Moisés — Sua
liderança e seus auxiliares
Ev. JOSÉ
COSTA JUNIOR
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
Recaía sobre os ombros de Moisés a
tarefa de organizar uma multidão tão grande e julgar o povo mesmo nas coisas
insignificantes que surgiam entre eles a cada momento. Entre as tribos semitas
nômades, o líder era também o legislador e o árbitro das disputas. Ele
procurava fazer tudo não repartindo os trabalhos e responsabilidades entre
diversas pessoas. Quando seu sogro Jetro o visitou, trazendo-lhe sua esposa e
filhos, Moisés recebeu seu conselho, apesar de apresentar a Jetro duas boas
razões por que ele resolvia sozinho todos os casos. Primeira, o povo requeria
decisão que pudessem confiar ser a resposta do próprio Deus. Segunda, além de
resolver a disputa imediata, ele podia usar o caso como base para transmitir
princípios morais, estatutos, bem como leis específicas que diziam respeito a
circunstâncias especiais.
Jetro
oferece sua solução para o problema. Em primeiro lugar, Moisés devia continuar
a agir claramente como representante de Deus para com o povo, ensinando-os os
princípios dados por Deus, pelos quais os muitos casos detalhados poderiam
ficar decididos, e levando todos os casos especialmente difíceis diretamente a
Deus (conf. Nm 9.6-8). Porém o trabalho poderia ser aliviado se fossem nomeados
oficiais legais que ouvissem separadamente as disputas, segundo o grau de
gravidade dos casos.
A
qualificação para os sub-juízes é que eles deveriam preocupar-se exclusivamente
com a aprovação de Deus, e não do homem (conf. Êx 1.17), que fossem cândidos em
seus vereditos, e que não se encurvassem aos subornos. No versículo 23 Jetro
submete seu próprio conselho à aprovação final da orientação de Deus. Não
somente aquele plano aliviaria Moisés, mas o povo retornaria satisfeito para
suas tendas, sempre que tivessem trazido algum caso perante os oficiais locais.
Após o conselho, Moisés organizou Israel em grupos e colocou chefes sobre estes
para resolver as dificuldades. Parece que Moisés demonstrou grande sabedoria e
humildade ao receber as sugestões de outros.
Há
indícios que nesta ocasião Jetro se converteu à religião do Senhor. Ao ouvir
falar dos prodígios que o Senhor havia feito, Jetro reconheceu que Deus era
supremo sobre os deuses pagãos e lhe ofereceu sacrifício (18:8-12). Ross
comenta: "Lembremo-nos de que um dos propósitos das pragas foi fazer que
Faraó e todas as nações reconhe¬cessem que o Senhor é Deus." Aqui se
observa entre os gentios algo das primícias resultantes dos juízos sobre o
Egito.
O objetivo deste estudo é trazer
algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade
de ampliar a visão sobre o assunto em tela. Extraídos dos comentários de
Charles H. Mackintosh (1820 - 1896), os comentários desta lição focam em outra
abordagem, diferente da abordagem do comentarista. Não há nenhuma pretensão de
esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD
alguns elementos, pontos de vista e ferramentas que poderão enriquecer sua
aula.
I. O
TRABALHO DO SENHOR E OS SEUS OBREIROS
Desde
o versículo 13 até ao fim do capítulo fala-se da nomeação de chefes para
ajudarem Moisés na administração dos negócios da congregação. Isto foi feito
por sugestão de Jetro, que temia que Moisés desfalecesse totalmente em
consequência do seu trabalho. Em relação com este fato, pode ser útil considerar
a nomeação dos setenta anciãos em Números, Capítulo 11. Vemos ali o espírito de
Moisés esmagado sob o peso da responsabilidade que pesava sobre si, e dá lugar
à angústia do seu coração nas seguintes palavras: "Por que fizeste mal a
teu servo, e por que não achei graça aos teus olhos, que pusesses sobre mim a
carga de todo este povo?- Concebi eu, porventura, todo este povo?- Gerei-o eu,
para que me dissesses que o levasse ao colo, como o aio leva o que cria, à
terra que juraste a seus pais. Eu sozinho não posso levar a todo este povo, por
que muito pesado é para mim. E, se assim fazes comigo, mata-me, eu te peço, se
tenho achado graça aos teus olhos; e não me deixes ver o meu mal" (Nm
1:11-15).
Em
todo este caso vemos como Moisés se retira de um lugar de honra. Se aprouve a
Deus fazer dele o único instrumento da administração da Assembleia, isso foi
para ele uma maior honra e um alto privilégio. É verdade que era uma grande
responsabilidade; porém a fé teria reconhecido que Deus era amplamente
suficiente para tudo. Todavia, Moisés perde o ânimo (servo abençoado como era)
e diz, "eu sozinho não posso levar todo este povo, porque muito pesado é
para mim. Mas ele não fora incumbido de levar todo o povo sozinho, porque Deus
estava consigo.
O
povo não era demasiado pesado para Deus; era Ele que os suportava. Moisés era
apenas o instrumento. Da mesma forma poderia ter dito que a sua vara levava o
povo, porque o que era ele senão um simples instrumento nas mãos de Deus, da
mesma forma que a vara o era nas suas? E neste ponto que os servos de Cristo
falham constantemente; e a sua falta é tanto mais perigosa quanto é certo que
se reveste da aparência de humildade. Fugir de uma grande responsabilidade dá a
impressão de falta de confiança pessoal e de uma profunda humildade de
espírito; porém, tudo que nos interessa saber é se Deus tem imposto essa responsabilidade. Sendo assim, Ele estará incontestavelmente conosco no seu
desempenho; e, com a Sua companhia, podemos suportar todas as coisas. Com o
Senhor o peso de uma montanha não é nada; sem Ele o peso de uma simples pena é
esmagador. É uma coisa muito diferente se um homem, na vaidade do seu espírito,
se apressa em tomar um fardo sobre os seus ombros, um fardo que Deus nunca teve
intenção de ele levar, e, portanto, nunca o dotara para o conduzir; podemos,
portanto, esperar vê-lo esmagado sob o peso. Porém, se é Deus que põe sobre ele
esse fardo, Ele torna-o não só apto a conduzi-lo como lhe dá as forças
necessárias.
