CONTRAPONDO A ARROGÂNCIA COM
HUMILDADE – Ev. José Costa Junior
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O assunto desta lição diz respeito à
virtude da humildade contrapondo à soberba e a arrogância. "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus, (...) que a Si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo
(...) e a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de
cruz. Pelo que também Deus O exaltou sobremaneira" (Fp 2.5, 7b-9a).
Quando a velha serpente, que foi expulsa dos céus
por sua soberba e arrogância, falou suas palavras de tentação aos ouvidos de
Eva, essas palavras levavam consigo o próprio veneno do inferno. E quando ela
ouviu, e entregou seu desejo e sua vontade à possibilidade de ser como Deus,
conhecendo o bem e o mal, o veneno entrou em sua alma, sangue e vida,
destruindo para sempre aquela abençoada humildade e dependência de Deus que
teria sido nossa felicidade perpétua. E, em vez disso, sua vida e a vida da
raça que brotou dela se tornaram corrompidas desde a raiz com o mais terrível
de todos os pecados e maldições: o veneno da soberba e arrogância do próprio
Satanás.
Todas as desgraças das quais o mundo tem sido o
cenário, todas as suas guerras e derramamento de sangue entre as nações, todo
o egoísmo e sofrimento, toda a ambição e inveja, todos os seus corações
partidos e vidas amarguradas, com toda a sua infelicidade cotidiana, têm sua
origem no que esta arrogância maldita e infernal — seja o nosso próprio ou o de
outros — nos trouxe. É a soberba e arrogância que faz a redenção
necessária; é da nossa soberba e arrogância que precisamos, acima de todas
as coisas, ser redimidos! E nossa compreensão da necessidade de redenção vai
depender grandemente de nosso conhecimento da terrível natureza do poder que
entrou em nosso ser. Nenhuma árvore pode crescer se não for na raiz da qual
brotou. O poder que Satanás trouxe do inferno, e lançou para dentro da vida do
homem, está operando diariamente, a todo tempo, com grande poder por todo o
mundo.
Os homens sofrem por sua causa; eles temem e
lutam e fogem disso, e ainda não sabem de onde isso vem e de onde provém sua
terrível supremacia! Não é de admirar que eles não sabem onde ou como isso
deverá ser vencido. A arrogância tem sua raiz e força em um terrível poder
espiritual, tanto fora de nós como dentro; tão necessário como confessá-la e
lamentá-la como sendo nosso próprio é conhecê-la em sua origem satânica. Se
isso nos leva a um desespero completo de, absolutamente, subjugar e expulsar
essa arrogância, isso nos levará o quanto antes ao único poder sobrenatural no
qual nossa libertação poderá ser encontrada: a redenção do Cordeiro de Deus.
A batalha desesperada contra a atuação do ego e do orgulho dentro de nós pode,
realmente, tornar-se ainda mais desesperadora quando pensamos no poder das
trevas por trás de tudo isso; mas o desespero completo irá preparar-nos melhor
para percebermos e aceitarmos um poder e uma vida fora de nós mesmos, que é a
humildade dos céus tal como foi trazida para baixo e para perto pelo Cordeiro
de Deus, a fim de expulsar Satanás e sua soberba e arrogância.
Nenhuma árvore pode crescer se não for na raiz da
qual brotou. Assim como precisamos olhar para o primeiro Adão e sua queda para
conhecer o poder do pecado dentro de nós, precisamos conhecer também o Último
Adão e Seu poder para nos dar interiormente uma vida de humildade tão real e
permanente e dominante quanto tem sido a da arrogância. Temos nossa vida de
Cristo e em Cristo, tão verdadeiramente — de fato mais verdadeiramente — como
de Adão e em Adão. Temos de andar arraigados Nele "retendo a Cabeça, da
qual todo o corpo (...) cresce o crescimento que procede de Deus" (Cl 2.7,
19). A vida de Deus, a qual, na encarnação, entrou na natureza humana, é a
raiz na qual devemos estar firmados e crescer; é o mesmo poder grandioso que
trabalhou lá e, desde então, ruma para a ressurreição, que trabalha
diariamente em nós. Nossa única necessidade é estudar e conhecer e confiar na
vida que foi revelada em Cristo como a vida que agora é nossa, e espera por
nosso consentimento para ganhar possessão e domínio de todo o nosso ser.
O objetivo deste
estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura
evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do sobre a humildade
contrapondo à soberba e a arrogância. Não há nenhuma pretensão de esgotar o
assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns
elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.
CRISTO EXEMPLO DE HUMILDADE
É de
inconcebível importância que tenhamos pensamentos corretos do que Cristo é —
do que realmente O constitui como o Cristo — e especialmente do que pode ser
considerado como Sua característica principal, a raiz e a essência de todo Seu
caráter como nosso redentor. Não pode haver senão uma resposta: é a Sua humildade.
