25 de fevereiro de 2022

AS HISTÓRIAS E AS POESIAS FALAM AO CORAÇÃO

 

AS HISTÓRIAS E AS POESIAS FALAM AO CORAÇÃO

 

Trimestre de 2022

 

Texto Base: Deuteronômio 6.20-25; Salmos 119.105-108

 

 “Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó Senhor, segundo a tua palavra” (Sl.119:107).

Deuteronômio 6:

20.Quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos e juízos que o Senhor nosso Deus vos ordenou?

21.Então dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito; porém o Senhor, com mão forte, nos tirou do Egito;

22.E o Senhor, aos nossos olhos, fez sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito, contra Faraó e toda sua casa;

23.E dali nos tirou, para nos levar, e nos dar a terra que jurara a nossos pais.

24.E o Senhor nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje.

25.E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado.

Salmos 119:

105.Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho.

106.Jurei, e o cumprirei, que guardarei os teus justos juízos.

107.Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó Senhor, segundo a tua palavra.

108.Aceita, eu te rogo, as oferendas voluntárias da minha boca, ó Senhor; ensina-me os teus juízos.

INTRODUÇÃO

Dando prosseguimento ao estudo das Sagradas Escrituras, veremos nesta Aula uma visão panorâmica dos livros históricos e poéticos; trataremos das experiências e das instruções relatadas nesses livros, cuja mensagem fortalece os nossos corações.

Os estudiosos cristãos das Escrituras dividiram o Antigo Testamento em quatro partes: a Lei (idêntica à Torah judaica); Livros Históricos (Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester), Livros Poéticos (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares); e Livros Proféticos (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Ageu, Sofonias, Zacarias e Malaquias). Em razão desta classificação é que foi feita a disposição dos livros em nossa Bíblia. Os livros históricos valem-se da literatura chamada de “narrativa” para contar as histórias do povo de Deus. Os livros poéticos e de sabedoria recorrem ao “texto lírico” com o propósito de despertar sentimentos. Os escritos bíblicos em prosa e poesia revelam a sabedoria divina, que deve ser aplicada em nosso viver diário; essas mensagens servem de bom remédio e conservam saudável o nosso espírito, alma e corpo (Pv.17:22).

I. AS HISTÓRIAS DO ANTIGO TESTAMENTO

As histórias da Bíblia dão testemunho da fidelidade e misericórdia divinas.

1. Os livros históricos

Os Livros históricos são os registros da experiência das pessoas da Antiga Aliança que tiveram com Deus, e da posse da Terra Prometida. O pr. Douglas, citando Gordon Fee, enfatiza que as narrativas históricas da Bíblia não são meramente das pessoas que viveram no período da Antiga Aliança, mas são, antes de tudo, narrativas históricas acerca daquilo que Deus fez para aquelas pessoas e através delas.

Os livros históricos são: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Estes livros retratam a história de Israel desde a entrada em Canaã (cerca de 1.400 a.C.) até o tempo de Esdras e Neemias (cerca de 400 a.C.). O Livro de Josué encabeça o rol desses livros históricos. A narrativa desse Livro relata a história da nação, desde a travessia do Jordão (Js.3:14-17) até a morte de Josué aos 110 anos de idade (Js.24:29).

Josué, sem dúvida alguma, é o personagem que predomina na fase da conquista da terra prometida, tendo sido fiel na sua incumbência de substituir Moisés na liderança do povo; embora fosse uma missão bastante árdua, o Senhor esteve com ele desde quando foi chamado (Dt.31:7,8; 34:7-12; Js.1:1-11). Já no início da conquista, Deus confirma o chamado de Josué aos olhos de todo o povo ao parar as águas do Jordão para que Israel atravessasse em seco para o lado ocidental da terra de Canaã (Js.3:1-7, 15-17), bem defronte de Jericó. Esta cidade era a primeira a ser conquistada, e mais uma vez o Senhor mostra o seu poder ao entregá-la milagrosamente nas mãos de Israel (Js.6:20,21,24,25). Nesse período, Israel experimentou, dentre outros, a fidelidade divina ao desfrutar da promessa feita aos patriarcas (Gn.17:3-8; Êx.3:13-17). A providência divina como na travessia do Jordão e na queda de Jericó (Js.4:7; Js.6:20), a proteção e a vitória sobre os inimigos (Js.24:1), dentre outros relatos, demonstram que Deus controla o curso da história e cumpre as suas promessas (Js.21:45).

