2º Trimestre/2021
Texto Base: Tito 1:5-7; 1Pedro 5:1-4
“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros [...]” (Tt.1:5).
Tito 1:
5. Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei:
6.aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.
7.Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância.
1 Pedro 5:
1.Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:
2.apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
3.nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.
4.E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória.
INTRODUÇÃO
Na sequência do estudo dos dons ministeriais, passaremos a tratar das funções eclesiásticas, a saber, os presbíteros e os diáconos. Nesta Aula trataremos da função de Presbítero, Bispo ou Ancião. No princípio da Igreja, esta função eclesiástica era uma atividade tipicamente pastoral. Na acepção do Novo Testamento, o presbítero é o cristão maduro, de excelente caráter e que detêm liderança espiritual em uma Igreja Local.
É válido salientar que os vocábulos “presbítero”, “ancião” e “bispo” são usados no compêndio neotestamentário com o mesmo significado (ler 1Pd.5:1-9). Ao longo da história da Igreja, a atividade do presbítero, ou bispo, caracterizou-se pelo ministério de apascentador do rebanho do Senhor e governo da Igreja Local, e pela dedicação ao ensino da Palavra de Deus. A Igreja do Senhor Jesus é constituída por distintos seres humanos, por isso é preciso haver uma liderança que a norteie, a oriente e a administre com sabedoria. Apesar da importância do pastor titular, este deve contar com um grupo de obreiros aptos a ensinar e a administrar a Igreja Local: o presbitério.
I. A ESCOLHA DOS PRESBÍTEROS
A função de “presbítero”, também chamado de “bispo” ou de “ancião”, surgiu logo no princípio da Igreja. Barnabé e Paulo instituíram “anciãos” nas Igrejas Locais que haviam fundado na Ásia, reproduzindo algo que já havia em Jerusalém, visto que também se nota que, em Jerusalém, havia também “anciãos”, conforme se verifica de textos como Atos 11:30, onde se verifica que a Igreja de Antioquia ajudou os crentes de Jerusalém numa época de fome, tendo mandado ajuda para os anciãos daquela Igreja.
São, portanto, duas as “funções eclesiásticas” – presbítero e diácono - criadas pelos apóstolos para existirem nas Igrejas Locais, funções estas que não podem ser confundidas com “títulos” e “cargos” que, ao longo da história da Igreja, foram surgindo, numa “burocratização” que até se compreende diante do crescimento da Igreja enquanto organização, entretanto, todos os títulos surgidos ao longo da história da Igreja se resumem a estas duas referidas “funções”.
1. Significado da função Presbítero
Nas Igrejas neotestamentárias o presbítero era o discípulo que, tendo alcançado maturidade doutrinária comprovadamente elevada, era estabelecido formalmente para exercer um de seus ministérios de liderança eclesiástica. No princípio da Igreja o conselho eclesiástico era constituído de presbíteros. Foi esse conselho que aprovou o ministério do jovem obreiro Timóteo. O apóstolo Paulo lembrou-o acerca do reconhecimento do seu ministério, aprovado por esse conselho de obreiros, da seguinte forma: “Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério” (1Tm.4:14).
É possível que os presbíteros cristãos tenham tido sua origem a partir dos presbíteros da sinagoga judaica, cujas características poderiam ter sido em parte mantidas pelos apóstolos. Essa hipótese considera o fato de nos primeiros tempos do cristianismo os discípulos de Cristo não terem se reunido para cultuar ao Senhor em prédios próprios. Seu culto no século I era simples, reunindo-se em casas, sinagogas e no Templo (Atos 2:46; 3:1). Como exemplo, o texto de Tiago 2:2 registra o termo “synagogê”, comumente utilizado para a descrição das sinagogas judaicas, sendo ainda utilizado para descrever a assembleia de cristãos nos primeiros anos do cristianismo.
