18 de setembro de 2019

A MORDOMIA DO CUIDADO COM A TERRA


CUIDANDO DA TERRA 

1.  A TEOLOGIA DA CRIAÇÃO


Deus criando do inexistente — BARAH: Gn 1.25-29; Jo 1.3; Hb 11.3.
Deus criando do existente — YASAH: Gn 2.4; Sl 90.2; Jr 4.23-25.
Deus preservando o que criou — KAL: Sl 103.19; 23.1; Rm 11.3,4; 2 Pe 3.5-7.
2. A MANUTENÇÃO DO ECOSSISTEMA


Preservando o espaço sideral: Gn 15.5; Sl 19.1-3; 1 Co 15.38-41.
Preservando o planeta terra: Gn 1.28; Dt 11.10-12; 1 Co 10.26.
Preservando os oceanos: Gn 1.20-21; Pv 8.29; Mc 4.39.

3. A REDENÇÃO DA CRIAÇÃO


Redimindo o corpo do homem — morada da alma: Rm 8.23; 2 Co 5.1-4.
Redimindo a alma do homem — morada do espírito: Ef 4.30; 1 Co 15.52-54.
Redimindo a terra do homem — morada do corpo: 1 Pe 3.7-10; Ap 21.1,5.

CUIDANDO DA TERRA


CUIDANDO DA TERRA

TEXTO ÁUREO

 “E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15).

VERDADE PRÁTICA

Quando Deus criou a terra, não a deixou sem governo, mas criou, também, um mordomo habilitado para administrá-la.

LEITURA BÍBLICA = GÊNESIS 1.1,10-12, 26-28; 2.8,15

INTRODUÇÃO

Esse é um assunto que, infelizmente, tem sido relegado no ensino geral da igreja. Todavia, a despeito do tema “ecologia” ser novo entre as ciências, precisamos conhecê-lo e nos conscientizar da nossa responsabilidade no cuidado com os elementos da subsistência dos seres vivos.
Nesta lição evitaremos os termos técnicos e científicos e usaremos uma linguagem simples para que cada aluno entenda, assimile, e pratique em sua vida cotidiana tudo o que for ensinado.


1. A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
1. Ecologia. Esta é uma palavra técnica e científica, alusiva a nossa subsistência como seres vivos. Ela tem a ver com o cuidado que devemos ter com as coisas que dão sustentação à vida na terra. É a preservação do meio ambiente.
O elemento inicial do termo ecologia, eco, vem de oikos, habitação. Ecologia é, pois, a “ciência do habitat”, ou seja, o conhecimento do mundo físico que habitamos. O ar puro, os alimentos saudáveis, a água, a vegetação e a vida animal são elementos vitais que precisam estar em perfeita harmonia com a natureza criada (Gn 1.20- 25). Deus criou o homem para que o mesmo fosse seu mordomo no controle e preservação das coisas criadas (Gn 1.26-28).

2. Ecossistema. “Todo conjunto formado por um ambiente inanimado (solo, água, atmosfera) e os seres vivos que habitam na terra” (Gn 1.6-1O).A terra tem um rico ecossistema que faculta aos seres vivos as condições de viverem harmoniosamente. Esses seres: animais e vegetais vivem em função uns dos outros (Gn 1.11,12,20- 22). Se tal sistema vital for desrespeitado, muitos danos e desequilíbrios prejudicarão a todos, o que vem ocorrendo por toda a parte, pela ação predatória, ilegal e criminosa do ser humano.

O desmatamento irracional e perverso das florestas; a poluição dos rios e mares; a fumaça industrial na atmosfera; e tantos outros elementos corrosivos da natureza, alteram todo o ecossistema. Uma vez alterado o “meio-ambiente”, as conseqüências serão desastrosas, tais como acontece com as enchentes, a mortandade de peixes dos rios, enfim, a destruição da flora e da fauna em geral. Essa realidade deve despertar a Igreja de Cristo para o cumprimento do seu papel na sociedade, ensinando os cristãos a portarem-se com sabedoria nesse ambiente criado por Deus para nele vivermos, habitarmos e sermos felizes.

3. Desenvolvimento Sustentável. Devemos nos preocupar com esta questão na Escola Dominical? Lembremo-nos que nós como igreja, somos “o sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5.13,14). O crente deve ser exemplo também como cidadão e membro da comunidade. É evidente que a comunidade política e a científica, e não a igreja, devem ser os vanguardeiros nesta luta, mas a igreja também, pois, enquanto aqui estivermos, usaremos os bens e os recursos deste mundo com a devida prudência e sabedoria (1 Co 7.3 1).

II. O ECOSSISTEMA CRIADO POR DEUS

1. O que o ecossistema representa para o homem. Ecossistema diz respeito ao equilíbrio da natureza criada; o ambiente do qual dependemos para viver. Quando Deus criou os céus e a terra (Gn 1.1- 3.6-11,14-18f20,21,24-28), estabeleceu regras e leis naturais para preservação do “meio ambiente”, com todos os elementos vitais da natureza que são a água, a terra, a vegetação, a atmosfera, os animais e o homem. Deus criou os céus e a terra do nada, isto é, sem o uso de material preexistente. Porém, o homem físico foi feito da argila da terra, isto é, “formado do pó da terra” (Gn 2.7). Os elementos moral e espiritual, alma e espírito, foram criados por Deus. Aqui merece destaque o fato de que a primeira criatura humana foi formada a partir de algo já existente, a terra, e foi- lhe conferida a capacidade de governá-la e preservar seu sistema de subsistência.

