A ATUALIDADE DOS CONSELHOS PAULINOS – Ev. José Costa Junior
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
O
assunto desta lição diz respeito à atualidade dos conselhos paulinos. Talvez a
melhor introdução a este tema bíblico seja outra epístola que Paulo escreveu —
a carta aos Gálatas. Negativamente falando, seu propósito maior nessa epístola
foi lidar com o que ele chamou de "outro evangelho" — “o qual, disse ele, não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o
evangelho de Cristo" (Gl 1: 6,7). No lado positivo, o maior
interesse de Paulo era reafirmar nas mentes dos Gálatas qual era o verdadeiro
evangelho.
Qual
era a diferença? Como podemos distinguir entre os dois? Como é que se reconhece
um evangelho falso— uma religião falsa comparada com o evangelho verdadeiro de
Cristo?
Em
resumo, Paulo responde a estas perguntas em uma breve seção da carta aos
Filipenses. Obviamente, como indicam os parágrafos anteriores desta epístola,
os cristãos Filipenses não estavam tendo o mesmo problema dos gálatas. Mas, na
opinião de Paulo, estar prevenido é estar armado de antemão. Assim, ele preveniu
estes cristãos a que também estivessem em guarda.
Como
cristãos, devemos ser participantes no evangelho, unidos pelo evangelho e viver
pelo evangelho. Devemos por de lado ambições egoístas e disputas
insignificantes para preservar a nossa harmonia, para que possamos nos unir em
volta de nossa mensagem e propósito únicos, e para que possamos efetivamente
apresentar o direto e inflexível evangelho a essa geração desonesta e sem
moral.
Contudo
temos que tentar manter a harmonia em nossa comunidade a todo custo, porque o
único fundamento sério para a unidade é uma teologia bíblica comum. Temos que
por de lado nossas diferenças pessoais pelo bem do evangelho sem ignorar as nossas
diferenças teológicas. Se não existe unidade teológica, então não há verdadeira
unidade. Por outro lado, se a teologia que afirmamos não é consistente e
compreensivelmente bíblica, então qualquer unidade à sua volta é ilusória e
inútil. Teologia é a coisa mais importante em uma comunidade, porque é a
teologia que define a comunidade e seu propósito, em primeiro lugar. No Jornal
Mensageiro da Paz/CPAD, Nº 1515, Agosto/2011, p 6., está registrado o credo
religioso da Assembléia de Deus no Brasil, onde na crença dessas afirmações
teológicas, nos identificamos como comunidade evangélica.
Portanto,
além de praticar a abnegação para preservar a unidade da nossa comunidade em
volta de uma teologia bíblica, devemos guardar a nossa teologia contra a
corrupção, para que os próprios alicerces da nossa comunidade não sejam
destruídos. A falsa doutrina pode se espalhar como gangrena se for deixada sem
controle (II Tm 2:17), como “um pouco de fermento leveda toda a massa”
(Gl 5:9). Os líderes da igreja devem prevenir a corrupção doutrinária ensinando
regularmente a doutrina bíblica ao povo, e repetidamente alertando-os quanto à
falsa doutrina. Isso sumariza seus deveres primários.
Mas uma vez que os líderes da igreja
identificarem a intrusão de falsa doutrina na comunidade, e se a persuasão com
gentileza falhar em corrigir isso, então eles devem repreender duramente os
transgressores na esperança de que eles possam retomar a saúde na doutrina e
prática (Tt 1:13). Se os transgressores se recusarem ao arrependimento, então
os líderes têm que removê-los da comunidade da igreja (ITm 1:20). As Escrituras
condenam como cúmplices aqueles que receberem ou apoiarem hereges.
Paulo
não diz que hereges são meramente aqueles com uma “perspectiva diferente”, nem
ele fala alguma coisa absurda como Deus revelar verdades a pessoas de
diferentes persuasões religiosas, de forma que nosso entendimento total
aumentaria se simplesmente nos uníssemos numa troca e diálogo amigáveis. Ele
não diz que deveríamos ser “mente aberta e tolerantes”, ou que deveríamos
“celebrar a diversidade”. Ele não fala essas coisas! Antes, aqueles que se opõe
ao verdadeiro evangelho são cães, e sobre esse grupo de hereges em particular,
com referência a circuncisão, ele escreve: “Quanto a esses que os perturbam,
quem dera que se castrassem” (Gl 5:12).
