ASSIM COMO PAULO USOU três imagens para a igreja no capítulo 3, também utiliza três figuras para descrever o ministro cristão. O obreiro é um mordomo que vive com fidelidade, um espetáculo ao mundo que revela humildade e um pai que demonstra amabilidade.
É sobre esses três aspectos que vamos discorrer neste capítulo.
O ministro é um mordomo fiel (4.1-6)
Paulo ainda está corrigindo o mesmo problema identificado desde o capítulo 1, a divisão na igreja em virtude do culto à personalidade. O mundo estava entrando na igreja de Corinto e a filosofia do mundo conduzia os seus assuntos internos.
Corinto era uma cidade grega e o grande hobby dessa cidade era ir para a praça, a 4gora, a fim de escutar os grandes filósofos e pensadores discutirem suas idéias e exporem a maneira como viam o mundo ao seu redor. Eles se identificavam com um ou outro líder, com esse ou aquele filósofo. Eles acabavam se tornando seguidores de homens. Centrando-se em seus líderes, os coríntios estavam prestando fidelidade a homens; homens de Deus é verdade, mas apenas homens.
Essa era a maneira que o mundo se comportava e ensinava. Sempre que a igreja segue os grandes nomes e gira em torno de homens, está imitando o mundo. 70 Uma vez que eles estavam acostumados a vivenciar isso no mundo, queriam, agora, fazer o mesmo dentro da igreja. Por isso, diziam: Eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cefas e eu de Cristo.
Como Paulo combate essa idéia do culto à personalidade? Após afirmar que os obreiros da igreja são apenas servos ou diáconos, ele prossegue em seu argumento, dizendo que eles são escravos condenados à morte que trabalham sob as ordens de um superior (4.1). Vamos examinar alguns pontos importantes:
Em primeiro lugar, o obreiro é um escravo sentenciado à morte. Paulo escreve: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo” (4.1). A palavra “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. O ministro é uma pessoa que ocupa uma alta posição política, de grande projeção na liderança, e tem em suas mãos um grande poder e autoridade. Se olharmos a palavra “ministro” no campo religioso, estaremos falando de alguém que exerce a função de líder na igreja local. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo Paulo para definir o ministro nos dá uma idéia totalmente contrária.
A palavra grega usada é huperetes, que significa um remador de galés. Essa palavra era utilizada para a classe mais simples de servos. Os ministros são meros servos de Cristo. Eles não têm autoridade procedente deles mesmos. A palavra huperetes só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Nos grandes navios romanos existiam as galés, que eram porões onde trabalhavam os escravos sentenciados à morte. Aqueles escravos sentenciados à morte prestavam um serviço antes de morrer. Eles tinham os seus pés amarrados com grossas correntes e trabalhavam à exaustão sob o flagelo dos chicotes até à morte.
Paulo diz que o ministro não deve ser colocado no pedestal como o dono da igreja ou como o capitão do navio, antes deve ser visto como um escravo que serve ao capitão até à morte. Paulo está dizendo para não colocarmos os holofotes sobre um homem, porque importa que os homens nos considerem como huperetes e não como capitães do navio. O obreiro da igreja é um escravo já sentenciado à morte, que deve obedecer as ordens do capitão do navio, o Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, o obreiro é um mordomo que obedece as ordens do seu Senhor (4.1). Paulo usa agora uma nova figura. Ele diz que o obreiro é um despenseiro ou mordomo. A palavra grega usada por Paulo é oikonomos, de onde vem a nossa palavra mordomo. O ministro é um despenseiro, aquele que toma conta da casa do seu senhor. Em relação ao dono da casa, o mordomo era um escravo, mas em relação aos outros serviçais, ele era o superintendente. Sua função era cuidar dos interesses do seu senhor. Ele cuidava da alimentação da casa. Ele prestava contas, não aos seus colegas, mas ao seu senhor.
