ESPERANÇA
EM MEIO À ADVERSIDADE
TEXTO
AUREO = “Porque para mim o
viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Filp 1 .21).
VERDADE
PRÁTICA = Nenhuma adversidade poderá reter, a graça e à poder do
Evangelho.
LEITURA
BIBLICA = FILIPENSES 1: 12-21
INTRODUÇÃO
Todas as ocasiões em que Deus
derramou do Seu Espírito, a igreja experimentou uma profunda paixão por Deus e
pelas almas perdidas; o avivamento sempre deságua em evangelização; sempre se
transforma em uma cachoeira demissões transculturais. No avivamento, a igreja
entende que a tarefa da evangelização é uma tarefa sua e não de anjos.Quando o
Espírito Santo é derramado, a visão de Deus passa a ser a visão da igreja e o
mundo passa a ser a sua paróquia; no avivamento, os que são alcançados e trazidos
aos celeiros, logo são enviados e levados aos campos.
O VALOR DA ADVERSIDADE,
1.12-18
Paulo
expressou seu louvor a Deus pela participação dos crentes filipenses no
progresso do evangelho, e fez uma petição por eles. Agora ele procura dissolver
as inquietações que sentiam relativas a ele, obviamente em resposta às
investigações que fizeram. E quero, irmãos, que saibais (12). Eles desejam
saber as perspectivas do apóstolo (12), a possibilidade de visitá-los (25), o
estado de saúde de Epafrodito (2.26) e quando ele pode lhes enviar ajuda (4.10ss.).
Eles sofreram com ele por causa do evangelho numa participação comum na
adversidade (1.7,28,30), e estão ansiosos em ter informações de suas condições
pessoais e da situação do evangelho em Roma. Ele os assegura que Deus está
tirando o bem do mal, está glorificando a si mesmo e está revertendo os
acontecimentos a favor dos servos que o amam.
1.
O Progresso do Evangelho (1.12,13)
As coisas que me aconteceram contribuíram para maior
proveito do evangelho (12). O compromisso de Paulo é tão completo, que ele não
consegue dizer como ele está sem dizer como está o evangelho. Lucas nos conta
algo da situação que Paulo vivia. O apóstolo era constantemente vigiado, mas
tinha permissão para morar em casa alugada, receber visitas e lhes anunciar as
boas novas do Reino de Deus (At 28.16,30,31). Seu aprisionamento não restringiu
o evangelho; pelo contrário, maior (mailon) se tornou a ocasião para o seu
avanço.
O uso do termo grego mailon dá a entender que os crentes filipenses
esperavam notícias ruins. Na opinião de certos expositores, o termo evidencia
mudança nas circunstâncias de Paulo, particularmente quando analisado à luz da
referência à sua “defesa” (apologia, ).
A sugestão é que Paulo tivesse sido transferido de sua residência
provisória (At 28.30) para a prisão, onde os indivíduos sob julgamento ficavam
presos. Por essa razão, os filipenses esperariam que esta custódia mais rígida
significasse mais sofrimentos.
Mas o apóstolo acaba com a suposição. A palavra grega prokopen
(proveito; “progresso”, BJ, NTLH, NVI, RA; “avanço”, AEC), que também ocorre no
versículo 25, era usada para descrever sapadores que abriam fossos, trincheiras
e galerias subterrâneas em preparação à chegada de um exército ou outro grupo
bélico. E derivada do verbo prokoptein, que significa “cortar árvores e
vegetação rasteira”. Em vez de impedir o “progresso” do evangelho, a prisão de
Paulo serviu para tirar obstáculos e aumentar a propagação das boas novas (cf.
1 Tm 4.15). Este é o desejo supremo de Paulo, pouco importando o que lhe
aconteça pessoalmente.
