ELISEU
E A ESCOLA DOS PROFETAS
TEXTO
ÁUREO = “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em
Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a
homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2.1,2).
VERDADE
PRÁTICA = A escola de profetas objetivava a transmissão dos valores
morais e espirituais que deus havia entregado a Israel através da sua Palavra.
LEITURA
BIBLICA = 2 Reis 6: 1-7
INTRODUÇÃO
Por diversas vezes vemos a expressão
“filhos dos profetas (hb. bene
ba-nabiim)” aparecer nos livros de 1
e 2 Reis. Observamos pelas
Escrituras que os filhos dos profetas
estavam radicados em locais como Betel, Jericó e Gilgal (1 Rs 20.35; 2 Rs
2.3,5,7,15; 4.1,38; 6.1). O contexto dessas passagens não deixa dúvidas de que
esta expressão pode ser entendida como sendo sinônimo para “Escola de
Profetas”.
Esse fato serve para nos mostrar que a
educação religiosa ou formal já recebia destaque no Antigo Israel. Deve ser
lembrado que essas escolas de profetas não tinham como propósito ensinar a
profetizar. Isso é uma atribuição divina. Todavia a Escola de Profetas é um
testemunho vivo de que o povo de Deus em um passado tão distante se preocupava
em passar às gerações posteriores sua herança cultural e espiritual.
Entender os princípios que fundamentavam
a Escola de Profetas é de suma importância para a Educação Cristã do século
XXI, pois através deles é possível fazer um contraste entre o ensino bíblico e
o paradigma educacional emergente.
E fato que o paradigma educacional da
cultura ocidental vem sofrendo mudanças radicais nos últimos anos. Esse fato
tem provocado o espanto de especialistas que demonstram preocupação diante dos
novos desafios impostos por essa reviravolta no mundo dos valores. Mas não é
somente a cultura secular que tem refletido os efeitos dessas mudanças de
valores na educação. A igreja evangélica como uma instituição formadora de
valores também espelha essas mudanças.
O que a igreja deve saber sobre esse novo
modelo ou paradigma educacional emergente e como agir diante dele? O que a
Escola de Profetas, liderada pelo profeta Eliseu, tem a nos ensinar? E a
pergunta que nos proporemos a responder aqui.
Antes de estudarmos a Escola de Profetas
como uma entidade dedicada à instrução religiosa, procurarei dar uma visão
panorâmica sobre o novo modelo educacional, também denominado de Paradigma
Educacional Emergente.
Os valores fundamentais da educação
Em seu livro Os Valores Fundamentais,
o teólogo e filósofo italiano Battista Mondin trouxe uma importante reflexão
sobre o valor da educação hodierna. Mondim observa que a escola é uma fábrica
de cultura e que para ela realizar essa função, deve ter em vista o cultivo do
homem, que ele destaca como sendo as exigências fundamentais de cada cultura.
São elas: simbólica, tecnológica, ética e
axiológica (porque quatro são os fundamentos da cultura: linguagem, costumes,
técnicas e valores). “A escola, como é conhecida e realizada hoje”, destaca
Mondim “atua ao máximo somente as duas primeiras tarefas, a simbólica e a
tecnológica. Provê a primeira com o estudo da língua, da escrita, da gramática,
da história, da geografia, do desenho, da literatura, das ciências, da
filosofia.
A segunda, com a aprendizagem do uso de
instrumentos e de máquinas. Ela deixa de lado (e nas escolas estatais parece
até que isso é dever) tudo o que é mais necessário para a determinação do
projeto-homem e de sua realização, isto é, as outras duas tarefas. Descubra,
antes de tudo, a tarefa axiológica que é a de fazer a criança, o jovem, conhecer
os valores absolutos, perenes, fazê-los conhecer e apreciar o valor absoluto,
ajudá-los a descobrir a vocação que o chama à realização de seu projeto, de seu
valor.
Consequentemente, deixa de ensinar aos
estudantes o caminho para realizar o próprio projeto de humanidade que é o
caminho da virtude.” Ele destaca que no campo dos valores a escola anda na
direção oposta daquilo que pretende uma instituição que é vista como uma
fábrica de cultura, isto é, como uma instituição que cuida da formação do homem
em sociedade. Para esse filósofo italiano, a escola age dessa forma quando: “Critica
e nega, sistemática e venenosamente, os valores absolutos, espirituais,
transcendentes, perenes e favorece nos jovens a máxima libertinagem, ensinando
um permissivismo completo. Assim, ela acaba por depauperar aquele tesouro
precioso de sentimentos e instintos que a natureza doa à criança, ao invés de
canalizá-la, como a água impetuosa de um rio para irrigar o terreno e torná-lo
fecundo, permite que escapem livremente e que se transformem (como no caso da
violência, da luxúria e da droga) em vícios que bloqueiam o caminho em direção
à realização daquele valor absoluto, daquele projeto de humanidade a que somos
chamados e destinados”.
