12 de fevereiro de 2019

Tentação A batalha por nossas escolhas e atitudes


Tentação A batalha por nossas escolhas e atitudes

INTRODUÇÃO

Há certo paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto e os quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no lugar ermo. A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o vitorioso sobre Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e atitudes na jornada de nossa vida espiritual.

I - A TENTAÇÃO

Os termos "tentação" e "tentar" na Bíblia aplicam-se tanto no campo secular como no campo religioso. Vamos analisar o assunto partindo dos significados e sentidos dessas palavras, levando em consideração o contexto das várias passagens bíblicas.

A provocação de Refidim.

O substantivo "tentação" significa literalmente "teste, provação, instigação". Na contenda paradigmática de Refidim, no deserto, temos o significado dessa palavra: "E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?" (Êx 17.7).

O vocábulo hebraico massá significa "tentação", e meribá quer dizer "contenda". Os israelitas estavam testando o próprio Deus. A Septuaginta traduz massá por peirasmós, "tentação", a mesma palavra usada no Novo Testamento grego. O enfoque do termo aqui é sobre a ideia de instigação ou sedução para o pecado (Mt 6.13; 26.41).

A experiência de Massá e Meribá.

Ninguém deve testar a Javé, o Deus de Israel, pois o nosso dever é obedecê-lo (Dt 6.16). O que aconteceu nessa contenda teve a reprovação divina, de modo que serviu como um paradigma daquilo que não se deve fazer (Sl 95.8,9). Testar Deus é questionar sua fidelidade no pacto e duvidar de sua autoridade (Sl 78.41,56). Entendemos que tentar o Criador reflete a nossa descrença nEle, e a Bíblia é contra essa prática (Is 7.12; At 15.10).

Como um teste.

Isso é muito comum no Antigo Testamento (1 Rs 10.1). O exemplo clássico é a passagem do sacrifício de Isaque: "E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão" (Gn 22.1). A finalidade disso é revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6). O hebraico aqui para "tentou" é nissá, que tem o sentido de testar, experimentar, usado para pesquisas científicas hoje em Israel. A Septuaginta traduziu por peirazo, de onde vem o substantivo peirasmós, que aparece no Novo Testamento com a mesma ideia de teste: "e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são" (Ap 2.2). O Novo Testamento emprega o termo também com ideia de tentativa (At 16.7; 24.6).

De onde vem a tentação?
·      Do diabo – o diabo quer nos destruir, levando-nos ao pecado; ele tentou Adão e Eva e eles caíram no pecado
·      De outras pessoas – algumas pessoas nos convidam ou pressionam a fazer o que é errado; isso é tentação
·      De dentro – nossa natureza humana nos convida a pecar diante de algumas situações, porque somos imperfeitos – Tiago 1:14

A Bíblia diz que a tentação nunca vem de Deus. Deus odeia o pecado e nunca convida ninguém a pecar (Tiago 1:13). Ele permite situações em que temos de escolher entre o bem e o mal (provações) mas Ele nunca nos tenta a pecar. Deus nos ajuda a resistir à tentação.
Não é pecado ser tentado. Jesus também foi tentado mas nunca pecou (Hebreus 4:15). Apenas é pecado quando não resistimos à tentação. Mas não devemos tentar outra pessoa ao pecado de propósito. Convidar outra pessoa a pecar é errado.
Como resistir à tentação?
Todos somos tentados. É bom evitar situações de tentação mas não podemos evitar tudo. Por isso, a Bíblia nos mostra como resistir à tentação:
·      Pedindo ajuda a Deus – não estamos sozinhos na luta contra o pecado; na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir a ajuda de Deus para não cair quando somos tentados – Mateus 6:13
·      Com a palavra de Deus – Jesus resistiu ao diabo citando a Bíblia; é importante conhecer as verdades da Bíblia e confiar mais nelas que nos argumentos da tentação
·      Dizendo “Não!” - muitas vezes nem tentamos resistir! Não podemos ficar passivos; quando reconhecemos uma tentação, precisamos rejeitá-la – Tiago 4:7
·      Fugindo – Deus sempre nos dá uma forma de escapar da tentação; às vezes (como no caso da imoralidade sexual) isso significa fugir da situação – 1 Coríntios 10:13

II - A TENTAÇÃO DE JESUS

Após Seu batismo, Jesus foi "levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo" (Lucas 4:1-2). As três tentações de Jesus no deserto foram um esforço de seduzir e transferir a Sua fidelidade de Deus a Satanás. Vemos uma tentação semelhante em Mateus 16:21-23 onde Satanás, através de Pedro, tenta Jesus a renunciar a cruz à qual estava destinado. Lucas 4:13 nos diz que após as tentações no deserto, Satanás "o deixou até ocasião oportuna", o que aparenta indicar que Jesus foi tentado outras vezes por Satanás, embora novos incidentes não sejam registrados. O ponto importante é que, apesar de várias tentações, Ele nunca pecou.

Que Deus tinha um propósito ao permitir que Jesus fosse tentado no deserto é evidente pela declaração "foi levado pelo Espírito ao deserto". Uma finalidade é assegurar-nos de que temos um sumo sacerdote capaz de Se relacionar conosco em todas as nossas debilidades e fraquezas (Hebreus 4:15) porque Ele mesmo foi tentado em todos os pontos nos quais também somos.

A natureza humana do Nosso Senhor permite que Ele compreenda as nossas próprias fraquezas por ter sido submetido à fraqueza também. "Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados" (Hebreus 2:18). A palavra grega traduzida "tentado" aqui significa "pôr à prova". Então, quando somos colocados à prova e testados pelas circunstâncias da vida, podemos ter certeza de que Jesus entende e se solidariza como alguém que sofreu as mesmas provações.



As tentações de Jesus seguem três padrões que são comuns a todos os homens. A primeira tentação diz respeito à concupiscência da carne (Mateus 4:3-4), a qual inclui todos os tipos de desejos físicos. O Nosso Senhor teve fome, e o diabo o tentou a transformar pedras em pão, mas Ele respondeu citando Deuteronômio 8:3.

A segunda tentação foi acerca da soberba da vida (Mateus 4:5-7), e aqui o diabo tentou usar uma passagem da Escritura contra Ele (Salmo 91:11-12), mas novamente o Senhor respondeu com a Escritura em sentido contrário (Deuteronômio 6:16), afirmando que seria errado abusar de Seus próprios poderes.

A terceira tentação foi acerca da concupiscência dos olhos (Mateus 4:8-10), e se algum atalho ao Messias fosse possível, evitar a paixão e crucifixão para as quais Ele originalmente veio seria a forma. O diabo já tinha o controle sobre os reinos do mundo (Efésios 2:2), mas estava pronto a dar tudo a Cristo em troca de Sua lealdade. O mero pensamento quase causa a natureza divina do Senhor a tremer, e Ele responde agressivamente: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’" (Mateus 4:10, Deuteronômio 6:13).

