A verdadeira adoração
TEXTO ÁUREO
“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4.24).
Entenda o Texto Áureo
Como Deus é um Espírito, assim Ele convida e demanda um culto espiritual, e já tudo está em preparação para uma dispensação espiritual, mais em harmonia com a verdadeira natureza do serviço aceitável do que o culto cerimonial por pessoas consagradas, lugares e tempos, que Deus por um tempo considerou necessário guardar até a plenitude do tempo chegar.”
VERDADE PRÁTICA
Adorar significa viver em total rendição a Deus, entregando-nos plenamente a Ele.
Entenda a Verdade Prática:
A verdadeira adoração vem do coração, não de fatores externos como o lugar, a cerimônia ou palavras repetidas. Adorar em espírito e em verdade é adorar com sinceridade e fé (João 4:23-24)
LEITURA BÍBLICA
João 4.5-7,9,10,19-24.
5. Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José.
Veio pois… Assim (οὖν) chegou … uma cidade…chamada Sicar. O termo “cidade” é usado amplamente, como nas passagens citadas, e não implica tamanho considerável, mas refere-se a uma das “pequenas vilas muradas que coroam cada elevação”.
Sicar. Esse nome foi frequentemente considerado uma corruptela intencional de Siquém (Atos 7:16, Shequém, Neápolis, Nablus), significando “cidade dos bêbados” (Isaías 28:1, שֵׁכָר) ou “cidade da mentira” (Habacuque 2:18, שֶׁקֶר).
Porém, escritores antigos (como Eusébio, ‘Onom.’ s.v.) distinguem Siquém e Sicar, e dizem que esta última se situa “diante de Neápolis”.
Além disso, um local chamado Sicar (פין סוכר, סוכר, סוכרא) é mencionado várias vezes no Talmude, e é improvável que um lugar tão famoso quanto Siquém fosse referido da mesma maneira que Sicar é aqui. Atualmente, há uma vila chamada ’Askar que corresponde bem ao local mencionado. O nome aparece em uma forma transicional em uma Crônica Samaritana do século XII como Iskar (Conder, em ‘Palestine Exploration Report,’ 1877, p. 150).
Veja também Delitzsch, ‘Ztschr. f. Luth. Theol.’ 1856, pp. 240 e seguintes, onde ele reúne as passagens talmúdicas. à propriedade (χωρίον, Vulg. Prœdium, cf. Mateus 26:36) …José. Veja Gênesis 33:19, 48:22 (34:25); Josué 24:32.
A bênção de Jacó trata a compra que ele fez e o ato guerreiro de seus filhos naquela região como um penhor das futuras conquistas dos descendentes de José, a quem ele concede a região como porção (שְׁכֶם).
A Septuaginta faz um jogo de palavras e introduz Siquém (Σίκιμα) como uma tradução substancial (não literal). Em reconhecimento da promessa, os ossos de José foram depositados em Siquém, na ocupação de Canaã (Josué 24:32; Atos 7:15, 7:16).
6. E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isso quase à hora sexta.
A fonte de Jacó. A palavra “fonte” (πηγή, עַיִן, na Vulgata, fons) é usada aqui (duas vezes) e no versículo 14. Veja também Tiago 3:11 (βρύει); Apocalipse 7:17, 21:6. O termo “poço” (θρέαρ, בְּאֵר, na Vulgata, puteus) aparece nos versículos 11 e 12. Compare com Apocalipse 9:1, 9:2.
Ambos os nomes ainda são atribuídos ao poço: Ain Yakûb e Bîr-el-Yakûb. O esforço para construir o poço em uma área com muitas fontes naturais indica que ele foi obra de um “estrangeiro na terra”. Veja Gênesis 26:19.
O tenente Anderson, que desceu até o fundo em maio de 1866, encontrou-o com uma profundidade de aproximadamente 23 metros e totalmente seco. “É”, ele afirma, “revestido com alvenaria rústica, pois foi escavado em solo aluvial” (Warren, Recovery of Jerusalem, pp. 464 e segs.).
Cansado. É importante notar em João as evidências claras da plena humanidade do Senhor. Ele é o único que preserva a frase “Tenho sede” no relato da Paixão (João 19:28).
Assim. A palavra pode significar (1) “cansado como estava” ou (2) simplesmente, exatamente como estava, sem preparo ou preocupação adicional. No primeiro sentido, seria mais natural que o advérbio precedesse o verbo (οὕτως ἐκαθέζετο), como em Atos 7:8, 20:11, 27:17.
7. Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
Uma mulher da Samaria. Uma mulher, e, como tal, menosprezada pelos mestres populares (cf. v. 27); uma samaritana, e, por isso, desprezada pelos judeus. Assim, os preconceitos de gênero e nacionalidade foram superados por este primeiro ensino do Senhor além dos limites do povo escolhido. Mais ainda, a mulher não era apenas uma estrangeira, mas também pobre, pois tirar água não era mais, como nos tempos patriarcais (Gênesis 24:15, 29:9 e seguintes; Êxodo 2:16 e seguintes; cf. Tristram, Terra de Israel, pp. 25 e segs.), uma tarefa das mulheres de posição.
Dá-me de beber. O pedido deve ser entendido em seu sentido literal e óbvio (v. 6); mas, ao mesmo tempo, pedir, neste caso, foi também oferecer. O Mestre encontrou Sua ouvinte no terreno comum da simples humanidade e lhe concedeu o privilégio de conferir um favor.
9. Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)?
Como, sendo tu – não recusando totalmente, mas se perguntando sobre um pedido tão incomum de um judeu, uma vez que Suas vestes e dialeto revelariam que Ele era, de uma vez por todas, para um samaritano?
Porque… – É essa antipatia nacional que dá sentido à parábola do bom samaritano (Lucas 10:30-37), e a gratidão do leproso samaritano (Lucas 17:16,18).
