29 de maio de 2008

Tentado, Não Cedas, Ceder é Pecar

Tentado, Não Cedas, Ceder é Pecar.

INTRODUÇÃO

Declarou certa feita, um cristão anônimo: “As tentações estão por toda parte”. Como negar a sabedoria deste provérbio que, embora evidente, encerra uma seriíssima advertência? As vezes somos de tal forma tentados que, no auge da angústia, chegamos a almejar venha o Senhor e leve-nos de imediato para os céus, onde livres estaremos de pecar. Se Ele, porém, o fizer como haverá de solfejar as vozes súplices, piedosas e já redimidas que protestam contra a iniqüidade do presente século?
O mesmo pensador, no entanto, acrescenta: “As tentações estão por toda parte — assim também a graça de Deus”. Isto implica em se porfiar por uma vida santa e irrepreensível.

Aliás, é o que reza o Credo das Assembléias de Deus no Brasil:
“Cremos na possibilidade e necessidade de termos uma vida santa e piedosa diante de Deus e dos homens”
Vencer as tentações é uma das mais importantes disciplinas da vida cristã. Thomas à Kempis mostra ser possível não apenas debela-las como imitar a Cristo em nosso cotidiano. Acrescenta ele ainda que, se por um lado as tentações podem causar-nos sérios prejuízos espirituais; por outro, “desvendam o que somos”.

1 - 0 QUE É A TENTAÇÃO

Mattew Henry mostra quão perigosa é a tentação na vida de um servo de Deus: “O melhor dos santos pode ser tentado pelo pior dos pecados”. Como não reconhecer essa dura e triste realidade na vida de homens e mulheres piedosos? O Senhor, porém, reveste-nos de graça, a fim de que possamos subjugar as tentações. Afinal, que praga é esta? Que doença vem a ser a tentação que, desde o Éden, vem infelicitando os seres humanos?

1 - Definição. Oriunda do vocábulo latino tentatione, a palavra “tentação” significa indução à prática de coisas condenáveis.
A tentação, que ora consideramos, refere-se aos impulsos que, instigados pelo Diabo, buscam induzir-nos a uma rebelião aberta e frontal contra o Todo-Poderoso.
Na Vulgata Latina, Jerônimo utiliza-se da mesma palavra para descrever as provações que sobre nós advêm. Neste comprova Deus cada um de seus filhos, não para induzi-los ao pecado, mas a fim de aperfeiçoá-los na prática da piedade. Na Bíblia Corrigida de Almeida, adotou-se o mesmo critério = (Gl 4.14; = Tg 1.12).

2 - Definição teológica. Tentação é o estímulo capaz de levar à prática do pecado. Embora não constitua pecado, o atender às suas reivindicações caracteriza a transgressão das leis divinas. Eis porque, na Oração Dominical, ensina-nos o Senhor a clamar ao Pai:
“E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém” (Mt 6.13).
Em seu comentário sobre a Oração Dominical, Wiersbe é didático e devocional: “Com essas palavras, estamos pedindo a Deus para guiar-nos de modo a que não nos envolvamos em tentação = ( 1 Jo 5.18), ou em situações que nos leve a tenta-lo
(Mt 4.5-7)”.
Quem é o autor da tentação? Qual o seu agente? O que a Bíblia diz a seu respeito?

II - O AGENTE DA TENTAÇÃO

Sentindo-se premido pelas dificuldades espirituais que, constantemente, entristecem os seguidores do Nazareno, Thomas De Witt Talmage endereça-lhe esta oração: “O Senhor, ajuda-nos a ouvir o guizo da serpente antes de sentir suas presas”. Que Satanás é o agente da tentação, não há o que se discutir; a própria Bíblia assim no-lo aponta: “Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio, para isto o Filho de Deus se manifestou para desfazer as obras do Diabo.” (1 Jo 3.8).= Vejamos, pois, como a Bíblia retrata o tentador.

1 - O tentador, O tentador, arquiinimigo de Deus e do homem, tem por oficio induzir o ser humano a práticas que contrariam as leis divinas. Nas Sagradas Escrituras, é Satanás o tentador por natureza; outra coisa não faz senão instigar-nos a nos revoltar contra o Senhor = (Mt 4.3; = 1 Ts 3.5).
Há teólogos que, desprezando a realidade do pecado, acabam por negar, conseqüentemente, a existência do Agente do Pecado.