Caímos em muitas tentações porque a nossa carne é naturalmente fraca, mas temos um Deus que não nos deixará ser tentados além do que possamos suportar; Ele proverá uma saída (1 Coríntios 10:13). Podemos, portanto, ser vitoriosos e agradecer ao Senhor pelo livramento da tentação. A experiência de Jesus no deserto nos ajuda a enxergar essas tentações comuns que nos impedem de servir a Deus de forma eficaz.

Além disso, Jesus nos deixa o exemplo de como devemos responder às tentações em nossas próprias vidas -- com as Escrituras. As forças do mal vêm sobre nós com uma miríade de tentações, mas todas têm as mesmas três coisas em sua essência: a concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida (1 João 2:16).

Só podemos reconhecer e combater essas tentações ao saturar os nossos corações e mentes com a verdade. A armadura de um soldado cristão na batalha espiritual inclui apenas uma arma ofensiva, a espada do Espírito, ou seja, a Palavra de Deus (Efésios 6:17). Conhecer a Bíblia intimamente vai colocar a espada em nossas mãos e nos capacitar a ter vitória sobre as tentações.


III – DETALHES SOBRE A TENTAÇÃO

“Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.Tg 1.13-15”

·Verdades sobre a natureza da tentaçăo (Tg 1.13-14)

Inevitável

As principais versões da Bíblia em língua portuguesa indicam que to­dos passarão por tentações (Tg 1.13). A questão não é “se”, mas “quando” vamos ser tentados. Nem uma tradução portuguesa cogita como possibi­lidade, elas afirmam “quando for tentado”. O nosso primeiro desafio em relação à tentação é entender que estamos sujeitos a ela a todo momento. Precisamos prestar atenção continuamente. Ninguém pode dizer que não passa por tentação, pois é naturalmente humana. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana” (cf. 1Co 10.13). “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (cf. 1Co 10.12).
Maligna
A afirmação de que Deus não pode ser tentado pelo mal salienta o caráter bondoso de Deus. A natureza santa de Deus é solidificada no bem, e o mal é incapaz de seduzi-Lo. Habacuque 1.13 revela que a bondade de Deus é inabalável, a ponto de Ele sequer poder olhar o mal. Tiago afirma no versículo 13 que “Deus não pode ser tentado pelo mal”.
Entendamos que, ainda que o diabo tente uma pessoa, ela só cairá se ceder. A tentação surge da cobiça, e isso é inviável para Deus. Ele é o Dono de tudo (cf. Sl 24.1), de forma que não há o que cobiçar. Além disso, o décimo mandamento de Deus diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17), e Deus não pode negar a Si mesmo (cf. 2Tm 2.13). A tentação, sendo o caminho do mal, é totalmente contrária à natureza de Deus.
Humana
Deus não é o responsável pela tentação; Ele não tenta ninguém (Tg 1.13). A tentação tem por objetivo fazer pecar, induzir ao erro. Não lemos na palavra que Deus é o tentador, mas o diabo é assim chamado (cf. Mt 4.3 e 1Ts 3.5).
Esse papel é do diabo, não de Deus. Imaginar que Deus nos induz ao mal é contrariar a natureza divina Dele. Deus é bom (cf. Sl 136.1).
No nosso desejo de nos livrar da culpa do pecado, acabamos cometendo outro erro: atribuir ao diabo todas as nossas culpas. Porém, embora o diabo seja chamado de tentador, a Bíblia atribui o problema à cobiça humana e não à tentação diabólica (Tg 1.14). Nenhum efeito teria a tentação diabólica se não houvesse a cobiça humana, pois, como vimos antes, não nos vem tentação que não seja humana e cada um é tentado pela própria cobiça.
Identificável
Embora o nome de “tentador” seja atribuído ao diabo, vimos que o maior problema da tentação não é o diabo, e sim os nossos desejos. Conforme Douglas J. Moo, em seu comentário sobre o livro de Tiago, a ideia de “atrair e seduzir” é “caçar e pescar”. É preciso atrair o animal para a armadilha, seduzir o peixe com a isca. Lembremo-nos de que o animal vai até a arma­dilha, e o peixe vai até o anzol atraído por uma necessidade legítima de se alimentar. Assim também, alguns desejos nossos têm fundamentos legítimos como o desejo de comer, beber, descansar, mas que podem se tornar pecaminosos se nos atraírem e nos seduzirem.
Moo ainda mostra que a palavra “cobiça”, traduzida algumas vezes como concupiscên­cia, vem do grego epithymia e pode algumas vezes significar um desejo legítimo como em Lucas 22.15 e Filipenses 1.23. Por isso, é importante exercitar o fruto do Espírito (Gl 5.23), que inclui o domínio próprio. Lembre-se de que as piores tentações são aquelas que estão ligadas às necessidades legítimas.
Quais áreas da sua vida você acredita serem inofensivas? Até mesmo as vontades do dia a dia podem ser ciladas para o pecado: namorar; divertir-se; ter dinheiro, amigos; sair; passear; viajar; ser popular. Na maioria das vezes, nós armamos essas ciladas para nós mesmos. Você sabe qual é a natureza de seus desejos, portanto, esteja alerta! Não subestime uma tentação!
·Verdades sobre o caminho da tentaçăo (Tg 1.15)
Escala: pecado
A tentação se encarrega de anunciar, propagar, oferecer, estimular a prática do pecado. A cobiça é a mãe do pecado, ela o concebe e o dá à luz. Muitos alimentam a cobiça pensando que podem suportar a tentação. Assim, acabam por cair na armadilha da cobiça.
Sinônimo de “conceber”, neste contexto, é “consentir”, “permitir”. A partir do momento em que a pessoa consente ou permite a cobiça, estará naturalmente permitindo a entrada do pecado. E o pecado pode ser muito sutil. Se nos entregarmos aos prazeres da comida, poderemos nos tornar glutões; se consentirmos com a bebida alcoólica, poderemos ser domi­nados por ela; se nos deixarmos levar pelo descanso, poderemos nos tornar preguiçosos.
Destino: morte
O objetivo e a consequência final do pecado é sempre a morte. Foi assim desde o início com a serpente no jardim do Éden. Antes mesmo da consumação do pecado, a morte havia sido dada como sentença condenatória de Deus sobre o pecado (cf. Gn 2.17). No dia em que pecaram, Adão e Eva morreram espiritualmente (cf. Rm 5.12), pois foram separados da intimidade com Deus, que é a fonte da vida. A morte física veio depois para confirmar o que já havia ocorrido espiritualmente no ser humano. Pela falta de disciplina (obediência a Deus), ocorre a morte (Pv 5.22-23).
Alternativa: fuga
Precisamos resistir ao diabo, mas devemos fugir das nossas paixões (cf. Tg 4.7; 1Co 6.18; 2Tm 2.22). É muito difícil vencermos sozinhos o nosso próprio instinto. Paulo sentiu isso na pele. Por mais que ele quisesse fazer o bem, realizá-lo estava além de sua capacidade como ser humano (cf. Rm 7.15-25). A razão é que nossa natureza humana foi corrompida pelo pecado, e somente por meio do sacrifício de Jesus podemos ser purificados e deixar de ser escravos do pecado (cf. Rm 6.20,22).
Com Jesus, somos capazes de evitar o pecado, e a melhor forma de fazer isso diante de nossa própria cobiça é fugirmos. A cobiça só tem dois fins: ou é saciada, ou é abandonada. A melhor forma de abandonar a cobiça é afastar-se daquilo que é cobiçado. Ninguém nunca disse que tal atitude seria fácil. Jesus nos diz que existem dois caminhos a seguir: um que leva à vida; outro que leva à morte. O caminho da vida é apertado e difícil de entrar (cf. Mt 7.13-14); para o trilharmos, temos que estar dispostos a negar a nós mesmos (cf. Mt 16.24). Essa é a única rota de fuga da tentação.
O que você tem perdido por causa do pecado: sonhos, amigos, oportunidades, família, minis­tério? Quantas dessas coisas poderiam ter sido salvas se você abrisse mão de alguns desejos egoístas e buscado seguir o que Jesus nos ensinou?
O momento certo para se arrepender e sair de um abismo é antes de cair nele. Antes que seja tarde demais.

