ELIAS
NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO
TEXTO
ÁUREO = “E [Jesus] transfigurou-se diante deles; e o seu rosto
resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. Elias
que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele’ (Mt 1 7.2,3).
VERDADE
PRÁTICA = O aparecimento de Moisés e Elias no Monte da Transfiguração
é um testemunho de que a Lei e os Profetas cumprem-se em Cristo, o Messias
prometido.
LEITURA
BIBLICA = Mateus 17: 1-8
INTRODUÇÃO
Elias no Monte da Transfiguração
O relato sobre a transfiguração,
conforme narrado nos evangelhos sinóticos é um dos mais emblemáticos do Novo
Testamento (Mt 17.1-13; Mc 9.2-8; Lc 9.28-36). Além do nome de Moisés, o texto
põe em evidência também o nome de Elias.Todavia diferentemente dos outros
textos até aqui estudados, Elias não aparece como a figura central, mas como
uma figura secundária! O centro é deslocado do profeta de Tisbe para o Profeta
de Nazaré. Jesus, e não mais Elias, é o centro da revelação bíblica. Moisés,
Elias, Pedro, Tiago e João, também nominados nesse texto aparecem como
figurantes numa cena onde
Cristo, o Messias prometido, é a figura
principal.
Antes de uma análise puramente exegética
e teológica da passagem de
Marcos 9.2-29, quero compartilhar o seu
lado devocional que muito tem me edificado. Resolvi estender a leitura do
capítulo 9 do Evangelho de Marcos até o versículo 29, incluindo o episódio da
libertação de um jovem possesso, porque uma leitura paralela do Evangelho de
Lucas (Lc 9.28-43) revela que a libertação dele aconteceu “no dia seguinte,
quando eles desceram do monte” (Lc 9.37). Em outras palavras, os eventos da
transfiguração e da libertação do jovem lunático, ocorreram dentro da mesma
sequência dos fatos ali narrados.
Pois bem, a pergunta chave que aparece
logo após ter ocorrido a libertação do jovem lunático e, portanto, após o
evento da Transfiguração é: “Porque nós não pudemos expulsá-lo?” (Mc 9.28).
Acredito que essa é uma das perguntas
mais pertinentes para o atual momento em que vive a igreja evangélica
brasileira. Essa pergunta poderia ser feita de uma outra forma e ainda assim o
seu sentido seria o mesmo:
“Qual a causa de nossa ineficiência?” Por
que estamos crescendo numericamente, mas ainda assim padecemos de um
cristianismo fraco e que pouco tem salgado a sociedade? Qual a razão de nosso
caos teológico? São perguntas que demandam uma resposta.
Se olharmos com cuidado para o que revela
o texto de Marcos 9.2- 29, observaremos algumas características do cristianismo
transfigurado, isto é, que brilha. Quais, pois, seriam essas características
desse cristianismo que brilha? Aqui vão algumas delas:
1. Ele
escala montes — “dias depois, tomou
Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um alto monte”
(Mc 9.2). E interessante observarmos que os outros discípulos, nove deles,
haviam ficado embaixo, pois, o Senhor Jesus levou consigo somente a Pedro,
Tiago e João (v.2). Os outros haviam ficado embaixo, não subiram o monte. Quem
não sobe o Monte não terá vitória nas lutas espirituais. Escrevi sobre isso quando
tratei sobre a vida do patriarca Abraão: “Vai-te a terra de Moriá” (Gn 22.1).
Deus mandou Abraão subir o monte Moriá! Ninguém será abençoado sem escalar o
monte! É necessário subir o Moriá de Deus e encontrar a bênção no seu cimo.
