NÃO
COBIÇARÁS
Testo Áureo = “De
ninguém cobicei a prata. nem o ouro, nem a veste” (At 20.33)
Verdade Prática = A
cobiça é a raiz da qual surge todo pecado contra o próximo, tanto em pensamento como na prática.
LEITURA
BIBLICA = Exodo 20:17 =I Reis 21: 1-5,9,10,15-,16
INTRODUÇÃO
NÃO
COBIÇARÁS
O
Decálogo conclui com um mandamento que proibe o desejo ilícito, a cobiça sem
sugestão alguma de ato, pois diz respeito primariamente à motivação, e não à
ação concreta. A cobiça é um mal devastador muito comum ainda hoje em nossa
cultura ocidental materialista. Trata-se de uma atitude de natureza interna que
pode expressar-Se em ato real. Toda ação boa ou ruim começa no pensamento. Os
outros mandamentos proibem atos; aqui, a proibição diz respeito ao desejo, não ao
desejo em si, mas ao desejo daquilo que pertence a outro. Não é pecado desejar
bens e conforto, as coisas boas de que necessitamos na vida.
O
décimo mandamento aborda a responsabilidade do israelita sobre o pecado do
pensamento. É um recurso divino que Deus proveu para habilitar o israelita a
obedecer os mandamentos anteriores. A cobiça é um dos piores pecados, o pecado
que não se vê. Essa é a sua característica distintiva em relação aos outros,
pois não é possível ser conhecido. Isso mostra que o Legislador divino é
onisciente, pois ele conhece o mais íntimo do coração humano, nossos desejos e
intenções (1 Rs8.39; 1 Cr28.9;Jr 17.10;At 1.24). Deus se interessa não só pelos
corretos atos concretos, não apenas pelo cerimonialismo na adoração, mas
principalmente pela pureza de um coração sincero. Isso mostra o lado espiritual
do Decálogo; nem tudo é apenas jurídico. A ideia central é não desejar aquilo
que pertence ao outro.
Já
vimos que o Decálogo está estruturado em duas seções identificadas com a
primeira e a segunda tábuas, as tábuas de pedra em que foram escritos os Dez
Mandamentos, literalmente as dez palavras. A primeira contém os compromissos do
israelita diante de Deus, e a segunda de sua responsabilidade para com o
próximo. Os dois grandes mandamentos citados por Jesus podem ser um resumo
dessas duas tábuas. Esses mandamentos estão dispostos numa sequência lógica. O
quinto mandamento é uma ponte que une o conteúdo das duas tábuas.
Em
seguida vem a proteção da vida: “Não matarás”; depois a proteção da família:
“Não adulterarás”; a proteção da propriedade: “Não furtarás”; a proteção da
honra: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”; e o último protege o
israelita de ambições erradas.
EXEGESE
DO DÉCIMO MANDAMENTO
O verbo
hebraico hãmad,“desejar, ter prazer em, cobiçar, ter concupiscência de”,
aparece 14 vezes no Antigo Testamento. O termo em si é neutro e se aplica
também a coisas boas (Sl 19.10 [lii; 68.16. Essa palavra é repetida no décimo
mandamento no texto de Êxodo 20.17 e uma só vez no registro do Decálogo, em
Deuteronômio 5.21: “E não cobiçarás a mulher do teu próximo”. Na segunda
cláusula, “e não desejarás a casa do teu próximo”, aparece outro verbo ‘ãwãh,’
“desejar ardentemente, ansiar, cobiçar, anelar”.
Ambos
os verbos aparecem como sinônimos no relato da tentação do Éden: “agradável aos
olhos... e desejável para dar entendimento” (Gn 3.6). A Septuaginta traduz pelo
verbo epithyméõ, literalmente “fixar desejo sobre”, da preposição epí, “sobre”,
e do substantivo thymós, “paixão, ira, furor”.
Esse
verbo grego aparece no NOVO Testamento para se referir ao décimo mandamento (Rm
7.7; 13.9) e também para expressar desejo por tudo o que é proibido (Mt 5.28; 1
Co 10.6). O substantivo derivado dele, epithymia, é usado para “concupiscência”
em 1 João 2.16: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”.
Concupiscência é desejo desordenado; trata-se do “forte e continuado desejo de
fazer ou de ter o que Deus não quer que façamos ou tenhamos” (KASCHEL &
ZIMMER, 2006, p. 45). Mas todos esses termos, hebraicos e gregos, são neutros,
podendo se referir a coisas boas ou a coisas más, dependendo do contexto (Mt
5.28; 13.17).