Conclusăo

A tentação é um problema provocado por nós e não por Deus. O diabo é o tentador, mas está em nós cair na tentação e pecar. O desafio é reconhecer nossa vulnerabilidade, nossa fraqueza, e vencê-la. Não temos condições de enfrentar a tentação, pois somos fracos diante de nossos próprios desejos. Portanto, a única forma de vencer a tentação é fugir dela.
Mas fugir do que nos atrai exige força espiritual. Por isso precisamos buscar forças no único que foi tentado, mas nunca pecou: Jesus Cristo (cf. Hb 4.15). Alimentemo-nos da pa­lavra de Deus e cuidemos (cf. 1Tm.4.16), pois o mal que o tentador sugerir só terá efeito se nos deixarmos levar por ele!

Por: Pb. Mickel Porto

Referências

Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD

5 de fevereiro de 2019

Que domina a sua Mente


Que domina a sua Mente

TEXTO ÁUREO

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." (Fp 2.5)
VERDADE PRÁTICA

Os substantivos "mente", "sentimento" e "entendimento" pertencem à esfera do intelecto, que permite à pessoa aprender, desejar, pensar e agir.    

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = Filipenses 4.4-9

INTRODUÇÃO

As três mais belas cartas do apóstolo Paulo, dentre as treze, as cartas aos Efésios, aos Filipenses e aos Colossenses se destacam pela lucidez dos ensinamentos doutrinários e pela alegria do Espírito que o fazia superar todas as dificuldades. Acrescente-se a Carta a Filemom às três outras cartas escritas na prisão. Esta carta tinha um caráter bem pessoal com algumas inserções doutrinárias quanto ao trato social com escravos e senhores. Naturalmente, o contexto social e político da época permitia a compra e venda de escravos serviçais. Uma vez que Filemom tornou-se um ardoroso cristão, seu comportamento social mudou no trato com as pessoas. As Cartas são conhecidas como “cartas da prisão” porque foram escritas quando Paulo esteve preso em Roma nos anos 62 e 63 d.C.

SOBRE A EPISTOLAS AOS FILIPENSES

Filipos é o nome da cidade da Macedônia em homenagem a Filipe, pai de Alexandre, o Grande. Lucas descreveu Filipos como a primeira cidade da Macedônia, e sua localização estratégica tornou-a um posto de fronteira militar de Roma, vindo a ser uma das principais rotas entre a Europa e a Asia. De pequena cidade antiga por nome Krenidês, significando lugar de fontes, foi transformada em um ponto estratégico para o Império de Roma (At 20.6) quando Filipe tomou posse da região e dominou a cidade. Filipos, portanto, tornou-se uma distinta colônia romana, e as colônias romanas eram administradas por magistrados, identificados como pretores (At 16.22,35,36,38).

A Macedônia era um território do antigo reino da península balcânica (Balcãs), que tinha limites com a Tessália ao sul e ao este e nordeste com a Trácia. A Macedônia fazia parte dos domínios gregos pelas conquistas militares de Filipe II, todavia, depois que este foi assassinado, seu filho Alexandre III — identificado como Alexandre, o Grande — herdou o domínio grego-macedônico. A partir desse domínio, Alexandre, o Grande, partiu para a conquista da parte ocidental da Asia e do Egito. Porém, com a divisão do império e a sua morte em 323 a.C., a Macedônia tornou-se outra vez um reino separado.

Como Tudo Começou - A mensagem do evangelho chegou a Filipos, na Macedônia, em 51 ou 52 d.C., conforme está registrado em Atos 16.6-40. Paulo e Suas estavam na segunda viagem missionária pela Asia Menor (hoje Turquia), quando, tendo desembarcado no porto de Trôade (ou Troas), Paulo foi surpreendido por uma visão de noite “em que se apresentava um varão da Macedônia e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At 16.9). Paulo não teve dúvida de que era uma visão de Deus e, por isso, partiu para a Macedônia. Desembarcou no porto de Neápolis e viajou para Filipos.

O modo incisivo de Paulo pregar o evangelho e apresentar a Cristo como Salvador e Senhor acabou por provocar a ira dos comerciantes de Filipos mediante um episódio de libertação de uma jovem adivinha que era escrava, cuja adivinhação lhes dava lucro. Paulo percebeu que se tratava de um espírito imundo que envolvia aquela jovem e expulsou o demônio dela. Uma vez liberta daquele espírito, a jovem não tinha mais o poder de adivinhar, o que provocou grande ira contra Paulo e Suas (ou Silvano) (At 16.16). Os senhores da escrava, percebendo que os lucros caíram, acusaram os dois apóstolos de interferirem em seus direitos de propriedade. Por isso, levaram-nos aos magistrados da cidade e os dois foram presos. 

Data e local da autoria. Apesar das dificuldades para se referendar a data e o local da Epístola aos Filipenses, os especialistas em Novo Testamento dizem que a carta foi redigida entre os anos 60 e 63 d.C, provavelmente em Roma. Na ocasião, o apóstolo Paulo estava encarcerado numa prisão, e recebeu a visita de um membro da igreja em Filipos, chamado Epafrodito. Este chegara a ficar gravemente adoentado, “mas Deus se apiedou dele” que, agora recuperado, acabou por levar a mensagem do apóstolo aos filipenses.

