O BOM PASTOR E OS PASTORES INFIÉIS
“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (Jo 10.11)
VERDADE PRÁTICA
As Escrituras revelam Deus como o pastor do seu povo, mas isso se aplica também aos líderes eclesiásticos. Deus dá bons pastores ao seu povo, e também remove os maus.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Ezequiel 34.1-12
INTRODUÇÃO
O profeta Ezequiel enfoca, no capítulo 34, quatro pontos sobre a figura do pastor, a saber: os pastores infiéis (vv.1-10), Deus corno o futuro bom pastor (vv.11- 16), o julgamento entre as próprias ovelhas (vv.17-22) e o Messias corno o pastor de Deus (vv.23-31). Por limite de espaço, a presente lição se restringirá aos pastores infiéis e ao bom pastor.
COMENTÁRIO
O texto escolhido para esta lição é uma referência era aos líderes pré-exílio, tais como reis, sacerdotes e profetas, ou seja, falsos profetas que tosquiavam o rebanho em busca de ganho pessoal (vs. 3-4) em vez de alimentá-lo e conduzi-lo no caminho da retidão (como em 22.25-28; Jr 14.23; Zc 11). Isso contrasta com o pastoreio Senhor, como pode ser visto em Sl 2.3; 80.1; Is 40.11; Jr 31.10; Lc 15.4-3; Jo 10.1 ss.
CHAMPLIN escreve que “É fato temível receber uma missão espiritual significativa e tratá-la de maneira trivial, ou pior, usá-la como meio de ganhar dinheiro, fama e posição. Foi assim que os falsos pastores agiram, com resultados desastrosos para as ovelhas, que se tornaram corruptas e se espalharam nos campos da vida, sem nenhuma direção ou propósito firme. Os pastores, além de negligentes, eram falsamente motivados por seus próprios prazeres e interesses, envolvendo-se em crimes pesados. Eles se alimentaram e deixaram as ovelhas morrer de fome (vs. 8)” CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3305.
Vamos ao conteúdo da lição:
I. SOBRE O REBANHO
Primeiro é necessário identificar a ovelha no seu sentido literal para compreender o sentido metafórico. Isso pode explicar a razão da Bíblia nos comparar com ovelhas. O Salmo 23 apresenta um quadro perfeito dessa comparação.
1. Ovelhas. Ovelha é a fêmea do carneiro e o cordeiro é filho do carneiro até um ano. Das 74 vezes que o termo aparece no Novo Testamento, apenas uma vez é literal (Jo 2.14). É um animal dócil e símbolo de sacrifício e redenção (Is 53.7; At 8.32). A natureza da ovelha e sua relação com o ser humano resultaram em diversas figuras que ilustram o relacionamento entre Deus e o seu povo (Sl 23.1; 74.1; 100.3).
COMENTÁRIO
Este animal doméstico é citado na Bíblia, diretamente ou por meio de algum termo, tal como cordeiro e carneiro, ou por algum fato relacionado a eles, mais de 700 vezes. A ovelha era a principal riqueza e o meio de vida de povos pastorais, fornecendo alimento, leite, lã para a confecção de roupas e peles e ossos para outros usos. Além disso, ela era moeda de troca e um animal usado em sacrifícios. O número de ovelhas nos tempos antigos era prodigioso. As ovelhas precisam de proteção, mas também precisam de orientação.
2. Natureza. As ovelhas são animais indefesos e medrosos que se assustam facilmente e se dispersam rapidamente (Zc 13.7). Uma ovelha virada de costas com as patas para cima não consegue se levantar e, além de morrer depressa, torna-se presa fácil de predadores. Somente o pastor pode socorrê-la; é, pois, necessário uma supervisão diária. As ovelhas não cuidam de si mesmas, elas exigem atenções continuadas de dia e de noite (Lc 2.8) sob muitos aspectos (Lc 15.4-6). O rebanho precisa de cuidados por causa dos predadores (1Sm 17.34, 35) e de outros infortúnios como a presença de insetos e parasitas (SI 23.5).
COMENTÁRIO
As ovelhas são animais bastante dóceis e obedientes, porém muito ingênuas, e o pastor deve estar sempre prestando atenção a todas elas, pois é muito comum elas se perderem do grupo por uma distração qualquer.
São animais medrosos, se não sentirem o cheiro, não verem nem ouvir seu pastor, ficam tão assustadas que correm sem rumo e aí pode acontecer de se perderem ao sair do aprisco.