O
objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da
literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do sobre a
atualidade dos conselhos paulinos. Não há nenhuma pretensão de esgotar o
assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns
elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.
A
ALEGRIA DO SENHOR
Paulo, ao escrever os pequenos quatro capítulos de uma
carta aos filipenses, usou 16 vezes a palavra “alegria” com o sentido de
“regozijo”. Isto deve nos impressionar, porque aponta para a alegria como lugar
de importância espiritual na vida cristã. Compreender a origem dessa alegria e
a forma como ela se manifesta em nossa vida, é um importante destaque para
hoje. Pelo viver alegre, identificamos a autenticidade da nossa fé em Jesus.
Importante,
então, é buscar o sentido dessa palavra. Não estamos falando do que conhecemos
por felicidade, mas sim de algo que brota do nosso interior e que não se deixa
abalar por circunstância alguma. Um exemplo para nos ajudar é olhar para o que
acontece lá no fundo do mar. Mesmo que haja tempestades na superfície, enormes
ondas a balançar as embarcações, se um mergulhador descer alguns metros vai
encontrar águas calmas, peixes se alimentando e a vegetação em crescimento. Na
superfície, tumulto. Nas profundezas, paz. Assim é a alegria que Jesus nos
prometeu e que brota do relacionamento com Ele.
“Finalmente,
meus irmãos, alegrem-se no Senhor” (Fp 3:1), conselho que se estende a
todos os leitores da epístola, ou seja, a nós. Como fazer para identificar esta
alegria, que nos foi concedida juntamente com a presença do Espírito Santo?
Vamos apontar algumas idéias, sem a pretensão de esgotar o assunto. Cada um
pode e deve aumentar esta lista e compartilhá-la com aqueles que o cercam.
Em
primeiro lugar, a alegria brota quando nos libertamos da idéia de que temos que
ter alguma coisa ou fazer alguma coisa para obtê-la. Vejamos o exemplo do
apóstolo Paulo, que ainda estava rodeado de judeus que defendiam a idéia de que
era necessário à circuncisão para complemento da salvação. Paulo, nesta carta,
identificou uma série de elementos que ele possuía e que não eram essenciais à
vida cristã. “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo” (Fp 3:7)
Em segundo lugar, se quisermos ser
alegres devemos ser “achados” em Cristo. Em 3:9 lemos: “e ser achado nEle, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão
a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”.
Para explicar bem este ponto, que “é o
cerne da doutrina paulina de salvação em Cristo”, o Dr. Russell Shedd nos
traz uma boa ilustração. Um mendigo, certa vez, quando perambulava na margem de
um rio, caiu na água profunda. Passava por ali um homem que, ao vê-lo naquela
situação de perigo, largou seus pertences de lado e salvou-lhe a vida. O
mendigo, alcoolizado, tentava agradecer àquele homem com palavras de “muito
obrigado” e coisa semelhante. O homem buscou um cartão onde havia seu endereço
e disse ao ainda alcoolizado: se precisar de alguma coisa, dirija-se a este
endereço. Cessado o efeito do álcool, o mendigo sentiu muita fome.
Procurou por comida, sem êxito, mas,
ao revirar o bolso para ver se encontrava dinheiro, segurou o cartão recebido.
Olhou o endereço e em pouco tempo estava diante de uma enorme e linda casa.
Tocou a campainha e um empregado o recebeu, com um sorriso. Entrou e, ainda
deslumbrado com o que o rodeava, encontrou o homem que havia caído no rio para
salvá-lo. O homem estendeu-lhe a mão e, com um sorriso, disse: você deve estar
querendo um café. Providenciou uma farta refeição, ofereceu-lhe roupas limpas,
banheiro para uma higiene perfumada e, em seguida, falou: se você quiser ficar
algum tempo aqui, pode usar o quarto de hóspedes. Que maravilha! Uma pessoa que
nunca havia possuído uma casa, de repente se encontra com todo aquele conforto.
