A
ALEGRIA QUE SUPERA A ADVERSIDADE
Filipenses
1.12-26
Nada
retém a força do evangelho, a não ser a falta de vontade humana. — O autor
E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me
aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho. De maneira que as
minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana e por
todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as
minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é
que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boa mente;
uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas outros, na
verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar
aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado
de toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me
regozijarei ainda.
Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa
oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha intensa
expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a
confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo,
seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é
ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o
que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de
partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais
necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que
ficarei e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé, para que
a vossa glória aumente por mim em Cristo Jesus, pela minha nova ida a vós. (Fp
1.12-26)
Neste capítulo, a Carta de Paulo segue o padrão comum
adotado por ele para escrever suas cartas. Ele dá uma descrição detalhada das
suas necessidades, mas destaca, acima de tudo, a paixão que o consumia: a
pregação do evangelho acima de qualquer adversidade, O texto está adaptado ao
assunto deste capítulo. Paulo estava preso em Roma, mas as suas cadeias não o
impediam de proclamar o evangelho. Ele fala de seu sofrimento de forma exemplar,
com o objetivo de levar os filipenses a uma reação à perseguição. Ele queria
que os filipenses entendessem que r poderia diminuir a fé recebida. Pelo
contrário, as coisas que 1h haviam acontecido em sua viagem missionária não
eram um entrave para o progresso do evangelho. Os filipenses estavam
profundamente preocupados com o estado físico de Paulo na - Nutriam por ele um
grande afeto. Sabiam que ele estava preso aguardando o julgamento, e que não
demoraria o seu julgamento perante o supremo tribunal do Império. Por causa
dessa situação, a igreja se preocupava em saber como ele estava se sentindo. N
verdade, a preocupação maior dos filipenses estava em saber o q’ aconteceria
com a igreja plantada por todo o mundo romano s. Paulo fosse condenado à morte.
O
Testemunho que Rompe Cadeias e Grilhões (1.12,13)
1.
O evangelho é mais poderoso do que cadeias e grilhões
A prisão de Paulo, do ponto de vista humano, poderia ter
sido um revés para o evangelho. Entretanto, Paulo garante que nada,
absolutamente nada, poderia frear a força do evangelho de Cristo. Nenhuma
circunstância, política, material ou espiritual impediria o testemunho do evangelho.
O fato de o apóstolo estar preso poderia afetar o avanço do
evangelho no mundo. Sua prisão era considerada um golpe contra a igreja de
Cristo. Porém, o apóstolo transmite na sua carta a ideia de que nenhum poder
físico ou material poderá conter a força do evangelho. O que Paulo, de modo
simples e objetivo, diz para os filipenses é que cadeias não limitam o
movimento dinâmico do evangelho que pode ser disseminado de boca em boca. Mais
importante que as suas cadeias era a proclamação do evangelho, não importava
como. Para o apóstolo em prisão, as notícias dos sucessos de conquista do
evangelho na vida das pessoas lhe serviam de consolo para suportar os
sofrimentos que padecia nas suas prisões. Saber que o testemunho das suas
prisões produzia fruto positivo na vida dos cristãos, especialmente os romanos,
dava-lhe uma alegria e um sentimento (te vitória que superava todos os
sofrimentos da prisão.
2.
Paulo rejeita a autopiedade no seu sofrimento (1.12)
Paulo começa referindo-se às “coisas que me aconteceram” (v.
12), ou seja, como está no grego do Novo Testamento “ta kat’eme” que diz
respeito a “minhas coisas, meus assuntos” ou “coisas que dizem respeito a mim”.
Ora, Paulo estava falando dos seus sofrimentos, mas sua avaliação sobre esses
sofrimentos era que eles não deviam ser a razão de compaixão dos filipenses.
Ele queria que os filipenses entendessem que o foco, o vértice de tudo e a
pessoa para quem deviam olhar era Jesus. Ele era o eixo central da sua vida, e
seus sofrimentos físicos e materiais contribuíam para o avanço da igreja no
mundo. Paulo não se fazia de vítima do evangelho nem da igreja, mas entendia
que tudo quanto acontecia na sua vida era para a glória de Cristo na sua igreja
no mundo.
