A TOLERÂNCIA
CRISTÃ
TEXTO ÁUREO
= “Porque o
Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no
Espirito Santo.” ( Rom 14.17 ).
VERDADE
PRÁTICA =
Os crentes mais maduros não devem agir egoisticamente, mas precisam atuar como
modelo para os fracos.
LEITURA
BIBLICA = Romanos 14.1-6
INTRODUÇÃO
O Amor Cristão E As Diferenças De Opinião
O
parágrafo final da seção anterior parece concluir a seção ética da Epístola.
Knox observa que, embora diferente em forma e conteúdo, esta passagem é
idêntica, em função, à exortação que conclui o Sermão da Montanha, tanto em
Mateus 7.24-29 quanto em Lucas 6.46-49. Portanto, temos em 14.1—15.13 algo como
um pós-escrito relacionado à ética de Paulo.
E
costumeiro encarar este apelo pela unidade entre a diversidade de opiniões
religiosas como sendo dirigido a uma situação específica que existia na igreja
romana, mas os esforços para identificar a seita ou o grupo que criou este
problema não tiveram sucesso.
A
princípio, o homem que está enfermo na fé 1) parece ser um judeu convertido que
ainda não se libertou dos escrúpulos da lei Mosaica. Mas o fato de ele ser um
vegetariano, (2) um homem que não come carne nem bebe vinho (21), aponta para
os essênios, que ficaram conhecidos por serem vegetarianos e abstêmios.
Mas
também é possível que o irmão enfermo seja um gentio recentemente convertido da
idolatria, que se recusa a comer carne porque aquela que ele consegue comprar
nos mercados foi previamente consagrada às divindades pagãs. Paulo dedica três
capítulos da primeira Epístola aos Coríntios a este problema (1Co 8-10).
Estas
exortações, portanto, não podem ser motivadas por alguma informação que Paulo
tivesse sobre alguma situação especial na igreja romana. Ao contrário, como
todo o resto da seção ética, elas podem ser instruções gerais motivadas por
problemas com que Paulo teve que lidar em outros lugares.
Knox
destaca que em Corinto, onde o apóstolo estava na época em que escreveu a
Epístola aos Romanos, ele tinha visto a unidade e a harmonia da igreja serem
ameaçadas por duas forças: as diversidades de dons e as diferenças de opiniões
religiosas. Ele nos lembra que Romanos 12.3-8 corresponde a 1 Coríntios 12 e
14, onde Paulo lidou com o primeiro destes problemas, ao passo que Romanos
12.9-21 pode ser comparado a 1 Coríntios 13. Além disso, esta seção traz uma
notável semelhança com 1 Coríntios 8-10.
Assim,
descobrimos que duas das maiores fontes da desordem em Corinto são consideradas
na discussão ex pressa na Epístola aos Romanos, e são consideradas em relação
a uma discussão do amor que traz muitas semelhanças com o tratamento daquele
mesmo tema, naquela mesma conexão, na carta aos Coríntios. Knox opina que a
inferência que devemos extrair é a de que Paulo trata destes temas na Epístola
aos Romanos por causa das dificuldades que ele teve em Corinto, e não por causa
de algum conhecimento específico que ele possa ter tido sobre a igreja em Roma.
Esta
inferência encontra apoio adicional no fato de que o tratamento destes temas é
mais geral na Epístola aos Romanos do que nas Epístolas aos Coríntios. Em 1
Coríntios fica claro que o assunto em relação aos dons espirituais é específico
sobre o falar em línguas, ao passo que o texto em Romanos 12.3-8 apresenta uma
discussão mais generalizada sobre os dons. E com respeito aos fracos, embora na
primeira carta aos Coríntios a preocupação de Paulo seja basicamente com
aqueles que têm escrúpulos em comer a carne oferecida aos ídolos, à referência
na Epístola aos Romanos, como já vimos, é mais geral e difusa.