Os mistérios de Deus representam aqui o evangelho, a Palavra de Deus. O mordomo ou oikonomos era a pessoa que cuidava da despensa, da dieta, da alimentação de toda a família. O oikonomos era um administrador, mordomo, dirigente de uma casa, com freqüência um escravo de confiança que era encarregado de todos os negócios do lar. A palavra enfatiza que a pessoa recebe uma grande responsabilidade, pela qual deve prestar contas.74 O que isso nos sugere?
a) Não era competência do mordomo prover o alimento para a família; essa era uma responsabilidade do dono, do senhor da casa. O ministro do evangelho não tem de prover o alimento, porque esse já foi providenciado. Esse alimento é a Palavra de Deus. Compete ao ministro dar a Palavra de Deus ao povo. O ministro não é o provedor, ele é o garçom que serve as mesas. Ele não coloca alimento na despensa, mas prepara o alimento e o serve. Ele não pode sonegar o alimento que está na despensa, ou adulterá-lo nem substituí-lo por outro. Ele precisa ser íntegro e fiel, dando ao povo o mesmo alimento que o dono da casa proveu para a família.
Sabemos, porém, que é possível ter na despensa os melhores alimentos e, mesmo assim, ter na mesa a pior refeição. A competência do mordomo era pegar a riqueza do alimento que estava na despensa, que é a Palavra de Deus, e preparar uma refeição gostosa, saborosa, e balanceada: Leite para a criança, alimento sólido para aqueles que podem suportá-lo.
Não é conveniente preparar a mesma refeição todos os dias. O ministro precisa ensinar todo o desígnio de Deus. Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada por Deus é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.16, 17).
b) Não era função do mordomo buscar nova provisão ou servir qualquer alimento que não fosse provido pelo senhor. A Palavra de Deus deve ser ensinada de formas variadas. Paulo diz para ensinarmos todo o conselho de Deus (At 20.27). Hoje, não temos mais profetas nem apóstolos como tinham as igrejas primitivas! Eles pregavam mensagens de revelação. Quando os profetas diziam Assim diz o Senhor, eles estavam recebendo uma mensagem inspirada, inédita, e nova da parte de Deus. E essa mensagem iria fazer parte do cânon das Escrituras.
Nos dias atuais, porém, nenhum homem e nenhuma mulher recebe mensagens novas de Deus. Tudo o que Deus tem para nós já está nas Escrituras. Mesmo que um anjo descesse do céu e pregasse outra mensagem que vá além daquela que está nas Escrituras, deve ser prontamente rejeitada e considerada como anátema! (GI 1.6-9).
A Bíblia já tem uma capa posterior. Ela já está concluída, fechada e é por isso que no livro do Apocalipse diz que nós não podemos acrescentar ou retirar mais nada do que nela está escrito (Ap 22.18,19). A pregação hoje não é revelável, mas expositiva. Você não acrescenta mais nada ao que está na Palavra, mas expõe apenas o que está na Palavra. Não recebemos mensagens novas, mas damos ao povo o conteúdo da Palavra de Deus já revelada.
c) A função do mordomo era servir as mesas com integridade. O ministro não é um filósofo que cria a sua própria filosofia. Não é assim o despenseiro. Ele não cria uma doutrina, uma teologia ou uma idéia a fim de aplicá-la e ensiná-la. Cabe a ele transmitir o que recebeu. E Paulo sempre usa essa expressão: “[Eu] vos entreguei o que também recebi” ( I Co 15.3).
O despenseiro não pode entregar o que não recebeu. E o que é que ele recebeu? É o que está na Palavra! Sendo assim, o despenseiro não podia mudar o alimento. De igual forma, nós não podemos mudar a mensagem. Também o despenseiro não podia adulterar o alimento, ou seja, ele não podia mudar o conteúdo, a substância, e a essência do alimento.
Nós não podemos mudar nem diluir a Palavra de Deus. Ainda, o despenseiro não podia acrescentar nenhum alimento no cardápio além daquele que estava na despensa. Nós não podemos pregar o evangelho e mais alguma coisa. E o evangelho, somente o evangelho e, todo o evangelho.