Paulo avalia seus sofrimentos com uma visão positiva. Ele
era um missionário que tinha consciência da importância da sua missão. Na sua
mente, todo e qualquer sofrimento infringido contra a sua pessoa no exercício
do ministério cristão era circunstancial e estava sob os cuidados de Deus. A
soberania de Deus equivale à consciência de que o sofrimento é temporal e que a
superação sobre ele produz um sentimento de vitória e aponta para um futuro
eterno de gozo na presença de Deus. Por isso, Paulo não agia com autopiedade
para conquistar a compaixão das pessoas. Ao falar e escrever de seus
sofrimentos, não esperava que os filipenses e todas as demais igrejas
entendessem que ele não estava esperando dos cristãos atitudes de compaixão, de
pena pelos maus tratos recebidos.
Paulo queria que a igreja de Filipos e as demais igrejas do
seu campo missionário percebessem que sua prisão contribuiria ainda mais para
que o evangelho alcançasse muitas pessoas. Paulo não estava interessado em
chamar a atenção para si, mas queria que a igreja não desanimasse em momento
algum, mas desse prosseguimento ao objetivo da proclamação do evangelho em todo
o mundo.
Que coisas eram essas vividas e experimentadas por Paulo?
Ele podia lembrar-se de duras experiências que o acometeram e o deixaram, às
vezes, com fome, com privação de roupas, com enfermidades regionais. Seu corpo
tinha as marcas dos açoites que deixaram vergas em seus lombos; as marcas das
correntes nos tornozelos e braços; os naufrágios; os apedrejamentos; os perigos
em travessias de rios; os pés calejados em viagens a pés, e perigos de assaltos
e ladrões. Todas essas experiências contribuíram para que o evangelho que não
ficasse engessado em poucos lugares. Tudo isso contribuiu para que Paulo e seus
companheiros de missões amadurecessem na fé e na convicção do galardão de Cristo
ao final da jornada cristã (2 Co 5.10).
Paulo entendia que fora chamado para compartilhar de um
projeto divino e que os sofrimentos infligidos durante a execução desse projeto
divino em favor do evangelho culminariam com a vitória de Cristo sobre as forças
do mal. Por isso, Paulo se regozijava em Cristo. Ele se regozijava então nos
seus sofrimentos. Aos colossenses, ele repetiu a mesma mensagem quando disse:
“Regozijo-me, agora, no que padeço por vós e na minha carne cumpro o resto das
aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24).
Ele reagia aos sofrimentos com atitude de aceitação positiva
e não permitia que a amargura dos sofrimentos ou qualquer resquício de
autopiedade o impedisse de fazer a obra de Deus. Esse sentimento de sacrifício
e paixão pela obra de Cristo está em crise nos tempos atuais. Os adeptos da
pseudoteologia da prosperidade, que não admitem o sofrimento, desconhecem o
privilégio de sofrer por Cristo.
No versículo 12, quando Paulo fala de “proveito” (ARC) ou
“progresso” (ARA), está falando, de fato, de um termo militar que se referia
aos trabalhadores que abriam caminho através de uma floresta utilizando
ferramentas como machetes, machados e foices a fim de facilitar a caminhada de
soldados para o alvo de sua batalha. O termo grego para “progresso” é prokopê
que significa, essencial- mente, “avanço a despeito de obstruções e perigos que
bloqueiam o caminho do viandante”.
Na verdade, Paulo estava declarando que a obra do evangelho
estava rompendo com obstruções e progredindo, a despeito da terrível oposição
externa. Paulo estava dizendo, na realidade, que na batalha espiritual é
preciso abrir caminho para chegar a um fim proveitoso. Nesse sentido, os
sofrimentos do apóstolo contribuíam para maior proveito do evangelho.
Paulo
Focaliza sua Atenção na Proclamação do Evangelho (1.12,13)
1.
Paulo conquista a simpatia da guarda pretoriana (v.13)
Paulo estava convicto de que não havia qualquer acusação que
o incriminasse, a
té porque suas doutrinas eram conhecidas até mesmo pelas autoridades
da Defesa Pública, isto é, o Pretório. A corte pretoriana era constituída por
uma classe especial militar que vivia na mesma região (ou lugar) onde Paulo
estava preso. A palavra “pretório” vem do latim praetorion e no grego é
praetorium, que era o Tribunal em que se ouviam e julgavam as causas pelo
pretor ou magistrado civil. O apóstolo Paulo aguardava o dia em que seria
apresentado ao pretor para ser ouvido e julgado por ele. O que se subentende é
que o caso de Paulo havia sido levado ao imperador como um caso muito especial
e que havia simpatia das autoridades pelo seu caso, uma vez que havia cristãos
que viviam e trabalhavam dentro do Palácio de César como está dito no texto de
4.22: “Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de
César”.
