20 de janeiro de 2010

A Glória das Duas Alianças


A Glória das Duas Alianças

Texto Áureo: “ Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece” (2 Co 3-11).

I – Saudação e Introdução à Lição.

Gostaria de congratular os amados leitores com a doce paz do Senhor Jesus. Desde já, desejo a todos um ano de intenso crescimento espiritual na presença de nosso Senhor, para que possamos caminhar sempre avante no conhecimento do evangelho. O presente trimestre possui uma excelente temática para o início deste ano de 2010, nos dando a direção inicial para um ótimo ano de estudo acerca da Palavra de Deus.

A presente lição, a quarta deste abençoado trimestre, alicerçada no capítulo 3 da segunda epístola do Apóstolo Paulo à Igreja de Corinto, nos traz um importante ensino acerca da Nova Aliança de Deus para com seus servos, fundamentada em Jesus Cristo, em contraposição à antiga aliança, baseada na “Lei” (Transcrita no Pentateuco – Lei do Senhor dada a Moisés).

Ademais, no princípio de 2 Coríntios, o Apóstolo Paulo aborda a questão acerca de sua recomendação perante a Igreja, dispensando a formalidade de cartas, e fazendo uma “autorrecomendação” (termo segundo o novo acordo gramatical brasileiro).

A presente lição se sobressai como de fundamental importância para nós, servos de Deus que vivemos sob a égide da nova aliança, para que possamos estudar acerca da infindável misericórdia de Deus para com seus servos, consubstanciada no sacrifício expiatório de Jesus Cristo no cruz do Calvário. Devemos entender que a expressão “Justificação” só adquiriu validade após a morte vicária de Jesus, nos estendendo a possibilidade de perdão mediante o arrependimento sincero e o abandono do pecado.

Ademais, quanto o Apóstolo dos Gentios faz sua “autorrecomendação”, nos deixa outra importante lição: A conduta e as obras de um servo de Deus vão à frente de qualquer recomendação escrita.

II – A Autorrecomendação do Apóstolo Paulo.

Cabe, inicialmente, transcrever 2 Co 3. 1-3: 1 Porventura, começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós ou de recomendação de vós? 2 Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens, 3 porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.”

Nesta passagem o Apóstolo Paulo sintetiza aquela que demonstrou ser uma das grandes defesas do seu Apostolado: As suas boas obras, acompanhadas de uma irrepreensível conduta, que valiam mais do que qualquer carta formal de recomendação.

A utilização de cartas de recomendação tratava-se de uma prática Judaica para que, onde quer que fossem, não sendo conhecidos, poderiam obter, mediante a apresentação da carta recomendatória, hospedagem e alimentação enquanto precisassem. Observa-se, portanto, que a carta de recomendação era utilizada para tornar conhecido, digno de confiança, alguém que até então era desconhecido.

Quando entendemos a função da carta de recomendação naquela época, observamos então o motivo das palavras do Apóstolo Paulo. Ora, ele era fundador da Igreja em Corinto, pregador da Palavra de Deus em grande parte do mundo antigo (Idade Romana), servo de Deus de uma conduta irrepreensível e Apóstolo Investido por Jesus para levar a tantos quantos pudesse a Mensagem da Cruz. A exigência de carta recomendatória de outras igrejas em relação ao Apóstolo Paulo era atentatória à sua autoridade apostólica!

Desta forma, o Apóstolo reforça, com autoridade de Deus, que a sua carta de recomendação não era escrita com tinta em um pedaço de papel, mas com o Espírito Santo das Tábuas do Coração. Em síntese, Paulo esclareceu que a sua recomendação não era formal, escrita, mas advinha de cada pessoa e de cada igreja que haviam voltado-se para Cristo a partir da sua Pregação.

Assim, a recomendação do Apóstolo Paulo eram as suas obras, seguidas de uma conduta irrepreensível ante o Senhor, o que lhe dava a sustentação para apresentar-se a qualquer igreja de Jesus com a autoridade de um apóstolo divinamente investido para seu Ministério.

Não se confunda o presente tema com a moderna utilização de cartas de recomendação nas Igrejas. Estas são utilizadas para apresentação dos servos do senhor que se encontram em comunhão com a Igreja, e são muito úteis tendo em vista a grande extensão territorial do nosso país, os inúmeros irmãos por ele espalhados, e a necessidade de se manter imaculado o corpo de Cristo (Igreja).

De toda a forma, as palavras do apóstolo Paulo são perfeitamente aplicáveis à vida do atual servo de Deus. Nossas obras e nossa conduta caminham a frente de qualquer documento escrito como forma de recomendação ante aos demais irmãos. Podemos até sermos detentores de uma “carta de recomendação”, entretanto, sem obras e uma conduta que traduzam na realidade as palavras escritas na carta, esta não terá qualquer validade ante o Senhor e os irmãos em Cristo.

Trata-se, portanto, a autorrecomendação do apóstolo Paulo de uma verdadeira defesa do seu Ministério Apostólico ante os revoltosos da Igreja de Corinto.

III – As duas Alianças.

Assim escreve o Apóstolo Paulo em 2 Co 3. 6-8: “6 o qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito Vivifica. 7 E, se o ministério da morte, gravados com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da Glória do seu rosto, a qual era transitória, 8 como não será de maior glória o ministério do Espírito?”.

Veja-se que no trecho bíblico acima transcrito, O apóstolo dos Gentios tece uma clara divisão entre o “Novo Testamento” (Nova Aliança) e a Antiga aliança, baseada na Lei.

