6 de julho de 2010

A NATUREZA DA ATIVIDADE PROFÉTICA

A NATUREZA DA ATIVIDADE PROFÉTICA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O termo hebraico para profeta (navi’) significa o que “prediz”, “proclama” ou “anuncia” a palavra de DEUS, isto é, o que apresenta uma mensagem da parte de DEUS. Os profetas levantados pelo SENHOR na Bíblia anunciaram a mensagem de DEUS ao povo através da inspiração Divina. Os profetas não somente “anunciavam” a verdade, mas também tinham a habilidade para “predizer” eventos futuros. O cânon hebraico é composto unicamente pelos escritos e proclamações dos profetas.

Israel tinha extrema necessidade dos profetas, porque eles falavam da parte de DEUS. Depois da queda (Gen 3), o SENHOR não falou mais de forma “imediata” (direta) com a humanidade criada à SUA imagem, mas da maneira “intermediada” (indireta). A voz profética tornou-se o principal canal de comunicação entre DEUS e SEU povo. A respeitabilidade pela função dos profetas, entretanto, era, na melhor das hipóteses, mínima. Muitos deles foram rejeitados, a despeito de falarem em nome de DEUS.

A primeira pessoa a quem a Bíblia chama de profeta foi Abraão (Gn 20:7 – Sl 105:15), mas a profecia no Antigo Testamento recebeu sua forma normativa na vida e na pessoa de Moisés, que passou a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros (Dt 18: 15 à 19).

A iniciativa da chamada de alguém para o ofício profético depende de DEUS (Ex 3:1 à 4 – Is 6 – Jr 1: 4 à 19 – Ez caps. 1 à 3 – Os 1:2 – Am 7:14,15 – Jn 1:1). O objetivo e o efeito primário da chamada era uma introdução à presença de DEUS, conforme fica demonstrado nas passagens observadas acima. Esse era o “segredo” ou “conselho” do SENHOR (I Rs 22:19 – Jr 23:22 – Am 3:7). O profeta aparecia perante os homens na qualidade de um homem que se apresentara perante DEUS (I Rs 17:1; 18:15).

O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do que o comentarista desta lição chama de “modus operandi” da atividade profética. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.

I. AS FORMAS DE COMUNICAÇÃO DE DEUS AOS PROFETAS

“[...] Veio a mim a palavra do SENHOR...”. Literalmente, o verbo empregado era o verbo “ser”, “a palavra do SENHOR se tornou ativamente (é) presente para...”. Trata-se da afirmação de uma consciência direta e pessoal. Isso é a experiência básica do profeta. É declarado pela primeira vez em (Ex 7:1,2; 4:15,16). DEUS é o autor das palavras que ELE transmite ao profeta e, por intermédio deste, ao povo. Foi exatamente esta a experiência que Jeremias teve quando a mão do SENHOR tocou em seus lábios (Jr 1:9), e essa passagem nos diz tanto quanto temos a permissão de saber: que no contexto da comunhão pessoal com DEUS, iniciada pelo SENHOR, o profeta recebe uma dádiva de palavras. Jeremias posteriormente expressou a sua experiência com “estar no conselho do SENHOR”, mediante o qual alguém teria sido capacitado de fazer o povo ouvir as palavras de DEUS. Isto dava ao profeta uma responsabilidade surpreendente; eram capazes de falar e escrever palavras carregadas de autoridade DIVINA absoluta. Eles podiam dizer: “Assim diz o SENHOR” e as palavras que se seguiam eram palavras do próprio DEUS. Estão registradas nas Escrituras para todas as épocas e não crer ou desobedecer a estas palavras significa não crer ou não obedecer ao próprio DEUS.

Sonhos e visões também tinham seu lugar na inspiração do profeta. Algumas vezes afirma-se que Jr 23:38 ensina a invalidade de sonhos como método de verificação da palavra do SENHOR. Entretanto, a luz de Nm 12: 6,7 e de I Sm 28:6,15, que ensinam a validade dos sonhos, vemos que Jr 23:28 deve ser entendido como trecho que fala sobre “algum mero sonho”, ou sobre “algum sonho da própria imaginação” do sonhador. De fato, parece que o próprio Jeremias recebeu a palavra de DEUS através de um sonho (Jr 31:26). A experiência das visões é melhor exemplificada no caso do profeta Zacarias, mas, tal como no caso dos sonhos, as visões nada adicionam ao nosso conhecimento – ou antes, à nossa ignorância – acerca da mecânica da inspiração. Exatamente a mesma coisa pode ser dita no tocante aos casos em que a palavra é recebida por meio de um símbolo (Jr cap. 18 – Am 7:7 e segs; 8:1 à 3). A inspiração é um milagre; não sabemos de que maneira DEUS faz a mente de um homem tornar-se consciente para com sua palavra.