2. Deus plantou um jardim para o homem (Gn 2.8). Deus, ao preparar o jardim do Éden para o homem, entregou-lhe a missão de administrá-lo e preservar os seus valores, O homem foi feito mordomo de Deus na terra. (Gn 1.26; 2.15; Sl 8.6).

3. Deus estabeleceu leis naturais de preservação para o mundo criado. Ele estabeleceu leis que regulam todo o sistema físico criado, não só na terra, mas em todo o orbe. Ele fez separação entre dia e noite (Si 74.16; 148.3). Ele criou as estações e climas que promovem as mudanças e renovações de temperatura e suas manifestações (Gn 1.14; 8.22; Si 74.17). Ele controla a natureza de todo o universo (Si 19.1-6). Ele faz soprar os ventos e controla a medida das águas dos rios e mares (Jó 28.25). Ele criou leis biológicas onde as espécies se multiplicam e obedecem a estas leis (Gn 1.11,12). 

Ele criou as leis da meteorologia, isto é, as leis que regulam as estações, com sol, chuva, frio e calor (Jó 2 8.26; At 14.17). A preservação do meio ambiente é uma obrigação de toda a criatura humana. As conseqüências do descumprimento disso estão se tornando trágicas. Nada temos a ver com o movimento filosófico-religioso (e disfarçadamente ocultista) da Nova Era que endeusa o assunto em apreço, mas, por outro lado, somos administradores designados por Deus, da água que bebemos, das plantas que a terra nos dá para mantimento e do ar oxigenado que respiramos.

4. Deus criou o homem e o tornou o centro desse ecossistema. Ao criar o homem, Deus o dotou de santo temor, de capacidade, de inteligência, sentimento e vontade, por isso, o homem foi criado à sua imagem e semelhança (Gn 1.26- 28). Essa capacidade racional e sentimental tinha por objetivo fazer do homem o centro de toda a criação, o mordomo da criação. Por causa do pecado, a alma humana foi corrompida, e o homem passou a agredir os bens criados pelo Todo-Poderoso, isto é, o meio ambiente vem sendo agredido por causa do pecado e os seus recursos naturais prejudicados.

5. O homem foi feito guardião do meio em que vive. A Bíblia declara que o homem foi posto no jardim do Éden para o lavrar e guardar (Gn 2.15). Portanto, um mordomo é um guardião das coisas que Deus criou para benefício do próprio homem, O pecado afetou as relações entre o Criador e sua criatura (Ef 2.12-17). O próprio Deus preparou um plano de restauração dessa relação, estabelecendo a paz com o homem e desfazendo a inimizade.

III. A IMPORTÂIICIA DA RACIONALIDADE DO HOMEM
A diferença entre um ser humano e um animal é imensa, a começar do componente imaterial do ser humano, alma e espírito com seus atributos, a racionalidade e a personalidade. E isso sem falar no seu elemento físico (1 Co 15.39). Preservar a natureza é, para o homem, uma questão de racionalidade.

CONCLUSÃO

Nesta lição, aprendemos que somos cooperadores de Deus na manutenção do mundo que Ele criou e exercemos o papel de mordomos de todas as coisas vitais para nossa subsistência.
Lições Bíblicas CPAD 4º. Trimestre 2003

Os discípulos de Jesus e a questão ambiental

TEXTO DO DIA

“Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora” (Rm 8.22).

SÍNTESE
A responsabilidade ambiental dos servos de Jesus decorre do princípio bíblico da mordomia cristã.
TEXTO BÍBLICO = Gênesis 1.26-28.

INTRODUÇÃO

O Planeta Terra tem sofrido com a atuação devastadora do homem. A poluição e a degradação estão a afetar drasticamente o habitat em que vivemos e colocado em risco a própria vida humana. Nesta lição, veremos que a responsabilidade ambiental à luz das Escrituras Sagradas está contida no encargo que Deus entregou ao homem após o advento da Criação.

I. A BÍBLIA E A QUESTÃO ECOLÓGICA

1. O Criador da natureza. A Bíblia é muita clara ao registrar que a natureza faz parte da criação de Deus. No capítulo 1 de Gênesis temos o completo relato do princípio do universo e da vida. Todos os elementos da natureza, como o sol e lua, as árvores da floresta, a chuva e a neve, os rios e os córregos, as colinas e as montanhas, os animais e aves, foram criados pelo Senhor.
E tudo era bom. Essa é a razão pela qual a natureza é tão bela, e os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos (Sl 19.1). À luz das Escrituras e da doutrina da criação, portanto, entendemos que o universo não é fruto da evolução e do acaso, mas de um desígnio perfeito. Concluímos, também, que o Criador não se confunde com a sua criação, diferentemente do que afirmam as religiões panteístas — que entendem que Deus é tudo e tudo é Deus.