1. O forte e o fraco (14.1-12)
Paulo
começa com uma ordem abrupta: Quanto ao que está enfermo na fé (ton de
asthenounta te piste), recebei-o (1). “Aquele que é fraco na fé, é aquele que
não entende que a salvação é pela fé do princípio até o fim, e que aquela fé é
garanti da pela sua própria perfeição e intensidade, não por tímidos
escrúpulos de consciência”.
Apesar
disso, os romanos deveriam receber (proslambanesthe) este crente temeroso em
uma completa comunhão cristã. O verbo é freqüentemente usado a res peito da
graciosa aceitação dos homens por parte de Deus: se Deus recebe este homem
hesitante, nós devemos fazer o mesmo.
Godet
destaca que o emprego que Paulo faz da partícula asthenounta, em lugar do
adjetivo que significa fraco (asthene) indica alguém que é momentaneamente
fraco, mas que pode tornar-se forte. Dentro da igreja ele pode chegar a uma
compreensão mais adequada do evangelho, e assim passar a desfrutar a “completa
certeza da fé” (cf. Hb 10.19-23).
O
irmão enfermo deve ser recebido, mas não em contendas sobre dúvidas (me eis
diakriseisdialogismon). A frase em grego quer dizer “não fazer julgamentos
sobre os seus pensamentos”. Ele não pode ser interpelado sobre as suas
opiniões; as discussões só iriam fixar mais essas opiniões na mente desta
pessoa. Ele deve crescer e ultrapassar as suas idéias limitadas, e, enquanto
isto, não deve ser criticado nem censurado, mas sim amado (cf. 1 Ts 5.14).
O
apóstolo prossegue descrevendo as duas classes às quais ele está se referindo.
Um crê (pisteuei, tem fé) que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come
legumes (2; lachanaesthiei, “come somente legumes”, RSV). Sanday e Headlam
entendem que Paulo está escrevendo de maneira geral. “Por um lado, ele toma o
homem de fé espiritualmente forte, que compreendeu o pleno significado do
cristianismo, e, por outro, aquele que é, como seria normalmente admitido,
excessivamente escrupuloso, e, portan to, adequado como um exemplo de qualquer
tipo de escrúpulos que possa existir em relação à comida”.
Então
Paulo atribui palavras adequadas a cada grupo. O que come não despreze o que
não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu
(3). O homem que tem conhecimento é propenso a desprezar o seu irmão
escrupuloso, ao passo que a tentação do homem excessivamente consciente é a de
julgar o homem que não acompanha os seus escrúpulos. Paulo recorda, a este
último homem, que Deus recebeu o seu irmão. Por meio de Cristo, Deus Pai o
admitiu à sua graça sem lhe impor regras minuciosas e exatas. O irmão,
portanto, não deve ser criticado nem censurado por práticas negligentes que
Deus não exigiu.
A
força da censura que se segue mostra que Paulo, com todo o seu amor e a sua
consideração pelos fracos, estava alerta para a sempre presente tendência que a
pessoa muito consciente tem de passar dos escrúpulos a respeito da sua própria
conduta ao farisaísmo sem amor em relação à conduta dos demais. Quem és tu que
julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai (4). “Quem
é você para constituir-se como um juiz ou senhor de um irmão?
Você
não sabe que ele responde a Deus, e não a você?” (Cf. 1 Co 4.3-5). Mas ele
estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar (cf. Fp 1.6). “Não tenha uma
visão tão sombria sobre as chances de salvação do seu irmão. A graça de Deus é
suficiente para firmá-lo”. Paulo está ciente dos perigos da sofisticação
espiritual (veja 1Co 8.1-3; 10.12), mas “ele está confiante de que a liberdade
cristã, por meio da graça e do poder de Cristo, experimentará um sucesso moral
triunfante”,
O
apóstolo agora passa para outro problema essencialmente da mesma natureza - a
observância religiosa dos dias. Um faz diferença entre dia e dia (5). Este é um
homem que insiste em guardar o sábado judeu, ou talvez os dias de banquete e
jejum do judaísmo. Na Epístola aos Gálatas, Paulo expressou preocupação por
estes convertidos que tinham caído em tal legalismo: “Guardais dias, e meses, e
tempos, e anos. Receio de vós que haja eu trabalhado em vão para convosco”
(4.10-11).