Isso levanta a questão da atividade do ESPÍRITO DE DEUS na inspiração profética. Existem 18 passagens que associam a inspiração profética com a atividade do ESPÍRITO: em Nm 24:2, a referência diz respeito a Balaão; Nm 11:29 – I Sm 10:6 à 10; 19:20 à 23 tratam do êxtase profético. A clara suposição que a profecia se origina no ESPÍRITO DE DEUS pode ser encontrada em I Rs 22:24 – Jl 2:28,29 – Os 9:7 – Ne 9:30 – Zc 7:12; uma reivindicação direta sobre a inspiração do ESPÍRITO aparece em Mq 3:8

A inspiração do ESPÍRITO acerca da palavra profética é afirmada em I Cr 12:18 – II Cr 15:1; 20:14; 24:20 – Nm 9:20 e Ez 11:5. É evidente que esta informação não está espalhada de modo uniforme por todo o Antigo Testamento, e em particular, que os profetas pré-exílicos estão esparsamente representados. É fato que Jeremias não menciona o ESPÍRITO DE DEUS em qualquer contexto, mas como afirma E. Jacob em Theology of the Old Testamen “...a Palavra pressupõe o ESPÍRITO, o sopro criativo da vida, e no caso dos profetas estava tão claramente evidenciado que julgaram desnecessário declará-lo de modo explícito”.

II. AS FORMAS DE TRANSMISSÃO DA MENSAGEM DOS PROFETAS AO POVO

Os profetas apresentavam-se aos seus contemporâneos como homens que tinham uma palavra a dizer. O oráculo falado é a forma pela qual a palavra de DEUS era expressada. Cada profeta deixava estampado os sinais de sua própria personalidade e experiência nas suas palavras: os oráculos de Amós e de Jeremias são tão diferentes como o eram as personalidades dos dois profetas. Por conseguinte, havia dupla consciência nos livros dos profetas: por um lado, aquelas eram as palavras que DEUS dera ao profeta. DEUS escolhe aquele homem para ser SEU porta-voz; as palavras são palavras de DEUS. Por outro lado, aquelas são as palavras de um determinado indivíduo, proferidas em determinada ocasião, sob certas circunstâncias.

É costume, entre alguns teólogos, tirar conclusões que a palavra desta maneira se tornava até certo ponto imperfeita e falível. Mas precisamos deixar perfeitamente claro que tal conclusão teria que se alicerçar em bases que não o testemunho dos próprios profetas, conforme temos tal testemunho nos seus respectivos livros. Não será analisada aqui a relação entre as palavras de homens inspirados e as palavras do DEUS que os inspirava, mas podemos dizer que os livros dos profetas podem ser pesquisados sem que se descubra qualquer traço de sugestão que os profetas pudessem pensar que a palavra dita por meio deles fosse qualquer coisa de menos que a própria palavra de DEUS. Os profetas possuíam uma total certeza a respeito de suas próprias palavras, o que só pode acontecer com desequilibrados ou, então, com homens que estiveram presentes nos conselhos de DEUS e ali receberam o que deviam dizer sobre a terra.

Algumas vezes os profetas punham seus oráculos na forma de parábolas ou alegorias (por exemplo: Is 5: 1 à 7 – II Sm 12: 1 à 7 – e especialmente Ez 16 e 23), porem, a mais dramática apresentação de sua mensagem era feita por meio do “oráculo por ação”. Se começarmos a pensar que o oráculo por ação era uma espécie de auxílio visual, terminaremos com o conceito errado acerca de sua natureza e função. Naturalmente era um auxílio visual, mas em associação com a noção hebraica da eficácia da palavra, isso servia para fazer a percepção da palavra, numa situação contemporânea, ainda mais poderosa.

Isso pode ser visto com mais cuidado na entrevista entre o rei Joás e Eliseu, que estava por morrer (II Rs 13:14 e segs). No versículo 17 a flecha de vitória do SENHOR é lançada contra a Síria. O profeta havia introduzido o rei em uma esfera de ação simbólica. Agora pergunta até que ponto o rei teria fé para abraçar essa palavra de promessa: o rei feriu a terra por três vezes, e seria justamente essa a extensão em que a palavra eficaz seria cumprida e não se tornaria vazia. Aqui vemos muito claramente a relação exata em que o símbolo estava em relação à palavra e em que ambos estavam em relação aos acontecimentos.