Os
católicos romanos e os luteranos mantiveram a tradição catequética medieval do
Decálogo esboçada por Agostinho de Hipona e que predominou durante a Idade
Média. Os dois primeiros mandamentos são considerados um só, e o décimo é
dividido em dois. “Não cobiçarás a casa do teu próximo” é o nono, e “Não
cobiçarás a mulher do teu próximo” (Êx 20.17), o décimo.
Qualquer
pessoa pode observar sem muito esforço que tal arranjo é uma camisa de força,
pois não corresponde à divisão natural (Êx 20.1-17; Dt 5.7-21). Além disso, o
Decálogo do catolicismo romano não é bíblico, trata-se de uma interpretação com
lentes papistas. Nós seguimos o arranjo das igrejas ortodoxas e protestantes
reformadas, que vem desde os antigos judeus (JOSEFO, Antiguidades Judaicas,
Livro 3, 4.113, edição CPAD).
O
décimo mandamento aparece expandido em Deuteronômio em relação ao texto de
Êxodo e inclui o campo do próximo na lista das coisas que não devem ser
cobiçadas. Alguns críticos estranham a inversão das cláusulas, pois a
fraseologia de Êxodo começa por não cobiçar a casa do próximo e em seguida vem
a proibição de não cobiçar a mulher do próximo, mas em Deuteronômio essa ordem
é invertida: primeiro vem a mulher e depois a casa.
Ambos
textos, contudo, proíbem a cobiça de bens e pessoas: além da mulher ou do
esposo, pois a mulher pode também cobiçar o marido alheio, o servo e a serva do
próximo;propriedades: casa e campo; o termo “casa” aparece muitas vezes na
Bíblia com o sentido de “família” (is 24.15; At 16.31), mas parece não ser essa
a ideia aqui; e semoventes: boi, jumento ou qualquer outra coisa. A frase final
“nem coisa alguma do teu próximo” inclui posição social ou ascensão no
trabalho.
Há discussão
sobre a substituição de Izãmad por ‘ãwãh na segunda cláusula do décimo
mandamento (Dt 5.2 1). O verbo hãmad aqui aparece com a esposa do próximo e
‘ãwãh com as demais coisas. Isso pode levar alguém a pensar em ãmad como um
tipo sensual de desejo, mas isso não procede por duas razões principais:
a) é
usado para bens móveis e imóveis (is 7.21; Mq 2.2);
b)
ambos os termos aparecem como sinônimos (Gn 3.6; Pv 6.25; Sl 68.17).
Parece
que ‘ãwãh diz respeito a um tipo de desejo casual. O formato textual de Êxodo
está adaptado ao estilo nômade de vida de Israel no deserto, ao passo que
Deuteronômio, quase 40 anos depois, é o modelo para o povo prestes a ser
estabelecido na terra de Canaã como país.
OS
FATOS
Os
relatos bíblicos estão repletos de cobiças destruidoras, a começar pelo
primeiro casal. “E vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e
agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu
fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6). Aqui
se expressa exatamente o que afirma o Novo Testamento: “a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16).
Os
irmãos de José desejavam a posição dele no coração de seu pai, Jacó (Gn 37.4).
A cobiça causou a ruína de Acã: “Quando vi entre os despojos uma boa capa
babilônica, e duzentos siclos de prata e, uma cunha de ouro do peso de
cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra,
no meio da minha tenda, e a prata, debaixo dela” (Js 7.21). O verbo “cobiçar”
aqui é hãmad, o mesmo usado no Decálogo (Êx 20.17; Dt 5.2 1). Acã cobiçou e se
apropriou dos despojos de Jericó, objetos que não lhes pertencia (Js 6.19).
O rei
Acabe cobiçou vinha de Nabote e isso resultou num escândalo nacional que levou
à ruína a casa real (1 Rs 21.1-16). Ele e sua esposa, Jezabel, violaram o sexto
mandamento: “Não matarás”; o oitavo: “Não furtarás”; O nono: “Não dirás falso
testemunho contra o teu próximo”; e o décimo: “Não cobiçarás”. Dois Outros
casos de cobiça aconteceram na casa de Davi: seu filho Amnom violentou a
própria irmã, Tamar, movido pela lascívia (2 Sm 13.15), e Absalão desejou
ocupar o trono de seu pai enquanto Davi ainda era vivo e reinava em Israel (2
Sm 15.16).