De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas
por toda a guarda pretoriana (13). Melhor tradução: “As minhas cadeias, em
Cristo, se tornaram conhecidas” (AEC, RA). Em Cristo quer dizer “por causa de
Cristo” (NVI). O termo grego praitorio é interpretado de quatro modos
importantes: a) A guarda pretoriana, significando os soldados; b) o palácio do
imperador; c) os quartéis da guarda pretoriana; d) as autoridades judiciais ou
as pessoas que ouvem os casos dos prisioneiros. A última opção, caso aceita, se
ajustaria com a referência à “defesa” no versículo 7, sendo possibilidade
aceitável. Lightfoot demonstrou imparcial
e categoricamente que praitorio não pode ser aplicado ao palácio, nem aos quartéis
os soldados ou ao acampamento pretoriano. Refere-se a um grupo de homens, uma
guarda ou companhia de soldados. Embora não excluamos a interpretação que diz
se tratar de autoridades judiciais, a idéia de uma companhia de soldados
afigura-se melhor. Augusto tinha dez mil desses homens. Esta interpretação se
harmoniza com a declaração lucana de Paulo ter morado durante certo tempo em
casa alugada.
Em Efésios 6.20, carta escrita na mesma prisão pouco antes
de Filipenses, Paulo fala de ser “embaixador em cadeias” (halusei; cf. At
28.20). A alusão é à corrente que prendia guarda e prisioneiro. A cada mudança
de guarda Paulo tinha nova oportunidade de testemunhar de Cristo. Na prisão de
dois anos grande número de guardas teria ouvido o evangelho de Paulo. Ele havia
testemunhado na prisão filipense (At 16.25-32); e agora ainda testemunhava
(4.22). Além deste testemunho pessoal, é possível que Paulo já tivesse
defendido oficialmente a si mesmo e ao evangelho (7).
“A palavra de Deus não está presa” (2 Tm 2.9), de forma que
ele pode dizer que o evangelho é apresentado por toda a guarda pretoriana e por
todos os demais lugares (13). A tradução todos os demais lugares é obviamente
inexata. Leitura melhor é: “todos os demais” (AEC, NVI, RA; cf. CH, NTLH).
Esta frase confirma a dedução de que Paulo não se refere a
um palácio, mas a um grupo de pessoas; provavelmente aos que o visitavam e a
outros a quem subseqüentemente contaria a Palavra do Senhor. Sua prisão
proporcionou nova oportunidade para testemunhar de Cristo.
2.
O Incentivo dos Romanos (1.14)
E muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas
prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor (14). Muitos
(pleionas) dos irmãos indica que alguns não se abalaram com o fato de Paulo
estar preso. A expressão no Senhor é mais bem compreendida se não for
considerada junto com irmãos, mas com tomando ânimo. Esta tradução é mais
precisa: “Os irmãos, em sua maioria, motivados no Senhor pela minha prisão”
(NVI; cf. BAB, BJ, CH, NTLH, RA). Muitos dos irmãos romanos ficaram “mais
[extraordinariamente] ousados para” (BAB) falar a palavra.
Os melhores manuscritos têm “palavra de Deus” (CII, RA) ou
“Palavra do Senhor”. O verbo grego latem (falar) denota o fato de falar e não o
conteúdo do discurso.6 Ou seja, a tendência ao silêncio foi de fato vencida.
Não que eles não estivessem falando, mas que ganharam nova e maior ousadia para
proclamar a Palavra de Deus sem medo. A vitória sobre o medo não se baseava na
probabilidade da libertação de Paulo, pois esta de maneira nenhuma era certa.
Os fatores determinantes dessa vitória foram o espírito triunfante de Paulo e
seu sucesso evidente em testemunhar. Foi sua coragem que deu novo alento aos
crentes romanos tímidos que, possivelmente por perseguição, tinham desanimado.
3.
A Proclamação de Cristo (1.15-18)
Entre os que ficaram mais corajosos em declarar a Palavra do
Senhor, há alguns que pregam a Cristo por inveja e porfia (15). Eles pregam por
espírito de erin, porfia, “rivalidade” (NVI), “divisão” (OH) ou “partidarismo”.
Seu objetivo, diferente do apóstolo, não é exaltar primariamente a Cristo, mas
promover interesses próprios. Paulo diz que eles anunciam a Cristo por
contenção (eritheias, 17); melhor, “por facção”, “por discórdia” (RA).