2. A liderança local
O apostolo Paulo se preocupou muito com a liderança da Igreja Local, como podemos observar no texto bíblico que trata das Igrejas da Ilha de Creta (Tt.1:4,5,7) - “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros...” (Tt.1:5). O texto da carta indica que havia graves faltas na vida individual e conjunta das igrejas de Creta, como: falta de liderança espiritual (Tt.1:5); falsos mestres (Tt.1:10,11); conduta imoral entre os membros da família de Deus, tanto jovens quanto velhos (Tt.2:1-10).
A ilha de Creta era uma região altamente marcada pela devassidão moral e pela disseminação de muitas heresias. As igrejas, ainda incipientes, corriam sérios riscos de serem atacadas por esses perigos morais e espirituais. Somente sob uma liderança bíblica e moralmente sadia a Igreja poderia resistir a esse cerco ameaçador. A maneira mais adequada de combater o erro é espalhar a verdade; a forma mais eficaz de combater os falsos mestres é multiplicar os verdadeiros líderes e mestres. Assim como a Igreja de Jerusalém tinha uma pluralidade de presbíteros (Atos 11:30), Paulo também constituiu presbíteros nas igrejas (Atos 14:23). Essa mesma prática foi repetida em todas as igrejas da Ilha de Creta (Tt.1:5). Desta feita, fica claro o aspecto pastoral da função de presbíteros nas comunidades cristãs nas Igrejas dos primeiros séculos.
3. As qualificações
O compêndio doutrinário da Igreja expressa qualificações bem objetivas para o exercício fiel da função de Presbítero. Tais qualificações estão descritas em Tito 1:6-9 para presbítero, assim como em 1Timóteo 3:1-7 para “bispo”, denotando o aspecto sinonímico dos dois termos.
A missão do presbítero é de tanta importância que o Novo Testamento dedica vários textos a respeito das qualificações que se devem exigir dos obreiros que são escolhidos para essa nobre função ministerial. Na escolha do presbítero, segundo a Palavra de Deus, devem ser observadas algumas qualidades ou qualificações, com base no texto de Tito 1:6-9, que equipara o presbítero ao ''bispo”:
6. aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.
7. Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;
8. mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante,
9. retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes”.
As características do presbítero exaradas neste texto têm mais a ver com a sua vida do que com o seu desempenho. A vida do líder é a vida da sua liderança. A vida precede o ministério e é sua base.
Veja que o retrato que Paulo traça do presbítero (Tt.1:6) ou bispo (1:7) é emoldurado pela irrepreensibilidade. Portanto, ele precisa ser irrepreensível. John Stott corretamente diz que isso não quer dizer que os candidatos teriam de ser totalmente isentos de falhas e defeitos, pois nesse caso todos seriam desqualificados. A palavra empregada é “anenkletos” - “sem culpa, não passível de acusação” - e não “anômos” - “sem mácula”. O presbítero não pode deixar brechas no seu escudo moral. Seu ofício é público e sua reputação pública precisa ser inquestionável.
II. A IMPORTÂNCIA DO PRESBITÉRIO
1. Significado do termo Presbítero
Primeiramente, cumpre observar que a palavra “presbítero” é uma palavra de origem grega, a saber, “presbyterous”, cujo significado outro não é senão “mais velho”. Assim, a palavra “ancião” e a palavra “presbítero” têm exatamente o mesmo significado, ou seja, de “pessoas mais velhas”, de “pessoas mais maduras”. Assim, quando encontramos, no texto bíblico, em o Novo Testamento, as palavras “ancião” e “presbítero”, em língua portuguesa, via de regra, elas são a mesma palavra grega “presbyterous”, de forma que a diferenciação é meramente de tradução. Assim, por exemplo, em At.11:30; 14:23; 15:2,4,6,22,23; 16:4; 20:17; 21:18, temos, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra “ancião”, mas a palavra grega original é “presbítero”.
