O Livro de Jó
Texto Áureo
Eis que temos por
bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o
fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.
Tiago 5.11
Podemos
dizer que há uma dupla necessidade de paciência: 1º Quando somos perseguidos
pelos ímpios (Tiago 5.7,8).
2º Quando há
diferença de opinião entre crentes (Tiago 5.9-11).
Jó
é sem dúvida um grande exemplo para os crentes, pois depois de Jesus, talvez
tenha sido o homem que mais experimentou sofrimentos sem ter feito coisas que
justificassem seus sofrimentos (por assim dizer).
Diferente
de Jó, hoje em dia, basta muito pouca coisa para que inúmeros crentes percam
logo a paciência diante das “lutas da vida”, é provável que
cerca
de 80% dos que se dizem crentes não suportariam a metade do que Jó suportou.
Mas
há muitas coisas que devem nos animar a ter paciência, neste capítulo de Tiago
podemos citar:
O processo da natureza (Tiago 5.7),
a volta do Senhor (Tiago 5.8), o exemplo dos
profetas (Tiago 5.10) e a paciência de Jó (Tiago 5.11).
1 – Autoria,
Local e Data do Livro
1.
O autor de Jó.
O
livro de Jó é anônimo, a tradição judaica atribui a autoria do livro a Moisés,
mas nada no livro sugere que o livro tenha sido realmente escrito por Moisés.
Alguns estudiosos sugerem que o livro de Jó é o trabalho de vários autores, mas
isso é muito improvável.
É
muito mais provável e aceitável que o livro de Jó tenha sido escrito por um
único autor.
Quando
analisamos a fundo a historicidade do livro de Jó, temos todos os motivos para
crer que, o autor, embora não tenha sido Jó e nem algum de seus amigos, era um
israelita. O livro reflete episódios do período patriarcal onde a Lei dada por
intermédio de Moisés ainda não havia sido promulgada. A história propriamente
dita é de origem muito antiga, provavelmente transmitida por tradição oral ou
escrita. O autor, evidentemente, fez um esforço deliberado para preservar o
“sabor arcaico” (ou seja, os tempos remotos, de antes da existência da nação
israelita) da linguagem de Jó e seus amigos.
Dentro
da tradição judaica existe a chamada “literatura de Sabedoria” que é um
material muito antigo de épocas remotas transmitido de geração a geração de
forma oral e escrita, o livro de Jó pertence a esta chamada
“Literatura de
Sabedoria”.
Muitos
interpretes acreditam que a época do rei Salomão seja a data mais provável para
a redação do livro de Jó. Pois o período de Salomão foi um divisor de águas
para os materiais de estudo, por assim dizer, a prosperidade e o interesse pela
sabedoria internacional, época em que os intelectuais de Jerusalém devem ter
entrado em contato com antigos textos de sabedoria, entre eles, materiais sobre
o tema do sofrimento humano.
E, há muitos outros interpretes que acreditam que o livro
de Jó tenha sido escrito no período pós exílico.
Eu
(professor José Junior) acredito que é bem possível que o livro de Jó tenha
sido escrito por Salomão que obteve conhecimento oral e/ou escritos do fato,
mas, posso estar errado nisto, pois, não há ninguém que possa atestar com
clareza quem realmente foi o autor do livro.
Podemos
perceber que, o autor do livro de Jó era um homem instruído cujo conhecimento
abrangia os céus e a terra (Jó 22.12; 38.32,33 Jó
26.7,8; 28.9-11; 37;11,16). O conhecimento do autor faz referência a
nações estrangeiras (Jó 28.16,19), vários
produtos (Jó 6.19), e profissões humanas (Jó 7.6; 9.26; 18.8-10; 28.1-11), o autor estava
familiarizado com plantas (Jó 14.7-9) e animais
(Jó 4.10,11; 38.39; 40.15-41), o autor era um
homem sábio, íntimo da sabedoria tradicional, mas acima de tudo um homem de
sensibilidade espiritual (Jó 1.1,5,8; 2.3;14.14,15;
16.11-21; 19.23-27; 34.26-28; 40.1-5; 42.1-6).
O autor de Jó era sem dúvida alguém muito instruído, de
grande sabedoria, podemos perceber isto pelos detalhes, a beleza poética do
livro, as detalhadas informações do contexto histórico do livro mostram que o
escritor foi um profundo pesquisador de fatos.
(Por
isso, na minha opinião é bem possível que tenha sido Salomão o autor do livro
de Jó, mas como eu disse, posso estar errado quanto a isso).
2.
A pessoa histórica de Jó.
O
livro de Jó não conta uma história de ficção, mas sim a história real de um
homem de Deus que viveu muitos séculos atrás. Além da menção a Jó no livro de
Tiago, encontramos menções sobre Jó também no livro de Ezequiel.
Ainda que estivessem no meio dela estes três
homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma,
diz o Senhor JEOVÁ.
Ezequiel
14.14
Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela,
vivo eu, diz o Senhor JEOVÁ, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só
livrariam a sua própria alma pela sua justiça.
Ezequiel 14.20
E,
segundo Russel Norman Champlin, foram encontrados fragmentos do livro de Jó
entre os manuscritos do mar morto*. Isto é mais uma prova de que a história de
Jó foi preservada ao longo dos séculos, não como sendo ficção, mas realidade.
Manuscritos do
mar morto: é uma coleção de livros e fragmentos de livros encontrados nas
cavernas de Qunram, no mar morto por volta de 1947. Qunram era uma antiga
comunidade religiosa judaica próxima do local onde os manuscritos foram
encontrados.
3.
A terra de Jó.
Jó é apresentado como um homem que vivia na terra de Uz.
Havia um homem na terra
de Uz, cujo nome era Jó..