A superação da antiga aliança pela nova se dá, de acordo com a Bíblia de Estudo Dake, (P. 1855 – 3.10ª) porque “(...) a última [Velha Aliança] era somente por um tempo (v.7; Gl 3.19-25; 4.30; Hb 9.9-10), para um lugar – a Palestina (Dt. 5.16; 11.9; 28.8; 31.13) e para um povo – os Judeus (Dt 5.3; Rm 2.12-16). A nova aliança é para o tempo todo, para todas as nações e para todas as pessoas (Mt 26.28; Mc 16.15,16; Lc 24.47; Jo 3.16; At. 1.8; Rm 10.9-14; 1 Co 12.13.” (Grifo nosso)

Nova Aliança é como denomina-se o novo tratamento dispensado por Deus aos homens, fundamentado no sacrifício de Jesus Cristo, e baseado no arrependimento e Justificação dos Pecados. Não trata-se de uma aliança que prioriza menos a Santidade do que a antiga aliança, mas que oportuniza ao pecador sinceramente arrependido, de qualquer nação, lugar ou época, a confessar os seus pecados e aceitar a Jesus Cristo como único e suficiente Salvador de sua vida. A Justificação dos Pecados só realizou-se plenamente através do sacrifício Vicário de nosso Senhor Jesus, o sacrifício perfeito, que tirou o pecado que pesava sobre nós e oportunizou aos homens, pecadores, achegarem-se a Deus, mediante a aceitação do Sacrifício de Jesus, o arrependimento sincero e o abandono do pecado.

Interessante observarmos algumas das principais diferenças entre as duas alianças (Dake, p. 1866 – 85):

Antiga Aliança Nova Aliança

Antigo Testamento (2 Co 3.14)

Novo Testamento (2 Co 3.6)

Veio Por Moisés (Jo 1.17)

Veio Por Jesus Cristo (Hb 8.6; 9.15)

Lei do Pecado (Rm 7.23; 8.2)

Lei da Justiça (Rm 9.31)

Não da Fé (Gl. 3.12)

Lei da Fé (Rm 3.27)

Concluída Por Cristo (Rm 10.4)

Iniciada por Cristo (Hb 8.6; 10.9)

Levava à morte (2 Co 3.7)

Leva à vida (Rm 8.2; Gl 3)

Torna culpado (2 Co 3.9)

Torna Livre (Gl 5.1; Jo 8)

Glorioso (2 Co 3.7)

Mais Glorioso (2 Co 3.8-10)

Sacerdote Temporário (Hb 7.23)

Sacerdote Eterno (Hb 7.17)

Sacrifício de animais (Hb 9.12)

Sacrifício Perfeito (Hb 9.14-28)

Circuncisão (Êx 12.48)

Sem circuncisão (Rm 4.9-25)

Sem Salvação aos gentios (Hb 10.2-4)

Salvação Eterna aos servos de Cristo (Hb 5.9;1.10)

A antiga aliança, voltada ao povo Judeu, não era extensiva aos gentios (não Judeus). Entretanto, a Nova Aliança, fundamentada em Jesus Cristo, veio para dar Salvação a todos que derem crédito à mensagem da cruz, e seguirem os passos de Jesus.

Trata-se de uma aliança para a vida, e não para a morte. Como disse o apóstolo Paulo em Romanos 8.2: “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da Lei do pecado e da morte”. A Lei do espírito (Nova aliança) tirou de nós o peso da Lei do Pecado, oportunizando-nos a Justificação de nossas obras.

A antiga aliança fora transitória, baseada em um momento histórico do povo Judeu. A nova aliança é permanente, calcada em Jesus Cristo, o Eterno Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 7.17).

Observe-se que, na antiga aliança, o pecado era severamente punido, muitas vezes em caráter físico e até mesmo com a morte (Lv. 20). Entretanto, na nova aliança, sobre a égide do espírito e do Sacrifício de Jesus, oportuniza-se ao pecador sinceramente arrependido o perdão de seu pecado, mediante confissão e renúncia. Por isso, se diz que a nova Lei é para a vida, e vida eterna em Jesus.

Jesus Cristo, por intermédio de seu vicário sacrifício, oportunizou a nós, gentios, sermos escolhidos como filhos de Deus, mediante o arrependimento dos pecados e aceitação da mensagem da cruz. Glórias a Deus!

IV- Conclusão

Devemos honrar através de nossas obras e de nossa conduta, a cada dia, o sacrifício de Jesus, que deu a vida por nós, gentios pecadores.

Que este ano possa ser um ano de bênçãos a você caro e estimado leitor, na presença de Deus e segundo a vontade de Jesus.

A paz do Senhor!

Comentários: Joseph Bruno dos Santos Silva, professor da Escola Dominical na Assembléia de Deus – Ministério do Belém – em Dourados/MS.

Bibliografia de Apoio: Bíblia de Estudo Pentecostal e Bíblia de Estudo Dake.

PAULO CARACTERIZA O SEU MINISTÉRIO

PAULO CARACTERIZA O SEU MINISTÉRIO, 3.1—6.10

Esta nova seção da carta, parte da digressão de 2.14—7.4, jorra entusiasticamente da inspiração de Paulo à medida que ele contempla as grandes coisas que Deus realizou por meio de um instrumento tão insignificante quanto ele (2.14-17). Pelo que, tendo este ministério (4.1) é o seu tema à medida que ele delineia mais precisamente o seu caráter como um ministério do Espírito (3.1—4.6), um ministério de sofrimento (4.7—5.10) e um ministério da reconciliação (5.11—6.10). Uma visão correta do ministério de Paulo é necessária para a restauração do relacionamento correto entre os coríntios e o apóstolo.