É praticamente um dos únicos animais no mundo que não sabe se defender de predadores, nem lutar por suas vidas sequer elas conseguem fazer.
Uma curiosidade: As ovelhas vivem infestadas de moscas que não deixam elas se alimentarem direito, como não conseguem se livrar dos insetos, elas correm sem direção e geralmente acabam assustando outras ovelhas que a seguem, correndo o risco de saírem do aprisco e serem mortas pelos lobos. Para evitar isso, o pastor joga óleo sobre suas cabeças para evitar esse problema.
Ovelhas são animais de grandes estômagos e comem durante o dia todo. A noite elas costumam brincar de dar cabeçadas uma nas outras e normalmente alguma cai e não consegue se levantar, se não conseguir se levantar, em poucas horas estará morta, pois seu estômago irá comprimir seus pulmões, por isso durante a noite o pastor passa algumas vezes no aprisco e levanta as ovelhas caídas.
O pastor usa duas ferramentas para disciplinar as ovelhas: O cajado e a Vara. A Vara é comprida e com um ponto de interrogação na ponta, e com ela o pastor livra as ovelhas de ficarem presas a arbustos ou espinheiros. O cajado serve para que a ovelha não vá aonde não lhe é permitido. Em uma briga ou quando está a ponto de se desgarrar, o pastor lança o cajado sobre ela e a assusta.
A ovelha é um animal totalmente domesticável, tanto que ela apenas segue a seu pastor, se outro a chamar ela não atenderá e o mais interessante: ao contrário do gado que se grita atrás dele para que ele ande, no caso da ovelha o pastor deve ir a frente, chamando-a, mostrando o caminho que deve seguir.
Amados em Cristo, quando comecei a analisar a vida de uma ovelha, me vi como a própria. Não havia descrito isso, mas uma ovelha não sabe diferenciar uma relva boa e uma venenosa para comer, somente os olhos atentos e experientes de seu pastor poderão discernir isso e indicar a ela o que é bom para se alimentar.
Quantas vezes nos enchemos com "alimento" espiritual de má qualidade?
Com movimentos em igrejas que se dizem cristãos, por avivamentos e novas doutrinas que divergem da Palavra de Deus, e que são lançadas em nosso meio, e nos alimentamos com essa porcaria! E achamos muitas vezes que isso provém de Deus! E acabamos por ver muitas ovelhas se transformando em bodes, ou simplesmente morrendo longe do aprisco e do verdadeiro Pastor.
Amados, somos ovelhas que antes estávamos desgarradas mas assim como Cristo disse em sua palavra, Ele nos resgatou, Ele nos trouxe para seu aprisco onde Ele cuida de nós. Quando damos nossas cabeçadas, Ele vem nos levantar para não morrermos, quando as moscas nos rodeiam querendo nos distrair da presença do Senhor e por muitas vezes nos distanciamos do rebanho, correndo sem rumo e levando outras conosco, Ele nos pega com amor e unge nossas cabeça com óleo, para afugentá-las e podermos viver em paz. A vara e o cajado não são ferramentas que Cristo gostaria de usar sempre conosco, mas constantemente ele tem usado, pois somos desobedientes e inconstantes, e Ele já dizia: Eu disciplino aquele que amo!
Mas o mais lindo, é que a boa ovelha ouve e conhece o seu pastor! Você conhece a voz do seu pastor?
O cheiro dele?
Às vezes pode até te dar um branco, mas pela fé sei que você logo se lembra d'Ele, eu reconheço e sigo a voz do meu Senhor, e O sigo, como boa ovelha, orgulhoso e confiante, que coisas boas virão pois n'Ele deposito minha confiança e toda minha vida. Por: Pastor Rubens Fajardo Junior. Disponível em: http://www.metodistabetania.com.br/devocional/vida-crista-1.
3. O rebanho. O povo de Israel e a igreja são identificados diversas vezes, na Bíblia, como rebanho (Nm 27.17; 1 Pe 5.2). Além do sentido próprio do termo, figuradamente ”rebanho” é aplicado a Israel por desfrutar do relacionamento pactual com Deus (Is 40.11). Isso vale também para a igreja no Novo Testamento (Mt 26.31; Lc 12.32) e diversas vezes Israel era visto como ovelhas sem pastor (1Rs 22.17; Mt 9.36; 10.16; 15.24).
