A Promessa de Paz
TEXTO ÁUREO
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo 14.27)
Deixo-vos a paz... não... como a dá o mundo. A palavra "paz" reflete o hebraico "shalom", que se tornou a saudação de Jesus aos discípulos depois da sua ressurreição (20.19-26).
Em nível individual, essa paz, desconhecida dos descrentes, assegura serenidade em face das grandes dificuldades (cf. v. 1), dissolve o temor (Fp 4.7) e reina nos corações do povo de Deus para manter a harmonia (Cl 3.15).
A maior realidade dessa paz será vista no reino messiânico (Nm 6.26; SI 29.11; Is 9.6-7; 52.7; 54.13; 57.19; Ez 37.26; Ag 2.9; cf. At 10.36; Rm 1.7; 5.1; 14.17).
VERDADE PRÁTICA
A Paz do Senhor Jesus traz quietude e calma para a nossa alma, principalmente, nos momentos difíceis da vida.
Entenda a Verdade Prática
A verdadeira paz não está em palácios ou nos mais diversos acordos humanos; ela é obtida em Cristo, o Príncipe da Paz. O conceito cristão de paz, do grego eirēnē e no hebraico shālôn, ultrapassa o significado secular do termo. A paz de acordo com Nm 6.26 e Ef 2.14 é obtida mediante a bênção divina. Em Números, o “rosto” de Deus é um hebraísmo que significa “seu favor” e “sua presença”. Por conseguinte, a paz procede do favor e da presença do Eterno entre o seu povo (Cl 3.15).
LEITURA BÍBLICA - Números 6.24-26; Filipenses 4.6,7; 1 Pedro 3.10,11
Números 6
24. O Senhor te abençoe e te guarde;
Abençoe. A bênção do Senhor era descrita como a sua face (ou seja, a sua presença) resplandecendo sobre o povo (v. 25) e olhando para o povo (v. 26). Deus irradiava em benevolência sobre Israel e olhava para o povo de maneira benéfica, guarde. Os resultados da bênção do Senhor foram a preservação de Israel ("guarde"), sua bondade para com o povo ("tenha misericórdia", v. 25) e seu pleno bem-estar ("paz", v. 26)
25. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti;
Faça resplandecer o SENHOR seu rosto. O Targum acrescenta, “quando ocupado na lei, e revelar a ti seus segredos”. Descrições antropomórficas de Deus e ousadia da metáfora são características da poesia hebraica. “Se a luz do sol é doce e agradável de se ver, a luz do o semblante divino, a luz eterna, é a soma de todos os prazeres”. — Baumgarten. Despojada de figura, a oração é para que Jeová possa tratar com benevolência Israel, como é indicado na parte seguinte do paralelismo.
E tenha de ti misericórdia. É um mero jogo de imaginação fazer distinções nítidas entre as bênçãos invocadas nesses versículos. Assim, Lutero refere a primeira bênção ao bem corpóreo, a segunda à natureza espiritual e à alma, e a terceira à mesma com o desejo de vitória final sobre a cruz, a morte, o diabo, o mundo e a carne.
26. O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.
O SENHOR levante a ti seu rosto. Esta frase é usada por Davi para denotar a libertação dos homens por Jeová de suas aflições. Salmo 4:6; Salmo 21:6; Salmo 33:18.
E ponha em ti paz. Esta não é uma mera bênção negativa, isenção de agitação e guerra; mas, como a paz que Cristo deixou como legado aos crentes, inclui todas as bênçãos de tipo positivo, todo o bem-estar. O Targum acrescenta: “paz no teu fim.
Filipenses 4
6. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças.
“Não andeis ansiosos” (Mateus 6:25). A ansiedade e a oração são opostos entre si como o fogo e a água (Bengel). por meio de orações e súplicas – como cada caso requer (Alford). Oração por bênçãos; o termo geral. Súplica, para evitar o mal; um termo especial (ver Efésios 6:18). ações de gratidão – por cada momento, seja de prosperidade ou de aflição (1Tessalonicenses 5:18; Tiago 5:13).
Os filipenses talvez se lembrem do exemplo de Paulo em Filipos quando estava na prisão (Atos 16:25). A ação de graças dá profundidade à oração (2Crônicas 20:21), e liberta da ansiedade, ao fazer com que todos os tratos de Deus sejam importantes para o louvor, não meramente para a resignação, muito menos para a murmuração. A “paz” é a companheira da “ação de gratidão” (Filipenses 4:7; Colossenses 3:15).