Hoje está na moda subir o “monte” como um
lugar místico em busca da bênção! Mas a Escritura mostra que como princípio,
subir o monte está associado à necessidade de se buscar ou subir até a presença
de Deus e não a geografia de um lugar (Jo 4.20-24). O monte pode ser o nosso
quarto ou o templo da igreja ou ainda qualquer outro lugar (Mt 6.6; At
16.13,16). Quem ora hoje no monte Sinai, monte Moriá ou mesmo em Jerusalém não
leva nenhuma vantagem sobre quem, por exemplo, ora numa pequena cidade do
sertão nordestino ou na grande São Paulo. A geografia não é mais importante e
sim a esfera e a atitude na qual a oração acontece, isto é, no Espírito (Ef 6.18;
1 Tm 4.7).
2. Ele
é metamorfoseado —
“Foi transfigurado diante deles” (v.2). A palavra traduzida em português como
“transfigurado” corresponde ao vocábulo grego metemorphôté, que é o
aoristo passivo de metamorphóô? Esse mesmo vocábulo é usado pelo
apóstolo Paulo em Romanos 12.1,2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias
de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
O expositor bíblico William Barclay em
seu comentário da Epístola aos Romanos, observa que: “Não devemos adotar as
formas do mundo; sem transformar-nos, quer dizer, adquirir uma nova maneira de
viver.
Para expressar esta verdade Paulo usa
duas palavras gregas quase intraduzíveis, que requerem uma frase para
transmitir seu sentido. A palavra que usa para amoldar-nos ao mundo é
syschematizesthai, da raiz schema—de onde vem a palavra portuguesa e
quase internacional schema —, que quer dizer forma exterior que
muda de ano em ano e quase de dia a dia. O schema de uma pessoa não é o
mesmo quando tem 17 anos e quando tem 70; nem quando sai do trabalho e quando
está numa festa. Está mudando constantemente. E como se Paulo dissesse: Não
cuideis de estar sempre em dia com todos os modismos deste mundo; não sejais
‘camaleões’, tomando sempre a cor do ambiente”.
Por outro lado, continua Barclay em sua
análise: “A palavra que (Paulo) usa para transformai-vos de uma maneira
distinta da palavra do mundo é metamorphusthai, da raiz morfê, que
quer dizer a natureza essencial e inalterável de algo. Uma pessoa não
tem o mesmo schema aos 17 e aos 70 anos, todavia possui a mesma morphè
(essência); o macacão não tem o mesmo schema do vestido de uma
cerimônia, mas possui a mesma morphè, muda seu aspecto exterior; pelo
que segue sendo a mesma pessoa.
Assim, disse Paulo, para dar culto e
servir a Deus temos que experimentar uma mudança, não de aspecto, senão de
personalidade. Em que consiste essa mudança? Paulo diria que, por nós mesmos,
vivíamos kata sarka (segundo a carne), dominados pela natureza humana em
seu nível mais baixo; em Cristo vivemos kata Christon (segundo Cristo) ou
kata Pneuma fsegundo o Espírito), sob o controle de Cristo e do
Espírito. O cristão é uma pessoa que mudou em sua essência: agora vive, não uma
vida egocêntrica, senão cristo cêntrica.
Isto deve ocorrer, diz Paulo, pela
renovação da mentalidade. A palavra que ele emprega para renovação é
anakainosis. No grego há duas palavras para novo: neós e kainós. Neós se
refere ao tempo, e kainós ao caráter e a natureza. Um
lápis recém fabricado é neós; mas uma pessoa que era antes pecadora e
agora e está chegando a ser santa é kainós.
Quando Cristo entra na vida de um homem,
este é um novo homem; tem uma mentalidade diferente, porque tem a mente
de Cristo.”
3. Ele
é fundamentado na Palavra de Deus — ‘E apareceu-lhes Elias com Moisés” (v.4).
Todos os intérpretes entendem que os nomes “Elias” e “Moisés” representam
figuradamente a Palavra de Deus. Elias representa os profetas enquanto Moisés,
a Lei. O cristianismo deixa de ser autêntico quando se distancia da palavra de
Deus. Em outro livro de minha autoria, escrevi: Uma igreja modelo possui como
fundamento a Palavra e o Espírito. Somente o Espírito sem a Palavra de Deus
incorre-se em fanatismo; todavia a Palavra sem o Espírito não passa de
ortodoxia morta.
