COSMOVISÃO
MISSIONÁRIA
TEXTO ÁUREO
= “E desta
maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido
nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio.”
VERDADE
PRÁTICA
= Os crentes que foram alcançados pela graça e vivem pela fé, em Jesus Cristo,
precisam ter uma visão missionaria amorosa e abrangente.
LEITURA
BIBLICA = Romanos 15.20-29
INTRODUÇÃO
A CONCLUSÃO DA CARTA
A essa
altura, Paulo tinha atrás de si o retrospecto de um enorme esforço intelectual.
Dificilmente seus leitores deixaram de se sentir impressionados. A partir dessa
premissa, ele retoma novamente os temas do intróito da carta em Rm 1.1-17.
Insiste mais uma vez em sua qualificação como apóstolo dos gentios, reitera a
intenção de visitar a comunidade em Roma, assim como seu irrestrito
reconhecimento por ela, e assegura-se da comunhão em oração. Contudo, Paulo
associa a isso uma informação mais precisa sobre sua situação pessoal, seus
planos e desejos, bem como sobre seus contatos em Roma (lista de saudações!). É
um procedimento que, aliás, corresponde integralmente aos costumes da
Antigüidade nos finais de cartas (cf qi 4), embora a presente conclusão
de carta tenha recebido um formato extraordinariamente longo.
Explicações sobre o risco da carta aos
Romanos
Já em Rm
1.14-16a Paulo viu com toda a clareza que ele arriscava algo com sua visita a
Roma, mesmo que com ela saldasse irrestritamente seu “débito”. Ele tinha
conhecimento das correntes judaizantes que existiam dentro, mas também fora, da
igreja de Roma. A presente carta aberta já mostrava que ele estava pronto a
correr o risco. Mas, no que dependesse dele, queria ter paz (Rm 12.18). Para
tornar esta situação melindrosa mais objetiva, ele a trouxe à consciência
usando duas vezes a palavra “ousadia”, nos v. 15,18.
Para
começar, Paulo assegura mais uma vez (cf já em Rm 1.7–8.12) a seus leitores seu
apreço sincero por eles. Faz isto com uma clareza e cordialidade que haveria de
banir qualquer desconfiança: E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a
vosso respeito, de que estais possuídos de bondade. As expressões “eu
mesmo” e “vosso respeito” estabelecem entre si um equilíbrio. A ambos os lados
se concede autonomia – premissa da verdadeira comunhão.
O julgamento
abrangente “possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para
vos admoestardes uns aos outros” admite que os cristãos de Roma formam um
corpo capaz de agir e de conviver. É verdade que também cristãos cheios de todo
conhecimento carecem, segundo Rm 12.2, de permanente renovação, não por último
prestando-se mutuamente uma ajuda corretiva. Quando não se compreende isso, o
“pleno conhecimento” se tornaria algo questionável. Era essa a atitude arriscada em Laodicéia: “Dizes: Estou rico e
abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz,
sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17).
No v. 24,
Paulo não tem dificuldades de designar a obra em Roma como seu “refrigério”.
Contudo, isso não o impede de aportar sua própria contribuição. Entretanto,
vos escrevi em parte mais ousadamente. De maneira alguma ele se desculpa
por causa de suas exortações epistolares. Tampouco alude a outras passagens de
sua carta. Na introdução para esse trecho, porém, foi estabelecida uma relação
com Rm 1.14-16a.
Paulo estava
cônscio do perigo que se formava em todo lugar em que pleiteava em prol do
evangelho, porém levou-o em conta. Seu extraordinário atrevimento em relação
aos ouvintes daquele tempo, às gerações posteriores e no fundo também às
pessoas de hoje condensa-se, p. ex., numa inclusão no começo de seu trecho
central de Rm 3.21-26 – consistindo, no grego, de duas palavras: revelação da
justiça de Deus ―sem interferência da lei‖! A quantos equívocos e abusos
essa pequena frase já esteve exposta! Seria assim que Paulo, ao desancorar a
santa, justa e boa lei, estava proclamando uma salvação sem salvação? Isso não
constituía até uma sabotagem de toda o histórico da salvação? A carta aos
Romanos representa um esforço único de solucionar essa conclusão errônea.