Sejam os vossos pedidos conhecidos por Deus – com confiança filial e sem reservas; não deixando de apresentar nada, por ser muito grande ou insignificante demais, diante de Deus. Assim como Jacó, ao ter medo de Esaú (Gênesis 32:9-12); Ezequias com medo de Senaqueribe (2Reis 19:14; Salmo 37:5).
7. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.
A paz de Deus – ou seja, a paz que Deus dá a toda alma que descansa sobre Ele em oração. É a paz — o sentido de unidade no sentido mais amplo — a “paz na terra” proclamada no nascimento de nosso Senhor, deixada como Seu último legado aos Seus discípulos, e pronunciada no Seu primeiro retorno a eles da sepultura (Lucas 2:14; João 14:27).
Por isso, inclui paz com Deus, paz com os homens, paz consigo mesmo. Ela mantém — isto é, vigia de maneira que “não cochila nem dorme” — os corações e…mentes (ou, mais propriamente, a alma e os pensamentos nelas formados), guardando toda a nossa ação espiritual, tanto na sua origem como nos seus desenvolvimentos. É em Cristo Jesus, pois “ele é a nossa paz” (Efésios 2:14), assim como “dos dois povos fez um” e “reconciliou todos com Deus”.
1 Pedro 3
10. Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano;
Quer amar. No grego, “deseja amar”. Aquele que ama a vida (presente e eterna), e deseja continuar a fazê-lo, não envolvendo-se em problemas que farão desta vida um fardo, e levá-lo a perder a vida eterna. Pedro confirma sua exortação em 1Pedro 3:9, pelo Salmo 34:12-16.
Refreie. Em outras palavras, “pare de falar mal”; insinuando que nossa inclinação natural e costume é falar mal. “Os homens geralmente pensam que ficariam expostos à maldade dos seus inimigos se não reivindicassem os seus direitos com firmeza. Mas o Espírito promete uma vida de bem-aventurança a ninguém menos do que àqueles que são mansos e pacientes em relação aos males” (Calvino).
Do mal…engano. Primeiro ele adverte contra os pecados da língua, fala maldosa, e enganadora, língua dobre; depois, contra os atos de injúria ao próximo.
11. aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a.
Nos manuscritos mais antigos, grego: “Além disso (além de suas palavras, em atos), afaste-se”. siga-a – perseguir como uma coisa difícil de alcançar, e que foge deste mundo problemático.
INTRODUÇÃO
A paz é um elemento sempre discutido como prioritário e urgente nos principais fóruns do mundo. Todavia, o que mais se vê é a ausência da paz entre as nações, entre famílias, e até mesmo entre as pessoas. Tudo isso é resultado da falta da verdadeira paz interior, que só pode ser alcançada na verdadeira fonte. Muitos vivem com o coração cheio de conflitos, perturbados por toda sorte de ansiedade, por não terem ainda experimentado em sua dimensão mais profunda essa paz que vem de Deus. Mas ainda hoje você pode alcançá-la, pois trata-se de uma promessa divina.
I. A PAZ NO PLANO DE DEUS
1. O significado de paz. No dicionário, encontramos os seguintes sinônimos para a palavra “paz”: “tranquilidade”, “repouso”, “silêncio”, “sossego”. No Antigo Testamento, encontramos a palavra “shalom” para “paz”, que tem o sentido de segurança, bem-estar, saúde, prosperidade, paz (Nm 6.26); representando tudo o que há de melhor para a vida. No Novo Testamento, em grego, a palavra “paz” é “eirene”, com significado semelhante, contudo, enfatizando a ideia de quietude e repouso (Fp 4.6).
Os dicionários definem paz como ausência de guerra, tranquilidade pública ou mesmo como sossego da alma. O vocábulo paz vem do hebraico, shālôn, cujo sentido, vai além do conceito comum de paz acima abordado e abrange inteireza, harmonia, completude. Os discípulos necessitavam de ouvir essa promessa de paz da boca do próprio Jesus (v.27).
Eles enfrentariam o momento mais dramático de suas vidas na crucificação de seu Mestre. Isso abalaria todas as suas esperanças messiânicas reunidas ao longo dos últimos três anos. Eles estavam perturbados e atemorizados, como mostrou o Senhor em suas palavras confortadoras (Mt 26.31; Jo 16.32; 18.15-27; Lc 24.17-21).