A despeito da terrível oposição externa que a obra
missionária estava enfrentando e sofrendo, a obra do evangelho progrediu e a
Palavra de Deus não ficou retida por força nenhuma. Paulo estava em Roma
aguardando julgamento da parte do imperador. A guarda pretoriana era
constituída de, pelo menos, 10 mil soldados espalhados em todos os lugares onde
houvesse uma representação do Império. Em Roma havia o maior número de homens
para proteger o Imperador. Essa guarda romana gozava de certos privilégios
superiores a qualquer outra instituição imperial que exercia influência sobre
coisas ligadas ao imperador. Paulo era um preso especial que conseguiu
conquistar a simpatia de muitos pretorianos, e por esse modo a comunicação da
mensagem do evangelho era facilitada em todo o Império Romano. Sua situação
judicial chamou a atenção de muita gente de Roma que não via qualquer crime de
Paulo contra o império.
2.
O seu sofrimento propiciou um canal de abertura para se pregar o Evangelho
Warren Wiersbe, em seu comentário sobre a Carta aos
Filipenses, diz “que o mesmo Deus que usou o bordão de Moisés, os jarros de
Gideão e a funda de Davi usou as cadeias de Paulo” para a proclamação do
evangelho. Os cristãos romanos espalhados por toda a Roma, inclusive nas cidades
adjacentes, começaram a falar mais livremente sobre o evangelho na capital do
Império.
A prisão de Paulo, em vez de reter a força do evangelho,
promoveu ainda mais a sua disseminação. O Espírito Santo usou a prisão de Paulo
para tornar o evangelho ainda mais dinâmico e poderoso no seu avanço no mundo.
Motivações
da Pregação do Evangelho (1.14-18)
Duas motivações que estavam na mente e no coração dos
cristãos espalhados em toda a Asia Menor, que era o campo missionário do
apóstolo, além da Europa. Podemos perceber nessas duas motivações que moviam as
igrejas como sendo uma positiva e a outra negativa. A positiva dizia respeito
ao estímulo dos filipenses quanto às notícias da simpatia da guarda pretoriana
à situação prisional de Paulo (1.13). Essa motivação produziu no coração e na
mente dos cristãos filipenses a renovação de entusiasmo e disposição para
continuar fiel ao propósito da propagação do evangelho.
1.
Uma nova fonte de energia (v.14)
O texto diz que “muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo
com as minhas prisões” descobriram uma nova fonte de energia para continuar a
fazer a obra de Deus. O texto diz que “muitos dos irmãos” (1.14) foram
estimulados pela repercussão positiva entre os cristãos de Roma de que o
processo contra Paulo era injusto e não havia nenhuma ação criminosa, senão
peio fato de pregar a Cristo Jesus. Ora, visto que Paulo estava preso por causa
de Cristo, a guarda pretoriana bem como as autoridades romanas passaram a
entender que se tratava de um equívoco e que Paulo não era nenhum criminoso.
Paulo, pelo Espírito, entendeu que essa situação de dúvida das autoridades
romanas contribuiria para a disseminação do evangelho. Por isso, Paulo
regozijava-se pela oportunidade de participar dos padecimentos de Cristo Jesus
(Gl 2.20). Aqueles irmãos poderiam agora anunciar a palavra de Deus com maior
determinação e destemor.
2.
O sentimento de pessimismo de alguns cristãos (1.15-17)
Paulo estava imobilizado para fazer a obra livremente, pois
sua prisão o impedia de movimentar-se para fora da prisão. Alguns cristãos,
principalmente, que eram mestres judaizantes, insistiam que era necessário unir
os ritos mosaicos com as instituições cristãs. Paulo os combatia porque
entendia que eram duas coisas completamente distintas. Entretanto, esses judeus
cristãos tomavam essas posturas de Paulo e o acusavam de ser inimigo da Lei e
dos Profetas, principalmente porque ensinava contra a necessidade da
circuncisão para o cristão. Por esse modo, esses inimigos gratuitos de Paulo
incitavam os romanos contra o apóstolo para o indispor contra os romanos. Essa
situação despertou motivação errada em alguns dos cristãos de Filipos. Era um
sentimento de pessimismo no sentido de que Paulo estaria prejudicando o
crescimento do cristianismo.