AUTORIA E DESTINATÁRIOS

Paulo e Timóteo. O nome de Timóteo aparece juntamente com o de Paulo na introdução da epístola filipense (v.1). Apesar de Timóteo ser apresentado como coautor da carta, a autoria principal pertence ao apóstolo Paulo. Este certamente tratou com Timóteo, seu discípulo, os assuntos expostos na carta. O apóstolo Paulo também não desfrutava de boa saúde, e este fato fazia com que dependesse constantemente da ajuda de um auxiliar na composição de seus escritos (Rm 16.22; 1Co 1.1; Cl 1.1).

Os destinatários da carta: “todos os santos”. Paulo chama os cristãos de Filipos de “santos” (v.1). Isto é, aqueles que foram salvos e separados, por Deus, para viver uma nova vida em Cristo. Este era o tratamento comum dado por Paulo às igrejas (Rm 1.7; 1Co 1.2). Quando o apóstolo dos gentios usa a expressão “em Cristo Jesus”, ele quer ilustrar a relação íntima dos crentes com o Cristo de Deus — semelhante ao recurso usado por Jesus quando da ilustração da “videira e os ramos” (cf. Jo 15.1-7).

Alguns destinatários distintos: “bispos e diáconos”. A distinção entre “bispos e diáconos” expressa a preocupação paulina quanto à liderança espiritual da igreja (v.1). O modelo de liderança adotado pelas igrejas do primeiro século funcionava assim: os “bispos” eram responsáveis pelas necessidades espirituais da igreja local e os “diáconos” pelo serviço à igreja sob a supervisão dos bispos.

O desejo de Paulo pela unidade. Depois de encorajar a igreja em Filipos a perseverar no Evangelho, o apóstolo começa a tratar da unidade dos crentes. Como a Igreja manterá a unidade se os seus membros forem egoístas e contenciosos? Este era o desafio do apóstolo em relação aos filipenses. Para iniciar o argumento em favor da unidade cristã, o apóstolo utiliza vocábulos carregados de sentimentos afetuosos nos dois primeiros versículos (2.1,2). Tais palavras opõem-se radicalmente ao espírito sectário e soberbo que predominava em alguns grupos da congregação de Filipos:

a) Consolação de amor, comunhão no Espírito e entranháveis afetos e compaixões. Cristo é o assunto fundamental dos filipenses. Por isso, a sua experiência deveria consistir na consolação mútua no amor de Deus e na comunhão do Espírito Santo, refletindo a ternura e a compaixão dos crentes entre si (cf. At 2.42ss).

b) Mesmo amor, mesmo ânimo e sentindo uma mesma coisa. Quando o afeto permeia a comunidade, temos condições de viver a unidade do amor no Espírito Santo. O apóstolo Paulo “estimula os filipenses a se amarem uns aos outros, porque todos têm recebido este mesmo amor de Deus” (Comentário Bíblico Pentecostal, p.1290). Consolidada a unidade, a comunhão cristã será refletida em todas as coisas.

SOBRE A MENTE DE CRISTO
I – O QUE É A MENTE
-    O salvo tem de viver, agora, com a mente de Cristo, ou seja, deve agir conforme a vontade do Senhor Jesus.

-   O apóstolo Paulo chama os salvos de “homens espirituais” e afirma que tais pessoas tudo discernem espiritualmente e de ninguém é discernido (I Co.3:15) e a característica destas pessoas é que elas possuem a mente de Cristo (I Co.3:16).

-   De pronto, percebemos que o apóstolo afirma que ter a “mente de Cristo” é ser “espiritual” e isto nos remete, obviamente, ao ensino de Jesus a Nicodemos, onde é dito que para ver e entrar no reino de Deus é necessário antes “nascer de novo” e “nascer da água e do Espírito”, como também que há uma diferença entre os que são “nascidos da carne” e os “nascidos do Espírito” (Jo.3:3,5,6), nascidos estes que são como o vento, que assopra onde quer e ouvimos a sua voz, não sabendo donde vem nem para onde vai (Jo.3:8).

-   Assim sendo, logo verificamos que, para ter a “mente de Cristo”, faz-se necessário nascer de novo, nascer do Espírito e, deste modo, temos já a lição de que, como afirma a Declaração de Fé da CGADB.

-   A salvação em Jesus Cristo não é um mero assentimento intelectual e, sim, um renascimento espiritual [I Pe.1:21] que se dá na vida do pecador arrependido [Ef.2:4-6; Cl.2:13]…” (X,2, p.111).

-   O salvo não é uma pessoa que se conduza pela lógica humana, por um raciocínio oriundo da própria racionalidade que Deus nos deu, mas, sim, alguém que está acessível à “lógica divina”, ao “raciocínio de Deus”, algo que está muito além do que podemos imaginar, pois os pensamentos e caminhos de Deus são muito mais altos que nossos pensamentos e caminhos (Is. 55:8,9), razão pela qual o Senhor Jesus disse ao mestre de Israel Nicodemos que os “nascidos do Espírito” são como o vento, não temos condição de saber donde vem nem para onde vão, não porque sejam eles desorientados, mas porque a orientação que recebem  é do Espírito Santo, que, como Pessoa Divina, está muito além da nossa capacidade intelectual.

-   Por isso, é importante sabermos o que significa “mente” para então saber o que significa ter a mente de Cristo e, como diz o título de nossa lição, o que é viver com a mente de Cristo.

-   “Mente” é a palavra grega “nous” (νους), “…o intelecto, i.e., mente (divina ou humana, em pensamento, sentimento ou vontade); (consequentemente) significando: - mente, entendimento. Substantivo que significa a mente (I) Como a sede das emoções e sentimentos, do modo de pensar e sentir, disposição, inclinação moral, equivalente ao coração (Rm.1:28; 12:2; I Co.1:10; Ef.4:17,23; Cl.2:18; I Tm.6:5; II Tm.3:8; Tt.’:15); firmeza ou presença de espírito (II Ts.2:2); indicando coração, razão, consciência, em oposição aos apetites carnais (Rm.7:23,25). (II) Entendimento, intelecto (Lc.2:45; I Co.14:14,15; Fp.4:7; Ap.13:18). (III) Como metonímia, indicando o que está na mente, pensamento, conselho, propósito, opinião, de Deus ou Cristo (Rm.11:34; I Co.2:16); dos homens (Rm.14:5). (IV) Metaforicamente, sobre coisas: sentido, significado (Ap.17:9)” (Bíblia de Estudo Palavra Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 3563, p.2313).