Como
os gálatas tinham começado na liberdade da plena fé cristã (1.6; 3.1-3), Paulo
considerava o erro deles uma queda da graça (5.4). Nesta carta aos romanos, ele
simplesmente considera os princípios em que se baseiam tais práticas.
No
entanto, aqui há outro homem que julga iguais todos os dias. Isto não quer
dizer que outro trate cada dia como secular, mas pode querer dizer que ele
considera todos os dias como sendo sagrados, como dedicados ao serviço a Deus.
Na Epístola aos Hebreus, lemos: “Resta ainda um repouso para o povo de Deus.
Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras,
como Deus das suas. Procure mos, pois, entrar naquele repouso” (4.8-11). Para
o cristão que entrar “naquele repouso”, todos os dias serão um sábado para
Deus. Esta certamente era a atitude de Paulo.
Que
solução o apóstolo propõe? Simplesmente esta: Cada um esteja inteiramente
seguro em seu próprio ânimo. Ou seja, que cada um decida com base no seu
relacionamento pessoal com o Senhor. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor
o faz.O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus (6). O homem
escrupuloso que observa o sábado judeu (e/ou qualquer outro dia de banquete ou
de jejum no calendário judaico) o faz porque acredita que é isto o que o Senhor
exige; aquele que não observa estes dias, não os considera porque ele está
convencido de que a morte de Cristo na Cruz cancelou “a lei dos mandamentos
contida nos costumes”, incluindo a observância do sábado mosaico (Ef 2.11-22;
Cl 2.13-17).
Mas
tais assuntos ainda são escrúpulos da consciência privada, e cada cristão deve
decidir por si mesmo qual é a vontade de Deus para a sua vida em tais assuntos.
Por isso, O que come para oSenhor come, porque dá graças a Deus; e o que não
come para o Senhor não come e dá graças a Deus.
Paulo
continua detalhando esta verdade da responsabilidade do crente para com o
Senhor: Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor
morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi para isto
que morreu Cristo e tomou a viver; para ser Senhor tanto dos mortos como dos
vivos (7-9). Com base no contexto, é evidente que, quando o apóstolo diz nenhum
de nós vive para si, ele não quer dizer (como freqüentemente se supõe) que as
nossas ações afetam os nossos companheiros; Ele quer dizer que nós vivemos em
relação a Cristo.
Tanto
a nossa vida quanto a nossa morte são para o Senhor - nada na vida nem na morte
nos pode separar dele (cf. 8.35-39), pois pela sua morte e ressurreição Ele se
tornou Senhor tanto dos mortos como dos vivos.
Agora
Paulo aplica o argumento especificamente às questões que ele está discutindo.
Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão?
Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo (10; cf. 2 Co 5.10).
Somos responsáveis perante Cristo: vamos comparecer diante dele; portanto não
existe lugar para julgamentos sem caridade ou uma exclusividade de justiça
própria entre os cristãos. O apóstolo apóia esta advertência sobre o caráter
universal do julgamento de Deus ao citar Isaías 45.23.
Porque
está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de
mim, e toda língua confessará a Deus (11). Portanto, concluímos que é a Deus, e
não aos homens, que cada um de nós deve prestar contas. De maneira que cada um
de nós dará conta de si mesmo a Deus (12). Observe com que facilidade Paulo
passa de Senhor a Deus. O Pai e o Filho estavam tão unidos na sua mente que
eles são freqüentemente intercambiados. “Deus, ou Cristo, ou Deus através de
Cristo, irá julgar o mundo. A nossa vida está em Deus, ou em Cristo, ou com
Cristo em Deus. A união do homem com Deus depende da união íntima entre o Pai e
o Filho”.
