O DOM MINISTERIAL DE PROFETA E O DOM DE PROFECIA
- Ev. José Costa Junior –
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O assunto desta lição diz respeito à profecia no contexto neotestamentário. A profecia e os profetas formam a maior linhagem de continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. A linguagem profética não terminou com Malaquias, digamos assim, mas antes, com João Batista. Esse é o ensino expresso de nosso SENHOR: “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mt 11:13). A costumeira divisão em dois ‘Testamentos’, obscurece, infelizmente, essa maravilhosa unidade do programa revelatório de DEUS, porém a linhagem tem continuação desde Moisés até João Batista. Vemos em João, como de fato em seu pai, Zacarias (Lc 1:67-79), a repetição do padrão da profecia do Antigo Testamento: a unidade da proclamação com a predição. Foi a predição da ira vindoura (Lc 3:7) e da graça por vir (Lc 3:16) que deu a João tão poderosa mensagem para sua geração.
A continuidade da profecia na história da igreja, por meio do dom sobrenatural do ESPÍRITO SANTO, recebeu contestações, durante séculos, de grupos cessacionistas que diziam que tais dons foram dados somente durante a era apostólica, como “sinais” para credenciar os apóstolos durante o estágio inicial da pregação do evangelho. Afirmavam que esse dom não é mais necessário hoje como sinais e cessaram no final da era apostólica, provavelmente no final do primeiro século d.C. ou começo do segundo.
A Assembléia de Deus, desde sua criação, vem levantando a bandeira do pentecostalismo; a atualidade dos dons espirituais. As experiências práticas no uso dos dons espirituais e a vitalidade do culto pentecostal, esvaziaram, pela constatação prática da atuação DIVINA nas vidas de seus membros, os argumentos cessacionistas. O cenário do final do século passado e início deste século mudou. As igrejas neopentecostais e suas práticas heterodoxas, o catolicismo carismático-mariólatra e as chamadas “novidades”(unções espirituais, sopros divinos etc...) trouxeram o pêndulo da doutrina dos dons espirituais de uma extremidade cessacionista a outra: dos exageros que tangenciam à heresias.
Novamente se faz necessário levantar a bandeira do pentecostalismo, agora trazendo aos crentes uma visão mais analítica e equilibrada dos dons do ESPÍRITO SANTO, em particular, o dom de profecia.
Acreditamos nas Escrituras Sagradas como fonte completa e suficiente das palavras de DEUS para o seu povo e único instrumento em autoridade na tarefa de dar direção acerca da SUA vontade. Não obstante a isso, o dom de profecia não é invalidado, mas sim, se mostra cooperativo com essas assertivas.
O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do que o comentarista desta lição chama de apóstolos e profetas como dom ministerial e o dom de profecia. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.
I. O DOM MINISTERIAL DE APÓSTOLO E O COLÉGIO APOSTÓLICO
A palavra apóstolo (no grego - apostolos) pode ser usada em dois sentidos: solene (restrito), no sentido de ser portador de autoridade divina (“apóstolo de JESUS CRISTO”) e não-técnico (amplo) no sentido de “enviados”.
A palavra apóstolo, no sentido restrito, refere-se a um ofício específico, “apóstolos de JESUS CRISTO”. Esses apóstolos tinham autoridade única para fundar e liderar a igreja primitiva e podiam falar e escrever a Palavra de Deus. Muitas de suas palavras escritas tornaram-se as Escrituras do Novo Testamento.
Para se qualificar como apóstolo era preciso ter visto com os próprios olhos o CRISTO ressurreto e ter sido designado apóstolo pelo próprio CRISTO. Além do Colégio Apostólico (os onze e Matias) houve um número limitado de apóstolos. Barnabé (At 14:4,14) e Paulo (I Co 1:1), muito provavelmente Tiago irmão de JESUS (Gl 1:19), talvez Silas (I Ts 2:7), Andrônico e Júnias (Rm 16:7) mais alguns outros não nominados pelas Escrituras Sagradas. Parece que nenhum apóstolo foi designado depois de Paulo. Em I Co 15:5-11 Paulo fala: “[CRISTO] apareceu a Cefas, depois aos Doze. A seguir a mais de quinhentos irmãos de uma só vez... A seguir...a Tiago, depois a todos os apóstolos. Em último lugar também me apareceu a mim”. Estas passagens parecem demarcar um período de aparições da ressurreição que se inicia com Cefas e termina com Paulo.
Paulo não diz: “Depois, ELE apareceu a mim”, mas sim: “Em último lugar também me apareceu a mim”, o que sugere um caráter final das aparições. Paulo continua a dizer: “Pois eu sou o menor dos apóstolos....Mas o que sou [apóstolo], devo-o à graça de DEUS”. Ele se diz “o menor dos apóstolos”, pois é, na realidade, o “último” apóstolo a quem o SENHOR “apareceu”.