1. Um ministério do Espírito (3.1—4.6)

A natureza do ministério apostólico de Paulo é de tal nível que ele não precisa de uma carta de recomendação aos coríntios (3.1-3). Trata-se de um ministério de um novo concerto, cuja adequação como o concerto do Espírito que dá a vida ultrapassa o alcance do antigo concerto (3.4-11), e cuja liberdade é a do Espírito transformador do Senhor (3.12-18). Um ministério assim fundamentado na misericórdia de Deus está completamente aberto aos homens, e na presença de Deus (4.1-6).

a)A carta de recomendação de Paulo (3.1-3). Estes versículos voltam a 2.17 e antecipam 3.4-6; eles são versículos de transição, e apresentam a defesa que Paulo faz do seu ministério apostólico, ou seja, dele mesmo, do seu trabalho e da sua mensagem. Nestes versículos, ele afirma que a recomendação do seu ministério é simplesmente o caráter evidente dos próprios coríntios. Eles são como uma carta escrita pelo próprio Cristo, tendo Paulo como o escriba ou mensageiro.

Paulo tem medo de que a insistência no assunto da sua sinceridade (2.17) novamente possa ser transformada numa acusação de louvor próprio pelos seus inimigos (cf. 4.2-5; 5.12; 6.4; 10.12), de modo que ele habilmente trata da acusação antecipada. “Necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação5’ para vós ou de vós?” (1, RSV). A pergunta implica uma resposta negativa, e com ironia clara e quase sarcástica devolve a acusação aos oponentes de Paulo.

Alguns (cf. 2.17; 10.2; 1 Co 4.18; 15.12) tinham na verdade invadido a igreja de Corinto em vista “dessas notas de desobstrução para o mercado lucrativo do seu comércio de coisas espirituais”. A expressão cartas de recomendação é uma expressão técnica de um tipo de carta comum na época de Paulo, e comumente usada pela igreja primitiva. Filemom e Romanos 16 são exemplos (cf. 8.16-19; At 9.2; 18.27; 1 Co 4.17; 16.3, 10-11; Cl 4.10).

Embora as cartas de recomendação pudessem ser mal utilizadas, elas eram freqüentemente uma necessidade na igreja primitiva. Mas Paulo não tinha a necessidade de exibir tais cartas escritas em pergaminhos ou em papiros.

Ao invés disso, os próprios coríntios constituíam as suas credenciais apostólicas. Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações (“seus corações”, RSV), 54conhecida e lida por todos os homens (2). A transformação inequívoca que tinha ocorrido na vida dos coríntios por meio do poder do evangelho (cf. At 4. 13-16), é uma evidência contínua (particípio presente) a todos aqueles que conhecem a autenticidade do apostolado de Paulo (1 Co 9.2; cf. Rm 15.16). E um amor profundo, pessoal e duradouro (escrita é um particípio perfeito) para com estas pessoas (2.4; 6.11-13; 7.2) que Paulo traz consigo no seu coração (e não uma carta em sua bagagem). Isto está em contraste com aqueles que são mencionados como alguns (1), cujos motivos ministeriais eram altamente questionáveis (2.17; 11.13). Para o apóstolo, é impossível que haja um ministério autêntico se não houver motivos sinceros e uma intensa preocupação pelas pessoas.

A carta de recomendação de Paulo que foi escrita (engegrammene) no coração deles (2), foi escrita (engegrammene) pelo próprio Cristo,... não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (3, NASB).55Areferência à escrita do novo concerto (Jr 31.33; Ez 11.19; 36.26), em contraste ao antigo (Ex 31.18; Dt 9.10), levou muitos comentaristas a interpretar o coração de 3.3 como sendo o dos coríntios. Mas pode ser mais plausível identificar coração no versículo 3 com o uso de corações no versículo 2 e como sendo o coração de Paulo (cf. 1.21; 4.6).

A ênfase, de acordo com a principal preocupação da carta, seria sobre o caráter da sua comissão apostólica (cf. 3.6; 5.18-20). Assim, Paulo não se vê como um copista nem um escriba da carta.56 Em lugar disso, a carta é ministrada, ou seja, “transmitida” (RSV, cf. 8.19-20; Rm 15.25) por ele. Baird, cuja interpretação temos apresentado, conclui que, embora Paulo realmente misture as suas metáforas, a imagem do novo concerto é “apresentada para expandir a imagem da carta de recomendação. Esta carta não é uma epístola geral; a igreja de Corinto é o seu conteúdo; Cristo é o seu autor; Paulo é o seu mensageiro; na verdade, está escrita no seu coração pelo Espírito de Deus. Em última análise, o que recomenda o apóstolo é a sua divina comissão, simbolizada pela sua recepção do ministério do novo concerto”.57 E é deste ministério do Espírito, escrito primeiramente no seu próprio coração e então transmitido aos outros, que ele continua destacando o contraste entre carta e espírito no versículo 6.

b)A adequação do ministério do novo concerto (3.4-11). Paulo continua a se proteger contra a interpretação equivocada da descrição triunfante do seu ministério apostólico. (2.14-17). Os seus motivos eram puros, pois ele realmente não precisava se recomendar aos coríntios (3.1-3). Agora, em 4-11, a base da sua confiança já não está mais em si mesmo, pois foi Deus quem o fez adequado como um ministro do novo concerto. Isto ele já tinha anunciado com a sua imagem do versículo 3. Como um ministro do Espírito, e não da letra, o ministério do novo concerto transcende o do antigo.

Isto Paulo exemplifica com uma alusão ao brilho no rosto de Moisés, que ele cobriu com um véu para o bem dos israelitas depois que retornou vindo do Monte Sinai (Ex 34.29-35).