10. Jesus respondeu e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus e que é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
Se tu conhecesses (tivesses conhecido) o dom de Deus… As palavras são, como comumente ocorre no Evangelho de João, uma resposta à ideia essencial da pergunta anterior. A mulher buscava entender o fato estranho um judeu pedir um favor a uma samaritana. No entanto, como ela vagamente percebeu, isso era apenas uma parte do novo mistério.
O franco apelo à caridade humana, que transcende antagonismos religiosos, indicava uma possibilidade de união maior do que ela poderia esperar. Se ela soubesse o que Deus agora havia feito pela humanidade e quem era esse Mestre judeu que ela via, ela própria teria ousadamente pedido a Ele um favor muito maior do que o que Ele lhe pedira e o teria recebido de imediato: ela se tornaria a suplicante e não se espantaria com o pedido: sua dificuldade atual seria resolvida pela compreensão da nova revelação que havia sido dada não a judeus ou samaritanos, mas a seres humanos.
Se ela conhecesse o dom de Deus, o dom de Seu Filho (João 3:16), que inclui tudo o que o ser humano poderia desejar, ela sentiria que as necessidades das quais estava parcialmente ciente (v. 25) poderiam finalmente ser satisfeitas. Se soubesse quem era aquele que lhe dizia “Dá-me de beber,” ela teria derramado sua oração a Ele sem reservas ou dúvidas, confiante em Sua simpatia e ajuda.
O dom. A palavra aqui usada (δωρεά) aparece apenas neste ponto nos Evangelhos. Ela carrega uma ideia de generosidade, honra, privilégio; e é usada para descrever o dom do Espírito (Atos 2:38, 8:20, 10:45, 11:17) e o dom da redenção em Cristo (Romanos 5:15; 2Coríntios 9:15), manifestado de várias formas (Efésios 3:7, 4:7; Hebreus 6:4).
Esse uso indica que há aqui uma referência geral às bênçãos dadas à humanidade na revelação do Filho, e não apenas uma simples descrição do que foi concedido à mulher em sua conversa com Cristo.
“O dom de Deus” é tudo o que é oferecido gratuitamente no Filho.
Tu lhe pedirias. O pronome é enfático (αὺ ἃν ᾔτ).
Água viva – isto é, água perene, que flui de uma fonte inesgotável (Gênesis 26:19), sempre fluindo fresca (Levítico 14:5).
O pedido que Cristo havia feito forneceu a ideia de uma parábola; a necessidade física que Ele sentia sugeria uma imagem da bênção espiritual que Ele estava pronto para conceder.
Os judeus já estavam familiarizados com a aplicação da expressão “água viva” para se referir às energias vivificantes que procedem de Deus (Zacarias 14:8; Jeremias 2:13, 17:13. Cf. v. 14, nota), embora seja incerto até que ponto essa linguagem profética seria conhecida pelos samaritanos.
Aqui, as palavras indicam aquilo que, do lado divino, responde à sede espiritual, aos anseios dos homens por comunhão com Deus.
Isso pode ser visto sob vários aspectos: como a Revelação da Verdade, o dom do Espírito Santo, individual ou socialmente, ou qualquer coisa que, de acordo com as circunstâncias, conduza à vida eterna (v. 14), que consiste no conhecimento de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo (João 17:3).
19. Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
“Senhor, eu percebo”, isto é pelo que você disse, “que você é um profeta” (compare com João 9:17, Lucas 7:16, “um profeta” não “o profeta”). Um profeta era alguém que tinha capacidades especiais de discernimento, bem como de previsão.
Compare com Lucas 7:39, onde o fariseu objeta que se Jesus fosse realmente um profeta, Ele saberia que a mulher com o frasco de unguento era uma pecadora … A mulher samaritana ficou surpresa com o conhecimento de sua história pessoal que Jesus revelou, e, por sua resposta, ela praticamente confessa que era essa a história dela.
20. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
Nossos pais…e vós dizeis… Para o estudante da Lei, o estabelecimento exclusivo do culto em Jerusalém devia ser uma grande dificuldade. Para um samaritano, nenhuma questão poderia parecer mais digna da decisão de um profeta do que a definição do centro religioso do mundo. Assim, a dificuldade proposta não é uma distração, mas o pensamento natural de alguém que se encontra diante de um intérprete da vontade divina.
Nossos pais. Refere-se, ou aos antepassados desde a época da construção do Templo Samaritano após o Retorno, ou, mais provavelmente, aos patriarcas. O Templo Samaritano foi destruído por João Hircano por volta de 129 a.C. (Josefo, ‘Antiguidades’, 13.9.1).
Adoraram. Para este uso absoluto do verbo (προσκυνεῖν), veja João 12:20; Apocalipse 5:14 (leitura correta); Atos 8:27, 24:11.
Neste monte – apontando para o Monte Gerizim, ao pé do qual está o poço. Segundo a tradição samaritana, foi neste monte que Abraão preparou o sacrifício de Isaque e também onde ele encontrou Melquisedeque. Em Deuteronômio 27:12, Gerizim é mencionado como o local onde seis tribos se postaram para proclamar as bênçãos pela observância da Lei. E no Pentateuco Samaritano, Gerizim, e não Ebal, é o monte onde o altar foi erguido (Deuteronômio 27:4).
A referência natural à montanha não mencionada é um traço inconfundível da vida. Uma passagem notável é citada de ‘Bereshith R.’ §32, por Lightfoot e Wünsche: “R. Jochanan, indo a Jerusalém para orar, passou por [Gerizim]. Um certo samaritano, ao vê-lo, perguntou-lhe: Para onde vais? Ele respondeu: Vou a Jerusalém para orar. Ao que o samaritano disse: Não seria melhor para ti orar neste monte sagrado do que naquela casa amaldiçoada?” Compare ‘Bereshith R.’ §81. “e vós dizeis…vós (ὑμεῖς), do vosso lado… Todo o problema é exposto em sua forma mais simples. Os dois fatos são colocados lado a lado (e, não mas): a prática tradicional e o ensinamento judeu. o lugar – ou seja, o único templo. devem adorar“] devem adorar (v. 24), de acordo com uma obrigação divina (δεῖ). Compare João 3:30, nota.
21. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
As reivindicações rivais de Gerizim e Jerusalém não são determinadas pelo Senhor, pois desaparecem na revelação de uma religião universal.
Mulher, crê em mim. A forma original (πίστευσον) marca o início da fé no presente, que deve crescer para algo mais maduro. Compare com João 10:38, 12:36, 14:1, 14:11.
Por outro lado, o ato único de fé é marcado (πιστευσον) em Atos 16:31.
Nos dois relatos paralelos, Marcos 5:36 e Lucas 8:50 (πίστευσον), as duas formas são usadas: a fé contínua e geral no primeiro trecho é concentrada em um ato especial no segundo, com o acréscimo “e ela será salva”. Nesta passagem, a frase única (“crê em mim”) corresponde ao familiar “Em verdade, em verdade” ao introduzir uma grande verdade. Compare com Malaquias 1:11.
A (melhor, uma) hora vem. Essa consumação ainda era futura. O templo ainda exigia a honra reverente dos crentes (João 2:16). Em contraste com o versículo 23.
A hora. Há uma ordem divina na qual cada parte do plano de salvação é cumprida no devido tempo. Compare com João 5:25, 5:28, 16:2, 16:4, 16:25, 16:32. Cristo também teve “Sua hora” (João 2:4, nota).
Nem…nem em Jerusalém. Os dois centros de adoração são mencionados nos mesmos termos (οὔτε … οὔτε) no contexto do futuro.
Adorareis o Pai. A palavra “adorar” foi usada de forma indefinida no versículo 20; aqui encontra seu verdadeiro complemento. O objeto da adoração determina suas condições. Aquele que é conhecido como o Pai encontra Seu lar onde estão Seus filhos. Este uso absoluto do título “o Pai” é característico de João e quase exclusivo a ele. Outros exemplos estão em Mateus 11:27 e paralelos; Atos 1:4, 1:7; Romanos 6:4; Efésios 2:18.
A revelação de Deus como o Pai resume as novas boas novas do Evangelho. Aqui, o título tem uma relação significativa com a ostentação de descendência especial (“nossos pais”, v. João 4:20).
22. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus.
Vós adorais o que não sabeis. Sua adoração, portanto, é direcionada a Alguém cujo caráter, conforme revelado através dos profetas e da história do povo de Deus, vocês verdadeiramente desconhecem. Vocês sabem quem devem adorar, mas não O conhecem.
Ao limitar sua fé à lei, vocês se condenam à ignorância sobre o Deus de Israel. Nós, judeus, por outro lado (o pronome é novamente enfático), adoramos o que sabemos, pois a salvação prometida vem dos judeus. O poder do judaísmo reside no fato de que ele não era um simples deísmo, mas uma preparação gradual para a Encarnação. O judeu, portanto, conhecia aquilo que adorava, na medida em que a vontade e a natureza de Deus foram gradualmente reveladas a ele. Veja o contraste em João 8:54.
Vós…nós … O forte contraste entre samaritanos e judeus, que permeia o relato (versículos 9, 20, “vós dizeis”), e a referência pontual aos “judeus” que segue, estabelecem além de qualquer dúvida razoável a interpretação dos pronomes.
O que… e não “a Quem…”. A forma abstrata sugere a noção de Deus, tanto quanto Seus atributos e propósitos foram revelados, em vez de Deus como uma Pessoa, revelado aos homens, finalmente, no Filho (João 14:9).
Compare com Atos 17:23 (ὃ οὖν). salvação. Melhor, a salvação prometida e esperada (ἡ σωτηρία), a ser realizada na missão do Messias. Veja Atos 4:12. Compare com Atos 13:26. Veja também Apocalipse 7:10, 12:10, 19:1.
Vem dos. Significa que “procede dos” (ἐστίν ἐκ), e não que “pertence aos”. Compare João 1:46, 7:22, 7:52, e (10:16). O pensamento é expresso simbolicamente em Apocalipse 12:5.
23. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Porém a hora vem, e agora é – evidentemente, querendo que ela entendesse que essa nova dispensação estava em algum sentido sendo montada enquanto Ele estava falando com ela, um sentido que em poucos minutos até agora apareceria, quando Ele disse a ela claramente que Ele era o Cristo. [Jamieson; Fausset; Brown]
24. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
A adoração precisa ser sincera (4.24). A adoração precisa ser em espírito, ou seja, de todo o coração. Precisa ter fervor. Não é um culto frio, árido, seco, sem vida. A adoração precisa ser sincera. A adoração precisa ser em espírito, ou seja, de todo o coração. Precisa ter fervor. Não é um culto frio, árido, seco, sem vida.
Deus é espírito. Esse versículo representa a afirmação clássica sobre a natureza de Deus como Espírito. A frase significa que Deus é invisível (Cl 1.15; ITm 1.17; Hb 11.27), como oposto à natureza física ou material rio ser humano (1.18; 3.6).
A ordem das palavras dessa frase coloca a ênfase em "Espírito", e a afirmação é essencialmente enfática. O ser humano jamais compreenderia o Deus invisível a não ser que ele se revelasse, como o fez na Escritura e na encarnação. o adorem. Jesus não está falando de um elemento desejável na adoração, mas do que é absolutamente necessário.
Em espírito e em verdade. A palavra "espírito" não se refere ao Espírito Santo, mas ao espírito humano. Jesus está dizendo que a pessoa deve adorar não simplesmente em conformidade externa a ritos e lugares religiosos (externamente), mas interiormente ("em espírito"), com atitude correta do coração.