2. As histórias dos Juízes

As histórias dos juízes são relatadas no livro de Juízes. Nele são contadas as histórias dos filhos de Israel à época em que se estabeleceram na terra de Canaã após a morte de Josué até o nascimento de Samuel (aproximadamente 1400 a.C.–1000 a.C.). Além da curta narrativa do livro de Rute, Juízes fornece o único relato bíblico desse período. O Livro descreve um ciclo que se repetiu inúmeras vezes durante o reinado dos juízes. Como os israelitas não conseguiram acabar com as influências iníquas da terra prometida, envolveram-se em pecados e foram conquistados e afligidos por seus adversários. Após os israelitas clamarem ao Senhor pedindo ajuda, Ele enviou juízes para libertá-los de seus inimigos. No entanto, os israelitas logo voltaram a pecar, e esse ciclo se repetiu (ver Juízes 2:11–19) - ciclos de pecado da nação, servidão a estrangeiros, súplica ao Senhor e salvação através de libertadores (os juízes).

Israel havia mergulhado na anarquia (Jz.17:6; 21:25) e na desobediência. Nessa época, não havia rei em Israel (Jz.18:1), e cada um andava como queria (Jz.21:25). Por essa razão, a nação entrou em declínio espiritual e fez o que parecia mal aos olhos do Senhor (Jz.3:7). Como resultado, os israelitas foram subjugados pelas nações vizinhas (Jz.3:8,12; 6:1; 10:7). Apesar disso, mediante o arrependimento do povo, Deus levantava libertadores para resgatar Israel da opressão (Jz.3:9,15; 6:7; 10:10). Os juízes eram muito mais do que julgadores, eles eram libertadores (Jz.2:16,19; 3:9) usados por Deus para que a nação não fosse totalmente destruída durante aquele período. Essas histórias apontam para a fidelidade e a misericórdia divinas (2Tm.2:13).

O primeiro juiz que encontramos no livro de Juízes é Otiniel; o último foi Sansão, totalizando o número de 12 juízes. São eles: Otiniel; Eúde; Sangar; Débora (e Baraque); Gideão; Tola; Jair; Jefté; Ibsã; Elom; Abdom; Sansão. O nome de Abimeleque não é contado por ter sido um usurpador (cf. Jz.cap.9). Entretanto, se considerarmos os juízes além do período do livro, teremos os nomes de Eli (1Sm.4:18) e de Samuel (1Sm.7:15), sendo este último, não somente juiz, mas também profeta e sacerdote. O nome de Samuel faz parte da transição entre os juízes e a monarquia e é considerado como o último e o maior dos juízes.

3. As histórias dos Reis

As histórias dos reis de Israel, que começa com a história do rei Saul, estão descritas em vários livros, a saber: 1Sm.10:1-31; 2Samuel; 1 e 2 Reis; 1 e 2 Crônicas. Vale lembrar que a maior parte dos profetas canônicos, exceto seis deles (Daniel, Ezequiel, Obadias, Ageu, Zacarias e Malaquias), profetizaram durante a época dos reis; portanto, estes livros correspondem a esta época e possuem dados importantes sobre este período. Soma-se a isto, o fato de 73 dos Salmos serem de autoria de Davi e 1 de Salomão. Os livros de Provérbios, Cantares e Eclesiastes também correspondem ao período dos reis de Israel, pois foram escritos pelo rei Salomão.