Originalmente, a palavra significava trabalhar por pagamento. Com a passagem do
tempo, veio a descrever a pessoa de acentuadas ambições profissionais, alguém
que se exalta ou se promove para cargo público. Estes são auto promotores e
interesseiros.7 Não puramente (17) é tradução literal (ou “não castamente”).
Eles não falam toda a verdade, mas só a que serve para seus propósitos. Seus
motivos são misturados, corrompidos com egoísmo (cf. Tg 3.14). Na verdade,
estes não estão pregando no sentido exato do termo. E por isso que Paulo usa o
verbo grego katangellousin (“anunciar”), palavra diferente da normalmente usada
para referir-se à pregação. Eles estão tornando conhecido os fatos do
evangelho, talvez a vida, morte e ressurreição de Jesus, mas o fazem por ciúme
ou outros motivos indignos. São ortodoxos, mas não têm coração.
Julgando acrescentar aflição às minhas prisões (17). Eles
acham que estão, literalmente, “levantando atrito” para Paulo. Esforçam-se em
tornar a prisão do apóstolo uma experiência irritante, possivelmente suscitando
inimigos contra ele, dessa forma pondo sua vida em maior perigo, ou no mínimo
aborrecendo-o em espírito. Talvez, estes indivíduos sejam os insinceros
mencionados em 2.21, que “buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus
Cristo” (NVI; cf. BJ; cf. tb. Mt 23.15). Não são judaizantes, pois em outras
cartas Paulo declara que eles arruínam o evangelho; não é o que ele diz aqui.
E possível que Romanos 14 seja um texto descritivo desses
indivíduos. Certos expositores sugerem
que são os antigos mestres da igreja, que estão com inveja da ampla
popularidade de Paulo.9 Se isto for verdade, comprova que é característica da
natureza humana sentir ciúme de colegas de profissão: médicos têm ciúmes de
médicos, ministros de ministros, etc. Em todo caso, as ações dessas pessoas
aqui se originam de algo pessoal contra Paulo. presumem que a pregação que
fazem tornará a prisão de Paulo insuportável.
Mas há outros que pregam por espírito de amor, sabendo que
fui posto para defesa do evangelho (16). Estes, a despeito de equívocos
pessoais, pregam (15, kerussousin, “proclamam”, BJ, RA) pelos mais sublimes
motivos do amor (agapes), e não por ambição partidária e facciosa (cf. 1 Co
13). O objetivo dessas pessoas é o mesmo de Paulo, que foi posto (16, keimai,
“incumbido”, RA), como soldado colocado de sentinela pelo capitão, para defesa
(apologian) do evangelho. Aqui, o termo evangelho significa todos os seus
testemunhos e a propagação de Cristo. Pelo que deduzimos, não se refere
primariamente à defesa de Paulo em seu julgamento pessoal; seja como for, estas
— a defesa pessoal e a defesa do evangelho — estão igualadas na mente do
apóstolo.
Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda
a maneira, ou com fingimento, ou em verdade (18). Contanto que (plen hoti)
também pode ser traduzido por “uma vez que” (RA). Esta é, na verdade, a única
maneira que Paulo encara a questão (cf. 1 Co 1.17). Esses que pregam por
fingimento (prophasei, lit., “pretexto”, AEC, BAB, RA) são os que falam não
puramente (17). O propósito em que pregam, embora não o conteúdo da mensagem, é
diferente do de Paulo. Não é a mensagem que anunciam, mas o espírito em que
anunciam que é falho. Paulo, como no versículo 17, usa o verbo kataggelletai ,
ou seja, pelo menos Cristo é “anunciado”, se não genuinamente “proclamado”.
Pelo visto, Paulo vence todo o aborrecimento pessoal acerca da situação, e
expressa em linguagem um tanto quanto abrupta um ato decisivo da vontade: Nisto
me regozijo e me regozijarei ainda (18).
Ele não vai permitir que querelas particulares esfriem o seu
amor pelo evangelho e seu progresso. A paixão que monopoliza o todo de sua vida
é o “progresso do evangelho” (ver comentários no v. 11).