COMENTÁRIO
Uma palavra usada para traduzir três palavras hebraicas e duas gregas: […] usada para referir-se a um grupo de carneiros ou cabras, ou ambos juntos (Gn 29.2; Ct 4.1; J1 1.18); também usada figuradamente para Judá como o rebanho de Deus, o objeto de seu cuidado especial (Is 40.11; Sf 10.3). […] também usada para se referir a carneiros ou cabras (Gn 4.4; 38.17), algumas vezes o contexto toma claro que ela não inclui ambos (1Sm 25.2) e para Judá (SI 77.20; Jr 23.2); rupa, “gado” (Nm 32.26). […] Essas palavras gregas são usadas exclusivamente em um sentido figurado para a igreja (Mt 26.31; Lc 12.32; At 20.28,29; IPe 5.2,3) MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 5. pag. 80.
Esta expressão era frequentemente usada em relação ao povo de Deus. Os profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel, Miquéias e Zacarias usaram o termo rebanho como referência a Israel. Por exemplo, “Como pastor, apascentará o seu rebanho” (Is 40,11). Jeremias acusou falsos Êrofetas de terem dispersado o rebanho de Deus (Jr 23.2). Ezequiel usa a palavra mais de uma dezena de vezes no cap. 34 em um sentido figurativo do povo de Deus. O Senhor Jesus citou Zacarias 13.7, aplicando o termo rebanho aos seus discípulos (Mt 26.31). Ele se dirigiu diretamente aos seus seguidores como “pequeno rebanho” (Lc 12.32). Paulo admoestou os presbíteros efésios em Mileto: “Olhai, pois… por todo o rebanho”, e advertiu contra os “lobos” que poderiam destruir o rebanho (At 20.28,29). Entendemos que o Senhor Jesus usou a expressão “um rebanho” em relação à Igreja em João 10.16. PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pag. 1652.
4. Os pastores. A palavra ”pastores de Israel”, no contexto de Ezequiel, bem como no de Jeremias 23.1-5, se refere aos governantes. O sistema político na antiguidade de Israel era teocrático e não era possível separar o civil do religioso, diferente do que acontece nos estados laicos na atualidade. É importante entender essa diferença, pois diversas vezes adeptos de grupos religiosos, estranhos ao cristianismo bíblico, usam essas passagens bíblicas para atacar os nossos líderes. Trata-se de críticas rasteiras com o único objetivo: desqualificar a nossa doutrina e os nossos pastores.
COMENTÁRIO
O termo “pastor” provavelmente é amplo o bastante para incluir a liderança, não meramente a dos reis; e o tempo do oráculo parece ser aquele de Zedequias. Talvez estejam em foco os últimos quatro reis: Salum, Jeoaquim, Conias e Zedequias (Ez 34.2). Esses homens tinham promovido a idolatria-adultério-apostasia de Judá, garantindo assim a retribuição divina que acabou reduzindo a nada a nação de Judá.
Os pastores eram os líderes falsos do rebanho, que deixaram que ele se dispersasse e no fim fosse destruído (2:8,10:21, etc). Má liderança é a verdadeira causa do exílio. Ovelhas pastando é uma imagem campestre muito comum na Escritura. Deus, o Supremo Pastor, zela pelo bem-estar do seu rebanho, e Cristo, o Bom Pastor (Jo 10:11), mostrou com sua morte até onde o amor divino estava disposto a ir para redimir a humanidade pecadora. No v.2 o TM pãqad (cuidar) é usado em um jogo de palavras intencional, visível também nas nossas traduções; na segunda vez o significado é “castigar”. Os profetas pré-exílicos predizem que um remanescente retornará para repopular a terra devastada. Dos que retornarem, nenhum se perderá, porque pastores responsáveis cuidarão (pãqad) do seu bem-estar (apascentar).
II. SOBRE OS PASTORES INFIÉIS
O profeta Ezequiel compara os líderes de Israel a pastores. Pode-se dizer que o tema da presente lição é provavelmente o mais familiar do livro de Ezequiel por causa da linguagem pastoril.
1. O pastor de ovelhas. A função primordial do pastor é alimentar, guiar e proteger o rebanho e isso ilustra bem o papel do líder de uma nação. Muitos líderes de Israel fizeram isso com perícia, dedicação e responsabilidade como Davi (Sl 78.72). A parábola da ovelha perdida revela esse dever do pastor (Lc 15.4-6). Moisés e Davi foram pastores de ovelhas no sentido estrito da palavra (Êx 3.1; Sl 78.70,71). Mas os líderes de Israel, contemporâneos de Ezequiel, se desviaram de suas funções.