O que é a encarnação, Seu esvaziar a Si mesmo e ter-se tornado homem, senão
Sua humildade celestial? O que é a Sua vida na terra, Seu assumir a forma de um
servo, senão a humildade? E o que é a Sua expiação senão a humildade? "A
Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte" (Fp 2.9). E o que
são Sua ascensão e Sua glória senão a humildade exaltada ao trono e coroada de
glória? "A Si mesmo se humilhou (...) pelo que também Deus O exaltou
sobremaneira" (vs. 8, 9). Nos céus, onde Ele estava com o Pai, em Seu
nascimento, em Sua vida, em Sua morte, em Seu assentar-se no trono: tudo isso
não é outra coisa a não ser humildade. Cristo é a humildade de Deus incorporada
na natureza humana: o Amor Eterno humilhando-se a Si mesmo, revestindo-se com
as vestes da mansidão e da bondade para vencer, e servir e nos salvar. Como o
amor e condescendência de Deus fazem Dele o benfeitor, e auxiliador e servo de
todos, assim, Jesus, por necessidade, se tornou a Humildade Encarnada. E,
assim, mesmo no centro do trono, Ele é o manso e humilde Cordeiro de Deus.
Se isso for a raiz da árvore, sua natureza tem de
ser vista em cada ramo, folha e fruto. Se a humildade for a primeira, a graça
todo-inclusiva da vida de Jesus - se a humildade for o segredo de Sua expiação
-, então, a saúde e a força de nossa vida espiritual dependerão inteiramente
de colocarmos essa graça em primeiro lugar também, e fazer da humildade a
principal coisa que admiramos Nele, a principal coisa que pedimos Dele, a
única coisa pela qual sacrificamos tudo o mais.
É de se admirar
que a vida cristã seja tão frequentemente fraca e infrutífera, se a própria
raiz do Cristo-vida é negligenciada, é desconhecida? É de se admirar que a
alegria da salvação seja tão pouco experimentada, se aquela atitude em que
Cristo a encontrou e a trouxe é tão pouco procurada? Até que uma humildade que
descansará em nada menos do que o fim e a morte do ego — que renuncia a toda
honra dos homens, como Jesus fez, para buscar a honra que vem somente de Deus;
que se considera e faz de si mesmo absolutamente nada, para que Deus possa ser
tudo, para que somente o Senhor seja exaltado — até que tal humildade seja o
que buscamos em Cristo, acima de nossa maior alegria, e seja bem-vinda a qualquer
preço, há muito pouca esperança de que haja uma religião que vencerá o mundo.
A HUMILDADE NA VIDA DIÁRIA
Nosso amor a Deus será medido pelo nosso contato
diário com os homens e o amor que Ele exibe; e que nosso amor a Deus será tido
como uma desilusão, exceto quando sua verdade é provada nas situações de
teste da vida diária com homens como nós. Também é assim com nossa humildade. E
fácil pensar em nos humilharmos diante de Deus, mas a humildade diante dos
homens será a única prova suficiente de que nossa humildade diante de Deus é
real, de que a humildade tem feito sua morada em nós e torna-se nossa própria
natureza, prova de que nós, na verdade, como Cristo, fizemos de nós mesmos pessoas
sem reputação. Quando, na presença de Deus, a humildade de coração torna-se,
não uma postura que assumimos por um tempo, quando pensamos Nele ou oramos a
Ele, mas o próprio espírito de nossa vida, isso se manifestará em todo o
"conduzir adiante" nossos irmãos.
A lição é de profunda importância: a única
humildade que é realmente nossa não é aquela que tentamos mostrar diante de Deus
em oração, mas aquela que carregamos conosco, e sustentamos, em nossa conduta
comum; as insignificâncias da vida diária são a importância e os testes da
eternidade, pois elas provam qual é realmente o espírito que nos domina. É na
maioria de nossos momentos desprotegidos que realmente mostramos e vemos o que
somos. Para conhecer o homem humilde, para conhecer como o homem humilde se
comporta, você tem de segui-lo na vida comum de seu dia-a-dia.
Não foi isso que Jesus ensinou? Quando os discípulos
disputaram quem seria o maior, quando Ele viu como os fariseus amavam os
primeiros lugares nos banquetes e os primeiros bancos nas sinagogas, quando Ele
lhes deu o exemplo ao lavar-lhes os pés: aí Ele ensinou Suas lições de
humildade. A humildade diante de Deus não é nada se não for provada em
humildade diante dos homens.
É também assim nos ensinamentos de Paulo. Aos
romanos, ele escreveu: "Preferindo-vos em honra uns aos outros" (12.10);
"Em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde" (12.16);
"Não sejais sábios aos vossos próprios olhos" (12.16). Aos coríntios:
"O amor", e não há amor algum sem a humildade como raiz, "não se
ufana, não se ensoberbece, não procura os seus interesses, não se
exaspera"(l Co 13:4, 5). Aos gálatas: "Sede servos uns dos outros,
pelo amor. (...) Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns
aos outros, tendo inveja uns dos outros" (5.13,26).