Finalmente, o despenseiro não podia reter as iguanas que o senhor da casa havia provido para toda a casa, para toda a família. Ele tinha de distribuir todo o alimento que o seu senhor providenciara para a família e para o restante da casa. E isso significa dizer que o despenseiro precisa pregar para a igreja todo o conselho de Deus. Não pode pregar apenas as doutrinas da sua preferência. A melhor maneira de fazer isso é pregando expositivamente, livro por livro. Essa é a maneira mais adequada de se colocar na mesa todas as iguanas providenciadas pelo Senhor.
Em terceiro lugar, o despenseiro precisa ser absolutamente fiei no exercício do seu trabalho. A função do mordomo não era agradar às demais pessoas da casa, nem muito menos aos outros servos, mas ao seu senhor. Diz o apóstolo Paulo:
“Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (4.2). De acordo com a filosofia dos gregos e a sabedoria do mundo, as pessoas valorizam a popularidade e o sucesso. Mas Deus requer dos despenseiros fidelidade. Sucesso sem fidelidade é consumado fracasso. No dia em que formos prestar contas da nossa administração, o que Deus vai pesar não é o critério do sucesso nem o da popularidade, mas o critério da fidelidade.
O que Deus requer do despenseiro não é sucesso nem popularidade, mas fidelidade: fidelidade ao Senhor, fidelidade à missão e fidelidade ao povo.
Em quarto lugar, o despenseiro esta exposto ao julgamento (4.3-6). O ministro, na qualidade de mordomo, passa por três crivos de julgamento: O julgamento dos homens (4.3a), o julgamento próprio (4.3b, 4a) e o julgamento de Deus (4.4b).
a) O julgamento dos homens. Diz o apóstolo: “Todavia, a mim mui pouco se me dá ser julgado por vós, ou por tribunal humano” (4.3a). O julgamento dos homens não é o mais importante, porque nós não estamos servindo a homens, mas servindo a Deus. Paulo está dizendo que se ele fosse servo de homens ou procurasse agradar a homens, ele não seria servo de Cristo (Gl 1.10). O grande projeto do ministro de Deus não é ser popular aos olhos dos homens, mas fiel diante de Deus.
b) O julgamento da consciência (4.3b-4). Os filósofos gregos e romanos (Platão e Sêneca, por exemplo) consideravam a consciência como o juiz máximo do homem. Para Paulo, apenas Deus pode sê-lo.
O apóstolo Paulo continua: “E...] nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado. (4.3b-4). Paulo diz que os gregos e os romanos estavam errados quanto a essa matéria. Platão e Sêneca estavam equivocados com respeito ao julgamento da consciência. O nosso supremo juiz não é a nossa consciência.
Nós podemos ser aprovados pela nossa consciência e reprovados por Deus. A nossa consciência não é totalmente confiável.
c) O julgamento de Deus. Paulo conclui, dizendo: “E...] pois quem me julga é o Senhor” (4.4b). Por que é que o julgamento de Deus é o julgamento perfeito? Porque Deus é o único que conhece todas as circunstâncias e todas as motivações. O julgamento de Deus é final e perfeito.
Em quinto lugar, a igreja precisa ter cuidado para não julgar os ministros apressadamente (4.5,6). Paulo traz para a igreja de Corinto três tipos de repreensões erradas em relação aos ministros: julgar na hora errada (4.5), pelo critério errado (4.6) e pelo motivo errado (4.6b).
a) O primeiro cuidado que a igreja precisa ter é de não julgar os servos de Deus no tempo errado (4.5). Paulo diz que é errado julgar os servos de Deus fora do tempo ou antecipadamente. Paulo diz que somente na segunda vinda de Cristo é que se terá o julgamento final e completo. Somente Deus pode julgar e conhecer o coração humano, pois só Ele vê o coração (l Sm 16.7) e não apenas a aparência. Paulo está combatendo a idéia de exercermos juízo e julgamento precipitado dentro da Igreja de Deus.