Dizendo isso de uma outra forma: a
educação contemporânea com sua proposta de total rompimento com os valores
tradicionais herdados da cultura judaico-cristã, promove uma educação
secularizada onde não existem valores perenes ou absolutos nem tampouco a mais
tênue noção de verdade.
Em vez disso, há apenas “verdades”, e
valores relativos que devem ser ajustados ao comportamento do educando. Cada um
tem a sua verdade, já que não existem mais meta narrativas e a história perdeu
o seu sentido. A noção de certo e errado, verdade ou mentira, deixa de ser um
fenômeno universal para se ajustar à localidade de cada cultura. Cada cultura
tem a sua verdade e, portanto, a sua noção de valores ético-morais.
O relatório da UNESCO para a educação do século
XXI
A fim de avaliar o impacto desse novo
desafio que a educação do século XXI enfrenta, a UNESCO preparou um relatório
minucioso. O relatório que foi presidido pelo educador francês Jacques Delors,
aponta os desafios e os caminhos para o fenômeno educacional no mundo do século
XXI. A edição brasileira desse relatório foi apresentada pelo ex-ministro da
educação Paulo Renato.
Em sua fala, o ex-ministro destaca aquilo
que o Relatório Delors sintetiza sobre a realidade educacional global. Ele pôs
em evidência esse novo cenário para esse paradigma educacional emergente,
conforme demonstrado no Relatório Delors: “Existe hoje uma arena global na
qual, gostemos ou não, é até certo ponto jogado o destino de cada indivíduo.
[...] Apesar de uma promessa latente, a
emergência desse novo mundo, difícil de aprender e ainda mais difícil de
prever, está criando um clima de incertezas, para não dizer de apreensão, que
torna a busca de um enfoque verdadeiramente global para os problemas ainda mais
angustiantes.”
Observa-se que os educadores estão
conscientes e preocupados com os novos desafios que a cultura emergente impõe
sobre a educação. Da mesma forma a igreja como uma instituição social e
formadora de valores não deve fazer vista grossa para esses alertas.
Pressupostos apontados para a educação do século
XXI
O ministro da educação
indiano, Karan Singh, que também é um dos colaboradores do Relatório Delors,
apontou alguns pressupostos de uma filosofia holística para a educação do
século XXI.
Devemos ficar atentos a esses
pressupostos educacionais, pois serão eles que formarão a cultura das gerações
vindouras. De acordo com Singh:
1. O
planeta Terra que habitamos e de que todos somos cidadãos é uma entidade única, fervilhante de vida; a
espécie humana é, em ultima análise, uma grande família em que todos os membros
são solidários; as diferenças de raça e de religião, de nacionalidade e de
ideologia, de sexo e de preferências sexuais, de estatuto econômico social —
embora em si importantes — devem ser repostas no contexto mais geral desta
unidade fundamental.
2. O ódio
e o sectarismo, o fundamentalismo e o fanatismo, a inveja e o ciúme, entre pessoas, grupos
ou nações, são paixões destruidoras que é preciso vencer agora que nos achamos
no limiar de um novo século; o amor e a compaixão, a preocupação pelo outro e a
caridade, a amizade e a cooperação devem ser estimuladas, agora que a nossa
consciência desperta para a solidariedade planetária.
3. As
grandes religiões do mundo na luta pela supremacia devem parar de se combater e
cooperar para o bem da humanidade, a fim de reforçar, graças a um diálogo
permanente e criativo entre as diferentes confissões, o filão de ouro que são
as suas aspirações espirituais comuns, renunciando aos dogmas e anátemas que as
dividem.
4. A
educação holística deve ter em conta as múltiplas facetas, físicas, intelectuais,
estéticas, emocionais e espirituais da personalidade humana e tender, assim,
para a realização deste sonho eterno: um ser humano perfeitamente realizado
vivendo num mundo em harmonia.
Não há como negar que esses pressupostos
educacionais apontados por Singh refletem os princípios de uma educação
holística, mística e destituída na sua grande maioria dos valores cristãos.