A palavra corporificada no símbolo é extremamente eficaz; é impossível que deixe de ser cumprida; realizará exatamente aquilo que o símbolo declarava. Por esse motivo é que Isaias teve de andar despido e descalço (Is cap. 20), Jeremias despedaçou o vaso do oleiro no lugar dos cacos de barro (Jr cap. 19), Aías rasgou sua roupa nova em doze pedaços e entregou dez pedaços a Jeroboão (I Rs 11:29 e segs), Ezequiel cercou uma cidade em miniatura (Ez 4:1 à 3), escavou através do muro da casa (Ez 12:1 e segs) e não lamentou a sua esposa falecida (Ez 24:15 e segs).

Precisamos distinguir claramente entre o oráculo por ação dos profetas israelitas e a magia simpática dos cultos cananeus. Essencialmente, este último é um movimento do homem para seu deus: a realização de uma determinada ação da parte do homem como tentativa de coagir Baal ou qualquer outro deus que estivesse em mente para que agisse em conformidade com a magia. O oráculo por ação era um movimento da parte de DEUS para com o homem: a palavra de DEUS, a atividade a respeito da qual DEUS já se resolvera, era dessa maneira declarada e promovida sobre a terra. Nisso, como em todo outro aspecto da religião bíblica, a iniciativa repousa exclusivamente em DEUS.

III. A QUESTÃO EXTÁTICA DO PROFETA

A concepção pagã da profecia era de uma condição absolutamente passiva no profeta, de modo que, quanto mais inconsciente se mostrava, mais apto estava para receber a mensagem divina. Alguma coisa deste gênero se pode ver na história israelita. Aquelas danças sagradas dos profetas de Baal, durante as quais eles batiam em si furiosamente, cortando-se com canivetes, para que pudessem receber um sinal visível de aprovação divina, era na realidade, uma manifestação típica (I Rs 18:26 à 28). É provável que em tempos posteriores os falsos profetas tomassem disposições semelhantes, com o fim de provocarem em si próprio o estado de êxtase para as suas arengas. Mas a idéia pagã de profecia se apresenta muito claro em Balaão. A sua vontade e os seus próprios pensamentos são vencidos pela inspiração DIVINA, proclamando ele a mensagem celestial, contrariamente aos seus particulares desejos (Nm 22 à 24).

Quando se analisa os escritos proféticos bíblicos observa-se a total impossibilidade de se produzir tais conteúdos em estado de mero êxtase. São escritos com grande escolha de palavras e frases, revelando a vida anterior dos profetas, os seus interesses e ocupações, e apresentando em vários graus a cultura e as circunstâncias do tempo em que cada profecia foi revelada. As profecias de Amós, de Miquéias, de Isaias e de Jeremias, por exemplo, estão muito longe das de Balaão, tanto na visão espiritual como nos conscientes pensamentos e deliberados estudos. Os profetas haviam aprendido que DEUS SE servia das próprias faculdades e aptidões deles como instrumento das SUAS revelações.

Na verdade, querendo formar a mais alta concepção do estado do profeta, na recepção das comunicações DIVINAS, temos este ideal em JESUS CRISTO, que estava em comunhão com o SEU PAI, e anunciava aos homens o que DELE ouvia (Jo 8:26 à 40; 15:15; 17:8). Em Jesus não havia o estado de êxtase, mas manifestava-se uma clara comunicação espiritual, tendo a SUA alma um grandioso poder receptivo e ativo. Na proporção em que os profetas alcançavam este dom maravilhoso de profecia, podiam eles receber e transmitir perfeitamente a mensagem DIVINA.

CONCLUSÃO

A grande e única profecia que possuímos hoje para a igreja do SENHOR, quando a posicionamos de forma coletiva, se chama Bíblia Sagrada. Nela devemos nos debruçar e beber de suas profecias, pois são lâmpadas para nossos pés e luz para os nossos caminhos. As profecias proferidas hoje não podem ser fontes de novas verdades apresentadas à igreja, mas sim exposições da verdade já revelada. Neste sentido Paulo nos orienta julgá-las, tendo por base a Palavra de DEUS. Portanto, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre este assunto. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.

REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS

BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal – 9ª Ed. – São Paulo, SP: Editora Vida, 1996

DOUGLAS, J. D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo,SP: Vida Nova, 1995.

GEORGE, A. Mather, Larry A. Nichols. Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo - São Paulo, SP: Editora Vida, 2000

GRUDEM, Weine A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999

Elaboração por: Ev. Jose Costa Junior

Dourados Ms.

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