-    No Antigo Testamento, a palavra “mente” na Versão Almeida Revista e Corrigida é a tradução de três palavras hebraicas. Em Is.26:3, temos a palavra “yetser” (יצר), “uma forma; (figurado) concepção (i.e. propósito): - estrutura, coisa formada, imaginação, mente, obra. Substantivo masculino que significa forma, estrutura, propósito, imaginação. Um dos usos desta palavra era para referir-se a um recipiente de cerâmica moldado por um oleiro (i.e., aquilo que foi formado [Is.29:16]).

-    Outro exemplo de um objeto formado era uma imagem gravada ou esculpida (Hc.2:18). O salmista disse que o homem foi formado do pó (Sl.103:14). Esta palavra também tem a conotação de algo pensado na mente, como a iniquidade no coração das pessoas (Gn.6:5); ou algo entesourado ou guardado no coração (I Cr.29:18)” (Bíblia de Estudo Palavra Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 3336, p.1689).

-   A outra palavra traduzida por “mente” é “kilyah” (כליה), “…um rim (como um órgão essencial); (figurado) a mente (como o “eu” interior): - rins, coração” (Bíblia de Estudo Palavra Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 3629, p.1706). É a palavra encontrada em Sl.7:9 e 26:2.

-     Por fim, temos a palavra “shekvi” (שכוי), “observador, i.e., (concreto) a mente:— mente, meteoro. Substantivo masculino que significa aparição celestial ou fenômeno, a mente. Esta palavra é usada em Jó para denotar a mente que recebeu entendimento (Jó 38:36). Numa pergunta retórica, o Senhor a empregou para designar a Sua soberania sobre tudo, inclusive sobre a vida de Seus servos. O significado exato deste vocábulo não está claro” (Bíblia de Estudo Palavra Chave, verbete 7907, p.1964). Esta palavra somente ocorre em Jó 38:36.

-   Pelo que se verifica, portanto, do significado das palavras nas línguas originais das Escrituras, temos que a mente é a própria individualidade do ser humano, a sua alma, pois é a alma que tem como faculdades o intelecto ou entendimento, os sentimentos e emoções como também a vontade, o “eu” interior.

-   Deus criou o homem como um ser racional, dotado de intelecto, tendo, inclusive, mandado que desse nome aos animais (Gn.2:19,20), como que fazendo o ser humano descobrir que ele era dotado de inteligência e que poderia criar palavras e, com seu intelecto, dominar os demais seres terrenos.

-   Deus deu ao homem, também, a capacidade de sentir, ter emoções. Tratava-se de um ser sensível, pois fora feito à imagem e semelhança de Deus, Deus que é, também, um ser sensível, um ser dotado de sentimentos.

-   Por fim, Deus deu ao homem a vontade, pois foi feito um ser moral, que tem, portanto, a capacidade de escolher entre o bem e o mal, de fazer escolhas.

II – O SIGNIFICADO DE TER E VIVER COM A MENTE DE CRISTO

-   Ora, tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus e feito para viver em comunhão com o seu Criador, o homem deveria sempre formar uma unidade com o seu Senhor, agindo de acordo com Ele, a fim de que tivesse os pensamentos de Deus, os sentimentos de Deus e fizesse a vontade de Deus.

-     No entanto, em virtude do pecado, o homem quis ter uma independência em relação a Deus, passando, então, a querer raciocinar, sentir e querer de modo alheio e independente ao Senhor, como se isto fosse possível.

-     Na verdade, com a prática do pecado, o homem deixou de ter a “luz divina” que lhe dava o “entendimento”, pois, como tinha de ter uma unidade com relação a Deus, o homem não poderia ter o “pensamento divino”, senão por revelação de Deus, visto que os caminhos de Deus são mais altos que os nossos caminhos e os pensamentos de Deus mais altos que nossos pensamentos. Somente um contato com Deus, uma instrução divina podiam fazer com o que homem seguisse os desígnios do Senhor. Por isso mesmo, o Senhor vinha toda viração do dia encontrar-se com o homem para lhe dar esta revelação e orientação indispensáveis para que o homem cumprisse o propósito a ele estabelecido pelo próprio Deus (Gn.3:8).



-   Esta iniciativa divina para dar ao homem o devido aprimoramento é bem verificada no fato de que Deus trouxe a Adão os animais para que fossem eles nomeados (Gn.2:19), de forma que, sem a iniciativa divina, jamais Adão poderia ocupar o lugar a ele destinado, que era o de dominador sobre a criação terrena, dominação que se iniciava com a nominação dos demais seres.

-   Sem a “iluminação divina”, o homem tornou-se cego espiritual. É o que nos diz o apóstolo Paulo em II Co.4:4, quando afirma que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”.

-   No pecado, o homem não tem visão espiritual e, portanto, a sua “mente”, o seu “eu” interior passa a não ter a orientação divina, não consegue enxergar as realidades espirituais, não tem como alcançar os pensamentos, sentimentos e vontade divinos. “Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhumas” (I Jo.1:5b) e, portanto, quando há a separação entre Deus e o homem, não resta ao homem outra situação senão a de estar em trevas.

-    Faz-se preciso, portanto, que haja esta “iluminação” para que o homem possa, novamente, enxergar as realidades espirituais, aquilo que é permanente, aquilo que realmente é importante e, para tanto, é mister que se tenha a “luz dos homens”, a “luz do mundo”, que é o Senhor Jesus Cristo (Jo.1:4; 8:12).

-   Para se ter “a mente de Cristo”, portanto, torna-se necessário ter esta “iluminação”, iluminação que vem pelo Evangelho, pois é ele quem anuncia a “luz do mundo”, a “luz dos homens”. A Palavra de Deus, que é a fiel testemunha de Jesus (Jo.5:39) traz a devida “iluminação” para o homem, daí porque o salmista ter dito que a Palavra do Senhor é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho (Sl.119:105).

-   O Senhor manda a Sua Palavra e esta Palavra traz a “iluminação”, ou seja, passamos a enxergar a verdade, a ter noção da realidade da necessidade que temos de estar em comunhão com Deus, de termos amizade com Ele e de nos arrependermos, “mudarmos de mente”.

-    A mensagem do Evangelho é a mensagem do arrependimento e arrependimento é “mudança de mente”, “mudança de modo de viver”, “mudança de mentalidade”, “mudança de atitudes”. O Evangelho é um convite para deixarmos a “mente cega” para termos a “mente iluminada”.

-    Viver com a “mente de Cristo”, portanto, implica em renunciarmos a nós mesmos, reconhecermos que nada podemos saber ou entender se não tivermos a “iluminação divina”, é declararmos a nossa dependência de Deus, a nossa necessidade de somente fazermos aquilo que Ele quer, que Ele pensou e planejou para nós, aquilo que faz com que Ele Se agrade de nós.