Além dos termos “presbíteros” e “anciãos” que, a rigor, são a mesma palavra no original grego, também temos uma outra denominação dada a esta função no texto bíblico, que é a de “bispo”; no grego ela é “épískopos”, cujo significado é “observador”, “aquele que olha sobre os demais”. Apesar de aqui nós termos uma palavra diferente, ela não tem um significado diferente do de “presbítero” ou de “ancião”. Senão vejamos:
- A primeira vez que a palavra “bispo” aparece no texto sagrado é em At.20:28, na fala de Paulo aos obreiros da Igreja de Éfeso, que ele mandara chamar para se encontrar com ele em Mileto. Ora, uma simples análise do texto nos permite verificar que Paulo mandou chamar os “anciãos da Igreja” de Éfeso, como se vê em At.20:17. Ora, é a estes “anciãos” (em grego, “presbyterous”), que o apóstolo chama de “bispos” (épískopos”) em At.20:28; ou seja, “presbítero”, “ancião” e “bispo” constitui na mesma função, apenas com uso de palavras diferentes.
- Quando escreveu sua Carta aos filipenses, o apóstolo Paulo se dirige aos “bispos e diáconos” da Igreja de Filipos, ou seja, chama os “anciãos” e “presbíteros” de “bispos”. Em 1Tm.3, Paulo fala dos requisitos para a escolha tanto de bispos quanto de diáconos, e os requisitos que considera como sendo dos “bispos” (1Tm.3:1-7), repete na sua Carta a Tito, dizendo serem os requisitos exigidos aos “presbíteros” (Tt.1:5-9), inclusive utilizando tanto da palavra “presbítero” (Tt.1:5), quanto da palavra “bispo” (Tt.1:7), a mostrar que tanto um quanto outra palavra se referem à mesma função.
Portanto, a função de “presbítero”, “ancião” e “bispo” é exatamente a mesma, não havendo, no texto bíblico, qualquer diferença entre elas, pois se referem ao mesmo trabalho na Igreja Local. Ao longo da história da Igreja, criou-se uma “burocratização”, elaborou-se uma “hierarquia eclesiástica”, por causa do próprio crescimento da Igreja e se acabou adotando uma diferenciação entre “bispo” e “presbítero”, de tal sorte que o “bispo” passou a ser a autoridade maior, o responsável pela Igreja Local, enquanto que os “presbíteros” passaram a ser os auxiliares desta autoridade maior. Criou-se, então, a “forma episcopal de governo”, em que os “bispos” passaram a ser “superiores” dos “presbíteros.
Mas, biblicamente, o bispo não é um ofício superior ao presbítero. Os dois termos, presbítero e bispo, são usados para descrever o mesmo líder (Atos 20:17,28). Assim, o presbítero e o bispo são termos correlatos e devem destacar características distintas do mesmo líder. O termo “presbítero” refere-se à maturidade e experiência do líder, enquanto o termo “bispo” diz respeito à sua responsabilidade e função de supervisão pastoral, afirma John Stott, em seu livro “a mensagem de 1Timóteo e Tito”.
2. A atuação do presbitério
Segundo o compêndio doutrinário da Igreja - o Novo Testamento -, a atuação do presbitério dá-se em duas áreas principais: ministério da Palavra e governo da Igreja. Misturam-se nestas duas áreas todas as tarefas suficientes para satisfazerem os requisitos necessários de ordem espiritual e de ordem material, que ocorrem na vida da comunidade cristã que está sob a responsabilidade do presbítero. Cabe ao presbítero dedicar-se à diaconia da Palavra. Isso porque o presbítero é também pastor do rebanho (Atos 20:28), aquele que cuida das ovelhas e as conduz aos pastos verdejantes. Segundo William MacDonald, o Novo Testamento detalha com grande precisão as atuações do presbítero:
a) O presbítero deve pastorear a Igreja do SENHOR (Atos 20:28; 1Tm.3:5; 1Pd.5:2).
b) O presbítero deve proteger a Igreja tanto dos ataques externos quanto dos internos (Atos 20:29-31).
c) O presbítero deve dirigir e governar a Igreja, servindo-lhe de exemplo (1Ts.5:12; 1Tm.5:17; Hb.13:7,17; 1Pd.5:3).