Jó
1.1
Segundo Champlin, alguns supõem que a terra de Uz ficasse situada em
algum ponto entre Damasco da Síria, ao norte, e Edom, ao sul, ou seja, mais ou
menos ao leste da Palestina. Mas a localização exata de Uz é impossível de ser
apontada. A história mostra que Uz era um território muito extenso. Muitos
estudiosos acreditam que Uz era próxima de Canaã.
4.
A época de Jó.
Acredita-se
que a história de Jó foi ambientada a cerca de dois mil anos a.C., embora o
livro tenha sido escrito provavelmente vários séculos mais tarde.
Jó
viveu cerca de 140 anos após os eventos do livro (Jó
42.16), o que sugere uma duração de vida de cerca de 200 anos. (Abraão
viveu 175 anos, Gênesis 25.7), as riquezas de Jó
eram calculadas em termos de gado (Jó 1.3; 42.12),
a atividade de Jó como sacerdote da família é idêntica a de Abraão, Isaque e
Jacó (Jó 1.5),e a ausência de referência a fatos
da história israelita ou a Lei dada por intermédio de Moisés (dentre outras
coisas) sugere uma época pré-mosaica (isto é, uma época de cerca de 2000 ano
a.C).
2 – Estrutura
Literária do Livro de Jó
1.
Prosa e poesia.
2.
Organização.
3.
Abundância de
figuras de linguagem.
O
livro de Jó dá inicio a sessão de livros poéticos da Bíblia (Jó, Salmos,
Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações).
Em
sua forma poética estes livros investigam a condição humana e relacionam os
homens com Deus de maneiras múltiplas. São livros que retratam experiências
humanas do povo de Deus, sob as várias circunstâncias da vida terrena. Os
livros poéticos são épicos, líricos e dramáticos. São exemplos de expressões
literárias que não há igual nas literaturas poéticas não inspiradas pelo
Espírito Santo.
3 – Natureza e Mensagem do Livro de Jó
1.
Por que os justos sofrem.
Seria
uma atitude presunçosa dizer que podemos entender o livro de Jó em sua
totalidade, podemos sim compreender muitas coisas do livro, mas não a
totalidade do livro, assim como Jó podemos somente por a mão na boca diante de
alguns pontos (Jó 40.4).
O
livro de Jó fala de realidades imutáveis (imutáveis por causa do pecado no
mundo) tais como a guerra, a miséria, a doença, a humilhação, a perda de entes
queridos, a depressão. Mas o livro de Jó fala também sobre a bondade imutável
de Deus que transforma a nossa agonia humana em justiça, bondade e alegria.
Jó
perdeu suas riquezas, sua família e sua saúde. Jó não sabia por que Deus
permitiu que aquilo acontecesse com ele, pois ele era um homem sincero, reto,
temente a Deus e desviava-se do mal (Jó 1.1), aos
olhos de Jó, ele não merecia passar por aquilo, pois era um homem temente a
Deus. Percebemos que, quando o mal atinge outras pessoas, é mais fácil para nós
formular uma resposta sobre o porque o mal atingiu as outras pessoas, mas,
quando o mal nos
atinge é mais difícil chegar a uma resposta aceitável.
Dentro do contexto do livro de Jó acreditava-se que apenas os maus sofriam, e,
se alguém aparentemente justo sofria, era sinal de que a pessoa na verdade não
era justa. Mas Jó aprenderia aquilo que Salomão aprendeu.
Tudo sucede igualmente a
todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro;
assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador;
ao que jura como ao que teme o juramento.
Eclesiastes 9.2
Neste
mundo, por causa da ação do pecado, tudo sucede a todos, ou seja, o sofrimento
vem para todos, de uma forma ou de outra, sofrem ricos, pobres, pretos,
brancos, homens, mulheres, crianças, brasileiros, americanos e etc.
2.
Existe bondade desinteressada?
Para
muitas pessoas toda e qualquer prática religiosa não passa de barganha, esse
pensamento é o mesmo que satanás apresentou a Deus a respeito de Jó (Jó 1.6-12).
Ao
contrário do que pensam muitos o livro de Jó não é uma teodiceia *, mas trata
da questão da “adoração verdadeira”.
*Teodiceia- A defesa da bondade de Deus diante do sofrimento
humano.
Na
verdade, esta é uma pergunta difícil de ser respondida, os maiores interpretes
da Bíblia não dão uma resposta satisfatória para esta pergunta.
A
sugestão sutil de satanás é de que a adoração a Deus é basicamente algo
egoísta, fere no âmago a relação entre os servos de Deus e Deus.
Porventura
alguém servirá ao Senhor se não obtiver algum lucro como bens materiais, saúde
e por fim a vida eterna?
Como
não encontrei nem entre os maiores interpretes bíblicos uma resposta
satisfatória, responderei esta pergunta de acordo com o que vejo na Bíblia?
Na
época de Jó não havia promessa de vida eterna (alguns dos primeiros textos
bíblicos que vemos a respeito de vida eterna no Velho Testamento estão em Isaías 26.19 e Daniel 12.2),
e mesmo após perder sua família, seus bens, sua riqueza, Jó permaneceu fiel aos
preceitos de Deus, se Jó servisse a Deus por interesse, certamente ele teria
abandonado sua integridade e meio ao sofrimento, se sua adoração fosse por
interesse, diante do sofrimento, Jó simplesmente não teria mais visto razão
para continuar vivendo de forma que agradasse a Deus e satanás estaria certo em
sua tese.
Mas
Jó mostrou que não servia a Deus por interesse. Portanto, existe sim “bondade
desinteressada” é perfeitamente possível servir a Deus de forma desinteressada.
3.
Pode o homem compreender Deus?
A resposta para esta
pergunta é um grande e sonoro NÃO.
8. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz
o SENHOR.
9. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são
os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos,
mais altos do que os vossos pensamentos.
Isaías
55.8,9
Jó
tinha uma fé verdadeira em Deus, com Jó aprendemos que é muito mais importante
“ser” do que “ter”. Jó tinha muitos bens, mas antes de tudo isso, Jó era um
verdadeiro homem de Deus, com uma fé verdadeira. A fé verdadeira crê que Deus
fará aquilo que Ele quer e como Ele quer, e não o que queremos e não como
queremos.