Havia mais: o anfitrião sempre tinha tempo para conversar com ele, parecia
nunca ter pressa. Passavam muito tempo trocando idéias, simplesmente tendo
comunhão.
Com
todo este apoio, o ex-mendigo se recuperou dos vícios e desejou trabalhar. Um
dia, alguém se aproximou dele e quis saber o que ele fazia naquela linda casa.
A resposta foi: estou conhecendo aquele
que me salvou a vida. Nesta resposta está o ponto que Paulo quis que
soubéssemos. Um dia, Jesus nos salvou a vida. Se você ainda não sabe do que
estou falando, refiro-me ao dia em que, ao reconhecer em Jesus Cristo o próprio
Deus, o convidei a ocupar a minha vida e a me levar a Deus. Pois bem, nesse dia
Jesus veio a ser o nosso salvador, aquele que arrancou de mim a impossibilidade
de ver a Deus; assim como a história do mendigo, foi o momento quando o homem
que passava o tirou da morte no rio.
No
entanto, se quiser ter alegria,
preciso conhecer meu salvador. Ele também tem todo o tempo para estar ao meu
lado, para nos ajudar nesse processo de comunhão. Quanto mais nós O
conhecermos, mais desfrutaremos da alegria plena, seremos vitoriosos nas lutas
e não nos envolveremos com uma religiosidade aparente ou falsa.
A TRÍPLICE ADVERTÊNCIA CONTRA OS INIMIGOS
Paulo parece iniciar este parágrafo com um tom de algo final,
como se ele estivesse prestes a encerrar a carta com uma última exortação
positiva de regozijo no Senhor. O Espírito Santo, porém (como obviamente fez em
outras ocasiões em que Paulo escreveu), parece ter levado Paulo a explicar algo
que, evidentemente, ele havia escrito antes aos Filipenses. Ele sentiu-se guiado
a preveni-los contra falsos mestres que pregavam "outro evangelho".
Ele o fez comparando o falso com o verdadeiro.
Ele falou muito diretamente aos seus companheiros cristãos
que se estavam deixando enganar pelos falsos mestres (veja Gl 3:1). Tal fato
não refletia "falta de amor", mas era evidência do quanto ele
realmente os amava. O verdadeiro teste do amor é se as pessoas nos deterão ou
não quando nos encontramos seguindo na direção errada. Por vezes são
necessárias palavras fortes, como as que todo pai conhece, para que as pessoas
saibam o que está sendo dito e reconheçam quão sério é o problema.
Em essência, Paulo escreveu que os falsos mestres têm o homem
como centro de sua filosofia religiosa. Ele usou linguagem forte para
descrevê-los: chamou-os de "cães", "maus obreiros", e
"falsa circuncisão".
Estes termos descritivos um tanto duros podem chocar o
leitor! Porém refletem a angústia e a infelicidade de Paulo com homens que
deliberadamente levavam o povo para longe do caminho certo. Seu amor profundo e
leal à seus companheiros cristãos muitas vezes o levava a falar contra
indivíduos que pregavam um "evangelho falso", por motivos egoístas.
Há várias possibilidades quanto ao porquê de ele ter usado a
palavra cães. É assim que os judeus
auto-justificados chamam aos gentios. Uma vez que Paulo, nesse momento, falava
a respeito de judeus, talvez ele estivesse "invertendo as posições".
Lembre-se que Paulo era judeu, e como acontece com cada grupo étnico, "é
preciso ser um deles para reconhecê-los".