Por conseguinte, ele enfatiza o bem que está sendo feito —
Cristo está sendo anunciado — e não os motivos ruins dos partidários (4.8). A
atenção aos princípios básicos o poupa da amargura de alma. A verdade do
evangelho capturou o seu amor; por essa razão ele suportará qualquer golpe que
vier sobre ele, em vez de permitir que sirva de impedimento ao evangelho.
Nos versículos 12 a 20, Alexander Maclaren descobriu o tema
“O Triunfo do Prisioneiro”: 1) O propósito monopolizador que submete todas as
circunstâncias a seu serviço, 12; 2) O contágio do entusiasmo, 13,14; 3) A
ampla tolerância do entusiasmo, 15-19; 4) O confronto calmo da vida e da morte,
pois ambos engrandecem a Cristo, 20,21.
O
TRIUNFO SOBRE A ADVERSIDADE, 1.19-26
1.
A Base do Triunfo (1.19).
Porque sei que disto me resultará salvação (19), ou melhor,
“minha libertação” (CII, NVI; cf. NTLH, RA). Parece ser citação de Jó 13.16 na
Septuaginta.
Paulo está, ao que parece, se comparando com Jó. O texto de
Filipenses 2.12-15 é muito parecido com as determinações finais de Moisés aos
israelitas (cf. Dt 3lss.), semelhança que também indica comparação com Moisés.
Se tal especulação for justificável, então Paulo está se fortalecendo no Senhor
(cf. 1 Sm 30.6), analisando a sorte semelhante dos santos de quem ele leu nas
Escrituras veterotestamentárias. Com isso, ele identifica a utilidade da
adversidade.
A palavra disto (touto) refere-se ao anúncio de Cristo, do
qual Paulo acabara de falar no versículo 18, ou ao conjunto total de suas
circunstâncias? Provavelmente ambas as opções estão corretas. Isto resultará
(lit.; ou “redundará”, BJ, RA) em sua salvação, O termo grego soterian
(salvação) significa mais que a “libertação” da prisão ou a morte, pois para
ele pessoalmente pouco lhe importava viver ou morrer (20). Os profetas e
salmistas do Antigo Testamento usavam soteria para referir-se à vitória do vencedor
de uma competição.
Paulo evidentemente se imagina em batalha, lutando não
“contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades”
(Ef 6.12), contra os quais a peleja final será a vitória (cf. 1.27-30). Além
disso, sua prisão lhe aperfeiçoará o caráter para a glória de Cristo. Ele tem
certeza de “que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28), e que seus
esforços nesta situação serão suas testemunhas no dia do julgamento.
Pela vossa oração quer dizer, literalmente, “pela vossa
súplica” (AEC, BAB, RA; ver comentários no v. 4). A participação que Paulo e os
crentes filipenses têm em comum o deixa inteiramente ciente da necessidade das
orações dos seus companheiros cristãos.
E pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo significa,
literalmente, “provisão abundante” (epichoregias; cf. RA; cf. tb. “que vos dá”,
Gl 3.5). A palavra é derivada de chorus, que descreve as pessoas usadas como
plano de fundo nas tragédias gregas. O estado escolhia uma pessoa que supria as
despesas do chorus, custeando as despesas de treinamento e sustento. Apalavra também
era usada para descrever a beneficência de cidadãos ricos que, dando um banquete,
forneciam comida e entretenimento para a noite.
Assim, as experiências de Paulo resultarão em sua salvação
pelos “recursos do Espírito” (CII), que “fornecerá tudo que for necessário”. O
Espírito não só suprirá inicialmente a graça, mas continuará distribuindo graça
suficiente à medida que surgirem as necessidades. A expressão Espírito de Jesus
ocorre somente aqui no Novo Testamento. Expressões semelhantes deixam claro que
a alusão é ao Espírito Santo (At 5.9; 16.7; Rm 8.9; 1 Co 12.4; 2 Co 3.17; Gl
4.6). Pouca diferença faz se o Espírito é a provisão ou se ele traz a provisão.