Conclusão
Nesta
lição aprendemos algumas informações básicas sobre o livro de Jó, estas
informações nos ajudam a compreender melhor o livro de Jó e também as sagradas
escrituras como um todo.
Fontes
Enciclopédia Bíblica Russel Norman Champlin,
Bíblia de
Estudo Explicada,
Bíblia de Estudo Arqueológica,
Bíblia de Estudo Pentecostal,
Dicionário Bíblico Tyndale, Pequena Enciclopédia
Bíblica Orlando Boyer,
Série Cultura Bíblica – Jó,
Apontamentos teológicos professor José Junior.
O Livro
de Jó
Texto
Áureo
"Eis
que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de
Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso
e piedoso." (Tg 5.11)
Verdade
Prática
O
livro de Jó não é apenas uma preciosidade da literatura universal, mas,
sobretudo, uma poderosa reposta de Deus para as grandes questões da vida.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
2
Timóteo 3.16; Ezequiel 14.14,19,20; Tiago 5.11.
OBJETIVO GERAL
Mostrar
que o Livro de Jó é uma poesia inspirada que retrata o dilema vivido por uma
pessoa histórica.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
I.
Mostrar que, a partir das evidências internas do livro, é possível conhecer o
contexto no qual Jó viveu;
II.
Especificar o gênero literário e de que forma esse conhecimento ajuda na
compreensão do Livro de Jó;
III.
Identificar o propósito e a mensagem do Livro de Jó.
Introdução
O livro de Jó ocupa um lugar
muito particular na Palavra de Deus. Ele tem um caráter totalmente próprio, e
ensina lições que não vamos achar em nenhuma outra parte do inspirado Volume.
Não é o nosso propósito abordar a questão da autenticidade deste precioso livro
nem aportar as provas da sua divina inspiração.
Estas coisas temos por
certas; e não temos a menor dúvida em quanto à sua veracidade, por quanto
deixamos tais provas em mãos mais capazes. Recebemos o livro de Jó como parte
das Sagradas Escrituras e, por tanto, para proveito e bênção do povo de Deus.
Não precisamos de provas para nós, nem pretendemos oferecer nenhuma delas aos
nossos leitores.
E cabe agregar ainda que não
temos intenções de entrar em investigações a respeito da autoria deste livro,
tema que, por muito interessante que seja, cremos se trate de um assunto
puramente secundário. Recebemos o livro como procedente de Deus, e isto nos
basta. Cremo de todo coração que é um escrito inspirado, e sentimos que não nos
incumbe discutir a questão referente a onde, quando e por quem foi escrito.
Resumindo, nos propomos, com
a ajuda do Senhor, oferecer ao leitor alguns pensamentos simples e práticos
sobre este livro, o qual cremos que requer de um estudo mais profundo para
poder ser melhor compreendido. Queira o Espírito eterno —o Autor do livro—
explicá-lo e aplicá-lo a nossas almas!
I – AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ
1.O
Nome
Para
alguns historiadores, o nome de Jó é apenas figura de um personagem, para
servir de titulo ao livro. Parece não ter consistência esta opinião, Porque ele
é mencionado em outros livros da Biblia como o nome de uma pessoa. Veja Ez. 14:14,18,20.
Os árabes conservam tradições a respeito de Jó como personagem pertencente aos
patriarcas, príncipes dos seus maiores. É lembrado como um homem rico e que,
por sua fidelidade a Deus, foi provado na sua vida e prosperidade. O teor do
livro mesmo nos leva à convicção de que o personagem era uma pessoa real, tal
como a descreve o poema. Jeremias, o profeta (cap. 20:14- 18), representa-se a si mesmo,
nas suas aflições, como Jó. Isaias (59:,I) representa não tanto o livro, mas a pessoa de
Jó. Alguns salmos (8:4
e refs.) também nos representam a pessoa de Jó. Não temos qualquer
dúvida de ser Jó ó homem que viveu o drama que o livro descreve.
2.
A Terra de Jó
A
terra de Jó era Uz; ficava (ou fica) ao sul de Edom e a oeste do deserto da
Arábia, região meio deserta, e que se estende para leste, até Babilônia. Tem
havido algumas objeções quanto a esta região ser a terra de Jó; todavia, não
padece muita dúvida, pois é a que mais se coaduna com os termos descritos no
livro. Terra de criadores, agricultores, como eram os edomitas e amonitas dos
tempos bíblicos. Tanto a terra como o nome estão identificados.
3.A
Data do Livro
Não há possibilidade de se determinar a sua
data, nem o seu autor. O fato de ser mencionado pelos profetas antigos e de
aparecer em muitos passos das Escrituras nos leva a crer que deve ser um livro
da alta antiguidade.
Alguns
escritores o colocam no período da monarquia e dão a Salomão a sua autoria.
Outros avançam mais um pouco e o levam ao período do cativeiro de Israel e Judá
(596,a.C.).
Não parece fácil sustentar tal posição. O panorama da obra e o seu conteúdo
estão muito longe de satisfazer a uma data tão avançada. O ambiente é
patriarcal e primitivo.
Mesmo
que se deseje destacar a época dos acontecimentos narrados com a data do seu
aparecimento, parece que qualquer data depois do Êxodo é de difícil
sustentação. Reconhecemos que um escritor poderia, em época muito posterior aos
acontecimentos relatados, descrever a situação tal como a encontramos na obra;
entretanto, o todo do livro nos leva a ver que tanto os fatos como a pessoa que
os relatou vêm de eras muito afastadas.