2. O homem e a mordomia. Após ter criado todas as coisas, Deus formou o homem e deu-lhe autoridade para dominar sobre tudo que criara (Gn 1.26). Dessa passagem bíblica, extraímos o conceito de mordomia. Isto é, a terra pertence ao Senhor (Sl 24.1), mas o homem é o mordomo, aquele que administra os bens de Deus aqui, o que implica responsabilidade, fidelidade (1Co 4.2) e zelo pela criação, pois o administrador deve prestar contas daquilo que não lhe pertence (Mt 25.14-22).

A responsabilidade humana pelo cuidado com a natureza fica mais evidente quando Deus põe Adão no jardim do Éden para o lavrar (servir) e o guardar (cuidar) (Gn 2.15). o Jardim foi plantado (heb. nãta) por Deus (Gn. 2.8), para que o homem pudesse cuidar e cultivá-lo. Aqui está o mandato cultural. Deus forma, mas o homem possui a responsabilidade de ser o mordomo do jardim. Nenhuma outra criatura recebeu esse encargo.

3. Cuidando da Criação. Ainda no Antigo Testamento, vemos o esmero de Deus com os animais e com a terra. O plano do Altíssimo para a nova civilização após o Dilúvio envolvia a preservação da espécie animal (Gn 8.17). O Senhor estabeleceu para a nação de Israel a guarda do sétimo ano para descanso da terra (Lv 25.1-7), com o objetivo de evitar a deterioração do solo pelo uso abusivo e egoísta. Proibiu, também, o tratamento cruel contra animais e aves (Dt 22.6.7; 25.4). Logo, usar com sabedoria e prudência os recursos naturais disponíveis é uma recomendação bíblica aos servos de Jesus.

II. O CRISTÃO E A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

1. Agenda ambiental equilibrada. Se as Escrituras enfatizam a importância do cuidado com a criação divina, por que poucos crentes estão conscientes dessa responsabilidade ambiental? Raramente ouvimos, no meio evangélico, ensino a respeito do meio ambiente (dentro de uma perspectiva cristã), prevalecendo a ideia de que toda postura pró-preservação está vinculada ao panteísmo, às religiões orientais e ao sectarismo.

Embora esse equívoco ocorra, com a existência de grupos que defendem, de modo radical, o meio ambiente e os animais, os cristãos não podem se omitir no dever de cuidado da natureza pelos motivos corretos, abalizados na doutrina da mordomia cristã. Silas Daniel, na obra A Sedução das Novas Teologias, escreve a esse respeito: “Cristãos devem ter em sua agenda o discurso pró-preservação da natureza. Nada mais lógico. Repito: é bíblico. Porém, não devem fazer desse discurso algo parecido com uma religião nem ser hipnotizados por qualquer discurso apelativo dos ambientalistas de plantão. Em tudo, deve prevalecer o equilíbrio e a coerência”.

2. A volta de Jesus. Outra justificativa equivocada que muitos crentes utilizam para a falta de responsabilidade ambiental é o discurso escatológico. “Jesus está voltando, por que eu deveria me preocupar com o meio ambiente?”, indagam tais pessoas. Entretanto, a iminência da vinda de Cristo não deve servir de desculpa para uma vida cristã descompromissada e apática com as questões sociais, culturais e, até mesmo, ecológicas. 

Ainda que as tragédias naturais sirvam como sinal dos últimos tempos (Lc 21.11), os servos de Jesus não podem fazer parte do grupo daqueles que provocam tais sinais, interferindo no equilíbrio da natureza estabelecido pelo Senhor desde a criação. Uma vez que a desordem da natureza foi ocasionada pela Queda, pela qual toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora (Rm 8.22), é papel do crente agraciado pela redenção em Cristo Jesus, lutar contra os efeitos do pecado no mundo e vencer o mal com o bem (Rm 12.21).

III. PROTEGENDO O AMBIENTE

1. O que é meio ambiente. O meio ambiente, habitualmente chamado apenas de ambiente, “é o conjunto de condições, leis, influências e infra-estrutura de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Com efeito, a proteção do ambiente é, também, uma forma de proteção da própria vida humana, pois envolve todos os recursos naturais do globo, inclusive o ar, a água, a terra, a flora e a fauna.


2. Direito de todos. No Brasil, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito previsto na Constituição Federal, que assim estabelece em seu art. 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Como cidadão responsável e consciente, o cristão também possui o dever legal de defender e preservar os recursos naturais, tanto para a presente quanto para as futuras gerações. Que tipo de terra deixaremos para os nossos filhos?

3. Sustentabilidade e ética ambiental. A proteção ecológica envolve um conjunto de medidas que podem ser adotadas pelos servos de Jesus. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação dos recursos naturais, o chamado desenvolvimento sustentável.

CONCLUSÃO

Como discípulos e servos de Jesus, possuímos boas razões para zelar pela natureza. Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude (1Co 10.26), e nós somos mordomos, cuidadores da sua criação. Desse modo, a responsabilidade ambiental do cristão não está amparada em conceitos panteístas e na onda “verde” do tempo atual, e, sim nas Escrituras Sagradas. Devemos, por isso, usar os recursos naturais de forma consciente e sábia, preservando-a para uma boa qualidade de vida tanto para a presente quanto para as futuras gerações, enquanto o Senhor não voltar.

Bibliografia

DORTCH. Richard W. Orgulho Fatal.

MAXWELL, John C. Os 5 Níveis da Liderança.




