A ORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esta preciosa lição dará oportunidade ao leitor de se deparar com uma doutrina pouco estudada mas muito explorada no meio evangélico. Cabe, antes de iniciarmos o assunto propriamente dito, tecermos algumas considerações na construção do entendimento de conceitos bíblicos.
A Palavra como um todo interpreta e completa os conceitos de suas próprias doutrinas. A não observação desta verdade tem causado alguns equívocos dentro das Igrejas. Assim como uma pessoa pode ter uma idéia completamente distorcida do desenho final de um quebra-cabeça observando apenas algumas pedras encaixadas, o cristão pode formar um conceito distorcido sobre verdades Bíblicas se observar apenas alguns versículos, sem contextualização e busca exaustiva de informações bíblicas sobre o tema. Alguns exemplos bem conhecidos poderão ilustrar o que se está dizendo:
Mateus 6:33...”Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.Muitos citam o versículo usando os termos “..e todas as demais coisas..” ou “ todas as coisas” sendo que Jesus está tratando de nossas necessidades elementares e nossa ansiedade em obtê-las, usando, como exemplo, as aves do céu e os lírios do campo. Os termos usados são “...todas estas coisas...” referindo-se aos cuidados de DEUS sobre estas necessidades elementares e não nos prometendo todas as coisas. At 16:31 “E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”. Este versículo não é promessa de DEUS para salvação de nossos familiares. A salvação é individual.
Isto não quer dizer que não devamos orar pela salvação dos mesmos, mas acreditar que havendo salvação de um membro da família toda a família está sob promessa de salvação é uma exegese completamente equivocada. A afirmação de Paulo é específica para o carcereiro e não universal.Fp 4:13 “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”.Quando Paulo declara que pode todas as coisas em CRISTO ele se refere, logicamente, ao seu discurso anterior, onde afirma que sabe viver tanto em dificuldades quanto em prosperidade, pois a sua força está em CRISTO e não nessas situações. Ele, em momento algum, se referiu ao poder ilimitado do cristão em possuir coisas. Estes exemplos servem também para quando falamos sobre versículos referentes a oração.
Na Bíblia, a oração é uma adoração que inclui todas as atitudes do espírito humano em sua aproximação com DEUS. O cristão presta culto a DEUS quando adora, confessa, louva, agradece, intercede e O suplica, tudo em oração. A oração, entretanto, é apontada nas Escrituras Sagradas não como um privilégio, mas sim é estabelecida como uma ordem (Sl 32:6 – IICo 7:14 – Jr 29:7 – Mt 5:44-26:41 – Lc 18:1-21:36 – Ef 6:18 – ITs 5:17 – Cl 4:2 – ITm 2:8 – Tg 5:16). A doutrina prática bíblica da oração destaca o caráter de DEUS, a necessidade do indivíduo achar-se em relação à salvação ou da aliança com ELE e a necessidade de entrar plenamente em todos os privilégios e obrigações dessa relação com DEUS.
Em sendo uma ordem, vamos conhecer, sistematicamente, o que as escrituras nos revelam (peças do quebra-cabeça) sobre este tema no Antigo Testamento, com a finalidade de se construir uma idéia bíblica, bem embasada, sobre ORAÇÃO. Não existe a pretensão de se esgotar o tema, pois o tempo destinado a esta matéria, a dimensão do assunto e a competência deste pesquisador não permitiriam tal empreendimento mas, como tenho escrito outras vezes o objetivo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica clássica, com as finalidades de ampliar a visão sobre o assunto abordado pela lição da EBD (Escola Bíblica Dominical), agregar conhecimentos teológicos e despertar o desejo de pesquisa e reflexão sobre estes temas espirituais.
I. A ORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.
No Antigo Testamento encontra-se cerca de oitenta e cinco orações originais. Adicionados a isto se tem por volta de sessenta salmos completos e catorze porções de salmos que podem ser chamados de oração.
A. O Período Patriarcal
1. Consistia em invocar o nome do SENHOR (Gn 4:26 – 12:8 – 21:23)
* Inequivocamente direta e familiar (Gn 15:2 – 18:23 – 24:12 à 14).
2. Intimamente associada ao sacrifício (Gn 13:4 – 26:25 – 28:20 a 22)
* Sugere uma união da vontade do homem com a de DEUS (voto de Jacó, que liga sua oração a um voto ao SENHOR).
B. O Período Pré-Exílio
1. A ênfase da oração recai sobre a intercessão. Embora tenha sido um fator nos tempos patriarcais (Gn 18:22 e segs), a oração intercessora se fez proeminente em:
a. Moisés (Ex 32: 11,13,21 – 33:12 à 16 – 34:9 – Nm 11:11 à 15 – 14: 13 à 19 – 21:7 – Dt 9: 18 à 21 – 10:10 e o capítulo 30 do mesmo livro)
b. Arão (Nm 6:22 a 27)
c. Samuel (ISm 7:5 a 13 – 12:19 a 23)
d. Salomão (IRs 8: 22 a 53)
e. Ezequias (II Rs 19:14 a 19)
É surpreendente que em todas as promulgações legais do Pentateuco nada existir acerca da oração, à parte de Dt 26;1-15. E mesmo lá, aparece como fórmula de adoração, não sendo ênfase a oração. Nos versículos 5-11 há ação de graças e nos versículos 13 e 14 há uma profissão de obediência passada, mas somente no versículo 15 é que há súplica. Entretanto, provavelmente temos razão de supor que os sacrifícios eram frequentemente oferecidos acompanhados de oração (Sl 55;14), e onde isso não sucedia, podiam ser reprovados pela falta desta (Sl 50;7-15). Por outro lado a ausência quase total de oração naquelas porções do Pentateuco, nas quais se regula o sacrifício sem oração, era algo bastante comum.