Pensam
alguns que os acontecimentos relatados foram transmitidos de geração à geração,
até que um escritor os reduziu à sua forma atual. Poderia ter sido assim, mas a
nós se nos afigura que tanto um pensar como o outro vêm de eras distantes da
história dos judeus. No livro não há referência a templos, nem a sacerdócio, a
não ser aquelas idéias sacerdotais muito primitivas, como nos tempos de
Melquisedeque ou Jetro. Parece que um regime de sacrifícios regulares, um
sacerdócio regular, eram coisas inexistentes. Seria difícil a qualquer escritor,
a não ser por deliberação antecipada, escrever uma obra como o livro de Jó,
totalmente à margem da vida atual, no caso de ter sido escrito durante a
monarquia ou mesmo depois. Há, é certo, referências a sacrifícios, e Jó mesmo
os oferecia pelos filhos; no entanto, esta noção de sacrifícios é muito mais
antiga do que qualquer livro da Bíblia.
O
fato de o livro apresentar pontos de contato com outros da Bíblia tanto pode
ser atribuído ao conhecimento que o autor tinha do meio ambiente, como pode
tratar-se de referências dos escritores sagrados a uma obra previamente
existente. Isso não prova coisa alguma. O que temos de ver é a situação do
livro perante o ambiente em que foi produzido. Se foi escrito no tempo da
monarquia, então deveria conter referências a reis e costumes; se depois do
cativeiro, teria de denunciar os acontecimentos de entro. Nada disso ocorre. O
livro é totalmente neutro, quer em relação aos dias da monarquia e seus
sacerdotes, quer quanto aos sacrifícios referentes aos sofrimentos dos deportados.
A impressão que se colhe é que o autor ignorava totalmente a história da sua
nação.
Diga-se
de passagem que, para a nossa crença na inspiração da história do livro, não
carecemos nem de conhecer a data da sua composição, nem o seu autor, pois que
temos tantos outros livros cujos autores e datas ignoramos, e, no entanto,
podemos colocá-los em datas determinadas pelos ensinos contidos. Não sabemos,
porém, quando foi produzida esta obra.
Não
poucos autores atribuem o livro a Moisés, escrito durante o tempo que viveu na
região de Edom. Se pudéssemos aceitar esta opinião então o dataríamos entre 1480-1440
a.C. Como veremos na seção seguinte, esta opinião parece ser a que mais se
coaduna com o seu texto.
O
livro apresenta diversos pontos de contato com outros livros da Bíblia. Compare- se Jó 3 com Jer. 20:14-18; Jó 15:35 com Is.
59:4; ainda Jó 16:10,30:9 com Is. 53, o Servo do Senhor; Jó 7:17 e Sal. 8:4; Jó
5:13 com I Cor. 8:19; Jó 5:13 e Tiago 5:11.
4.
Autoria do Livro
Alguns
o atribuem a Salomão. Não negamos as qualidades deste escritor para escrever um
drama como o livro de Jó, mas parece que não seria possível obra tal, nesta
época, visto que abstrai totalmente o meio ambiente de então, inclusive o
trono, o reino, o templo e tudo mais que o tempo de Salomão nos oferece. Pensam
outros que teria sido escrito por Neemias ou Esdras; certo escritor admite
Mardoqueu o haver escrito.
Nada
disso nos parece natural. Esdras e Neemias eram homens políticos, com grandes
responsabilidades públicas no governo, que não lhes deixariam tempo e condições
para escrever um livro do tipo de Jó, onde se descobre um arranjo poético,
encadeado de diversos quadros e atos, como se tivesse sido escrito para um
teatro. Mardoqueu não teve nem tempo para cuidar da defesa do seu povo, diante
de tantas aflições e agonias, a não ser depois que Ester se tomou rainha; nem
ainda assim nos parece ter tido condições ambientais para tal tarefa.
O
livro parece denunciar certo contato com o ambiente da época de Moisés, pois o
capitulo 28 menciona rubis, cristal, topázio, a pedra ônix, justamente as
pedras que os mineiros do Sinai cavavam para os reis do Egito, e ninguém melhor
do que Moisés conhecia as minas do Egito no Sinai. Lá viveu 40 anos e teria
entrado em contato com os mineiros que extraíam essas preciosidades para a
corte egípcia.
Enquanto
pastoreava as ovelhas do sogro, trabalhava no seu alfabeto e cooperava com os
sacerdotes no culto de Serabite, bem poderia organizar, em forma poética, a
história de Jó, que seria coeva com aqueles dias.
Não
podemos afirmar que Moisés tenha sido o autor do livro ora em estudo, mas esta
é nossa modesta opinião.
Poucos
escritores, que conhecemos, poderiam escrever um livro como este; nem mesmo
Salomão teria tido vagares para uma tal obra, pois era cientista, ocupado com
botânica, zoologia e negócios públicos. Se pudermos colocar a data do livro no
período de Moisés, na região de Edom, então não teremos muitas dificuldades
para contornar os problemas que o livro nos oferece. Era homem competente e
tinha tempo para a concatenação desta obra. Em poeta (Sal. 90 e Deut. 32).
Vivia
perto da região onde Jó tinha vivido ou morado. Notamos mais, que a teologia do
livro se parece muito com a dos tempos primitivos, com o sacerdócio
pré-mosaico, quando não estavam ainda definidos os contornos com os seus
doutores e intérpretes, as suas doutrinas da teocracia, nas sobre a
nacionalidade e suas responsabilidades perante Deus.
5.
A Natureza do Livro
Drama,
poema, écloga, qual será a melhor qualificação para o assunto de Jó? Parece-nos
que o melhor é lhe darmos a categoria de drama esta não foi a idéia do autor,
pelo menos foi o drama da vida de Jó, que nos deu o livro. Se comparássemos Jó
aos grandes livros dos poetas gregos, como a "Eneida" e tantos
outros, parece que o nosso levaria vantagem. É um livro universal em sua
doutrina e sua moral. Não há nada na literatura humana que lhe seja comparável.
É o livro que responde à pergunta: Por que sofre o justo, enquanto o ímpio
prospera.? É o compêndio de todas as épocas e de todos os sistemas religiosos.