O período dos reis se divide em duas partes, a saber: a) Reino unido, quando Israel ainda não havia se dividido em reino do norte e reino do sul. Neste período reinaram Saul, Davi e Salomão; b) Reino dividido, quando Israel foi divido em duas partes; o reino do Norte ficou com dez tribos e o reino do Sul com duas tribos.

Por volta do ano 1050 a.C., o primeiro rei de Israel, Saul, foi ungido por Samuel (1Sm.10:1, entretanto, sua confirmação perante o povo aconteceu em Mispa (1Sm.10:17-27) e a proclamação definitiva ocorreu em Gilgal (1Sm.11:14,15). Saul era o rei que o povo escolheu; Deus lhes deu um rei segundo a vontade deles - de boa aparência e grande estatura (1Sm.10:23,24). Seu reinado foi bom apenas no primeiro ano, mas logo começou a mostrar o seu coração. Sua queda começou quando decidiu oferecer sacrifícios em Gilgal, ao invés de aguardar a chegada de Samuel, conforme lhe fora ordenado. Por não ser sacerdote, isto não era da sua competência. Saul foi desobediente a Deus e a Samuel; foi impaciente e decidiu fazer as coisas da sua própria maneira e não conforme os mandamentos do Senhor, sendo, portanto, rejeitado o seu reinado pelo Senhor (1Sm.13:13,14). Deus escolheu outro para ser rei (1Sm.13:14). Davi foi escolhido como seu substituto (1Sm.8:5; 9:17).

Davi saiu do exílio ao Trono de Israel. Ele estava em Ziclague, último “estágio” do seu exílio, quando o exército de Saul foi abatido diante dos filisteus (cf. 2Sm.1:1). De lá, após a morte de Saul, ele dirigiu-se a região de Judá; antes, porém, ele consultou o Senhor se Ele aprovava a sua decisão; e ele foi instruído pelo Senhor a ir para Hebrom, que ficava cerca de trinta quilômetros a sudoeste de Jerusalém (2Sm.1:1) - “E sucedeu, depois disso, que Davi consultou ao SENHOR, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá? E disse-lhe o SENHOR: Sobe. E disse Davi: Para onde subirei? E disse: Para Hebrom”. Em Hebrom, os seus habitantes se ajuntaram e “ungiram a Davi rei sobre a casa de Judá” (2Sm.2:4) - “Então, vieram os homens de Judá e ungiram ali a Davi rei sobre a casa de Judá...” (2Sm.2:2-4).

Por sete anos e seis meses, Davi reinou somente sobre a tribo de Judá, tendo Hebrom como sua capital. Ele aceitou ser rei de uma única tribo, até que o Senhor lhe abrisse a porta para reinar sobre todo Israel. Davi não se precipitou para assumir o controle da nação inteira. Antes de tomar uma decisão difícil, buscava o Senhor (2Sm.2:1).

Sete anos e meio mais tarde, Davi tornou-se rei da nação inteira (2Sm.5:1-5); reinou sobre as doze tribos por 33 anos, totalizando quarenta anos de reinado (2Sm.5:4,5). Foi somente no governo de Davi que houve a apropriação de todo território prometido a Abraão (ver Gn.15:18) - “Da idade de trinta anos era Davi quando começou a reinar; quarenta anos reinou. Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis meses; e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá” (2Sm.5:4,5).

Após a morte de Davi, Salomão, seu filho, assumiu o trono, e após a sua morte, o reino foi dividido em duas partes - Reino do Norte e Reino do Sul. Com o passar do tempo, ambos os reinos rebelaram-se contra Deus, e por causa disso Deus os levou para o exílio. Em 722 a.C., Israel foi conquistado pelos Assírios. Em 586 a.C., Judá caiu diante da Babilônia. Contudo, em 539 a.C., cumprindo sua promessa, Deus restaurou o trono de Davi. E, do reino de Judá, a esperança messiânica se cumpriu em Jesus (Lc.1:32,33). Essas narrativas mostram que os planos do Senhor não podem ser frustrados (Jó 42:2).