12 de setembro de 2019

A MORDOMIA DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA


A MORDOMIA DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA 

Texto Base: Atos 4:32-35; Lucas 10:30,36,37

“Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg.2:13).

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Mordomia das obras de Misericórdia. Misericórdia é o amor posto em ação, é a bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo Tiago, como podemos dizer que amamos alguém se não suprimos as suas necessidades (Tg.2:14-17), pois o amor não é amor de palavras, mas amor de obras (1João 3:16-18). 

Jesus, num espírito humanitário de misericórdia e compaixão voltado a todos, sempre procurou socorrer os necessitados e tinha Sua atenção voltada para as pessoas, colocando sempre as necessidades espirituais acima das necessidades materiais. A Igreja, portadora do mesmo sentimento de amor, sempre foi voltada para o social, procurando suprir as necessidades e socorrer aqueles que, realmente, são necessitados. Valorizar a alma humana, com um valor maior que o mundo inteiro, sempre foi a filosofia do Divino Mestre, mas não esquecendo das necessidades físicas. 

É perturbador para uma igreja local, que enfatiza a justificação pela fé e tem perdido de vista o fato de que aquilo que praticamos também se reveste de grande importância. A ausência de obras de misericórdia é prova de ausência de fé. A fé sem obras é morta (Tg.2:20). E a melhor caridade é aquela que é feita com seus próprios recursos, dentro das suas possibilidades, pois fazer caridade com riqueza dos outros não é caridade.

Fazer obras de misericórdias era uma prática levada a sério no princípio da Igreja; o seu altruísmo era uma característica marcante. O livro de Atos mostra isso ao narrar a ressurreição de uma mulher chamada Dorcas, que era conhecida pelas suas “boas obras e esmolas que fazia” (Atos 9:36). 

O exercício da misericórdia deve ser feito com alegria. De nada adianta gastarmos todas as nossas finanças em benefício dos pobres ou necessitados ou, mesmo, horas a fio de nosso tempo, para ouvir as pessoas, dar-lhes companhia e conforto, se o fizermos por obrigação, por necessidade, sem alegria. 

Qualquer doação material feita por necessidade é apenas um gasto, uma despesa, sem qualquer valor na dimensão espiritual, como também o uso de horas numa “obra de misericórdia espiritual” nada mais será que perda de tempo. Se, porém, fizermos com alegria, seremos agradáveis ao Senhor, porque Ele ama a quem dá com alegria (2Co.9:7).

I. SIGNIFICADO DE MISERICÓRDIA

1. Definição

Misericórdia é lançar o coração na miséria do outro e estar pronto em qualquer tempo para aliviar a sua dor; é ver uma pessoa sem alimento e lhe dar comida; é ver uma pessoa solitária e lhe fazer companhia; é atender às necessidades e não apenas senti-las. Enfim, misericórdia é mais do que sentir piedade por alguém, é a capacidade de entrar em outra pessoa até que praticamente podemos ver com os seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração.

 “SENHOR, tem misericórdia de nós! Por ti temos esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação em tempos de tribulação” (Is.33:2).
As obras de misericórdia, ou obras de caridade, nos mostram a disponibilidade de desprendermo-nos do egoísmo e servir o próximo deliberadamente como fruto do amor cristão. Essa é a vontade de Deus.

2. Misericordioso
É alguém que demonstra misericórdia; que é compassivo, bondoso, misericordioso para seus semelhantes. Essa expressão indica o sentimento que vem do íntimo, “das entranhas”, do “coração”. Por ser um atributo de Deus (Sl.103:8), e por sermos seus filhos, devemos ser também misericordiosos, haja vista que temos o Fruto do Espírito (Gl.5:22). Disse Jesus:
 “bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).
“Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc.6:36).
Quem exerce a misericórdia revela que serve a um Deus misericordioso, longânimo e benigno - “Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade” (Sl.103:8).

II. A MORDOMIA DA MISERICÓRDIA CRISTÃ

A misericórdia é o dom de transformar em ações, em atitudes concretas, o bem que desejamos a alguém; é a bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo Tiago, “como podemos dizer que amamos alguém se não suprimos as suas necessidades?” (Tg.2:14-17), pois o amor não é amor de palavras, mas amor de obras (1João 3:16-18).


1. Obras de misericórdia na prática

As “obras de misericórdia” são definidas como sendo ações caritativas mediante as quais ajudamos a nosso próximo em suas necessidades físicas e espirituais (cf. Is.58:6,7; Hb.13:3). No Cristianismo, o ser vem antes do fazer. Quem é, faz. A fé sem obras é morta (Tg.2:17). Veja um exemplo bíblico de misericórdia: a Parábola do bom Samaritano (Lc.10:29-37). Um certo doutor da Lei perguntou a Jesus:

“29. ...E quem é o meu próximo?

30. E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

31. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

32. E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo.

33. Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão.

34. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;

35. E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar”.

36.Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?

37.E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira.

A Parábola descreve tudo o que o samaritano fez para salientar que a prática da misericórdia não tem fronteiras; é a necessidade do outro que diz o que precisa ser feito. Esse samaritano, mesmo sendo odiado pelos judeus, interrompe a sua viagem, chega perto, aplica óleo e vinho nas feridas do semimorto, tira-o do lugar de perigo, leva-o a uma hospedaria segura e ainda paga o seu tratamento. Isto é o que chamamos de misericórdia.