d) O presbítero deve pregar a Palavra, ensinar a sã doutrina e refutar aqueles que a contradizem (1Tm.5:17; Tt.1:9-11).
e) O presbítero deve orientar a Igreja nas questões doutrinárias e éticas (Atos 15:5,6; 16:4).
f) O presbítero deve viver de tal forma que sua vida seja um exemplo para todo o rebanho (Hb.13:7; 1Pd.5:3).
g) O presbítero deve corrigir com espírito de brandura aqueles que são surpreendidos em alguma falta (Gl.6:1).
h) O presbítero deve velar pela alma daqueles que lhes são confiados, sabendo que prestará contas desse pastoreio ao Supremo Pastor (Hb.13:17).
i) O presbítero deve exercer o ministério da oração, especialmente em relação aos crentes enfermos (Tg.5:14,15).
j) O presbítero deve estar engajado no cuidado dos crentes pobres (Atos 11:30).
3. A valorização do Presbitério
O ofício do presbítero é dignificado pelas Escrituras Sagradas. O próprio Novo Testamento mostra a sua importância ao desenvolvimento das Igrejas Locais e ao bom ordenamento do Corpo de Cristo (cf. Atos 14:23; 20:17; 1Tm.4:14; 1Pd.5:1,2; Hb.13:17).
Como já informei anteriormente, no princípio da Igreja, o presbítero fazia parte de um grupo de obreiros, responsáveis pelo cuidado e ordenação das novas Igrejas que surgiam em decorrência da evangelização intensa; ele era o pastor local. O apóstolo Paulo, que era um líder responsável e zeloso com o rebanho do Senhor, teve o grande cuidado de organizar a administração das igrejas por ele abertas em suas viagens missionarias, pondo à frente delas presbíteros de caráter ilibado. Para as igrejas de Creta, orientou a Tito que de cidade em cidade estabelecesse presbíteros (Tt.1:8), mostrando assim o elevado valor que esses obreiros exibem no desempenho de suas funções: governo da Igreja e ministério de ensino. É o próprio Paulo quem diz: “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicata honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina” (1Tm.5:17).
III. OS DEVERES DO PRESBITÉRIO
1. Apascentar a Igreja
O apóstolo Pedro após colocar-se na mesma posição dos presbíteros das igrejas dispersas, dá a eles uma ordem expressa: “apascentai o rebanho de Deus que está entre vós...”(1Pd.5:2a). Com respeito ao apascentamento do rebanho, Pedro dá três orientações práticas:
a) “...não por força, mas voluntariamente...” (1Pd.5:2a). O Presbítero é um pastor de ovelhas, e a Igreja é o rebanho de Deus. O presbítero não é o dono do rebanho. Deus nunca passou aos presbíteros (pastores) o direito de posse das ovelhas. Cabe ao presbítero alimentar, proteger e conduzir as ovelhas de Deus. Pedro diz que a liderança da Igreja não é algo imposto pela coerção, mas algo voluntário. Há muitos pastores que apascentam a si mesmos em vez de cuidarem do rebanho. Buscam as benesses do ministério em vez de se gastarem pelo ministério (2Co.2:17). Buscam glórias para si em vez de conhecerem o estado do seu rebanho. O profeta Ezequiel denunciou os pastores que apascentavam a si mesmo e comiam as carnes das ovelhas, vestindo-se de sua lã em vez de alimentar as ovelhas; pastores que não fortaleciam as ovelhas fracas nem curavam as doentes; pastores que não iam buscar as ovelhas desgarradas nem procuravam as perdidas (cf. Ez.34:1-4).
b) “... nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto...” (Tg.5:2b). Na igreja do primeiro século havia exploradores itinerantes que saíam percorrendo as igrejas, buscando os bens dos cristãos, em vez de cuidar do povo; daí esta exortação de Pedro. Paulo também denunciou essa prática e dá o seu exemplo (Atos 20:33; 1Co.9:12; 2Co.12:14; 1Ts.2:9).
