5 de dezembro de 2018

PRECISAMOS DE VIGILÂNCIA ESPIRITUAL


PRECISAMOS DE VIGILÂNCIA ESPIRITUAL

"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt.26:41).

Texto Base: Mateus 24:45-51

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo das Parábolas de Jesus, estudaremos nesta Aula a respeito da “Vigilância Espiritual”. Visando ilustrar tão grande importância na vida do Seu povo, Jesus aprofunda a necessidade de estarmos preparados para Sua vinda, contando a Parábola dos Dois Servos, narrada em Mateus 24:45-51. A vigilância ensinada por Jesus nesta Parábola retrata como devemos nos comportar no mundo enquanto aguardamos a gloriosa Vinda e a Volta do Senhor. Digo “Vinda”, referindo-se ao Arrebatamento da Igreja; “Volta”, referindo-se à parousia de Cristo, quando Ele retornará, visivelmente, do mesmo local de onde partiu para o Céu (Atos 1:10,11). A Vinda de Jesus Cristo é a grande doutrina do povo de Deus. A sua iminência nos estimula a ter uma vida santa, não dissoluta e sóbria. Esta esperança nos traz disposição para viver uma vida sóbria e santa. Aguardemos a Vinda do nosso Senhor Jesus, vivendo uma vida sóbria e vigilante contra as armadilhas do maligno, da natureza carnal, do pecado e das tentações. O Senhor há de vir à hora em que não pensamos (Mt.24:44) e nos pedirá conta de todas as nossas ações.

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS DOIS SERVOS

Uma das consequências mais imediatas de uma vida de negligência com relação à vinda do Senhor é o descuido com relação à santificação. O próprio Jesus nos ensinou isto ao narrar a Parábola dos dois Servos. Ao contar esta Parábola, Cristo falava a respeito da Sua volta à Terra. Antes, tinha contado aos discípulos a respeito dos vários sinais que apareceriam naquela ocasião. Notou as condições morais que existiriam, e declarou que formariam um paralelo com aquelas condições dos dias de Noé (Mt.24:37-39). Falou da salvação e preservação dos justos, conforme eram prefiguradas por Noé e sua família, e da destruição dos ímpios no julgamento através do dilúvio. Falou em uma pessoa ser levada, e outra, deixada. Falou do pai de família que, se soubesse em que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Estava demonstrando que, assim como o ladrão chega no horário mais imprevisível, assim Cristo pegará muitos desprevenidos na Sua vinda. Era uma advertência para as pessoas ficarem prontas, porque não sabiam em que hora Ele viria (Mt.24:42) – “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor”.

Em seguida, Jesus lhes contou a Parábola do Servo Fiel e do Mau Servo (Mt.24:45-51). A Parábola é contada tendo como base uma comparação entre o comportamento destes dois servos. Um servo manifesta seu verdadeiro caráter pelo seu comportamento enquanto espera a volta do Senhor. Mas nem todos os que professam ser servos de Cristo são servos genuínos.

1. O Servo bom e fiel. É aquele que é “achado servindo assim” (Mt.24:46), ou seja, cuidando do serviço do Senhor com zelo, tendo plena consciência de que ele pode voltar a qualquer momento. O tal será honrado com grande responsabilidade no Reino. O Senhor lhe confiará todos os seus bens. Na Parábola em comento, a casa referida é a casa de Deus, e os membros da família são o Seu povo. O Senhor quer que seu povo seja alimentado com a Palavra de Deus em tempo hábil. A Palavra é essencial.

Muitos pastores, hoje, ao invés de ensinarem as Escrituras, pregam reforma social, filosofia, politica, tudo, menos a Palavra de Deus. O servo que é fiel em toda a sua casa receberá a bênção do Senhor. Sim, ser-lhe-á dada uma rica recompensa. A ele serão confiados todos os bens do seu Senhor.

A lição desta Parábola é a fidelidade. A recompensa da fidelidade é a promoção a um serviço numa esfera mais alta. Nosso serviço a Deus não termina com nossa vida aqui na Terra. Continua no mundo porvir. Deus tem um plano glorioso para aqueles que são fiéis no Seu serviço; envolverá Seu grande programa de toda a eternidade futura. Entretanto, ser um servo fiel não é fácil aqui neste mundo. Enquanto estamos aqui, muitos servos do Senhor selaram e estão selando com o seu sangue a sua fidelidade a Cristo. A Bíblia diz que todo aquele que quiser viver piedosamente em Cristo será perseguido (2Tm.3:12). Paulo diz: "A vós foi dado o privilégio não apenas de crer em Cristo, mas também de sofrer por ele" (Fp.1:29). Mas, aqueles que forem fiéis, serão recebidos pelo Senhor com honras.

"Bom está servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu senhor" (Mt.25:23).

2. O mau Servo. Na Parábola, o cenário muda para outro homem, que Jesus menciona como “mau servo”. Não se diz que ele era um estranho, nem que estava lá fora; ele estava na “casa do seu senhor”, junto com outros servos, mas, não era apenas um servo comum. O que caracterizava o “mau servo” era a certeza de que "o senhor tarde viria" e, por causa disto, passara a espancar os conservos, a comer e a beber com os temulentos, isto é, com os beberrões, com pessoas que se embriagam, que não têm uma conduta aprovada diante de Deus, ou seja, que se mistura com os pecadores, com os desregrados e os dominados com os vícios.