2. Caminhando em Amor (14.13-23)
A
idéia do parágrafo anterior é retomada e resumida: Assim que não nos julgue
mos mais uns aos outros (13). Nem o forte nem o fraco estão em posição de
adotar uma atitude superior, de juiz. Todos os sentimentos de crítica e de
censura devem ser extirpa dos. Então Paulo enfatiza ainda mais, usando a
palavra julgar em um jogo de palavras: antes, seja o vosso propósito não pôr
tropeço ou escândalo (skandalon) ao irmão. Sanday e Headlam pensam que Paulo
derivou a palavra skandalon e toda a idéia contida nesta frase das palavras do
nosso Senhor registradas em Mateus 18.6-7 (cf. 1 Co 8.9-13).
E
evidente que o apóstolo agora se dirige ao forte. Falando como um homem de
conhecimento, ele diz: Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa
é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é
imunda (14). Isto pode querer dizer que Paulo conhecia o ensino de Jesus sobre
o assunto (veja Mc 7.14-23). Uma comparação cuidadosa dos ensinos éticos nas
suas Epístolas revela que o apóstolo estava intimamente familiarizado com os
preceitos do nosso Senhor. A expressão no Senhor Jesus (enkyrio lesou),
entretanto, pode significar “no Senhor Jesus” (NASB, RSV) no sentido de “como
um cristão” (NEB). A afirmação de que nenhuma coisa é de si mesma imunda não
deve ser arrancada do seu contexto aqui; Paulo está falando da comida (cf. At
10.13-15).
Mas
ainda é possível encontrar muitas pessoas que considerem imunda alguma espécie
de comida; se ela fosse comer isso, se sentiria suja, não porque a comida
propriamente dita seja imunda, ou ofensiva a Deus, mas porque o seu ato é uma
ofensa contra a sua consciência (cf. v. 23). Para esta pessoa, é imunda; por
comer com dúvidas, ela não pode dar graças a Deus (v. 6).
Tendo
em mente este último ponto, entendemos a afirmação seguinte de Paulo. Mas (gar,
pois), se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o
amor (15). Como pode este irmão estar triste? Por um lado, a sua consciência
excessivamente sensível irá se ferir ao ver que você faz o que ele (embora
errado) considera pecaminoso. Mas o verdadeiro dano acontece quando ele é
incentivado pelo seu exemplo a fazer o que ele acredita que Deus o proíbe de
fazer. Aquele que come com um peso na consciência é um indeciso que está
condenado pelas suas dúvidas.
Portanto,
Paulo adverte: Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo
morreu. “E, pela tua ciência, perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
Ora, pecando assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, pecais
contra Cristo” (1Co 8.11-12). Entristecer ou ofender um irmão, portanto, irá
fazer com que ele caia no pecado e talvez venha a perecer sem Cristo.
Os versículos 1-15 mostram “a atitude do cristão em relação
ao seu irmão”.
A verdade do versículo 15 é expressa de maneira mais geral
no versículo seguinte:Não seja, pois, blasfemado
o vosso bem (16). A expressão o vosso bem (hymontonagathon) é relativamente
indefinida, mas em vista do contexto só pode querer dizer “a sua liberdade
cristã”, “a liberdade de consciência que foi conquistada por Cristo, mas que
irá inevitavelmente ganhar um mau nome se for exercida de uma maneira
consideravelmente sem amor”.
Insistir
na nossa liberdade sem considerar os escrúpulos de consciência dos demais não
somente é falhar no amor cristão, mas também interpretar erroneamente a
natureza da experiência cristã. Porque o Reino de Deus não é comida nem bebi
da (brosiskaiposis, NASB), mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo
(17). “A fé não é a ‘fé para comer todas as coisas’ (v. 2); o privilégio
cristão não é o privilégio de ser capaz de comer e beber o que se gosta”. Em
vez disso, a fé é aquela relação com Deus que traz “o fruto do Espírito” (cf.
G1 5.22-23).