Ou, talvez Paulo deixasse subentendido que homens que desviam
o povo em assuntos religiosos não são mais sensíveis do que animais egoístas
que andam ao redor devorando outros. Repito, talvez ele estivesse relacionando
o conceito de "cães" mais especificamente com a frase "falsa
circuncisão" — homens que, literalmente,
gostavam de dilacerar a carne humana através de uma perversão do rito da
circuncisão. O uso que Paulo faz das palavras aqui no original é altamente
significativo. R. P. Martin ressalta que o apóstolo refere-se "à prática
da circuncisão; mas Paulo não lhe dá o nome adequado 'perítome'. Antes, usando um jogo de palavras, ele a chama de um
mero corte. 'katatome', isto é
mutilação do corpo semelhante às práticas pagãs de Lv 21:5. A mesma ironia é
aplicada aos judaizantes em Gálatas v. 12, onde 'apo-kopteiri “cortar” refere-se ao seu interesse no ato físico da
circuncisão, e ironicamente significa também 'castrar'. O nome verdadeiro 'perítome' é reservado para os cristãos
que são da verdadeira circuncisão."
Seja o que for que Paulo quis dizer especificamente, uma
coisa é clara: ele estava muito desgostoso com os que deliberadamente pregavam
um falso evangelho. Tão forte era seu sentimento a esse respeito que, quando
ele escreveu aos gálatas, pronunciou juízo eterno sobre todos os que
praticassem tal coisa, inclusive sobre si mesmo e também sobre seres
espirituais: "Mas ainda que nós, ou
mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos
pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos
prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema" (Gl
1:8, 9).
Em resumo, os falsos mestres podiam ser reconhecidos pelo
fato de apresentarem uma salvação centralizada
no homem. Este é um sistema de obras: o que o homem faz para herdar a vida
eterna está no centro de sua mensagem. Para esclarecer isto, Paulo disse como
reconhecer os que têm a verdadeira mensagem de Cristo.
A VERDADEIRA CIRCUNCISÃO CRISTÃ
Em Fp 3:3, Paulo falava da verdadeira circuncisão. "Porque
nós1', escreveu ele, "é que somos a circuncisão."
Por que é isto verdadeiro? Por que essa linguagem? Paulo deu
três razões. Primeiro os da verdadeira circuncisão "adoram a Deus no
Espírito", não mediante um rito humano. Paulo lembrou aos romanos que judeu
não era um verdadeiro judeu se o fosse "apenas exteriormente". Pelo
contrário, disse ele, "judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão
a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede
dos homens, mas de Deus" (Rm 2:28,29). Em outras palavras, Deus não
reconheceria a validade do ato da circuncisão, até mesmo no Antigo Testamento,
a menos que esse ato refletisse uma realidade interior e sacrifício do coração.
Segundo, os da verdadeira circuncisão gloriam-se "em Cristo
Jesus" e não nas realizações humanas. O evangelho falso diz que o homem
pode salvar-se pelo que faz; o verdadeiro
evangelho ensina que o homem é salvo apenas pelo que Deus já fez mediante Jesus.
Em outra ocasião Paulo tomou este ponto claro: "Porque pela graça sois salvos, mediante a
fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se
glorie" (Ef 2:8, 9).
Terceiro os da verdadeira circuncisão não confiam "na
carne". Novamente Paulo acentua a verdade de que a salvação é pela graça,
mediante a fé. Nada que o homem possa fazer salvará sua alma. Soma alguma de
rituais, conformidades externas ou atividades humanas podem tomar o homem bom o
suficiente para chegar à presença de Deus como uma pessoa justificada.
Estas, portanto, são as marcas da "verdadeira
circuncisão" — circuncisão do coração. Paulo disse que os da verdadeira
circuncisão podem ser reconhecidos por pregarem este tipo de evangelho — o
evangelho que tem Cristo como o centro.
Não apresentam uma fórmula humana para a salvação, antes, uma
fórmula divina— "que Deus estava em
Cristo, reconciliando consigo o mundo" (II Co 5:19). O homem não ousa
nem pode receber o crédito por sua salvação. Antes, ele deve desistir de toda
honra e glória entregando-as a Jesus Cristo. E que melhor fonte de verificação
desta verdade do que o próprio Paulo?
