CONDUTA DIGNA DO EVANGELHO
Filipenses 1.27—2.1-4
Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de
Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós
que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé
do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na
verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus.
Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele,
como também padecer por ele, tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto
e, agora, ouvis estar em mim.
Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma
consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis
afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o
mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda
ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a
si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual
também para o que é dos outros. (Fp 1.27—2.1-4)
A quebra da sequência dos versículos tem por objetivo
destacar a importância do assunto inserido no texto. O texto indicado para este
capítulo trata, como se vê, da conduta digna que o cristão deve viver em meio
aos sofrimentos infligidos no contexto da vida cristã. Esses mesmos versículos
destacam a perseverança como qualidade indispensável para suportar o
sofrimento. Em todo o Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo, o
sofrimento esteve presente na vida dos cristãos. Ele mesmo lidava com o
sofrimento com uma postura firme na esperança de que um dia não haveria mais
sofrimento para os que estão em Cristo.
Neste final do
capítulo 1 (Fp 1.27-30), Paulo faz de Cristo o exemplo supremo da vida
dedicada. Esse exemplo se torna um consolo quando sofremos por amor a Cristo.
Paulo chama a atenção dos filipenses para as aflições e perseguições que ele
havia passado e que eles também experimentariam. Em outra carta, o apóstolo
resume seu pensamento nesse sentido quando diz: “E também todos os que piamente
querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12).
O apóstolo admoesta aos cristãos de Fiipos a que norteassem
suas vidas pelo evangelho de Cristo, independentemente das adversidades que
tivessem de enfrentar por causa do nome de Jesus. Por que aceitar sofrer pelo
evangelho? A resposta simples e objetiva estava na convicção de que um dia esse
sofrimento iria parar, e a presença do Espírito Santo na vida íntima de cada
crente fortaleceria a esperança da glória. Na realidade, Paulo faz um convite
aos cristãos para que sejam capazes de padecer pelo Senhor Jesus, porque o
galardão da fidelidade estava garantido.
A Conduta de Cidadãos dos Céus
1. O significado de “portar-se dignamente” (1.27)
Ao exortar aos cristãos filipenses que se portassem
dignamente, Paulo tinha em mente o estilo de vida da cidade e da sociedade de
Filipos, como uma representação autêntica da vida romana. Ele entendia que a
cidade que oferecia honras aos seus cidadãos e que levava uma vida politeísta
poderia afetar a fé em Cristo. Ele, então, apela à consciência cristã dos
membros da igreja a que tivessem cuidado em não corromper a fé recebida em
Cristo. Paulo lembra nessa exortação o fato de que eles deveriam saber como
viver numa sociedade comprometida com a cidadania imperial romana, sem se
esquecer de que eles tinham uma cidadania celestial, cujo Rei era o Senhor
Jesus Cristo. Esse fato é lembrado no texto de 3.20: “Mas a nossa cidade está
nos céus”. O apóstolo apela para a conduta cristã que os filipenses deveriam
ter em relação à vida da cidade política e social de Filipos.
A maior dificuldade do mundano está na palavra “conduta”,
que é interpretada como um modo de cercear a liberdade de ser e de fazer o que
quiser fazer. Entretanto, do ponto de vista da Bíblia, essa palavra cabe
perfeitamente no estilo de vida cristã. A conduta requerida não é um
cerceamento à liberdade; pelo contrário, é um modo de exercer liberdade com
domínio sobre todos os ímpetos da natureza humana.
Note o que o texto
diz: “somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo”.
A palavra chave nesta frase é “portar-se” que melhor traduzida e de acordo com
o contexto se refere ao comportamento de um cidadão. Portanto, como “cidadãos
dos céus” os cristãos devem conduzir-se de um modo digno do evangelho. Esse
modo digno de conduzir-se implica agir com firmeza e equilíbrio na vida cristã
cotidiana.
A palavra “digno” está no texto grego do Novo Testamento
como aksios (ou axios) e é usada por Paulo em outras cartas aos efésios (Ef
4.1), aos colossenses (Cl 1.10) e aos tessalonicenses (1 Ts 2.12). A palavra
axios sugere, na sua etimologia, a figura de uma balança de dois pratos em que
o fiel da balança determina a medida exata daquilo que está no prato. O valor
ou dignidade é achado quando o fiel da balança fica na posição vertical
central. Os pratos da balança que ficam em posição horizontal precisam ter o
mesmo peso para equilibrar o fiel da balança. O cristão precisa ter uma vida equilibrada
com o fiel da balança que é a vontade soberana de Deus para a sua vida. Em
síntese, os privilégios de que gozamos na vida cristã devem condizer com nossa
conduta de cidadãos dos céus.