Para os religiosos da parábola (o sacerdote e o levita), era um incômodo a ser evitado, mas, para o Samaritano, era alguém que necessitava de amor e de ajuda, de modo que ele lhe ofereceu cuidado. Esse samaritano quis transmitir a seguinte mensagem: "o que é seu, é seu; mas o que é meu pode ser seu também".

Contudo, exercitar a misericórdia ao próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista material, mas, sobretudo, levar esse alguém a Cristo, a uma vida de comunhão com Deus. 
Portanto, o que Jesus disse ao doutor da Lei, ele diz também a nós: “Vai e faz da mesma maneira”. 

Se a Parábola do Bom Samaritano fosse compreendia e praticada, removeria o preconceito racial, o ódio e a inveja entre classes, e o mundo seria extraordinariamente maravilhoso para se viver. Pense nisso!

-A prática de Jesus. Jesus estabeleceu uma comunidade de discípulos cujo relacionamento se baseava no amor e na partilha. Ele foi o maior exemplo de misericórdia: Ele curou os doentes, alimentou os famintos, abraçou as crianças, foi amigo dos pecadores, tocou nos leprosos; fez que os solitários se sentissem amados; consolou os aflitos, perdoou os pecadores e restaurou os que haviam caído em opróbrio. Ao multiplicar os pães e peixes (Mc.6:30-44), Jesus se utiliza do pouco que alguém se dispôs a partilhar. Partilhar o que se tem mexe com o nosso egoísmo.  A grande lição que Jesus ensinou é que a disposição para repartir o que se tem promove o 
suprimento de todos.

“O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado”(Pv.14:31). 

“Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”(Sl.41:1).

2. Bem-Aventurados são os misericordiosos

No célebre sermão do monte, Jesus disse: “bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7). Nessa bem-aventurança, Jesus falou que a misericórdia é tanto um dever como uma recompensa. Os misericordiosos alcançarão misericórdia. 

Os romanos não consideravam a misericórdia uma virtude, mas uma enfermidade da alma. Vivemos num tempo em que a misericórdia parece ter desaparecido da terra. Mas essa não é uma constatação nova. À época de Jesus, os judeus eram tão cruéis quanto os romanos: eram orgulhosos, egocêntricos, hipócritas e acusadores. Hoje, se formos misericordiosos, as pessoas vão nos explorar ou nos perturbar de forma contumaz.

Na verdade, a misericórdia não é uma virtude natural. Por natureza, o homem é mau, cruel, insensível, egoísta, incapaz de exercer a misericórdia. A pessoa precisa de um novo coração, antes de ter um coração misericordioso. 

Deus é o Pai de misericórdias (2Co.1:3); dele procede toda misericórdia. Quando a exercemos, nós o fazemos em seu nome, e por sua força e para a sua glória.

3. Somos criados para as boas obras

Misericórdia não é sentimento nem palavras, mas ação; é atender às necessidades, e não apenas senti-las. O apóstolo Paulo escrevendo à igreja em Éfeso disse: “somos [...] criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef.2:10). 

Escrevendo ao seu cooperador Tito, disse: “[...] os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras...” (Tt.3:8). Assim, devemos praticar as boas obras porque somos salvos, e fomos alcançados pela graça de Deus. Diante do exposto:

a) Devemos acudir ao necessitado. Davi disse: “Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama” (Sl.4:1-3).

Isaias, inspirado pelo Espírito Santo, disse: “e, se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia” (Is.58:10).

b) Devemos ser liberais na contribuição. Deus diz: ”Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o SENHOR, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade” (Dt.15:7,8).

Deus providenciou várias leis para cuidar dos pobres: nas colheitas, não se podia apanhar o que caía no chão, era dos pobres. Paulo exorta os ricos: “façam o bem, enriqueçam em boas obras, generosos em dar e pronto em repartir” (1Tm.6:18).

Ajudando aos necessitados, estaremos rompendo com nossos próprios interesses egoístas, para acumular “tesouros no Céu” (Mt.6:19-21; Lc.12:33-34). O maior tesouro é, sem dúvida, a salvação eterna, pela graça de Cristo (Ef.2:8-10), daqueles que são levados a glorificar a Deus por nossas boas obras de generosidade (ver Mt.5:16). 

Lembramos novamente que ter misericórdia é sentir a infelicidade, a miséria do outro e tentar retirá-la ou, pelo menos, minorá-la. Deus não se agrada de quem se alegra no mal do outro, ainda que seja do inimigo, do perverso(Pv.24:17), porque isto é falta de misericórdia - “… o que se alegra da calamidade não ficará impune” (Pv.17:5b) -, enquanto que o que se compadece do necessitado, honra a Deus – “O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado”(Pv.14:31). 

“Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”(Sl.41:1).

c) Devemos ter o coração aberto para área da evangelização e das missões. Evangelizar é exercer misericórdia, pois somente o Evangelho tem poder de libertar a pessoa, destituída de Deus, das iguarias de Satanás e levá-la aos pastos verdejantes do redil do Senhor Jesus.
É muito clara a necessidade espiritual do mundo. Infelizmente, o investimento na obra missionária ainda é muito pequeno. De um modo geral, gastamos mais com outros empreendimentos e objetos pessoais do que investimos em missões e na evangelização das almas perdidas.