II. OS LIVROS POÉTICOS (E DE SABEDORIA) DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Os livros sapienciais e poéticos

Como já foi dito na introdução desta Aula, os atuais estudiosos da Bíblia Sagrada dividem os livros do Antigo Testamento em: livros da lei, livros históricos, livros poéticos e livros proféticos. Segundo o pr. Caramuru Afonso, o grupo dos livros poéticos são chamados assim porque são "poesias", ou seja, escritos que têm como ponto-de-vista o mundo interior do autor. Ora, na mente do escritor, basicamente temos dois tipos de faculdades: a sensibilidade e o entendimento. Desta forma, os "livros poéticos" traduzem tanto ensinamentos (resultado do entendimento, da reflexão), como sentimentos (resultado da sensibilidade, das emoções e sensações). Não é de se admirar, portanto, que, no grupo dos livros poéticos, tenhamos tantos livros de ensinamentos (os chamados "livros de sabedoria" ou "livros sapienciais”) como livros de louvores e cânticos.

Os "livros poéticos" são cinco, a saber: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Destes, três são sapienciais - Jó, Provérbios e Eclesiastes; e dois são livros de louvores e cânticos - Salmos e Cantares de Salomão. Entre os hebreus, todos eles estão classificados entre os "Ketuvim" (outros escritos), que constitui na última parte do cânon judaico, que se inicia, precisamente, com os Salmos. Jesus fez menção a esta parte do cânon judaico: “A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc.24:44).

2. Eclesiastes, Provérbios e Jó

- Eclesiastes. “Eklesiastes”, significa "orador de uma assembleia convocada"; deriva do termo “eklêsia”, que é a palavra do Novo Testamento para "igreja". Aparentemente, Salomão, já perto do fim de uma vida desperdiçada em busca das coisas deste mundo, foi levado ao arrependimento pela repreensão do Senhor (1Rs.11:9-13). Muito provavelmente, foi nesta ocasião que ele escreveu, sob a inspiração do Espírito Santo, a respeito da futilidade de suas buscas materialistas e seus esforços para encontrar paz alegria nas coisas temporais. A perspectiva de Salomão na época em que ele escreveu é a chave para entender o livro de Eclesiastes de modo apropriado, e para explicar o seu pessimismo geral. Salomão escreve do mesmo ponto de vista em que tinha vivido a maior parte da sua vida, a de alguém "debaixo do sol" (Ec.1:3,30).

A aplicação deste livro à vida cristã é vista pelo fato de que Salomão está advertindo aqueles fiéis que tinham sido atraídos pelos valores, riquezas e filosofias deste mundo a retornarem de seus caminhos esbanjadores. Os que não são crentes são advertidos pelo próprio exemplo de Salomão, de que a vida, sem Cristo, na melhor das hipóteses, é apenas vaidade. No final do livro Salomão dá o célebre conselho: “Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec.12:14).

- Provérbios. Segundo Hernandes Dias Lopes, este Livro é um manual de sabedoria para a vida. Sabedoria divina, e não sabedoria deste século. Sabedoria do alto, e não sabedoria da terra. Sabedoria que nos toma pela mão e nos conduz em segurança por caminhos aplanado de sanidade e santidade, justiça e misericórdia, fidelidade e amor. Provérbios abrange todas as áreas da vida. Trata da vida pessoal e familiar. Aborda o trabalho e o lazer. Enfatiza o relacionamento com Deus e com as pessoas. Destaca a necessidade de sermos justos e também misericordiosos. Estabelece a necessidade de sermos criteriosos com as ações e as motivações, com as palavras e os pensamentos.