Lightfoot está provavelmente certo quando diz: “O ‘Espírito de Jesus’ é o
doador e o dom”.
O que está claro é que a base do triunfo é pela oração dos
crentes filipenses e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo. Ambos são
necessários. No original, só há uma preposição (dia, “por”) unindo a oração e o
socorro. A medida que a oração sobe, o socorro (“provisão”, RA) do Espírito
desce. As orações dos crentes filipenses e a graça de Deus são como “dois
baldes em um poço; enquanto um sobe, o outro desce”.
2.
A Esperança do Triunfo (1.20-24)
Segundo a minha intensa expectação e esperança 20. O termo
grego apokaradokian (expectação) indica o afastamento total de tudo para
fixar-se no objeto do seu desejo. E, literalmente, “estender a cabeça” para ver
algo ao longe; obviamente, no caso de Paulo era o Dia de Cristo. De que em nada
serei confundido (20) é mais bem traduzido por “de que em nada me envergonho”
(ASV). Paulo não se envergonhava do evangelho antes de ir para Roma (Rm
1.14-16), e é sua firme esperança de que agora não lhe faltará confiança
(“coragem”, AEC, CII, NTLH; “ousadia”, BJ, RA; “determinação”, NVI);
literalmente, “franqueza no falar” (cf. At 14.13). Ele deseja que Cristo será,
tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela
morte (20). Cristo é o sujeito desta oração, que foi colocada na voz passiva.
Meyer sugere que o passivo foi usado, porque o apóstolo percebe que ele é o
órgão da operação de Deus. Portanto, Paulo não está dizendo: “Eu engrandecerei
a Cristo”, mas: Cristo será... engrandecido. O seu corpo será o “teatro no qual
a glória de Cristo é representada” (cf. Rm 12.1; 6.13).
O viver é Cristo (21) é tradução literal, pois viver é o
sujeito da frase. Lightfoot traduz assim: “Para mim a vida é Cristo”. Outra
opção tradutória é: “Vivendo, eu viverei Cristo”.” As palavras para mim não
querem dizer “em minha opinião”.
O sentido é mais enfático, sendo equivalente a: “O
compromisso de minha vida é com Cristo”. Cristo é o objetivo da vida natural de
Paulo. Ele é o começo e o fim. Levando em conta a referência ao corpo (20),
fica claro que Paulo está falando da totalidade de sua vida fisica e prática de
serviço (cf. Rm 6.16). O que torna esta vida significativa e frutífera é Cristo.
Semelhante vida não é possibilidade humana. E obra divina.
Por conseguinte, a referência pressupõe a vida profunda e interior de Deus na
alma. Paulo declara: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas
Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de
Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).
Paulo se rendeu completamente a Cristo, que vive nele e por
ele (cf. 2 Co 4.10,16; 5.15,17; Cl 3.3). Ele é “constrangido” por uma nova
força — o amor (2 Co 5.14). Para ele, a vida é vivida ao máximo só em Cristo,
pois “a vida eterna é esta:” Conhecer “a ti só por único Deus verdadeiro e a
Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).
Ele está dizendo: “A presença de Cristo é a alegria de minha
vida, o espírito de Cristo a vida de minha vida, o amor de Cristo o poder de
minha vida, a vontade de Cristo a lei de minha vida; e a glória de Cristo o fim
de minha vida”.
O morrer é ganho (21) Literalmente, “ter morrido”, quer
dizer, morrer seria vantajoso. O tempo verbal em grego não indica que a morte
em si é ganho, mas aponta o estado depois da morte. O termo grego kerdos
(ganho) era usado para descrever juros em dinheiro. Portanto, morrer é trocar o
capital e os juros e ter mais de Cristo do que viver.
O conceito paulino de ganho está em nítido contraste com o
motivo vulgar de vantagem material que caracterizava os comerciantes de
Filipos; e não nos esqueçamos de que foi esse mesmo motivo que inicialmente
suscitou hostilidade à pregação do evangelho naquela cidade (At 16.19). J. W.