Algo semelhante àquilo que Battista Mondim já havia criticado como princípios
que estão na contramão de uma educação verdadeiramente humanística. O
relatório, portanto, é bem intencionado, mas utópico na medida em que prega um
ecumenismo universal entre todos os povos e religiões. São esses vetores que
procuram nortear a educação secular contemporânea. Merece destaque que esses
mesmos pressupostos educacionais, vistos por uma outra perspectiva, são
defendidos por renomados educadores.
Em seu conceituado livro 0 Novo Paradigma
Educacional Emergente, a educadora Maria Cândida resume esse modelo
emergente como sendo:
1.
Construtivista
— o ser
humano está em constante processo de transformação diante de sua ação no mundo,
em sua relação constante com o objeto. Pensar é resultado de uma construção, da
ação do indivíduo sobre o objeto e da transformação desse objeto, que tem o
educando como centro gerador em processo constante de construção.
2.
Interacionista — sujeito e objeto estão
em constante interação de forma que um modifica o outro e modificam-se entre
si.
3.
Sociocultural— o homem é um ser
relacional que interage constantemente, através do diálogo, com seus pares e
com o mundo físico.
4.
Transcendente — isto quer dizer: ir
além, ultrapassar-se, superar-se. O homem é um devir a ser.
Essas são as tendências de uma nova
Paideia, de um novo modelo educacional emergente. Embora seja perceptível a
roupagem científica com que esse modelo está adornado, todavia é inegável que
ele é mais religioso do que científico. Mais espiritual do que racional. O
físico nuclear e adepto do misticismo oriental, Fritijof Capra, foi uma das
primeiras vozes pós-modernas na defesa desse novo paradigma. Capra afirma:
“Precisamos de um novo paradigma — uma
nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos,
percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência da
concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos
os campos e suscetíveis de dominar a década atual.”
No livro de minha autoria, intitulado Defendendo
o Verdadeiro Evangelho, mostrei as implicações que essa nova ciência tem
sobre os valores cristãos, em especial sobre a Educação. Mais uma vez
fiz uma análise das palavras de Fritjof Capra, principal guru dessa Nova
Era: “Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos
biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes.
Para descrever esse mundo
apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecológica que a visão
do mundo cartesiana não oferece” (O Ponto de Mutação — a
Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente p.14). Em outro texto, também de
sua autoria, ele diz: “Não existe nenhum organismo individual que viva
em isolamento.
Os animais dependem da fotossíntese das
plantas para terem atendidas as suas necessidades energéticas; as plantas
dependem do dióxido de carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado
pelas bactérias em suas raízes, e todos juntos, vegetais, animais e
microorganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições propícias à
perspectiva da vida (As Conexões Ocultas — a Ciência para uma
Vida Sustentável).
O lado espiritual e místico desse novo
paradigma fica claro em outro livro de Fritijof Capra, intitulado: 0 Tao da
Física — um paralelo entre a
Física Moderna e o
Misticismo Oriental.
Nessa obra, diz: “Há cinco anos,
experimentei algo de muito belo, que me levou a percorrer o caminho que
acabaria por resultar neste livro. Eu estava sentado na praia, ao cair de uma
tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o
ritmo de minha própria respiração. Nesse momento, subitamente, apercebi-me
intensamente do ambiente que me cercava: este se me assegurava como se
participasse de uma gigantesca dança cósmica (...) senti o seu ritmo e ouvi’o
seu som. Nesse momento, compreendi que se tratava da dança de Shiva, o deus dos
dançarinos, adorado pelos hindus.”
Desafios à educação contemporânea
É, pois, possível percebermos que o
conflito existente entre a cultura moderna, fundamentada no modelo cartesiano,
e a pós-moderna, fincada na física quântica e em princípios holísticos, está na
desconstrução dos valores tradicionais da educação que esta última produz. O
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos maiores analistas do impacto que a
cultura pós-moderna causa na educação contemporânea, escreveu sobre as
dimensões desse conflito:
“A história da educação conheceu muitos
momentos críticos nos quais ficava evidente que premissas e estratégias já
testadas e aparentemente confiáveis não davam mais conta da realidade e exigiam
revisões e reformas. Contudo, a crise atual parece ser diferente daquelas do
passado.
Os desafios do presente desferem duros
golpes contra a própria essência da ideia de educação, tal como ela se formou
nos primórdios da longa história da civilização: eles questionam as invariantes
dessa ideia, as características constitutivas da educação que resistiram a
todos os desafios passados e emergiram intactas de todas as crises anteriores;
os pressupostos que antes nunca haviam sido colocados em questão e menos ainda
encarados como se já tivessem cumprido sua missão e necessitassem de
substituição.