O intuito do Mestre era de que eles compreendessem a necessidade da cruz como parte indispensável do plano de Deus (v.30; Lc 24.26,46; Sl 22.1-18).
2. A Paz na bênção sacerdotal. Em Números 6.26.27 encontramos inseridas as palavras aprazíveis da bênção conhecida por "Bênção Sacerdotal". Esta era a fórmula que os sacerdotes tinham de usar para abençoar um povo consagrado e santificado (Dt 21.5). Esforços em determinar a origem desta bênção, datando-a em período muito posterior, não se mostraram convincentes. E não há razões aceitáveis para acreditar que estas palavras rituais não foram usadas anteriormente (cf. Lv 9.22), ou que não foram formalizadas neste momento da história hebraica.
Em todo caso, a Bênção Sacerdotal foi extensivamente utilizada na adoração judaica ao longo dos séculos e, pelo menos em parte, foi empregada nos círculos cristãos. Este é o ser total de Deus que se põe em ação pela salvação do seu povo. O resultado é paz; o tipo de paz que vem, não pela disciplina da mente humana, mas pela presença do Espírito Santo de paz (Jo 14.26,27).
É mais que mera ausência de discórdia, pois expressa o bem-estar e segurança positivos daquele cuja mente está fixa em Deus. A paz é um dos aspectos do fruto do Espírito (ver Gálatas 5.22, 23).
A paz consiste na ausência de discórdia, e também no consolo do amor. É segurança, mas também é a bênção eterna da harmonia com Deus. Há paz na retidão. Há paz no ministério do Espirito, o qual cultiva em nós o Seu amor. Jesus é o Príncipe da Paz (ver Isaías 9.6).
No hebraico, paz é a familiar palavra shalom. A raiz dessa palavra significa “término”, “cumprimento", indicando que a pessoa que goza de paz entrou em um estado de “integridade” e “unidade”, em uma condição e em um lugar onde impera a harmonia. Quando duas partes acordavam, ambas entravam em um estado de harmonia e contentamento.
O pagamento de um voto (Salmo 50.14) produz a paz. Nas formas adjetivadas da palavra, estão contidas as ideias de “perfeição” e de “algo terminado”. Prosperidade é um termo correlato, porquanto ela nos confere paz diante das necessidades. Ademais, na paz há segurança. A paz de Deus é uma provisão de pacto. O povo que entrou em pacto com Deus habita em Sua paz.
3. A Paz do Senhor. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus (Fp 4.7).
A ação de graças e a paz estão juntas (cf. Cl 3.15).
Mesmo que o crente não obtenha tudo que pede, a paz de Deus guarda o coração, que é onde está a vontade. Não é o coração que guarda a paz de Deus. O termo guardará é metáfora militar. A paz de Deus manterá guarda nos crentes filipenses, mesmo que Filipos esteja guardada por uma guarnição romana. Esta paz protetora "ultrapassa a compreensão humana" (CH; cf. BAB), ou é superior a toda antecipação ansiosa (cf. Is 26.3; Jo 14.27).
"A expressão em Cristo Jesus (que foi traduzida literalmente) sugere que o crente não pode ser guardado fora de Cristo. O caminho da paz não é ficar ansioso (v. 6); isso não significa ser negligente, mas livre das tensões que tão facilmente se transformam em desconfiança, e significa levar todos os pedidos a Deus, pela oração (proseuchê, oração marcada pela devoção) e súplicas (deêsis, oração nos seus detalhes pessoais), e com ações de graças, pois a apreciação pelas misericórdias passadas conduz à confiança nas futuras.
A própria vida de oração de Paulo mencionada em 1:3-5 é um excelente exemplo aqui. A fortaleza da paz é garantida pela paz de Deus, que ele nos dá e que excede todo o entendimento, transcendendo a nossa capacidade mental de compreender e apreciar as coisas (v. 7).
Isso guardará (phroureõ, montar guarda, proteger) o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus, como se eles estivessem na morada da paz.
A disciplina da paz flui naturalmente da ideia da fortaleza. Finalmente, com relação a toda a ocupação da mente vem o lembrete de que não se preserva a paz interior por meio do nutrimento dos pensamentos com o que é prejudicial, tudo o que for verdadeiro [...] nobre (digno de respeito) [...] correto [...] puro [...] amável (agradável) [...] de boa fama (de boa reputação) e, no sentido mais amplo, tudo em que houver algo de excelente (moralmente) ou digno de louvor, isso e somente isso é adequado para a mente dos filipenses (v. 8).