Portanto, a
pequena expressão “em parte” acrescentada não está visando determinadas partes
da carta, que, ao contrário de outras, teriam sido formuladas com ousadia
especialmente forte, mas está preparando a continuação: Escrevi apenas como
para vos trazer isto de novo à memória. Isso significa: se minha
apresentação do evangelho causou espécie, vocês, que estão cheios de
conhecimento espiritual (v. 14!), deveriam manter esta estranheza dentro de
limites.
Esta carta
deveria torná-los inseguros apenas em parte, somente de forma restrita, pois
apenas tirei conclusões a partir de algo que há muito é conhecido de vocês.
Afinal, sempre de novo Paulo deixara claro que estavam conjuntamente firmados
no evangelho transmitido, fornecendo um grande número de indícios da Escritura
que tinham em comum!
No entanto,
de onde tirava a ousadia para se imiscuir desse modo, como pessoa de fora,
também em Roma? Acontecia por força da graça que me foi outorgada por Deus.
Aqui, como em muitas outras ocasiões, “graça” alude não ao seu ser cristão, mas
à graça que obteve para ser apóstolo.
Portanto,
Paulo repete o fato de ter recebido uma incumbência especial de descerrar o
evangelho aos gentios. Verifiquemos as exposições sobre Rm 1.1,5,6,14, mas
observando as ampliações feitas aqui. Para que eu seja ministro (sacerdotal)
de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar (sacerdotalmente)
o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles (como sacrifício) seja
aceitável (para Deus), uma vez santificada pelo Espírito Santo.
Agora está
sendo desenvolvida a breve menção de Rm 1.9 sobre o seu “culto a Deus no
Espírito”. Sacerdote e sacrifício do AT retornam aqui de forma espiritualizada,
à semelhança de Rm 12.1. Lá, no entanto, todos os cristãos prestam sacrifícios
de forma ativa, enquanto aqui eles próprios, como cristãos gentílicos, são o
sacrifício que Paulo celebra e pelo qual se responsabiliza. Ele considera-se
encarregado de um dever de cuidado sacerdotal nesse culto de abrangência
mundial. Compete ao sacerdote cuidar para que as determinações cultuais sejam
observadas, porque o que se oferece precisa ser aceitável para Deus, i. é,
purificado e sem defeito. Com essas palavras, evidencia-se a graça apostólica
especial de Paulo (v. 15). Embora estivesse em absoluta consonância com todo o
círculo dos apóstolos (1Co 1.13; 15.11) e junto com eles garantisse a
transmissão do evangelho sem deturpações, assim como o Senhor pascal o
transmitia (2Co 5.18), ele destacava-se num aspecto.
Na
“sinfonia” dos apóstolos cabia-lhe um trecho de “solo”. É verdade que não tinha
iniciado a missão aos gentios nem havia sido o único que a impulsionou, mas foi
ele quem a defendeu teologicamente de forma mais clara. Era inegável que, sob
esse aspecto, lhe estava confiada a “verdade do evangelho” (Gl 2.5,14). Seus
pontos angulares são obediência da fé e liberdade da lei. Rm constitui o
documento clássico dessa clareza de perspectiva.
No AT,
pessoas e objetos eram tornados aceitáveis por meio de ritos exteriores para o
culto a Deus, i. é, eram santificados. Agora, porém, algo coloca-se nesse lugar
por meio do Espírito Santo, ao qual Paulo retornará no v. 19.
É inegável
que Paulo agora está reagindo a perguntas relativas à sua autoconsciência
apostólica: que estás fazendo de ti mesmo? (cf Jo 8.53). Tenho, pois, motivo
de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus. Primeiramente
Paulo assegura que ele de forma alguma passou dos seus limites: Porque não
ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por
meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência.
O que lhe
dava toda a coragem de correr o risco, mencionado no v. 15, era resultado do
fato de que ele se precavia absolutamente de um segundo risco, diferente.
Esse
consistiria de infidelidade diante do Exaltado, que em Damasco o havia
incumbido da missão aos gentios. Desde então pesa sobre ele um ai: “Ai de mim
se não pregar o evangelho” (1Co 9.16) e se o praticasse desconectado do agir do
próprio evangelho! Agora, porém, em termos positivos: Paulo pode apontar para
os sinais de legitimação da parte de seu Senhor. Cristo agiu através dele de
modo abrangente, por palavra e por obras (“em palavra e ação” [NVI]). Ao
lado da palavra poderosa colocavam-se, no caso dele, “sinais de um apóstolo”
(2Co 12.12), também feitos por força de sinais e prodígios.