O correto é termos o equilíbrio entre a
Palavra e o Espírito. O principal mal do pentecostalismo contemporâneo é essa
falta de equilíbrio entre a Palavra e o Espírito. Como vimos um carismatismo
sem fundamento bíblico transforma-se em desvios, modismos, inovações, desvios
doutrinários evoluindo para doutrinas heréticas.
4. Ele
promove espanto —
‘Pois não sabiam o que dizia, porque estavam assombrados (v.6). Uma das
tragédias do cristianismo hodierno é que ele não promove mais espanto! Um
grande número de cristãos parece ter se acostumado com uma vida religiosa onde
nada mais é novo. Não há espanto algum! Mas experimentar espanto diante
do sagrado é um fenômeno presente nas religiões.
Mircea Elliade (2008, pp.16,17) destaca
que o homem “descobre o sentimento de pavor diante do sagrado, diante
desse mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma
superioridade esmagadora de poder; encontra o temor religioso diante do mysterium
fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser.”
Esse espanto diante do sagrado, do
totalmente outro, nós encontramos no relato da Pesca Maravilhosa (Lc 5.1-11.
Quando Pedro viu o que ocorrera, prostrou-se aos pés do Senhor e exclamou:
“Retira-te de mim, porque sou pecador” (v.8). E o texto ainda diz que a admiração
apoderou-se de seus companheiros! (v.9). Esse é um cristianismo que promove
espanto! Que causa admiração!
5. Ele
possui imanência — ‘Saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado;
a ele ouvi”(v.7). O cristianismo bíblico é transcendente, isto é, Deus é
totalmente outro e não pode ser confundido com suas criaturas. Todavia ele
possui também imanência. Não está solto em um universo metafísico onde a
realidade espiritual é algo inatingível. Não, o nosso Deus se faz presente no
nosso dia a dia (SI 46.1). Ele possui voz, portanto, possui a faculdade da
fala. Não é mudo! É bom sabermos que quando oramos não estamos presos em um
monólogo, mas estamos nos relacionando com um Deus que também fala.
6. Ele
não faz publicidade — “E, descendo eles do
monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto” (v.9). Isso me
chama a atenção, pois quem não gostaria de noticiar um feito desses? O
cristianismo midiático de hoje faz isso o dia todo. Gosta de ser visto,
admirado e paparicado. È exibicionista! Todavia o cristianismo bíblico não faz
propaganda, mas é visto. E visto porque é uma obra do Espírito Santo e não do
homem. O cristianismo da mídia gosta de números, de multidões e de muito dinheiro.
Mas é um cristianismo pobre!
7. Ele
tem ressurreição, mas também tem morte — “E eles retiveram o caso entre si, perguntando
uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos (...) E, respondendo
ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará;
e como está escrito do filho do homem, que ele deva padecer muito e ser
aviltado” (v.10,12).
O cristianismo bíblico possui
ressurreição, mas também possui morte! O texto de Lucas 9.31, que é paralelo a
esse e diz: “os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual
havia de cumprir-se em Jerusalém.’’Hoje se fala muito cm “vitória”, mas nada de
morte. O cristianismo contemporâneo tem pavor da morte! Não quer morrer, mas
não tem vida! Só há ressurreição se houver morte! Precisamos morrer para que
possamos viver.
8. Ele
tem consciência escatológica — ‘E interrogaram-no, dizendo: por que dizem os
escribas que é necessário que Elias venha primeiro?” (v. 11). O cristianismo
bíblico possui um forte apelo escatológico, pois não é imediatista e preso a
esta era.