De
maneira geral, nas cartas de Paulo a justiça e a paz descrevem uma relação
objetiva com Deus, mas aqui a alegria certamente é subjetiva e provavelmente
determina o sentido das outras duas palavras. Justiça, portanto, é uma ação
justa, e paz é um estado de mente tranqüilo que nasce de uma relação de paz com
Deus.
No
Espírito Santo os crentes antecipam as bênçãos do futuro reino de Deus (cf.
8.11,23). Para Paulo, o reino de Deus (diferente do atual reino de Cristo) é a
herança futura do povo de Deus (cf. 1 Co 6.9-10; 15.50; Gl 5.21; Ef 5.5; 1Ts
2.12; 2 Ts 1.5); mas no Espírito Santo as suas bênçãos podem ser desfrutadas
aqui e agora.83 É esta alegria no Espírito Santo que deveríamos procurar, e não
os prazeres de comer e beber.
O
versículo 17 nos mostra “O Significado da Verdadeira Religião”. Não é um
assunto externo - não é comida nem bebida, mas é 1) Justiça, interior e
exterior; 2) paz, “com Deus” e “de Deus”; 3) alegria, “o eco da vida de Deus
dentro de nós” (Ralph Earle).
A
próxima sentença vem imediatamente. Porque quem nisto (entouto, nisto; “no
princípio implicado por estas virtudes”) serve a Cristo agradável é a Deus e
aceito aos homens (18). Ou seja, o homem é agradável a Deus se servir a Cristo
sendo justo, conciliatório e caridoso em relação aos demais, não insistindo de
forma egoísta na sua liberdade cristã (cf. 1 Co 9.1-23). Este homem diz,
juntamente com Paulo: “Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de
todos” (1Co 9.19).
Sigamos,
pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os
outros (19). “A regra prática implicada aqui é a de que, quando alguma coisa é
moralmente indiferente para mim, antes de agir com esta convicção, eu devo
perguntar como tal ação irá afetar a paz da igreja e o crescimento cristão dos
demais”.
Isto
determina o sentido da sentença seguinte. Não destruas por causa da comida a
obra de Deus (20), isto é, não o indivíduo cristão (como no versículo 15), mas
a igreja como o templo de Deus (cf. 1 Co 3.15-16).
Agora
Paulo retorna a um ponto no seu argumento: E verdade que tudo é limpo, mas mal
vai para o homem que come com escândalo (cf. v. 14). As duas afirmações são
verdadeiras, mas o apóstolo, de repente, passa a dar um conselho específico ao
forte: Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que
teu irmão tropece (21). O significado é: “Eu preferiria viver como um essênio a
fazer alguma coisa que ofendesse o meu irmão”. Isto é disciplinar a minha vida
por meio do ágape cristão.
Tens
tu fé? (no sentido dos versículos 1-6) Tem-na em ti mesmo diante de Deus (22).
“A verdadeira fé é uma relação invisível entre o homem e Deus, uma confiança
tão completa em Deus, que o homem que a tem sabe que nenhum escrúpulo religioso
pode alterar a confiança do seu relacionamento com Deus”. Mas no momento em que
tal fé começa a desfilar como uma exibição egoísta de liberdade, ela deixa de
ser fé.
O
apóstolo claramente sanciona a posição do irmão forte, como ele já fez com
muito tato neste capítulo. “Mas é o homem que está certo da sua liberdade
nestas coisas em Cristo, assim como é o homem que tem uma riqueza real ou um
aprendizado real, que não faz uma exibição ofensiva”. Isto leva à próxima
afirmação: Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que
aprova. Um homem pode “permitir-se” uma indulgência que a sua própria
consciência poderá vir a condenar posteriormente. Por esta razão, o crente “forte”
deve “tomar cuidado para não cair” (1Co 10.12; cf. G1 6.1).