Ora, se o Diabo não existe alguém está fazendo o seu trabalho. Aliás, faz parte de sua estratégia negar a própria existência; pois, assim, é-lhe possível enganar mais facilmente os incautos. Aos que lhe contestam a existência, fica esta advertência de Charles G. Finney: “Se você não crê na existência do Diabo, experimente resistir a ele por algum tempo”.

2 - Os nomes do tentador. Além de tentador, recebe o agente da tentação as seguintes alcunhas nas Sagradas Escrituras: Satanás que, em hebraico, significa adversário = (1 Cr 21.21; = 2 Co 2.11); Diabo que, em grego, quer dizer: caluniador = (Mt 4.1; = At 13.10); homicida, pai da mentira e acusador (Jo 8.44; Ap 12.10). Ele é conhecido também como o dragão e a antiga serpente = (Ap 12.9).
O tentador é alcunhado de Satanás por causa de sua sistemática oposição às obras divinas e à felicidade do ser humano.

Quando não consegue induzir o crente a pecar contra Deus, diverte-se em caluniá-lo diante do Senhor; por isso a Bíblia chama-o de Diabo. Se Cristo é o nosso advogado, o maligno apresenta-se ante o Tribunal de Deus como o nosso acusador. Ao levar Caim a matar Abel, ganhou o rótulo de primeiro homicida; ao engendrar inverdades acerca do Criador, passou a ser alcunhado de o pai da mentira. Devido a essas características todas, é visto como o dragão e a antiga serpente.

3 - O principal trabalho do tentador. Conforme já o dissemos, o trabalho que mais agrada ao inimigo de nossas almas é desviar-nos da disciplina da vida cristã. Ele sabe que temos “uma carreira para correr”; por isto, busca, de todas as formas, colocar-nos obstáculos no caminho para o céu = (Gl 5.7). Não foi o que ocorreu com os irmãos da Galâcia? Embora progredissem eles na carreira cristã, caíram no fascínio do adversário e, neste fascínio, acabaram por cair da graça = (Gl 5.4).
Tenta o Diabo até os maiores campeões de Deus. Haja vista Davi. O rei de Israel, seduzido pela beleza de um instante, viu-se constrangido a amargar horas de pena e de expiação. O Tentador nos acena com a vaidade humana, pois almeja roubar-nos a eternidade divina. Por isso, empenhemo-nos em guardar bem a nossa coroa para que ele não a roube. Tem você se precavido contra os ataques do adversário?

III - POR QUE O SER HUMANO É TENTADO

Em nosso jornadear espiritual, vemo-nos constrangidos a inquirir de nós mesmos: “Se eu aceitei a Cristo, por que sou, ainda, tentado?” Martinho Lutero parece ter encontrado a resposta: “Minhas tentações têm sido minhas mestras de teologia”. Não vêm elas, porém, atrapalhar-me nas disciplinas espirituais? Sem as tentações, convenhamos, não existiria disciplina alguma. Por isso, esforça-se o adversário, a fim de nos desviar das disciplinas espirituais; somente assim, haverá de seduzir-nos com os seus enleios.

1 - O ser humano é tentado por causa da transgressão de nossos primeiros pais. Se você ler reflexivamente o capítulo três de Gênesis, entenderá a teologia do pecado original. À semelhança de Adão, todos pecamos = (Sl 51.5); veio, entretanto, o Senhor Jesus, como o segundo Adão, redimir-nos da morte espiritual, proporcionando-nos um novo nascimento = (Jo 3.8). Estando nós, agora, em Cristo, tudo se nos fez novo = ( 2 co 5.17). Apesar das tentações, o Espírito fortalece-nos a que sigamos, rigorosamente, as disciplinas de uma autêntica vida cristã.
Apesar dos efeitos universais do pecado, temos condições de vencê-lo por meio da morte e ressurreição de Cristo Jesus. Adão deixou-se arrastar pela serpente no Jardim do Éden; Cristo, porém, venceu o dragão em pleno deserto, demonstrando que podemos (e devemos) ter uma vida reta diante de Deus e dos homens. Portanto, o pecado original já nenhum poder tem sobre os que recebem a Cristo; a graça que dimana da cruz é tanto curativa quanto preservativa. Se por um lado cura-nos do pecado; por outro, preserva-nos das ações daninhas deste.

2 - O ser humano é tentado por suas próprias concupiscências. Leia Tiago 1.14. Eis porque devemos vencer cada uma de nossas concupiscências: do mundo procedem e para o mundo convergem, causando a destruição de preciosas vidas ( 1 Jo 2.16).
O consolo é que podemos destruí-las pelo sangue do Cordeiro = (Gl 5.16).

