que deu novo alento aos crentes romanos tímidos que, possivelmente por perseguição, tinham desanimado.

3. A Proclamação de Cristo (1.15-18)

Entre os que ficaram mais corajosos em declarar a Palavra do Senhor, há alguns que pregam a Cristo por inveja e porfia (15). Eles pregam por espírito de erin, porfia, “rivalidade” (NVI), “divisão” (OH) ou “partidarismo”. Seu objetivo, diferente do apóstolo, não é exaltar primariamente a Cristo, mas promover interesses próprios. Paulo diz que eles anunciam a Cristo por contenção (eritheias, 17); melhor, “por facção”, “por discórdia” (RA). Originalmente, a palavra significava trabalhar por pagamento. Com a passagem do tempo, veio a descrever a pessoa de acentuadas ambições profissionais, alguém que se exalta ou se promove para cargo público. Estes são auto promotores e interesseiros.7 Não puramente (17) é tradução literal (ou “não castamente”). Eles não falam toda a verdade, mas só a que serve para seus propósitos. Seus motivos são misturados, corrompidos com egoísmo (cf. Tg 3.14). Na verdade, estes não estão pregando no sentido exato do termo. E por isso que Paulo usa o verbo grego katangellousin (“anunciar”), palavra diferente da normalmente usada para referir-se à pregação. Eles estão tornando conhecido os fatos do evangelho, talvez a vida, morte e ressurreição de Jesus, mas o fazem por ciúme ou outros motivos indignos. São ortodoxos, mas não têm coração.

Julgando acrescentar aflição às minhas prisões (17). Eles acham que estão, literalmente, “levantando atrito” para Paulo. Esforçam-se em tornar a prisão do apóstolo uma experiência irritante, possivelmente suscitando inimigos contra ele, dessa forma pondo sua vida em maior perigo, ou no mínimo aborrecendo-o em espírito. Talvez, estes indivíduos sejam os insinceros mencionados em 2.21, que “buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo” (NVI; cf. BJ; cf. tb. Mt 23.15). Não são judaizantes, pois em outras cartas Paulo declara que eles arruínam o evangelho; não é o que ele diz aqui.

E possível que Romanos 14 seja um texto descritivo desses indivíduos.  Certos expositores sugerem que são os antigos mestres da igreja, que estão com inveja da ampla popularidade de Paulo.9 Se isto for verdade, comprova que é característica da natureza humana sentir ciúme de colegas de profissão: médicos têm ciúmes de médicos, ministros de ministros, etc. Em todo caso, as ações dessas pessoas aqui se originam de algo pessoal contra Paulo. presumem que a pregação que fazem tornará a prisão de Paulo insuportável.

Mas há outros que pregam por espírito de amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho (16). Estes, a despeito de equívocos pessoais, pregam (15, kerussousin, “proclamam”, BJ, RA) pelos mais sublimes motivos do amor (agapes), e não por ambição partidária e facciosa (cf. 1 Co 13). O objetivo dessas pessoas é o mesmo de Paulo, que foi posto (16, keimai, “incumbido”, RA), como soldado colocado de sentinela pelo capitão, para defesa (apologian) do evangelho. Aqui, o termo evangelho significa todos os seus testemunhos e a propagação de Cristo. Pelo que deduzimos, não se refere primariamente à defesa de Paulo em seu julgamento pessoal; seja como for, estas — a defesa pessoal e a defesa do evangelho — estão igualadas na mente do apóstolo.

Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade (18). Contanto que (plen hoti) também pode ser traduzido por “uma vez que” (RA). Esta é, na verdade, a única maneira que Paulo encara a questão (cf. 1 Co 1.17). Esses que pregam por fingimento (prophasei, lit., “pretexto”, AEC, BAB, RA) são os que falam não puramente (17). O propósito em que pregam, embora não o conteúdo da mensagem, é diferente do de Paulo. Não é a mensagem que anunciam, mas o espírito em que anunciam que é falho. Paulo, como no versículo 17, usa o verbo kataggelletai , ou seja, pelo menos Cristo é “anunciado”, se não genuinamente “proclamado”. Pelo visto, Paulo vence todo o aborrecimento pessoal acerca da situação, e expressa em linguagem um tanto quanto abrupta um ato decisivo da vontade: Nisto me regozijo e me regozijarei ainda (18).

Ele não vai permitir que querelas particulares esfriem o seu amor pelo evangelho e seu progresso. A paixão que monopoliza o todo de sua vida é o “progresso do evangelho” (ver comentários no v. 11).

Por conseguinte, ele enfatiza o bem que está sendo feito — Cristo está sendo anunciado — e não os motivos ruins dos partidários (4.8). A atenção aos princípios básicos o poupa da amargura de alma. A verdade do evangelho capturou o seu amor; por essa razão ele suportará qualquer golpe que vier sobre ele, em vez de permitir que sirva de impedimento ao evangelho.

Nos versículos 12 a 20, Alexander Maclaren descobriu o tema “O Triunfo do Prisioneiro”: 1) O propósito monopolizador que submete todas as circunstâncias a seu serviço, 12; 2) O contágio do entusiasmo, 13,14; 3) A ampla tolerância do entusiasmo, 15-19; 4) O confronto calmo da vida e da morte, pois ambos engrandecem a Cristo, 20,21.

O TRIUNFO SOBRE A ADVERSIDADE, 1.19-26

1. A Base do Triunfo (1.19).

Porque sei que disto me resultará salvação (19), ou melhor, “minha libertação” (CII, NVI; cf. NTLH, RA). Parece ser citação de Jó 13.16 na Septuaginta.

Paulo está, ao que parece, se comparando com Jó. O texto de Filipenses 2.12-15 é muito parecido com as determinações finais de Moisés aos israelitas (cf. Dt 3lss.), semelhança que também indica comparação com Moisés. Se tal especulação for justificável, então Paulo está se fortalecendo no Senhor (cf. 1 Sm 30.6), analisando a sorte semelhante dos santos de quem ele leu nas Escrituras veterotestamentárias. Com isso, ele identifica a utilidade da adversidade.

A palavra disto (touto) refere-se ao anúncio de Cristo, do qual Paulo acabara de falar no versículo 18, ou ao conjunto total de suas circunstâncias? Provavelmente ambas as opções estão corretas. Isto resultará (lit.; ou “redundará”, BJ, RA) em sua salvação, O termo grego soterian (salvação) significa mais que a “libertação” da prisão ou a morte, pois para ele pessoalmente pouco lhe importava viver ou morrer (20). Os profetas e salmistas do Antigo Testamento usavam soteria para referir-se à vitória do vencedor de uma competição.

Paulo evidentemente se imagina em batalha, lutando não “contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades” (Ef 6.12), contra os quais a peleja final será a vitória (cf. 1.27-30). Além disso, sua prisão lhe aperfeiçoará o caráter para a glória de Cristo. Ele tem certeza de “que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28), e que seus esforços nesta situação serão suas testemunhas no dia do julgamento.

Pela vossa oração quer dizer, literalmente, “pela vossa súplica” (AEC, BAB, RA; ver comentários no v. 4). A participação que Paulo e os crentes filipenses têm em comum o deixa inteiramente ciente da necessidade das orações dos seus companheiros cristãos.
E pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo significa, literalmente, “provisão abundante” (epichoregias; cf. RA; cf. tb. “que vos dá”, Gl 3.5). A palavra é derivada de chorus, que descreve as pessoas usadas como plano de fundo nas tragédias gregas. O estado escolhia uma pessoa que supria as despesas do chorus, custeando as despesas de treinamento e sustento. Apalavra também era usada para descrever a beneficência de cidadãos ricos que, dando um banquete, forneciam comida e entretenimento para a noite.