No Novo
Testamento, encontramos Ananias e Safira, que desejavam prestígio na Igreja,
mas tentaram consegui-lo de maneira pecaminosa (At 5.1-1 1). Simão Mago, de Samaria,
tentou comprar os dons de Deus com dinheiro, pois almejava poderes
sobrenaturais para ostentação pessoal (At 8.18). Diótrefes, personagem
desconhecida, cuja única menção no Novo Testamento é desabonadora, já que ele
procurava ter o primado na Igreja (3Jo 9).
O
DÉCIMO MANDAMENTO NO NOVO TESTAMENTO
O
mandamento “Não cobiçarás se distingue dos outros nove por se tratar da motivação,
e não do ato. Assim, é possível violar esse preceito sem que haja comprovação
concreta. É o décimo mandamento que golpeia a própria raiz do pecado, o coração
pecaminoso e o desejo perverso. O Senhor Jesus disse que é do mais íntimo do
ser humano que procede todo o tipo de pecado: “Porque do interior do coração
dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os
homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a
inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
Todos
estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Mc 7.21-23). A lista de
Mateus é mais curta (Mt 15.19). Essas palavras mostram a dura realidade: o que
o ser humano realmente é, isso afeta o que ele diz (Mt 12.34, 35). Toda ação
humana começa no seu coração (Tg 1.14, 15).
O
décimo mandamento era o recurso divino para o israelita se proteger de não
violar nenhum dos mandamentos do Decálogo. Mas, na graça, somos guiados pelo
Espírito Santo, o qual controla os nossos desejos. Assim, o preceito aqui em
foco foi adaptado pela graça. Cabe a cada um vigiar e orar para não entrar pelo
caminho da cobiça. Jesus disse: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque
a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15).
A
avareza é o apego demasiado e sórdido ao dinheiro, é o desejo de adquirir e
acumular riquezas. Desse modo, os bens materiais se transformam em deus para os
tais avarentos. A Bíblia afirma que a avareza é idolatria: “Mortificai, pois,
os vossos membros que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o
apetite desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria” (Cl
3.5).
A
avareza e a cobiça caminham juntas. Ambas são impróprias para quem busca o
reino de Deus (1 Tm 6.9, 10). Essas coisas são próprias para quem teme o
futuro, desconfia de Deus e da sua providência. Não somente a avareza, mas
também a inveja, pertence a esse grupo de pecados. A inveja é o “sentimento de
pesar pelo bem e pela felicidade de outra pessoa, junto com o desejo de ter
isso para si” (KASCHEL & ZIMMER, 2006, p. 90). Todas essas coisas envolvem
a cobiça, e a Palavra de Deus afirma com todas as letras que a cobiça é pecado
(Rm 7.7).
A
vontade de Deus expressa nesse último mandamento do Decálogo é que haja pleno
contentamento com aquilo que temos e com a nossa condição: “Contentai-vos com o
vosso soldo” (Lc 3.14), ensino de João Batista para os militares. “Mas é grande
ganho a piedade com contentamento” (1 Tm 6.6).
Quem
tem Jesus não está obcecado pelas riquezas materiais, pois tem em seu interior
algo muito mais valioso que os tesouros do mundo. A NTLH traduz esse versículo
da seguinte forma: “É claro que a religião é uma fonte de muita riqueza, mas só
para a pessoa que se contenta com o que tem”.
A
Bíblia nos exorta ainda: “contentando-vos com o que tendes” (Hb 13.5). Há aqui
certo paralelo com Filipenses 4.11. Mas convém ressaltar que todas essas
exortações não são uma apologia à pobreza nem uma defesa do status quo
econômico; é uma recomendação para que nossos desejos não venham desagradar a
Deus nem causar danos ao nosso próximo (Rm 12.15).
A
conduta do cristão deve ser a de se alegrar com que os se alegram e chorar com
os que choram (Rm 12.15). Ninguém deve ser dominado pela inveja (Gl 5.26; Tg
4.14-16) nem alimentar o sentimento de tristeza pelo sucesso alheio (Ne 2.10;
SI 112.9, 10). Glorifique a Deus pelas bênçãos e pelo sucesso do seu irmão, e
você será abençoado também, a seu tempo (Ec 3.1-8).
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Livro Os Dez Mandamentos = CPAD
= Esequias Soares
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