O fato de “espancar os seus conservos” denota que exercia uma liderança sobre os outros, e abusava do seu poder. Não era um servo inocente, portanto. Tinha consciência de que era um servo e de que tinha um senhor. Sabia que seu senhor havia partido para um local distante, mas, que voltaria. Ele era servo, porém, era um mau servo.

Esse “mau servo” é o ministro espúrio do Evangelho, que professa a fé cristã, porém, de forma nominal; ele arroga a si mesmo o nome de Cristo, mas é hipócrita; professa crer nas Escrituras e nos seus ensinos, mas realmente os nega; entre outras coisas, é cético quanto à volta de Cristo.

Na Parábola, o “mau servo” cometeu um erro grande de cálculo. Ele disse: “... o meu senhor tarde virá”. Ele sabia que o senhor viria, porém, pensava que demoraria. Mas, Jesus adverte fortemente: “virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe” (Mt.24:50). Jesus adverte que a negligência, ou o erro de cálculo, não justifica o erro de quem tem a obrigação de vigiar, aguardando a volta de seu senhor - “e separa-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt.24:51). É claro que esta advertência se destina, hoje, a cada um de nós, a fim de que não venhamos a cometer o erro daquele mau servo.

Não basta crer que o Senhor Jesus virá, é preciso estar preparado para Sua Vinda, quer Ele venha à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, ou pela manhã - “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor” (Mt.24:42).

O “mau servo” sabia que o seu senhor viria, porém, não pensava que seria hoje o dia da sua vinda. Não basta saber que Jesus virá, é preciso viver cada dia como se fosse o Dia da Sua Vinda. Estarás tu vigiando, quando Jesus vier?

3. O destino escatológico. O “mau servo” pode ter pensado que o seu senhor estaria fora durante um longo período, e que não viria tão cedo, mas, foi surpreendido com a sua volta num dia em que o não esperava e à hora que ele não sabia. Este é um ensinamento vital para todos os servos de Deus que aguardam a vinda do Senhor a qualquer momento. Este será um evento repentino e sem aviso prévio, e o mau servo será surpreendido no ato.

O julgamento do Senhor contra o mau servo será extremamente severo. Ainda pior do que o horrível castigo será o destino eterno do referido servo: “e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt.24:51). Ele será designado a um lugar onde “haverá pranto e ranger de dentes” (referência ao inferno).

Note que ao descrever o castigo reservado para o mau servo, o Senhor Jesus abandonou a linguagem parabólica ao falar, literalmente, do destino final dos ímpios, onde "haverá pranto e ranger de dentes" (Mt.24:51). Certamente, um destino muito tenebroso. O salmista foi enfático a respeito do destino final dos ímpios: “os ímpios serão lançados no inferno e todas as nações que se esquecem de Deus” (Sl.9:17).

O Senhor da Parábola requer dos servos o cumprimento fiel da tarefa que lhes foi confiada. O servo bom e fiel se manteve ocupado, procurando sempre cumprir com fidelidade e prudência as tarefas que lhe foi confiado pelo seu senhor; desta forma, ele esteve sempre preparado para o retorno do seu senhor. Por outro lado, o mau servo foi irresponsável, imprudente, e abusou da posição de mordomo que o seu senhor lhe confiou, mostrando ser indigno dela. O seu castigo foi severo e tenebroso. Jesus deixa claro que este não é mero castigo terreno, mas de julgamento eterno. Por que ele usou de sua liberdade para o mal e por causa de suas escolhas erradas, ele passará toda a eternidade em terríveis sofrimentos: “ali haverá pranto e ranger de dentes”. Conscientizemo-nos, pois, que o julgamento futuro de Deus é tão certo quanto a vinda de Jesus e Sua volta à Terra. Creia nisto!

II. UM CHAMADO À VIGILÂNCIA

O destaque à vigilância, nesta Parábola, se manifesta como sendo o exercício correto da mordomia, ou seja, o homem vigilante pratica a administração responsável do que recebeu do seu senhor, sabendo que está lidando com o que não é seu e que brevemente terá de prestar contas. O mesmo princípio é rememorado pelo apóstolo Paulo, quando em 1Coríntios 4:1,2 diz: "que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel". Jesus nos manda estar acordados, alertas, vigilantes, circunspectos (Mt.25:13; Mc.14:34,37,38), isto é, precisamos estar completamente alertas.

1. Vigilância. A primeira atitude para quem quer, realmente, esperar a vinda de Jesus é a vigilância. Uma das consequências mais imediatas de uma vida de negligência com relação à vinda do Senhor é o descuido com relação à santidade. No intuito de demonstrar de que forma devemos nos manter vigilantes, o Senhor Jesus narrou a Parábola dos dois servos, primeiramente contrastando o perfil de ambos ao mostrar que um era bom e o outro mau.

O que caracterizava o mau servo era a certeza de que "o senhor tarde viria" e, por causa disto, passou a espancar os conservos, a comer e a beber com os beberrões, com pessoas que se embriagavam, ou seja, ele se misturava com os pecadores, com os desregrados e os dominados pelos vícios. Portanto, não tinha uma conduta aprovada diante de Deus. O pecado é o fator que nos distancia de Deus (Is.59:2), é o elemento que impedirá que muitos crentes sejam arrebatados naquele Dia (Mt.24:12).
Quando temos a convicção de que Cristo pode voltar a qualquer momento, que os sinais de sua vinda estão se cumprindo a todo instante, passamos a ser muito mais cuidadosos com nossa vida espiritual, temos um ânimo renovado para vivermos em santificação e para estarmos preparados para ouvir a última trombeta.