A confiança (4) que Paulo expressa se refere, basicamente, à sua convicção de que os próprios coríntios constituem uma testemunha irrefutável da validade do seu chamado apostólico. Ele estava convencido da verdade do evangelho e da realidade da sua vocação. Hodge comenta que “é fácil determinar se tal confiança é presunção, ou a força de Deus na alma. Se for a primeira, ela tem os seus companheiros naturais que são o orgulho, a arrogância, a indiferença, e o desprezo pelos demais. Se for a segunda, ela é freqüentada pela aversão a si mesmo, pela humildade, pela benignidade, pela vontade de ser o menor, e por todas as demais graças do Espírito”. Tal confiança veio a Paulo por Cristo e de Deus, a quem Paulo recorre como o seu último Recurso. Não era uma confiança humana, mas, em um certo sentido, era um relacionamento face a face (pros) com Deus, e que poderia suportar a prova do juízo.

Conseqüentemente, ele prossegue explicando, não que sejamos capazes (hikanos), por nós (5), de “ter um único pensamento por nossa própria iniciativa” (literalmente, “de pensar alguma coisa, como de [ek] nós mesmos”) em relação ao evangelho e ao seu ministério, mas a nossa capacidade (hikonotes) vem de (ek) Deus (cf. 4.7; 5.18; 6.4; 7.5-6; 11.23; 12.9-10; 13.3-4; 1 Co 15.10). A compreensão e o domínio que Paulo tinha do seu ministério apostólico não nasce dos seus próprios recursos. Ele não pode fazer nenhuma reivindicação pessoal sobre a sua capacidade no evangelho. Pela mesma linguagem com a qual ele levantou a pergunta pela primeira vez em 2.16: “Quem é idôneo?”, Paulo está desenvolvendo a sua resposta nos vv. 5 e 6 (cf. NASB, “capazes” ou “adequados”).

Então, com uma alusão ao seu chamado (At 9.3-18; 22.14-16; 26.16-18; 1 Tm 1.12), Paulo insiste que “a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes [hikanosenj de ser ministros (servos) de um Novo Testamento” (5-6, NASB). A partir da perspectiva bíblica completa, “concerto”6’ pode ser mais adequado do que testamento, como uma tradução de diatheke no Novo Testamento, com a possível exceção de Hebreus 9.15-20. “Concerto” na Bíblia refere-se a um acordo, não entre iguais mas entre Deus e o seu povo.

E constituído pela graciosa oferta de Deus da sua presença salvadora e confirmada pela resposta agradecida do seu povo no cumprimento das suas obrigações, Paulo é ministro de um novo concerto (Jr 31.31-34; Mt 26.28; Mc 14.24; Lc 22.20; 1 Co 11.25; Hb 7.22; 8.6-13; 9.15-22), em contraste com o antigo (3.14; = Ex 24.3-8; Gl 4.24). E uma novidade (kaines), não somente no tempo, mas também no tipo — “novo e eficiente ... em contraste com o antigo e obsoleto”62 — pois não é da letra, mas do Espírito (cf. Rm 2.28-29).

Por letra, Paulo entende o antigo concerto, conforme definido em um “código escrito” exterior (RSV). Por Espírito ele está caracterizando a revelação do novo concerto em Cristo, em termos de um código interno dinâmico e espiritual, em contraste com outro legal. Embora a referência não seja diretamente ao Espírito Santo (Espírito, 6, 8; “Espírito”, 17-18), certamente a presença do Espírito de Deus está envolvido de uma maneira totalmente nova. Assim, embora o uso que Paulo faz do Espírito seja geralmente em um sentido qualitativo, o que ele quer dizer não pode ser compreendido independentemente das operações do Espírito Santo.

A glória (cf. 7-11) do ministério do novo concerto como um ministério do Espírito (cf. 8) está gravada em relevo pelo fato de que a letra mata, e o Espírito vivifica (cf. Rm 7.6). A vontade e o objetivo de Deus, expressos somente na forma de proibições escritas só poderiam incitar e condenar o pecado (cf. Rm 7.7-25); pois não tinham poder devido à fraqueza da carne (Rm 8.3). Assim, só poderiam levar à morte.

Mas “o Espírito de vida, em Cristo Jesus” (Rm 8.2; cf. 3.17; 1 Co 15.45) é capaz de gravar a vontade de Deus no coração (3.3; At 15.9), capacitando o cristão a cumprir os requisitos justos de um Deus Santo (3.9; Rm 8.4). No entanto, a Lei não ficava invalidada, pois “a lei é santa” (Rm 7.22). Em lugar disso, ela fica estabelecida (Rm 3.31) ou cumprida (Rm 13.8-10; Gl 5.14), quando pelo poder da constante presença do Espírito de Cristo (Rm 8.2-9) a fé opera através do amor (ágape) na preocupação ética do cristão (Gl 5.6). A suficiência do chamado de Paulo é aquela que está ancorada em um ministério superior, o ministério de um Espírito transformador (3.18).

Agora o apóstolo apresenta de um modo claro o que ele tinha apenas mencionado previamente (cf. 3, 6) — o contraste entre as dispensações (cf. RSV) da Lei e do Espírito, entre o ministério de Moisés e o de Paulo. O ministério de Moisés é caracterizado pela glória (“brilho”, RSV) no rosto de Moisés. “Transitória como era” (NASB), era ainda assim tão brilhante que os filhos (huious, “filhos”) de Israel não podiam “olhar atentamente” (NASB) para ela (Ex 34.29-30).