Jesus, após ter passado quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito do reino de Deus (At.1:3), explicitamente determinou qual seria a tarefa principal da Igreja: Evangelizar e ensinar - “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc.16:15). Aqui, o verbo está no modo imperativo, ou seja, trata-se de uma ordem, não de uma recomendação ou de um conselho da parte do Senhor. 

Nota-se que Jesus ordenou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo, a toda a criatura; uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo ter exclamado: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!”(2Co.9:16).

A ordem do Senhor de ir por todo o mundo lembra-nos de que a evangelização é feita sem qualquer discriminação, sem qualquer parcialidade ou preferência deste ou daquele lugar, desta ou daquela nacionalidade. 

          Ir: proclamar o Evangelho em palavras e ações a toda criatura.
          Ensinar: tanto aos novos convertidos como aos maturados na fé, tornando-os fiéis seguidores de Cristo.
          Batizar: integrar os novos convertidos na igreja local, a fim de que cresçam na graça e no conhecimento por intermédio da ação do Espírito Santo em sua vida, e desfrute sempre da comunhão dos santos.

A Igreja pode fazer tudo aqui na terra, mas se não fizer missões e evangelismo, não fez nada. Missões é urgente e imprescindível. Sem sombra de dúvidas, é a suprema tarefa da Igreja.

4. Por que devemos ser misericordiosos?

O Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro “Mateus – Jesus, o Rei dos reis”, elenca algumas razões para sermos misericordiosos, como veremos a seguir.

a) porque a prática das boas obras é o grande fim para o qual fomos criados. O apóstolo Paulo diz: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef.2:10). Todas as criaturas cumprem o papel para o qual foram criadas: as estrelas brilham, os pássaros cantam, as plantas produzem segundo a sua espécie. O propósito da vida é servir. Aquele que não cumpre a missão para a qual foi criado é inútil. Diz o adágio: ”quem não vive para servir, não serve para viver”.

b) porque pela prática da misericórdia nós resplandecemos o caráter de Deus, que é misericordioso. Adverte o Senhor Jesus: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai celestial” (Lc.6:36). Deus é o Pai de toda misericórdia (2Co.1:3). Deus se deleita na misericórdia (Mq.7:18). As suas ternas misericórdias estão sobre todas as suas obras (Sl.145:9). Quando você demonstra misericórdia, reflete Deus em sua vida.

c) porque a demonstração de misericórdia é um sacrifício agradável a Deus. A Bíblia diz: “Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz (Hb.13:16). 

Quando você abre a mão para ajudar o necessitado, é como se estivesse adorando a Deus. O anjo do Senhor disse a Cornélio: “Cornélio [...] as tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus (Atos 10:4).

A prática da misericórdia é uma liturgia que agrada o coração de Deus. Dar pão ao que tem fome, vestir o nu, ajudar aqueles que estão enfermos e que são necessitados, é servir ao próprio Senhor Jesus (Mt.25:31-46). Segundo João Batista, repartir pão e vestes é uma maneira concreta de demonstrar o verdadeiro arrependimento – “E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça da mesma maneira” (Lc.3:11).

d) porque um Dia daremos conta da nossa Mordomia. A Bíblia diz que somos mordomos e vamos um Dia comparecer perante o Tribunal de Cristo para prestar contas de nossa administração (Lc.16:2). É um grande perigo fechar as mãos aos necessitados.

No Dia do Julgamento das nações, as pessoas serão julgadas pelo que deixaram de fazer aos necessitados: “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não me visitastes” (Mt.25:41-43).


5. As recompensas prometidas ao misericordioso

A Palavra de Deus nos fala sobre algumas recompensas que o misericordioso receberá.

a) Ele receberá de Deus o que deu aos outros

Ele será feliz. Jesus disse que “mais bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35). A pessoa feliz não é aquela que quer tudo para si, mas é aquela que distribui e dá aos pobres e necessitados.

Ele receberá de Deus a recompensa. A recompensa da misericórdia não virá daqueles a quem ela foi ministrada, mas de Deus. Jesus Cristo foi a Pessoa mais misericordiosa que já existiu, mas o povo pediu para Ele ser crucificado. Jesus não recebeu misericórdia alguma das pessoas a quem dispensou misericórdia; dois sistemas impiedosos - o romano e o judeu -, uniram-se para matá-lo.

A misericórdia sobre a qual Jesus fala em Mateus 5:7 não é uma virtude humana que traz sua própria recompensa. Não é essa ideia. Então, o que o Senhor está querendo dizer? 

Simplesmente o seguinte: “Sejam misericordiosos com os outros, e Deus será misericordioso com vocês” (Mt.5:7). Deus é o sujeito da segunda parte da frase.

Portanto, não são as pessoas que recompensarão o misericordioso com misericórdia, mas Deus. O Deus misericordioso abre as torneiras celestiais sobre a sua cabeça; Ele abre os celeiros da Céu para abastecer a própria alma.