b) O segundo cuidado que a igreja precisa ter é de não julgar os servos de Deus pelo critério errado (4.6). Os crentes da igreja de Corinto estavam julgando por meio de critérios mundanos provenientes da sabedoria humana, pois uns diziam ser de Paulo, pelo fato de ele ter sido o fundador daquela igreja; e outros de Apoio, por ser esse um grande e eloqüente pregador; e ainda outros de Cefas, pelo fato de serem eles judeus prosélitos e gostavam do rigor da lei judia. Os coríntios julgaram Paulo, Apoio e Pedro por suas preferências e preconceitos. Entretanto, Paulo diz que não devemos julgar uns aos outros por esses critérios. Veja o que diz o apóstolo Paulo:
“Estas cousas, irmãos, apliquei- as figuradamente a mim mesmo e a Apoio por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro” (4.6). O que significa ultrapassar o que está escrito? Se você tem de examinar alguém, limite-se ao ensino das Escrituras. A única base de avaliação é a Palavra de Deus e não nossas opiniões. Não superestime os ministros além da medida das Escrituras.
c) O terceiro cuidado que a igreja precisa ter é de não julgar os servos de Deus com a motivação errada (4.6b). O grupo de Paulo estava desprezando o grupo de Apoio e o grupo de Apoio o grupo de Pedro. A maneira mais vil de me promover é criticar o meu irmão. Sempre que eu critico alguém estou promovendo a mim mesmo. Sempre que começo a macular a imagem do outro estou projetando a minha imagem e essa maneira de agir tem uma motivação errada.
Nós não estamos na Igreja de Deus competindo uns com os outros. Não estamos disputando primazia. Não estamos disputando quem é mais importante. Essa motivação em querer derrubar uns a fim de erguer outros é totalmente carnal e mundana e jamais será aprovada por Deus. Não basta apenas a integridade na doutrina, é preciso também fidelidade nos relacionamentos.
O ministro é um espetáculo diante do mundo (4.7-13)
O ministro é um espetáculo para o mundo (4.9). Por que Paulo usa essa figura? Essa era uma imagem muito familiar para o povo do império romano.
Para o imperador romano manter a hegemonia do seu governo bastava dar ao povo pão e circo. Os imperadores procuravam trazer entretenimento e diversão para o povo. Criou-se, então, em quase todas as cidades do império romano anfiteatros onde se promoviam espetáculos para a população. O governo entretinha o povo, apresentando espetáculos nos anfiteatros nas várias cidades do império.
E quando um general ia para a guerra e retornava vitorioso, ele acorrentava pelo pescoço os vencidos e entrava na sua cidade, montado em sua carruagem numa grande procissão trazendo os derrotados que eram sentenciados à morte e levados ao anfiteatro para serem lançados às feras ou passados ao fio da espada. Vejamos o que diz o apóstolo Paulo: “Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo...” (4.9).
A palavra grega teatron, “espetáculo” dá origem à nossa palavra “teatro”. Paulo diz que o ministro cristão é o teatro do mundo, e que a sua vida se desenrola num palco e numa arena de morte. O coliseu romano se tornou o centro desses espetáculos, onde os cristãos eram colocados para lutar contra feras e expostos à morte. Essa é a figura que Paulo evoca para os apóstolos de Cristo. Os ministros não estão no pódio para os aplausos dos homens, mas na arena do teatro, para serem entregues à morte. Fritz Rienecker ensina que Paulo usa a ilustração para a humilhação e a indignidade a qual os apóstolos são sujeitados. Deus é aquele que comanda o espetáculo e utiliza as fraquezas de seus servos a fim de demonstrar Seu poder e força.
Paulo faz quatro contrastes para revelar a sua ironia com a igreja de Corinto: reis-prisioneiros (4.7-9), sábios- loucos (4.10a), fortes-fracos (4.10b) e nobres-desprezados (4. 10c-13).