Ele tem seu olhar no futuro! Crer na parousia
do Senhor. Ele sabe que tudo aqui é efêmero, como a neblina que se
dispersa! Em meu livro: Rastros de Fogo, escrevi: “É falso qualquer
suposto movimento espiritual que alega ser herdeiro do avivamento bíblico, mas
que possui uma visão escatológica deformada ou mutilada. Os autênticos
movimentos de avivamento ao longo da história da igreja foram logo reconhecidos
como tal porque possuíam um entendimento correto da escatologia bíblica. No
atual pentecostalismo observa-se um distanciamento cada vez mais crescente da
escatologia bíblica. E a pregação do imediatismo, do ineditismo e mercantilismo
que tem reinado nesses últimos anos no carismatismo contemporâneo”.7
9. Não
pode ser resumido a um simples debate teológico —
“E, quando se aproximou dos discípulos, viu ao redor deles grande multidão, e
alguns escribas disputavam com eles”. Quando a fé cristã se resume a uma
simples controvérsia teológica, então ela perdeu sua essência. O cristianismo
bíblico não pode ser resumido a um mero debate de ideias. Há muita “teologia”
sendo debatida por ai, mas são debates estéreis que não promovem a verdadeira
edificação. Ela se resume na sua maioria a um confronto ideológico entre
confissões religiosas.
Cristianismo é vida, é Espírito, é a
Palavra de Deus. O texto mostra que os discípulos que ficaram no vale se
limitaram a debater com os escribas, e pelo visto estavam em desvantagem. Os
escribas eram bons de debates teológicos, mas ineficientes em promover uma fé
viva no povo. A teologia não deve servir apenas como alimento do intelecto, mas
também da alma. O Senhor Jesus afirmou que “Não só de pão viverá o homem, mas
de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4).
10. Ele
não se resume a um produto cultural — “Ó geração incrédula!
Até quando estarei convosco? Até quando
vos sofrerei ainda? (v. 19).
Entendo que o termo “geração” aqui pode
ser traduzido como cultura.
Por que as pessoas daquela cultura eram
tão incrédulas? Não foi aquela geração a escolhida por Deus para ver a
manifestação do Messias (G1 4.4)? Parece que os discípulos estavam também
influenciados por aquela cultura incrédula e por isso apresentaram dificuldade
em se render diante do sobrenatural de Deus. Precisavam viver à sombra do
Senhor, quando o Senhor cobrou deles a responsabilidade por aquele momento.
Eram eles que deveriam ter expelido aquele demônio e não ficarem ineficientes
diante da ação do mal. Será que a cultura contemporânea também não tem moldado
a fé e o comportamento de muitos cristãos?
11. Ele
não pode ser resumido a fórmulas — ‘Por que não pudemos nós expulsá-lo?” (v.28).
Eles estavam atônitos diante do fracasso! Essa pergunta ganha o sentido: “Por
que a nossa fórmula não funcionou?” Não é que eles não tivessem tentado, porque
o texto deixa claro que os discípulos tentaram expelir esse espírito, mas não
conseguiram. “Roguei aos teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam”
(v. 18). Não tenho dúvidas que eles se valeram dos métodos e fórmulas aprendidas,
mas nada aconteceu! O próprio Senhor dissera que os demônios são expulsos não
pelo uso de uma técnica ou fórmula, mas pelo poder do Espírito Santo (Mt
12.28). Um cristianismo preso a formulas ou métodos fracassará!
12. Ele
é relacional— ‘Esta casta não pode
sair senão por meio de oração [e jejum] (v.29). Já dissemos que o cristianismo
bíblico não se prende a fórmulas, por quê? Porque ele é relacional, isto é, se
fundamenta em relacionamentos. A fé cristã é construída pela comunhão com Deus!
De nada adianta fórmulas, técnicas, recursos de marketing, se não houver
relacionamentos! Deus quer que seus filhos se relacionem com ele e então a vida
vitoriosa tão almejada chegará.
Vejamos agora uma análise mais exegética
dessa passagem para descobrirmos a relação que Elias, o profeta de Tisbe,
possui com Jesus de Nazaré, o Messias de Deus.
Elias, o
Messias e a transfiguração
Metamorfose
= O
texto sagrado relata que tão logo subiram ao Monte, Jesus foi “transfigurado diante deles; o
seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz”. (Mt 17.2). Como já
disse, a palavra transfigurar,
traduz o termo grego metamorfose. Mantém o sentido de mudança de aparência ou forma, mas não mudança de
essência. A transfiguração
não transformou Jesus em Deus, mas mostrou aos discípulos aquilo que ele fora o tempo todo: o verbo encarnado (Jo
1.1; 17.1-5).