A referência à "verdade" diz respeito à adoração a Deus consistente com a Escritura revelada e centrada no "Verbo que se fez carne", que, cm última análise, revelou o Pai (14.6),
INTRODUÇÃO
Jesus faz a transição de um diálogo com um doutor da lei para um diálogo com uma mulher samaritana. O contraste entre Nicodemos e a samaritana é gritante: ele, homem, judeu, fariseu, mestre, membro do Sinédrio; ela, mulher, samaritana, inculta, vivendo uma vida imoral. Ambos, porém, precisavam de Jesus e foram alvos do amor de Jesus. O Senhor prova, outrossim, ser capaz de salvar os dois. Em vibrante contraste com a fria incredulidade com que nosso Senhor fora recebido em Jerusalém e na Judeia, temos sua experiência em Samaria, onde uma cidade inteira o aceitou como o Messias prometido, o Salvador do mundo.
I. O ENCONTRO EM SAMARIA E DUAS PRECIOSAS LIÇÕES
1. A necessidade de passar em Samaria. Várias estradas levavam da Judeia para a Galileia: uma perto do litoral; outra pela região da Pereia; e urna pelo centro de Samaria. Mesmo com a forte antipatia entre judeus e samaritanos, o historiador judeu Josefo relata que o costume dos judeus, na época das grandes festas, era atravessar o país dos samaritanos porque era a rota mais curta.
Embora a expressão "era necessário" talvez possa referir-se ao fato de que Jesus quis ganhar tempo e evitar distância necessária, por causa da ênfase do Evangelho no empenho do Senhor em cumprir o plano de seu Pai (2.4; 7.30; 8.20; 12.23; 13.1; 14.31), o apóstolo pode ter realçado a necessidade divina e espiritual, ou seja, Jesus estava comprometido com o destino divino de encontrar-se com a mulher samaritana a quem se revelaria como o Messias. Quando o povo de Israel se dividiu politicamente depois do reinado de Salomão, o rei Onri nomeou "Samaria" como capital do Reino do Norte de Israel (1 Rs 16.24).
Mais tarde, o nome se referia a todo o distrito e, às vezes, a todo o Reino do Norte, que tinha sido levado cativo (capital, Samaria) pela Assíria, em 722 a.C. (2Rs 17.1-6).
Conquanto a Assíria tenha levado embora a maioria da população das dez tribos (para a região que atualmente corresponde ao Iraque), um considerável número de judeus foi deixado na região norte de Samaria; então, a Assíria transportou muitos não judeus para Samaria. Esses grupos se misturaram para formar uma raça mista por meio de casamentos. Finalmente, desenvolveu-se uma tensão entre os judeus que retornaram do cativeiro e os samaritanos.
Os samaritanos se retiraram do culto prestado a Javé em Jerusalém e estabeleceram o seu próprio culto no monte Gerizim, na Samaria (vs. 20-22). Eles consideravam como autoridade somente o Pentateuco.
Em consequência dessa história, os judeus repudiavam os samaritanos e os consideravam hereges. Fortes tensões étnicas e culturais alimentadas historicamente entre os dois grupos fizeram com que ambos evitassem conoto mútuo tanto quanto possível (v. 9; Ed 4.1-24; Ne 4.1-6; Lc 10.25-37).
2. A necessidade do ser humano. Jesus fez um ponto de contato com aquela mulher pedindo-lhe: Dá-me um pouco de água. Se alguém deseja penetrar o coração de outra pessoa, pode usar dois métodos: fazer-lhe um favor ou pedir-lhe um favor. Com frequência, a segunda opção é mais eficaz que a primeira. Jesus, no entanto, combinou as duas. Jesus se identificou com a mulher. Ele deu valor a ela, quando todos fugiam. Jesus quebrou a barreira cultural, conversando com a mulher em público. Ele não fugiu dela nem a desprezou, mas a olhou com simpatia. Não a julgou nem a condenou.
Ele começou onde ela estava. Jesus a fez acreditar que algo mais, além da simples sede, levou-o a lhe falar. É em vão esperar que as pessoas virão a nós em busca de conhecimento. Nós devemos começar por elas. Devemos entender qual é o melhor acesso ao coração delas. O Antigo Testamento é o pano de fundo para a expressão “água viva”, que possui importante significado metafórico.
Em Jr 2.13, YHWH censura os judeus desobedientes pelo fato de rejeitarem a ele, "o manancial de águas vivas". Os profetas do Antigo Testamento olharam para frente para um tempo quando "correrão de Jerusalém águas vivas" (Ez 47.9; Zc 14.8).
A metáfora do Antigo Testamento falava do conhecimento de Deus e de sua graça que provê purificação, vida espiritual e o poder transformador do Espírito Santo (cf. Is 1.16-18; 12.3; 44.3; Ez 36.25-27).
João aplica esses temas a Jesus Cristo como a água viva, que é simbólica da vida eterna mediada pelo Espírito Santo de Cristo (cf. v. 14; b.3.5; 7.37-39).
Jesus usou a necessidade de água física da mulher para sustentar a vida na região árida em que vivia como uma lição prática da necessidade que ela tinha de transformação espiritual.
A água da vida que Jesus oferece não vem de um poço comum. É uma dádiva que só o Messias pode conceder. Muitas pessoas vivem uma vida infeliz, vazia e prisioneira porque não conhecem Jesus, o supremo dom de Deus.
A mulher samaritana talvez não esperasse nada de Deus. Estava desiludida. Por isso, Jesus tocou no nervo exposto de sua curiosidade: Se conhecesses [...] não conheceis. Essa fala de Jesus aguçou na mulher o desejo de saber quem era aquele interlocutor. Seria ele maior do que Jacó, o doador do poço? Quem pretendia ser? Que diria de si? Assim como Nicodemos não conseguiu compreender as palavras de Jesus sobre novo nascimento, a mulher também não conseguiu entender as palavras de Jesus sobre a água viva.
3. O lugar de adoração a Deus. Diante das dificuldades levantadas pela mulher samaritana para dar água a Jesus, este lhe mostrou que era ela quem precisava de água, a água da vida. A mulher precisava conhecer o dom de Deus, a água da vida (4.10).