Nenhum coração ferido bate-lhe à porta sem encontrar alivio e conforto, no
reconhecimento de que a Justiça Divina pode tardar, mas vem. É o livro que nos
mostra a piedade de um homem justo e nobre, e não obstante foi atirado às mais
sombrias masmorras do sofrimento, embora ao mesmo tempo mantivesse a sua
integridade e fé em Deus, contra as insinuações de sua mulher e dos seus amigos.
É o único livro que nos mostra o poder e a liberdade que as trevas têm, no
mundo moral de Deus.
É
o livro que, vindo de remotas eras, nos mostra que há um juiz, que no ÚLTIMO
DIA se levantará para fazer justiça aos seus escolhidos. Quando lemos os
"Diálogos de Platão", admiramos a sua esperança em face das
injustiças da sua gente e sua esperança de que, depois de tudo, ainda há
esperança.
Em
Jó há mais do que isto: temos a reivindicação da justiça divina para o tempo
presente, e que chega antes do fim de tudo na vida de um homem. Neste livro
temos a paciência que vence o sofrimento, contra todos os elementos do meio
ambiente.
É
um livro onde o homem silencioso, o homem que se cala, realiza mais do que o
que discursa (conf.
2:13; 3:5). É livro que nos mostra que os nossos amigos são, como
dizia o Padre Antônio Vieira: "certos amigos que não são amigos
certos", e que só há um que é certo, embora pareça ausente tantas vezes. É
o livro que nos ensina que nem sempre o sofrimento é resultado do pecado e que o
justo sofre mais do que o ímpio. Muito confiadamente Jó nos mostra o Redentor,
que no último dia nos fará justiça (19:25). É o livro de conforto para o abatido,
o sofredor, o perseguido. É o livro que não nos ensina tudo, mas nos leva a
confiar na justiça divina, que a seu tempo virá, e não tardará.
O
livro de Jó como peça de literatura não tem igual. Nem mesmo o Salmo 119 ou o
23, considerados peças incomparáveis. Lutero o reputava magnífico e sublime
como nenhum outro das Escrituras. Tennyson o chamava o maior poema da
literatura humana em todos os tempos. "O Paraíso Perdido", de Milton,
e "O Peregrino", de João Bunyan, não lhe podem ser comparados. Na sua
esperança de uma justificação futura, Sócrates, no mundo da literatura clássica,
mostra ter alguma semelhança; mas igual, nunca. É o maior poema de todos os
tempos, no dizer de Tennyson.
6.
Sua Mensagem para a Vida Humana
O
livro é flagrantemente uma denúncia contra tudo quanto é suficiência humana
para resolver os mais graves problemas da vida, especialmente no terreno do
sofrimento. Todos os discursos dos amigos de Jó, assim como todos os escritos,
tanto os inspirados como os profanos, de modo geral, ignoram as atividades de
Satanás, no seu afã de destruir não apenas a crença, mas a vida mesma. Todos os
crentes têm perfeita ciência da existência de Satanás, porém não têm a
concepção do seu campo de atividades na vida como o livro de Jó nos mostra. Os
dois primeiros capítulos dariam um substancioso tratado sobre demonologia,
verdade, em que, parece, jamais alguém pensou.
Algumas
lições práticas talvez nos sirvam. A primeira é que Satanás tem acesso a Deus
como qualquer dos anjos fiéis. No seu papel destruidor, está enquadrado nos
eternos planos de Deus, e deste círculo não pode sair. Isso se torna evidente
pela leitura dos capítulos 1:12 e 2:6.
Podemos,
pois, descansar, que Satanás não faz o que deseja. É bem verdade que as
provações trazem muitas amarguras e sofrimentos, mas também é certo que o
governo supremo do mundo está nas mãos do Deus Onipotente, Senhor e Criador. Em
segundo lugar, não devemos pensar que Deus onisciente careça de informações,
sejam de Satanás, sejam de qualquer outra força.
Tudo
Ele sabe e conhece e nada escapa ao Seu domínio. Isso veremos nos estudos
posteriores. Em terceiro lugar, precisamos sempre ter em vista que não
conhecemos o pensamento divino, nem os seus planos para a vida de cada um de
nós. Devemos descansar nas mãos do Todo-Poderoso, sabendo que Ele cuida dos
passarinhos, e dos seus servos, também. Armados com estas idéias, podemos
vencer Satanás e seus anjos, e ficar firmes, na segurança de que tudo está nas
mãos de Quem tudo pode e que nada escapa ao Seu domínio e governo.
Vistas
estas idéias preliminares, aduziremos que o livro de Jó nos convence de nossa
insignificância e do dever de sermos humildes em nossas tribulações. Isto é
evidente através de todos os ensinos do livro. Não nos cabe discutir os atos de
Deus, nem o modo como Ele governa e domina o nosso mundo. Até mesmo aqueles que
pretendem interpretar o nosso caso possivelmente devem ser recebidos com as
devidas ressalvas; isso se vê nos conselhos dos amigos de Jó, os quais,
querendo auxiliar, desajudavam o que estava sofrendo. Qualquer controvérsia a
respeito da maneira como Deus governa as coisas deste mundo servirá apenas para
amontoar palavras, e nada mais. Estamos envoltos em mistério, e, assim como as
nuvens encobrem a luz do sol, a nossa insuficiência esconde o pensamento
divino.
De
uma coisa podemos estar sempre certos e seguros: O Diabo não ganha a última
batalha. Esta pertence ao Senhor, e nós estamos com Ele. Se o livro de Jó não
nos leva a um conhecimento mais profundo da natureza humana e dos perigos a que
ela está sujeita, ao menos nos mostra que ela não está só no combate contra as
forças do mal. Muitos lances da batalha ficam sempre obscuros, e nem o soldado
conhece os planos do seu comandante para o encaminhamento do mesmo; apenas
permanece firme no seu lugar, até vencer, ou cair. Nós ficamos firmes até
vencer, porque o nosso comandante sempre vence (veja os comentários ao cap.