2. O comportamento de cidadãos dos céus (1.27)
O texto diz literalmente “vivei” como “cidadãos dos céus” do
mesmo modo como cada cidadão romano tinha que viver conforme as leis do Império
Romano.
Muito mais, como cidadãos romanos, os cristãos deveriam
viver de modo digno do evangelho, sem ofender a lei terrena, mas nunca negando
a salvação recebida de Cristo Jesus. Por isso, um cidadão consciente sabia que
deveria sempre respeitar as leis do império para ter privilégios de cidadãos
(Rm 13.1-7). Do mesmo modo, o cristão devia comportar-se como cidadão dos céus,
porque sua nova pátria é o Reino de Deus. Mais à frente, Paulo identifica bem
esse novo estado de vida do cristão quando diz: “Mas a nossa cidade está nos
céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). O
cristão deve, portanto, comportar-se de forma digna dessa cidadania. Todo
aquele que for nascido de novo, é nova criatura e tem seu nome escrito no Livro
da Vida do Cordeiro, por isso faz parte da família celestial (2 Co 5.17; Fp
4.3).
Paulo tinha uma visão ética da vida cristã muito definida.
Por isso, é frequente nas suas cartas o apelo ao padrão de conduta ética para
as igrejas sob a sua orientação pastoral. Várias vezes nos deparamos com esse
apelo paulino nas suas cartas. Aos Tessalonicenses, ele escreveu: “Assim como
bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós, como o
pai a seus filhos, para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos
chama para o seu reino e glória” (1 Ts 2.12). Ao recomendar uma cristã chamada
Febe, membro da igreja em Cencreia, Paulo escreveu aos romanos:
“Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na
igreja que está em Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos
santos” (Rm 16.1,2). Percebe-se que é o evangelho que estabelece a norma ética
do comportamento cristão.
Uma Conduta Capaz de
Fazer Frente à Oposição no Seio da Igreja (1.28)
A
igreja enfrentava uma oposição de intimidação (1.28)
A
versão bíblica Almeida Revista e Corrigida (ARC) apresenta o texto assim: “Em
nada vos espanteis dos que resistem” (v. 28). A versão da Bíblia Viva esclarece
ainda mais o texto com estas palavras:
“sem
temor algum, não importa o que os seus inimigos possam fazer”.
A
palavra “resistir” tem o mesmo sentido que “oposição”, e isso estava ganhando
espaço no seio da Igreja como uma forma de intimidação aos fiéis.
A
expressão “em nada vos espanteis” contém um verbo expressivo que sugere o
tropel de cavalos assustados. Paulo mostra a distinção na reação de coragem e
firmeza que os filipenses deveriam ter em relação às perseguições. Ele garante
que o sofrer por Cristo é garantia de salvação e vitória sobre os inimigos. A
invasão de falsos mestres e apóstolos no seio da igreja produzia medo da parte
dos cristãos que
Paulo havia doutrinado.
A
resistência ao ensino do evangelho vinha de fora por intermédio de pregadores
que negavam a divindade de Cristo e os valores ensinados pelos apóstolos. Essa
resistência de alguns tinha por objetivo ameaçar e intimidar os cristãos
sinceros. Paulo estava preso. Então eles se aproveitaram da ausência do
apóstolo e dos outros obreiros auxiliares de Paulo para exercerem influência
nos pensamentos e no afastamento da fé cristã.
Mas Paulo apela ao sentimento
daqueles cristãos estimulando-os a permanecer firmes sem se deixarem enganar e
desanimar. Na verdade, Paulo os estimula a que mantenham a fé genuína e
enfrentem de cabeça erguida aos que resistem à mensagem do evangelho. A
oposição identificada no seio da igreja vinha de fora da comunidade que abriu
caminho para dentro da igreja e passou a influenciar alguns cristãos. Esses
opositores eram formados por alguns eruditos perniciosos e itinerantes que,
para ganhar espaço no seio da igreja, criticavam o apóstolo Paulo. Porém, o
apóstolo eleva a importância do evangelho de Cristo como capaz de produzir em seus
corações a vitória da parte do Senhor.