-    Foi exatamente por isso que o Senhor Jesus disse que são Seus discípulos tão somente aqueles que renunciam a si mesmos (Mt.16:24; Lc.14:33).



-   Ter a “mente de Cristo” é ter os pensamentos de Cristo. A “mente” é o “intelecto” e, portanto, se temos a “mente de Cristo”, teremos de ter o “intelecto de Cristo”. Ora, os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos (Is.55:8,9) e, deste modo, não poderemos, com a “mente de Cristo”, tentar seguir a lógica humana para agirmos.
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-   Quando o Pai revelou a Pedro que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt.16:16,17), o Senhor revelou o mistério da Igreja e começou a mostrar aos Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém e padecer muito dos anciãos e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia (Mt.16:21).

-   O mesmo Pedro que tivera a revelação do Pai procurou, então, dissuadir o Senhor Jesus deste itinerário de sofrimento, morte e ressurreição, tendo repreendido Jesus e dizendo que, de modo algum, aconteceria o que Jesus havia dito (Mt.16:22). Jesus, então, repreendeu Satanás, dizendo que o inimigo compreendia as coisas dos homens mas não as de Deus (Mt.16:23).


-   Neste episódio, vemos que Pedro, apesar de ter tido uma revelação divina, não tinha a “mente de Cristo”, até porque ainda não era convertido (Lc.22:32), o que somente ocorreu quando do seu arrependimento após a tríplice negação (Mt.26:75; Lc.22:62).

-     Quando o Senhor Jesus falou da necessidade que tinha de morrer pelos pecadores, Pedro passou a raciocinar com o seu intelecto, passou a se lembrar do imaginário judaico do Messias, imaginário até hoje existente, que somente vê o Filho de Davi, o Rei de Israel, mas não consegue vislumbrar o Servo Sofredor das profecias messiânicas. Pedro passou a se utilizar da lógica humana e, como tal, não poderia o Messias ser alguém que seria morto por obra dos sacerdotes e dos escribas, precisamente aqueles que conheciam as Escrituras.

-   Pedro viu não haver lógica nas afirmações de Jesus e, por isso, passou a repreendê-LO. A palavra grega aqui é “epitimao” (επιτιμάω), cujo significado é “censurar ou admoestar”, palavra composta de “epi” e “timao” , ou seja, “avaliar sobre”.

-   Quando passamos a avaliar sobre o que nos diz o Senhor Jesus, sobre o que Ele nos revela, estamos agindo segundo a lógica humana e este não é o comportamento que se espera do salvo. O salvo não tem que se sobrepor ao Senhor Jesus e, por conseguinte, às Escrituras, que são Suas fiéis testemunhas. Ele precisa tão somente crer, acreditar, não questionar o que está revelado pelo Senhor.

-   Agir segundo a lógica humana, diz-nos claramente o Senhor Jesus, é se submeter ao maligno, é “dar lugar ao diabo” e isto não podemos fazer (Ef.4:27). O “nascido do Espírito” é como o vento, que assopra onde quer e não sabemos donde vem nem para onde vai, ou seja, não temos condições de querer entender a mente divina e, portanto, temos de nos submeter ao que é revelado, ao que nos é indicado pelo Senhor Jesus. Diz um adágio popular que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Ora, se até os sentimentos humanos não são completamente discerníveis pela nossa mente, por que querer entender o Senhor? Deus não é para ser compreendido, mas, sim, crido.
-   O homem que procura compreender Deus é chamado, pelo apóstolo Paulo, de “homem natural” (I Co.2:14), que é o homem não salvo, o homem que não se entregou ainda a Cristo Jesus. Dentro da lógica humana, as coisas de Deus são “loucura” e jamais serão entendidas e/ou compreendidas. Salvação, repetimos, não é assentimento intelectual, mas um renascimento espiritual.

-   Quem tem a mente de Cristo deve se guiar pela “lógica divina” e esta lógica é a Palavra de Deus, o que nela está contido. Nos dias hodiernos, de grande avanço científico e tecnológico, os homens se iludem com a sua capacidade intelectual e querem viver segundo estes ditames da ciência e da técnica. O salvo, entretanto, não é alguém que haja desta maneira, pelo contrário é alguém que sabe que foi “iluminado” pela Palavra de Deus e que deve pensar segundo a mentalidade divina, segundo o que lhe foi revelado pelas Escrituras.

-   É relevante que, em Jó 38:36, em Seu diálogo com Jó, onde o Senhor mostra ao Seu servo que não se pode querer compreender as coisas de Deus com a mente humana, tenha o Senhor indagado a Jó quem pusera a sabedoria no íntimo ou quem dera à mente o entendimento, utilizando-se aqui de uma palavra que, como já vimos supra, significa “meteoro, aparição”.

-   Nesta indagação, o Senhor está a mostrar a Jó que o homem não tem como elaborar ou construir o que é pensado por Deus, mas que isto vem ao homem por uma revelação, por um “insight” divino, repentinamente, como um “meteoro”. Deus revela ao homem o que devemos saber e entender, revelação esta que se encontra nas Escrituras Sagradas. Deve ser ela a nossa única regra de fé e prática.

-    Quando vamos a Is.26:3, o profeta nos diz que o Senhor conservará em paz aquele que cuja mente está firme n’Ele, porque ele confia n’Ele. Tem-se aqui nitidamente a observação de que somente se pode ter a mente de Cristo se confiarmos n’Ele. A confiança é o elemento que nos faz ter a mente de Cristo. A confiança é que nos permite viver segundo o pensamento divino.

-   Não são os raciocínios humanos que dão firmeza e estrutura para a vida do salvo, mas, sim, a confiança em Deus. Quando cremos no Senhor, alcançaremos a força necessária para enfrentar as intempéries da vida, ainda que as atitudes pareçam ser “loucuras” para a mente humana. Como diz o profeta é Deus que edifica a forte cidade, com seus muros e antemuros (Is.26:1,2) e, portanto, não temos o que temer, pois É Ele a rocha eterna em que podemos confiar perpetuamente (Is.26:4).

-   Quando cremos em Cristo e baseamos nossa vida n’Ele, pode acontecer o que acontecer à nossa volta, que não seremos abalados, continuaremos firmes, porque nossa casa não cai, firmada que está na rocha, que é Nosso Senhor e Salvador (Mt.7:24,25). Como diz o salmista: “Os que confiam no Senhor serão como monte Sião, que não se abala mas permanece para sempre” (Sl.125:1).

-   Ter a mente de Cristo é ter os sentimentos de Cristo. Cristo apresenta-Se nas Escrituras como um ser sensível, dotado de sentimentos e o salvo, como imitador de Cristo, deve ter estes mesmos sentimentos.