Em primeiro lugar, reis e prisioneiros (4.7-9). Visto que a igreja estava cheia de vanglória, Paulo ironiza os crentes de Corinto, dizendo: “Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós” (4.8). Paulo diz para eles: Vocês estão fartos e ricos demais! Eles estavam como a igreja de Laodicéia, satisfeitos com a sua espiritualidade. Pensavam que tinham tudo. Estavam cheios de vanglória. Eles tinham um alto conceito de si mesmos.
Os coríntios pensavam que eles eram uma igreja de muito sucesso, muito madura e eficiente. Mas Paulo afirma que aquilo que você tem, é o que você recebeu. “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias como se o não tiveras recebido?” (4.7). Paulo está dizendo que não há margem para a vaidade, para a soberba e para o orgulho espiritual. Se Deus lhe deu um ministério de projeção, você não tem de ficar vaidoso com isso, isso não é seu. Não é devido aos seus méritos, não é devido à sua inteligência ou capacidade humana. E graça de Deus. E por que, então, você se vangloria como se fosse mérito seu?
Paulo começa a mostrar para aquela igreja que a teologia da glória é precedida pela teologia da cruz. E a grande bandeira do cristão é a teologia de João Batista que dizia:
“Convém que ele [Jesus] cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Deus colocou os apóstolos em primeiro lugar na igreja, mas o mundo coloca os apóstolos em último lugar. três princípios na metáfora reis-escravos condenados. Se nós estamos sendo abençoados, outros estão sendo esbofeteados; se nós estamos sendo esbofeteados, isso vai abençoar outras pessoas; todos os cristãos são, ao mesmo tempo, reis e prisioneiros sentenciados à morte.
Somos tanto reis quanto escravos. Somos ricos em Cristo e desprezados pelo mundo. Jamais alcançaremos a bem-aventurança plena aqui. Ainda somos humanos. Ainda estamos no mundo. Ainda somos mortais. Ainda estamos expostos ao pecado, ao mundo e ao diabo.
Em segundo lugar, sábios e loucos. O apóstolo diz: “Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo” (4.1 Ob). Paulo usa uma linguagem de ironia, pois todos o consideravam um louco, pelo fato de ter deixado o judaísmo e o rabinado, uma carreira promissora de grandes vantagens, com muito dinheiro e sucesso, com muita projeção, para se tornar um homem andarilho, um itinerante que não tinha morada certa, que passava fome, sentia frio, era açoitado e preso.
Imagino que diziam para ele: Tu és louco Paulo! Houve um momento em sua vida em que ele achava que ser sábio era se gloriar nas coisas que tinha (Fp 3.4-8).
Mas ele considerou todas essas glórias do seu passado como esterco, como lixo, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo (Fp 3.8). Paulo era louco de acordo com o critério dos homens. Ele abandonou seu status, sua posição e suas vantagens. Contudo, na verdade, os coríntios que se consideravam sábios aos próprios olhos, eram tolos aos olhos de Deus.
Paulo diz: “Ninguém se engane a si mesmo; e se alguém dentre vós se tem por sábio neste século, faça-se estulto para se tornar sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (3.18,19). O caminho para se tornar espiritualmente sábio é tornar-se tolo aos olhos do mundo.
O mártir do cristianismo, Jim Elliot disse: “Não é tolo aquele que dá o que não pode reter, para ganhar o que não pode perder”. Houve um momento em que Paulo confiou na sua força, mas depois que Cristo o salvou, ele passou a gloriar-se apenas em sua fraqueza (2 Co 12.7-10).
Em terceiro lugar,fracos e fortes. Diz o veterano apóstolo: “[...j nós fracos, e vós fortes” (4.10b). Aos olhos de Deus os apóstolos são os primeiros (I Co 12.28), mas aos olhos do mundo, eles são os últimos. A igreja de Corinto se considerava forte, poderosa e Paulo chegou a dizer que teve um tempo em sua vida em que ele se achava forte e poderoso. Nesse tempo ele perseguiu a igreja.