2. O paradoxo de padecer por Cristo Jesus (1.29)
“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não
somente crer nele, como também padecer por Ele” (Fp 1.29). Temos aqui uma
magnífica declaração. A voz passiva da frase “vos foi com concedida” atribui
todas as coisas que estavam acontecendo à soberana vontade de Deus. Foi Deus
quem concedeu a experiência de padecer por Cristo. Os filipenses deveriam
confiar no propósito divino e não se deixarem abater pelas experiências amargas
das perseguições e privações infligidas contra eles. Na verdade, Paulo
transparece em seu pensamento que aquelas provações vêm a eles pela graça de
Deus e o resultado final será a vitória em Cristo. A expressão “padecer por
Cristo” indicava que esse padecimento implicava comparticipar das aflições de
Cristo, numa identificação pessoal com Ele, que antes padeceu por nós. O
apóstolo Pedro em sua epístola escreveu: “Alegrai-vos no fato de serdes
participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua
glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pe 4.13).
Indiscutivelmente,
o versículo 29 une o privilégio de crer, como um ato de coragem, e a graça de
padecer por Cristo. Isto é, de fato, um paradoxo, cujo sentido pode significar
“aquilo que parece contraditório ou que parece contrário ao comum”. Pode ser
“aquilo que tem aparente falta de nexo ou de lógica”. Nos tempos atuais, o
pensamento neopentecostal não admite a ideia de sofrer, padecer, ficar doente.
A falsa teoria da chamada teologia da prosperidade não admite a ideia de
sofrimento. Porém, a Bíblia contradiz essa teoria e ainda desafia o crente a
aceitar o sofrimento como uma oportunidade de glorificar a Cristo. E privilégio
do cristão sofrer por Cristo por causa da esperança da glória. Essa capacidade
de aceitar o sofrimento nesta vida terrena e permanecer fiel ao Senhor Jesus se
choca frontalmente com sistema de pensamento mundano.
Nenhum
ser humano aceita o sofrimento como coisa normal, muito menos transformá-lo
numa esperança. Paulo via seus sofrimentos como um serviço que ele fazia para
Cristo. Ele tinha consciência desse sentimento porque ouviu a palavra de
Ananias de Damasco, que foi à casa onde ele aguardava uma orientação do Senhor.
A palavra de Deus para Ananias acerca de Paulo foi esta: “Eu lhe mostrarei
quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.16). Essa predição cumpriu-se
literalmente na experiência apostólica de Paulo. Todavia, ele aceitou seus
sofrimentos como participação nos sofrimentos de Cristo (Fp 3.10).
Quando
temos uma visão genuína do nosso futuro, não teremos problemas com os
sofrimentos presentes na vida terrena. Lucas contou no livro de Atos que os
apóstolos foram açoitados e lançados na prisão (At 5.18). Esses apóstolos
sentiam-se privilegiados em sofrer por Jesus Cristo. Diz Lucas: “E, chamando os
apóstolos e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus e os
deixaram ir. Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de
terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus” (At 5.40,41).
Tudo o que Paulo desejava com os fihipenses é que eles enfrentassem seus
sofrimentos e afrontas com a alegria de sofrerem pelo nome de Jesus.
3.
O combate do evangelho é travado contra inimigos espirituais (1.30)
Como
entender essa escritura? O texto diz: “tendo o mesmo combate que já em mim
tendes visto e, agora, ouvis estar em mim”. A palavra combate ganha um sentido
especial nessa escritura porque se tratava de algo no campo espiritual. Os
filipenses sabiam perfeitamente o tipo de combate que Paulo teve quando do
início da igreja em Filipos (At 16.2; 1 Ts 2.2). Os filipenses também souberam
do combate que Paulo teve quando partiu da Macedônia (Fp 4.15). Embora seu
combate seja feroz e Paulo enfrente constantes ameaças de morte, o apóstolo não
temia entrar nesse combate porque entendia que seu ministério apostólico
dependia totalmente de Deus. Nesse sentido, ele apela ao coração dos filipenses
no sentido de encorajá-los a que fiquem firmes na fé e tenham a mesma confiança
que ele mesmo tinha acerca do cuidado de Deus. Ora, os filipenses estavam
engajados no mesmo combate espiritual e, por isso, não deveriam desanimar. No
exercício do ministério cristão, estamos num campo de batalha com um combate
feroz contra as potestades de Satanás (Ef 6.10-12).