Assim, as experiências de Paulo resultarão em sua salvação pelos “recursos do Espírito” (CII), que “fornecerá tudo que for necessário”. O Espírito não só suprirá inicialmente a graça, mas continuará distribuindo graça suficiente à medida que surgirem as necessidades. A expressão Espírito de Jesus ocorre somente aqui no Novo Testamento. Expressões semelhantes deixam claro que a alusão é ao Espírito Santo (At 5.9; 16.7; Rm 8.9; 1 Co 12.4; 2 Co 3.17; Gl 4.6). Pouca diferença faz se o Espírito é a provisão ou se ele traz a provisão. Lightfoot está provavelmente certo quando diz: “O ‘Espírito de Jesus’ é o doador e o dom”.

O que está claro é que a base do triunfo é pela oração dos crentes filipenses e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo. Ambos são necessários. No original, só há uma preposição (dia, “por”) unindo a oração e o socorro. A medida que a oração sobe, o socorro (“provisão”, RA) do Espírito desce. As orações dos crentes filipenses e a graça de Deus são como “dois baldes em um poço; enquanto um sobe, o outro desce”.

2. A Esperança do Triunfo (1.20-24)

Segundo a minha intensa expectação e esperança 20. O termo grego apokaradokian (expectação) indica o afastamento total de tudo para fixar-se no objeto do seu desejo. E, literalmente, “estender a cabeça” para ver algo ao longe; obviamente, no caso de Paulo era o Dia de Cristo. De que em nada serei confundido (20) é mais bem traduzido por “de que em nada me envergonho” (ASV). Paulo não se envergonhava do evangelho antes de ir para Roma (Rm 1.14-16), e é sua firme esperança de que agora não lhe faltará confiança (“coragem”, AEC, CII, NTLH; “ousadia”, BJ, RA; “determinação”, NVI); literalmente, “franqueza no falar” (cf. At 14.13). Ele deseja que Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte (20). Cristo é o sujeito desta oração, que foi colocada na voz passiva. Meyer sugere que o passivo foi usado, porque o apóstolo percebe que ele é o órgão da operação de Deus. Portanto, Paulo não está dizendo: “Eu engrandecerei a Cristo”, mas: Cristo será... engrandecido. O seu corpo será o “teatro no qual a glória de Cristo é representada” (cf. Rm 12.1; 6.13).

O viver é Cristo (21) é tradução literal, pois viver é o sujeito da frase. Lightfoot traduz assim: “Para mim a vida é Cristo”. Outra opção tradutória é: “Vivendo, eu viverei Cristo”.” As palavras para mim não querem dizer “em minha opinião”.

O sentido é mais enfático, sendo equivalente a: “O compromisso de minha vida é com Cristo”. Cristo é o objetivo da vida natural de Paulo. Ele é o começo e o fim. Levando em conta a referência ao corpo (20), fica claro que Paulo está falando da totalidade de sua vida fisica e prática de serviço (cf. Rm 6.16). O que torna esta vida significativa e frutífera é Cristo.

Semelhante vida não é possibilidade humana. E obra divina. Por conseguinte, a referência pressupõe a vida profunda e interior de Deus na alma. Paulo declara: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).
Paulo se rendeu completamente a Cristo, que vive nele e por ele (cf. 2 Co 4.10,16; 5.15,17; Cl 3.3). Ele é “constrangido” por uma nova força — o amor (2 Co 5.14). Para ele, a vida é vivida ao máximo só em Cristo, pois “a vida eterna é esta:” Conhecer “a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

Ele está dizendo: “A presença de Cristo é a alegria de minha vida, o espírito de Cristo a vida de minha vida, o amor de Cristo o poder de minha vida, a vontade de Cristo a lei de minha vida; e a glória de Cristo o fim de minha vida”.

O morrer é ganho (21) Literalmente, “ter morrido”, quer dizer, morrer seria vantajoso. O tempo verbal em grego não indica que a morte em si é ganho, mas aponta o estado depois da morte. O termo grego kerdos (ganho) era usado para descrever juros em dinheiro. Portanto, morrer é trocar o capital e os juros e ter mais de Cristo do que viver.  

O conceito paulino de ganho está em nítido contraste com o motivo vulgar de vantagem material que caracterizava os comerciantes de Filipos; e não nos esqueçamos de que foi esse mesmo motivo que inicialmente suscitou hostilidade à pregação do evangelho naquela cidade (At 16.19). J. W. C. Wand traduz da seguinte forma: “Para mim a vida significa realmente Cristo, e a morte traria mais vantagem”. Hamlet, no famoso monólogo “Ser ou Não Ser”, discute se “é melhor viver e sofrer as setas da boa sorte ou morrer e arriscar a sorte de sonhos acusadores”.

Nenhuma perspectiva é agradável. Shakespeare “julga que a vida e a morte são males, e não sabe qual delas é a menos maléfica; Paulo julga que ambas são bênçãos, e não sabe qual delas preferir”. Por 30 anos o apóstolo tem vivido, não para si, para coisas materiais ou para promoção pessoal, mas para Cristo. Ele está preparado para morrer, porque está preparado para viver. O viver direito assegura o morrer direito. “Ser tudo para Cristo enquanto eu vivo [é] descobrir, por fim, que ele é tudo para mim quando eu morrer”.

Poderíamos traduzir o versículo assim: “Para mim, vivendo e morrendo, Cristo é o ganho”. Maclaren faz um comentário esplêndido sobre esta passagem: “Para o escravo, não faz diferença se ele está lá fora, no frio e na chuva, ‘arando a terra e cuidando do gado’, ou se ele está servindo seu senhor à mesa. E serviço do mesmo jeito. Apenas é mais quente e mais leve em casa do que no campo. Trata-se de promoção ser feito escravo portas a dentro”.

Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o que deva escolher (22). A gramática rudimentar indica o dilema do apóstolo. Mas o significado é claro: “Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher” (RA). Cristo é o fruto do trabalho de Paulo (Rm 1.13; 1 Co 3.6). Grotius entende que fruto da minha obra é expressão idiomática que significa “que vale a pena”. Então, teríamos: “Se o viver na carne me vale a pena..  A tradução de Wand ajuda a esclarecer o significado: “Visto que a existência física me dá a oportunidade de trabalho frutífero, já não sei qual preferir”.26 Viver, de acordo com a tradução de Barth, “significa estar fazendo colheita”.27 Certos expositores afirmam que o termo grego gnorizo (sei) significa “declarar”. Neste caso, a idéia é: “Se é melhor para a igreja que eu viva, então não declararei minha escolha pessoal”.

Mas de ambos os lados estou em aperto (23). Estou em aperto é, literalmente, “estou apertado” (cf. N’VI). O termo grego synechomai descreve o viajante numa passagem estreita, cercado pelos lados, podendo ir só para a frente. Moffatt traduz assim:
“Estou num dilema” (cf. BJ). Tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor (23). Literalmente, tendo o desejo (BAB), dando a idéia de que não é apenas mais um entre muitos desejos. O verbo grego analusai (partir) é metáfora extraída do ato de soltar estacas e cordas de tendas para levantar acampamento (cf. 2 Co 5.1; 2 Tm 4.6). Tendo em vista que sua profissão era fabricante de tendas, esta metáfora fornece modo apropriado de Paulo descrever sua partida desta vida. O verbo também descrevia a ação de erguer âncoras e fazer-se à vela.

Adam Clarke sugere que era metáfora tirada do comandante de um navio, em porto estrangeiro, que desejava fazer-se à vela rumo a seu país, mas que ainda pão tinha ordens do proprietário. Barclay destaca que a palavra também é usada para referir-se à solução de problemas. O estado depois da morte dará soluções aos enigmas profundos da vida (1 Co 13.12). Partir e estar com Cristo são ações simultâneas. Quer dizer, ao morrer, a pessoa entra imediatamente na presença do Senhor. Para o cristão, estar ausente do corpo é estar presente com o Senhor (Jo 14.3; 2 Co 5.8).