Por várias vezes, a Palavra de Deus nos aconselha a conservarmos uma vida de comunhão com Deus, uma vida de santidade e de obediência aos mandamentos do Senhor, senão vejamos:

·         Em Hb.3:6 é dito que somente aqueles que conservam firmes a confiança e a glória da esperança até o fim podem dizer que são a casa de Deus, que são templo do Espírito Santo, ou seja, que pertencem ao corpo de Cristo e, por isso, serão arrebatados.

·         Em 1Ts.5:23 é dito que o crente tem de manter conservado irrepreensível todo o seu ser (espírito, alma e corpo) para a vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a mostrar, portanto, que a conservação de nosso ser debaixo da potente mão de Deus é indispensável para que sejamos arrebatados.


·         Em Jd.1 os crentes são chamados de queridos em Deus Pai e conservados por Jesus Cristo, a indicar que somente aquele que se mantém em comunhão com o Senhor Jesus, que se submete a seu senhorio, como “vara ligada na videira”, será arrebatado no Dia da vinda do Senhor e, por isso, o mesmo Judas aconselha o povo de Deus a se conservar no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna (Jd.21).

·         Paulo, ao término de sua caminhada da fé, fez uma das mais lindas declarações, demonstrando que era uma pessoa vigilante. Ele disse que havia "combatido o bom combate, acabado a carreira e guardado a fé "(2Tm.4:7). Nestas três expressões apostólicas, nós notamos que Paulo tinha consciência de que a sua vida, desde o momento de sua conversão, tornara-se um combate entre a sua nova natureza e o velho homem, que ele mantinha constantemente crucificado com Cristo (Gl.2:20). Esta consciência é fruto de uma vida de vigilância. Quando sabemos que faz parte da vida de cada crente esta batalha segundo a qual temos de lutar contra as portas do inferno (Mt.16:18), contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:12), contra a nossa natureza carnal (Rm.7:23-25), passamos a tomar cuidado, a não dar ocasião ao pecado, andando segundo o espírito (Rm.8:1).

2. Ninguém sabe o Dia. Por que devemos vigiar? Porque não sabemos a data da Segunda Vinda de Cristo. Jesus exortou os discípulos da seguinte forma: “vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor” (Mt.24:42). Por isso, devemos ter uma conduta ilibada em nosso viver diário, para não sermos pegue de surpresa na volta do Senhor. Veja o que diz o texto sagrado:
“Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt.24:44).

“Para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo” (Mc 13:36).

“Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios”(1Ts. 5:6).

“E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não sejamos confundidos por ele na sua vinda” (1João 2:28).

Portanto, assim como os servos da Parábola em mote não sabiam o momento certo do senhor deles voltar, ninguém sabe quando o nosso Jesus Cristo virá (Mt.24.36). Como não sabemos quando Jesus haverá de vir, devemos estar sempre preparados (Mt.24:44), pois estar preparado a qualquer momento para a vinda de Cristo é parte da responsabilidade básica de todo servo fiel (Mt.24:46).

A respeito de estarem na igreja, mas são infiéis ao Senhor e não creem que Ele pode vir agora, é impossível estarem vigilantes e preparados para a volta inesperada de Cristo. Qualquer crente professo que vive em pecado, julgando que Jesus tardará a vir, tornar-se-á como o servo mau da Parábola. Ele não percebe o risco da vinda do Senhor pegá-lo de surpresa.

Não podemos nos esquecer de que, assim como retratado pelo Senhor Jesus Cristo na Parábola, o "Dia do Senhor virá como o ladrão de noite" (1Ts.5:2).

·         O ladrão vem quando não é esperado - “mas considerai isto: Se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa”(Mt.24:43). Só o ladrão sabe quando ele vai agir; nós não sabemos. O ladrão não manda aviso prévio, não marca o dia e nem a hora. Quem não quiser ser surpreendido, tem que vigiar. Paulo, contudo, disse: “Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão” (1Ts.5:4). Eu e você sabemos que Jesus virá, e virá “como ladrão”. Resta-nos, portanto, esperar, e vigiar, para não sermos surpreendidos.

·         O ladrão age rapidamente. Ladrão que se preza não demora no local do crime. Planeja o que vai fazer e o faz no menor tempo possível. A vinda de Jesus será, portanto, repentina - “Num momento, num abrir e fechar de olhos...” (1Co.15:52), ou como um relâmpago (Mt.24:27). O Arrebatamento será tão rápido que não haverá tempo para ninguém se preparar. Resta-nos, portanto, estarmos preparados.

·         O ladrão só leva coisas que tem valor. Aquele cesto cheio de lixo, aquele monte de roupa suja e velha, aquele guarda-roupa grande e cheio de cupim, o ladrão não se interessa; ele não procura volume, coisas grandes e imprestáveis; ladrão procura e leva objetos valiosos, joias, dinheiro. Para o ladrão não basta ser grande, é preciso ter valor. Sabemos que Jesus virá, como vem o ladrão, então, Ele só levará coisas que tenham valor para Deus. Ele vem buscar e levará aquela “Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”(Ef.5:27). Ele vem buscar e levará “um povo seu especial, zeloso de boas obras”(Tito 2:14).

Ele vem buscar e levará homens e mulheres de muito valor para Deus, que não foram resgatados “com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, mas com o precioso sangue de Cristo...”(1Pd.1:18-19), verdadeiras joias, de muito valor para Deus. Assim, se você é um guarda-roupa grande com as portas estouradas e corroído pelos cupins, fique tranquilo, você não corre o risco de ser levado, porque o Senhor virá como vem o ladrão.