Mentes disciplinadas vão encontrar o caminho da vida diária, exposto no ensino e na prática do próprio Paulo, e nesse caminho vão experimentar a realidade da presença de Deus, de quem procede toda a paz. Assim, tanto a primeira quanto a segunda seções desse capítulo concluem com a maravilha da companhia divina.
II. A PAZ ILUSÓRIA DO MUNDO
1. Uma paz enganosa. Paz é algo tão importante e necessário, que sem ela a vida perde o seu sentido. É um desejo comum a todas as pessoas, especialmente nesses dias tão agitados e turbulentos que temos enfrentado.
Mas, o que é paz? Paz é mais do que simplesmente a ausência de guerras. “Paz” é a palavra correta para caracterizar o relacionamento harmonioso do homem com Deus, consigo e com o semelhante. O desejo de paz é comum a todas as pessoas, em todas as épocas e em todos os lugares. É uma necessidade inerente ao ser humano. Vários são os fatores que se somam para perturbar e roubar a paz. Mas, com certeza, a rebelião do homem contra Deus, pela desobediência – desde o Éden – é a principal causa da falta de paz: “o pendor da carne é inimizade contra Deus.” (Rm 6.6,7).
O mundo de hoje é um mundo sem paz. Todos têm clamado por paz. No anseio de experimentar a paz, muitos se entregam a buscas vãs e, em casos extremos, à própria morte. Tais pessoas são comparadas pelo profeta ao “mar agitado, que não se pode aquietar.” (Is 57.20).
A Paz encontrada no mundo não cumpre o papel de satisfazer o homem, porque a verdadeira paz é uma experiência possível somente em Deus. Segundo o profeta Isaías, o Senhor é o autor da paz: “criei a paz, paz para os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor.” (Is 57.19).
2. A “paz” das obras da carne. Em Ef 2.1-3, Paulo está tratando sobre a velha vida de pecado; ele distingue pelo menos quatro características da vida que outrora seus leitores levavam longe de Deus.
A primeira, era uma vida de morte espiritual; eles estavam mortos em ofensas e pecados (1).' A morte espiritual é "a morte de pecado"," que é o estado de separação de Deus ocasionado por ofensas e pecados. Que o digam Adão e Eva (Gn 3.23)!
Sem sombra de dúvida, devemos entender que Paulo não está apenas dizendo que o homem sem Deus está "sujeito à morte ou sob sentença de morte; ele está realmente morto, porque está sob o controle de uma natureza pecadora"." As palavras análogas ofensa (paraptoma) e pecado (hamartiai) enfatizam a total natureza dessa morte. Ofensa alude "aos desejos da carne, notórios, evidentes e repulsivos", ao passo que pecado designa mais especificamente "os desejos da mente, os pecados de pensamento e idéias, de propósito e inclinação".'
A segunda característica dos pecadores é que eles andam segundo o curso deste mundo (2). A palavra grega para curso é aion, que significa literalmente "era". No sentido em que é empregada aqui, a palavra não carrega um sentido cronológico, porém, mais propriamente, "o caráter espiritual dos tempos". Este povo andava (conduzia a vida) em conformidade com os pensamentos e interesses deste presente mundo mau e transitório (cf. Rm 12.2; 1 Co 7.31; Gl 1.4).
Um fragmento palestino-siríaco do século VI traz a palavra kanona, que pode ser traduzida por "regras ou cânones de operação". Os homens espiritualmente mortos abandonam as normas e caminhos de Deus pelas normas e caminhos deste mundo.
Terceira, estas pessoas andavam segundo o príncipe das potestades do ar (2). Este mundo tem um deus, o diabo. Em 2 Coríntios 4.4, Paulo menciona "o deus deste século"; em contrapartida, em 1 Timóteo 1.17, ele louva "ao Rei dos séculos".
O diabo exerce autoridade no reino do ar. De acordo com Bruce, isto quer dizer que "ele é o líder das 'hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais', que nos informa Efésios 6.12".
Os leitores de Paulo se curvavam antigamente ao deus transitório deste mundo e, assim, suas recompensas eram tão temporárias quanto o seu deus. Mas Cristo os libertou do diabo e suas legiões. O termo espírito refere-se aos poderes do mal, e indica a disposição interior de desobediência que fica ativa no coração dos homens quando estão sujeitos ao Maligno.