Esse sentimento desenvolveu-se motivado por falsos obreiros
existentes no seio da igreja de Filipos. Alguns cristãos mais afoitos
aproveitaram-se da ausência do apóstolo para agir de modo discordante de tudo
quanto haviam aprendido anteriormente, conforme está descrito nos versículos 15
ao 17.
Sem dúvida alguma, o Diabo se aproveitou da fragilidade
daqueles irmãos para plantar em seus corações sentimentos de mesquinhez, de
inveja, porfias, discórdia e atitudes rebeldes (1.15,17). Ao ter notícias dessa
situação e sabendo que a liderança local não estava conseguindo impedir essa
situação, Paulo entendeu pelo Espírito Santo que o que importava, de fato, era
que Cristo fosse pregado “de toda a maneira”, “quer por pretexto, quer por
verdade”(1.18, ARA). O segmento hostil que se levantou na igreja criou uma
situação que tinha por objetivo, acima de tudo, atingi-lo e tratá-lo como um
desconhecido e sem reputação, ou mesmo como se fosse um falso apóstolo. Ele
sabia que essa situação seria dissipada e o que importava mesmo era que o
evangelho fosse pregado a todas as gentes até a vinda do Senhor.
“Verdade é que também
alguns pregam a Cristo por inveja e porfia” (1.15). A despeito de Paulo estar
preso naquela ocasião, ele faz entender que a obra da igreja de Cristo não
perderia espaço no mundo por sua incapacidade de se movimentar. A obra não
sofreria por sua ausência física. Porém, aqueles opositores tinham propósitos
diferentes dos propósitos de Paulo.
O apóstolo os denomina de eritheia porque
pregavam por outros interesses e com atitudes de inveja e porfia. O interesse
maior era trabalhar mercenariamente. A atitude dos caluniadores de Paulo era
mercenária, pois trabalhavam com segundas intenções. Invejavam a autoridade e o
poder apostólico que Paulo tinha. A palavra “porfia” indica contenda,
rivalidade e conflito que os opositores de Paulo faziam para denegrir a imagem
do apóstolo perante os irmãos.
‘....mas
outros de boa mente” (1.15), isto é, de boa vontade, que
denota satisfação e contentamento daqueles que trabalham por amor ao Senhor. Os
opositores de Paulo tinham motivação errada porque eram impulsionados por um
espírito faccioso, partidário, de intriga, e valiam-se de meios inescrupulosos
para alcançar seus objetivos perniciosos. No versículo 16 está escrito que
alguns trabalham por amor porque foram alcançados pelo amor imenso do Senhor.
“mas
outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção” (1.17). A
palavra que melhor explica “contenção” é “discórdia”, que descreve aqueles
estavam interessados apenas nos seus próprios interesses. Eles não tinham
motivos puros, e por isso caluniavam a Paulo, querendo diminuir sua autoridade
para com os filipenses.
“Mas
que importa?” (1.18). Paulo estava afirmando que se aqueles falsos
irmãos pregavam por porfia, fingimento ou por pretexto, o que importava, de
fato, era que o evangelho estava sendo pregado. Não significa pregar
erroneamente alguma doutrina, mas significa que se a mensagem for preservada,
independentemente do comportamento daquelas pessoas, o que importa é que o
evangelho seja pregado. Ele ainda diz: “nisto me regozijo e me regozijarei
ainda”.
Ora, sua alegria não se prendia às circunstâncias ruins ou
daqueles que o criticavam, porque a essência de tudo era a certeza da
proclamação do senhorio de Cristo. Paulo preferia saber que os seus opositores
pregavam o evangelho com fingida piedade, mas pregavam. Para ele, isso era
razão de regozijo em sua alma.