Portanto, conscientizemo-nos que Jesus virá, e virá como vem o ladrão. Ir com Ele, ou ficar para contar os prejuízos, é uma escolha nossa. Pense nisso!

III. VIVENDO COM DISCERNIMENTO

“Porém, se aquele mau servo disser consigo: o meu Senhor tarde virá, e começar a espancar os seus conservos, e a comer, e a beber, com os bêbados, virá o senhor daquele servo num dia em que ele o não espera e à hora em que ele não sabe, e separa-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”(Mt.24:48-51).

Todo ser humano que passa nesta vida está sujeito às investidas de Satanás; desde que ele conseguiu uma vitória sobre Adão, a porta se abriu e o homem tornou-se vulnerável. Não há mente humana que não esteja sujeita a insinuações malignas, por mais bem intencionada que seja. Também não há lugar, por consagrado que seja, que esteja livre de ser perturbada pelo maligno. Exemplo: Jesus no seu retiro espiritual no deserto. Mesmo o crente espiritual pode ser atacado pelos dardos inflamados do maligno. Exemplo típico é o de Pedro, que logo após ter sido usado pelo Espírito Santo, foi insinuado pelo próprio diabo (Mt.16:17,22,23). Por isso, Jesus nos advertiu da necessidade de vigiarmos, além de orarmos, e que toda profecia deve ser julgada, por mais espiritual que seja o profeta.

1. Vida dissoluta. Mateus 24:49 mostra que o “mau servo” se entregou a uma vida dissoluta. O texto diz que ele começou “a espancar os seus conservos, e a comer, e a beber com os bêbados”, porque imaginou que o seu senhor não ia voltar logo. Isso nos faz lembrar o sermão de Jesus, quando Ele falou sobre os dias de Noé. O Senhor disse que, naquela época, as pessoas "comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca" (Mt.24.38). Em outras palavras, as pessoas do tempo de Noé, o pregoeiro da justiça (2Pd.2:5), viviam de forma dissoluta, sem compromisso algum com Deus, e foram surpreendidas pelo juízo divino (Mt.24:38,39).

A impiedade produz perversão. O desprezo do conhecimento de Deus leva o homem a uma vida dissoluta moralmente. O “mau servo” conhecia a verdade, mas não foi dirigido por ela; conhecia a verdade, mas a rejeitou deliberadamente para viver regaladamente em seus pecados e perversões. Como eu já disse, o pecado é o fator que nos distancia de Deus (Is.59:2), é o elemento que impedirá que muitos crentes sejam arrebatados naquele Dia (Mt.24:12).

O “mau servo” dizia consigo mesmo: “o meu Senhor tarde virá”. Esta foi a chave da derrota dele. Ele duvidava da verdade da volta do seu senhor. Tinha muitas explicações falsas que achava satisfatórias quanto ao significado das palavras do senhor a respeito de sua volta. Esta cosmovisão do “mau servo” é bastante similar à de muitos que cristãos dizem ser, atualmente. Discutem fortemente contra aqueles que creem literalmente na advertência do Senhor: “Virá o Filho do homem em hora que não esperais”.

Abandonar a verdade da vinda iminente do Senhor resulta em apostasia. Pouco a pouco, o “mau servo” vai se afastando da fé. Vive uma vida dissoluta, comendo e bebendo com os ébrios. Pode até mesmo ficar escravo dos vícios dos ímpios. Essas coisas levam a pecados adicionais, até que ele complete o quadro contra o qual o Senhor advertira. A negação da verdade da segunda Vinda de Cristo resulta, paulatinamente, na corrupção da doutrina e da prática. O que acabará acontecendo com esse “mau servo”? O texto sagado exorta que o Senhor virá em dia que não é esperado, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; em outras palavras, está perdido para sempre no inferno.
A Parábola termina com o terrível despertamento do servo mau, e com seu remorso infrutífero. A sua vida dissoluta e de pessoas que se comportam como ele, terão como destino um lugar onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt.24:51).

2. Vida santa. O servo fiel deve estar em comunhão constante com o Senhor, em santidade, a fim de que tenha condições de discernir espiritualmente o momento em que estar vivendo e se preparar convenientemente para não ser apanhado de surpresa pela vinda do Senhor. Precisamos viver uma vida com discernimento, sabendo separar aquilo que, como santos e filhos de Deus, convém, ou não, fazer (1Co.6:12;10:23). Precisamos nos lembrar sempre de que, sem santificação, "ninguém verá o Senhor" (Hb.12:14). Devemos ter isso muito claro em nossos corações, lembrando também que o Senhor Jesus Cristo pode voltar a qualquer momento (Mt.24:42). O juízo divino não demora e somente aqueles que estiverem atentos, aguardando o Senhor, serão poupados do “Dia do Senhor”, da ira divina que se abaterá sobre a Terra.

3. Administrando os bens. Jesus contou a Parábola do Servo fiel e do Servo mau para que os ouvintes, e todos nós, optássemos em seguir o exemplo do servo fiel, evitando o trágico fim dos hipócritas (Mt.24:51). Há pessoas que estão se conduzindo de modo libertino e fazendo mau uso dos “bens” que o Senhor deixou em suas mãos. Comportam-se como o “mau servo”. Correm o risco de serem pegos de surpresa e acabarem lançados nas “trevas exteriores”, ou seja, no “Lago de fogo e enxofre”, que é o inferno propriamente dito, onde haverá choro e ranger de dentes.