Como observa Foulkes, os homens são "energizados" por Deus (20) ou pelas forças do mal; se for pelo mal, eles são corretamente "chamados filhos da desobediência".' Quarta, eles, e Paulo também, viviam nos desejos da nossa carne (3). Neste momento, Paulo é constrangido a admitir que ele, embora um judeu, estava entre os "filhos da desobediência" antes de encontrar-se com Jesus. Nos desejos da nossa carne define "o domínio ou elemento no qual suas vidas foram gastas".
A vida era mantida dentro dos limites dos apetites e impulsos próprios da natureza humana caída ou dela provinha. Estes efésios se entregavam aos desejos (epithumia, "desejos ardentes") da carne (sarx, "natureza humana sob dominação do pecado"). Eles estavam fazendo ("satisfazendo", BJ, NVI) a vontade (thelema, "vontades", BJ, NVI) da carne e dos pensamentos.
Este texto expõe duas fontes do mal:
1)A natureza caída do homem em geral, e
2)"o laboratório dos pensamentos, impressões, imaginações, volições pervertidos do homem em particular"."
Quarta característica, estas pessoas sem Deus eram por natureza filhos da ira (3). No estado pré-cristão, sem a ajuda do Espírito de Deus, os leitores, e Paulo também, estavam por natureza (congenitamente) entregues ao pecado. Uma lei do pecado os controlava e, assim, caíam sob a ira de Deus.
A expressão filhos da ira não quer dizer "por nascermos bebês". O fato de todo homem da raça adâmica nascer pecador está reconhecido na expressão por natureza.
Filhos da ira, aqui, significa simplesmente "objetos da ira". Como declara Purkiser enfaticamente, a ira de Deus "não é uma reação da sensibilidade e vontade divina, as quais podem ser mudadas ou alteradas. É o antagonismo infalível e incessante de Deus ao pecado, que permanecerá enquanto Deus for Deus".
3. Uma falsa paz. Pois que, quando (o mundo, os incrédulos) disserem: Há paz e segurança (3; cf. Mt 24:37-39; 25.5) são palavras que lembram Jeremias 6.14.
Temos esta tradução: "Enquanto eles estiverem falando de paz e segurança" (NEB). A ideia é de falsa segurança, possivelmente quanto a sentimentos e circunstâncias, ou seja, na esfera interior e exterior. Essa paz que será proposta pelo iníquo no período da Tribulação, já é algo desejado pelas nações e buscado por alguns líderes mundiais.
Podemos ver movimentos para se construir essa paz mundial. Quando consumada a aparente paz, ela durará pouco tempo, pois, quando se abrir o segundo selo, aquela paz será removida da terra (Ap. 6:3-4), então virão matança, fome e morte. Segundo o profeta Isaías, “para os perversos, diz o Senhor, não há paz.” (Is 57.21). A paz é um estado de espírito decorrente do acerto da vida com Deus. Não basta apenas desejar a paz e pedi-la. Mais do que isso, é preciso acertar a vida com Deus.
III. A PAZ QUE JESUS PROMETEU
1. O Príncipe da Paz. O texto bíblico de Romanos 5.1 declara: “justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, poro meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” No Salmo 34.14, o salmista aconselha: “Procura a paz, e empenha-te por alcançá-la”. Esse empenho em alcançar a paz implica no acerto da vida perante o Senhor, pois, no mesmo versículo o salmista antes recomenda:
“Aparta-te do mal e pratica o que é bom...” A paz não é uma conquista humana, é fruto do Espírito. É algo experimentado em sua plenitude somente por aqueles que confiam no Senhor e nos quais o Espírito de Deus age livremente. No capítulo 36.3 de seu livro, o profeta Isaías afirma: “Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti.”
Para os seus discípulos, e para todos os que nele crêem, Jesus deixou um duplo legado.
Estas são aspirações muito discutidas na atualidade.
Paz, Deixo-vos a paz, e liberdade em relação ao medo, Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (Jo 14.27). Esta paz não é a mera ausência de problemas. Ela "significa tudo o que contribui para o nosso mais elevado bem"."