A ênfase de Paulo está na glória ou no esplendor do ministério de Moisés como uma revelação da eterna vontade de Deus. Assim, se o ministério da morte66, gravado com letras em pedras (cf. Rm 7.7-8; 1 Co 15.16), veio em glória, não é óbvio (ouchi), pergunta Paulo, que “seja de maior glória (ou resplendor, RSV)” o ministério do Espírito (8), que dá a vida (3.6; cf. Gl 3.5)?

Então, na segunda fase do seu contraste, ele prossegue explicando que “se o ministério da condenação [Dt 27.26; Gl 3.10] foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça” (9, NASB) [Rm 1.17; 5.17; 8.1-4; 1 Co 1.30]. “A lei”, comenta Calvino, “deve nos mostrar a doença, de modo a não nos mostrar, ao mesmo tempo, qualquer esperança de cura; o evangelho deve trazer o remédio àqueles que já não têm mais esperança”.

O último supera a primeira “porque é uma coisa muito maior absolver o pecador condenado do que condená-lo”. Uma só considera a lei escrita nas pedras; o outro, considera o sangue do próprio Filho de Deus e o poder do Espírito. Ajustiça7’ sobre a qual Paulo baseia a superioridade do seu ministério é “a justiça de Deus” revelada no “evangelho de Cristo” (Rm 1.16-17), que ele expõe em termos de justificação e santificação em Romanos 3.3 1 - 8.39.

Este contraste entre ministérios pode até mesmo ser considerado tão radical, que o primeiro, que foi glorificado (10) como um instrumento da auto-revelação de Deus, agora, “nesta parte, não foi glorificado, por causa desta excelente glória” (NASB) — a glória do segundo, que o supera em muito (cf. Jo 1.17; Rm 10.4; Gl 3.21-25). “A sua glória agora está diminuída, como o brilho dos lampiões quando chega o amanhecer” (R. A. Knox).

Paulo desenvolve o seu ponto final do contraste (11) a partir do brilho do rosto de Moisés (3.7), que já desaparecia, de acordo com a tradição judaica, mesmo quando ele estava descendo do Monte Sinai. Ele viu isto como sendo um sinal da natureza transitória do antigo concerto, que Moisés representava, O contraste é com a permanência da revelação do Espírito. Porque, se o que era transitório foi para glória (dia doxes), muito mais é em glória (en doxe) o que permanece.

Assim, a adequação do ministério apostólico de Paulo é a sua superioridade como um ministério do novo concerto — um ministério do Espírito — superior (1) como a vida é mais gloriosa do que a morte, (2) como a justiça é mais gloriosa do que a condenação, e (3) como aquilo que é permanente é mais glorioso do que aquilo que é transitório.

c) A liberdade do ministério do novo concerto (3.12-18). Com um ministério assim, Paulo, diferentemente dos seus oponentes, é capaz de falar de forma corajosa, sem esconder nada. O ministério de Paulo, diferentemente do de Moisés, que personifica a Lei, possui a liberdade do Espírito do Senhor que capacita todos a ver a sua glória de uma maneira que transforma a vida.

Paulo declara que a muita ousadia no falar (parresia) com a qual ele conduz o seu ministério, se baseia na esperança que ele tem (12).

Ele fala do ministério do novo concerto como uma esperança, primeiramente em vista da sua permanência (cf. 11); ele tem um futuro glorioso (cf. 8, estai). Em segundo lugar, é uma esperança porque a glória de Deus no futuro está autenticamente presente no ministério do Espírito (cf. 1.21-22; Rm 8.24). Esta tão adequada esperança (cf. 1.5-6) permite, na verdade exige, um ministério que é corajoso e franco (sobre parresia, cf. Mc 8.32; J0 7.4; At 4.29, 31; 28.31; Cl 2.15; Hb 4.16; 10.35).

Para exemplificar esta afirmação ampla, Paulo retorna ao contraste entre o seu ministério e o de Moisés, que foi caracterizado pelas informações ocultas. A tradução da KJV de Êxodo 34.33 dá a impressão de que Moisés cobriu o seu rosto para evitar assustar os israelitas pela glória da sua aparência.

Esta interpretação parece incoerente com todo o relato do Antigo Testamento. No entanto, o texto hebraico deste versículo em Exodo, e a interpretação que Paulo faz do evento, indicam um fato adicional. O que Moisés fez foi colocar um véu sobre a sua face (13) depois que ele entregou a mensagem de Deus ao povo = (cf. Ex 34.33-35, RSV, Berk., Antigo Testamento Ampliado). Isto foi feito para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim “daquilo que era transitório” (NASB). A versão Berkeley traduz este texto como: “Para evitar que os filhos de Israel olhassem para alguma coisa que estava desvanecendo”. O que Paulo quer dizer aqui é que os israelitas não tinham a permissão (v. 13) de olhar para a gloria de Moisés enquanto ela desaparecia.

No versículo 7 ele esclarece que eles não tinham permissão de olhar ininterruptamente para a glória. As limitações desta revelação eram tais, que o seu ministério tinha que esconder até mesmo uma glória transitória, O ministério de Paulo é exatamente o oposto. Ele usa, não um véu, mas muita ousadia no falar. A sua mensagem não é de condenação nem de morte, mas de graça, de misericórdia e de vida. Pela fé, o cristão pode ver atentamente o seu Senhor sem interrupções,

A razão para o véu sobre o rosto de Moisés era porque os seus sentidos foram endurecidos (14) por causa da sua rejeição moral à luz (cf. At 28.27; Rm 1.21). Adicionalmente, e comprovando o que ele acabou de dizer, até hoje o mesmo véu está por levantar.., quando é lido Moisés (o antigo concerto; 14-15). Isto é verdade, porque o véu “é abolido (somente) por Cristo” (NASB). Paulo agora está falando da atual cegueira ou do atual endurecimento de Israel, igual ao que aconteceu com os seus antepassados. A recepção apropriada da mensagem de Moisés teria preparado o caminho para Cristo (cf. J0 5.46-47). Mas o véu permanece, uma vez que eles não estavam retornando a Cristo (cf. Rm 9-11).