Ambos os
efeitos de força, a palavra e a ação, penetravam pelo poder do Espírito
Santo, como conquistadores no espaço dos poderes adversários (Rm 8.38).
“Destruir fortalezas, anulando nós sofismas” (2Co 10.4,5), romperam estruturas
dominantes, das quais os ouvintes estavam cativos, e eram eficazes “em direção
da obediência dos gentios” (aqui, no v. 18, já com explicação mais detalhada
sobre Rm 1.5). Em muitos lugares surgiram e mantiveram-se comunidades cristãs,
como verdadeiro milagre da força da ressurreição (Rm 8.11), as quais
glorificavam a Deus (v. 9-12). Paulo era capaz de designar todo o seu serviço
como “serviço do Espírito” (2Co 3.6,8).
Em seguida,
Paulo desenrola diante dos olhos de seus leitores o quadro de sua “campanha”
(2Co 10.4): de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao
Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo. Também na memorável reunião
de At 15 o seu procedimento de expor aos demais sua obra missionária teve um
papel importante (At 15.12; Gl 2.8,9). Nela se exteriorizava um juízo de Deus:
Paulo obteve a graça do apostolado! As comunidades gentílico-cristãs
constituíam sua “carta de recomendação”, “selo do (seu) apostolado” (2Co 3.2,3;
1Co 9.2). Ponto de partida dessa atuação era Jerusalém. É verdade que lá jamais
evangelizou, mas na mencionada reunião naquela cidade ele conquistou, para sua
própria consciência e para o juízo dos co-apóstolos e da primeira cristandade,
seu perfil de missionário dos gentios.
Sem aquela
decisão de Jerusalém, qualquer data posterior ficaria para ele suspensa no ar
(Gl 1.18; 2.2). Seguindo a rota do sol, seu caminho o conduziu do Leste para
Oeste, até a costa do mar Adriático. A Ilíria correspondia aproximadamente à
região da atual Albânia. De lá teria sido possível atravessar de navio 200 km
pelo mar, chegando já à altura de Roma. Aqui encontramos a única comprovação de
que Paulo atuou na Ilíria. Segundo 2Tm 4.10 seu colaborador Tito trabalhava na
Dalmácia, que estava unificada com a Ilíria.
Paulo,
portanto, praticou, nesse grande arco, o evangelho do Cristo. A expressão
pressupõe o cumprimento de algo que foi ordenado, executado e concluído de
acordo com a incumbência. Paulo se reportará a esse aspecto no v. 23.
De modo
surpreendente Paulo dá a conhecer um princípio, que resultava menos de sua
vocação que de experiências posteriores. (Nisso), porém, esforçando-me,
deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não
edificar sobre fundamento alheio. Em 2Co 10.12-18, onde ele assume a mesma
posição, transparece também seu motivo. Ele visa distanciar-se daqueles
missionários que o seguiam, missionavam atrás dele, espionavam-no e se
apoderavam, ávidos de vanglória, da sua obra. Ele evitava qualquer atrito. Por
razão semelhante também não fazia valer nas igrejas recém-fundadas o seu
direito por sustento material: “Tudo faço por causa do evangelho” (1Co 9.23).
Indiretamente,
ele novamente dá a entender aos romanos: entre vocês terei apenas um papel de
visitante, mas auxiliem-me no meu trabalho pioneiro na Espanha – unicamente por
amor ao evangelho! Também para decisões
individuais ele encontrava apoio bíblico. Antes, (atuo) como está
escrito (Is 52.15): Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e
compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito (cf Rm 9.30a;
10.20).
As expectativas específicas dirigidas aos
cristãos em Roma
Até o
momento, Paulo havia ido ao encontro dos cristãos romanos nessa carta sobre a
base da compreensão espiritual, para desse modo conquistar a adesão plena deles
à sua proclamação. Na esperança de tê-lo conseguido, ele agora emite duas
expectativas concretas.