Mas
(de) aquele que tem dúvidas, se come, está condenado (katakekritai), porque não
come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado (23). A condenação que vem para
o cristão que age contra os seus escrúpulos não é puramente subjetiva: “Não se
trata apenas da sua própria consciência se pronunciar claramente contra ele
depois do ato, mas que tal ato leva à condenação de Deus... tudo o que um
cristão faz que não pode justificá-lo com base no seu relacionamento com Cristo
é pecado... tudo o que um homem não pode fazer, lembrando-se de que pertence a
Cristo - tudo o que ele não pode fazer com o tribunal (v. 10), a Cruz (v. 15),
e todos os limites e as inspirações presentes na sua mente - é pecado”.
À luz
da posição de Paulo (que o identifica com o irmão mais forte, veja 15.1) não
devemos concluir que um cristão deva sempre estar escravizado a tais
escrúpulos, como temos considerado. A consciência cristã deve se “tornar
verdadeira” através da mente de Cristo. Estudar os Evangelhos é se dar conta do
fato de que para Jesus os maiores assuntos da fé e da vida estão na posição
oposta de assuntos como tabus de dieta (Mc 7.18-23) ou até mesmo a observância
meticulosa do sábado (Mt 12.1-13). Para o nosso Senhor, os “principais temas da
lei” têm a ver com o que Deus exige quanto à “justiça, misericórdia e fé” (Mt
23.23).
O
crente que é “enfermo na fé” deve compreender que a sua salvação é
completamente pela graça, por meio da fé (como Paulo argumentou por toda esta
Epístola). Portanto, ela não depende de uma observância escrupulosa de todos os
detalhes da lei. “A exigência justa da lei” é que um homem expresse em todos os
seus relacionamentos pessoais e sociais o espírito do ágape cristão (cf.
13.8-11). A palavra que este homem deve ouvir é a do profeta Miquéias: “Ele te
declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que
pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu
Deus?” (Mq 6.8) Mas até que estas palavras estejam claramente entendidas, ele
deve ser fiel à luz limitada que recebeu.
3. Seguindo o Exemplo de Cristo (15.1-13)
O
capítulo 14 é, de certa maneira, completo em si mesmo, e podemos entender que,
se algumas cópias da Epístola foram enviadas como uma circular a diferentes
igrejas, algumas devem ter terminado em 14.23, onde a Doxologia (16.25-27) pode
ter sido anexada, como em muitos manuscritos. Mas este é inquestionavelmente o
mesmo assunto abordado nesta seção. Ainda é com o tema das relações entre o
forte e o fraco que Paulo está preocupado, mas agora ele faz um novo apelo pela
unidade, com base no exemplo de Cristo. O forte deve agir com o Espírito de
Cristo (vs. 1-6), e no seu Espírito o forte e o fraco devem receber um ao outro
(vs. 7-12). Então ele pronuncia a primeira de diversas bênçãos (v. 13).
a) O exemplo de Cristo para o forte (15.1-6). Agora Paulo se
identifica com o forte: Mas nós que somos fortes
devemos suportar as fraquezas (taasthenemata) dos fracos e não agradar a nós
mesmos (1). Os escrúpulos do fraco são um peso que o forte deve suportar. Esta
admoestação é necessária, porque é fácil agradar a si mesmo abrigando-se sob a
aparência do princípio cristão. Se o fraco é deficiente em conheci mento, o
forte tem a tendência de ter pouco amor. Paulo achou necessário avisar os que
tinham conhecimento em Corinto: “A ciência’ incha, mas o amor edifica” (1Co
8.1). É por este amor que edifica que Paulo apela (cf. G1 6.2). Cada um de nós
agrade ao seu próximo (2). Comer e beber pode agradar o paladar, mas o cristão
deve procurar agra dar o seu próximo. Mas o próximo pode ser agradado na sua
dor, então Paulo acrescenta que ele deve ser agradado no que é bom para
edificação. Dar a ele um prazer que não o edifica, é algo que não é para o seu
bem (cf. 14.16,19).