Para descrever a experiência de estar com Cristo, Paulo usa termos superlativos, os quais são parcialmente obscurecidos pelas traduções: Ainda muito melhor (RC), “muito melhor” (AEC, BJ, NVI), “bem melhor” (NTLH), “incomparavelmente melhor” (RA) e “a melhor coisa para mim” (CH).

Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne (24). Este é o outro lado do dilema de Paulo. Por um lado, ele deseja estar com Cristo; por outro, ele reconhece seu dever com a igreja. Entre estas alternativas ele mantém um “equilíbrio santo”. A vontade de Deus deve ser feita, mesmo que signifique subordinar o seu desejo ao seu dever para com os outros. Epimenein te (ficar “em”) é, literalmente, “permanecer por” e não “em” a carne. Significa “resistir por”, “não ceder por”, como o soldado que se recusa a deixar o posto (cf. 17).

Ninguém vive para si. Paulo tem de pensar no bem-estar dos amigos de Filipos. Ele está pronto a renunciar as beatitudes eternas pelo serviço terreno. Não seria esta a “mente de Cristo” que ele tanto deseja para os crentes filipenses (2.5-8) e que caracteriza a vida do apóstolo (Rm 9.3; 1 Co 10.33)? Não há melhor quadro que este para descrever o modo em que o cristão entende a relação deste mundo com o outro mundo, acerca de recompensas e serviços. O desejo de Paulo não é a morte, mas Cristo. A morte é apenas a entrada numa relação mais plena com ele. Em nenhum sentido, Paulo a considera fuga das responsabilidades desta existência temporal.

A acusação de que o cristão é tão ligado ao outro mundo que se interessa apenas pelos assuntos da outra vida é uma caricatura fundamentada em engano da fé cristã. O bem dos outros sempre tem de vir primeiro, à frente de todo desejo pessoal. Por conseguinte, Paulo está pronto a continuar seu serviço para que os crentes filipenses fiquem “mais fortalecidos, como os filhotes de pássaros precisam da mãe até que as penas cresçam”.

3. O Resultado do Triunfo (1.25,26)

E, tendo esta confiança, sei que ficarei e permanecerei com todos vós (25). O começo deste versículo deve ser lido com o versículo 24. Quer dizer, Paulo está confiante de que viver é vantajoso para os crentes filipenses; ele expressa uma convicção pessoal (2.24) e não uma profecia. Ele declara sua opinião firme de que Deus permitirá o que for melhor. Literalmente, ele está dizendo: “Permanecerei” (meno) com todos vós e “permanecerei pronto para ajudar” (parameno) todos vós. Para proveito vosso e gozo da fé é mais bem traduzido por “para o vosso progresso { prokopen; ver comentários no v. 12] e gozo na fé” (AEC; cf. NVI).
Para que a vossa glória aumente por mim em Cristo Jesus, pela minha nova ida a vós (26) é, literalmente, “para que o vosso motivo de orgulho abunde em Cristo Jesus em mim pela minha presença de novo convosco”.

O termo grego kauchaomai (glória) pode ser usado em sentido falso e em sentido legítimo (cf. Rm 15.17; Ef 2.9).  A glória (kauchema) dos crentes filipenses tem de estar em Cristo, embora o objeto dessa glória se baseie em Paulo. Parousia (ida) é a palavra usada no grego secular para descrever a entrada cerimoniosa de um rei ou governador em uma cidade, com todas as manifestações de alegria pertinentes ao evento. Paulo está convicto de que se lhe for permitido rever os crentes filipenses, a participação mútua entre eles os levará a lhe dar um acolhimento de rei.

Os versículos 12 a 26 narram “A Santa Confiança”, que se baseia em: 1) Na providência amorosa de Deus revelada nos acontecimentos passados, 12-18; 2) Na presença ininterrupta de Cristo em cada momento, 21; 3) Na habilidade de Deus configurar a morte ou a vida, no futuro, para o cumprimento dos seus propósitos, 19-26.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

BIBLIOGRAFIA

Comentário Bíblico Beacon



A ALEGRIA QUE SUPERA A ADVERSIDADE

A ALEGRIA QUE SUPERA A ADVERSIDADE

Filipenses 1.12-26

Nada retém a força do evangelho, a não ser a falta de vontade humana. — O autor

E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho. De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa mente; uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda.

Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que ficarei e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé, para que a vossa glória aumente por mim em Cristo Jesus, pela minha nova ida a vós. (Fp 1.12-26)

Neste capítulo, a Carta de Paulo segue o padrão comum adotado por ele para escrever suas cartas. Ele dá uma descrição detalhada das suas necessidades, mas destaca, acima de tudo, a paixão que o consumia: a pregação do evangelho acima de qualquer adversidade, O texto está adaptado ao assunto deste capítulo. Paulo estava preso em Roma, mas as suas cadeias não o impediam de proclamar o evangelho. Ele fala de seu sofrimento de forma exemplar, com o objetivo de levar os filipenses a uma reação à perseguição. Ele queria que os filipenses entendessem que r poderia diminuir a fé recebida. Pelo contrário, as coisas que 1h haviam acontecido em sua viagem missionária não eram um entrave para o progresso do evangelho. Os filipenses estavam profundamente preocupados com o estado físico de Paulo na - Nutriam por ele um grande afeto. Sabiam que ele estava preso aguardando o julgamento, e que não demoraria o seu julgamento perante o supremo tribunal do Império. Por causa dessa situação, a igreja se preocupava em saber como ele estava se sentindo. N verdade, a preocupação maior dos filipenses estava em saber o q’ aconteceria com a igreja plantada por todo o mundo romano s. Paulo fosse condenado à morte.

O Testemunho que Rompe Cadeias e Grilhões (1.12,13)

1. O evangelho é mais poderoso do que cadeias e grilhões

A prisão de Paulo, do ponto de vista humano, poderia ter sido um revés para o evangelho. Entretanto, Paulo garante que nada, absolutamente nada, poderia frear a força do evangelho de Cristo. Nenhuma circunstância, política, material ou espiritual impediria o testemunho do evangelho.

O fato de o apóstolo estar preso poderia afetar o avanço do evangelho no mundo. Sua prisão era considerada um golpe contra a igreja de Cristo. Porém, o apóstolo transmite na sua carta a ideia de que nenhum poder físico ou material poderá conter a força do evangelho. O que Paulo, de modo simples e objetivo, diz para os filipenses é que cadeias não limitam o movimento dinâmico do evangelho que pode ser disseminado de boca em boca. Mais importante que as suas cadeias era a proclamação do evangelho, não importava como. Para o apóstolo em prisão, as notícias dos sucessos de conquista do evangelho na vida das pessoas lhe serviam de consolo para suportar os sofrimentos que padecia nas suas prisões. Saber que o testemunho das suas prisões produzia fruto positivo na vida dos cristãos, especialmente os romanos, dava-lhe uma alegria e um sentimento (te vitória que superava todos os sofrimentos da prisão.

2. Paulo rejeita a autopiedade no seu sofrimento (1.12)

Paulo começa referindo-se às “coisas que me aconteceram” (v. 12), ou seja, como está no grego do Novo Testamento “ta kat’eme” que diz respeito a “minhas coisas, meus assuntos” ou “coisas que dizem respeito a mim”. Ora, Paulo estava falando dos seus sofrimentos, mas sua avaliação sobre esses sofrimentos era que eles não deviam ser a razão de compaixão dos filipenses. Ele queria que os filipenses entendessem que o foco, o vértice de tudo e a pessoa para quem deviam olhar era Jesus. Ele era o eixo central da sua vida, e seus sofrimentos físicos e materiais contribuíam para o avanço da igreja no mundo. Paulo não se fazia de vítima do evangelho nem da igreja, mas entendia que tudo quanto acontecia na sua vida era para a glória de Cristo na sua igreja no mundo.