COMENTÁRIO
Deus, o verdadeiro pastor de Israel sairá, ele mesmo, à procura de suas ovelhas e as encontrará para levá-las de volta para a sua terra, para o reino que será governado pelo Messias (vs. 12-14).
O pastoreio, uma profissão comum naquela época, era um trabalho de alta responsabilidade. Os rebanhos dependiam completamente dos pastores para ter direção, provisão e proteção. Davi passou sua juventude como pastor (1 Sm 16.10.11). Este foi o treinamento para as responsabilidades futuras que Deus lhe havia reservado. Quando estava pronto, Deus o promoveu de pastor de ovelhas a pastor de Israel, o povo santo. Não ignore a sua situação presente nem a considere com irresponsabilidade; ela pode ser o treinamento de Deus para o seu futuro.
2. O que os governantes faziam (vv.2,3)? Cuidavam de si mesmos: “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos!, (v.2). Essa era uma denúncia contra as autoridades civis e religiosas de Jerusalém que empregavam todo o seu esforço em benefício próprio, deixando de lado a função pela qual foram constituídos: proteger o povo e prover as condições para o bem-estar espiritual e econômico dos seus cidadãos. O profeta mostra três práticas deploráveis deles numa linguagem metafórica: “Comeis a gordura, e vos vestis da lã, e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas” (v.3) para designar exploração e abuso de sua autoridade. Eles não cuidavam do povo e nem se esforçavam para suprir suas necessidades, antes cuidavam de si mesmos (Jr12.10).
COMENTÁRIO
O falso pastor considera o rebanho somente como um meio para ganhar algo de valor para si mesmo. Obviamente, devem existir poder e liderança em qualquer sociedade, mas não sem a responsabilidade que vise o bem-estar coletivo. Ezequiel expôs primeiramente os pecados dos falsos pastores e depois pronunciou um julgamento justo contra eles.
Aqueles perversos e presunçosos falsos pastores tomavam para si mesmos o melhor, que pertencia exclusivamente a Deus! Na mente hebraica, tal ação configurava um ato de traição que anulava a lei mosaica e merecia execução legal. Os perversos, então, se apossavam das outras partes dos animais, para comer e fazer roupas. Fartavam-se e engordavam, deixando o povo sem nenhuma provisão de comida ou de roupa. Aqueles homens eram tiranos gananciosos, explorando o povo. “Os pastores (isto é, reis, oficiais etc.) abusaram do povo (Jr 23.13-17) e o espalharam (Jr 10.21; 23.1-4). Este oráculo reforça a doutrina da responsabilidade pessoal (Ez 18.5-22). Os líderes, supostamente, eram sujeitos às leis de Deus (2Sm 12.1-15), mas, de fato, eram rebeldes e perversos”. Em vez de alimentar as “ovelhas”, usaram-nas para alimentar a si mesmos! Eles as abatiam, roubavam, praticavam crimes de sangue, pervertiam a lei de Moisés, promoviam injustiças sociais, utilizando as primícias para seu próprio benefício, impondo pesados impostos sobre os menos afortunados, enquanto o dinheiro se acumulava em suas tesourarias pessoais. O Targum diz, simplesmente, em um sumário sucinto: “Vós comeis o que é bom”, implicando que somente o ruim ficou para as ovelhas. “Foram como cachorros famintos que nunca se satisfazem, como Is 56.11 diz”
3. O que os governantes não faziam (vv.4,8)? Não cuidavam das ovelhas. As ovelhas fracas, doentes, quebradas, desgarradas e perdidas precisam de cuidados especiais, mas a realidade era diferente: ”A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza” (v.4). Essa linguagem metafórica revela o estado de miséria da população de Jerusalém. Essa situação nos leva a uma reflexão sobre a atual conjuntura do nosso país, que não é boa. Devemos orar pela nossa nação e seus governantes (1Tm 2.1-3).
COMENTÁRIO
A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes. Entre o povo comum, sempre existem os fracos e os doentes, os indefesos e os totalmente dependentes, que podem ser facilmente explorados. Tais pobres almas, aqueles violentos desprezaram e exploraram, lucrando com cada ato perverso. Governaram com força excessiva, castigando com impostos absurdamente altos, intimidando, extorquindo, perseguindo, fazendo leis injustas que só serviam às classes mais altas, à custa do povo. Não tinham coração nem consciência, agiam como lobos. Aqueles ímpios não eram passivos; agiam com vigor, sempre machucando os fracos, espiritual e fisicamente. Cf. Êxo. 23.4. O líder verdadeiro leva seriamente os deveres para ajudar seu povo: Nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. (I Pedro 5.3-4) CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3306.