A Bíblia nos chama de despenseiros de Deus e diz que devemos ser "bons" (1Pd.4:10), ou seja, eficientes e dedicados. A expressão “despenseiro” indica o administrador da casa, o oikonomos. Cabia a esse administrador a distribuição de mantimentos e a divisão dos trabalhos para os demais servos. Mesmo tendo tal responsabilidade, tinha a consciência de que era um servo, um empregado.
O apóstolo Paulo também falou sobre este assunto dizendo ser necessário que "os homens nos considerem como ministros", ou seja, servos ”e despenseiros", isto é, administradores daquilo que Cristo coloca sob nossa responsabilidade, requerendo apenas que cada um seja encontrado fiel (1Co.4:1,2).

Se, no sentido bíblico, despenseiro é aquele que administra bens alheios, então, o detentor de um Dom espiritual ou ministerial é um despenseiro de Deus. É válido ressaltar que os Dons de Deus não são dados em forma de presentes, mas, como instrumentos de trabalho. Todo servo, por mais simples que seja, recebendo um instrumento de trabalho de seu senhor e relacionado com o serviço que faz, pode saber qual o objetivo da entrega daquele instrumento: é para ser usado no serviço de seu senhor. Assim, ele será infiel se fizer como fez aquele servo que recebeu um talento – “Mas o que recebeu um talento foi, e cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor”(Mt.25:18). No dia do acerto de contas foi chamado de inútil, e condenado – “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes”(Mt.25:30).

Assim, aquele que recebe um Dom espiritual ou ministerial tem o dever de trabalhar com ele tendo como objetivo a edificação, ou o desenvolvimento do “rebanho” do Senhor no seu todo. Será infiel se usar o Dom que recebeu em beneficio de seus interesses pessoais, e particular. O apóstolo Pedro nos exorta: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”(1Pd.4:10).

CONCLUSÃO

Que tipo de servo parecemos ser? O bom ou o mau? O servo bom é aquele que faz o serviço com prudência, consciência e amor pelo trabalho. O mau servo é o que dissimula no trabalho; na primeira oportunidade usa de engano e injustiça. Este servo acredita piamente que seu senhor não voltará para requerer prestação contas do que lhe foi dado. Muitos, hoje, dos que cristãos dizem ser correm o risco de viver o que se denomina de "niilismo escatológico" - a ideia de que não haverá juízo nem prestação de contas dos atos e pensamentos que produzimos em nossos dias. Perder a crença de que um dia prestaremos contas a Deus de tudo que fazemos aqui, e a esperança de viver com Cristo eternamente é, invariavelmente, perder a noção e a necessidade de santidade, de disciplina e de fidelidade.
“De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm.14:12)

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Gordon Lindsay. A vida e os ensinos de Cristo. Graça editorial.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. Vinda de Jesus e a Vigilância do crente. PortalEBD_2005.

21 de novembro de 2018

ENCONTRANDO NOSSO PRÓXIMO


ENCONTRANDO NOSSO PRÓXIMO

Texto Base: Lucas 10:25-37

"E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças e amar o próximo como a si mesmo é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios" (Mc.12:33).

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo das Parábolas de Jesus, trataremos nesta Aula da Parábola do Bom Samaritano. Esta é uma das Parábolas mais belas, mais profundas e mais intrigantes contadas por Jesus. Só aparece no Evangelho de Lucas. Na Aula passada aprendemos sobre o perdão ao próximo, e agora Jesus ensina quem é o próximo. Jesus quis dar uma lição especial aos judeus, principalmente ao intérprete da Lei que o inquiriu. Amar o próximo já era um mandamento compreendido há muito pelos rabinos, entretanto, a novidade é que o próximo, objeto desse amor, poderia ser alguém com crenças diferentes, costumes distintos e valores completamente opostos ao do judeu.

Na Parábola, a imagem de um samaritano (acompanhado de um adjetivo contraditório "bom", pois para o judeu o samaritano não era bom por natureza) acolhendo um judeu é muito ousada para qualquer israelita da época. O nosso Senhor é claro em dizer que o próximo do samaritano é aquele judeu necessitado; o próximo do judeu é o samaritano necessitado; enfim, o próximo é qualquer pessoa que esteja necessitando de nossa ajuda, independente da religião, da etnia, dos valores que elas portam. Jamais podemos perder de vista que somos os portadores da compaixão de Jesus para com todos os homens. Enfatizar essa verdade deve ser nosso maior objetivo nesta Aula.

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

Jesus contou a Parábola do Bom Samaritano como resposta a uma pergunta feita por certo doutor da Lei. Antes de tratarmos a Parábola, vamos analisar alguns destaques com relação a esse intérprete da Lei de Moisés.

1. O Doutor da Lei (Lc.10:25-28). Esse homem, perito nos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, desejou testar a sabedoria de Jesus. Ele não buscava informação, mas queria ganhar uma vantagem sobre Jesus ou esperava envergonhar Jesus. Na verdade, esse perito tentou enganar a Jesus, testando-o ao máximo.

25. E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

26. E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?

27. E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.
28. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás.

O texto nos mostra que o doutor queria apanhar Jesus no contrapé e se tornou prisioneiro no cipoal de sua própria armadilha. Jesus virou a mesa, e o escriba que tentou pegar Jesus com as minúcias da Lei é capturado pela responsabilidade da graça. O doutor queria manter a discussão em nível complexo e filosófico, mas Jesus o leva para o campo pratico do amor e da ação.