Mas agora, ele se considera fraco e se gloria na sua fraqueza. Assim, Paulo mostra à igreja que o alto conceito que ela possuía de si mesma era uma cortina de fumaça e uma máscara. Os coríntios estavam cheios de orgulho por causa da sua espiritualidade, mas isso era fraqueza aos olhos de Deus. Não há poder onde Deus não recebe a glória.
Em quarto lugar, honrados e desprezados (4.10c-13).
Os crentes de Corinto queriam glória vinda dos homens. Eles se consideravam importantes por estarem associados a homens famosos. Mas Paulo lhes diz que os apóstolos não são nobres, mas desprezados. Os crentes de Corinto ficavam todos empavonados, dizendo: “Nós somos de Paulo. Ou nós somos do grupo de Apolo.
Ou ainda nós somos importantes porque pertencemos ao grupo de Pedro”. Paulo diz que nós não devemos achar que somos importantes por pertencermos ao grupo de homens famosos. Os apóstolos não são famosos, disse Paulo; os apóstolos são desprezados: “[...j vós nobres, e nós desprezíveis” (4.lOc).
Ele diz que os apóstolos enfrentam privações: “[...] sofremos fome, e sede, e nudez” (4.11). E os apóstolos ainda sofrem maus-tratos: e somos esbofeteados, e não temos morada certa” (4.11). E Paulo conclui: “[Somos] caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos” (4.13). Paulo diz aos crentes de Corinto para não colocarem os holofotes nos homens, porque assim como os homens trataram Jesus, o Filho de Deus, e O prenderam e lhe cuspiram, levando-O a cruz, assim também tratarão os apóstolos. Nossa vida está sendo observada por homens e anjos. Nós somos jogados nas arenas para enfrentarmos a própria morte, como escravos condenados.
O ministro é um pai amoroso (4.14-21)
A última figura que Paulo usa nesse capítulo é a figura de um pai que precisa exercer doçura e temor. Paulo já tinha comparado a igreja local a uma família (3.1-4), mas agora sua ênfase é sobre o ministro como um pai espiritual. Paulo dá uma guinada de 180 graus, saindo de uma severidade imensa, onde usou de ironia, para uma figura repleta de doçura, a figura de um pai. A severidade de Paulo dá lugar à ternura. Ele agora se dirige à igreja como um pai aos seus filhos.
Normalmente quando temos de usar a vara para disciplinar nossos filhos, choramos mais do que eles. Sofremos e sentimos mais do que eles. Parece que é isso que Paulo está sentindo, pois ele acabara de disciplinar severamente a igreja, chamando a atenção dos crentes de maneira dura. Agora, ele se volta cheio de ternura, doçura, mansidão e carinho dirigindo-se à igreja como filhos amados. Vejamos como ele escreve: “Não vos escrevo estas cousas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados” (4.14).
O que é um pai espiritual?
Em primeiro lugar, o pai é aquele que gera os filhos pelo evangelho (4.14,15). Paulo fala do pai espiritual: “Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo” (4.15). A palavra “preceptor” aqui é paidagogos. E o escravo que tinha a responsabilidade de cuidar de uma criança e conduzi-la à escola. Ele não era o professor, mas aquele que levava o filho à escola e o deixava aos pés do mestre. E Paulo diz: Vocês podem ter muitos que levam instrução até vocês ou, levam vocês à instrução. Porém, vocês só têm um pai. A minha relação com vocês é estreita, sentimental, familiar, e íntima. E uma relação de coração e de alma. Eu sou o pai de vocês! Eu gerei vocês!
Em segundo lugar, o pai é aquele que é um exemplo para os filhos (4.16,17). Paulo diz: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” (4.16). A palavra “imitadores”, no grego, é mimetai, de onde vem a palavra mimetismo, mímica. Ou seja, você ensina o filho não apenas por aquilo que você diz, mas, sobretudo, por aquilo que você faz. Os filhos aprendem primeiro pelo exemplo, depois pela doutrina. Albert Schweitzer, um grande pensador alemão, declara que o exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas a única forma eficaz. Paulo podia ser exemplo para os seus filhos e os seus filhos podiam imitá-lo porque ele imitava a Cristo. Ele diz: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (11.1).