-   O apóstolo Paulo afirma que devemos ter o mesmo sentimento de Cristo Jesus (Fp.2:5) e que sentimento era este? O sentimento de humildade, que fez com que Jesus Cristo Se humilhasse, deixando a Sua glória para Se fazer homem e, como homem, fazer-Se servo e ser obediente até a morte e morte de cruz (Fp.2:6-8).

-   No contexto em que descreveu o “esvaziamento” de Cristo, Paulo está a incitar os crentes de Filipos a nada fazer por contenda ou por vanglória, mas por humildade, considerando os outros superiores a si mesmo e não atentando cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros (Fp.2:3,4).

-    Ter a mente de Cristo é viver para os outros, é considerar os outros, entregar-se aos outros em obediência a Deus, a ponto, inclusive, de morrer pelos outros, de se fazer maldito para o bem dos outros, que foi o que Cristo fez por nós, sem o que não nos teria salvado.


-    Ter a mente de Cristo é se deixar usar como instrumento nas mãos de Deus, mesmo que isto signifique sofrimento, tribulação e morte. Amar os outros, estar disposto a dar a sua vida pelos outros, querer bem aos outros, querer a salvação do nosso próximo.

-   O salvo não pode jamais viver para si. Deve entender que a salvação que recebeu não foi obra sua, nem fruto dos seus méritos, mas um favor imerecido de Deus para ele e que deve também alcançar outras pessoas. Quando nos fechamos em nós mesmos, quando deixamos de evangelizar, quando retemos a salvação somente para nós, não estamos tendo o sentimento de Cristo Jesus e, por conseguinte, não temos a mente de Cristo.

-   A salvação não é apenas para nós, mas também é para os outros. Jesus morreu por todos os homens (II Co.5:14,15; I Tm.2:4; 4:10; Tt.2:11) e, portanto, temos de levar a mensagem da salvação a todos (Mc.16:15). Jesus deixou a Sua glória para trazer esta mensagem à humanidade e nós devemos seguir-Lhe as pisadas (I Pe.2:21), também deixando a nossa “zona de conforto” para alcançar os que precisam de salvação.

-   Daí porque ser uma característica da salvação a realização de boas obras, a prática da beneficência, até porque Deus é beneficente (Ex.15:13; 34:6; Nm.14:18; Rt.2:20; I Rs.3:6; II Cr.1:8; 6:14; Ed.7:28; 9:9; Ne.9:17,32; Jó 10:12; Jr.9:24; Jl.2:13).

-   O Senhor requer de nós o amor à beneficência (Mq.6:8), como também informa que só é convertido aquele que guarda a beneficência e o juízo, esperando sempre em Deus (Os.6:4).

-   Em o Novo Testamento, a palavra “beneficência”, na Versão Almeida Revista e Corrigida, aparece duas vezes e são duas palavras gregas distintas. Em II Co.9:11, temos a palavra grega “haplotes” (απλότης), cujo significado é “generosidade, liberalidade, simplicidade, singularidade, simplicidade de coração, franqueza, integridade”.

-   Teremos o sentimento de Cristo se formos sinceros, sem qualquer dissimulação, se realmente fizermos o bem querendo o bem-estar do outro, sem qualquer segunda intenção, com pureza de propósitos.

-   A outra palavra é “eupoiia” (ευπιϊα), encontrada em Hb.13:16, que significa “boa ação, fazer o bem”. O escritor aos hebreus afirma que esta ação é um sacrifício agradável a Deus.

-   É evidente que a “boa obra” não salva, mas o salvo tem de ser alguém que pratica “boas obras”, até porque tais “boas obras” são sinceras e motivadas única e exclusivamente pelo amor de Deus, o amor desinteressado, que visa única e exclusivamente o bem-estar do outro, a salvação do outro, a glória de Deus. ”…A Igreja tem o papel de ser a luz do mundo, e essa luz resplandece por meio de nossas boas obras [Mt.5:14,16]…” (Declaração de Fé da CGADB, XI,5, p.123).

-    
OBS: Como diz o capítulo XVI da Confissão de Fé de Westminster: “…I. Boas obras são somente aquelas que Deus ordena em Sua santa palavra, não as que, sem autoridade dela, são aconselhadas pelos homens movidos de um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção.(…) II. Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em santificação, tenham no fim a vida eterna. (…) VII. As obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à matéria, coisas que Deus ordena, e úteis tanto a si mesmos como aos outros, contudo, porque procedem de corações não purificados pela fé, não são feitas devidamente - segundo a palavra; - nem para um fim justo - a glória de Deus; são pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para receber a graça de Deus; não obstante, o negligenciá-las é ainda mais pecaminoso e ofensivo a Deus.…”

-   Ter a mente de Cristo é ter a vontade de Cristo. A salvação implica na assunção da vontade do Senhor em detrimento de nossa vontade. Quando o Senhor Jesus nos ensinou a orar, disse que deveríamos pedir que a vontade d’Ele se fizesse assim na terra como no céu (Mt.6:10). Jesus mesmo deu o exemplo, sacrificando  a Sua vontade para fazer a vontade do Pai (Mt.26:42)

-   Sendo assim, não podemos mais fazer o que queremos, mas, sim, o que o Senhor quer que nos façamos. O verdadeiro salvo vive as palavras proferidas por Davi: “Deleito-me em fazer a Tua vontade, ó Deus meu; sim, a Tua lei está dentro do meu coração” (Sl.40:8), palavras que são as do próprio Cristo, como nos dá conta o escritor aos hebreus em Hb.10:9.

-   Em Pv.8:30,31, mostra-se como Jesus, aqui tipificado na Sabedoria, fez a vontade do Pai: sendo Seu aluno, folgando cada dia nas Suas delícias e achando as delícias do Filho com os filhos dos homens.
-    Fazemos a vontade do Senhor quando somos Seus alunos, ou seja, quando somos Seus discípulos e, para tanto, faz-se mister que renunciemos a nós mesmos, tomemos a nossa cruz e sigamos ao Senhor (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). Fazer a vontade do Senhor é negar a nossa própria vontade, assumir a posição e a missão que Deus nos dá no corpo de Cristo e passar a seguir a orientação divina até o dia da glorificação.

-    Fazemos a vontade do Senhor quando folgamos cada dia nas Suas delícias, ou seja, quando nos alegramos naquilo que Deus tem prazer, naquilo que Deus Se agrada. O salvo não é alguém que procura o prazer, que procura se satisfazer, mas alguém que se satisfaz e se realiza quando agrada ao Senhor, quando faz o que é agradável a Deus.