Tratando de um especialista na Lei, a armadilha era para descobrir se Jesus era fiel às Escrituras e se observava os 613 mandamentos que o judaísmo prescrevia. Talvez ele tenha pensado que o Senhor repudiava a Lei de Moisés.

a) Sua teologia equivocada (Lc.10:25). Para esse doutor, Jesus era somente um ensinador, e a vida eterna era algo que ele poderia ganhar ou merecer. Ele fez uma pergunta interessante, a qual revela o seu equívoco teológico: “...Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Na mente desse doutor, a vida eterna era uma conquista das obras, e não uma oferta da graça. A pergunta presume que ele tinha de fazer algo para receber a vida depois da morte. O pensamento dele expressa uma salvação pelas obras em vez de ser pela graça divina. Para ele, a salvação era uma questão de merecimento humano, e não uma dádiva divina.

b) Uma pergunta perscrutadora (Lc.10:26). Se o referido doutor tivesse sido humilde e penitente, o Senhor teria respondido mais diretamente. Nas circunstâncias, Jesus dirigiu sua atenção à Lei. Jesus poderia ter enfatizado ao doutor da lei que a vida eterna é um dom de Deus, mas ele não tenta corrigir o pensamento do doutor da lei. Ele sonda a compreensão que esse perito tinha da Lei, perguntando: “que está escrito na lei? Como interpretas?”. Jesus usou, aqui, o método socrático, que consistia em responder as perguntas que lhe eram feitas com outras perguntas.

Com esta pergunta, Jesus levou o doutor da Lei a dar exatamente a resposta que Ele queria ouvir. Jesus respondeu perguntando sobre a Lei de Moisés. Já que o homem era interprete da Lei e queria pôr Jesus à prova acerca da vida eterna, Jesus devolve-lhe a pergunta, remetendo-o à Lei, para deixar claro que, pelo padrão da Lei, é impossível ao homem ser salvo, uma vez que a Lei exige uma perfeita relação do homem com Deus e com o próximo. A Lei exige perfeição absoluta e nenhum homem é capaz de atender às demandas da Lei.

c) Uma resposta comprometedora (Lc.10:27). Esse doutor da Lei, que queria ouvir de Jesus uma resposta fora da Lei, porque o seu intuito era provar a Jesus, por fim respondeu a sua própria pergunta. 

Ele respondeu unindo os mandamentos de amar Deus de todo o coração (Dt.6:5) e amar o próximo como a si mesmo (Lv.19:18). Em suma, era isso que a Lei exigia, conforme explicou Jesus a outro doutor da Lei (cf.Mt.22:37-39).

“E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”.
O intérprete conhecia a letra da Lei, mas não sabia interpretá-la. Sua resposta revela que ele não conhecia o propósito da Lei, não conhecia a si mesmo nem conhecia os fundamentos da salvação.

Com um só verbo, com uma só ação, era possível obedecer aos dois mandamentos. Isso mostrava que Deus e o próximo são como as duas faces da mesma moeda do amor. O amor a Deus é o elemento interno que se vê na prática externa do amor ao próximo. O amor a Deus exige total devoção (coração, alma, força, entendimento); e o amor ao próximo, total identificação (como a si mesmo).
Jesus concordou com a resposta do seu inquiridor e confirmou que a vida eterna, depois da fé e do arrependimento, se encontra na experiência e na prática do amor (Lc.10:28) - “E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverá”.

Ao mesmo tempo em que Jesus afirmou que se houvesse obediência a esses dois mandamentos haveria vida, também mostrou que sem a nova vida isso não seria possível. Só conseguiremos amar a Deus e ao próximo quando deixarmos a vida divina, a vida do Espirito Santo, se manifestar em nós e através de nós.

d) O subterfugio do doutor da Lei (Lc.10:29). Percebendo que tinha sido apanhado pelas cordas de sua própria astúcia, o doutor da Lei tenta uma evasiva - “Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?”.

Ele tentou Jesus primeiramente com uma pergunta capciosa e agora tenta se esquivar com uma pergunta evasiva. Essa questão era muito discutida naquele tempo e ainda hoje está presente em nossas mentes. Afinal, quem é o meu próximo? Jesus não discutiu a teoria sobre o próximo; em vez disso, contou a Parábola do Bom Samaritano e novamente devolveu a pergunta ao interprete da Lei.

2. A Parábola do Bom Samaritano (Lc.10:29-35). Jesus contou a história do Bom Samaritano para colocar os valores do referido doutor da Lei de cabeça para baixo. Ele reprovou as atitudes dos religiosos (sacerdote e levita) e exaltou a atitude do rejeitado pelos judeus (samaritano), evidenciando que temos de considerar toda e qualquer pessoa como nosso próximo, independentemente de qualquer posição social, religiosa ou etnia.

A Parábola descreve tudo o que o samaritano fez para salientar que a prática do amor não tem fronteiras. É a necessidade do outro que diz o que precisa ser feito e até que ponto se deve amar. Além disso, o amor quebra todas as fronteiras. O samaritano não perguntou se o ferido era judeu ou não. O próximo é qualquer pessoa que encontramos.

29. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

30. E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

31. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

32. E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.

33. Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.

34. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;

35. E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.

a) Interpretações diversas. A Parábola do Bom Samaritano, ao longo da história, tem sido alvo das mais diversas interpretações. Muitas destas interpretações servem-se do método alegórico para atribuir ao texto alguns objetivos que ele não tem. Entretanto, esta não é a maneira correta de interpretar esta Parábola. Eis um exemplo: “A vítima representa o pecador perdido. O sacerdote e o levita representam a lei e os sacrifícios, ambos incapazes de salvar o pecador. O samaritano é Jesus Cristo, que salva o homem, paga as suas contas e promete voltar. Os dois denários são as duas ordenanças: o batismo e Ceia do Senhor”. É claro que esta linha de interpretação está totalmente equivocada.