Em terceiro lugar, o pai é aquele que é fiel em disciplinar os filhos (4.18-21). O pai é aquele que gera, que ensina pelo exemplo e também, o que disciplina com amor. Veja o que diz o apóstolo Paulo: “Alguns se ensoberbeceram, como se eu não tivesse de ir ter convosco; mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos ensoberbecidos. Porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder. Que preferis? Irei a vós outros com vara ou com amor e espírito de mansidão?” (4. 18-2 1).
Há um momento em que a intolerância precisa ter um fim. Há um momento em que a única forma de alcançar o coração do filho e’ o expediente da disciplina. Reter a vara do filho é pecar contra ele. Aborrece a alma do filho o pai que retém a disciplina. Chega um momento em que um pai responsável precisa disciplinar os seus filhos. Um pai que ama não pode ser indulgente com os filhos. O pai não apenas dá exemplo e ensina, mas também disciplina os filhos quando eles se tornam rebeldes.
Paulo diz que existia dentro da igreja uma dicotomia, um hiato, um abismo entre o que os cristãos falavam e o que eles viviam. Paulo contrasta discurso e poder, palavras e obras (4.19,20). Os crentes de Corinto não tinham problema com discursos pomposos, mas eles não tinham poder. Falavam, mas não viviam. Havia um abismo entre o que falavam e o que praticavam. Eles eram uma igreja falante e eloqüente, mas não praticante. Então Paulo lhes diz que o problema não é falar, mas viver, pois o Reino de Deus não consiste em palavra, mas em poder! Não adianta você falar bonito, ter um discurso bonito, não adianta ser eloqüente, fanfarrão, tocar trombeta! O Reino de Deus é poder, é vida, é transformação.
Em quarto lugar, o pai é aquele que dá afeto e carinho aos filhos (4.14,2 1). O pai gera, dá exemplo, disciplina, e também dá carinho. O filho que só apanha fica revoltado e recalcado. O filho que só recebe carinho fica mimado e imaturo. Precisamos dosar disciplina com ternura. Tem o tempo certo de usar a vara e o tempo certo de pegar o filho no colo.
Precisamos equilibrar correção com encorajamento. Paulo pergunta: “Que preferis? Irei a vós outros com vara, ou com amor, e espírito de mansidão?”
Paulo era aquele homem de coração doce e cheio de ternura, um pai que tinha vontade de colocar os filhos no colo. Precisamos desenvolver esse sentimento de proximidade, de intimidade e de amabilidade na igreja.
Veja a intensidade dos sentimentos desse apóstolo veterano. Quando ele escreve aos gálatas, afirma: “[...] meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19).
A figura que ele usa é a de uma mãe dando a luz. Depois ele diz aos presbíteros de Efeso, que ele era aquele pai que exortava dia e noite com lágrimas a cada um (At 20.3 1). Ele ainda disse aos tessalonicenses que ele era como uma ama, que acaricia os filhos (l Ts 2.7).
NOTAS
Wwisrsv, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006:
p. 760-765.
70 PRIOR, David. A mensagem de lCoríntios. 1993: p. 65.
71 BARCLAY, William. IyllCorintios. 1973: p. 48.
72 HODGE, Charles. Commentary on the First Epistie to the Corinthians.
1994: p. 64.
PRIOR, David. A mensagem de iCoríntios. 1993: p. 65.
»I RIF:N1cKI3R, Fritz, e ROGERS, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. 1985: p. 292.
‘ HODGE, Charles. Com mentary on the First Epistie to the Corinthians. 1994: p. 65.
76 WIERSBE, Warren W Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760.
WIERSBE, Warren W Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006: p. 760.
78 PRIOR, David. A mensagem de iCoríntios. 1993: p. 66.
WIERSBE, Warren ‘Ç Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006:
p761.
80 RIENECKER, Fritz, e ROGERS, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. l985:p.293.
81 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo. Vol. 5. 2006:
p. 762.
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
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