Paulo avalia seus sofrimentos com uma visão positiva. Ele era um missionário que tinha consciência da importância da sua missão. Na sua mente, todo e qualquer sofrimento infringido contra a sua pessoa no exercício do ministério cristão era circunstancial e estava sob os cuidados de Deus. A soberania de Deus equivale à consciência de que o sofrimento é temporal e que a superação sobre ele produz um sentimento de vitória e aponta para um futuro eterno de gozo na presença de Deus. Por isso, Paulo não agia com autopiedade para conquistar a compaixão das pessoas. Ao falar e escrever de seus sofrimentos, não esperava que os filipenses e todas as demais igrejas entendessem que ele não estava esperando dos cristãos atitudes de compaixão, de pena pelos maus tratos recebidos.

Paulo queria que a igreja de Filipos e as demais igrejas do seu campo missionário percebessem que sua prisão contribuiria ainda mais para que o evangelho alcançasse muitas pessoas. Paulo não estava interessado em chamar a atenção para si, mas queria que a igreja não desanimasse em momento algum, mas desse prosseguimento ao objetivo da proclamação do evangelho em todo o mundo.

Que coisas eram essas vividas e experimentadas por Paulo? Ele podia lembrar-se de duras experiências que o acometeram e o deixaram, às vezes, com fome, com privação de roupas, com enfermidades regionais. Seu corpo tinha as marcas dos açoites que deixaram vergas em seus lombos; as marcas das correntes nos tornozelos e braços; os naufrágios; os apedrejamentos; os perigos em travessias de rios; os pés calejados em viagens a pés, e perigos de assaltos e ladrões. Todas essas experiências contribuíram para que o evangelho que não ficasse engessado em poucos lugares. Tudo isso contribuiu para que Paulo e seus companheiros de missões amadurecessem na fé e na convicção do galardão de Cristo ao final da jornada cristã (2 Co 5.10).

Paulo entendia que fora chamado para compartilhar de um projeto divino e que os sofrimentos infligidos durante a execução desse projeto divino em favor do evangelho culminariam com a vitória de Cristo sobre as forças do mal. Por isso, Paulo se regozijava em Cristo. Ele se regozijava então nos seus sofrimentos. Aos colossenses, ele repetiu a mesma mensagem quando disse: “Regozijo-me, agora, no que padeço por vós e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24).

Ele reagia aos sofrimentos com atitude de aceitação positiva e não permitia que a amargura dos sofrimentos ou qualquer resquício de autopiedade o impedisse de fazer a obra de Deus. Esse sentimento de sacrifício e paixão pela obra de Cristo está em crise nos tempos atuais. Os adeptos da pseudoteologia da prosperidade, que não admitem o sofrimento, desconhecem o privilégio de sofrer por Cristo.

No versículo 12, quando Paulo fala de “proveito” (ARC) ou “progresso” (ARA), está falando, de fato, de um termo militar que se referia aos trabalhadores que abriam caminho através de uma floresta utilizando ferramentas como machetes, machados e foices a fim de facilitar a caminhada de soldados para o alvo de sua batalha. O termo grego para “progresso” é prokopê que significa, essencial- mente, “avanço a despeito de obstruções e perigos que bloqueiam o caminho do viandante”.

Na verdade, Paulo estava declarando que a obra do evangelho estava rompendo com obstruções e progredindo, a despeito da terrível oposição externa. Paulo estava dizendo, na realidade, que na batalha espiritual é preciso abrir caminho para chegar a um fim proveitoso. Nesse sentido, os sofrimentos do apóstolo contribuíam para maior proveito do evangelho.

Paulo Focaliza sua Atenção na Proclamação do Evangelho (1.12,13)

1. Paulo conquista a simpatia da guarda pretoriana (v.13)

Paulo estava convicto de que não havia qualquer acusação que o incriminasse, a
té porque suas doutrinas eram conhecidas até mesmo pelas autoridades da Defesa Pública, isto é, o Pretório. A corte pretoriana era constituída por uma classe especial militar que vivia na mesma região (ou lugar) onde Paulo estava preso. A palavra “pretório” vem do latim praetorion e no grego é praetorium, que era o Tribunal em que se ouviam e julgavam as causas pelo pretor ou magistrado civil. O apóstolo Paulo aguardava o dia em que seria apresentado ao pretor para ser ouvido e julgado por ele. O que se subentende é que o caso de Paulo havia sido levado ao imperador como um caso muito especial e que havia simpatia das autoridades pelo seu caso, uma vez que havia cristãos que viviam e trabalhavam dentro do Palácio de César como está dito no texto de 4.22: “Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César”.

A despeito da terrível oposição externa que a obra missionária estava enfrentando e sofrendo, a obra do evangelho progrediu e a Palavra de Deus não ficou retida por força nenhuma. Paulo estava em Roma aguardando julgamento da parte do imperador. A guarda pretoriana era constituída de, pelo menos, 10 mil soldados espalhados em todos os lugares onde houvesse uma representação do Império. Em Roma havia o maior número de homens para proteger o Imperador. Essa guarda romana gozava de certos privilégios superiores a qualquer outra instituição imperial que exercia influência sobre coisas ligadas ao imperador. Paulo era um preso especial que conseguiu conquistar a simpatia de muitos pretorianos, e por esse modo a comunicação da mensagem do evangelho era facilitada em todo o Império Romano. Sua situação judicial chamou a atenção de muita gente de Roma que não via qualquer crime de Paulo contra o império.

2. O seu sofrimento propiciou um canal de abertura para se pregar o Evangelho

Warren Wiersbe, em seu comentário sobre a Carta aos Filipenses, diz “que o mesmo Deus que usou o bordão de Moisés, os jarros de Gideão e a funda de Davi usou as cadeias de Paulo” para a proclamação do evangelho. Os cristãos romanos espalhados por toda a Roma, inclusive nas cidades adjacentes, começaram a falar mais livremente sobre o evangelho na capital do Império.
A prisão de Paulo, em vez de reter a força do evangelho, promoveu ainda mais a sua disseminação. O Espírito Santo usou a prisão de Paulo para tornar o evangelho ainda mais dinâmico e poderoso no seu avanço no mundo.


Motivações da Pregação do Evangelho (1.14-18)

Duas motivações que estavam na mente e no coração dos cristãos espalhados em toda a Asia Menor, que era o campo missionário do apóstolo, além da Europa. Podemos perceber nessas duas motivações que moviam as igrejas como sendo uma positiva e a outra negativa. A positiva dizia respeito ao estímulo dos filipenses quanto às notícias da simpatia da guarda pretoriana à situação prisional de Paulo (1.13). Essa motivação produziu no coração e na mente dos cristãos filipenses a renovação de entusiasmo e disposição para continuar fiel ao propósito da propagação do evangelho.

1. Uma nova fonte de energia (v.14)

O texto diz que “muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões” descobriram uma nova fonte de energia para continuar a fazer a obra de Deus. O texto diz que “muitos dos irmãos” (1.14) foram estimulados pela repercussão positiva entre os cristãos de Roma de que o processo contra Paulo era injusto e não havia nenhuma ação criminosa, senão peio fato de pregar a Cristo Jesus. Ora, visto que Paulo estava preso por causa de Cristo, a guarda pretoriana bem como as autoridades romanas passaram a entender que se tratava de um equívoco e que Paulo não era nenhum criminoso. Paulo, pelo Espírito, entendeu que essa situação de dúvida das autoridades romanas contribuiria para a disseminação do evangelho. Por isso, Paulo regozijava-se pela oportunidade de participar dos padecimentos de Cristo Jesus (Gl 2.20). Aqueles irmãos poderiam agora anunciar a palavra de Deus com maior determinação e destemor.