Vejamos, portanto, como esse sociólogo polonês
analisa esse novo paradigma educacional:
1. Um
produto descartável = Bauman chama a atenção que para esse modelo emergente de educação, a simples “ideia de
que a educação pode constituir em ‘produto’feito
para ser apropriado e conservado é desconcertante, e sem dúvida não depõe a favor da educação
institucionalizada”.
Bauman diz acertadamente que, visto desta
forma, a educação é um produto descartável, “um pacote de conhecimento criado
para usar e jogar fora.
A justificativa que os pais davam para
convencer os filhos a estudarem: aquilo que você aprendeu ninguém vai poder
tirar,’perde sua razão de ser.”
2. Uma
realidade instável = “Em todas as épocas”, observa Bauman, “o conhecimento foi avaliado com base em sua
capacidade de representar fielmente o
mundo. Mas como fazer quando o mundo muda de uma forma que desafia constantemente a verdade do saber
existente, pegando de
surpresa até os mais ‘bem-informados?’”
Ainda segundo ele, Werner Jaeger, que sem
dúvidas foi um dos maiores pesquisadores
e teóricos da Educação, destacava que os fundamentos da pedagogia e da
aprendizagem se fundamentavam em dois pressupostos básicos, quais sejam: a ordem
imutável do mundo e a natureza igualmente eterna das leis que governam a
natureza humana.
Bauman destaca que o “primeiro
pressuposto justificava a necessidade e os benefícios da transmissão do
conhecimento dos professores aos alunos.
O segundo infundia nos professores a
autoconfiança necessária para esculpir na personalidade dos alunos, como fazem
os escultores com o mármore, a forma que se presumia sempre justa, bela, boa e,
portanto, virtuosa e nobre”.
A
relação professor e aluno = Igualmente pertinente é o que Bauman chama de
cultura off-line e on-line:
“Para os jovens”, destaca Bauman, “a principal
atração do mundo virtual deriva da ausência de contradições e objetivos
contrastantes que infestam a vida off-line. O mundo on-line, ao
contrário de sua alternativa off-line, torna possível pensar na infinita
multiplicação de contatos como algo plausível e factível.
Isso acontece pelo enfraquecimento
dos laços — em nítido contraste com o mundo off-line, orientado para a
tentativa constante de reforçar os laços, limitando muito o número de
contatos e aprofundando cada um deles.
Depois dessa visão geral do novo
paradigma educacional emergente e suas implicações na cultura judaico-cristã,
voltemos, pois, à Escola de
Profetas para uma avaliação dos seus
fundamentos: Disseram os discípulos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em
que habitamos contigo é estreito demais para nós.
Vamos, pois, até ao Jordão, tomemos de
lá, cada um de nós uma viga, e construamos um lugar em que habitemos. Respondeu
ele: Ide. Disse um: Serve-te de ires com os teus servos. Ele tornou: Eu irei. E
foi com eles. Chegados ao Jordão, cortaram madeira.
Sucedeu que, enquanto um deles derribava
um tronco, o machado caiu na água; ele gritou e disse: Ai! Meu senhor! Porque
era emprestado. Perguntou o homem de Deus: Onde caiu? Mostrou-lhe ele o lugar.
Então, Eliseu cortou um pau, e lançou-o ali, e fez flutuar o ferro, e disse:
Levanta-o. Estendeu ele a mão e o tomou” (2 Rs 6.1-7)
Em primeiro lugar; a Escola de Profetas deve ser vista sob a perspectiva
institucional ou estrutural.
1.
Noção de organização e forma = O texto de 2 Reis 6.1, mostra o lado
institucional da Escola de Profeta.
Eles viviam em comunidade e, portanto, careciam de um espaço físico não somente para habitar, mas onde
pudessem ser instruídos:
“Disseram os discípulos dos profetas a Eliseu:
Eis que o lugar em que habitamos contigo
é estreito demais para nós. Vamos, pois, até ao Jordão, tomemos de lá, cada um
de nós uma viga, e construamos um lugar em que habitemos.
Observa-se nesse texto que a estrutura
acabou ficando inadequada e um espaço maior foi reclamado. Para que se tenha
uma educação de qualidade necessita-se de uma estrutura adequada. Não podemos
educar sem primeiro estruturar!
2.