Outros entendem que esta Parábola é uma recomendação formal do caminho das obras. Porém, ela é um repudio às obras como meio de salvação. Não é aquilo que fazemos, considerado uma obra meritória, que importa, mas, sim, a atitude de confiarmos em Deus e no que Ele fez por nós. Só amam a Deus e ao próximo aqueles que foram transformados pelo amor de Deus. Esse tipo de amor é nossa resposta ao amor que Deus tem por nós, e não a causa de aceitação de nós.

b) Três modos de viver a vida. Em relação a esta Parábola, verificamos que existem três modos de viver a vida: o modo dos salteadores; o modo dos religiosos (sacerdote e do levita); o modo do samaritano. São três compreensões diferentes que condicionam o nosso ser e o nosso comportamento.

Primeiro: a exploração, o modo de viver dos salteadores (Lc.10:29). A estrada de 27 quilômetros que desce pelo deserto, de Jerusalém para Jericó, tem sido perigosa durante toda a sua história. Essa estrada era um despenhadeiro, no perigoso deserto rochoso da Judeia, um lugar de montes, vales e cavernas. Era conhecida como "caminho sangrento". Essa região era mal afamada por causa de sua insegurança. Segundo a história, os cruzados construíram um pequeno forte na metade do caminho, para inibir os salteadores e proteger os peregrinos. Ainda hoje essa estrada é perigosa.

Jerusalém está situada 800 metros acima do nível do mar, e Jericó, nas proximidades do mar Morto, é a cidade mais baixa do mundo, está 400 metros abaixo do nível do mar. Por ali, precisavam passar as caravanas que subiam e desciam de Jerusalém. Esse caminho passava pelos desfiladeiros do terrível deserto da Judeia. Viajar sozinho era um convite ao desastre. Foi o que aconteceu. Esse homem que desceu de Jerusalém para Jericó caiu nas mãos dos salteadores, que roubaram tudo o que ele tinha, e ainda o machucaram e o deixaram semimorto à beira do caminho. Tudo faz crer que o homem que foi assaltado e quase morto era judeu.
O modo de viver, portanto, dos saltadores é este: "O que é meu, é meu; mas, o que é teu deve ser meu também".

Segundo: a indiferença, o modo de viver dos religiosos (Lc.10:31,32). O sacerdote e o levita eram homens religiosos que cuidavam das coisas do templo e do culto ao Senhor. Eram exemplos de piedade. Mas o medo de se tornarem cerimonialmente impuros ou o temor de serem atacados pelos mesmos salteadores levou-os a passarem de largo e a revelarem total indiferença para com o homem ferido. Eles não somente deixaram de ajudar, mas foram para o outro lado da estrada, abandonando o homem no seu sofrimento e na sua necessidade.

Muitas vezes nos esquivamos daqueles que precisam de ajuda porque achamos que não vale a pena gastar nosso tempo, energia, disposição com eles. No fundo, não queremos nos envolver porque pensamos: “cada um por si, Deus por todos, e o diabo que carregue o último!”. Este tipo de vida, essencialmente egoísta, é marca registrada da nossa sociedade hodierna. Precisamos lembrar da pergunta de Jesus: “Mas se vocês amam apenas o que vos amam que recompensa terão?” (Mt.5:46).
O modo de viver, portanto, dos religiosos é este: "O que é meu, é meu; o que é teu, é teu".

Terceiro: a misericórdia, o modo de viver do Samaritano (Lc.10:33-35). Jesus mais uma vez combate a postura dos escribas e fariseus, mostrando que aqueles a quem se consideravam justos (sacerdote e levita) são culpados e aqueles a que se consideravam indignos (samaritano) despontam como os heróis.

Esse samaritano, mesmo sendo odiado pelos judeus, interrompe a sua viagem, aproxima-se da vítima, aplica óleo e vinho nas feridas do semimorto, tira-o do lugar de perigo, leva-o a uma hospedaria segura e ainda paga o seu tratamento. Isto é o que chamamos de misericórdia.

Misericórdia é lançar o coração na miséria do outro e estar pronto em qualquer tempo para aliviar a sua dor. A palavra hebraica para misericórdia é chesed: “é a capacidade de entrar em outra pessoa até que praticamente podemos ver com os seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração.

Misericórdia é ver uma pessoa sem alimento e lhe dar comida; é ver uma pessoa solitária e lhe fazer companhia; é atender às necessidades e não apenas senti-las; é mais do que sentir piedade por alguém.

Para os religiosos (sacerdote e levita), era um incômodo a ser evitado, mas, para o Samaritano, era alguém que necessitava de amor e de ajuda, de modo que ele lhe ofereceu cuidado.
O modo de viver, portanto, do Samaritano é: "o que é teu, é teu; mas, o que é meu pode ser teu também".

As relações entre as pessoas são governadas por um desses três modos de ser e de viver. Resta-nos saber qual deles nos encaixamos, lembrando que o Evangelho está totalmente do lado do bom samaritano.

II. COMPAIXÃO E CARIDADE SÃO INTRÍNSECAS À FÉ SALVADORA

A compaixão e a caridade sempre foram virtudes que os cristãos herdaram de nosso Senhor, um ensinamento bem arraigado nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, o Pentateuco. Reconhecer isso é afirmar que tais virtudes estão diretamente ligadas ao testemunho de uma fé salvadora, como nos diz Tiago:

“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg.2:14-17).