Enquanto Paulo escrevia este parágrafo, ele parecia dizer:
"Se vocês desejam um bom exemplo da perspectiva da religião centralizada
no homem, olhem para mim! Com efeito, desafio a qualquer pessoa a medir-se
comigo — tanto em herança quanto em realizações!". "Circuncidado ao oitavo dia", pois
antes que ele pudesse fazer algo por si mesmo, seus pais haviam cumprido a
letra da lei (Lv 12:3). Além disso, disse ele, sou "da linhagem de Israel". Ele não era prosélito, não era
convertido ao Judaísmo; ele fazia parte da raça escolhida por nascimento. Mais
ainda: ele pertencia à "tribo de
Benjamim" — a tribo que era altamente respeitada em Israel por causa
de sua inusitada fidelidade à lei de Deus. O primeiro rei de Israel, Saul,
também foi benjamita.
"Tudo isso",
disse Paulo, "é meu por herança."
Ele nada havia feito para merecê-lo. Ele simplesmente recebeu esta posição pelo
fato de ter nascido numa raça e família religiosas. Paulo não era um hebreu comum,
mas "hebreu de hebreus".
Ele havia dado o duro para chegar a ser um afamado erudito, um homem de letras
e de alta cultura. Ele falava hebraico e aramaico, um sinal de distinção em
Israel. Como o benjamita chamado Saul, que fisicamente se sobressaía acima de
seus contemporâneos, Saulo de Tarso (embora de pequena estatura, sem dúvida)
tinha proeminência sobre seus pares na estatura religiosa. Além disso, Paulo
era fariseu, o que representava a seita mais conservadora do Judaísmo. Sob
Gamaliel, renomado mestre, Paulo aprendera os detalhes da lei de Moisés,
juntamente com as tradições que foram acrescentadas com o correr dos anos.
A prova da dedicação de Paulo à vida farisaica e prática era
sua atitude para com os cristãos. Ele se tornou um perseguidor ativo dos que
criam em Cristo. Em outra ocasião ele escreveu: "Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como
sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava" (Gl 1:13).
Finalmente, Paulo termina sua impressionante lista de realizações
com o que todo judeu sério buscava — "justiça
legalista". Eu era "irrepreensível",
escreveu ele. O que se esperava dele, ele o fazia. Pela avaliação do homem, ele
havia atingido o ideal.
Assim Paulo podia gabar-se, como nenhum outro judeu, de sua
herança religiosa e de suas realizações. Se o homem pudesse ser salvo pelas
obras, ele o tinha alcançado. Ele havia feito tudo!
Mas Paulo teve um rude despertar. No caminho de Damasco, para
onde ia com o fim de lançar os cristãos na cadeia, encontrou-se com o Senhor
Jesus Cristo, aquele a quem estava perseguindo (At 9:1-6). De súbito,
miraculosamente e para sua vergonha, ele descobre que tudo o que antes havia
feito não o tinha levado para mais perto de Deus ou do céu. Essa descoberta
mudou o rumo de sua vida, tanto na terra como eternamente.
Quando Paulo se converteu, sua experiência religiosa e
mensagem passaram da centralização no homem para a centralização em Cristo. Com
efeito, neste parágrafo final ele menciona a Jesus Cristo cinco vezes para
descrever seu relacionamento com Deus; no parágrafo anterior ele falou somente
de sua herança e de suas realizações.
Ao concluir esta seção de sua carta, Paulo avalia a experiência passada, e
descreve sua nova fonte de justiça. Finalmente afirma seus objetivos como cristão.
Paulo avaliou sua herança religiosa e suas realizações com
uma linguagem fortemente negativa. Para ele tudo fora uma perda total. Ele considerava toda a sua herança e todas as suas
realizações "como perda" (3:8).