“Se
parecesse difícil e triste para algum romano forte viver limitado em benefício
do mais fraco, o consolo e a dignidade de uma vida assim seriam saber que
Cristo a viveu” 92 - Porque também Cristo não agradou a si mesmo (3). O verbo
usado por Paulo resume a vida e o caráter de Cristo: a sua própria existência
consistiu em dar-se a si mesmo pelos outros (cf. Fp 2.5-8). Mas em lugar de
apelar para a vida de Cristo como um apoio para a sua afirmação, o apóstolo
cita uma profecia: mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que
te injuriavam (SI 69.9). Este salmo é citado por todo o Novo Testamento como
tendo alguma referência a Cristo, e o descreve como estando tão identificado
com a causa de Deus que suporta na sua própria pessoa os ataques dos inimigos
de Deus. As injúrias caíram sobre Cristo porque Ele não agradou a si mesmo, mas
viveu para agradar a Deus na obra da redenção.
Se o
objetivo da sua vida tivesse sido agradar a si mesmo, Ele teria escapado à
vergonha e à censura que o atingiram; mas vivendo como Ele viveu, para agradar
a Deus, para servir à sua vontade para a salvação dos homens, estas injúrias
vieram, e passaram a ser propriedade de Deus.
Paulo
justifica este uso das Escrituras com o princípio: Porque tudo que dantes foi
escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação
das Escrituras, tenhamos esperança (4). Este versículo único, escolhido do
Antigo Testamento, leva Paulo a dizer que todas as partes das mesmas Escrituras
foram escritas com o mesmo propósito - o nosso ensino (cf. 2 Tm 3.16). No
Antigo Testamento abundam exemplos de uma vida de autonegação, para trazer
glória a Deus; assim, ele estimula a nossa paciência e nos dá consolação ou
coragem. O registro destes exemplos se torna uma prova de que, assim como Deus
lidou com os seus servos naquela ocasião, da mesma maneira Ele irá lidar
conosco agora. E por meio dessa paciência e consolação, derivadas do Antigo
Testamento, que nasce a esperança (cf. 5:3-4).
Depois
da digressão do versículo anterior, Paulo retorna ao seu tema e resume o seu
apelo com uma oração pela unidade da igreja romana: Ora, o Deus de paciência e
consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo
Cristo Jesus, para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo (5-6). Deus é a fonte da paciência e consolação que
nos são oferecidas nas Escrituras. Estas graças são dádivas de Deus, mas são
distribuídas por Ele por meio da Palavra escrita. E por meio destas duas
qualidades cristãs, também, que Deus fará com que tenham o mesmo sentimento uns
para com os outros. Mais uma vez vem à mente a admoestação de Paulo aos
Filipenses: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” (Fp 2.5). Isto não quer dizer que eles chegarão a um entendimento comum
sobre as questões da comida vegetariana, da observância do sábado e de outros
assuntos desse tipo. No entanto, eles chegarão à unanimidade do Espírito, para
que concordes, a uma boca, possam glorificar a Deus. Esta é uma autêntica
unidade cristã, “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3; cf. Jo
17.21-23,26).
b) O exemplo de Cristo para todos (15.7-13). Agora Paulo faz um apelo a toda à igreja: Portanto,
recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus
(7). O verbo receber nos traz de volta à sentença principal desta seção, em
14.1. Knox parafraseia a intenção geral dos versículos 7-12 da seguinte forma:
“Assim
como Cristo veio sob a lei para que pudesse cumprir o propósito da salvação de
Deus, tanto para os judeus quanto para os gentios, algo que já ficou
estabelecido nos capítulos 9-11, vocês, gentios, deveriam estar ansiosos para
apoiar alguns dos seus irmãos menos amadurecidos e menos completamente
emancipados”. Como Cristo recebeu os dois grupos, eles devem receber uns aos
outros.
Os
versículos 1-7 nos mostram “A Atitude do Cristão em Relação ao seu Irmão Mais
Fraco”. 1) Uma abordagem altruísta; 2) Uma compreensão altruísta, 5-6; 3) Uma
unida de altruísta, 7 (Ralph Earle).