Ainda que cercados de fraquezas, é-nos possível vencêlas se confiarmos na graça divina. Fragilizados como Adão e Eva? Eliminemos a concupiscência dos olhos. Assediados pela luxúria como Davi? Não há por que dar tréguas à concupiscência da carne.

Tentados pelo orgulho ou pelo humano poder, como o foi Salomão? Deitemos por terra a soberba da vida.
Crucificando-nos, a cada dia, na cruz de nosso Senhor, jamais seremos derrotados pelo vil tentador com todas as suas astúcias.

3 - Positivamente considerada, a tentação pode (e deve) impulsionar o santo a ser ainda mais santo.
Afirmou mui oportunamente Frederick P. Wood: “Tentação não é pecado; é o chamado para a batalha”. O Senhor Jesus, embora Deus, foi tentado, como homem, dando-nos o exemplo de que é possível destruir a tentação = (Mt 4.1; hb 2.18). Por conseguinte, não deve a tentação ser considerada uma oportunidade para pecar; é uma ocasião para que nos tornemos ainda mais santos. Quem é santo, santifique—se ainda. = (Ap 22.11).

IV - COMO VENCER A TENTAÇÃO

Ponderou alguém, certa feita: “São necessárias duas pessoas para fazer da tentação um sucesso; você é uma delas”. A outra, como todos o sabemos, é o adversário de nossas almas. De nada adianta, entretanto, pôr-lhe a culpa por nossas transgressões; por estas, apenas nós seremos responsabilizados = ( 2 Co 5.1O). Todavia, é possível vencer as tentações; os exemplos bíblicos não são poucos.

1 - Orando e vigiado. A advertência é do próprio Cristo: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” = (Mt 26.41). O piedoso E B. Meyer é enfático: “Cristo não irá guardar-nos se nos colocarmos descuidada e temerariamente no caminho da tentação”.

Tem você vigiado? Tem orado constantemente? Lembre-se: Não se pode brincar com o pecado; ele não é um brinquedo: é uma serpente prestes a dar o bote contra os incautos = (Gn 4.1).

Se orarmos e vigiarmos, jamais seremos vítimas das tentações. A oração aproxima-nos de Deus e passamos a contemplá-lo não como um criador distanciado de sua obra; começamos a adorá-lo como aquele que exige, de cada um de nós, uma vida santa e irrepreensível.

2 - Não dando lugar ao diabo. Em sua epístola aos efésios, admoesta o apóstolo: “Não deis lugar ao Diabo” (Ef 4.27). O que vem a significar esta admoestação? Willard Taylor, do Comentário Bíblico Beacon, é conclusivo: dar lugar ao Diabo é permitir que ele tenha liberdade para “semear atitudes erradas no espírito”.

3 - Andando em Espírito e não cumprindo as concupiscências da carne. Aos irmãos da Galácia, escreveu Paulo: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne” = (Gl 5.16). Quem anda no Espírito Santo, não cumpre as concupiscências da carne; e não as cumprindo, como haverá de ceder às tentações?
Enoque andou com Deus por mais de três séculos. Apesar de coevo de uma sociedade ímpia e sem regras, permissiva e iníqua, o patriarca manteve-se incorruptível e santo. Sendo ele um exemplo tão puro de vida, soube como instruir e conduzir a sua família de conformidade com os preceitos divinos. Enoque andava em Espírito e não cumpria as concupiscências da carne.

4. Guardando a Palavra de Deus no coração. O salmista, demonstrando quão temente era ao Senhor, professou-lhe: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” = (Sl 119.11). Em seu comentário do saltério hebraico, Charles Spurgeon assim interpreta este versículo: “A Palavra de Deus deve ser compreendida e retida no coração; ela tem de ocupar nossas afeições e entendimento”. “Nossa mente demanda ser impregnada pela Palavra de Deus. Somente assim não haveremos de pecar contra Ele”.
Você tem guardado a Palavra de Deus no coração? Tem perseverado nos caminhos do Senhor?

CONCLUSÃO

Se as tentações são fortes, temos abundantes promessas que nos asseguram: podemos resisti-las com a Palavra de Deus.
Veja quão consoladoras são estas palavras do autor da Epístola aos hebreus: “Porque, naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb 2.18).
Escreve Pedro: “Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos” = (2 Pe 2.9).
Por conseguinte, mantenhamos sempre a disciplina da vida cristã, evitando o pecado que tão de perto nos rodeia.

As Disciplinas da vida Cristã
Primeira Edição 2008
Claudionor de Andrade

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