O
encorajamento dado pelo apóstolo aos irmãos de Filipos tinha sua base na
própria experiência de alguém que pessoalmente havia sofrido e ainda estava
sofrendo por amor de Cristo. Que combate era esse? Era um combate promovido por
inimigos espirituais para abatê-lo, destruí-lo e neutralizá-lo. Esse combate
atingia sua vida física, moral e espiritual.
Em
outra carta aos Coríntios, Paulo menciona que três vezes havia sido “açoitado
com varas” (2 Co 11.25) e uma vez havia acontecido em Filipos, quando havia
chegado à cidade para pregar o evangelho (At 16.22,23) — e dessa última
experiência os irmãos filipenses eram sabedores. Ele sabia que os irmãos de
Filipos estavam sofrendo algum tipo de constrangimento e, por isso, podia dizer
que o mesmo sofrimento ele estava vivendo. Certamente, era um consolo para os
filipenses saber que Paulo estava sofrendo, mas não havia desanimado nem
desistido da sua missão. Estava viva na mente do apóstolo a mensakem divina,
quando se encontrou com Cristo: “E eu lhe mostrarei o quanto lhe importa sofrer
pelo meu nome” (At 9.16). Essa é a força do evangelho capaz de reagir ao
sofrimento para fazer valer o nome do Senhor e a vitória final.
Uma Conduta que Promova a Unidade da Igreja (2.1-4)
A
ausência fisica de Paulo na vida da igreja acabou por provocar várias situações
quase que incontroláveis de desunião. Para que a igreja sobrevivesse, a unidade
precisava ser preservada, O apóstolo tivera notícias que o preocuparam e, por
isso, ele se interessa em fortificar a igreja nos seus fundamentos. Os inimigos
externos (1.28), porque vieram de fora, ameaçavam a unidade doutrinária da
igreja com influências judaizantes e filosóficas de cristãos que não
conseguiram se desvencilhar do passado. Essas pessoas trouxeram discursos que
minavam a fé cristã ensinada por Paulo. O apóstolo, então, se volta para a
igreja e a trata como uma família que precisava manter os elos familiares. Ele
convida os cristãos filipenses a que examinem todas as coisas comparando-as com
aquilo que ele havia ensinado do autêntico evangelho de Cristo. Nos tempos
atuais, a igreja de Cristo tem sido invadida por falsos pregadores e
ensinadores. São obreiros falsos que trazem para o seio da igreja doutrinas
falsas que contrariam a sã doutrina cristã.
O
apóstolo Paulo, em meio aos seus pensamentos colocados na Carta, deixa de lado
o assunto sobre os sofrimentos exteriores — que envolviam perseguições,
privações materiais — e focaliza outro tipo de sofrimento que estava afetando a
vida da igreja. Alguns acontecimentos internos na vida eclesiástica que estavam
prejudicando a unidade da igreja eram do conhecimento do apóstolo, e ele não
podia estar presente para dirimir dúvidas e desfazer equívocos.
1. O ardente desejo de Paulo pela unidade da igreja (2.1-3)
O
último versículo do capítulo 1 fala de um combate, e Paulo procura fortalecer a
igreja contra inimigos externos que, de algum modo, estavam afetando a unidade
da igreja. Como uma igreja poderá conseguir unidade quando se depara com
pessoas com atitudes contenciosas, egoístas e cheias de vã-glória, divergindo e
contestando as doutrinas ensinadas por Paulo?
Eram
pessoas pretensiosas, que divergiam do pensamento central do cristianismo, que
é o Senhor Jesus Cristo, insuflando mistura de doutrina cristã com filosofias?
Paulo refuta esses falsos conceitos que visavam promover a discórdia entre os
irmãos e dispersá-los da convivência e da comunhão fraternal. O apóstolo apela
ao bom senso dos cristãos de Filipos e pede que tenham um mesmo sentimento e um
mesmo parecer (2.2). A unidade será preservada se todos tiverem o mesmo amor
que produz harmonia, unidade e um mesmo sentimento.