Aqui há uma leve reprovação nas palavras de Jesus, como se ele dissesse: “Eu lhe pedi água comum, um dom de menor importância, mas você hesitou em me oferecer água; se você tivesse me pedido a agua viva, o dom supremo de Deus, eu não teria hesitado, mas lha teria dado imediatamente”. A água da vida que Jesus oferece não vem de um poço comum. É uma dádiva que só o Messias pode conceder. Muitas pessoas vivem uma vida infeliz, vazia e prisioneira porque não conhecem Jesus, o supremo dom de Deus. A mulher samaritana talvez não esperasse nada de Deus.
Estava desiludida. Por isso, Jesus tocou no nervo exposto de sua curiosidade: Se conhecesses [...] não conheceis. Essa fala de Jesus aguçou na mulher o desejo de saber quem era aquele interlocutor. Seria ele maior do que Jacó, o doador do poço? Quem pretendia ser? Que diria de si? Jesus foi categórico com a mulher samaritana, ao declarar: Quem beber desta água voltará a ter sede. Nicodemos não entendeu quando Jesus falou sobre novo nascimento, e a mulher samaritana não entendeu quando Jesus falou sobre a água da vida.
Tanto o erudito Nicodemos quanto a ignorante samaritana não entenderam a linguagem espiritual de Jesus. As coisas deste mundo não satisfazem. Nada que o homem jogue para dentro do coração satisfaz. A agua do poço de Jacó não satisfaz para sempre. A água do poço de Jacó fica fora da alma e não é capaz de satisfazer as necessidades do coração.
A água do poço de Jacó é de quantidade limitada, diminui e desaparece. Satisfação era exatamente aquilo a que essa pobre mulher aspirava. Atrás disso andara toda a vida, e nessa busca não respeitara nem as leis de Deus, nem as dos homens. Entretanto, continuava sedenta; e a sede nunca seria satisfeita, senão quando achasse em Cristo o Senhor e Salvador pessoal. A água que Jesus concede é um manancial completo e perpétuo que jorra para a vida eterna. Que água é essa, a água da vida? A promessa de Deus é derramar água sobre o sedento (Is 44.3).
Deus convida todos: Vos, todos os que tendes sede, vinde às águas (Is 53.1).
Deus prometeu que seu povo tiraria com alegria águas do poço da salvação (Is 12.3). Jesus disse: Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7.37).
O Espírito que flui como rio dentro de nós é essa fonte que jorra para a vida eterna (Jo 7.38).
Para o judeu, água viva significava água corrente. Tratava-se da água que fluía de uma nascente, em oposição à água estancada de uma cisterna. Há no texto duas palavras distintas para “fonte”.
A primeira delas épegue, provavelmente com o significado de mina de água ou olho d’água (4.6,14); a segunda é phrear, que denota um poço cavado ou uma cisterna. Dessa palavra vem o conhecido termo “lençol freático”, traduzido aqui por poço (4.11,12). As duas palavras apropriadas para o poço de Jacó; o poço foi escavado, mas é alimentado por uma veia subterrânea que raramente falha.
A vida dessa mulher era como uma cisterna cavada, um poço de águas paradas (phrear), mas Jesus ofereceu a ela uma fonte de águas refrescantes, que jorraria de dentro dela para a vida eterna (pegue). No milagre realizado em Caná da Galileia (2.6-11) e na conversa com Nicodemos (3.5), a água já tinha um sentido espiritual.
Aqui, a água do poço de Jacó, simbolizando a antiga ordem herdada tanto por samaritanos como por judeus, é contrastada com a nova ordem, o dom do Espírito, a vida eterna. Há ecos de promessas do Antigo Testamento nessa promessa de Jesus. No dia da salvação, o povo de Deus tirará águas das fontes da salvação com alegria (Is 12.3); eles não sentirão fome nem sede (Is 49.10).
O derramar do Espírito de Deus será como o derramar de água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca (Is 44.3).
A linguagem da satisfação e transformação interior traz à mente uma série de profecias, antecipando o novo coração e a troca do falido formalismo religioso por um coração que conhece e experimenta Deus, ansioso por fazer sua vontade (Jr 31.29-34; Ez 36.25-27; Jl 2.28-32).
O evangelho de João revela claramente que existe um novo sacrifício (1.29), um novo templo (2.19-21; 4.20-24), um novo nascimento (3.17) e uma nova água (4.11).
II. O ENSINO DE JESUS A RESPEITO DA VERDADEIRA ADORAÇÃO
1. A adoração. O apóstolo Paulo descreve perfeitamente a verdadeira adoração em Romanos 12: 1-2: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Essa passagem contém todos os elementos da verdadeira adoração.
Primeiro, há a motivação para adoração: "as misericórdias de Deus." As misericórdias de Deus são tudo o que Ele tem nos dado que nós não merecemos: o amor eterno, a graça eterna, o Espírito Santo, a paz eterna, a alegria eterna, a fé salvadora, conforto, força, sabedoria, esperança, paciência, bondade, honra, glória, justiça, segurança, vida eterna, perdão, reconciliação, justificação, santificação, liberdade, intercessão e muito mais.
O conhecimento e a compreensão desses presentes incríveis nos motivam a demonstrar louvor e ação de graças - em outras palavras, adoração! Também na passagem encontra-se uma descrição da forma da nossa adoração: "apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo e santo."
Apresentar os nossos corpos significa dar a Deus tudo de nós mesmos. A referência aos nossos corpos, aqui, significa todas as nossas faculdades humanas, tudo da nossa humanidade - nossos corações, mentes, mãos, pensamentos, atitudes - deve ser apresentado a Deus. Em outras palavras, estamos abrindo mão do controle dessas coisas e entregando-o a Ele, assim como um sacrifício literal foi entregue totalmente a Deus no altar.