Mas, quando os corações de Israel se converterem ao Senhor, então, o véu se tirará (16), da mesma maneira como Moisés removeu o véu do seu rosto na presença do Senhor (Ex 34.34). Eles então serão capazes, “em Cristo”, de olhar firmemente para a glória do Senhor, como fez Moisés. Esta era a experiência pessoal de Paulo como “um hebreu de hebreus” (Fp 3.5). Quando ele se encontrou com o Jesus ressuscitado na estrada para Damasco, começou a ver o verdadeiro significado do novo concerto como cumprido em Jesus Cristo (At 10.4). O véu tinha sido removido da sua compreensão espiritual. A cruz de Jesus, antes tão completamente desprezível, agora estava banhada com a verdadeira glória do próprio Deus.

Quando se converterem ao Senhor pode ser traduzido como: “Sempre que alguém se converte ao Senhor” (Berk.). O Senhor a quem Paulo se volta para que o véu seja removido é Jesus, o Cristo ressuscitado (14). “A esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.36; cf. Si 110.1; Mc 12.35; Rm 10.9; 1 Co 12.3; Fp 2.9- 11).

Aqui Paulo, de acordo com a confissão da igreja primitiva, identifica o Jesus ressuscitado e exaltado como o Senhor do Antigo Testamento diante de quem Moisés compareceu. O versículo 16 é uma citação direta de Exodo 34.3 4. O Deus do Antigo Testamento se revelou em Jesus Cristo. Não há descontinuidade nem contradição entre o antigo e o novo concerto.

Ora, o Senhor é Espírito, prossegue Paulo, para deixar claro os termos do seu argumento (17). O Espírito Santo aqui é distinto em visão, mas não em termos de alguma identidade pessoal com Cristo. Paulo fala mais exatamente de uma identidade que aparece em ação redentora, pela qual ele explica especificamente por que o véu que esconde a glória de Deus é removido em Cristo. Sob uma perspectiva, a revelação messiânica do Espírito de Deus ocorreu em Jesus Cristo. Sob outra, os benefícios totais do novo concerto são, na realidade, transmitidos aos homens por meio do Espírito. O Espírito está somente onde Cristo está; e onde o Espírito está, ali está Cristo.

A concepção do Espírito centralizada em Cristo que Paulo tem foi determinada por sua fé em Jesus Cristo, e sua experiência com o Espírito (cf. 3) o convenceu da natureza espiritual do ministério do novo concerto. A ênfase aqui não está na personalidade do Espírito Santo, pois o Espírito se oculta na sua apresentação de Cristo, para não se separar do nosso Senhor (Jo 15.26; 16.13). A ênfase de Paulo está mais no poder do Espírito, pois a qualidade da ação redentora do Espírito caracteriza de maneira suprema a nova revelação em Cristo (cf. Jo 4.24). Ele se refere à função do Espírito Santo para esclarecer mais completamente o caráter básico do seu ministério como sendo “não da letra, mas do Espírito” (6).

Assim Paulo pode corajosamente afirmar que, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Esta liberdade é basicamente a libertação da Lei, o alívio das limitações do antigo concerto (Rm 7.5-6; Gl 4.5-6; 5.1), pela purificação do coração. A liberdade da Lei, concretizada pela presença vivificadora do Espírito Santo, abrange a libertação do pecado (Rm 6.6-7), da morte (Rm 6.21-23; 7.10-11) e da condenação (Rm 8.1, 17-21, 28-39). “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1-2). Esta é a libertação que vem da filiação (Rm 8.14-16), a posse da perspectiva da

“liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.21; cf. Jo 8.36).

Paulo culmina o seu contraste entre o ministério de Moisés do antigo concerto e o seu próprio ministério do novo, à medida que ele reflete sobre os privilégios de todos os cristãos. Todos os que estão em Cristo têm a seguinte bênção: “...com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (18). No Antigo Pacto, somente Moisés poderia ver a glória do Senhor, pois um véu escondia do povo de

Israel até mesmo o seu reflexo transitório, simbolizando a condição daqueles que estavam sob a lei (13-15). Mas o véu é removido dos corações de todos aqueles que se voltam ao Senhor e que são capazes, pela fé, de ver Cristo, “que é a imagem de Deus” (Jo 1.14; 14.9; 2 Co 4.4; Cl 1.15).

E assim, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, a qualidade da sua vida cristã está no processo de ser transformada (metamorphoumetha, Rm 12.2; cf. Mt 17.2; Mc 9.2, “transfigurada”) na mesma imagem (Gn 1.26-27; Rm 8.29; 1 Co 15.49; Cl 3.10).

Pois assim como um espelho revela as características físicas para que alguém possa arrumar-se corretamente, também a constante visão de Cristo pela fé revela os defeitos do caráter cristão e inspira a sua correção. A transformação que resulta é uma transformação de glória em glória, isto é, à semelhança de Cristo (Ef 4.13).

Esta transformação penetra na vida interior do homem (cf. 3; 4.16; Hb 4. 12-13) e não terminará até o dia em que nós o vejamos “face a face” (1 Co 13.12). Então nós “seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2; cf. Rm 8.18). A liberdade do novo concerto do Espírito inclui não apenas os momentos cruciais do perdão dos pecados e da purificação do coração, mas também enfatiza a contínua santificação de toda a vida (7.1; 1 Ts 5.20-23; Hb 12.14). Este processo só atinge a plenitude na glorificação em completa conformidade com a imagem do Filho de Deus (Rm 8.28-30).