Para tanto,
volta a abordar sua intenção de finalmente visitar Roma. Em Rm 1.9-16a, ele
insistira na sinceridade desse desejo, e depois disso, em Rm 15.19, também
havia apontado para a razão objetiva (sua tarefa de trabalhar no Oeste). Agora
ele resume: Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido
de visitar-vos. Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões para
minha incumbência apostólica (cf qi, 4b), e desejando há muito
visitar-vos…
Somente
nesse ponto os romanos são informados em que amplo projeto seu plano de visita
está inserido: …chegarei até vós quando em viagem para a Espanha, pois
espero que, de passagem (Rm 1.11), estarei convosco e que para lá seja
por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa
companhia, ou seja depois de me haver fortalecido. Ele dará à visita o
mesmo cunho de 2Co 1.24, sem interferir autoritariamente nas competências
deles.
Naquele
tempo, semelhante à Palestina, seu ponto oposto no Leste, a Espanha era uma
ponte terrestre muito disputada e muito viva entre a Europa e África, além de
ponto de convergência de rotas marítimas muito ramificadas. Há séculos estava
incorporada à cultura mundial grega, sendo berço de importantes filósofos,
artistas e imperadores. Há muito vivia lá uma colônia judaica em várias
comunidades com sinagogas.
Portanto,
Paulo sente-se desafiado por uma nova e importante etapa da missão. Os cristãos
de Roma são convidados a constituírem a nova comunidade de apoio para ela (cf
qi 4c). Essa tarefa está descrita pela palavra equipar: havia todo um
grupo de colaboradores que precisavam ser providos de alimentação e dinheiro.
Acrescia-se a isto a disposição para responsabilizar-se conjuntamente pelo
aspecto espiritual, o envio por ocasião de uma celebração a Deus, quando não se
fazia necessário também um acompanhante conhecedor da língua.
No entanto,
surpreendentemente o auspicioso “agora até vocês!” do v. 23 é postergado mais
uma vez por outro “agora”: Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a
serviço dos santos, ou seja, à comunidade de lá (cf Rm 1.7). Na prática
tratava-se, como logo ficará evidente, de um transporte de dinheiro. Mas por
que Paulo tinha de participar tão definitivamente dele, adiando por causa dele
mais uma vez sua viagem a Roma? Cabia explicar aos leitores a peculiaridade
desse “serviço”. Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em
benefício dos (por um certo sinal de comunhão com) pobres dentre os
santos que vivem em Jerusalém.
Tratava-se
de uma ação caritativa em prol da parte empobrecida da comunidade de Jerusalém,
uma ação, porém, que ao mesmo tempo visava ser um sinal para a comunidade toda.
A expressão “um certo sinal” parece indicar que Paulo não estava querendo
entrar nos detalhes. Ele não menciona, p. ex., como a campanha foi
desencadeada, nem sua própria atividade na campanha, nem a colaboração também
das comunidades da Ásia Menor, nem a entrega por uma grande delegação, conforme
At 20.4; 1Co 16.3.
Para ele, é
mais importante que seus leitores reconheçam o sentido intrínseco dessa coleta
de dinheiro. Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores, embora
não legalmente, mas moralmente. Porque, se os gentios têm sido participantes
dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais. Paulo
sustentou com persistência o mérito histórico da comunidade primitiva: Foi ela
que entregou o evangelho ao mundo dos gentios. “Desde Jerusalém” (v. 19) a
corrente da transmissão teve o seu início, e cumpre-nos permanecer fiéis aos iniciadores.
Acontece que
Paulo insistia em que acontecesse um dar e receber recíproco, a saber, a
comunhão das comunidades de origem judaica e gentílica. Por mais diferentes que
fossem os respectivos bens ofertados e recebidos, cada qual dava do que tinha e
recebia o que lhe faltava. Assim, todos vivem reciprocamente em dívida e
“obrigados” (Josef Hainz [sugerindo o sentido de “tomados de gratidão”]). Era
assim que um sinal concreto devia dar forma à verdade de Gl 3.28: “Não há judeu
nem grego… pois todos são um em Cristo Jesus” (NVI).