2. O sentimento de pessimismo de alguns cristãos (1.15-17)

Paulo estava imobilizado para fazer a obra livremente, pois sua prisão o impedia de movimentar-se para fora da prisão. Alguns cristãos, principalmente, que eram mestres judaizantes, insistiam que era necessário unir os ritos mosaicos com as instituições cristãs. Paulo os combatia porque entendia que eram duas coisas completamente distintas. Entretanto, esses judeus cristãos tomavam essas posturas de Paulo e o acusavam de ser inimigo da Lei e dos Profetas, principalmente porque ensinava contra a necessidade da circuncisão para o cristão. Por esse modo, esses inimigos gratuitos de Paulo incitavam os romanos contra o apóstolo para o indispor contra os romanos. Essa situação despertou motivação errada em alguns dos cristãos de Filipos. Era um sentimento de pessimismo no sentido de que Paulo estaria prejudicando o crescimento do cristianismo.

Esse sentimento desenvolveu-se motivado por falsos obreiros existentes no seio da igreja de Filipos. Alguns cristãos mais afoitos aproveitaram-se da ausência do apóstolo para agir de modo discordante de tudo quanto haviam aprendido anteriormente, conforme está descrito nos versículos 15 ao 17.

Sem dúvida alguma, o Diabo se aproveitou da fragilidade daqueles irmãos para plantar em seus corações sentimentos de mesquinhez, de inveja, porfias, discórdia e atitudes rebeldes (1.15,17). Ao ter notícias dessa situação e sabendo que a liderança local não estava conseguindo impedir essa situação, Paulo entendeu pelo Espírito Santo que o que importava, de fato, era que Cristo fosse pregado “de toda a maneira”, “quer por pretexto, quer por verdade”(1.18, ARA). O segmento hostil que se levantou na igreja criou uma situação que tinha por objetivo, acima de tudo, atingi-lo e tratá-lo como um desconhecido e sem reputação, ou mesmo como se fosse um falso apóstolo. Ele sabia que essa situação seria dissipada e o que importava mesmo era que o evangelho fosse pregado a todas as gentes até a vinda do Senhor.
 “Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia” (1.15). A despeito de Paulo estar preso naquela ocasião, ele faz entender que a obra da igreja de Cristo não perderia espaço no mundo por sua incapacidade de se movimentar. A obra não sofreria por sua ausência física. Porém, aqueles opositores tinham propósitos diferentes dos propósitos de Paulo. 

O apóstolo os denomina de eritheia porque pregavam por outros interesses e com atitudes de inveja e porfia. O interesse maior era trabalhar mercenariamente. A atitude dos caluniadores de Paulo era mercenária, pois trabalhavam com segundas intenções. Invejavam a autoridade e o poder apostólico que Paulo tinha. A palavra “porfia” indica contenda, rivalidade e conflito que os opositores de Paulo faziam para denegrir a imagem do apóstolo perante os irmãos.

‘....mas outros de boa mente” (1.15), isto é, de boa vontade, que denota satisfação e contentamento daqueles que trabalham por amor ao Senhor. Os opositores de Paulo tinham motivação errada porque eram impulsionados por um espírito faccioso, partidário, de intriga, e valiam-se de meios inescrupulosos para alcançar seus objetivos perniciosos. No versículo 16 está escrito que alguns trabalham por amor porque foram alcançados pelo amor imenso do Senhor.

“mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção” (1.17). A palavra que melhor explica “contenção” é “discórdia”, que descreve aqueles estavam interessados apenas nos seus próprios interesses. Eles não tinham motivos puros, e por isso caluniavam a Paulo, querendo diminuir sua autoridade para com os filipenses.

“Mas que importa?” (1.18). Paulo estava afirmando que se aqueles falsos irmãos pregavam por porfia, fingimento ou por pretexto, o que importava, de fato, era que o evangelho estava sendo pregado. Não significa pregar erroneamente alguma doutrina, mas significa que se a mensagem for preservada, independentemente do comportamento daquelas pessoas, o que importa é que o evangelho seja pregado. Ele ainda diz: “nisto me regozijo e me regozijarei ainda”.

Ora, sua alegria não se prendia às circunstâncias ruins ou daqueles que o criticavam, porque a essência de tudo era a certeza da proclamação do senhorio de Cristo. Paulo preferia saber que os seus opositores pregavam o evangelho com fingida piedade, mas pregavam. Para ele, isso era razão de regozijo em sua alma.

Intensa Expectação de Paulo (1.19-26)

Os versículos 19 a 26 apresentam o exemplo de uma vida consagrada ao Senhor, revelando ser a mais profunda e sincera consagração que um homem seja capaz de fazer a Deus. Jesus Cristo é engrandecido como objeto maior da vida do crente, porque a graça demonstrada de Cristo é o seu princípio de vida e a palavra dEle é a sua regra cotidiana. A frase «nisto me regozijo e me regozijarei ainda”, dita por Paulo do versículo 18, demonstra o sentimento que dominava a sua alma de que nada afetaria sua alegria em Cristo. Não se tratava de uma alegria efêmera ou passageira, mas de uma alegrit produzida pelo Espírito Santo na sua vida interior. Em seguida, ele diz que tinha em seu coração uma “intensa expectação”. Que expectação era essa? Não se referia à sua própria segurança, mas ao fato de que sua prisão e privação promoviam ainda mais o progresso do evangelho.

1. Cristo é engrandecido na vida pessoal do apóstolo (1.19-20)

O que é que Paulo esperava? Qual era a sua expectativa acerca dos seus sofrimentos e da continuidade da expansão da igreja? No versículo 18, Paulo diz: “Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira”. Essa atitude revelava o anseio do apóstolo pelo crescimento da igreja, sem se importar por quais meios, visto que o poder do evangelho superaria os problemas humanos.

Porém, no versículo 19, Paulo estava certo de que Deus era poderoso para tirar bem do mal, fazendo que o mal, ou seja, a oposição feita contra ele, redundaria na salvação de muitas pessoas. Nesse mesmo versículo, o apóstolo estava confiante na provisão (“socorro”) do Espírito de Jesus Cristo. Ora, o Espírito de Jesus não era outro senão a terceira pessoa da Trindade, enviado por Cristo para suprir todas as necessidades da sua igreja na terra (Gl 3.5). A presença do Espírito Santo na vida pessoal do crente e na igreja de Cristo é uma garantia de resultados positivos.

“... intensa expectação” (1.20,). Qual era a expectativa de Paulo quanto à sua vida? Na mente do apóstolo, estar motivado por uma “intensa expectação” ou “ardente expectativa” significa alguém que estica o pescoço para ver o que há adiante. Paulo tinha esperança e estava seguro da promessa de Cristo de que em breve ele estaria em sua presença. Ora, o que esperava Paulo? Ele esperava não ser envergonhado ou “confundido” (v. 20). Sua vida dedicada ao Senhor lhe dava a garantia de que seus inimigos é que seriam envergonhados, pois ele estava dando a sua vida em libação ao Senhor. Ele esperava engrandecer a Cristo no “seu corpo físico” (v. 20), isto é, os sofrimentos físicos que padecia lhe davam a sensação de participar dos sofrimentos do Senhor Jesus.

2. Como Paulo vê a morte e a vida em sua experiência pessoal (1.21,22)

A expressão “porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (v. 21) revela o sentimento que dominava coração e mente do apóstolo. Viver, para ele, era a vida que agora tinha. O seu passado não era vida, mas era morte. Porém, ao encontrar a Cristo, recebeu vida e vida abundante. Essa declaração não significa apenas viver para servir a Cristo, para fazer o melhor que possa no Reino de Cristo na terra, ou para agradá-lo, fazer sua vontade, ou para ganhar almas para Cristo. E muito mais que isso. Significa uma total identificação com Cristo, no sentido de que “o viver é ter Cristo em sua própria vida”. Em Gálatas 2.20, ele disse: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim”. Paulo se via identificado com Cristo com tal comunhão, como a união do tronco com os ramos, o corpo com a cabeça. Nesse sentido, as coisas do mundo não podiam afetá-lo, porque ele podia dizer: “Estou crucificado com Cristo”.