Parece que nenhum apóstolo foi designado depois de Paulo e, certamente, já que ninguém hoje pode preencher o requisito de ter visto o CRISTO ressurreto com os próprios olhos, não há apóstolo hoje, pelo menos em seu sentido restrito. Em lugar de apóstolos vivos, presentes na igreja para ensinar-lhe e governá-la, temos os escritos dos apóstolos nos livros do Novo Testamento, o qual desempenha para a igreja de hoje as funções de ensino absolutamente autorizado e de governo desempenhadas pelos próprios apóstolos na época do início da igreja.
Quando o termo apóstolo é usado no sentido mais amplo de alguém comissionado pelo SENHOR para abrir novos campos missionários, cujo ministério seja acompanhado por sinais e prodígios, esse não seria um uso inadequado da palavra, segundo alguns autores. Não obstante, deve ficar bem claro que os apóstolos são um dom de DEUS, comissionados por ELE. A igreja jamais teve autorização de criar apóstolos. Nenhuma sucessão apostólica foi sequer estabelecida. Diante disto, este comentarista acha que não parece apropriado e proveitoso usar a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e missionários. Há uma grande possibilidade de confundir quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade atribuída ao ofício ministerial de “apóstolo” comparado aos de evangelistas, pastores e doutores. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley, Whitefield, Gunnar Vingren, Daniel Berg, Paulo Leivas Macalão e outros – assumiram o título de “apóstolo” ou permitiram que os chamassem apóstolos no sentido mais amplo da palavra.
II. “OUTROS PARA PROFETAS”
Lendo as Escrituras Sagradas, nos parece ter havido, na Igreja do Novo Testamento, um grupo especialmente também chamado pelo nome de “profetas”, separados para o ministério da profecia. São mencionados imediatamente depois dos apóstolos, nas listas de ministérios cristãos (I Co 12:28,28 – Ef 4:11); são associados com os mestres de Antioquia (At 13:1), os dois graus principais do ministério depois dos apóstolos. Conforme os encontramos, no livro de Atos e nas epístolas, suas funções consistiam do costumeiro duplo ministério profético de proclamação e predição.
Ágabo, um dos poucos profetas cujo nome nos é fornecido, se tornou notório devido a certa predição (At 11:26 – 21:10,11), fazendo uso desse dom para prestar orientação espiritual à Igreja. O livro inteiro do Apocalipse é o mais extraordinário exemplo, na Bíblia, de predição ligada à tarefa de pregação. Em sua capacidade como pregadores da Igreja, o trabalho dos profetas é descrito como exortação (At 15:32), edificação e consolação (I Co 14:3).
A reação do indivíduo que não é crente para com o ministério dos profetas (I Co 14:24,25) demonstra que eles eram pregadores da mensagem completa sobre o pecado e a salvação, sobre a ira e a graça de DEUS.
No contexto da reunião da Igreja (I Co 14:26 e segs.), o ministério do profeta é referido como ministério de revelação (v. 30). Este poderia tomar a forma de declaração espontânea e é associado com a atividade do ESPÍRITO DE DEUS (I Ts 5:19). Essa atividade profética não é a mesma que o falar em línguas (I Co 14:22-25,27-29), nem é a interpretação de línguas. Mas é antes alguma percepção da verdade de DEUS, inteligentemente transmitida a assembléia.
Dois testes eram aplicados a qualquer declaração profética: primeiro havia o teste da experiência de outros profetas presentes. Diz o apóstolo: “e os outros julguem” (v. 29), ou seja, deviam sujeitar a declaração que estava sendo feita a um exame, baseados no critério do conhecimento que tinham de DEUS e de SUA verdade. Em segundo lugar, havia o teste da totalidade do depósito apostólico. O teste do verdadeiro profeta, ou de qualquer indivíduo que apresenta reivindicação de espiritualidade, é expresso pelo apóstolo com as palavras: “reconheça ser mandamento do SENHOR o que vos escrevo”, pois, à parte disso, não haveria outra coisa senão mera ignorância (v. 37,38).
Isso nos ensina que os profetas não eram fontes de novas verdades apresentadas a Igreja, mas meros expositores da verdade doutro modo revelada. Assim como o profeta do Antigo Testamento se mantinha em posição de subordinação para com Moisés, que provia a norma doutrinária do ensino correto, semelhantemente os profetas no Novo Testamento se mantinham em relação aos apóstolos, estando assim obrigados a submeterem tudo ao teste daquilo que os apóstolos haviam declarado como Palavra de DEUS.
O problema dos sucessores dos apóstolos do Novo Testamento é resolvido não por um incentivo a que os cristãos ouçam os profetas (ainda que houvesse profetas por ali), mas a que se voltem para as Escrituras. Paulo, ao final da vida, destaca o dever de manejar bem a palavra da verdade (II Tm 2:15) e o caráter inspirado das Escrituras “para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (II Tm 3:16). Judas insta seus leitores a batalhar “diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Pedro, ao final da vida, incentiva seus leitores a atender as Escrituras, “como uma candeia que brilha em lugar tenebroso” (II Pe 1:19,20), e lhe relembra os ensinos do apóstolo Paulo em todas as suas epístolas (II Pe 3:16). Parece que eles não possuíam autoridade igual à dos apóstolos e os autores das Escrituras sabiam disso.