Depois que
Paulo os convenceu da necessidade de sua missão a Jerusalém, ele tem condições
de referir-se ao v. 24. Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes
consignado (selado) este fruto, passando por vós, irei à Espanha. O
“selar” ocorre no NT quase sempre num sentido figurado, de maneira que também
no presente texto podemos presumir essa acepção. Paulo faz questão de um
encaminhamento ordeiro e inatacável, para que o sinal também rebrilhe de
verdade. Como já no final do v. 24, ele logo se reanima com a perspectiva do
fortalecimento na fé em Roma: E bem sei que, ao visitar-vos, irei na
plenitude da bênção de Cristo. No v. 32 ele fala, no mesmo contexto e na
mesma confiança, da esperada “alegria” e do “refrigério”.
No mesmo
instante, porém, o apóstolo é novamente alcançado pelo presente cheio de
preocupações, a partida para Jerusalém. A sua segunda intenção está ligada a
essa situação: orem por mim! Nitidamente, esse pedido é mais que simples rotina
em finais de cartas. Ele praticamente conjura os romanos, exorta-os por tudo
que lhes é sagrado: Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e
também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a
meu favor. Apesar de o conhecerem somente à distância, apesar de que,
conforme Rm 3.8 e 16.17, também estão expostos à irradiação da propaganda
adversa, Paulo parte do pressuposto de que esse grande escrito lhe proporcionou
crédito em Roma. É esse saldo disponível que ele aciona agora. Pressiona-os a
se decidirem: façam um pacto de luta comigo, dêem-me cobertura – seguramente
diante de pessoas, mas até perante a instância máxima, perante Deus! Talvez
seja estranha para nós essa luta com Deus em oração, porém ela é inerente à
profundidade bíblica da oração.
Ao recordar
Jerusalém, revolvem-no os mais graves temores. Paulo vê um duplo perigo.
Primeiro: orem por mim, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na
Judéia, ou seja, dos judeus fora da comunidade, que não seguem ao
evangelho. Ainda outro perigo era quase incompreensível e, não obstante, real:
orem por mim, que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos.
O “sinal de comunhão” (v. 26) e, por meio dele, também um renovado
reconhecimento de sua missão, livre da lei, entre os gentios, poderia ser
negado pela comunidade primitiva, dependendo dos círculos que nela tivessem
maior influência, se Tiago ou os judaístas.
Nesse caso
não resultaria a “concórdia de louvar a Deus unânimes e a uma só voz” (v. 5,6).
Palavras de banimento obstruiriam as orações de gratidão – para o desespero de
Paulo.
Assim como
acontece nos salmos, também na oração de Paulo mesclam-se partes receosas com
partes esperançosas. No presente versículo impõe-se a confiança: a fim de
que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria
e possa recrear-me convosco.
A referência
à vontade de Deus mostra a atitude básica de orar conforme a Bíblia: O orador
permanece sendo ser humano, e Deus continua Deus. É por isso que Paulo também
subordina a Deus suas idéias há pouco expostas acerca do desenrolar da sua
missão. De fato, tudo transcorreu de maneira bem diferente. O alegre “Estou
chegando!”, repetido sete vezes em Rm, caiu no vazio.
Em
Jerusalém, Paulo foi imediatamente preso, desaparecendo por anos na cadeia (por
volta dos anos 58-60, sobretudo em Cesaréia). Apenas na primavera do ano 61,
com cinco anos de atraso, Paulo chegou a Roma – num comboio de prisioneiros.
Somente depois de outros dois anos de prisão ele é solto. Pelo menos é isso que
At 28.30,31 parece pressupor. O NT não nos informa se a missão à Espanha sequer
aconteceu mais tarde, enquanto notícias posteriores a esse respeito são
controvertidas.
A carta
ainda não termina com o voto seguinte, formulado como prece (cf Fp 4.9; 1Ts
2.11-13), mas de fato encerra-se o esforço do apóstolo de conquistar os romanos
para seu objetivo prático principal. E o Deus da paz seja com todos vós.
Amém! Depois de ter dado tudo de si, tão somente pode entregar na mão de
Deus a decisão deles. No v. 5 ele o havia testemunhado como “Deus da paciência”
e no v. 13 como o “Deus da esperança”. Agora ele encontra uma terceira
designação: o Deus da paz. Pelo que se
evidencia, esse voto de acompanhamento divino estava localizado na prática
celebrativa do envio, quando os fiéis reunidos dispersavam-se novamente, já é
encontrado com freqüência no final das cartas. Cada indivíduo segue agora seu
caminho, no aconchego da presença da salvação de Deus, que o acompanha e que se
chama paz.