Uma liberdade assim gloriosa ocorre pelo Espírito do Senhor, ou “do Senhor, o Espírito” (NASB). Esta liberdade espiritual pode ser a atual experiência de todos os que se voltam para o Senhor, pois o poder do grande futuro de Deus foi distribuído entre os homens pela Pessoa e pela obra de Jesus Cristo — no ministério do novo concerto. Assim é a presença prática do Espírito Santo, que reforça o ministério de Paulo e o leva a falar dele como uma “esperança” (12).

Este fato promove uma sinceridade completa no seu acesso a Deus em Cristo, e na sua proclamação do evangelho. Pois no evangelho de Cristo existe uma liberdade

1) que está verdadeiramente presente entre os homens,

2) que pode penetrar no íntimo da personalidade, e

3) que é intensamente promissora nas suas perspectivas futuras.

Em Cristo, o cristão tem liberdade de acesso

1) à presença de Deus,

2) às profundas necessidades do seu próprio coração, e

3) à esperança certa da glória de Deus para sempre na sua vida (cf. Rm 5.1-5).

Dedique tempo a ser santo. O mundo se move com muita pressa;

Passe muito tempo a sós com Jesus.

Ao olhar para Jesus, como Ele você será;

Os seus amigos, através do seu comportamento,

verão a semelhança que você tem com Ele.

(W. D. Longstaff)

d) A sinceridade do ministério apostólico (4.1-6). Com aplicação direta ao caráter prático do seu próprio ministério, Paulo prossegue com o tema de 3.12: a franqueza da sua pregação (cf. versículos 5-6). Esta é uma ousadia, uma sinceridade resultante do ministério do Espírito (3.4-18). Como nos versículos intermediários (12-18), Paulo tem novamente três assuntos:

1) o esplendor do ministério do novo concerto (1-2),

2) a condição daqueles que são incapazes de ver esse esplendor (3-4), e

3) a origem divina do esplendor do ministério do evangelho (56).

A coragem de Paulo como apóstolo está enraizada no tipo de ministério (1) que ele possui. Este é o ministério que ele acabou de descrever como um ministério de vida, justiça, liberdade e glória. Com base nisto, a ele mesmo foi feita misericórdia (cf. 1 Co 7.25; 1 Tm 1.16). E unicamente para isto e por isto que se tornou a essência da sua própria vida, que Paulo dá testemunho na sua pregação.

A sua integridade como ministro é a integridade da misericórdia, a misericórdia de Deus que fortalece toda a sua própria existência. A misericórdia é o seu único orgulho, a sua única base para confiança como apóstolo (cf. 3.4). Com base unicamente nisto ele escreve não desfalecemos (cf. versículo 16; Lc 1.18). Aqui está o âmago da sua sinceridade (3.12) e a explicação da sua incessante atividade pelos homens (7-15).

A expressão antes (alia), rejeitamos (2) aponta enfaticamente para aquilo que está excluído de tal ministério. Quando Paulo iniciou o apostolado, ele repudiou de uma vez por todas as coisas que, por vergonha, se ocultam. O termo grego aischunes é aqui traduzido como “vergonha”. Ele diz que esta atitude tem dois lados.

Em primeiro lugar, o ministério de Paulo nunca foi e nem é agora favorável a andar com astúcia (panourgia). Ele não estava disposto, como Satanás (11.3) e seus ministros (11.14-15; 12.16), a adotar quaisquer meios para conseguir os seus fins. Nem, em segundo lugar, ele era culpado de falsificar a palavra de Deus (cf. 2.17; 1 Ts 2.3). Não era seu costume adulterar a sua mensagem “com quaisquer acréscimos ou alterações, ou tentando acomodá-la ao gosto dos ouvintes”. Esta, escreve Lenski, é a mais detestável de todas as obras ignóbeis realizadas no mundo.

Elas andam sempre juntas a integridade na metodologia ministerial de alguém, e a honestidade para com a Palavra. Pode-se dizer, então, que aquele que reduzir as Escrituras à doutrina também irá reduzir o amor ao legalismo? Ou vice-versa?

Antes (alla), ao contrário, o método de Paulo acima de tudo é pela manifestação da verdade (cf. 3.1-6; 5.11; 6.4), ...e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus (cf. 1.12; 2.10, 17). Paulo procura simplesmente tornar a verdade conhecida, porque ele, de alguma maneira, ousa acreditar que a verdade salvadora de Deus não precisa que nada seja acrescentado a ela para que atinja os seus objetivos (cf. Jr 23.29). Ela não precisa da inteligência, mas sim da completa honestidade dos homens. Assim, Paulo submete a sua reivindicação não somente à consciência de todo homem, mas também Aquele em cuja misericórdia o seu ministério se apóia, e que escrutina cada consciência (cf. 1 Co 4.4; Hb 4.13). O apelo de Paulo chega a um clímax. Neste versículo ele parece responder e acusar os seus caluniadores. Estes primeiros murmúrios abafados de polêmica preparam o caminho para o que virá nos capítulos 10-13.

Os adversários de Paulo parecem ter objetado que, se a sua proclamação era tão honesta, por que o evangelho (3) ainda era encoberto (3.15) para tantos dos seus ouvintes? Ele admite (se ainda...) que para alguns está encoberto. Mas está encoberto somente no caso dos que se perdem. O problema não está no Evangelho, mas sim nos ouvintes. Como Tasker observa, Paulo está “explicando, com uma linguagem diferente, o ensinamento de Jesus da parábola do lavrador”.