Mas como alcançar isso? Mais uma vez, a passagem é clara: "pela renovação da sua mente." Renovamos as nossas mentes diariamente ao limpá-las da "sabedoria" do mundo e substituindo-as com a verdadeira sabedoria que vem de Deus. Nós o adoramos com nossas mentes renovadas e limpas, não com nossas emoções. As emoções são coisas maravilhosas, mas a menos que sejam formadas por uma mente saturada na Verdade, elas podem ser forças destrutivas e fora de controle. Onde a mente vai, a vontade segue, e assim fazem as emoções.
Primeiro Coríntios 2:16 nos diz que temos "a mente de Cristo", e não as emoções de Cristo. Há apenas uma maneira de renovar as nossas mentes – através da Palavra de Deus. É conhecer e compreender a verdade da Palavra de Deus que renova nossas mentes.
Conhecer a a verdade, crer na verdade, manter convicções sobre a verdade e amar a verdade naturalmente resultarão em uma verdadeira adoração espiritual. É convicção seguida de afeto, afeto que é uma resposta à verdade, e não a quaisquer estímulos externos, incluindo a música. A música, como tal, não tem nada a ver com a adoração.
A música não pode produzir adoração, embora certamente possa produzir emoção. A música não é a origem da adoração, mas pode ser uma expressão da mesma. Não espere que a música induza a sua adoração; busque nela apenas uma forma de expressar o que se encontra em um coração encantado pelas misericórdias de Deus e obediente aos Seus mandamentos.
A verdadeira adoração é centrada em Deus. As pessoas tendem a se distrair com onde devem adorar, qual música devem cantar na adoração e como outras pessoas enxergam o seu louvor. Focalizar-se nessas coisas atrapalha enxergar o ponto principal. Jesus diz-nos que os verdadeiros adoradores hão de adorar a Deus em espírito e em verdade (João 4:24).
Isso significa que adoramos a partir do coração, essa é a maneira que Deus projetou. A adoração pode incluir orar, ler a Palavra de Deus com o coração aberto, cantar, participar em comunhão e servir aos outros. Ela não se limita a um ato, mas é feita corretamente quando o coração e atitude da pessoa estão no lugar certo.
Também é importante saber que a adoração é reservada somente para Deus. Só Ele é digno e não qualquer um dos Seus servos (Apocalipse 19:10). Não devemos adorar santos, profetas, anjos, estátuas, quaisquer falsos deuses ou Maria, a Mãe de Jesus.
Também não devemos adorar com a expectativa de receber algo em troca, como uma cura milagrosa. A adoração é feita para Deus - porque Ele merece - e para o Seu prazer apenas.
A adoração pode ser louvor público a Deus (Salmo 22:22; 35:18) em um ambiente congregacional, onde podemos proclamar através da oração e louvor a nossa adoração e gratidão a Ele e o que tem feito por nós.
A verdadeira adoração é sentida interiormente e então expressa através de nossas ações. "Adorar" por obrigação desagrada a Deus e é completamente em vão. Ele pode ver através de toda a hipocrisia, a qual Ele odeia. Ele demonstra isso em Amós 5:21-24 ao falar sobre a vinda de julgamento.
Um outro exemplo é a história de Caim e Abel, os primeiros filhos de Adão e Eva. Ambos trouxeram ofertas ao Senhor, mas Deus só se agradou com Abel. Caim trouxe a oferta por obrigação; Abel trouxe os melhores cordeiros do seu rebanho. Ele trouxe o que trouxe por fé e admiração por Deus. A verdadeira adoração não se limita ao que fazemos na igreja ou em adoração aberta (embora sejam coisas boas e que a Bíblia nos encoraja a fazer).
A verdadeira adoração é o reconhecimento de Deus e todo o Seu poder e glória em tudo o que fazemos. A forma mais elevada de louvor e adoração é a obediência a Ele e à Sua Palavra. Para fazer isso, devemos conhecer a Deus; não podemos ser ignorantes dEle (Atos 17:23).
A adoração serve para glorificar e exaltar a Deus - para mostrar a nossa lealdade e admiração ao nosso Pai.
2. Jesus e a verdadeira adoração. Para podermos adorar a Deus em espírito e em verdade temos que morrer para nós mesmos e para o pecado a fim de ressuscitarmos para Deus. É somente em Cristo que podemos efetuar essa mudança. “E se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto, por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça” (Rm 8:10).
Quando o Espírito Santo (Parakletos) ilumina e aviva o nosso espírito, recebemos graça para podermos adorar ao SENHOR em espírito e em verdade. Assim, estaremos de acordo com João 4:23-24.
A adoração a Deus emana de nosso interior a fim de expressá-la ao PAI e ao Senhor JESUS, “em espírito e em verdade” o relacionamento íntimo e reverente, ressaltando as qualidades do Deus Triúno.
Pressupõe intimidade com o Rei dos Reis Jesus Cristo. Os samaritanos só acreditavam no Pentateuco e como Deuteronômio diz que Deus suscitaria outro profeta semelhante a Moisés, esse profeta seria o Messias. Assim, essa mulher fez uma pergunta honesta: Onde adorar? Jesus respondeu que o importante não é onde, mas como e quem adorar. A verdadeira adoração a Deus é em espírito e em verdade. E de todo o coração e também prescrita pela Palavra de Deus. Os samaritanos adoravam o que não conheciam.
Assim, qualquer religião que consista apenas em formalidade, sem fundamentação nas Escrituras, é absolutamente inútil. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem (23).
Agora é o momento para que as antigas formas, limitadas em termos de lugar e de nação, sejam transformadas em uma adoração que é ao mesmo tempo pessoal, em espírito, e inteligente, em verdade. Adorar em espirito significa que nós entregamos as nossas vontades à vontade de Deus, os nossos pensamentos e planos aos que Deus tem para nós e para o mundo...