Noção de organismo e função = Essa Escola de Profetas estava sob uma supervisão
e, portanto, possuíam um
líder espiritual que lhes dava orientação. Os estudiosos acreditam que as Escolas de Profetas surgiram
com Samuel (1 Sm 10.5,10;
19.20) e posteriormente se consolidou
com a monarquia nos ministérios de Elias e Eliseu. No texto de 2 Reis 6.1, verificamos que
esses discípulos dos profetas estavam
sob a orientação do profeta Eliseu e era com o profeta de Abel-meolá que eles buscavam instrução.
Eliseu não era apenas um homem com dons carismáticos capaz de prever o futuro ou operar milagres
poderosos, mas também um profeta que
possuía uma missão pedagógica. Nesse contexto a unção vem junto com a educação.
Em segundo lugar; a Escola de Profetas deve ser vista sob a perspectiva
teleológica, dos fins, dos objetivos.
1.
Treinamento = O
texto de 2 Reis 2.15,16, mostra que fazia parte desse treinamento trabalhar sob as ordens do
líder, obtendo assim permissão para
a execução de determinadas tarefas: “Vieram-lhe [os filhos dos profetas] ao encontro e se prostraram diante
dele em terra. E lhe
disseram: Eis que entre os teus servos há cinqüenta homens valentes; ora, deixa-os ir em procura do teu senhor; pode ser que o Espírito do S e
n h o r o tenha levado e lançado nalgum dos montes ou nalgum dos
vales. Porém ele respondeu:
Não os envieis.” Esse processo interativo
entre o líder e o liderado, entre o educador e o educando, é vital para a
produção do conhecimento. Em outras situações observamos que os filhos dos
profetas, quando já treinados, podiam agir por conta própria em determinadas
situações (1 Rs 20.35). O discipulado ocorre quando aquele que foi instruído é
capaz de repetir com outros o processo do seu aprendizado.
2.
Encorajamento = Os
expositores bíblicos observam que o profeta Eliseu não limitava o seu ministério à pregação
itinerante e à operação de milagres, mas
agia também como um supervisor de várias escolas de profetas nos seus dias. Nessas escolas ele fornecia
instrução e encorajamento aos
jovens que ali chegavam. O contexto dos livros de 1 e 2 Reis não deixam dúvidas de que esses dois profetas se preocupavam em transmitir à
geração mais nova aquilo que aprenderam
do Senhor. Nessas escolas, portanto, esses alunos eram encorajados a buscarem uma melhor compreensão da
Palavra de Deus. Não há
objetivo maior para um educador do que
encorajar o educando a buscar a excelência no ensino.
Em terceiro lugar; a Escola de Profetas deve ser vista sob a perspectiva
curricular, dos conteúdos.
1. A
Escritura = Quando
fazemos um acompanhamento do ministério do profeta Elias, vemos que a Palavra de Deus fazia parte do conteúdo ensinado nas Escolas de
Profetas. Eliseu recebeu essa herança.
Quando se encontrava no monte Sinai,
Elias se queixou que os israelitas haviam abandonado a Aliança com Deus,
destruíram os locais de cultos e exterminaram os profetas (1 Rs 19.10).
A Palavra de Deus, em especial o livro de
Deuteronômio, especificava que princípios e preceitos regiam a Aliança de Deus
com seu povo. A Palavra de Deus era essa aliança! Assim como Elias, Eliseu
também estava familiarizado com as implicações dessa Aliança. Era essa palavra
que ele ensinava aos seus discípulos. E essa palavra que devemos ensinar hoje.
2. A
Experiência = Tanto
Elias como Eliseu eram homens experientes e compartilhavam com os outros aquilo que haviam aprendido (2 Rs 2.15; 2.19-22; 4.1-7,42-44). No
entanto, no contexto bíblico, a experiência
não está acima da revelação de Deus conforme se encontra escrita na Bíblia. A Palavra de
Deus é quem julga a experiência e não
o contrário. Elias, por exemplo, afirmou que suas experiências tiveram como fundamento a
Palavra de Deus (1 Rs 18.36).
Os mais jovens devem ter a humildade de
aprender com os mais experientes e os mais experientes não devem desprezar os
saberes dos mais jovens. O aprendizado se dá através do processo de interação e
a experiência faz parte desse processo.
Em quarto lugar, a Escola de Profetas deve ser
vista sob a
perspectiva metodológica.
1.