COMENTÁRIO
ESPERANÇA = Editora Evangélica Esperança
AS OBRAS
SOCIAIS NA IGREJA
TEXTO ÁUREO = “E não
vos esqueçais da beneficência e comunicação. porque, com tais sacrifícios, Deus
se agrada” (Hb 13.16).
VERDADE
PRÁTICA = A
prática da filantropia ou serviço social deve estar baseada no amor, na prática
do bem e na mútua cooperação.
LEITURA
BÍBLICA = ROMANOS 15.22-29
INTRODUÇÃO
A
parte prática da Epístola aos Romanos mostra que Deus tem interesse no
bem-estar social do ser humano. Isso pode ser encontrado em toda a Bíblia. As
atividades sociais devem acompanhar o trabalho de evangelização.
1. OS
CRISTÃOS POBRES DE JERUSALÉM
1. O papel
da Igreja na sociedade. O objetivo principal da Igreja é glorificar a Deus: “Quer comais,
quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus”
(1 Co 10.31). Alguém pode perguntar: “A tarefa principal da Igreja não é a
evangelização?” A resposta é afirmativa. Isso, porém, é conseqüência do
glorificar a Deus. A atividade da Igreja se direciona em dois sentidos:
vertical — adoração, atividades espirituais; horizontal — servir ao próximo,
atividades filantrópicas e sociais. Por isso Deus estabeleceu ministérios na
Igreja.
2. O
reconhecimento dos gentios (v.27). Os gentios deviam se sentir endividados
espiritualmente com os judeus; afinal Jerusalém era a igreja-mãe. Como nós, no
Brasil, reconhecemos os nossos pioneiros suecos. e temos uma admiração profunda
pela Suécia, a nossa mãe, que nos enviou os primeiros missionários. Assim
também, os gentios tinham um apreço especial pelos irmãos judeus de Jerusalém.
3. Jerusalém
e suas necessidades. Agora, a igreja de Jerusalém padecia necessidades. O apóstolo
Paulo era um homem muito cuidadoso. Tudo o que fazia, o fazia com dedicação e
empenho (Ec 9.10). Seu cuidado com as igrejas não se restringia apenas ao plano
espiritual. Paulo, sabendo dessa necessidade, levantou ofertas na Macedônia, na
Acaia (v.26; 2 Co 8.1), em Corinto e na Galácia (1 Co 16.1-3; 2 Co 8.6- 11;
9.1-5), para supriras necessidades dos irmãos pobres de Jerusalém.
4. Objetivo
de Paulo.
O apóstolo Paulo via a necessidade de unir as igrejas gentias com a de
Jerusalém. Os gentios ainda eram vistos com suspeitas por causa dos costumes
judaicos. Essa oferta era um gesto espontâneo baseado no amor fraternal, e com
isso levava os gentios a reconhecerem sua dívida espiritual com Jerusalém. Não
era uma inovação, pois, cerca de 11 anos antes, juntamente com Barnabé, Paulo
levou uma oferta para os necessitados de Jerusalém (At 11.30).
II. A
NECESSIDADE ATUAL
1.
“Ministrar aos santos” (v.25). Essa expressão diz respeito ao serviço
social prestado pelo apóstolo aos irmãos pobres de Jerusalém. Ministério
significa serviço. Deus incluiu entre os ministérios dados à Igreja, o serviço
social: “Ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com
liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com
alegria” (Rm 12.8). “...depois, dons de curar, socorros, governos, variedades
de línguas” (1 Co 12.28).
2. Mazelas
sociais. Jesus disse: “Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem,
quando quiserdes” (Mc 14.7). Hoje se fala dos meninos e meninas de ruas
juntamente com os idosos abandonados, da prostituição infantil, das freqüentes
invasões de terra, do desemprego e de outras mazelas. O que a Igreja tem feito
para aliviar o sofrimento dessa gente? E bom lembrar que desde o princípio do
mundo que os trabalhos filantrópicos estiveram sempre ligados à religião (Tg
1.27).
3. Pão para
quem tem fome. Não podemos ficar alheios ao sofrimento do próximo (1 Jo 3.17).