Na sua mente, continuar vivo fisicamente significaria continuar fazendo o seu trabalho missionário. Porém, ele via o seu sofrimento físico como um modo de glorificar a Cristo no seu corpo. Paulo colocava o seu ideal acima de qualquer adversidade. A morte traria lucro pessoal porque poderia estar para sempre com o Senhor. Porém, o que importava era a pregação do evangelho. Por vida ou por morte tudo o que Paulo queria era que Cristo fosse engrandecido no mundo (1.21). Ele queria viver para servir a Cristo, para agradar-lhe e fazer sua vontade, mas entendia, também, que o que importava era Cristo, não ele propriamente. Por isso, declarou aos gálatas: “E vivo, não mais eu; mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20).

Sua consagração a Cristo era total e completa. Cristo era o principio, a essência e o fim na sua vida pessoal. NEle vivia e se movia para a sua gloria, por isso, podia dizer: Para mim o viver e Cristo, e o morrer é ganho” (1.2 1).

3. A intensa expectação de Paulo (1.22-26)

Nos versículos 19 a 21, Paulo expõe suas emoções revelando; um dilema interior que era o desejo de estar com Cristo e o estar vivo na carne para continuar fazendo a obra de Deus. Pela morte ou pela vida, Paulo queria e desejava que Cristo fosse engrandecido na sua vida. Ele apela para as orações da igreja para que o socorro. divino fosse concedido a ele naquela hora dificil.

1.22 — O “viver na carne” era uma declaração de que continuar a viver fisicamente poderia representar sua total devoção a Cristo. O que importava para ele era que seu trabalho em favor de Cristo produziria resultados eternos, e não meramente temporais. Essa expressão não tinha um caráter moral, mas referia- se a viver na carne para continuar a dar fruto no seu trabalho de disseminação do evangelho.

Quando fala do “fruto da minha obra”, referia-se ao fato de que se sua existência física podia lhe dar a oportunidade de continuar dando fruto, então valia a pena estar vivo. Mais do que sua escolha pessoal entre viver e morrer, valia o fato de que estar vivo, contribuiria para a proclamação do evangelho e o fortalecimento da igreja. Na verdade, o seu futuro não dependia da sua escolha pessoal, porque estava sob o poder do Império Romano. Independentemente de qualquer ação drástica do império contra a sua vida, ele não tinha nada a temer pela certeza de que seu destino estava na mão de Deus.

“Mas de ambos os lados estou em aperto” (1.23). Na ARA, a palavra traduzida para “aperto” é “constrangido”. A palavra “aperto” dá a ideia de estreitamento de duas ideias: viver ou morrer. Entre viver ou morrer, o apóstolo diz mais: “tendo desejo de partir e estar com Cristo”. A esperança do crente em Cristo é que, quando morrer fisicamente, possa estar com Cristo. Não há purgatório para o crente fiel, nem mesmo para o infiel. Os que morrem vão para o lugar provisório (Sheol-Hades), que é a morada das almas e espíritos dos mortos. Os justos vão para o descanso do Paraíso, e os ímpios vão para “o Lugar de tormento”, e todos ficarão nesses lugares até a ressurreição de seus corpos. Os justos em Cristo ressuscitarão primeiro por ocasião do Arrebatamento da Igreja de Cristo e os ímpios só ressuscitarão no Juízo Final.

O apóstolo Paulo declara que estava em aperto, ou seja, pressionado por dois pensamentos em sua mente: morrer para estar com Cristo, ou continuar vivo, para completar a obra ainda por fazer em favor da igreja.

1.24 — Neste versículo, Paulo entende a ideia de que “ficar na carne” seria mais necessário, por amor da igreja, isto é, continuar vivo.

1.25,26 — Paulo entende que se fosse libertado da prisão teria a oportunidade de rever todos os irmãos filipenses e gozar da sua hospitalidade e amor. Tudo o que Paulo mais desejava naquele momento era estar livre para retornar a Filipos e ver a igreja de perto, bem como regozijar-se na fé daqueles irmãos.

Nesses versículos, o apóstolo Paulo resolveu seu dilema em relação à igreja e declara que o seu desejo de estar com Cristo foi superado pela obrigação e o amor de servir aos irmãos. Paulo estava pronto para continuar trabalhando, mesmo tendo que enfrentar oposições dos romanos, de falsos cristãos, além das privações materiais e físicas, desde que tudo isso contribuísse para o progresso do evangelho e do crescimento espiritual da igreja (vv. 25,26).

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

BIBLIOGRAFIA

Filipenses – A humildade de  Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai Cabral


2 de julho de 2013

PAULO E A IGREJA EM FILIPOS



PAULO E A IGREJA EM FILIPOS – Ev. José Costa Junior

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Paulo escreveu a carta aos filipenses, ainda preso. Não há consenso sobre o local onde se encontrava, mas há grande probabilidade de que estivesse em Roma. Os argumentos a esse favor são retirados do próprio texto, principalmente as citações que se referem à guarda pretoriana e aos da “casa de César.” Guarda pretoriana era um tipo de tropa de elite. Eram em torno de 9.000 soldados muito bem treinados, de confiança e que tinham a responsabilidade de defender o Imperador contra possíveis golpes de Estado. Eram também responsáveis por cuidar dos prisioneiros que, para que fossem julgados com justiça, haviam “apelado para César”. Este era o caso de Paulo.

Ocorre que descobertas arqueológicas recentes informam sobre a existência de tropas com essas características em outras cidades além de Roma. Isto nos incentivaria a pensar em local alternativo para a origem da carta, que, por questão de tempo, deixaremos de considerar neste momento. O mais importante é compreender que Paulo estava dia e noite acorrentado a soldados, que foram apresentados ao senhorio de Jesus, enquanto cuidavam do apóstolo. Já aqui enxergamos a vitória que é produzida a partir do sofrimento. Quantos haviam-se rendido aos pés de Jesus? Não sabemos. Seria impossível precisar o alcance do testemunho pessoal do preso Paulo, como também o é o fruto de todo e qualquer trabalho que dedicamos a Deus, como oferta de louvor e de adoração. Ai de nós se buscarmos quantificar aquilo que é de valor espiritual. Nada mais nos restará além de frustração.

Da mesma forma, difícil seria apontar com precisão o estrago causado na vida das pessoas pelo descuido no testemunho cristão. Já de pronto temos um interessante ponto de discussão: qual o fruto que a nossa vida está produzindo para o reino de Deus?

Para compreendermos melhor o conteúdo dessa carta, vale lembrar que Filipos era uma cidade especial. Localizada na Macedônia, era colônia de Roma. Quem ali residisse desfrutava dos benefícios destinados aos cidadãos romanos. Justamente por isso, bom é saber que a palavra cidadania tem uma importância especial neste texto bíblico. Os filipenses eram muito orgulhosos da cidadania romana, daí a importância especial do conselho registrado no capítulo 1, 27, que diz: “não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica.”

Por que o conselho a permanecer firmes, justo para uma igreja amada, altruísta, direcionada para o bem-estar dos missionários? Essa Igreja havia sido iniciada em torno de mulheres, sendo uma delas conhecida como Lídia, vendedora de púrpura, oriunda da cidade de Tiatira.