4. As ovelhas dispersas (vv. 5,6). Ezequiel dirige esses oráculos divinos à casa de Judá, mas a mensagem diz respeito a todos os filhos Israel, até mesmo os dispersos pelos assírios (v.6). A mesma diáspora aconteceu em Judá com a destruição de Jerusalém, mas não é possível saber a data do pronunciamento desse discurso, se antes ou depois da queda da cidade santa. O profeta recebeu a notícia dessa derrocada algum tempo depois da destruição de Jerusalém “no ano duodécimo, no décimo mês, aos cinco do mês” (Ez 33.21). Segundo os dados fornecidos nessa passagem, parece indicar 8 de janeiro de 585 a.C
COMENTÁRIO
Assim se espalharam, por não haver pastor. Os líderes não foram pastores, mas tiranos. Não protegeram o rebanho, mas o exploraram. Seus atos violentos espalharam as ovelhas, deixando-as desprotegidas e sem nenhum verdadeiro pastor. Perdidas nos campos, elas se tornaram alimento para as feras que vigiavam aqueles lugares, sempre famintas, sempre matando, sempre esperando para devorar mais uma vítima. Os vss. 5-6 mencionam três vezes a dispersão das ovelhas, ressaltando que aquela ação figurava entre suas ofensas principais. O dever do pastor era o de não permitir justamente aquilo. Mas os falsos pastores tinham uma regra só: servir a si mesmos.
“Eles não mereciam o nome pastor; era um ultraje aplicar esse título augusto a eles (I Reis 22.17; Mat. 9.36). Cf. Mat. 26.31, onde também vemos a dispersão das ovelhas, porque o verdadeiro Pastor fora morto” (Fausset, in loc.). O povo se envolveu em pecados pesados como idolatria, adultério, explorações dos fracos, atos anti-sociais, opressões, porque não tinha líderes para instruir e guiar em caminhos retos. O Targum explica que a maior dispersão era justamente o cativeiro babilónico, que o povo sofreu por causa da infinidade de suas transgressões. Provavelmente, o vs. 6 inclua esta ideia.
As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes. O povo pecador tornou-se iníquo seguindo os maus exemplos dos líderes. Logo, os lobos atacarão para devorar líderes e liderados, que compartilharão o mesmo destino catastrófico. Os lobos internacionais eram os soldados babilónicos, sempre famintos, à procura de vítimas. Algumas poucas ovelhas que sobreviveram aos ataques dos lobos esconderam-se nas ravinas das colinas, em cavernas, em câmaras secretas. Algumas fugiram para países vizinhos e sofreram exílio permanente. A maioria dos sobreviventes foi levada cativa para a Babilônia, onde a miséria continuou.
“Lá fora” não houve ninguém que cuidasse das ovelhas perdidas e doentes.
Nenhum homem se preocupava com as suas almas. Chaucer falou de ovelhas perdidas “orientadas” por pastores perdidos:
Ele mesmo sendo um vagabundo, deixando
O caminho estreito,
Não era nenhuma maravilha, e suas ovelhas tolas
Também erraram o caminho.
As minhas ovelhas. Note-se que Yahweh as chama de “minhas ovelhas”, a despeito de seus pecados. Ele era o Pastor, mas aqueles designados subpastores foram negligentes e abusaram de seus deveres, descumprindo sua missão. Nunca a missão de alguém deve servir a si mesmo.
Foram espalhadas sobre toda a face da terra. Ninguém se preocupou em procurá-las. (NCV)
Por contraste, o Verdadeiro Pastor veio para procurar e salvar o que foi perdido (Luc. 19.10). CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3306.
III. SOBRE O BOM PASTOR
O próprio Deus toma as dores das ovelhas e se coloca, Ele mesmo, como Pastor do rebanho. O Salmo 23 e o discurso de Jesus como o Bom Pastor (Jo 10.7-18) deixam isso muito claro.