Ser misericordioso, portanto, não é o meio de ser salvo, mas o meio de demonstrar que se está salvo pela graça. O seu coração é misericordioso? Você sente a dor do outro? Abre-lhe o coração, a mão e o bolso? Você se importa com as almas que perecem? Você tem usado o que Deus lhe deu para abençoar as pessoas? O mundo tem sido melhor porque você existe? Pense nisso!

b) Ele será recompensado nesta vida

Ele será abençoado em sua pessoa – “Bem-aventurado aquele que acode ao necessitado” (Sl.41:1).

Ele será abençoado em seu nome – “Ditoso é o homem que se compadece e empresta…não será jamais abalado; será tido em memória eterna” (Sl.112:5,6).

Ele será abençoado em sua prosperidade – “A alma generosa prosperará e a quem dá a beber será dessedentado” (Pv.11:25).

Ele será abençoado em sua posteridade – “...a sua descendência será uma bênção” (Sl.37:26). Não apenas ele é abençoado, mas seus filhos também serão abençoados.

Ele será abençoado com vida longa – “Bem-aventurado o que acode ao necessitado. O Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra” (Sl.41:1,2). Ele ajuda os outros a viver e Deus lhe preserva e lhe dilata a vida.

c) Ele será recompensado na vida por vir

Não são as nossas boas obras que nos levam ao Céu, mas nós as levamos para o Céu (Ap.14:13). A salvação é pela fé sem as obras, mas a fé salvadora nunca vem só. A fé nos justifica diante de Deus, e as obras diante dos homens.

Receberemos galardão no Céu até por um copo de água fria que dermos a alguém em nome de Jesus (Mt.10:42).
  
A Bíblia diz: “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício” (Pv.19:17).

Jesus diz: “Daí, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão…” (Lc.6:38).

No dia do julgamento das nações, no final da Grande Tribulação, Jesus dirá aos que estiverem à sua direta: “Vinde benditos de meu Pai, entrai na posse do Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque eu tive fome e me deste de comer…” (Mt.25:34-40).

III. CUIDADOS NA PRÁTICA DAS BOAS OBRAS

A prática da bondade é um elemento indispensável na vida do crente, que deverá fazê-lo não só individualmente, como mostra o testemunho eloquente de Barnabé no livro de Atos dos Apóstolos, como também coletivamente, como dão exemplo robusto as igrejas locais dos tempos apostólicos - seja a igreja de Jerusalém, sejam as igrejas em Corinto, na Acaia, ou na Macedônia. O próprio Jesus, em Seu ministério, tinha um grupo de pessoas que cuidavam dos pobres, tanto que havia uma bolsa, que ficava a cargo de Judas Iscariotes, para esta finalidade (João 12:4-8). 

-Temos uma bolsa para os pobres, ou seja, há, no nosso orçamento doméstico, uma verba para fazermos o bem, ajudarmos os necessitados, ou o consumismo desenfreado, os gastos supérfluos, as vaidades humanas têm devorado esta quantia e, tal como Judas Iscariotes, lançamos mão daquilo que deveria ajudar a quem precisa?

-Nossa igreja local tem uma bolsa para os pobres, ou, também, tem se envolvido em tantas atividades e tantas obras que não resta qualquer ajuda aos necessitados, até mesmo para os crentes, que dirá para os não-crentes da área abrangida por nossa igreja local? 

-Temos ajudado as iniciativas de irmãos valorosos e abnegados, que têm procurado minorar a crescente miséria da população que nos cerca, ou temos nos comportado como aqueles descritos em Tg.2:16? - “e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?”.

1. As boas obras devem glorificar a Deus

No Sermão do Monte, Jesus disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt.5:16). Quando a luz da Igreja brilha, as pessoas devem ver não sua pujança, mas suas boas obras. Essas obras não devem ser apenas boas, mas também belas e atraentes. Mas, a Igreja não faz boas obras a fim de atrair a atenção das pessoas para si; ela o faz para levá-las a conhecerem a bondade de Deus e glorificá-lo. Portanto, quando um cristão faz boas obras, ele as realiza pelo poder de Deus e para a glória de Deus.

2. As boas obras não podem ser corrompidas pelas motivações egoístas

Disse Jesus: “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt.6:2). Mesmo as coisas mais sagradas, como a misericórdia, podem ser corrompidas pelas motivações egoístas. Com base nesta advertência de Jesus aos judeus de sua época, podemos afirmar que:

a) A misericórdia é uma expressão legítima da espiritualidade cristã. Em Israel, à época de Jesus, dar dinheiro aos pobres era um dos mais sagrados deveres no judaísmo. O socorro aos necessitados é uma expressão da verdadeira fé. Quem ama a Deus, prova isso amando o próximo. Quem foi alvo da misericórdia divina, é instrumento da misericórdia ao próximo. A pessoa não é salva pelas obras de caridade, mas evidencia sua salvação por meio delas. A salvação não é pelas obras, mas para as boas obras. A graça é a causa da salvação, a fé é o instrumento, e as boas obras, o resultado.

b) A misericórdia é uma prática esperada pelo cristão. Jesus não diz “se deres esmola”, mas “quando deres esmola”. Com isso, Jesus afirma que se espera que o cristão exerça a caridade. Um coração regenerado prova sua transformação em atos de misericórdia. O cristão tem um coração aberto, o bolso aberto, as mãos abertas e a casa aberta.