Durante muito tempo pensou-se que Lídia seria muito rica, comerciante bem sucedida, responsável por vender a pessoas igualmente abastadas. No entanto, publicações recentes de pesquisas efetuadas em documentos daquela época, apontam o trabalho de lidar com a púrpura como extremamente difícil. As pessoas que trabalhavam na extração daquela cor precisavam ficar perto do mar, porque o cheiro que exalava do material era muito desagradável. A partir dessas pesquisas, então, a pessoa de Lídia passou a ser compreendida como uma mulher que trabalhava com seriedade e afinco, provavelmente escrava liberta e que ganhava a vida com o suor do seu rosto. Suas auxiliares a apreciavam e ela lhes davam acolhida em sua própria casa. Convertida ao evangelho, estendeu a Paulo a sua hospedagem e ali foi fundada uma igreja próspera e direcionada para o trabalho missionário.  Provavelmente, os filipenses a quem Paulo se dirigia tinham chegado a Cristo por intermédio do trabalho persistente daquela mulher e das demais que a acompanhavam na fé.

O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de introduzir o estudo da Epístola aos Filipenses. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.

INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA

A cidade de Filipos era originalmente chamada Crenides (pequenas fontes), tendo sido denominada, posteriormente, no ano 350 A. C., Filipos, em homenagem a Filipe da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande. Cerca do ano 168 A. C. a cidade passou para o domínio romano, quando a província da Macedônia foi subjugada. Em 42 A. C. tornou-se colônia romana (At 16.12) ou reduto militar, em honra da vitória de Antônio e Otaviano sobre as forças republicanas de Bruto e Cássio, vitória esta que vingou o assassínio de Júlio César. Onze anos mais tarde, em 31 A. C., Otaviano, agora Imperador Augusto, recolonizou Filipos. Uma colônia romana deveria ter, então, tanto a sua forma de governo quanto os seus costumes modelados pelos da própria Roma. Seus magistrados eram devidamente escolhidos pelos cidadãos da própria colônia e a autoridade daqueles magistrados, dentro da cidade, era suprema. Há alusões ao estado colonial de Filipos em (Fp 1.27) e (Fp 3.20). 

A administração da cidade era, pois, inteiramente romana, sob pretores e litores (At 16.35). O acontecimento mais notável acerca de Filipos é que ali se realizou a primeira conquista de Paulo, na Europa, tendo sido "o berço do Cristianismo europeu".

A história da fundação da igreja é relatada em At 16. Os membros da comunidade cristã eram, em sua maioria, gregos e possivelmente alguns cidadãos judeus e romanos. As mulheres tinham um lugar de merecida honra (At 16.13-14). 

Houve duas razões principais que induziram o apóstolo a escrever aos filipenses. A primeira, para hipotecar-lhes sua gratidão pelo fato de eles, simpatizando com seu apostolado e partilhando de suas aflições, lembrarem-se de enviar-lhe algumas dádivas por intermédio de Epafrodito, um de seus membros (Fp 4.10-18). A segunda, para corrigir algumas pequenas desordens existentes no seio da igreja.

Parece que a congregação de Filipos foi a única da qual o apóstolo aceitou dinheiro. É testemunho eloqüente da absoluta confiança de Paulo na compreensão dos membros da igreja, quanto à relação mútua, e também o reconhecimento do direito de Paulo viver pelo evangelho e viver independentemente. Evidentemente, tal envio de dádivas há muito não acontecia, mas o apóstolo, com infinita delicadeza e tato exemplar, não lhes exprobra qualquer incúria cometida contra ele. Faltava-lhes somente oportunidade (Fp 4.10). Mas o amor e cuidado pelo apóstolo eram tão ardentes e reais como sempre. É provável que os oficiais da igreja ocupavam papel saliente no ministério de auxílio econômico ao apóstolo, como se pode deduzir da menção especial feita por aquele, na dedicatória da carta, dirigida aos bispos e diáconos, o que, em nenhuma das outras epístolas, ocorre de modo semelhante.

O próprio Epafrodito foi também enviado como ajudante do apóstolo em sua prisão, porém, neste mesmo tempo, o mensageiro dos filipenses adoeceu gravemente e quase morreu. Por esse motivo, logo que Deus, apiedando-se de Paulo e de Epafrodito, restaurou a saúde deste, o apóstolo o enviou de volta a seus irmãos de Filipos.

É claro que Epafrodito, a dádiva viva dos filipenses a Paulo, tenha sido portador, além das oferendas a que já aludimos, de uma carta na qual eram focalizados certos problemas da igreja. Por esse motivo, o apóstolo, aproveitando o fato de estar Epafrodito cheio de saudade de sua terra, após restabelecer-se da moléstia que o acometera, fê-lo portador da extensa carta que estamos apreciando, que não é senão a resposta aos seus irmãos de Filipos. Uma corrente de inquietação sobre parte dos convertidos pelo apóstolo foi revelada dada a ansiedade de Paulo em reafirmar aos filipenses sua profunda gratidão. Regozijou-se realmente seu mestre amado naquelas ofertas voluntárias? 

Estaria ele um pouco mais frio do que usualmente ou eles não o estavam compreendendo bem? Paulo, em palavras memoráveis, no entanto, enche suas mentes e seus corações de paz. A outra importante razão que também deu motivo à epístola foi a necessidade de corrigir certas irregularidades da igreja, as quais, provavelmente, foram relatadas na carta que os filipenses enviaram a Paulo. Tais irregularidades poderiam ser mais bem esclarecidas pelo próprio Epafrodito. Possivelmente eram as seguintes:

Pessimismo reinante entre os filipenses por causa da perseguição e as más notícias da prolongada prisão de Paulo.
Divisão na igreja, dada a incompatibilidade pecaminosa de alguns de seus membros. Duas mulheres, em particular, Evódia e Síntique, foram a causa do atrito (Fp 4.2). Não houve em Filipos partidarismos extremados, como em Corinto, mas simplesmente murmurações e discussões de caráter secundário.

Deslealdade, rastejando de seus lugares sombrios, cresceu, em sua ausência, alimentada pelos judeus inimigos de Paulo (Fp 3.2 e Fp 4.8). Isso, entretanto, era apenas em pequena escala e Paulo sentia que uma advertência bastava para restaurar a antiga lealdade.

Quatro das cartas de Paulo foram escritas, conforme nelas está mencionado, quando o apóstolo estava na prisão (Ef 3.1; Ef 6.20; Fp 1.7,13-14; Cl 4.18; Fm 9). A questão surge quanto ao lugar da prisão e se todas foram escritas durante o mesmo aprisionamento. A tradicional resposta é Roma, como sendo a fonte do escrito, o que tem sido contestado primeiro em favor de Cesaréia e por último em favor de Éfeso. O livro de Atos menciona três encarceramentos. Em Filipos (At 16.23), em Cesaréia (At 23.23) e em Roma (At 28.30). A prisão em Filipos foi, obviamente, muito curta para qualquer atividade literária. A objeção contra Cesaréia é do mesmo modo considerável em relação à Epístola aos Filipenses, porque, no momento de escrevê-la, Paulo estava antecipando sua libertação próxima, mas, na prisão em Cesaréia, ele aguardava ansiosamente sua longa viagem a Roma. A teoria a favor de Cesaréia é abandonada quase que unanimamente. Deste modo resta Roma, mas também ela não em possessão do campo. Recentemente, Éfeso tem sido apontada como a fonte das epístolas da prisão e das quatro cartas pode-se afirmar que Filipos, pelo menos, está definitivamente fora da questão.

 A maioria dos que aceitam Roma como o lugar de origem da epístola, crê que ela foi a última do período das epístolas da prisão. Essas, indubitavelmente, podem ser divididas em dois grupos, tanto geográfica quanto teologicamente. Efésios, Colossenses e Filemom tomam o mesmo destino no vale de Licus, na Ásia Menor, enquanto que Filipenses vai localizar-se na Europa. 