1. A reação divina contra os maus pastores (vv.10-12). Eles não visitaram as ovelhas no sentido de cuidar delas; agora é Deus quem vai visitar esses maus pastores no sentido de castigar (Jr 23.2). Deus promete buscar as ovelhas dispersas em toda a parte do mundo, uma referência ao retorno da segunda diáspora (Ez 34.12). Ele promete ainda libertar o seu povo das mãos deles: ”E vos darei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com ciência e com inteligência” (Jr 3.15). Essa promessa não se refere ao Messias, mas pode se aplicar aos atuais pastores de igrejas (Mt 23.34; Ef 4.11). O profeta está dizendo que Javé vai dar ao povo líderes e governantes segundo os ideais de Davi (At 13.22). A promessa era para um futuro distante (Ez 34.23,24; 37.24; Os 3.5).
COMENTÁRIO
Estou contra os pastores, e deles de mandarei as minhas ovelhas; porei termo no seu pastoreio. Eles serão levados para a Babilônia como cativos, para serem vítimas de abuso de “outros líderes”. O lobo-Babilônia os devorará como eles devoraram o rebanho de Yahweh; a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura será satisfeita. O Senhor Soberano deve intervir para garantir a realização do Pacto Abraâmico, pois Judá estava sob ameaça de total extinção. Esta mensagem concorda com o teísmo bíblico: O Criador não abandonou Sua criação, mas intervém, castigando os maus e recompensando os justos. Contraste-se esta declaração com o deísmo, que diz que o Criador (pessoal ou impessoal) abandonou Sua criação ao comando das leis naturais. Ver no Dicionário os verbetes chamados Teísmo e Deísmo.
Considere-se o que aconteceu com Zedequias e seus filhos e príncipes (Jer. 52.3-11)
Paralelos. Em espírito, esta seção é paralela a João 10.1-18; Heb. 13.20; I Ped. 2.25; 5.4. Cf. Mat. 10.6 e 25.32.
“O que os falsos pastores não realizaram por causa de sua ganânda (vss. 1 -10), Yahweh realizará; cuidará de Seu rebanho (vss. 11-16); garantirá justiça entre as ovelhas (vss. 17-24); estabelecerá um pacto de paz (vss. 25-31)” (Charles H. Dyer, in loc.). A figura do pastor se eleva ao ofício do Rei-Pastor, o Messias, nos vss. 23-24.
Assim diz o Senhor Deus: Eu mesmo procurarei as minhas ovelhas. Adonai-Yahweh (o Soberano Eterno Deus), exercendo Seu poder divino e soberano, assumirá o ofício do Pastor e providenciará para suprir as necessidades do rebanho.
Este título divino é usado 217 vezes neste livro, mas somente 103 no restante do Antigo Testamento. Exalta a soberania de Yahweh, cuja vontade deve ser realizada entre os homens. Ver no Dicionário os artigos chamados Soberania de Deus e Providência de Deus. As provisões de Yahweh reverterão os danos cometidos pelos pastores infiéis. O rebanho dispersado será recolhido; a diáspora terminará. O próprio Adonai-Yahweh procurará Suas ovelhas e as salvará dos lobos.
Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido. (Lucas 19.10)
O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. (João 10.11)
O vs. 11 é mais do que histórico (o reverso do cativeiro babilónico); é também escatológico, uma promessa de reversão da diáspora, para que o Reino dos Céus se realize neste mundo. A restauração de Judá, depois do cativeiro babilónico, seria uma pequena amostra da verdadeira, que ainda jaz no futuro:
Todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 3306-3307.
2. Jesus, o bom Pastor. O Senhor Jesus disse: ”Eu sou o bom pastor” (Jo 10.11,14). Ele é o Grande Pastor das ovelhas (1Pe 5.4), pois que, assim como Javé vai trazer de todas as nações os judeus dispersos para à terra de seus antepassados, o que já está acontecendo, em Israel, no Oriente Médio, da mesma forma o Senhor Jesus está congregando, de todas as nações, as ovelhas para o seu redil (Jo 10.16). Todas as profecias do Antigo Testamento se convergem para o Messias (Lc 24.44).
COMENTÁRIO
Em João 10.1-39, o sermão de Jesus sobre si mesmo como "o bom pastor" fluiu diretamente do cap. 9, enquanto Jesus continuava a falar às mesmas pessoas. O problema do cap. 9 era; que Israel era conduzido por falsos pastores, que desviavam as ovelhas do verdadeiro conhecimento e do reino do Messias (9.39-41). No cap. 10, Jesus declarou ser "o bom pastor" que fora designado pelo seu Pai como Salvador e Rei, em contraste com os falsos pastores de Israel, que eram auto designados e hipócritas (SI 23.1; Is 4 0 .1 1; Jr 3.15; cf. Is 56.9-12; Jr 23.1-4; 25.32-38; Ez 34.1-31; Zc. 11.16)
Jesus tomou outra expressão dos vs. 1 -5, isto é, ele é "o bom pastor" em contraste com a liderança perversa de Israel dessa época (9.40-41). Essa é a quarta das sete afirmações "Eu sou" de Jesus (veja vs. 7,9; 6.35; 8.12). O termo "bom" traz a ideia de "nobre" e está em contraste com "mercenário" que cuida apenas por interesse pessoal. Ao contrário destes, Jesus dá a vida pelas ovelhas. Isso é uma referência à Sua morte vicária na cruz em favor dos pecadores.