2. Mantendo a presença interior do Espírito (2.1-4)
O
apelo à manutenção da comunhão do Espírito reforçava o fato de que eles haviam
recebido o Espírito, que vivia dentro deles, e, por isso, deveriam tomar uma
atitude de manter a unidade e cultivar a união de pensamento em relação ao que
aprenderam do evangelho. A despeito de os seres humanos serem de culturas e
temperamentos diferentes, podiam partilhar o mesmo sentimento que também houve
em Cristo Jesus. Paulo escreveu: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus” (Fp 2.5). A presença interior do Espírito implica a
lembrança de que Jesus é o Senhor sobre todas as coisas.
Sua presença dentro do
crente é a garantia de que a obra de Cristo foi perfeita e completa. Sua
presença em nós promove a paz e a união no seio da igreja. A lealdade a Cristo
torna-se o fruto dessa presença que nos faz obedecer à sua Palavra, o novo
mandamento deixado por Ele (Jo 13.34,35).
“.. se há algum conforto em Cristo” (2.1).
O termo grego paraklesis no Novo Testamento é traduzido por alguns vocábulos
como “conforto”, “consolo” ou “exortação”. A palavra “conforto”, como está na
ARC, aparece também na ARA como “exortação”, e ambas dão a ideia de
encorajamento ou apoio nas lutas da vida (At 9.31). Várias ideias estão
associadas à palavra grega no Novo Testamento. Esse termo grego aparece no Novo
Testamento como um dom espiritual (Rm 12.8) e, também, como um modo de instruir
e estimular a fé (1 Tm 4.13; Hb 12.5). Em outros textos, aparece como consolo
ou conforto (Lc 2.25; At 15.31; Rm 15.4,5; 2 Co 1.3,5-7). Paulo usa a palavra
paraklesis com o sentido de lembrar algo recebido. Paulo pede e admoesta os filipenses
a que vivam em união e trabalharem juntos em toda a obra do evangelho e em
perfeita harmonia. O conforto em Cristo é produzido pelo Espírito Santo na vida
da igreja. Por isso, não poderia haver rancores e mágoas nos corações.
“...se alguma consolação de amor” (2.1).
A base do consolo em Cristo é o amor. Sem amor é impossível absorver o consolo
espiritual, porque o amor de Cristo constrange e move a nossa vida, como o
próprio apóstolo estava convencido disso ao declarar aos coríntios: “Porque o
amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14). Para a mente de Paulo, o amor que
Jesus Cristo nutre pela sua Igreja deve impelir a que todos vivam dignamente. O
amor de Cristo nos constrange, no sentido de que as divisões e facções são
desfeitas para que haja união de sentimentos.
“...se alguma
comunhão no Espírito” (2.1). O princípio que unifica a igreja é a comunhão
do Espírito no corpo de Cristo, a sua Igreja. Por outro lado, estava indicando
que a presença do Espírito na vida interior de cada crente é um fato consumado
na experiência cristã. Por isso, com a ajuda do Espírito, podemos superar todas
aquelas atitudes que roubam a humildade e o relacionamento sadio com todos os
irmãos. A comunhão no Espírito anula o individualismo e cria uma nova vida em comum
no seio da igreja. A mutualidade e a cooperação entre todos são elementos
vitais que a comunhão no Espírito produz.
“...se alguns
entranháveis afetos e compaixões” (2.1). No texto da ARA está assim: “se há
entranhados afetos e misericórdias”, indicando que se tratava de um forte e
caloroso amor, especialmente aquele amor demonstrado pelos filipenses ao
apóstolo. Havia uma relação de afeto da parte da igreja de Filipos por Paulo e
pela sua situação como preso em Roma, por isso, preocupavam-se com ele em sua
prisão. E Paulo, reciprocamente, demonstra o mesmo amor e afeto pelos filienses
e todas as igrejas da Macedônia.
A palavra “afetos” aparece no grego como splanchnon, que no
sentido figurado significa “piedade ou simpatia, solidariedade”. Esses termos definem
as palavras: afeto, entranhas, graça, misericórdia. “Entranhas” sugere a sede
da vida emocional. No capítulo 1.8, Paulo fala de seu amor pelos filipenses:
“Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em
entranhável afeição de Jesus Cristo”. Ao referir-se ao amor de Cristo, Paulo
fazia uma conexão desse amor para com Ele e para com os filipenses. Esse amor é
algo palpável e sentido. Não é nada platônico, intocável, teórico. E
entranhável pelo Espírito Santo.