Do mesmo modo, essa epístola permanece isolada entre as cartas escritas na prisão, como não tratando da onda de heresias gnósticas que avassalavam as igrejas da Ásia Menor. As três cartas - Efésios, Colossenses e Filemom - foram escritas quase que ao mesmo tempo, enquanto Filipenses vem por si mesma em data posterior. O fato de essa epístola ter sido escrita mais tarde que as demais, pode ser defendido pelo fato de observarmos que:

 a) as comunicações entre Filipos e Roma, subentendidas em (Fp 2.26), devem ter tomado um tempo considerável;

 b) quando Paulo escreveu aos Filipenses, era bem conhecido "em todo o pretório" (isto é, em todo o palácio e em todos os outros lugares). Ele tinha entrado em contacto com muitos soldados e outras pessoas, de modo que o motivo de sua prisão era de conhecimento geral, pelo que muitos se interessavam pelo seu apelo a César (Fp 1.13 e segs.).

A inferência é que a Epístola aos Filipenses deve ter sido escrita pelo término da prisão de Paulo e, deste modo, a data sugerida está entre 61-63 A. D.

AUTORIA E DESTINATÁRIOS

No início da carta, Paulo associa Timóteo consigo mesmo, não como autor, mas como companheiro de lutas. Pode ter sido até o amanuense do apóstolo. Os dois nomes também aparecem juntos nas saudações do começo de II Coríntios, Colossenses, 1º e 2º aos Tessalonicenses e Filemom. Paulo intitula-se a si e a seu assistente como servos de Cristo Jesus. No grego a palavra douloi significa literalmente "escravos" e demonstra que os laços espirituais entre Cristo e eles eram de servidão, pois eles se haviam dado a Cristo, como a um Senhor e não se iriam livres (Êx 21.5-6).

Esta carta apresenta três características dignas de nota. É, em primeiro lugar, a mais pessoal de todas as cartas de Paulo. Não há restrições de sua parte. Ele escreve mais como amigo do que como bispo ou eclesiástico. Na saudação inicial dispensa o título "apóstolo" e com plena ciência do lugar que ocupa no coração de seus leitores, ele se chama simplesmente "servo". A passagem intensamente biográfica de (Fp 3.4-14) revela uma profunda experiência espiritual com toda a naturalidade de perfeita confiança. Enquanto dita seus pensamentos, ele parece ter seus amigos a seu lado aí em Filipos.

A carta é também notável pela revelação da pessoa de Cristo. A grande passagem cristológica (Fp 2.5-11) é aí introduzida não com um propósito de ensinamento doutrinal, mas para mostrar aos leitores a graça da humildade. 

O exemplo supremo de pobres de espírito é aquele manifestado na encarnação de Jesus, o Senhor da Glória. Daí a exortação prática de possuir o espírito de Jesus Cristo e amar ao próximo mais que a si mesmo. Que tão grande revelação da pessoa de Nosso Senhor tenha vindo tão espontânea da mente de Paulo convence-nos mais prontamente de sua realidade e verdade.

A terceira característica é a nota dominante de alegria. O nome "alegria" (chara) é encontrado cinco vezes (Fp 1.4,25; Fp 2.2,29; Fp 4.1), enquanto que o verbo "regozijar" (chairein) aparece onze vezes (Fp 1.18 duas vezes, Fp 2.17 duas vezes, Fp 2.18 duas vezes, Fp 2.28; Fp 3.1; Fp 4.4 duas vezes, Fp 4.10). O fato de o apóstolo, em circunstâncias humanamente tão tristes, escrever com um otimismo tão magnífico torna a brilhante exortação muito mais notável. Paulo, realmente, sente-se bem acima das circunstâncias e senhor da situação. Ele não estava apenas fazendo um espetáculo e representando sua parte, a fim de que os crentes filipenses pudessem ter um bom exemplo para suas dificuldades peculiares e perseguições pessoais. Era uma alegria "no Senhor". "Regozijai-vos comigo" é um apelo sincero e ressonante. Indica para todos os tempos o dever do otimismo cristão.

AÇÃO DE GRAÇAS E PETIÇÃO PELA IGREJA DE FILIPOS

Uma predominante feição característica da vida do apóstolo é a ação de graças. Constantemente, em cada carta, com exceção da Epístola aos Gálatas, ele infunde no coração dos convertidos o sentimento de gratidão a Deus (Cl 1.12). Cada oração é feita com esse espírito. Aqui nos vers. 3-8 Paulo expressa gratidão a Deus pela amizade (5) que desfrutou com os convertidos em Filipos. Desde o primeiro momento da evangelização da cidade de Filipos até o tempo de seu encarceramento, jamais se quebrou um elo sequer desta amizade.

O gr. koinonia deriva-se da raiz que significa "fazer comum" e tem duas aplicações no Novo Testamento. Significa sociedade, comunhão, ter todas as coisas em comum, como na prática da igreja pentecostal (At 2.42). Como não pode haver comunhão sem que haja um "dar" e um "receber", a palavra também é usada no sentido de "contribuição" (Rm 15.26; 2Co 8.4; 2Co 9.13; Hb 13.16. Cfr. também Fm 6). O uso de Paulo aqui envolve ambos os sentidos, uma vez que rende graças por sua camaradagem pessoal com os filipenses, uma união louvável não só por si mesma como uma real contribuição para o evangelho.

A ação de graças de Paulo é inspirada na lembrança (3), expressa em oração (4), seguida de alegria (4) e robustecida pela convicção de que Deus mesmo fará perfeita Sua obra da graça em suas vidas (6). O apóstolo se sente justificado nesta atitude para com Deus e para com os cristãos em Filipos por duas razões. 

Primeiro, eu vos tenho posto em meu coração (7), uma confissão aberta de amor, interpretada mais adiante, no vers. 8, que significa "meu amor é grande, na verdade, pois é o próprio amor de Cristo amando-vos através de mim", tão íntima é a koinonia entre o apóstolo e seu Salvador. Segundo, todos vós fostes participantes da minha graça, isto é, todos são participantes comigo da graça divina, dada a mim enquanto padeço prisões e estabeleço o evangelho por meu testemunho aqui em Roma e defendo minha fé nas cortes de justiça. A ajuda e simpatia que me estão dando tornam isso manifesto.

Paulo revela que este espírito totalmente impregnado de ação de graças sempre o dominava em todos os exercícios espirituais e o conduzia a uma oração definida. Algumas orações de Paulo nos foram preservadas e se caracterizam por uma adaptabilidade perfeita a cada necessidade agudamente sentida. No caso dos filipenses, ele reconhecia existir um fervente e genuíno emocionalismo, porém, que eles tinham grande necessidade de uma luz compensadora. Ele ora, portanto, não para que se arrefeça o amor dos filipenses, mas para que esse sentimento mais e mais abunde neles, equilibrado, porém, por conhecimento e julgamento ou "discernimento moral" (9). 

Deste modo, o amor não se tornaria um impulso desregrado, mas um princípio orientador, com o fim prático de que eles pudessem distinguir as diferenças existentes entre as várias qualidades morais e, desse modo, escolher a melhor. Para que aproveis as cousas que são excelentes (10). Uma possível alternativa na interpretação é "posta para provar coisas diferentes", com um voto favorável à mais elevada. O resultado de tal amor e de tal luz em combinação seria, inevitavelmente, que os filipenses saberiam o que deveriam ser ou não ser, sinceros e sem escândalo para si mesmos e para os outros (10). Desse modo, aqueles para quem era feita a oração de Paulo, com amor, enriquecidos por sua intercessão, possuiriam três coisas: uma faculdade de crítica (9-10), um caráter sincero (10) e uma vida cheia de fruto de justiça (11). Todos os louváveis benefícios, bem como a conduta cristã dos santos de Filipos, estariam em perfeita harmonia, todos unidos para glória e louvor de Deus. Note-se que o gr. karpos é singular o não plural, "fruto" não frutos. As raízes de uma nova vida em Cristo produzem o único fruto de santidade ou semelhança de Cristo, embora em diferentes formas e padrões humanos (Gl 5.22).

CONCLUSÃO
           
            Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS. 



Ev. José Costa Junior