-   O salvo é alguém que repete as palavras do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “Eis que estou no Senhor confiando, todo o meu ser a Jesus entreguei. Todos prazeres eu tenho deixado, em Jesus Cristo meu gozo achei” (segunda estrofe do hino 70 da Harpa Cristã) ou, ainda, do poeta sacro Ernesto Wooton: “Acho prazer em Te seguir; descanso e paz me faz sentir; doce é a mim o Teu querer, gozo me traz Te obedecer” (segunda estrofe do hino 141 da Harpa Cristã).

-   Este prazer é cotidiano, ou seja, é a cada dia. Deve haver uma constância no alegrar-se com o que Deus Se alegra. A todo instante, a todo momento, devemos ter prazer naquilo que agrada ao Senhor.


-   Mas, além de ter prazer naquilo que agrada a Deus, devemos compartilhar este prazer com os filhos dos homens, ou seja, devemos fazer o que agrada a Deus em prol dos outros. Jesus disse que a Sua comida era fazer a vontade d’Aquele que O havia enviado e realizar a Sua obra (Jo.4:34). Ora, a Sua obra era pregar o Evangelho e proporcionar a salvação da humanidade morrendo em nosso lugar na cruz do Calvário (Jo.12:27).

-    Nós fomos salvos para realizar a obra de Cristo sobre a face da terra (Jo.20:21) e, por isso, devemos sempre estar a pregar o Evangelho, primeiramente com a nossa vida, com o nosso testemunho e, quando houver oportunidade, com palavras. Faz-se preciso que comuniquemos aos “filhos dos homens” a  mensagem da salvação e que tenhamos prazer em isto realizar.

-    A vontade de Deus precisa ser aprendida por nós. Davi pede ao Senhor que o ensine a fazer a Sua vontade e que fosse guiado pelo Espírito Santo por terra plana (Sl.143:10). Jesus mandou o Espírito Santo para nos guiar em toda a verdade (Jo.16:13), de modo que não temos o que recear com relação a fazer a vontade do Senhor, pois o Paráclito sempre nos orientará. O Espírito Santo continua guiando o Seu povo, como nos diz a parte final do item 4 da Declaração de Fé da CGADB. Como diz o poeta sacro Arthur Lakschevitz: “O meu guia e protetor é sempre o Senhor, que temerei. E sempre será da minha vida o vigor, de quem mais recearei. Nos perigos e lutas da vida jamais perecerei. Pois o Senhor me guarda, por isso n'Ele eu confiarei” (primeira estrofe do hino 30 dos Coros Sacros).

-   Para fazer a vontade do Senhor é preciso procurar a Deus a cada dia e ter prazer em querer saber os Seus caminhos, em se chegar a Ele (Is.58:2). Ter a mente de Cristo é ter uma vida piedosa, é estar incessantemente buscando ao Senhor para saber o que Ele quer de nós, qual é a Sua vontade.

-    O Senhor Jesus disse que as Suas ovelhas ouvem e conhecem a Sua voz (Jo.10:4,14,27), mas para que conheçamos a voz do Senhor torna-se absolutamente necessário que mantenhamos continuamente diálogo com Ele, a fim de nos familiarizarmos com a Sua voz, com o Seu falar.

-   Tem-se, pois, que o salvo é alguém que está em constante comunicação com o Senhor, ou seja, medita dia e noite nas Escrituras, que é a Palavra de Deus, como também está constantemente orando, para falar com Deus. É alguém que tem momentos a sós com o Senhor, que desenvolve uma intimidade crescente, que é o que a Bíblia denomina de “conhecimento de Deus”, já que “conhecer” é “ter intimidade”.

-   O salvo está constantemente buscando ao Senhor, reconhece a voz do Salvador por causa desta intimidade que tem com Ele e, por isso mesmo, não se deixa impressionar pelos ruídos e pelas interferências que o mundo, a carne e as hostes espirituais da maldade trazem para tentar obstruir esta sintonia, este contato que o salvo tem com o seu Senhor e Salvador.

-   Por isso mesmo, o salvo é o “homem espiritual” de que fala o apóstolo Paulo, aquele que tudo discerne e de ninguém é discernido (I Co.2:15). É alguém que tem uma intimidade com o Espírito Santo, que põe no seu íntimo a sabedoria e, desse modo, faz com que o salvo possa ver as coisas sob a perspectiva divina e, mesmo sem entender completamente, faz o que Deus quer que seja feito.

-    Assim como os profetas trouxeram a mensagem divina sem que a tivessem compreendido totalmente (Ez.37:3; Dn.12:4; I Pe.1:10-12), também nós devemos fazer o que Deus nos ordenar sem que o compreendamos plenamente, tendo prazer em fazer a vontade do Senhor, que Ele nos revela por Sua infinita graça e misericórdia, pois somente assim cumpriremos o propósito divino, que é sempre bom e nunca causará dano ou mal, pois como diz o nosso Deus, pela boca de Jeremias: “Porque Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais” (Jr.23:20).

-   A salvação gera “uma nova criatura”, criatura esta é que espiritual, pois o salvo é “nascido do Espírito”. É o que, como já vimos, Paulo denomina de “homem espiritual”.

-    Para ser “homem espiritual”, é preciso ter a mente de Cristo, ou seja, aqueles que têm a graça de receber a revelação divina da sabedoria divina, aquela que, embora oculta em mistério, Deus preparou para aqueles que O amam (I Co.2:7-9).

-   O homem espiritual, portanto, é aquele que ama a Deus e amar a Deus nada mais é que guardar a Palavra do Senhor, fazer o que Ele manda (Jo.14:23,24; 15:14). Notamos a espiritualidade de um crente não pelo que ele recebeu da parte do Senhor, mas pelo modo como ele se relaciona com o Senhor.
-   Ele é obediente à Palavra de Deus? Ele faz o que a Bíblia diz? Ele vive de acordo com as Escrituras? Se é assim, ele é um genuíno homem espiritual.

-    O homem espiritual, por amar a Deus, tem comunhão com o Senhor e o Espírito Santo nele habita (Jo.14:17). O Espírito Santo, por habitar no homem espiritual, revela a ele as coisas de Deus, pois só o Espírito de Deus sabe as coisas de Deus (I Co.2:11). Assim, o homem espiritual mergulha nas profundezas de Deus, tem o conhecimento de Deus e, tendo o conhecimento e a Palavra, tudo discerne, mesmo que tudo pareça loucura aos olhos do homem natural. O crente espiritual discerne bem tudo e de ninguém é discernido (I Co.2:15) e, por isso, seu comportamento é completamente diferente do dos demais seres humanos.

-    Temos vivido com a mente de Cristo? É isto que a salvação veio nos fazer e somente provaremos que somos salvos e chegaremos ao céu com a glorificação se assim vivermos sobre a face da Terra.


Por:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério - Em Dourados – MS
Bibliografia


Portal Escola Dominical – Ev. Caramuru Afonso Francisco
Filipenses – A humildade de  Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai Cabral