A aceitação graciosa que Cristo deu aos homens leva a dois
resultados diferentes:Digo, pois, que Jesus
Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que
confirmasse as promessas feitas aos pais; e para que os gentios glorifiquem a
Deus pela sua misericórdia (8-9). A recepção dos judeus por parte de Deus os
levou a glorificar ao Senhor pela sua verdade, ou seja, pela fidelidade às
promessas feitas aos pais. A recepção dos gentios por parte de Deus levou à
glorificação de Deus pela sua misericórdia, pois mesmo sem ter-lhes prometido
nada, diretamente, Ele lhes deu tudo, assim como aos judeus. “E é por isto que
com a voz que se levanta do povo de Israel para celebrar a fidelidade de Deus,
deveria estar unida a palavra dos gentios louvando a sua graça”. Godet
prossegue e observa que o Evangelho de Mateus mostra o que chocava os judeus
com referência à vinda de Cristo, ou seja, o cumprimento da profecia do Antigo
Testamento. Por outro lado, o Evangelho de Lucas revela que o coração do gentio
se comove com a visão da misericórdia de Deus em Cristo.
Para
cumprir o seu duplo objetivo, Paulo declara que Cristo foi feito um ministro da
circuncisão. Isto pode querer significar somente o que ele diz na sua carta aos
Gálatas: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para
remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”
(4.4-5). O Filho de Deus se submeteu às enfadonhas limitações da lei mosaica
para colocar em prática o esquema da salvação. Assim, Ele fornece um exemplo
para todos os cristãos fortes (cf. v. 3). Se Jesus Cristo se submeteu às
pesadas restrições que lhe foram impostas pela interpretação farisaica do
Antigo Testamento, para possibilitar o plano da salvação tanto para os judeus
quanto para os gentios, os gentios deveriam estar desejosos de suportar os
escrúpulos dos seus irmãos menos esclarecidos.
A
inclusão dos gentios não deve ser considerada acidental; ela estava prevista
nas Escrituras. Como está escrito: Portanto, eu te louvarei entre os gentios e
canta rei ao teu nome (9; Sl 18.49). O ponto principal desta citação, como
daquelas que se seguem nos versículos 10-12, está na referência aos gentios e,
em segundo lugar, na oferta de louvor pela fidelidade e misericórdia de Deus. E
outra vez diz: Alegrai-vos, gentios, com o seu povo (10; Dt 32.43). E outra
vez: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-o todos os povos (11; SI
117.1). E outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e, naquele que se
levantar para reger os gentios, os gentios esperarão (elpiousin, esperança; Is
11.10).
A
abordagem sobre as relações entre o forte e o fraco na igreja romana é
concluída com uma breve bênção sobre os leitores. Ora, o Deus de esperança vos
encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela
virtude do Espírito Santo (13). Deus é descrito como o Deus de esperança,
evidentemente por causa das últimas palavras da citação anterior: “os gentios
esperarão”.
Quanto
mais rica a posse das bênçãos (gozo e paz) o crente obtiver da sua crença, mais
a sua alma alcançará uma compreensão das bênçãos futuras, e, de acordo com a
expressão de Paulo aqui, “abundar em esperança”. As últimas palavras, a virtude
do Espírito Santo, uma vez mais levam o leitor de volta (como em 14.17) ao
verdadeiro poder que ele deve procurar, em contraste com a falsa expressão de
poder pelo qual alguém demonstra a sua liberdade de forma egoísta. Quando a
nossa liberdade está sob a virtude do Espírito Santo, dizemos com o apóstolo o
que ele disse a respeito de si mesmo: “Sendo livre para com todos, fiz-me servo
de todos, para ganhar ainda mais. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar
os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar
alguns. E eu faço isso por causa do evangelho” (1Co 9.19, 22-23).
Evangelista
Isaias Silva de Jesus
Igreja
Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário
Bíblico Volume 08 -Romanos e 1 e 2 Corintios
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