40).
Devemos
ainda ter em mente que esta vida não é final, é apenas preparatória; e a vida e
a vitória futuras devem ser sempre o nosso alvo. Jó, no auge da sua aflição,
suspirava por um mediador, um advogado, que não sabia onde estaria, mas
admitia, deveria existir. Nós já temos esse Mediador e Advogado, e para Ele
devem ir os nossos pensamentos.
Se
Jó tivesse o Cristo que nós temos, a sua história seria outra; porém não tinha,
e dai o seu desespero e agonia. Tenhamos em mente ainda que nosso Senhor também
foi tentado e passou por horas amargas na Sua carne. Finalmente venceu. Tinha
de vencer. Será a mesma coisa conosco. Venceremos.
O LIVRO
DE JÓ
Tema. Através do problema da teodicéia, o livro de
Jó apresenta novamente a exigência central religiosa da Aliança. Exige dos
homens consagração sem reservas para com o seu soberano Senhor. E este aspecto
da Aliança, esta consagração ao Criador transcendente e incompreensível,
identifica-se com o aspecto da sabedoria. Desse modo apresenta a Igreja como
seu conseqüente testemunho da revelação redentora diante das escolas da
sabedoria do mundo.
ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ
Seria
interessante examinar a estrutura literária do livro de Jó, à medida que Jó e
seus amigos começam a apresentar seus respectivos discursos. A seguir, temos um
esboço que focaliza as partes mais importantes do livro:
Prólogo
(Jó 1;2) – escrito em prosa;
Primeiro
lamento de Jó (Jó 3) – daqui em diante, até o capítulo 42:7 – escrito em
poesia;
Primeiro
ciclo de diálogos: Elifaz (Jó 4; 5); Jó (6;7); Bildade (8); Jó (9;10); Zofar
(11); Jó (12-14);
Segundo
ciclo de diálogos: Elifaz (15); Jó (16,17); Bildade (18), Jó (19); Zofar (20);
Jó (21);
Terceiro
ciclo de diálogos: Elifaz (22); Jó (23,24); Bildade (25); Jó (26,27).
O
monólogo de Jó (28-31);
O
discurso de Eliú (32-37);
A
resposta de Deus e o arrependimento de Jó (38-42:6);
Epílogo
(42:7-17) – escrito em prosa
É
interessante notar que, depois do primeiro lamento de Jó (Jó 3), os dois
primeiros ciclos de diálogo são estruturados de forma quase idêntica, com a
fala de um amigo e a resposta de Jó. O terceiro ciclo é mais curto e leva ao
prolongado monólogo de Jó.
O
discurso de Eliú serve como um intervalo antes de Deus finalmente. Se
pronunciar. Tudo isso cria uma forte “movimentação “em direção à resposta de
Yahweh, que serve como clímax literário para o livro de Jó. Depois da resposta
divina, o epílogo (escrito, como o prólogo, em prosa e não em poesia) pões fim
ao livro de Jó, que é definitivamente uma obra literária belamente delineada.
ORGANIZAÇÃO
No
plano literário, o livro se divide em três partes. O prólogo (1,1–2,13) e o
epílogo (42,7-17),
redigidos em prosa, formando a moldura em torno da seção dos diálogos poéticos (3,1–42,6), esta
parte formulada em versos, e ocupa o centro do livro. O quadro, a seguir,
apresenta a estrutura geral do livro.
I
Prólogo em prosa 1,1-2
II
Diálogo poético 3,1-42,6
III
Epílogo em Prosa 42,7-17
ESBOÇO
I.
Desolação: A provação da sabedoria de Jó. 1:1 – 2:10.
A.
Descrição da sabedoria de Jó. 1:1-5.
B.
A sabedoria de Jó é negada e manifesta. 1:6 – 2:10.
l.
A inimizade de Satanás. 1:6-12.
2.
A integridade de Jó. 1:13-22.
3.
A persistência de Satanás. 2:1-6.
4.
A paciência de Jó 2:7-10.
II.
Lamentação: O caminho da sabedoria perdido. 2:11 – 3:26.
A.
A vinda dos homens sábios. 2:11-13.
B.
A impaciência de Jó. 3:1-26.
III.
Julgamento. O caminho da sabedoria obscurecido e iluminado. 4:1
A.
O veredito dos homens. 4:1 – 37:24.
1. Primeiro ciclo de debates. 4:1 –
14:22.
a.
Primeiro discurso de Elifaz. 4:1 – 5:27.
b.
A réplica de Jó a Elifaz. 6:1 – 7:21.
c.
Primeiro discurso de Bildade. 8:1-22.
d.
A réplica de Jó a Bildade. 9:1 – 10:22.
e.
Primeiro discurso de Zofar. 11:1-20.
f.
A réplica de Jó a Zofar. 12:1 – 14:22.
2. Segundo ciclo de debates. 15:1 –
21:34.
a.
Segundo discurso de Elifaz. 15:1-35 .
b.
A segunda réplica de Jó a Elifaz. 16:1 – 17:16.
c.
Segundo discurso de Bildade. 18:1-21.
d.
A segunda réplica de Jó a Bildade. 19:1-29.
e.
Segundo discurso de Zofar. 20:1-29.
f.
A segunda réplica de Jó a Zofar. 21:1-34.
3. Terceiro ciclo de debates. 22:1 –
31:40.
a.
Terceiro discurso de Elifaz. 22:1-30.
b.
A terceira réplica de Jó a Elifaz. 23:1 – 24:25.
c.
Terceiro discurso de Bildade. 25:1-6.
d.
A terceira réplica de Jó a Bildade. 26:1-14.
e.
Instruções de Jó aos amigos silenciados. 27:1 – 28:28.
f.
Protesto final de Jó. 29:1 – 31:40.