2. A intercessão se confinava, na maioria das vezes, a notáveis personalidades que, em virtude de suas posições que lhes foram assinaladas por DEUS como profetas, sacerdotes e reis, possuíam poder peculiar na oração como mediadores entre DEUS e os homens. Vale ressaltar que não obstante a intercessão, o SENHOR permanece livre para executar SUA vontade.
a. Oração intercessora não respondida (Ex 32:30 a 35)
b. O SENHOR “se arrepende de determinado curso de ação” pela intercessão do profeta, mas, posteriormente, leva Israel ao cativeiro (Am 7 até 8:2).
c. Jeremias chega a ser proibido de interceder (Jr 7:16 – 11:14 – 14:11)
d. Orações intercessoras bem sucedidas:
* Ló (Gn 19:17 a 23)
* Abraão (Gn 20:17)
* Moisés (Ex 9:27 a 33 – Nm 12:9 – 20:17)
* Jó (Jó 42:8 à 10)
* Ezequias e Isaias (II Cr 32:20)
* Manasses (II Cr 33:13)
3. A oração e os profetas.
a. A oração era essencial para a recepção da Palavra por parte do profeta (Is 6:5 e segs – 37:1 à 4 – Jr 11:20 à 23 – 12:1 à 6).
b. A visão profética foi dada a Daniel quando este estava em oração(Dn 9:20 e segs).
c. Em certas ocasiões o SENHOR mantinha o profeta a esperar por considerável tempo, até lhe responder (Hc 2:1 à 3).
4. A oração nos salmos.
Há uma combinação da padronização e espontaneidade nas orações descritas nos salmos. Juntamente com as mais formais orações do santuário (Sl 24:7 à 10 – Sl 100 – Sl 150) há orações solicitando:
* Perdão (Sl 51)
* Comunhão (Sl 63)
* Proteção (Sl 57)
* Cura (Sl 6)
* Vindicação (Sl 109)
* Louvor (Sl 103)
* Combinação de sacrifício e oração (Sl 54:6 – 66:13 e segs)
C. O Período do Exílio
Durante o exílio surgiu a figura da sinagoga, que se tornou o centro da comunidade religiosa. O ser judeu era agora por escolha. Dentre as obrigações religiosas aceitas como a circuncisão, jejum e a observância do sábado, a oração era também muito importante. Esta importância não se perdeu no pós-exílio.
D. O Período Pós-Exílio
Depois do exílio havia, indubitavelmente, um arcabouço de devoção cerimonial, mas, dentro disso, o indivíduo tinha certa liberdade na oração.
Em Esdras e Neemias tanto o aspecto culto, lei, ritual e sacrifício eram salientados como também o fator espiritual da verdadeira devoção (Ed 7:27 – 8:22 e segs – Ne 2:4 – 4:4 à 9)
1. Observa-se orações instrutivas (Ed 9:6 à 15 – Ne 1:5 à 11 – 9:3 à 36)
2. Não havia regras fixas para a postura da oração (Sl 28:2 – ISm 1:26 – IRs 8:54 – Ed 9:5 – IRs 18:42 – Lm 3:41 – Dn 9:3).
3. Não havia regras concernentes as horas apropriadas para a oração (Sl 55:17 – Dn6:10 )
4. O local como o Templo, as sinagogas e as residências eram os mais utilizados.
Dentro do Antigo Testamento certamente existiu padrões de oração, porém, nenhum regulamento obrigatório governava seu ritual ou seu conteúdo. A oração mecânica, a oração limitada por prescrições coercitivas não apareceram senão já no fim do período inter-testamental (At 3:1).
CONCLUSÃO
Na confecção deste pequeno estudo, buscamos consultar literatura que mais se aproxima com o pensamento de nossa denominação, tentando não perder a coerência teológica. Evitamos expressar conceitos e opiniões pessoais sem o devido embasamento na Palavra, pois a finalidade é agregar conhecimentos, enriquecer a aula da escola dominical e proporcionar ao professor domínio sobre a matéria em tela. Caso alcance tais finalidades, agradeço ao meu DEUS por esta grandiosa oportunidade.
Ev. José Costa Junior
Assembléia de DEUS em Dourados-MS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOUGLAS, J. D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995
FERREIRA, Júlio Andrade (org.). Antologia Teológica. São Paulo,SP:Editora Cristã Novo Século, 2003.
GRUDEM, Weine A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999
HORTON, Stanley (org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal – 1ª Ed. – Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996.
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática – 3ª Ed. – São Paulo, SP: IBR, 1994
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