- Jó. O livro de Jó é um belo exemplo de poesia hebraica, ainda que, na verdade, nem todo o livro tenha forma poética. O prólogo (Jó 1; 2) e o epílogo (Jó 42:7-16) estão escritos em prosa. O drama do sofrimento de Jó, o estilo majestoso e a natureza das discussões ajudaram a tornar o livro de Jó universalmente aceito como uma obra-prima literária. O propósito do livro é mostrar a sabedoria insondável da providência e benevolência de Deus, até mesmo nas provações trazidas aos seus filhos. Ele também explica por que o Senhor permite que as pessoas justas sofram: para expor a sua fragilidade e o seu caráter pecaminoso, para fortalecer a sua fé, e para purificá-las. A perspectiva espiritual do relato e o fato de que o Eterno exerce controle total sobre Satanás incentivam a confiança completa em Deus.

3. Salmos e Cantares de Salomão

- Salmos. O livro de Salmos é uma coletânea das obras de, pelo menos, seis autores. Os títulos dos salmos creditam a Davi a autoria de setenta e três salmos, e dois outros são atribuídos a ele nas páginas do Novo Testamento (Salmo 2, cf. At.4:25; Salmo 95, cf. Hb.4:7). Asafe foi o autor de doze salmos (Salmos 50; 7 a 83), ou, pelo menos, é o responsável pela preservação deles. Os filhos de Cora escreveram onze (Salmos 42; 44 a 49; 84; 85; 87; 88); Salomão escreveu dois (Salmos 72 e 127); o salmo 89 é atribuído a Etã; Moisés é o autor do salmo 90 (e possivelmente do salmo 91).

Os salmos transmitem poderosamente os sentimentos que são comuns aos crentes de todas as eras. Eles são intimamente pessoais, pelo fato que exploram todo o campo das emoções humanas: do profundo desespero ao prazer extasiado; de um desejo por vingança a um espírito de humildade e perdão; de uma súplica fervorosa a Deus, pedindo proteção, ao louvor jubiloso pela sua libertação. O princípio geral que pode ser visto em todos os salmos é o de que os autores têm uma confiança serena na orientação e na provisão de Deus.

Myer Pearlman expressa assim acerca do Livro de Salmos:

O livro dos Salmos é uma coletânea de poesia hebraica inspirada pelo Espírito Santo; descreve a adoração e as experiências espirituais do povo de Deus no Antigo Testamento. É a parte mais íntima e pessoal deste testamento, pois nos mostra como era o coração dos fiéis naquele tempo, e a sua comunhão com Deus.

Nos livros históricos da Bíblia, Deus fala acerca do homem; nos livros proféticos, Deus fala ao homem, e nos Salmos, o homem fala a Deus. A alma do crente pode ser comparada a um órgão cujo executor é Deus. Nos Salmos, percebe-se como Deus toca todas as emoções da alma piedosa, produzindo cânticos de louvor, confissão, adoração, ações de graças, esperança e instrução. Até hoje, não foi achada linguagem melhor para que nós nos expressemos diante de Deus. As palavras dos Salmos são a linguagem da alma” (PEARLMAN, Myer. Salmos: adorando a Deus com os filhos de Israel. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p.5).

- Cantares de Salomão. Cantares de Salomão é parte de uma coletânea de livros do Antigo Testamento conhecida como os "Megilloth" (pergaminhos). Os outros livros incluídos neste grupo são Rute, Ester, Eclesiastes e Lamentações. Cantares de Salomão é importante na tradição judaica porque partes dele eram entoadas na Festa anual da Páscoa. Mas, este Livro tem sido o livro mais mal interpretado de todas as Escrituras. Talvez isto seja pelo fato de que é o único livro da Bíblia em que o enredo principal é sobre o "amor humano".

- Alguns interpretam o livro como um retrato literal e histórico do amor humano e do casamento puro. Eles sugerem que nunca se teve em mente um significado figurado ou alegórico. A este grupo pertencem os que dizem que Salomão estava apenas escrevendo um livro sobre o amor profano e cânticos de casamento que têm pouco ou nenhum valor espiritual.