Os discípulos observaram que o seu rosto
brilhou como o sol (Mt 17.2).
O texto revela também que suas vestes
resplandeceram (Mt 17.2). Esses fatos põem em evidência a identidade do
Messias, o filho de Deus.
Shekiná
= Mateus
detalha que durante a transfiguração “uma nuvem luminosa os envolveu” (Mt 17.5). E relevante o fato de que Mateus,
que escreveu o seu evangelho
para judeus, quer por em evidência o fato de que Jesus é o Messias anunciado e isso pode ser visto na
manifestação da nuvem
luminosa. No Antigo Testamento essa nuvem recebe o nome de shekiná, e relacionada com a manifestação da
presença de Deus (Ex 14.19,20;
24.15-17; 1 Rs 8.10, 11; Ez 1.4; 10.4). Tanto Moisés como Elias, quando
estiveram no Sinai, presenciaram a manifestação dessa glória. Todavia não como
agora os discípulos estavam vivenciando (Ex 19; 24; 1 Rs 19). Donald Carson, em
seu comentário ao Evangelho de Mateus,
destaca que: “A “nuvem” é associada, no Antigo Testamento e no judaísmo
interbíblico, com a escatologia (SI 97.2; Is 4.5; Ez 30.3; Dn 7.13; Sf 1.15;
cf. 2 Baruc 53.1-12; 4 Ed 1.3; 2 Mac 2.8; b Sanhedrin 98a; cf Lc 21.27;
1 Ts 4.17) e com o Êxodo (Êx 13.21,22; 16.10; 19.16; 24.15-18; 40.34-38). Dos
sinóticos, só Mateus diz que a nuvem era “resplandecente”, detalhe que lembra a
glória shekiná *
Elias, o
Messias e a restauração
Tipologia
= No
evento da transfiguração observamos que o texto destaca os nomes de Moisés e Elias (Mt 17.3). Há
um entendimento na igreja cristã que
Moisés prefigura a Lei enquanto Elias, os profetas. E perceptível nessa passagem que Moisés
aparece como uma figura tipológica. De
fato, Mateus procura mostrar isso quando põe em evidência o próprio Deus falando aqui: “A Ele ouvi”
(Mt 17.5). Moisés pronunciou exatamente
estas palavras citadas nesse texto quando se referia ao Profeta que viria depois dele: “O S e n
h o r , teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele
ouvirás” (Dt 18.15).
A transfiguração revela que Moisés tem
seu tipo revelado em Jesus de Nazaré e que toda a lei apontava para Ele.
Escatologia
= Enquanto
Moisés ocupa um papel tipológico no evento da transfiguração, Elias aparece em um contexto
escatológico. O texto de Malaquias 4.5,6
apresenta Elias como o precursor do Messias vindouro. O Novo Testamento aplica a João, o Batista, o cumprimento
dessa Escritura: “E irá
adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos,
converter os desobedientes à prudência
dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17; Mt 11.14). Assim como Elias, João
foi um profeta de confronto (Mt 3.7);
um profeta ousado (Lc 3. 1-14) e um profeta rejeitado (Mt 11.18). A presença do Batista, o Elias
que havia de vir, era uma clara demonstração da messiandade de Jesus.
Elias, o
Messias e a rejeição
O
Messias esperado = Tanto os rabinos como o povo comum sabiam que antes do
advento do Messias, Elias
apareceria (Ml 4.5,6; Mt 17.10; 16.14). O relato de Mateus sugere que os escribas não reconheceram a Jesus como
o Messias porque faltava um
sinal que para eles era determinante — o aparecimento de Elias antes da manifestação do Messias (Mt 17.10). Como
Jesus poderia ser o Messias se
Elias ainda não viera? Jesus revela então que nenhum evento no programa profético deixara de ter o seu
cumprimento. Elias já viera e
os fatos demonstravam isso. Elias havia sido um profeta do deserto, João também o foi; Elias pregou
em um período de transição, João prega
na transição entre as duas Alianças; Elias confrontou reis (1 Rs
17.1,2; 2 Rs 1.1-4), João da
mesma forma (Mt 14.1-4). Mais uma vez ficara claro:
João era o Elias que havia de vir e Jesus
era o Messias.