C. Wand traduz da seguinte forma: “Para mim a vida significa realmente Cristo,
e a morte traria mais vantagem”. Hamlet, no famoso monólogo “Ser ou Não Ser”,
discute se “é melhor viver e sofrer as setas da boa sorte ou morrer e arriscar
a sorte de sonhos acusadores”.
Nenhuma perspectiva é agradável. Shakespeare “julga que a
vida e a morte são males, e não sabe qual delas é a menos maléfica; Paulo julga
que ambas são bênçãos, e não sabe qual delas preferir”. Por 30 anos o apóstolo
tem vivido, não para si, para coisas materiais ou para promoção pessoal, mas
para Cristo. Ele está preparado para morrer, porque está preparado para viver.
O viver direito assegura o morrer direito. “Ser tudo para Cristo enquanto eu
vivo [é] descobrir, por fim, que ele é tudo para mim quando eu morrer”.
Poderíamos traduzir o versículo assim: “Para mim, vivendo e
morrendo, Cristo é o ganho”. Maclaren faz um comentário esplêndido sobre esta
passagem: “Para o escravo, não faz diferença se ele está lá fora, no frio e na
chuva, ‘arando a terra e cuidando do gado’, ou se ele está servindo seu senhor
à mesa. E serviço do mesmo jeito. Apenas é mais quente e mais leve em casa do
que no campo. Trata-se de promoção ser feito escravo portas a dentro”.
Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não
sei, então, o que deva escolher (22). A gramática rudimentar indica o dilema do
apóstolo. Mas o significado é claro: “Entretanto, se o viver na carne traz
fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher” (RA). Cristo é o
fruto do trabalho de Paulo (Rm 1.13; 1 Co 3.6). Grotius entende que fruto da
minha obra é expressão idiomática que significa “que vale a pena”. Então,
teríamos: “Se o viver na carne me vale a pena.. A tradução de Wand ajuda a esclarecer o significado:
“Visto que a existência física me dá a oportunidade de trabalho frutífero, já
não sei qual preferir”.26 Viver, de acordo com a tradução de Barth, “significa
estar fazendo colheita”.27 Certos expositores afirmam que o termo grego gnorizo
(sei) significa “declarar”. Neste caso, a idéia é: “Se é melhor para a igreja
que eu viva, então não declararei minha escolha pessoal”.
Mas de ambos os lados estou em aperto (23). Estou em aperto
é, literalmente, “estou apertado” (cf. N’VI). O termo grego synechomai descreve
o viajante numa passagem estreita, cercado pelos lados, podendo ir só para a
frente. Moffatt traduz assim:
“Estou num dilema” (cf. BJ). Tendo desejo de partir e estar
com Cristo, porque isto é ainda muito melhor (23). Literalmente, tendo o desejo
(BAB), dando a idéia de que não é apenas mais um entre muitos desejos. O verbo
grego analusai (partir) é metáfora extraída do ato de soltar estacas e cordas
de tendas para levantar acampamento (cf. 2 Co 5.1; 2 Tm 4.6). Tendo em vista
que sua profissão era fabricante de tendas, esta metáfora fornece modo
apropriado de Paulo descrever sua partida desta vida. O verbo também descrevia
a ação de erguer âncoras e fazer-se à vela.
Adam Clarke sugere que era metáfora tirada do comandante de
um navio, em porto estrangeiro, que desejava fazer-se à vela rumo a seu país,
mas que ainda pão tinha ordens do proprietário. Barclay destaca que a palavra
também é usada para referir-se à solução de problemas. O estado depois da morte
dará soluções aos enigmas profundos da vida (1 Co 13.12). Partir e estar com
Cristo são ações simultâneas. Quer dizer, ao morrer, a pessoa entra
imediatamente na presença do Senhor. Para o cristão, estar ausente do corpo é
estar presente com o Senhor (Jo 14.3; 2 Co 5.8).