Paulo disse isto não por ter sido a maioria das coisas más em
si mesmas, mas porque impediam seu relacionamento pessoal com Deus. Além disso,
sua experiência do conhecimento de Cristo era tão maior e tão mais
significativa que ele estava disposto a desistir de tudo, sua cidadania, seu status,
seus amigos e sua riqueza por esta nova experiência. Ele o disse em termos
decisivos: "Considero tudo como
perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Jesus Cristo meu Senhor"
(3:8). Mas havia outro fator que levou Paulo a usar uma linguagem assim tão
negativa para descrever sua experiência passada. Seu zelo contra os cristãos
havia sido tão ardente que ele disse e fez coisas que lhe assolaram a memória
até ao dia em que morreu. Ele jamais se esqueceu de suas terríveis atitudes e
procedimento para com os cristãos. Assim, escrevendo aos coríntios, ele disse:
"Porque eu sou o menor dos
apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a
igreja de Deus" (ICo 15:9). Embora seus pecados tivessem sido
totalmente perdoados, as cicatrizes emocionais jamais foram apagadas.
Quando Paulo se converteu, descobriu uma nova fonte de
justiça, não a justiça "que procede
da lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus,
baseada na fé" (Fp 3:9). Esta, é claro, era a verdadeira justiça
porque, disse Paulo ao escrever aos Gálatas "por obras da lei ninguém será justificado" (Gl 2:16).
Antes de se encontrar pessoalmente com Jesus Cristo, Paulo
era um homem perdido. Sua circuncisão não tinha valor; não passava de um ritual.
Ser membro da raça escolhida não o tomava membro da família de Deus. Ser
benjamita e hebreu de destaque representava apenas uma posição social e não
espiritual. Seu grande conhecimento da lei apenas o tomava mais cônscio do
pecado e do conflito interior que lhe devastavam a alma (Rm 7:7-13).
A "justiça legal" de Paulo era como "trapos da
imundícia" na presença de Deus (Is 64:6). Mas agora Paulo podia
reivindicar com confiança uma justiça
verdadeira — a que vinha da fé separada das obras. Pela primeira vez na
vida, depois de todas as suas realizações religiosas, ele percebe que todos os
homens — tanto nos dias do Antigo Testamento, como nos do Novo — eram
justificados pela fé e não pelas obras da lei (Rm 4:1-8).
CONCLUSÃO
A experiência de Paulo com a religião centralizada no homem representa milhões de pessoas hoje
em dia que diligentemente procuram tornar-se dignas do céu. O esforço humano,
fazer algo para merecer o céu, é uma característica de todas as religiões e
seitas não cristãs. Desde o Hinduísmo, Budismo, e Islamismo à Ciência Cristã,
Mormonismo, Armstronguismo e Russelismo (Testemunhas de Jeová), todos possuem uma coisa em comum:
salvação baseada primeiramente nas obras.
Há também os que se envolvem com várias formas de
Cristianismo histórico e que confiam nas obras para a salvação. Como Paulo,
antes de sua conversão, baseiam a salvação na herança religiosa e nas
realizações. Se lhes perguntássemos se são crentes, poderiam dizer: "É
claro que sou crente! Fui batizado na igreja." Ou: "Nasci em um lar
cristão; sempre fui cristão."
Do ponto de vista da realização, poderiam dizer: "É
claro que sou bom crente. Vou à igreja todos os domingos." Ou: "Leio
a Bíblia e oro todos os dias." Ou: "Ninguém é perfeito, mas guardo os
Dez Mandamentos da melhor maneira que posso." Ou: "Dou 10% do meu
dinheiro para a igreja."
Em geral, estas práticas são boas e corretas. O crente deve ler a Bíblia e orar. Deve dar seu dinheiro para a obra de
Deus, conforme sua prosperidade. Deve ir
à igreja e aprender da Palavra de Deus e da comunhão com outros crentes. Ele deve ser batizado, não para a salvação,
mas para demonstrar aos outros sua experiência de conversão. Infelizmente,
porém, muitos confiam que estas coisas hão de levá-los ao céu. Há apenas um
caminho para o céu: crer em Jesus Cristo e recebê-lo como Salvador pessoal (At
16:31; Jo 1:12).
Concluindo, espero em DEUS ter
contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino
e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes
assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.
Ev. José Costa Junior
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