4. O ministério de Eliú. 32:1 – 37:24.
B.
A voz de Deus. 38:1 - 41:34.
1
. O desafio divino. 38:1 – 40:2.
2.
Submissão de Jó. 40:3-5.
3.
O desafio divino renovado. 40:6 – 41:34.
IV. Confissão: O caminho da sabedoria
retomado. 42:1-6.
V. Restauração: O triunfo da sabedoria
de Jó. 42:7-17.
A.
A sabedoria de Jó é vindicada. 42:7-9.
B.
A sabedoria de Jó é abençoada. 42:10-17.
III – NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ
Imagine
um dia que começa como qualquer outro. Você se levanta para ir ao serviço e,
chegando na firma, encontra as portas lacradas. A firma fechou, sem aviso.
Você, inesperadamente, ficou desempregado. Tendo obrigações para cumprir, você
decide ir ao banco para sacar dinheiro e pagar algumas contas que estão
vencendo. Mas, chegando ao banco, eles dizem que sua conta foi fechada, sem
explicação, e que você não tem nenhum centavo.
O
dia já está piorando. Você resolve voltar para casa, ainda tentando entender o
que está acontecendo. Chegando perto de sua rua, você percebe vários bombeiros
e ambulâncias correndo por todos os lados. Suas vizinhas estão na rua, chorando
inconsolavelmente. Antes de você chegar até sua casa, um dos vizinhos chama
você e fala palavras que jamais esquecerá: "Aconteceu tão rápido",
ele diz, "que não foi possível salvar ninguém. A casa, de repente,
explodiu. Todos que estavam dentro morreram. Eu sinto muito. Todos os seus
filhos estão mortos."
Alguns
dias passam. Você acorda num lugar estranho. Olhando para seu redor, percebe
que está num hospital. Você está sentindo dores terríveis, e uma coceira
constante. Depois de algumas horas de sofrimento, a enfermeira avisa que está
na hora de visita. No seu caso, várias pessoas serão permitidas entrar para
visitá-lo. A primeira pessoa que entra no quarto é sua esposa. Precisando muito
de uma palavra de consolo e de explicação, você olha para ela com tanta
esperança, nunca imaginando o que ela vai falar. Ela chega perto da sua cama e
começa a gritar: "Eu não entendo a sua atitude", ela diz. "Sua
fé não vale nada. Você confia num Deus que fez tudo isso? Amaldiçoe o nome de
Deus e morra!" Com essas palavras, ela sai do quarto.
Enquanto
você procura entender tudo isso, chegam alguns amigos seus. São velhos amigos,
sempre prontos para ajudar. Agora será consolado! Mas, eles entram no quarto,
vêem seu estado crítico e seu corpo desfigurado pela doença, e não falam nada.
Ficam com a boca aberta, olhando, mas não acreditam. Depois de um longo período
de silêncio, um deles fala: "Você mereceu isso. Você deve ter feito alguma
maldade muito grande, e Deus está te castigando. Ele tirou todos os seu bens e
matou seus filhos. Ele causou esta sua doença. Ele fez tudo isso porque você é
mau!" Você começa discutir quando um dos outros concorda com o primeiro, e
depois outro também concorda com eles. Não adianta discutir. Para eles, você é
um detestável pecador que deve sofrer mais ainda.
De
repente, algumas crianças passam no corredor. Você se anima, porque crianças
sempre trazem alegria e amor. Mas, estas crianças param na porta, vêem a feiura
do seu rosto e corpo, e saem correndo. "Nunca vi nada tão feio", uma
delas comenta.
Tudo
ficção? Jamais aconteceria uma coisa tão terrível? Modifiquei os detalhes para
ajudar você, o leitor moderno, sentir na pele o que aconteceu na vida de Jó. O
livro de Jó é, possivelmente, o primeiro livro bíblico escrito. Um homem fiel e
abençoado por Deus perdeu, num dia só, todas as suas posses e todos os seus
filhos. Logo depois, foi atacado por uma terrível enfermidade.
A
própria esposa foi contra este homem de Deus, e disse: "Amaldiçoa a Deus e
morre" (Jó 2:9). Os amigos o condenaram e discutiram com ele para provar a
sua culpa (a maior parte do livro relata essas discussões, começando no 2:11 e continuando até 37:24).
Todos os conhecidos dele, até as crianças, o desprezaram (19:13-19).
O
livro de Jó trata de um dos assuntos mais difíceis na experiência humana: como
entender e lidar com o sofrimento. É um livro rico e cativante que todos os
servos de Deus precisam estudar. Um dia, mais cedo ou mais tarde, ele será útil
na sua vida. Neste artigo, vamos considerar algumas lições claras e importantes
desse livro.
Pessoas
boas sofrem
Talvez
o ponto principal do livro é o simples fato que pessoas fiéis a Deus ainda
sofrem nesta vida. O primeiro versículo do livro já define, do ponto de vista
de Deus (veja, também, Jó 1:8) o caráter de Jó: "Havia um homem na
terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se
desviava do mal." Enquanto entendemos que o sofrimento entrou no mundo por
causa do pecado (Gênesis
3:16-19), aprendemos em vários trechos bíblicos que a dor e a
tristeza atingem as pessoas boas e dedicadas. Jó, um homem íntegro, sofreu
imensamente. Paulo, um servo dedicado ao Senhor, sofreu muito mais do que a
grande maioria dos ímpios (2
Coríntios 11:23-27).
Mesmo
quando ele pediu a Deus, querendo alívio de algum problema, Deus recusou seu
pedido (2 Coríntios
12:7-9). Mas, não devemos estranhar com isso, pois o próprio Filho
de Deus sofreu na carne (Hebreus 2:9-10,18). Os que servem a ele sofrem,
também.