Para descrever a experiência de estar com Cristo, Paulo usa
termos superlativos, os quais são parcialmente obscurecidos pelas traduções:
Ainda muito melhor (RC), “muito melhor” (AEC, BJ, NVI), “bem melhor” (NTLH),
“incomparavelmente melhor” (RA) e “a melhor coisa para mim” (CH).
Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne
(24). Este é o outro lado do dilema de Paulo. Por um lado, ele deseja estar com
Cristo; por outro, ele reconhece seu dever com a igreja. Entre estas
alternativas ele mantém um “equilíbrio santo”. A vontade de Deus deve ser
feita, mesmo que signifique subordinar o seu desejo ao seu dever para com os
outros. Epimenein te (ficar “em”) é, literalmente, “permanecer por” e não “em”
a carne. Significa “resistir por”, “não ceder por”, como o soldado que se
recusa a deixar o posto (cf. 17).
Ninguém vive para si. Paulo tem de pensar no bem-estar dos
amigos de Filipos. Ele está pronto a renunciar as beatitudes eternas pelo
serviço terreno. Não seria esta a “mente de Cristo” que ele tanto deseja para
os crentes filipenses (2.5-8) e que caracteriza a vida do apóstolo (Rm 9.3; 1
Co 10.33)? Não há melhor quadro que este para descrever o modo em que o cristão
entende a relação deste mundo com o outro mundo, acerca de recompensas e
serviços. O desejo de Paulo não é a morte, mas Cristo. A morte é apenas a
entrada numa relação mais plena com ele. Em nenhum sentido, Paulo a considera
fuga das responsabilidades desta existência temporal.
A acusação de que o cristão é tão ligado ao outro mundo que
se interessa apenas pelos assuntos da outra vida é uma caricatura fundamentada
em engano da fé cristã. O bem dos outros sempre tem de vir primeiro, à frente
de todo desejo pessoal. Por conseguinte, Paulo está pronto a continuar seu
serviço para que os crentes filipenses fiquem “mais fortalecidos, como os
filhotes de pássaros precisam da mãe até que as penas cresçam”.
3.
O Resultado do Triunfo (1.25,26)
E, tendo esta confiança, sei que ficarei e permanecerei com
todos vós (25). O começo deste versículo deve ser lido com o versículo 24. Quer
dizer, Paulo está confiante de que viver é vantajoso para os crentes
filipenses; ele expressa uma convicção pessoal (2.24) e não uma profecia. Ele
declara sua opinião firme de que Deus permitirá o que for melhor. Literalmente,
ele está dizendo: “Permanecerei” (meno) com todos vós e “permanecerei pronto
para ajudar” (parameno) todos vós. Para proveito vosso e gozo da fé é mais bem
traduzido por “para o vosso progresso { prokopen; ver comentários no v. 12] e
gozo na fé” (AEC; cf. NVI).
Para que a vossa glória aumente por mim em Cristo Jesus,
pela minha nova ida a vós (26) é, literalmente, “para que o vosso motivo de
orgulho abunde em Cristo Jesus em mim pela minha presença de novo convosco”.
O termo grego kauchaomai (glória) pode ser usado em sentido
falso e em sentido legítimo (cf. Rm 15.17; Ef 2.9). A glória (kauchema) dos crentes filipenses tem
de estar em Cristo, embora o objeto dessa glória se baseie em Paulo. Parousia
(ida) é a palavra usada no grego secular para descrever a entrada cerimoniosa
de um rei ou governador em uma cidade, com todas as manifestações de alegria
pertinentes ao evento. Paulo está convicto de que se lhe for permitido rever os
crentes filipenses, a participação mútua entre eles os levará a lhe dar um
acolhimento de rei.
Os versículos 12 a 26 narram “A Santa Confiança”, que se
baseia em: 1) Na providência amorosa de Deus revelada nos acontecimentos
passados, 12-18; 2) Na presença ininterrupta de Cristo em cada momento, 21; 3)
Na habilidade de Deus configurar a morte ou a vida, no futuro, para o
cumprimento dos seus propósitos, 19-26.
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério
Belém Em Dourados – MS
BIBLIOGRAFIA
Comentário Bíblico
Beacon
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