- Outra interpretação do livro é a de que o seu significado é alegórico, e que tudo o que ele diz é figurado. Os que defendem esta teoria dizem que Salomão escreveu sob a inspiração do Espírito Santo, para mostrar o amor do Senhor por Israel e o amor de Cristo pela igreja e por cada crente. Como "esposa" de Cristo, os crentes devem retribuir este amor como obrigados por votos de casamento. A interpretação típica reconhece o cenário histórico, mas crê que os personagens e os relacionamentos são tipos de Cristo e da igreja.

- Alguns sugerem que Cantares de Salomão falam apenas de Salomão e a mulher sulamita, uma interpretação raramente respaldada. Em contraste, muitos acreditam que há três pessoas envolvidas na narrativa: Salomão, a sulamita e o pastor amante (Ct.1:7; 4:7-15). A perspectiva histórica é importante pelo fato de que Salomão e a sulamita estão descrevendo as ramificações do amor puro, ao passo que o pastor está tentando desviar o coração da mulher de Salomão. A ênfase do pastor é mostrar que a mulher foi tirada de sua pátria para o palácio do rei Salomão, como sua esposa, mas ela preferiria estar em casa com o pastor, perto de tudo o que é precioso para ela. O aspecto típico dos personagens diz respeito ao relacionamento de Deus com o seu povo. Salomão representa Deus e Cristo, e a mulher sulamita (como a esposa) representa o seu povo escolhido (Is.54:5,6; Jr.2:2; Ef.5:23-25). Finalmente, o pastor e amante é um retrato do mundo e suas ciladas, que buscam destruir o elo formado entre Deus e o seu povo.

- Segundo o pr. Douglas, o livro de Cantares ilustra o compromisso, a intimidade e o amor que deve existir no casamento. Refere-se ao plano original de Deus acerca do relacionamento conjugal. O versículo-chave sintetiza o ideal da fidelidade entre o marido e a sua mulher: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu” (Ct.6:3).

III. UMA MENSAGEM AO CORAÇÃO

1. Uma mensagem de soberania

Nas histórias do povo de Deus da Antiga Aliança sobressaem a soberania de Deus; esta soberania é a garantia de que as promessas de Deus jamais falham, e isto é importantíssimo para o fortalecimento de nossa fé. Ao longo da história da humanidade, houve tentativas humanas e diabólicas para impedir os planos de Deus, mas todas elas foram frustradas, haja vista que a vontade de Deus é soberana e nada, absolutamente nada, pode mudar o rumo daquilo que previamente foi estabelecido por Deus para acontecer. Satanás usou todas os seus ardis para que as promessas divinas não fossem cumpridas, inclusive a promessa da encarnação de Cristo, prometida por Deus logo após a queda do homem (Gn.3:15). Satanás foi vencido e Deus cumpriu a sua Promessa, formando um novo povo, a Igreja, através da morte expiatória de Cristo na cruz do Calvário.

Mas, para que o Filho de Deus, o Salvador do mundo, fosse encarnado Deus prometeu escolher um povo dentre todos os povos; esse povo seria Israel, oriundo das entranhas de Abraão. O povo de Israel foi formado, mas logo que herdou a Terra Prometida se desviou do Senhor seu Deus. Na sua obstinação em desobedecer aos ditames de Deus, Israel sofreu progressivas sanções da parte do Senhor, pois Deus corrige a quem ama e castiga a quem quer bem (Hb.12:5-11), numa escalada já prevista na lei de Moisés (Dt.28:15-68), escalada esta que foi rigorosamente cumprida por Deus que chegou a tirar o povo da própria Terra Prometida para Babilônia (2Cr.36:15-21), sem falar na integral destruição das dez tribos do Norte (cf. 2Rs.17:1-18). No entanto, apesar de todos os seus pecados, em Israel sempre houve um remanescente fiel, ou seja, pessoas que, ainda que anônimas e despidas de poder político, social ou econômico, serviam a Deus com sinceridade, obedecendo à Sua Palavra. Em determinado tempo, Deus resgatou da Babilônia o remanescente de Judá conforme a promessa feita a Davi (Ed.9:13). Deus conservou a nação de Judá e assim preparou o caminho para a vinda do Messias prometido (Atos 13:17-23). Assim sendo, nosso coração deve se aquietar, porque Deus é soberano, Ele age na história e nada acontece fora da sua vontade (Mt.10:29,30). Glórias a Deus!