A liderança da Igreja não é uma posição de privilégio, mas de serviço. O presbitério deve visar a glória de Deus e o bem das ovelhas de Cristo, em vez de fazer a obra visando lucro. A Igreja não é uma empresa cuja finalidade é o enriquecimento de seus líderes. A recompensa financeira jamais deve ser a motivação para alguém exercer o pastorado. Um espírito mercenário é incompatível com o exercício desse nobre ofício.
A Palavra de Deus é meridianamente clara em dizer que é dever da Igreja pagar ao pastor o seu salário (cf.1Co.9:1,14; 2Co.11:8,9; 12:13; 1Tm.5:17,18). Porém, aqueles que entram no ministério visando lucro, movidos por sórdida ganância, cometem um horrendo erro. Paulo é categórico em dizer que o presbítero não deve ser avarento (1Tm.3:3) nem cobiçoso de torpe ganância (Tt.1:7). O líder do rebanho não deve envolver-se com negócios deste mundo para ganhar dinheiro, ainda que legítimos, se esses negócios o desviam de dedicação exclusiva ao ministério (2Tm.2:4).
c) “...nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1Pd.5:3). Os presbíteros recebem autoridade diretamente do Supremo Pastor (1Pd.5:4) por meio do Espírito Santo (Atos 20:28). Porém, não devem fazer mau uso dessa autoridade. O presbítero deve ser um exemplo para a Igreja, e não um ditador na Igreja. Deve andar na frente do rebanho como paradigma, e não atrás do rebanho para fustigá-lo e ameaçá-lo. Jesus ensinou que liderança é serviço; sendo Ele o Mestre e o Senhor, usou a bacia e a toalha como emblemas do Seu Reino (João 13:4,5). Na Igreja de Deus, ser grande é ser servo de todos. Não há espaço na Igreja de Deus para um líder déspota e ditador. O papel do líder não é dominar o povo de Deus com rigor desmesurado, mas ser exemplo.
2. Liderar a Igreja Local
Um dos principais deveres dos presbíteros é liderar a Igreja Local. Em 1Timóteo 5:17 lemos: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem”. Antes, na mesma Epístola, Paulo diz que o bispo (ou presbítero) “deve governar bem a sua própria casa [...] pois, como cuidará da igreja de Deus?” (1Tm.3:4,5). Pedro também indica uma função de liderança para presbíteros quando os exorta em 1Pedro 5:2-5.
O fato de que os presbíteros devem atuar como pastores do rebanho de Deus e de que não devem dominar pela força (isto é, liderar de modo ríspido ou opressor) sugere que os presbíteros têm função de liderança e de governo nas igrejas.
Além das responsabilidades de liderança, os presbíteros também têm responsabilidade de ensino nas igrejas. Em 1Tm.3:2, Paulo afirma que um bispo (presbítero) “deve ser apto para ensinar”. Ademais, em 1Tm.5:17 (ARA), Paulo diz: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”.
Conclui-se que os presbíteros têm a responsabilidade de dirigir e ensinar nas igrejas. Bem diz o pr. Elinaldo Renovato: “ensinar e governar com equidade e seriedade é o maior compromisso de todo homem de Deus chamado para tão nobre tarefa”.
3. Ungir os enfermos
Enfatiza o apóstolo Tiago: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor” (Tg.5:14). A admoestação registrada neste texto demonstra que a unção de enfermos com óleo era evidentemente praticada no princípio da Igreja. Aqui, Tiago está descrevendo uma cura miraculosa, seguida da oração da fé. Os presbíteros foram separados por Jesus e pela Igreja para atender a essas demandas.
É abundante a prova bíblica do uso religioso do óleo como um símbolo espiritual. No Antigo Testamento, a unção com óleo definia a consagração de uma pessoa ou objeto para o serviço do Senhor. No Novo Testamento, a unção é usada com um sentido carismático de cura, que não pode ser confundido com nenhum encantamento, magia ou mesmo com a extrema-unção, uma vez que a unção é para a vida e não para a morte, é para o corpo e não para a alma, argumenta o pr. Hernandes Dias Lopes.