II. O
ENSINAMENTO PARA O SERVO DE CRISTO
O
abandono de um posto divinamente indicado nunca é o fruto de humildade. Pelo
contrário, a mais profunda humildade manifes-tar-se-á na permanência nesse
posto em simples dependência de Deus. Quando recuamos ante algum serviço sob o
fundamento de inaptidão é uma prova segura de estarmos ocupados com o ego — com
nós próprios. Deus não nos chama para o serviço com base na nossa capacidade,
mas, sim, na Sua; por isso, a menos que esteja ocupado com pensamentos a meu
respeito ou com desconfiança n'Ele, não preciso abandonar qualquer posição de
serviço ou testemunho por causa das muitas dificuldades relacionadas com ela.
Todo o poder pertence a Deus, e é o mesmo quer esse poder atue por meio de um
só instrumento ou mediante setenta; o poder é ainda o mesmo: contudo, se um instrumento
recusa o cargo, tanto pior é para ele. Deus não obrigará ninguém a ocupar um
lugar de honra, se não confiar em Si para o manter nele. O caminho está sempre
aberto para poder descer do seu cargo e lançar-se no lugar onde a vil
incredulidade quer colocar-nos.
Aconteceu
assim com Moisés: queixou-se do fardo que devia levar, e o fardo foi
imediatamente removido; porém com ele foi tirada também a grande honra de poder
levá-lo. "E disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos
de Israel, de quem sabes que são anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás
perante a tenda da congregação, e ali se porão contigo. Então, eu descerei, e
ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que está sobre ti, e o porei sobre
eles; e contigo levarão o cargo do povo, para que tudo sozinho o não
leves" (Nm11:16-17). Nenhum novo poder foi introduzido. Era o mesmo
Espírito, que fosse num ou em setenta. Não havia mais valor ou virtude na
natureza de setenta homens do que na de um só homem. "O Espírito é o que
vivifica; a carne para nada aproveita" (Jo 6:63). Nada se ganhou, quanto
ao poder, mas Moisés perdeu muito da sua dignidade.
Na
segunda parte do capítulo onze de Números vemos como Moisés profere palavras de
incredulidade, as quais lhe valeram uma severa reprimenda da parte do Senhor.
"Seria pois encurtada a mão do Senhora Agora verás se a minha palavra te
acontecerá ou não" (versículo 23). Se o leitor comparar os versículos 11 a
15 com os versículos 21 e 22, verá que existe uma relação solene e clara. O
homem que recua perante a responsabilidade, com fundamento na sua própria
fraqueza, corre grande perigo de pôr em dúvida a suficiência e plenitude dos
recursos de Deus.
Esta
cena ensina uma lição muito preciosa para todo o servo de Cristo que possa ser
tentado a sentir-se só ou sobrecarregado com o seu trabalho. Convém que um tal
servo se lembre que, onde o Espírito Santo está operando um só instrumento é
tão bom e eficaz como setenta instrumentos; e onde Ele não opera, setenta não
têm mais valor do que um só. Tudo depende da energia do Espírito Santo. Com Ele
um só homem pode fazer tudo, sofrer tudo e suportar tudo.
Sem
Ele setenta homens nada podem fazer. Que o servo solitário se recorde, para
conforto e ânimo do seu coração fatigado, que, contanto que tenha consigo a
presença e poder do Espírito Santo, não tem motivo para queixar-se da sua carga
nem de suspirar por diminuição do seu trabalho. Se Deus honra um homem
dando-lhe muito trabalho a fazer, regozije-se o tal no seu trabalho e não
murmure; porque se murmurar pode perder rapidamente a sua honra. Deus não
tropeça com dificuldades quando se trata de achar instrumen¬tos. Até das pedras
podia levantar filhos a Abrão, e pode suscitar de essas mesmas pedras os
instrumentos necessários para o cumprimento da sua obra gloriosa.
Ah!
quem tivera um coração mais disposto a servi-Lo! Um coração paciente, humilde,
consagrado e despido de si mesmo! Um coração pronto a servir com outros e disposto
a servir só; um coração cheio de tal maneira de amor por Cristo, que encontra o
seu gozo —o seu maior gozo—em servi-Lo, seja em que esfera for e qualquer que
seja o caráter do serviço. Esta é certamente a necessidade especial dos dias em
que nos caiu a nossa sorte. Que o Espírito Santo desperte em nossos corações um
sentimento mais profundo da preciosidade excelente do nome de Jesus e nos
habilite a dar uma resposta mais clara, completa e inequívoca ao amor imutável
de Seu coração!
CONCLUSÃO
Na
confecção deste pequeno estudo, buscamos consultar literatura que mais se
aproxima com o pensamento de nossa denominação, tentando não perder a coerência
teológica. Evitamos expressar conceitos e opiniões pessoais sem o devido
embasamento na Palavra, pois a finalidade é agregar conhecimentos, enriquecer a
aula da escola dominical e proporcionar ao professor domínio sobre a matéria em
tela. Caso alcance tais finalidades, agradeço ao meu DEUS por esta grandiosa
oportunidade.
Ev. JOSÉ COSTA JUNIOR
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