Intensa
Expectação de Paulo (1.19-26)
Os versículos 19 a 26 apresentam o exemplo de uma vida
consagrada ao Senhor, revelando ser a mais profunda e sincera consagração que
um homem seja capaz de fazer a Deus. Jesus Cristo é engrandecido como objeto
maior da vida do crente, porque a graça demonstrada de Cristo é o seu princípio
de vida e a palavra dEle é a sua regra cotidiana. A frase «nisto me regozijo e
me regozijarei ainda”, dita por Paulo do versículo 18, demonstra o sentimento
que dominava a sua alma de que nada afetaria sua alegria em Cristo. Não se
tratava de uma alegria efêmera ou passageira, mas de uma alegrit produzida pelo
Espírito Santo na sua vida interior. Em seguida, ele diz que tinha em seu
coração uma “intensa expectação”. Que expectação era essa? Não se referia à sua
própria segurança, mas ao fato de que sua prisão e privação promoviam ainda
mais o progresso do evangelho.
1.
Cristo é engrandecido na vida pessoal do apóstolo (1.19-20)
O que é que Paulo esperava? Qual era a sua expectativa
acerca dos seus sofrimentos e da continuidade da expansão da igreja? No
versículo 18, Paulo diz: “Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado
de toda a maneira”. Essa atitude revelava o anseio do apóstolo pelo crescimento
da igreja, sem se importar por quais meios, visto que o poder do evangelho
superaria os problemas humanos.
Porém, no versículo 19, Paulo estava certo de que Deus era
poderoso para tirar bem do mal, fazendo que o mal, ou seja, a oposição feita
contra ele, redundaria na salvação de muitas pessoas. Nesse mesmo versículo, o
apóstolo estava confiante na provisão (“socorro”) do Espírito de Jesus Cristo.
Ora, o Espírito de Jesus não era outro senão a terceira pessoa da Trindade,
enviado por Cristo para suprir todas as necessidades da sua igreja na terra (Gl
3.5). A presença do Espírito Santo na vida pessoal do crente e na igreja de
Cristo é uma garantia de resultados positivos.
“...
intensa expectação” (1.20,). Qual era a expectativa de
Paulo quanto à sua vida? Na mente do apóstolo, estar motivado por uma “intensa
expectação” ou “ardente expectativa” significa alguém que estica o pescoço para
ver o que há adiante. Paulo tinha esperança e estava seguro da promessa de
Cristo de que em breve ele estaria em sua presença. Ora, o que esperava Paulo?
Ele esperava não ser envergonhado ou “confundido” (v. 20). Sua vida dedicada ao
Senhor lhe dava a garantia de que seus inimigos é que seriam envergonhados,
pois ele estava dando a sua vida em libação ao Senhor. Ele esperava engrandecer
a Cristo no “seu corpo físico” (v. 20), isto é, os sofrimentos físicos que
padecia lhe davam a sensação de participar dos sofrimentos do Senhor Jesus.
2.
Como Paulo vê a morte e a vida em sua experiência pessoal (1.21,22)
A expressão “porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é
ganho” (v. 21) revela o sentimento que dominava coração e mente do apóstolo.
Viver, para ele, era a vida que agora tinha. O seu passado não era vida, mas
era morte. Porém, ao encontrar a Cristo, recebeu vida e vida abundante. Essa
declaração não significa apenas viver para servir a Cristo, para fazer o melhor
que possa no Reino de Cristo na terra, ou para agradá-lo, fazer sua vontade, ou
para ganhar almas para Cristo. E muito mais que isso. Significa uma total
identificação com Cristo, no sentido de que “o viver é ter Cristo em sua
própria vida”. Em Gálatas 2.20, ele disse: “Já estou crucificado com Cristo; e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne
vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por
mim”. Paulo se via identificado com Cristo com tal comunhão, como a união do
tronco com os ramos, o corpo com a cabeça. Nesse sentido, as coisas do mundo
não podiam afetá-lo, porque ele podia dizer: “Estou crucificado com Cristo”.
Na sua mente, continuar vivo fisicamente significaria
continuar fazendo o seu trabalho missionário. Porém, ele via o seu sofrimento
físico como um modo de glorificar a Cristo no seu corpo. Paulo colocava o seu
ideal acima de qualquer adversidade. A morte traria lucro pessoal porque
poderia estar para sempre com o Senhor. Porém, o que importava era a pregação
do evangelho. Por vida ou por morte tudo o que Paulo queria era que Cristo
fosse engrandecido no mundo (1.21). Ele queria viver para servir a Cristo, para
agradar-lhe e fazer sua vontade, mas entendia, também, que o que importava era
Cristo, não ele propriamente. Por isso, declarou aos gálatas: “E vivo, não mais
eu; mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20).