c) A misericórdia não pode ser ostentatória. A prática da misericórdia não pode ser ostentatória. Não é suficiente fazer a coisa certa: dar esmolas; é preciso também fazer com a motivação certa. Dar esmolas e depois tocar trombeta, chamando atenção para si, é uma espiritualidade farisaica, e não cristã.

d) A misericórdia ostentatória só tem recompensa das pessoas, e não de Deus. O hipócrita é a pessoa que desempenha um papel no palco como se fosse outra pessoa. Alguém disse, e concordo com ela: “é mais fácil alguém fazer de conta que é reto, do que ser reto de verdade”. A recompensa do hipócrita, que faz propaganda de seus próprios feitos, é receber o aplauso das pessoas e nada mais. Jesus disse que o hipócrita já recebeu o recibo de quitação plena de toda recompensa que tinha de receber - “...Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão”.

e) A misericórdia precisa vir de mãos dadas com a discrição (Mt.6:3) – “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”. O cristão não dá ao pobre para ser visto nem para ser exaltado pelas pessoas, nem para receber uma recompensa em alguma dimensão espiritual, mas dá para que o necessitado seja suprido e Deus seja glorificado.

f) A misericórdia exercida com a motivação certa recebe de Deus a recompensa (Mt.6:4) – “para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. Aquilo que é feito ao próximo em secreto, longe dos holofotes, recebe de Deus, que vê em secreto, a verdadeira recompensa.

3. As obras de misericórdia são obras de amor ao próximo
Na parábola do bom samaritano (Lc.10:25-27), Jesus mostrou que próximo é qualquer um que esteja em nosso caminho e, em algumas oportunidades, o apóstolo Paulo ensinou que fazer o bem a outrem é uma qualidade que não pode faltar àqueles que dizem servir a Deus (Rm.12:13-21; Cl.3:12-14; 1Ts.4:9-12). O salvo não pode se isentar de toda e qualquer ação que venha promover o bem-estar da coletividade, que venha mitigar o sofrimento daquele que está ao nosso redor.

Portanto, as obras de misericórdia são parte da prática do amor cristão, que, segundo Jesus, deve ser estendido até mesmo ao inimigo (Mt.5:44) – “ Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”. 

Obedecendo esta mesma linha de ensino de Jesus, o apóstolo Paulo assim se expressa: “Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça” (Rm.12:20). Isto é fácil? Claro que não! Somente com a graça de Deus, e na força do Espírito Santo, o cristão pode cumprir o mandamento de amar o inimigo.

 4. As obras de misericórdia são atos de benignidade. "Que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres"(Dt.15:10a). Pobreza não é maldição, é consequência do sistema controlado por homens gananciosos. Os pobres estão no nosso meio para que tenhamos oportunidade de exercitar amor.


“Livremente lhe darás, e não fique pesaroso o teu coração quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor teu Deus em toda a tua obra, e em tudo no que puseres a mão"(Dt.15:10).

Não se arrependa de haver dado, nem sinta dor no coração. O apóstolo João é enfático: quem vir a seu irmão padecer necessidade e não suprir essa necessidade não é cristão - “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus?”(1João 3:17).

5. As obras de misericórdia são um mandamento divino. Este mandamento é dito tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, ou seja, ele foi dado para Israel e para Igreja.
Deus reconheceu a existência dos pobres no meio do seu povo e ordenou providência a respeito deles - “Pois nunca cessará o pobre do meio da terra”(Dt.15:11a). Esta é a frase que mais contraria a pregação contemporânea da teologia da prosperidade. Pretende-se exterminar a pobreza no meio da igreja, no entanto, o texto declara: "Pois nunca cessará o pobre do meio da terra". E Jesus ratifica: "Porque os pobres sempre os tendes convosco"(João 12:8). O sábio Salomão enfatiza que o pobre foi feito por Deus – “O rico e o pobre se encontram; a um e a outro faz o SENHOR” (Pv.22:2).

Compete àqueles que tem recursos, minimizar a situação dos pobres. Deus não prometeu riquezas para todos, porém, daqueles a quem ele deu e dá riqueza, no exercício da Mordomia Cristã das obras de misericórdia, Ele quer que os pobres não sejam esquecidos, tal como aconteceu na Igreja de Jerusalém - “Não havia entre eles necessitado algum...”(Atos 4:34). Pobres, sim; necessitados, não. Esta é a regra a ser seguida pela Igreja, hoje.

CONCLUSÃO

É mister que a Igreja dê o exemplo, que tenha, a partir de sua membresia, ações efetivas que mostrem ao mundo que somos diferentes e que cremos num Deus poderoso, justo e misericordioso. Enquanto nós mesmos nos mantivermos alheios ao sofrimento do irmão, egoístas e sem compaixão, seremos totalmente impotentes com relação ao lamentável estado de coisas que vive a nossa sociedade e, pior do que isto, cúmplices e envolvidos em toda a sorte de desatinos, desvios e corrupções, como, lamentavelmente, têm ocorrido em escândalos cada vez mais frequentes no nosso meio. Que Deus nos desperte e que tenhamos misericórdia, benignidade e bondade em nossas obras. As obras de misericórdias são o testemunho bíblico da nossa fé.

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista Ensinador Cristão – nº 79. CPAD.
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Elinaldo Renovato. Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. CPAD.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. Benignidade e Bondade, o fruto gêmeo.PortalEBD_2005.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com