O deus deste século (cf. Mc 3.22; Jo 12.31; 14.30; Ef 2.2; 6.12; 1 Jo 5.19) cegou os entendimentos dos incrédulos (4). Satanás, que está contra Deus, exerce uma soberania limitada e temporária, mas muito real (Mt 4.9; Lc 4.6), durante “o presente século mau” (Gl 1.4, RSV). Este domínio se estende sobre todos aqueles que devotam sincera obediência a qualquer causa que comprometa o eterno propósito da graça de Deus.

Assim, mesmo a Lei, sendo mal interpretada e usada equivocadamente pelos legalistas judeus, poderia se tornar uma força demoníaca (3.15) e levar um fanático Saulo de Tarso a perseguir a igreja de Deus (1 Co 15.9).

Da mesma maneira, “os príncipes deste mundo... crucificariam ao Senhor da glória” (1 Co Tais “príncipes das trevas deste século” (Ef 6.12, NASB), sobre os quais Cristo triunfou (Cl 2.15), impedem que sobre aqueles que se recusam a acreditar lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Assim, como eles estão cegos para Cristo, Deus permanece oculto para eles (cf. 6).

O imponente clímax da passagem é balanceado com a menção de Cristo como a imagem de Deus. Aqui está a glória de Cristo, pois é a natureza de Cristo como “a imagem do Deus invisível” (CI 1.15; cf. J0 12.45; 14.9) que irradia a verdadeira glória de Deus entre os homens (cf. Hb 1.3).

A ênfase está na igualdade da imagem (eikon) com o original (cf. Fp 2.6); eikon não implica numa cópia fraca de alguma coisa, mas “na iluminação do seu núcleo ou essência interior”. Cristo, o Homem do céu, cumpre em si mesmo o destino divino da imagem de Deus no homem (Gn 1.26-27; cf. Hb 2.6-9). Por meio dele, nós, cristãos, “somos transformados de glória em glória na mesma imagem” (3.18, NASB). Dessa forma, em Cristo, o crente é restaurado à imagem de Deus (cf. 5.17).

Agora Paulo está preparado para deixar muito claro aos seus críticos (cf. 3.1) o que ele quis dizer no versículo 2 por “manifestação da verdade”. Com tal “evangelho da glória de Cristo” (RSV), “nós não pregamos a nós mesmos” (Bruce), nossas idéias, nossos dons ou nossa personalidade, mas pregamos a Cristo Jesus, o Senhor (5). A única exaltação com que o apóstolo poderia condescender é a de “Cristo Jesus como Senhor” (ASV, At 2.36; 1 Co 21.1; Fp 2.9-11). A soberania de Cristo governa integralmente a metodologia do ministério de Paulo (1.24; 1 Co 2.2).

A única autoproclamação legítima, digna do ministério, segundo Paulo, é a de que nós mesmos somos vossos servos (douloi), por amor de Jesus. Este era um serviço motivado (5.14) e caracterizado por aquele que foi realizado pelo grande Servo, que deixou a sua exaltação a critério de Deus (Fp 2.5-9; 1 Pe 2.23; 5.6). “A coisa mais cruel que uma congregação tem o poder de fazer ao seu pastor”, escreve C. E. B. Cranfield, é “condescender com um culto de personalidade.., pois isto o deixa tentado a trair o seu ministério”.

Pregar a si mesmo tenta o mensageiro a usar de “artimanhas” qualquer método para se impor. Na verdade, isso seria adulterar a Palavra de Deus, e mais cedo ou mais tarde levaria alguém a abandonar o seu ministério, desencorajado e desiludido. A auto-exaltação de Paulo foi completamente excluída do ministério do evangelho pela própria natureza do seu encontro de conversão com o Cristo ressuscitado (6). Naquela ocasião, o Deus da criação, que com uma palavra dissipou as trevas com a luz (Gn 1.3; Is 9.1; Jo 1.5), tinha pessoalmente iluminado98 de uma forma maravilhosa a vida escurecida de Paulo para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo (At 9.3; 20.13; 22.6; GI 1.15-16).

Denney observa. “Naquela luz que Deus acendeu no seu coração, ele viu o rosto de Jesus Cristo, e soube que a glória que brilhava era a glória de Deus”. Na realidade duradoura desta experiência está a exclusiva qualificação de Paulo para ser um ministro de Cristo. A luz de Deus iluminou a sua vida para que ele também pudesse iluminar outras vidas (At 26.16-18) com o conhecimento da glória de Deus na face de Jesus. A âncora do ministério do apóstolo certamente não estava nele mesmo.

A corajosa confiança do ministério apostólico de Paulo, recebida de Deus por meio de Cristo (Gl 1.1), é vista na sua metodologia, que, em primeiro lugar, está completamente aberta ao escrutínio dos homens e de Deus, e, em segundo lugar, procura manifestar apenas a Jesus Cristo como o seu conteúdo supremo. O próprio Cristo é o recurso derradeiro tanto do ouvinte quanto do pregador do evangelho, pois somente nele Deus pode ser adequadamente conhecido. Rejeitar o evangelho da glória de Cristo é fazer um convite às trevas espirituais; exaltar a si mesmo, na apresentação de Jesus, é trair o ministério.

Paulo fundamenta a integridade do seu ministério no seu caráter basicamente espiritual: 1) a sua prova está nas pessoas transformadas (3.1-3); 2) a sua dinâmica é a qualidade vivificadora do novo concerto (3.4-11); 3) a sua ousadia está na presença transformadora do Espírito do Senhor (3.12-18); e 4) a sua sinceridade jorra da plenitude da revelação da glória de Deus em Cristo, como o apóstolo a recebeu (4.1-6).

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

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