Sua consagração a Cristo era total e completa. Cristo era o
principio, a essência e o fim na sua vida pessoal. NEle vivia e se movia para a
sua gloria, por isso, podia dizer: Para mim o viver e Cristo, e o morrer é
ganho” (1.2 1).
3.
A intensa expectação de Paulo (1.22-26)
Nos versículos 19 a 21, Paulo expõe suas emoções revelando;
um dilema interior que era o desejo de estar com Cristo e o estar vivo na carne
para continuar fazendo a obra de Deus. Pela morte ou pela vida, Paulo queria e
desejava que Cristo fosse engrandecido na sua vida. Ele apela para as orações
da igreja para que o socorro. divino fosse concedido a ele naquela hora
dificil.
1.22 —
O “viver na carne” era uma declaração de que continuar a viver fisicamente
poderia representar sua total devoção a Cristo. O que importava para ele era
que seu trabalho em favor de Cristo produziria resultados eternos, e não
meramente temporais. Essa expressão não tinha um caráter moral, mas referia- se
a viver na carne para continuar a dar fruto no seu trabalho de disseminação do
evangelho.
Quando fala do “fruto da minha obra”, referia-se ao fato de
que se sua existência física podia lhe dar a oportunidade de continuar dando
fruto, então valia a pena estar vivo. Mais do que sua escolha pessoal entre
viver e morrer, valia o fato de que estar vivo, contribuiria para a proclamação
do evangelho e o fortalecimento da igreja. Na verdade, o seu futuro não
dependia da sua escolha pessoal, porque estava sob o poder do Império Romano.
Independentemente de qualquer ação drástica do império contra a sua vida, ele
não tinha nada a temer pela certeza de que seu destino estava na mão de Deus.
“Mas de
ambos os lados estou em aperto” (1.23). Na ARA, a palavra traduzida
para “aperto” é “constrangido”. A palavra “aperto” dá a ideia de estreitamento
de duas ideias: viver ou morrer. Entre viver ou morrer, o apóstolo diz mais:
“tendo desejo de partir e estar com Cristo”. A esperança do crente em Cristo é
que, quando morrer fisicamente, possa estar com Cristo. Não há purgatório para
o crente fiel, nem mesmo para o infiel. Os que morrem vão para o lugar
provisório (Sheol-Hades), que é a morada das almas e espíritos dos mortos. Os
justos vão para o descanso do Paraíso, e os ímpios vão para “o Lugar de
tormento”, e todos ficarão nesses lugares até a ressurreição de seus corpos. Os
justos em Cristo ressuscitarão primeiro por ocasião do Arrebatamento da Igreja
de Cristo e os ímpios só ressuscitarão no Juízo Final.
O apóstolo Paulo declara que estava em aperto, ou seja,
pressionado por dois pensamentos em sua mente: morrer para estar com Cristo, ou
continuar vivo, para completar a obra ainda por fazer em favor da igreja.
1.24 — Neste
versículo, Paulo entende a ideia de que “ficar na carne” seria mais necessário,
por amor da igreja, isto é, continuar vivo.
1.25,26
—
Paulo entende que se fosse libertado da prisão teria a oportunidade de rever
todos os irmãos filipenses e gozar da sua hospitalidade e amor. Tudo o que
Paulo mais desejava naquele momento era estar livre para retornar a Filipos e
ver a igreja de perto, bem como regozijar-se na fé daqueles irmãos.
Nesses versículos, o apóstolo Paulo resolveu seu dilema em
relação à igreja e declara que o seu desejo de estar com Cristo foi superado
pela obrigação e o amor de servir aos irmãos. Paulo estava pronto para
continuar trabalhando, mesmo tendo que enfrentar oposições dos romanos, de
falsos cristãos, além das privações materiais e físicas, desde que tudo isso
contribuísse para o progresso do evangelho e do crescimento espiritual da
igreja (vv. 25,26).
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
BIBLIOGRAFIA
Filipenses – A humildade de Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai
Cabral
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