A palavra “compaixões” aparece em outras versões como
“misericórdias”, cujo sentido se trata daquele sentimento que descreve a emoção
e a sensibilidade para com os necessitados.
A compaixão deveria guardar aos cristãos da desunião.
William Barclay, em seu Comentario ai Nuevo Testamento, declarou: “A desunião
rompe a estrutura essencial da vida”. Ele também disse que “os homens não foram
criados para ser como lobos rosnando uns com os outros, sim para viver em
harmonia”.
“.. completai o meu
gozo” (2.2) não tinha um caráter egoísta da parte do apóstolo, mas era um
estímulo a que experimentassem o mesmo gozo que produzia um sentimento de
segurança e esperança de que esse gozo resultaria no gozo da vida eterna. Paulo
se dirige aos filipenses dizendo-lhes da sua alegria por eles, mas estimula e
pede a eles que completem seu gozo (alegria, regozijo) demonstrando, em
contrapartida, “o mesmo sentimento” ou “o mesmo amor”. Que amor é este? Não se
trata do mero sentimento que sentimos pelas pessoas, mas era algo especial da
parte de Deus. A bíblia declara que Deus derramou seu amor em nossos corações
através do Espírito Santo (Rm 5.5).
Ora, por esse modo, poderos amar as pessoas
independentemente de elas nos amarem ou não. Quando amamos com o amor de Cristo
aprendemos a ver os valores das pessoas e não apenas seus defeitos.
“Nada façais por
contenda ou por vanglória” (2.3). A exortação paulina conscientizava ao
cristão filipense, e a tantos quantos são membros do corpo de Cristo, que o
membro nada fará no seio da igreja de forma isolada, “por contenda ou por
vanglória”, isto é, por ambição egoísta ou por presunção. Essas duas posturas,
egoísmo e presunção, são antagônicas diretamente à comunhão com Cristo. Certa
feita Jesus, falando aos discípulos e exemplificando fatos a eles, disse-lhes:
“Mas entre vós não será assim” (Mc 10.43).
Tudo o que possa ser prejudicial ao
convívio fraternal deve ser extirpado na vida cristã cotidiana dos crentes em
Cristo.
Naturalmente, as pessoas perniciosas que estavam no seio da
igreja influenciando os irmãos fiéis a se debaterem por causa de cargos ou
funções tinham que ser alijados da comunhão. O espírito de Diótrefes, que
lutava pela primazia no seio da igreja, sem respeitar os princípios de
autoridade que devem nortear a vida de uma igreja, tem que ser reprimido (3 Jo
9). O conselho de Paulo era para que os irmãos evitassem os que contendiam por
primazia, por questões de orgulho, que é algo que surge da mesma raiz de
vanglória. O que caracteriza o cristão é a humildade, que é uma qualidade que
se opõe ao orgulho. A Bíblia diz que Deus dá graça aos humildes (Pv 3.34; Tg
4.6; 1 Pe 5.5).
“Não atente cada um
para o que é propriamente seu” (2.4). Nessa exortação, o apóstolo Paulo
procura inculcar na mente dos cristãos que o espírito egoísta contradiz o
espírito cristão, cujo padrão de vida baseia-se no amor ao próximo. Antes de
querer pensar apenas nas minhas coisas, nos meus interesses, devo pensar em ser
útil às pessoas nos seus interesses. A convivência com os irmãos da mesma fé
requer de cada cristão uma boa dose de humildade e desprendimento. O meu
crescimento não pode prejudicar o crescimento dos demais. Os meus dons não são
para o usufruto meu, mas devem ser úteis à comunidade. Os que buscam primazia
no seio da igreja com atitudes egoístas se esquecem do princípio deixado por
Jesus:
“E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos” (Mc 10.44).
Na ética cristã, aprendemos um princípio básico em relação
às pessoas que é o de, primeiro, pensar nos outros no sentido de ajudar. A expressão
“levai as cargas uns dos outros” faz parte da filosofia de relações humanas
ensinada por Jesus. O exemplo de Cristo é sempre o argumento forte do apóstolo
nas relações éticas (Rm 14.1-3). O Espírito ajuda o crente a evitar todo
partidarismo, egoísmo e vanglória, produzindo no seu coração um sentimento de
respeito e amor pelos demais irmãos da mesma fé (v. 4).
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja
Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Filipenses
– A humildade de Cristo como exemplo
para a Igreja = Elienai Cabral
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