3. O pastor cristão. O bom pastor é aquele que está disposto a arriscar a vida pelas ovelhas, assim como fez Davi enfrentando um leão e um urso (1Sm 17.34-36). Jesus disse: “o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Ele simplesmente não arrisca a vida, mas a entrega de acordo com a vontade do Pai (Jo 10.17,18). O Senhor Jesus concedeu pastores à igreja (Ef 4.11) para o aperfeiçoamento dos crentes e a edificação do Corpo de Cristo (Ef 4.11-16). Ainda que alguém considere alguns pastores faltosos, isso na sua maneira de entender as coisas, o melhor é seguir os ensinos de Jesus: “Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras” (Mt 23.3). Deus sabe cuidar dos seus servos, é dever nosso orar por eles.
COMENTÁRIO
«,..dá a vida pelas ovelhas…» Essa é uma declaração que pode significar diversas coisas. Literalmente significa *depositar» a própria vida. Mas as interpretações são as seguintes: 1. Pode significar simplesmente morrer, como expressão idiomática com essa significação (assim pensava Hipócrates). 2. Essa expressão foi utilizada por Demóstenes com o sentido de pagar juros, enquanto outros escritores clássicos lançaram mão dela com o sentido de ·pagar um preço·. Esse emprego, entretanto, não pode ser encontrado no N.T., cm relação ao vocábulo grego «tithemi», a menos que a presente passagem possa ser explicada dessa maneira, embora isso seja muito improvável. 3. O trecho de Jui. 12:3 na LXX) usa essa expressão com o sentido de arriscar a vida, c é muito provável que isso faça parte do sentido neste caso: o Pastor arrisca a sua própria vida, estando sempre disposto a dá-la, e. potencialmente, diariamente a dava, mediante o seu ofício de guardião das ovelhas. Dessa maneira é que os subpastores devem considerar o seu próprio oficio pastoral. 4. A frase cm apreço também pode significar/vir de lado a própria vida, segundo vemos o verbo usado em João 13:4; por de lado a vida como uma veste, o que é uma frase poética para a ideia de dar voluntariamente a própria vida em benefício de outrem. Isso faz parte, por semelhante modo do sentido desta passagem, porquanto esse é o caráter do bom pastor. Os vss. 17 c 18 demonstram a validade desse uso do termo, porque Jesus tanto deixou de lado a sua própria vida como em seguida a recuperou; e isso ele fez como quem despe e torna a vestir uma veste. A natureza voluntária do sacrifício de Cristo é aqui frisada, ficando igualmente destacada a ideia de que isso foi feito com toda a autoridade, e visando o beneficio, a proteção e a salvação das ovelhas.
Essa expressão c tipicamente joanina não podendo ser encontrada em nenhuma outra parte do N.T., embora possa ser vista nos vss. 15,17 e 18 deste capítulo, bem como nas passagens de João 13:37,38; 15:13 c I João 3:16 (duas vezes). O que fica subentendido com ela, portanto, é o seguinte:
1. O bom pastor arrisca a sua vida diariamente, no serviço que presta às ovelhas (o que era verdade quando Jesus proferiu essas palavras). 2. Sua morte real foi voluntária, realizada com autoridade, podendo ser revertida na ressurreição, pelo exercício da mesma autoridade. 3. A vida que foi dada visou o benefício (vida preservada) das ovelhas. A vida eterna foi assim conferida às ovelhas, o que também e tema abordado neste capítulo. (Ver o vs. 28). Essa vida eterna fica garantida pela ressurreição, segundo observamos nos vss. 17 e 18 deste mesmo capitulo. 4. É fora de dúvida que a doutrina cristã da expiação é aqui indicada em seus resultados positivos—ela outorga vida através da reconciliação do pecador com Deus. (O lado negativo, que consiste no sacrifício pelo pecado, é ensinado nos trechos de João 1:29 c I João 2:2, embora essa verdade não seja diretamente ensinada aqui, mas fique apenas subentendida). 5. O bom pastor arrisca a sua vida pelas ovelhas, c, finalmente, dá a sua vida por elas, a fim dc que possam receber vida. Ora, esse é o cumprimento da função mais elevada possível de um pastor. Isso faz contraste direto com a atuação dos pastores maus. mercenários, cujo propósito é antes de tirar proveito das ovelhas, ao invés de servi-las, no que podem empregar até mesmo meios violentos e desonestos, a fim de assim se beneficiarem. (Quanto a detalhes sobre a expiação, ver Rom. 5:11).