É uma paz da conquista que é "manifestada em uma união intacta com o Pai, mantida em luta constante com o mundo, na perseguição, na humilhação, e na morte para a glória de Deus". Será que esta paz dinâmica vem somente para aqueles que possuem o Espírito Santo? Quimby observa que a vinda do Espírito "é como uma transfusão de sangue para uma vida corajosa. Jesus partiu para que o Fortalecedor pudesse vir".
2. Uma promessa redentora. Em João 14, Jesus se dirige aos seus discípulos com uma poderosa mensagem de esperança: “Que o coração de vocês não fique angustiado; vocês creem em Deus, creiam também em mim”. Aqui está o fundamento do cuidado de Jesus para com seus filhos. Jesus é Deus, Jesus é transcendente, e ele atravessa os portões da morte e prepara o melhor para seus filhos, levando-os para morar eternamente com ele. Por isso, podemos dizer: aconteça o que acontecer, nossa eternidade está garantida em Cristo Jesus.
Isso garante um estado de paz verdadeira, fundamentada na pessoa de Cristo. ote que Jesus disse que a paz que Ele deixou não é a mesma que o mundo oferece. Logo, podemos concluir que a paz de Jesus é diferente, distinta daquela que o mundo ou as coisas que nele há oferecem. Mas qual a diferença entre a paz de Jesus e a do mundo? O mundo oferece um sentimento de paz.
Sentimento este que é advindo de uma situação, geralmente, apenas quando tudo vai bem. Quando se está empregado, quando se ganha uma promoção, quando se conquista algo muito desejado. Enfim, a paz do mundo surge apenas quando os sonhos e desejos são realizados. Essa paz é efêmera, circunstancial.
É uma paz condicional, ela está presente somente nos bons momentos, na alegria, nas realizações do homem. E, quando as coisas não acontecem de acordo com a vontade da pessoa, quando não são favoráveis, contrárias aos anseios do coração, o sentimento de paz bate asas, vai embora, porque ele só se mantém se tudo estiver bem.
Quando os sonhos e desejos são frustrados, contrariados, surge, então, a perturbação, a tristeza, o desânimo, a depressão, a murmuração. Completamente diferente do sentimento de paz mundano é a paz de Jesus Cristo. Ela opera em todos os tempos, tanto os bons quanto os maus.
Quando há abundância ou escassez, emprego ou desemprego, saúde ou enfermidade, a paz permanece em todos os estados. Mas isso só é possível àquele que recebe o Jesus da paz. Se você o tem, a paz dele alcançará o seu coração, e nada nem ninguém poderá tirá-la de você. Jesus não nos outorgou um sentimento de paz, mas Ele nos deu a sua paz.
3. Uma promessa que excede todo o entendimento. Ensina-nos a Bíblia que o nosso Deus “não é de confusão; e, sim, de paz.” (I Co 14.33). A partir disso, somos chamados não apenas a viver em paz, mas, também, a promover a paz. Conforme o ensino de Jesus, no Sermão da Montanha, todo cristão é chamado a ser um pacificador.
Muitas vezes, o ambiente onde vivemos torna-se lugar de confusão, inimizades e divisão. Evidentemente, não podemos de forma alguma conviver com essa incoerência na vida cristã, pois, segundo a Bíblia, “é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.” (Tg 3.18).
A experiência da paz impulsiona o cristão a promover a paz entre aqueles com quem convive. A experiência pessoal da paz e sua promoção são sinais de maturidade espiritual. Consideremos a exortação apostólica registrada em II Coríntios 13.11: “Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz, e o Deus de paz estará convosco.”
CONCLUSÃO
As pessoas vivem freneticamente na sociedade hodierna: trânsito obstruído... trens atrasados... pane no sistema... computadores desconfigurados. Muitos aguardam ansiosamente o final de semana para obter um pouco de tranquilidade.
Na esperança de encontrar a paz, uns se retiram para o campo, outros trancam-se no conforto de suas casas. Porém, a paz que Cristo oferece não é aquela que se obtém no hálito fresco das montanhas e no gorjear matinal das aves. A paz de Cristo é perene. Ela subsiste mesmo quando o homem moderno está na selva de pedra. Essa paz não é calada pelo crepitar das vicissitudes. Ela não é apenas um sentimento, mas uma bendita e divina pessoa: Cristo é a nossa paz! (Ef 2.14).
Tudo já valeu a pena, mas a maior recompensa ainda está por vir.
Que o mundo saiba que Jesus Cristo é o seu Senhor!
Dele seja a glória!
Amem.