O
diabo quer nos derrubar com o sofrimento
O
propósito de Satanás fica bem claro nos primeiros dois capítulos de Jó. Ele vê
o sofrimento como uma grande oportunidade para derrubar a fé dos servos de
Deus. Ele aceitou o desafio de tentar destruir a fé de um dos homens mais
idôneos do mundo. Depois, ele foi tão ousado que desafiou o próprio Jesus,
usando todas as tentações imagináveis para o vencer (Mateus 4:1-11).
O
diabo entende muito sobre a natureza humana. Ele sabe que pessoas que servem a
Deus fielmente quando tudo vai bem na vida podem ser tentadas por meio de
alguma calamidade pessoal. Problemas financeiros, a morte de um ente querido,
alguma doença grave -- tais sofrimentos na vida são, freqüentemente, o motivo
de abandonar a Cristo. Enquanto a mulher de Jó não prevaleceu na vida do
próprio marido, o conselho dela (Jó 2:9) vem derrubando a fé de muitas outras
pessoas que enfrentam dificuldades na vida. Jó não sabia a fonte de seu
sofrimento (capítulos 1 e 2 contam a história para nós, mas ele não sabia de
tudo que estava acontecendo entre Deus e Satanás). Às vezes, nós não temos
noção da fonte das nossas dificuldades. Mas, podemos ter certeza que o diabo
está torcendo para que tropecemos e afastemos de Deus.
Amigos
nem sempre ajudam
Três
amigos de Jó ficaram sabendo de seu sofrimento, "e combinaram ir
juntamente condoer-se dele e consolá-lo" (Jó 2:11). Mas as palavras deles não ajudaram.
Ofereceram explicações baseadas nas opiniões deles, e não na verdade que vem de
Deus. Onde Deus não tinha falado, eles ousaram de falar. O resultado não foi
consolo e ajuda, e sim perturbação e desânimo. A mesma coisa acontece hoje.
Quando
alguém sofre de um problema de saúde, outras pessoas tendem falar sobre algum
caso triste de alguém que teve a mesma doença e morreu. Quando uma pessoa amada
morre, muitas pessoas procuram confortar a família com palavras insensatas e
até mentirosas. É melhor falar umas poucas palavras com compaixão do que falar
muito e entristecer a pessoa mais ainda. Quando sofremos perda, é melhor procurar
conselho na palavra de Deus e da boca de pessoas que a conhecem e que vivem
segundo a vontade do Senhor.
Deus
não explica tudo
Quando
sofremos, é natural perguntar: "Por quê?". Jó fez isso (Jó 3:24). Habacuque
fez a mesma coisa (Habacuque
1:3).
Milhões
de outras pessoas têm feito a mesma pergunta. É interessante e importante
observar que Deus não responde a todas as nossas perguntas.
Pode
ler o livro de Jó do começo ao fim, e não encontrará uma resposta completa de
Deus à pergunta do sofredor. Durante a boa parte da história, Deus deixou Jó e
seus amigos a ponderar o problema. Quando o Senhor falou no fim do livro, ele
não explicou o porquê. A partir do capítulo 38, Deus afirma que o homem, como
mera criatura, não é capaz de entender muitas das coisas de Deus, e não é digno
de questionar a sabedoria divina.
Jó
entendeu a correção de Deus, e respondeu humildemente. "Sou indigno; que
te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei,
aliás, duas vezes, porém não prosseguirei" (Jó 40:4-5). Jó pediu desculpas a Deus
por ter duvidado da justiça e da bondade do Criador: "Na verdade, falei do
que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não
conhecia....Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42:3,6).
Depois
do sofrimento, vêm as bênçãos
O
sofrimento desta vida é temporário. O sofrimento de Jó foi intenso, mas não
durou para sempre. É bem provável que ele lembrou, durante o resto da vida,
daquelas experiências doloridas. Mas a crise passou, e a vida continuou. Deus
restaurou as posses dele em porções dobradas.
A
mesma coisa acontece conosco. Enfrentamos alguns dias muito difíceis, mas as
tempestades passam e a vida continua. Vivendo na época da nova aliança de
Cristo, nós temos uma grande vantagem. Temos uma esperança bem definida de uma
recompensa eterna no céu (Hebreus
11:13-16,39-40; 12:1-3; 13:14). Qualquer sofrimento é pequeno quando
o colocamos no contexto da eternidade.
Fiéis
até mesmo no sofrimento
Nós
vamos sofrer nesta vida. Pessoas que dizem que os filhos de Deus não sofrem são
falsos mestres que ou não conhecem ou não aceitam a palavra do Senhor. Jó
perdeu tudo. Jeremias foi preso. João Batista foi decapitado. Jesus foi
crucificado. Estêvão foi apedrejado. Paulo sofreu naufrágio e prisões. Você,
também, vai sofrer. Os problemas da vida não sugerem falta de fé, e não são
provas de algum terrível pecado na sua vida. Às vezes, as provações vêm como
disciplina de Deus (Hebreus
12:6-13); às vezes, não. Mas sempre são oportunidades para crescer (Tiago 1:2-4), e
convites para adorar a Deus (Tiago 5:13; Jó 1:20).
CONCLUSÃO
Para
concluir esta nota apreciativa do grande e inigualável livro de Jó, digamos
que, com ele e com os seus ensinos, nós estamos capacitados para enfrentar
Satanás e vencê-lo. Se faltasse este livro na Bíblia, faltar-nos-ia um arsenal
de onde tirarmos todos os apetrechos de guerra para o combate contra as forças
tenebrosas dos mundos inferiores. Com este livro, Satanás é muito mais real na
vida humana e os poderes de Deus sobre ele e sobre toda a natureza são
igualmente muito mais reais para nós.
BIBLIOGRAFIA
https://estudosdabiblia.net
www.maxwell.vrac.puc-rio.br
JÓ
COMENTARIO BIBLICO ANTÔNIO NEVES DE MESQUITA
JÓ E SEUS AMIGOS C. H. Mackintosh, Tradução do espanhol para
o português realizada por Daniela Raffo