III. O DOM DE PROFECIA
Registram-se dois tipos de profetas no Novo Testamento: Os que ocupam o cargo de profeta (Ef 4:11) e os que possuem o dom da profecia. Os da primeira categoria estão entre os dons de ministério; os da segunda poderiam incluir qualquer crente cheio do Espírito. Nem todos poderiam ocupar o cargo de profeta (porque “estabeleceu DEUS na Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas...”), mas segundo I Coríntios 14:31, “todos podereis profetizar, um após outro”. Assim sendo, o dom da profecia não torna a pessoa um “profeta” (dom ministerial).
Entre os dons citados por Paulo em I Coríntios, a profecia é o dom mais desejável (14:1,5,24,25,39). Sua importância é indicada pelo fato de que alguma forma da palavra é encontrada vinte vezes em I Co 12 e 14. O dom da profecia é definido como: ”Mas o que profetiza...fala aos homens edificando, exortando e consolando” (I Co 14:3). A Versão Ampliada interpreta o v.3: “O que profetiza...fala aos homens para edificar, para seu progresso espiritual construtivo, encorajamento e consolo”. A previsão de eventos futuros não está associada ao dom de profecia; esta era uma função do cargo profético. O dom opera para edificar (espiritualmente) o corpo da igreja local. Quando a Igreja enfrenta um problema de omissão de fatos ou a necessidade de sabedoria para um curso prático de ação, a palavra de conhecimento ou de sabedoria pode operar em conjunto com o dom de profecia. Em geral, na operação do dom de profecia, o Espírito unge o crente para falar ao corpo de CRISTO não palavras premeditadas, mas as supridas espontaneamente pelo ESPÍRITO: para animar e encorajar, instigar à obediência e serviços fiéis, e transmitir conforto e consolo.
Quanto à autoridade do dom de profecia, sabemos que não é igual a das Escrituras Sagradas e, por conseqüência, não pode ser considerada “palavras de DEUS”. Segundo Bruce Yocum, autor pentecostal, “a profecia pode ser impura – nossos pensamentos ou idéias podem misturar-se a mensagem que recebemos – quer recebamos diretamente as palavras, quer recebamos só uma noção de mensagem”. Devemos dizer que, na prática, muita confusão resulta no costume de prefaciar profecias com frases veterotestamentárias tipo “...assim diz o SENHOR”, “eis que vos falo”, “EU SOU o DEUS que falo contigo”, “MEU servo...”, frases jamais proferidas por nenhum profeta do Novo Testamento. Isto é desastroso porque dá a impressão de que as palavras que se seguem são as palavras do próprio DEUS, enquanto o Novo Testamento não justifica tal posição. DEUS traz a mente algo que deva ser relatado a igreja e o ESPÍRITO SANTO faz com que ecoe com o máximo de poder no coração dos que precisam ouvir, sem a necessidade de revestir tais palavras com a autoridade que elas não tem. Relatar com suas palavras algo que DEUS lhe trouxe de maneira espontânea à mente não equivale à Palavra de DEUS, em autoridade.
Paulo escrevendo aos tessalonicenses diz: “não desprezeis as profecias, mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom” (I Ts 5:20,21); Ele dá a entender que as profecias contêm alguns elementos bons e outros nem tanto quando incentiva os tessalonicenses a reter “o que é bom”. Jamais se poderia dizer isso das palavras de um profeta do Antigo Testamento ou dos ensinos autorizados de um apóstolo do Novo Testamento. A profecia é um dom valioso e atual, assim como muitos outros dons, mas é nas Escrituras que DEUS e somente DEUS nos fala com SUAS palavras, ontem como hoje, por toda nossa vida.
A intenção deste autor, quando trata do dom de profecia, não é diminuir-lhe a importância dentro da igreja hoje, mas colocá-la de acordo com a Palavra de DEUS, dentro de uma visão pentecostal equilibrada. O dom de profecia é fato e contemporâneo, mas assim como na Igreja de Corinto, ainda hoje carece, em alguns lugares, de uma iluminação Bíblica para que possa realmente edificar, exortar e consolar. Donald Gee, em Spiritual Gift for the Work of Ministry Today : Gospel Publishing House, 1963, comenta: “-Muitos de nossos erros no que diz respeito aos dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e excepcional torne-se freqüente e habitual. Que todos os que desenvolvem um anseio excessivo por ‘mensagens’ mediante dons sejam alertados pelo naufrágio de gerações passadas, bem como contemporâneas [...] As Escrituras são lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos”.
CONCLUSÃO
Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.
Elaboração pelo:- Ev. José Costa Junior
REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS
DOUGLAS, J. D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo,SP: Vida Nova, 1995.
DUFFIELD, Guy P. e Nathaniel M. Van Cleeave. Fundamentos da Teologia Pentecostal Volume II - São Paulo, SP: Editora Publicadora Quadrangular, 1987
GRUDEM, Weine A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999
HAWTHORNE, Gerald F., Ralph P. Martin e Daniel G. Reid (org.). DICIONÁRIO DE PAULO E SUAS CARTAS. São Paulo: Vida Nova, 2008
HORTON, Stanley (org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal – 1ª Ed. – Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996.
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