O
Messias rejeitado = O texto de Mateus 17.1-8, narrando o episódio da
transfiguração inicia-se com
a sentença: “Seis dias depois” (Mt 17.1). O texto coloca a transfiguração num contexto onde uma sequência de fatos
devem ser observados. Os
eruditos observam que “seis dias” é uma outra forma de dizer: “uma semana depois”. De fato o texto paralelo de
Lucas fala de “oito dias”,
isto é, uma semana depois (Lc 9.28). O contexto, portanto, põe o evento no contexto da confissão de Pedro (Mt
16.13-20) e no discurso de
Jesus sobre a necessidade de se tomar a cruz (Mt 16.24-28). O Messias revelado, portanto, em
nada se assemelhava ao herói da crença
popular. Pelo contrário, a sua mensagem, assim como a do Batista, não agradaria a muita gente e
provocaria rejeição.
Elias, o
Messias e a exaltação
Humilhação
= Os
intérpretes observam que havia uma preocupação dos discípulos sobre a relação do aparecimento
de Elias e a manifestação do Messias.
Esse fato é demonstrado na pergunta que eles fazem logo após descer o monte da transfiguração (Mt
17.10). Como D. A. Carson observa, o fato
é que a profecia referente a Elias falava de “restaurar todas as coisas” (Mt 17.11) e os discípulos não
entendiam como o Messias tanto esperado pudesse morrer em um contexto de
restauração. Cristo corrige esse equívoco
mostrando que a cruz faz parte do plano divino para restaurar todas as coisas (Mt 17.12; Lc
9.31; F1 2.1-11).9
Exaltação
= Muito
tempo depois desses acontecimentos da transfiguração, o apóstolo Pedro ainda lembra dos fatos
ocorridos e os cita em relação à exaltação
e glorificação de Jesus e também como prova da veracidade da mensagem
da cruz:
“Porque não vos demos a conhecer o poder
e a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da
sua majestade, pois ele recebeu, da parte de
Deus Pai, honra e glória, quando pela
Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo (2 Pe 1.16,17).
Vimos, pois, que os eventos ocorridos
durante a Transfiguração aconteceram para demonstrar que Jesus era de fato o
Messias esperado e que tanto a Lei, tipificada aqui em Moisés, como os
Profetas, representado no texto pela figura de Elias, apontavam para a
revelação máxima de Deus o Cristo, Jesus. Esses personagens tão importantes no
contexto bíblico não possuem glória própria, mas irradiam a glória proveniente
do Filho de Deus. Ele, sim é o centro das Escrituras, do Universo e de todas as
coisas (Cl 1.18,19; Hb 1.3; F12.10,11).
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
BIBLIOGRAFIA
1 - GONÇALVES, José. A Prosperidade à
Luz da Bíblia. Rio de Janeiro:
CPAD, 2012.
2 - K1TTEL, Gherard. Theological
Dictionary of the New Testament . 10 volumes, Editor Eerdmans, USA.
3 - BARCLAY, William. Comentário Al
Nuevo Testamento. 17 tomos em 1.Editorial CLIE, Barcelona, Espana.
4 - BARCLAY, William. Idem.
5 - GONÇALVES, José. Rastros de Fogo -
o que diferencia o pentecostes bíblico do neopentecostalismo atual. Rio
de janeiro: CPAD, 2012.
6 - ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano.
Editora Martins Fontes, 2008.
7 - GONÇALVES, José. Rastros de Fogo. Op.cit.
8 - CARSON, D. A. O Comentário de
Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.
9 - CARSON, D. A. O Comentário de
Mateus. Idem.
10 -
Livro Porção Dobrada - Casa Publicadora das Assembleias de Deus - José
Gonçalves – 2012