Aos efésios, imediatamente após três maravilhosos
capítulos sobre a vida celestial: "Andeis (...) com toda humildade e mansidão,
com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor" (4.2);
"Dando sempre graças por tudo (...), sujeitando-vos uns aos outros no
temor de Cristo" (5.20,21). Aos filipenses: "Nada façais por
partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os
outros superiores a si mesmo. (...) Tende em vós o mesmo sentimento que
houve também em Cristo Jesus, (...) a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma
de servo, (...) e a si mesmo se humilhou" (2.3, 5, 7, 8) E aos
colossenses: "Revesti-vos de ternos afetos de misericórdia, de bondade,
de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos
mutuamente, (...) assim como o Senhor vos perdoou" (3.12, 13). É em
nossa relação uns com os outros, em nosso tratamento uns para com os outros,
que a verdadeira humildade de mente e o coração de humildade serão vistos.
Nossa humildade diante de Deus não tem valor, mas nos prepara para revelar a
humildade de Jesus aos homens como nós.
O homem humilde busca a todo tempo agir de acordo
com a regra: "Em honra preferindo-vos uns aos outros; servos uns dos
outros; considerando cada um os outros superiores a si mesmo; sujeitando-vos
uns aos outros." A pergunta frequentemente feita é: "Como podemos
considerar outros superiores a nós mesmos, quando vemos que eles estão muito
abaixo de nós em sabedoria e santidade, em dons naturais ou em graça
recebida?"
Esse assunto prova prontamente que entendemos
muito pouco o que a real humildade de mente é. A verdadeira humildade vem quando,
à luz de Deus, vimos a nós mesmos como nada sendo, consentindo em desistir e
nos desfazer de nós mesmos, para permitir que Deus seja tudo. A alma que fez
isso e pode dizer: "Eu me perdi encontrando a Ti", não mais se
compara com outros. Ela desistiu para sempre de todo pensamento do ego na
presença de Deus; ela encontra os homens comuns como alguém que não é nada e
não busca nada para si mesmo; ela é um servo de Deus e, por causa Dele, um
servo de todos. Um servo fiel pode ser mais sábio que o mestre e, ainda assim,
conservar o verdadeiro espírito e postura do servo. O homem humilde respeita
cada filho de Deus, mesmo o mais débil e o mais indigno, e honra-o e o prefere
em honra como o filho de um Rei. O espírito Daquele que lavou os pés dos
discípulos faz com que nos seja, de fato, uma alegria sermos os menores,
sermos servos uns dos outros.
O homem humilde não sente ciúmes ou inveja. Ele
pode louvar a Deus quando outros são preferidos e abençoados antes de ele ser.
Ele pode suportar ouvir outros sendo louvados e ele sendo esquecido, pois na
presença de Deus ele aprendeu a dizer como Paulo: "Nada sou" (2 Co
2.11). Ele recebeu o espírito de Jesus — que não se agradou a Si mesmo e não
buscou Sua própria honra — como o espírito de sua vida.
Entre o que são consideradas tentações para haver
impaciência e irritação, para haver opiniões duras e palavras bruscas,
tentações que vêm de falhas e pecados de cristãos, o homem humilde carrega a determinação
frequentemente repetida em seu coração, e mostra isso em sua vida:
"Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, (...) assim como o
Senhor vos perdoou".
Ele aprendeu que, revestindo-se do Senhor Jesus,
ele se revestiu "de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade." Jesus tomou o lugar do ego, e
não é uma impossibilidade perdoar como Jesus perdoou. A humildade de Jesus não
consiste meramente em opiniões ou palavras de auto-depreciação, mas, como Paulo
coloca, "em um coração de humildade", cercado de compaixão e
amabilidade, mansidão e longanimidade, a doce e humilde gentileza reconhecida
como a marca do Cordeiro de Deus.
Em esforçar-se por ter as experiências mais elevadas
da vida cristã, o crente está frequentemente sob o perigo de visar a e de se
regozijar no que alguém pode chamar de a virtude mais humana e valorosa, como
ousadia, alegria, desprezo ao mundo, zelo, auto-sacrifício — até mesmo os
antigos estóicos ensinaram e praticaram isso-, enquanto as mais profundas e
gentis, as mais divinas e mais celestiais graças, aquilo que Jesus primeiro
ensinou sobre a terra, pois as trouxe do céu, aquilo que está mais evidentemente
ligado à Sua cruz e com a morte do ego — pobreza de espírito, mansidão,
humildade, modéstia — são raramente consideradas ou valorizadas. Portanto,
vamos nos revestir de um coração de compaixão, bondade, humildade, mansidão,
longanimidade, e vamos provar nossa semelhança com Cristo, não apenas em
nosso zelo por salvar o perdido, mas antes de tudo em nosso relacionamento com
os irmãos, suportando e perdoando uns aos outros, assim como o Senhor nos
perdoou.
CONCLUSÃO
Que toda a grande bondade de nosso Deus faça conhecida a nós e tome de nossos
corações todo tipo, grau e forma de soberba e arrogância vindo de nossa própria natureza corrupta; e
que Deus desperte em nós uma profunda verdade e humildade que nos faça suscetíveis à Sua
luz e Santo Espírito.
Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu
desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado
oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo,
que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.
Ev. José Costa Junior
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