Em verdade significa que não estamos adorando uma "imagem" de Deus, feita segundo as nossas próprias ideias... somente Cristo nos apresentou ao Deus 'verdadeiro' ou real"?' A palavra-chave em toda esta ideia é Pai. Ele é o Objeto de adoração e aquele que procura os que o adoram em espírito e em verdade.
Quando Deus se revelar como o Pai universal... as limitações de espaço estarão acabadas e tanto o conhecimento quanto a adoração a Deus serão mediados por meios puramente espirituais". A natureza do objeto de adoração, Deus é Espírito (24; cf. 1 Jo 1:5-4.8), determina as condições necessárias para a adoração. Importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade (24).
III. A ADORAÇÃO BÍBLICA
1. O conceito bíblico de adoração. "Proskuneô" é uma palavra grega que significa "adorar" e é frequentemente usada na Bíblia. Ela é composta por dois radicais: "pros", que significa "em relação a", e "kuneo", que significa "beijar". A Bíblia ensina que só devemos adorar a Deus. A verdadeira adoração vem do coração, não é só um ato exterior. Quem adora outro que não seja Deus, rejeita a Deus. Adoração é mostrar amor e respeito, se dedicando totalmente a Deus. Só Deus merece tanta dedicação e reverência, porque Ele nos criou e é soberano sobre tudo. Mais ninguém merece adoração (Lucas 4:8).
A.W. Tozer diz que a adoração é "a jóia perdida das igrejas evangélicas". Tal declaração concernente à adoração não é simplesmente negativa; ela busca um arrependimento e uma reforma dos caminhos pelos quais nos temos desviado. Infelizmente, os cristãos não estão muito cientes de que o Pai está procurando por aqueles que O adorem em Espírito e verdade. Eles não são ensinados que a adoração é a "suprema prioridade". A adoração é expressa por termos como latrueô e proskuneô. O primeiro significa servir, prestar serviço ou homenagem religiosa.
O último significa fazer mesura, reverenciar. Na adoração, o homem toma o seu devido lugar, com sua face no pó e Deus é reconhecido por aquilo que Ele é: o Criador, Preservador e Soberano Redentor de seu eleito. Quando Deus é confessado desta forma, nossa vida inteira, atitude, cosmovisão e perspectiva sobre todas as coisas serão radicalmente afetadas.
Então, não estamos falando aqui de “glórias”, “aleluia(s)”, durante o culto; Trata-se de algo interior, que nos coloca em nosso devido lugar quando estamos na presença de Deus – o pó da humilhação! Talvez o Senhor tenha escondido o Seu rosto de nós e com isto, nos feito tropeçar; estamos apalpando na escuridão, multiplicando as atividades e correndo daqui para ali, pensando que estamos servindo a Deus. Mas Deus quer o sacrifício de nós mesmos antes de querer o que temos. O Todo-suficiente não necessita de nós: "Se eu tivesse fome, não to diria" (Salmos 50:12).
Talvez pensemos que estamos fazendo um favor a Deus ao atendermos os serviços de adoração; e não percebemos que na adoração a Deus chegamos a conhecer melhor tanto Ele, como nós mesmos. A igreja evangélica hoje sofre desta forma, porque ela está muito mais engolfada no espírito deste século. Sendo homens de pequena fé, não "vemos" o Deus invisível. Assim, é somente "algumas vezes" que Deus nos surpreende com Sua presença. Temos nos afastado do padrão demonstrado para nós, como aqueles que adoram a Deus em Espírito e não confiam na carne. Necessitamos traçar nossos passos de volta às "antigas veredas".
2. Adoração como ato de rendição a Deus. A rendição é um termo de batalha. Implica abrir mão de todos os direitos ao conquistador. Quando um exército adversário se rende, eles depõem as armas e os vencedores assumem o controle a partir de então. Entregar-se a Deus funciona da mesma maneira. Deus tem um plano para nossas vidas, e rendermo-nos a Ele significa que deixamos de lado os nossos próprios planos e buscamos ansiosamente os Seus. A boa notícia é que o plano de Deus para nós é sempre do nosso interesse (Jeremias 29:11), ao contrário dos nossos próprios planos que muitas vezes levam à destruição (Provérbios 14:12). Nosso Senhor é um vencedor sábio e benéfico; Ele nos conquista para nos abençoar. Existem diferentes níveis de rendição, todos os quais afetam o nosso relacionamento com Deus. A rendição inicial à atração do Espírito Santo leva à salvação (João 6:44; Atos 2:21).
Quando deixamos de lado nossas próprias tentativas de ganhar o favor de Deus e confiamos na obra consumada de Jesus Cristo em nosso favor, nós nos tornamos filhos de Deus (João 1:12; 2 Coríntios 5:21).
Mas há momentos de maior rendição durante a vida de um cristão que trazem uma intimidade mais profunda com Deus e maior poder no serviço. Quanto mais áreas de nossas vidas entregarmos a Ele, mais espaço haverá para o enchimento do Espírito Santo (Efésios 5:18).
Quando estamos cheios do Espírito Santo, exibimos traços do Seu caráter (Gálatas 5:22).
Quanto mais nos rendemos a Deus, mais nossa velha natureza de auto-adoração é substituída por uma que se assemelha a Cristo (2 Coríntios 5:17).
Romanos 6:13 diz que Deus exige que entreguemos a totalidade de nós mesmos; Ele quer o todo, não uma parte: “nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.” Jesus disse que Seus seguidores devem negar a si mesmos (Marcos 8:34)— outro chamado para se render.
O objetivo da vida cristã pode ser resumido em Gálatas 2:20: “… logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” Tal vida de entrega é agradável a Deus, resulta na maior realização humana e colherá recompensas finais no céu (Lucas 6:22-23).
3. Adoração como ato de serviço a Deus. Você já percebeu que servir é uma atividade incessante? É como respirar. Não existe um só momento em que não estejamos servindo alguém. Nenhum de nós fica de fora, esperando um convite para entrar nessa “roda” de servir. Desde que nascemos, todos estamos ativamente envolvidos em servir. Na maior parte do tempo, contudo, simplesmente servimos a nós mesmos — canalizando nossa energia e nossa esperança de ser feliz em desejos e sonhos próprios.