Por conseguinte, esta referência é de natureza histórica (revelando a disposição do Senhor Jesus em sacrificar-se em favor de seus discípulos), sendo uma referência histórica, feita pelo autor do quarto evangelho, à morte de Cristo pelas suas ovelhas; e, indiretamente, c uma referência à necessidade dos subpastores estarem dispostos a sacrifício semelhante, porquanto já naquela época havia discípulos de Jesus que sofriam de morte violenta, especialmente às mãos dos romanos; c. finalmente, serve de declaração profética, feita por Jesus, acerca de sua morte na cruz, o que· teria lugar cm breve. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 2. pag. 444.
CONCLUSÃO
O comportamento do ser humano se compara em muitos aspectos aos das ovelhas e, por essa razão, Deus nos chama nas Escrituras de ovelhas. Há entre elas aquelas que dão marradas umas nas outras para marcar território o que não é diferente entre nós, seres humanos. Há competições entre as ovelhas (Ez 34.20-22). Isso desagrada a Deus. O nosso relacionamento entre irmãos deve ser de maneira que glorifique a Deus (Sl 133.1; 1 Co 10.31).
COMENTÁRIO
Para concluir essa lição, é interessante frisar sobre o aprisco. Nos versos 1-30, Jesus usou uma conhecida metáfora baseada na criação de ovelhas no século 1º. As ovelhas eram guardadas num curral, o qual possuía uma porta pela qual as ovelhas entravam e saíam. O pastor encarregava um "porteiro" (v. 3) ou "mercenário" (v. 12) como subpastor para vigiar a porta. O pastor entrava por essa porta. Os que estavam interessados em roubar ou ferir as ovelhas encontrariam outra maneira para tentar entrar. As palavras de Ez 34 muito provavelmente formam o pano de fundo do ensino de Jesus, pois Deus denunciou os falsos pastores de Israel (ou seja, os líderes espirituais do povo) pelo fato de não cuidarem como convinha do rebanho de Israel (ou seja, o povo). Os próprios Evangelhos apresentam extensas imagens de pastor/ovelhas (veja Mt 9.36; Mc 6.34; 14.27; Lc 13.1-7).
Também devemos lembrar da figura do porteiro: O porteiro era um subpastor contratado, que reconhecia o verdadeiro pastor do rebanho, abria a porta para ele, ajudava o pastor no cuidado do rebanho e, especialmente, vigiava o rebanho durante a noite. Os pastores do Oriente Próximo se postam em diferentes lugares fora do aprisco, enunciando suas chamadas singulares, as quais as ovelhas reconhecem. Consequentemente, as ovelhas se juntam ao redor do pastor. O pastor vai mais além ainda, chamando cada ovelha pelo seu nome especial. O que jesus quis dizer é que ele vai ao curral de Israel e chama suas ovelhas individualmente para que entrem no seu curral messiânico. Assume-se que as ovelhas já são, de algum modo, suas ovelhas, mesmo antes de serem chamadas pelo nome! (veja vs. 25-27; 6.37,39,44,64-65; 17.6,9,24; 18.9).
REVISANDO O CONTEÚDO
⁕ A quem a expressão “pastores de Israel” se refere em Ezequiel e Jeremias?
® A palavra, “pastores de Israel” no contexto de Ezequiel, bem como no de Jeremias 23.1-5, se refere aos governantes.
⁕ Qual a função primordial do pastor?
® A função primordial do pastor é alimentar, guiar e proteger o rebanho e isso ilustra bem o papel do líder de uma nação.
⁕ O que os governantes de Israel faziam?
® Cuidavam de si mesmos: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! (v.2).
⁕ O que os governantes de Israel não faziam?
® Eles não cuidavam das ovelhas.
⁕ Quem é o Bom Pastor?
® O Senhor Jesus Cristo é o bom pastor (Jo 10.11, 14)
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