2. Uma mensagem de sabedoria

Sabedoria, segundo a Bíblia, é a capacidade para fazer boas escolhas e distinguir o que é bom do que é ruim. De acordo com a Bíblia, a verdadeira sabedoria só pode ser alcançada através do Espírito Santo e de uma vida dedicada a Deus. A sabedoria que vem de Deus vale muito mais que a sabedoria do mundo. Segundo a bíblia, o sábio é aquele que conhece e teme a Deus. Não adiantaria termos todo conhecimento do mundo e perdermos a salvação de nossas almas por não caminhar com aquele que criou todas as coisas.

Salomão, na sua cosmovisão, falando do valor da sabedoria, disse: “Porque melhor é a Sabedoria do que joias e, de tudo o que se deseja, nada se pode comparar com ela” (Pv.8:11). O ser humano corre sofregamente atrás de prata, ouro, joias e riquezas. Investe seu tempo, usa sua energia, devota sua inteligência e emprega seus talentos para amealhar riquezas. Muitos chegam a alcançar sucesso nessa empreitada, porém deixam para trás os destroços de sua busca insaciável. Há aqueles que destroem o casamento e a família para atingirem o topo da pirâmide social. Acumulam bens, mas perdem a família. Ajuntam tesouros, mas perdem a alma. A Sabedoria divina nos adverte: a Sabedoria é melhor do que joias; e nada neste mundo, nem as riquezas nem os prazeres, podem ser comparado à sabedoria. O néscio ajunta tesouros julgando que essa riqueza lhe dará felicidade e segurança, porém, esses tesouros acabam se transformando no combustível de sua própria destruição. Quando alguém busca conhecimento e sabedoria em vez de correr atrás de bens materiais, encontra segurança e felicidade.

Infelizmente, hoje, o mundo tem muito conhecimento, porém, pouca sabedoria. Somos considerados a sociedade do conhecimento; avançamos em ciência, tecnologia e comunicação; temos satélites e a internet, e sabemos que muito mais novidade vem por aí. Mas, o mesmo conhecimento que nos trouxe conquistas e conforto, trouxe-nos guerras e morte. Tanto não alcançamos felicidade pelo livre e pleno exercício da razão, como multiplicamos alternativas emocionais, hedonistas, utilitárias e egocêntricas para a vida comum. Distanciamo-nos uns dos outros; estranhamo-nos; isolamo-nos. Nossos índices de drogadição, alcoolismo, acidentes de trânsito, conflitos e dissoluções familiares aumentaram drasticamente.

Diante desse quadro, eis uma conclusão: temos muito conhecimento, mas pouca sabedoria. Conhecimento é domínio da informação que se refere ao objeto de interesse; sabedoria é a capacidade de utilizar o conhecimento em prol da vida e dos relacionamentos. O sábio não é, necessariamente, aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente para as ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Assim, um morador da periferia, um profissional artesão, um administrador de negócio próprio sem formação acadêmico, uma dona de casa ou um jovem que trabalha no campo podem ser mais sábios que um doutor ou um professor universitário. Com certeza, nossa geração é a geração do conhecimento, mas carece de uma sabedoria que a ajude a encontrar veredas de vida e paz.