Hernandes Dias cita a tese de que, no princípio da Igreja, a unção com óleo era tida como um símbolo do poder divino, ao mesmo tempo que era uma ajuda para a fé da pessoa enferma. Foi com esse propósito que Jesus usou a saliva e o lodo em duas de Suas curas. Quatro razões para sustentar esta tese são enumeradas:
-Em primeiro lugar, o óleo não é medicinal em Tiago 5:14, porque o texto não diz que o óleo cura nem que o óleo mais a oração curam, mas que a oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará.
-Em segundo lugar, são os presbíteros, autoridades espirituais e não sanitárias, que devem aplicar o óleo em nome do Senhor. Se a unção fosse medicinal, ela poderia ser feita por qualquer outra pessoa, sem a necessidade da convocação dos presbíteros.
-Em terceiro lugar, a cura não vem como efeito terapêutico do óleo, mas como um conjunto de fatores: imposição de mãos, unção com óleo, oração da fé, confissão de pecados e perdão.
-Em quarto lugar, as palavras “em nome do Senhor” colocam os limites da cura. O poder está no nome de Jesus. A cura vem pelo poder do nome de Jesus e não pelo efeito terapêutico do óleo. Na verdade, o uso do nome do Senhor, no rito da unção, faz do ato um rito religioso e não uma prática medicinal.
Outro argumento que fortalece a tese da simbologia espiritual é que Tiago recomenda o óleo para todos as espécies de doenças, enquanto o óleo naqueles dias era usado apenas para alguns tipos de enfermidades. O próprio Talmude menciona toda sorte de remédios e o óleo é colocado como um dos menos importantes.
Argumentando a respeito da simbologia espiritual do rito prescrito em Tiago 5:14, William MacDonald diz que o poder da cura não está no óleo, mas o óleo simboliza o Espírito Santo em seu ministério de cura (1Co.12:9,28). Em momento nenhum Tiago atribui ao óleo qualquer poder intrínseco de cura.
CONCLUSÃO
Diante de tudo que falamos aqui, conquanto de forma suscinta, percebe-se o quanto é importante a função dos presbíteros na Igreja do Senhor. Eles sempre formaram um corpo de obreiros com a finalidade de contribuir para a edificação da Igreja Local. Para enfatizar o elevado grau de importância do presbítero, no Novo Testamento, a referência a presbíteros sempre é feita no plural - "presbíteros", "bispos" ou "anciãos" -, dando a entender que, em geral, o presbítero não agia isoladamente, mas como um corpo de ministros, ou de líderes, que cuidava da Igreja Local. Não é mencionada uma só Igreja onde houvesse apenas um presbítero, por isso sempre são citados no plural (cf. Atos 11:30; 15:2,4,6; 20:17; Tg.5:14: 1Pd.5:1). As Igrejas na atualidade, principalmente nas Assembleias de Deus, precisam ter uma cosmovisão mais respeitosas com relação a esses valorosos obreiros.
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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD
William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Novo e Antigo Testamento).
Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr. Elinaldo Renovato de Lima. DONS ESPIRITUAIS & DONS MINISTERIAIS: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. CPAD.2014.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios (Igreja, noiva gloriosa). Hagnos.
Carlos Alberto R. de Araújo. A Igreja dos Apóstolos. CPAD.
Wayne Grudem - Teologia Sistemática. Vida Nova.
Carlos Alberto R. de Araújo – A Igreja dos Apóstolos. CPAD
Rev. Hernandes Dias Lopes. 1Timóteo – o pastor, sua vida e sua obra.
Rev. Hernandes Dias Lopes. Tiago – transformando provas em triunfo.
Pr. Caramuru Afonso Francisco. O presbítero, Bispo ou Anciãoo. PortalEBD_2014.
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