Convém lembrar que uma cesta básica não resolve o problema do pobre. O problema
é resolvido à medida que essas pessoas forem absorvidas no mercado de trabalho,
ganhando seu pão com o suor do seu rosto. A cesta básica é um paliativo até que
essas pessoas consigam emprego. O que não se deve é despedir sem nada o
necessitado. Tiago chama esse procedimento de fé morta (Tg 2.14-17).
III. A
FILANTROPIA NA BÍBLIA
1. A
filantropia. A palavra significa “humanitário, amigo da humanidade”, e vem do
gregofilos, “amigo” e anthropos, “homem”. Ora, se os que não têm esperança
estão sempre dispostos a ajudar a seu próximo, por que não nós, que somos
filhos da luz? O cristão tem inclinação para ajudar os pobres e necessitados,
porque ele é “participante da natureza divina” (2 Pe 1.4).
2. Desde
Moisés.
O assunto da filantropia vem desde Moisés e perpassa toda a Bíblia. Jesus deu o
exemplo de filantropia numa época em que não havia infra-estrutura e nem
organização estatal. Quando falamos de trabalhos sociais e filantrópicos
queremos mostrar as várias maneiras pelas quais a Igreja procura socorrer os
pobres nas suas necessidades. Como o pecado é a causa primária dessa miséria,
enquanto o mundo subsistir, estas coisas estarão presentes.
3. No
Cristianismo. Não demorou muito para que os serviços sociais surgissem na
Igreja. Os apóstolos delegaram esses trabalhos aos irmãos vocacionados, de boa
reputação, cheio do Espírito Santo e de sabedoria. Os apóstolos deram, assim
importância a essa atividade, não ficando alheios aos problemas dos
necessitados. Isso está muito claro em Atos 6.1-6, quando houve a separação de
crentes para o diaconato, a fim de servirem nesse ministério.
IV. AS
BÊNÇÃOS DE DEUS
1. Comunicar
e comunicação. O apóstolo Paulo costuma usar o verbo “comunicar” ou o substantivo
“comunicação” com referência ao ato de o cristão compartilhar o que tem com os
demais (2 Co 8.4; Fp 4.15). A Versão Almeida Atualizada usa o verbo “associar”.
Isso diz respeito à ajuda aos necessitados (Hb 13.16) e também à ofertas ou ao
sustento missionário (Fp 4.15).
2. Deus
promete retribuir. Quem ajuda ao necessitado, Deus o abençoa (2 Co 9.8-12). Temos a
promessa de Deus de uma boa colheita — salário abençoado. Por isso, Jesus disse
que é melhor dar do que receber (At 20.35). Jesus garantiu que quem assim faz,
de maneira nenhuma perderá o seu galardão (Mt 10.42).
3. A omissão
dessa responsabilidade é pecado. Deus abençoa, tanto no sentido espiritual
como no material aos que ajudam os necessitados. Ele aumenta os bens materiais
para que também aumente as condições de ajuda aos necessitados. Quem dá ao
pobre empresta a Deus (Pv 19.17). Qualquer omissão diante desta
responsabilidade espiritual, que pesa sobre a Igreja, pode resultar em graves
conseqüências. A Bíblia diz que o “que retém o trigo, o povo o amaldiçoa” (Pv
11.26).
4. A
caridade fraternal. Infelizmente ainda há igrejas que continuam insensíveis às
necessidades do pobre e aos serviços sociais. Dão muita ênfase à guerra
espiritual, ao mundo invisível, mas não se importam com o mundo visível. Não
devemos nos esquecer da hospitalidade, dos presos e dos maltratados (Hb
13.1-3).
CONCLUSÃO
A
generosidade cristã não deve se restringir apenas aos trabalhos filantrópicos.
Deve ser extensivo ao trabalho de Deus, nos dízimos e nas ofertas, para a
expansão do reino de Deus. O ex-primeiro ministro de Israel, Ben Gurion, disse
certa vez que Israel vive dos missim e nissim, jogo de palavras hebraicas que
significa: “impostos e milagres”. A obra de Deus se faz com recursos
financeiros — dízimos e ofertas — e com os milagres. A igreja de Filipos tinha
essa visão e não se esqueceu do apóstolo Paulo. O apóstolo ficou deveras
agradecido aos filipenses pela lembrança e pela ajuda (Fp 4.14-19).
Lições
Biblicas CPAD 2°. Trimestre 1998
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