Deus é a fonte da sabedoria (Pv.2:6), e o propósito da sabedoria é agradar a Deus (Pv.3:5). Desse modo, segundo o pr. Douglas, todo o conselho prático está subordinado à sabedoria divina. Dentre eles, citamos: andar retamente (Pv.2:7); fugir da luxúria (Pv.2:16); não ser preguiçoso (Pv.6:6); manter boa reputação (Pv.22:1); tomar cuidado no falar (Ec.5:2); não confiar no dinheiro (Ec.5:10); viver com alegria (Ec.9:7); remir o tempo (Ec.12:1); manter a integridade (Jó 1:22); aceitar a repreensão (Jó 5:17); confiar no Senhor (Jó 19:25); e desfrutar do verdadeiro amor (Ct.8:7). No entanto, essas ações não devem ser observadas de forma legalista, elas devem ser o resultado do toque divino no coração humano (Pv.4.:3).

3. Uma mensagem de adoração

De acordo com a Bíblia, a adoração está associada com a ideia de culto, reverência, veneração, por aquilo que Deus é (Santo, Justo, Amoroso, Soberano, Misericordioso etc.), ou seja, independente do que Deus faz, fez ou fará, nós devemos adorá-lo, pois Ele é Deus. É dever de cada criatura inteligente adorar a Deus. Os anjos O adoram (Ne.9:6); os Seus santos O adoram; e todos os seres são chamados a dar glória a Deus e adorá-Lo (Salmos 148), e dentro em breve tudo que há sobre a terra O adorará (Sf.2:11; Zc.14:16; Sl.86:9).

Um dos livros poéticos que mais expressam mensagens de adoração é o Livro de Salmos. Todos os livros da Bíblia aprofundam a compreensão de nosso relacionamento com Deus, mas os Salmos, incomparavelmente, enriquecem a experiência desse relacionamento; eles possuem a peculiaridade de expressar as mais profundas emoções do coração humano, tais como: medo, angústia e tristeza (Sl.116:3); força, segurança e alegria (Sl.118:14).

Sem dúvida o Livro de Salmos é o mais subjetivo dos livros da Bíblia; ele expressa realidades intimas vivenciadas por aqueles que amam a Deus; ele tem formado a oração e a adoração dos santos de todas as épocas. Crentes têm aplicado individualmente os Salmos para conforto e inspiração, e encontram neles modelos para oração e adoração pessoal. Toda emoção humana tem seu eco no livro de Salmos, e a maravilhosa mensagem deles é que Deus se importa não somente com as circunstâncias externas de nossas vidas, mas com cada reação à variadas experencias da vida.

Nas palavras do pr. Douglas, nos Salmos, destacam-se, entre outros retratos da vida espiritual: o coração que confia (Sl.3:3); o coração contrito (Sl.6:1); o coração que glorifica (Sl.8:1), o coração agradecido (Sl.30:1), o coração arrependido (Sl.51:1). O salmista, a fim de manter a verdadeira adoração em todas as circunstâncias da vida, descreveu a conduta por ele adotada: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl.119:11).

CONCLUSÃO

Os livros históricos são narrativas da história de Israel desde a morte de Moisés até a salvação do povo judeu no reinado de Assuero, quando quase foram totalmente destruídos; trata-se do mais pormenorizado e completo relato histórico de um povo da Antiguidade, que nos prova quanto Deus vela pelo Seu povo e para o cumprimento de Suas promessas. Os livros poéticos e sapienciais revelam a sabedoria divina, que deve ser aplicada em nosso viver diário; suas mensagens alegram o nosso coração, servem de bom remédio, e conservam saudável o nosso espírito, alma e corpo (Pv.17:22). Enfim, as histórias e as poesias da Bíblia falam ao coração do ser humano.

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Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC

Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Estudo Pentecostal.

Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

William Macdonald. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento).

Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

Norman L Geisler. Introdução geral à Bíblia. Vida Nova.

Pr. Douglas Baptista. A Supremacia das Escrituras – A inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. CPAD.

Pr. Caramuru Afonso Francisco. Os Livros históricos e poéticos. PortalEBD_2003.

 

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