A cada momento, porém, ou servimos aos desejos da carne ou aos desejos de Deus. Como Paul Tripp afirma: “Nossa vida é moldada pela batalha entre o reino de Deus e o nosso reino pessoal.”1 Esse conflito reside no fato de que nós não queremos nos submeter aos desejos e às necessidades de outros. Nem mesmo se esses desejos forem de Deus. Isso gera um problema, como Jesus tão bem destacou, pois não podemos obedecer a Deus e aos nossos próprios interesses ao mesmo tempo: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mt 6.24).
Ou servimos a Deus ou a outro senhor totalmente diferente. Nem sempre esse é o tipo de serviço com o qual eu queira me envolver. Frequentemente, prefiro me dedicar a servir ao meu reino pessoal — aquele em que eu mesmo sou o objeto de adoração e no qual defino o que é servir (e normalmente defino como servindo a mim mesmo e tendo os outros também me servindo).
Sempre servimos àquele que vemos como o rei de nosso reino. Esse é o motivo pelo qual serviço e adoração são em essência a mesma coisa. Mas o serviço, segundo a Bíblia, requer que a preferência seja dada a outros, e não a nós mesmos; requer que nos sacrifiquemos, de boa vontade, dedicando tempo e energia, que poderiam ser usados em benefício próprio, para beneficiar outros.
O serviço na visão bíblica nos chama para que voltemos nosso foco na direção de outros. Nisso imitamos a Cristo, que serviu aos outros a ponto de por eles morrer. Como enfatizarei por todo este livro, o chamado de todo cristão é servir a Deus como grata resposta ao evangelho.
4. Uma experiência interior de adoração. A verdadeira adoração é um dos temas centrais das Escrituras. A veneração de imagens de escultura é uma abominação para Deus, pois Deus é plenamente espiritual em sua essência. Quando Jesus diz que Deus é Espírito, isso significa que Deus é invisível, intangível e divino, em oposição a humano. E desconhecido para os seres humanos a menos que decida se revelar (1.18).
Da mesma forma que Deus é luz (lJo 1.5) e amor (lJo 4.8), também é Espírito (4.24). Esses são elementos da forma em que Deus se apresenta aos seres humanos, da bondosa autorrevelação em seu Filho. Deus escolheu se revelar quando o Verbo se fez carne. Quem vê Jesus, vê o próprio Pai. O culto prestado a outros deuses é uma ofensa a Deus, pois Deus é um só e não há outro.
A adoração a Deus, entrementes, não pode ser do nosso modo nem ao nosso gosto, pois Deus mesmo estabeleceu critérios claros como exige ser adorado. Muitas igrejas, com o propósito de agradar às pessoas, estabelecem formas estranhas de adoração que não estão prescritas nas Escrituras.
Isso é como fogo estranho no altar. O pragmatismo religioso está substituindo a verdade de Deus em muitas igrejas. Muitas pessoas buscam o que funciona, não o que é certo. Procuram o que dá resultado, não a verdade. Estabelecem um culto sensório, não um culto em espírito e em verdade.
Jesus orienta a mulher samaritana que não é ao judaísmo que os samaritanos devem ser convertidos, nem é para Jerusalém que devem fazer peregrinações a fim de adorar. Em Jerusalém, Jesus também não encontrou “verdadeiros adoradores”. Ali eles haviam transformado a casa de seu Pai numa casa de comércio. Os verdadeiros adoradores não podem ser identificados por sua ligação com um santuário particular. Os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram o Pai em espírito e em verdade. A adoração falsa é abominação para Deus, e a adoração hipócrita provoca o desgosto de Deus.
O profeta Isaías já havia demonstrado o desgosto divino, quando disse que o povo de Israel honrava a Deus com os lábios, mas seu coração estava distante de Deus (Is 29.13).
Nessa mesma linha, Amós foi contundente quando escreveu em nome de Deus: Eu detesto e desprezo as vossas festas; não me agrado das vossas assembleias solenes [...]. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras (Am 5.21,23).
Jesus diz à mulher samaritana o que adoração não é. Primeiro, não é adoração centrada em lugares sagrados (4.20). Não é neste monte nem naquele. Não existe lugar mais sagrado que outro. Não é o lugar que autentica a adoração, mas a atitude do adorador.
CONCLUSÃO
Neste estudo, focamos nos ensinamentos práticos de Jesus acerca da adoração e, por consequência, discutimos a doutrina da Adoração Cristã. O capítulo 4 do Evangelho de João revela duas lições valiosas. A primeira é que todo ser humano possui uma necessidade a satisfazer: a necessidade de Deus.
A segunda é que, em Jesus, a verdadeira adoração surge como um movimento que se inicia no interior. Tudo isso resulta de uma experiência viva com Jesus Cristo.
Criado á imagem e semelhança de Deus, partilhando com o Senhor uma identidade desconhecida por todas as outras criaturas, somente o homem pode desfrutar de um relacionamento pessoal, voluntário e consciente com Deus. Nós adoramos a Deus porque Deus nos criou para adorá-lo. Adoração está no centro da nossa existência; no coração da nossa razão de ser. Deus nos criou para ser sua imagem - uma imagem que refletiria sua glória. De fato, toda a criação foi trazida à existência para refletir a glória divina. O salmista nos diz que "os céus proclamam a glória de Deus; e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (Salmos 19:1).
O apóstolo Paulo na oração com que ele inicia a epístola aos Efésios mostra claramente que Deus nos criou para louvá-lo. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado (...)” (Ef 1.3-6).
Tudo já valeu a pena, mas a maior recompensa ainda está por vir.
Que o mundo saiba que Jesus Cristo é o seu Senhor!
Dele seja a glória!
Amem
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