Ensino através do exemplo = Os estudiosos estão de acordo que essas Escolas
de Profetas seguiam o
idealismo hebreu concernente à educação. Havia uma relação entre professor e aluno na comunidade onde viviam.
A educação acontecia também
na sua forma oral e o exemplo era um
desses métodos adotados no processo educativo. Não há como negar que Eliseu ensinava através do exemplo.
Há vários relatos sobre os milagres de Eliseu onde se percebe que o
aprendizado acontecia através
da observação das ações do profeta de
Abel-meolá. Geazi, moço de Eliseu, sabia que seu mestre era um exemplo
de honestidade. No Novo Testamento, Jesus Cristo se colocou como o exemplo
máximo a ser seguido e Paulo também se pôs como um modelo a ser imitado (Mt
9.9; 1 Co 11.1).
2.
Ensino através da palavra = Eliseu não deixou nada escrito. O que sabemos
dele é através do cronista
bíblico. Mas esse fato não significa que esse profeta não usasse a Palavra de Deus em sua vida devocional e também
como instrumento de instrução
na Escola de Profetas. A forma como esses
homens julgavam o comportamento dos reis, aprovando-os ou reprovando-os não deixa dúvidas de que eles usam a
Palavra de Deus escrita para
discipular seus alunos. Eliseu, por exemplo, mediu a iniquidade de Acabe através da piedade de Josafá.
Acabe
era um rei mal por que não andava conforme a Palavra de Deus enquanto Josafá era estimado
por fazer o caminho inverso.
Observamos através do ministério do
profeta Eliseu que os filhos dos profetas pertenciam a uma escola dedicada ao
ensino formal. Ali era ensinado a Palavra de Deus tanto na sua forma oral como
escrita.
Esse fato é por si só de grande
relevância para nós porque demonstra a preocupação desse homem de Deus em
passar a outros o conhecimento correto sobre Deus.
Os tempos mudam e a cultura também. Hoje
sabemos que a educação secular possui grande importância e infelizmente para
muitos é a única forma de educação existente. Não podemos negligenciar a
educação humanista, mas não podemos de forma alguma perder de vista a dimensão
espiritual do conhecimento.
Um ensino fundamentado na Bíblia, mesmo
sem se tornar místico, atende aos propósitos de uma educação humanitária,
conforme pretendido pelos educadores da UNESCO, que são:
1.
Aprender a conhecer — aprender a conhecer é
algo que se refere não somente à aquisição de conhecimento, mas também à forma
como o indivíduo lida com o conhecimento no desenvolvimento do seu cotidiano.
2.
Aprender a fazer —
as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples
transmissão de práticas mais ou menos rotineiras.
3.
Aprender a conviver —
Num primeiro nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao
lado dc toda a vida, a participação em projetos comuns. O outro aqui não se
limita apenas ao indivíduo, mas a outros povos também.
4.
Aprender a ser
— um
sujeito capaz de tomar decisões na vida, dirigido por valores próprios e de
maneira crítica.
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
BIBLIOGRAFIA
1 - MONDIN, Battista. Os
Valores Fundamentais. Ed. Edusc, 2005.
2 - MONDIN, Battista. idem.
3 - DELORS, Jacques. Educação: um
tesouros a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre
Educação para o século XXI. Editora Cortez/UNESCO/MEC. 10a Edição, 2006.
4 - SOUZA, Paulo Renato. Educação:
um tesouro a descobrir. Ed. Cortez, 10a edição, 2006.
5 - Veja um estudo mais aprofundado sobre
o assunto no livro de Jacques Delors: A Educação para o Século XXI:
questões e perspectivas. Editora Artmed, Porto Alegre, 2005.
6 - Educação: um tesouro a descobrir.
7 - MORAES, Maria Cândida. O Novo
Paradigma Educacional Emergente. Editora Papirus.
8 - CAPRA, Fritijof. O
Ponto de Mutação - A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. Editora
Cultrix , 1999.
9 - GONÇALVES, José. Defendendo
o Verdadeiro Evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
10 - CAPRA, Fritjof. O Tao
da Física: um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. Ed
Cultrix.
11 - BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo
Parasitário.ed. Jorge Zahar.
12 - JAERGER, Werner. Paideia:
a formação do homem grego. Editora Martins Fontes.
13 - BAUMAN, Zygmunt. Capitalismo
Parasitário. Idem.
14 - DELORS, Jacques. Educação:
Um Tesouro a Descobrir. Op. cit.
15 - Livro Porção Dobrada - Casa
Publicadora das Assembleias de Deus - José Gonçalves – 2012
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