Na Parábola em comento, o sacerdote e o levita viram o homem caído e se desviaram, “passando de largo”. Mas, o Samaritano, inimigo tradicional dos judeus, se aproximou, viu e se encheu de compaixão, ou seja, “sofreu junto” com o homem ferido. Ali mesmo providenciou os primeiros socorros, colocou o ferido no seu jumento e, a pé, seguiu até uma pensão, onde continuou a cuidar dele. No dia seguinte, deu duas moedas (salário de dois dias) ao dono da pensão e comprometeu-se a pagar o que fosse gasto com o homem ferido. Esse samaritano amava o próximo não apenas de palavra, ele demonstrou isso na prática. Compaixão, caridade, cuidado e amor, para os discípulos de Cristo, não podem ser apenas palavras bonitas, mas atitudes concretas.

E Jesus perguntou ao astuto intérprete da Lei: “Qual dos três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?”(Lc.10:36). Ou seja, quem foi que se tornou próximo dele?

O intérprete da Lei estava preocupado com a fronteira do amor, mas Jesus mostrou que o amor é um centro que irradia ações práticas e não conhece nenhuma fronteira. O intérprete da Lei reconheceu isso e, quando declarou que o próximo foi o que usou de misericórdia, isto é, o que teve compaixão, mostrou muito bem que tornar-se próximo é entrar em sintonia com o outro e sofrer junto com ele; é condoer-se com o sofrimento alheio.

E, no final, Jesus deu uma ordem solene: “Vai e procede tu de igual modo”(Lc.10:37). Em outras palavras, preocupe-se em praticar concretamente o amor sem se preocupar com as teorias sobre o próximo que merece o seu amor.

Você tem amado como amou o samaritano, sem exigir que somente alguns recebam o seu amor? Numa sociedade como a nossa, repleta de excluídos, essa é uma avaliação que necessitamos fazer constantemente diante de Deus.

A compaixão e a caridade são a prova material de que nascemos de novo. Devemos resgatar esse princípio sem qualquer medo de ser mal interpretado, pois compaixão e caridade é resultado do amor que Deus derramou em nossa vida.

III. O NOSSO PRÓXIMO É QUALQUER PESSOA NECESSITADA

Jesus encerra a história do Samaritano com uma pergunta:

“Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc.10:36).

Perceba que Jesus reverte a pergunta inicial do doutor da lei. Este havia perguntado: "Quem é o meu próximo?". Jesus então conta a Parábola e pergunta: "Quem foi o próximo?". Assim, Jesus encurrala o intérprete da lei, levando-o forçosamente a admitir que o samaritano, aquele a quem ele considerava indigno, foi o próximo do homem semimorto. Por preconceito, o doutor não proferiu a palavra “samaritano”; apenas disse: “O que usou de misericórdia para com ele...” (Lc.10:37).

A resposta do preconceituoso doutor da Lei está correta, porque o samaritano é aquele que agiu como próximo. Mostrando compaixão, ele se alinhou com o amor de Deus e ao próximo. Ao contrario do sacerdote e do levita, ele se submeteu ao mandamento de amor que resume toda a Lei. Jesus, então, fecha a questão e diz a ele: “Vai e faze da mesma maneira” (Lc.10:37). A resposta de Jesus envolveu três coisas:

·        Devemos ajudar aos demais, ainda que eles tenham a culpa do que lhes sucedeu.
·        Qualquer pessoa, de qualquer nação, que está em necessidade é nosso próximo.
·        A ajuda ao próximo deve ser prática.

Enfim, quem é o nosso próximo? A história do Bom Samaritano ensina que o próximo é qualquer ser humano. Infelizmente, o individualismo e o egoísmo têm dificultado, e até impedido, gestos de amor ao próximo, até mesmo entre cristãos.

Observe que na Parábola há dois tipos de pecadores: os salteadores que ferem o homem mediante a violência e os religiosos (sacerdote e levita) que ferem o homem mediante a negligência. A Parábola dá a entender que todos eles são culpados. A oportunidade não aproveitada para se fazer o bem torna-se um mal. Está escrito: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado” (Tg.4:17).
Amar o próximo é sentir compaixão por ele, ou seja, sentir a sua dor, como se fosse nossa e, assim, suprir as necessidades imediatas do nosso semelhante, lembrando que ele é tão imagem e semelhança de Deus quanto nós. Este amor supera todo e qualquer preconceito, toda e qualquer barreira, toda e qualquer tradição.

Contudo, amar o próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista material, mas, sobretudo, levar esse alguém a uma vida de comunhão com Deus, a um equilíbrio em todos os aspectos da sua vida. Portanto, o que Jesus disse ao doutor da Lei, ele diz também a nós: “Vai tu e faze o mesmo”.
Se a Parábola do Bom Samaritano fosse compreendia e praticada, removeria o preconceito racial, o ódio e a inveja entre classes, e o mundo seria extraordinariamente maravilhoso para se viver. Pense nisso!

CONCLUSÃO

“Aprendemos com esta Parábola que o amor não aceita limites na definição de quem é o próximo. Enquanto todas as sociedades e seus segmentos sociais acabam levantando barreiras para separá-las das demais pessoas, os discípulos de Cristo devem olhar para os seres humanos com igualdade, pois o próprio Deus não faz acepção de pessoas (At.10:34)”.
Quando amamos o próximo da forma determinada na Palavra de Deus, melhoramos sensivelmente o ambiente em que vivemos.

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 76. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Lucas, Jesus o Homem perfeito.
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com