27 de outubro de 2025

A Natureza Imaterial do ser Humano

 A Natureza Imaterial do ser Humano

TEXTO ÁUREO

“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10.28).

ENTENDA O TEXTO ÁUREO

O versículo 28 está inserido no Discurso de Missão (Mateus 10), no qual Jesus instrui e comissiona os Doze Apóstolos para a sua primeira missão. O capítulo trata da autoridade, das instruções, mas também das perseguições e dos custos do discipulado.

Nos versículos anteriores (Mt 10.16-27): Jesus alerta severamente sobre a hostilidade que enfrentarão: serão enviados como ovelhas entre lobos, serão levados a tribunais, a família se voltará contra eles, e serão odiados por todos por causa do nome de Jesus.

Ele os encoraja a não se calarem e a proclamarem publicamente a mensagem que lhes foi dada em particular. Diante de tais ameaças, o tema dominante é a coragem e o temor correto (Mt 10.26, 28, 31).

O temor dos discípulos deve ser redirecionado: do medo dos perseguidores para o temor de Deus. O versículo serve como um poderoso encorajamento para que os discípulos priorizem a fidelidade a Cristo acima da preservação da vida física, assegurando-lhes que a pior coisa que um inimigo pode fazer é de importância limitada em comparação com o poder de Deus sobre o destino eterno. Corpo: Refere-se à parte física do ser humano, a vida terrena e mortal.

O poder dos perseguidores se limita a esta dimensão. "Matar o corpo" significa a morte física. Alma (ψυχή - psychē): O termo grego psychē é complexo. Neste contexto, e frequentemente nas Escrituras, pode significar: A vida terrena/biológica (como em "perder a sua vida" Mt 16.25).

O crente é chamado a arriscar o corpo físico em obediência, pois sua vida verdadeira e eterna está segura nas mãos de Deus, que é o único Juiz final.

VERDADE PRÁTICA

Cuidar da alma é uma atitude fundamental para uma vida cristã estável e uma eternidade de alegria e paz.

ENTENDA A VERDADE PRÁTICA

O que é, de fato, a prioridade máxima em nossa jornada de fé? Não se engane, a estabilidade de toda a sua vida cristã e a promessa de uma eternidade plena dependem de uma única atitude: o cuidado intencional com a sua alma. Estamos falando da sua essência mais profunda, o seu “eu” inegociável, que engloba a mente, a vontade e as emoções.

A negligência desta porção interior transforma qualquer vida de fé em uma casa construída sobre a areia. O apóstolo Paulo, em sua admoestação em Filipenses 2.12, nos convida a "desenvolver a vossa salvação com temor e tremor". Essa obra de "desenvolvimento" é o manejo diário e atento da psychē. Como exegetas, reconhecemos que a salvação é instantânea no espírito, mas o processo de santificação ocorre na alma, a arena onde a Palavra de Deus deve forjar uma nova mentalidade. É na alma que resistimos às inclinações da carne e nos alinhamos à mente de Cristo.

Negligenciar a alma é paralisar o processo santificador de Deus em você. Jesus nos alertou: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mateus 16.26). A palavra traduzida como "perder" é zēmioō, que significa "sofrer perda", "danificar" ou "ser penalizado". Jesus não estava apenas falando sobre o juízo final, mas sobre a perda de valor e significado que ocorre aqui e agora. Por isso, revigore-se na Palavra, purifique a sua mente e não negligencie o tesouro que é a sua alma. É um ato de amor e de sabedoria teológica que reverte em uma vida abundante aqui e uma eternidade de paz com Cristo.

LEITURA BÍBLICA = Gênesis 1.27,28; 2.15-17; Mateus 10.28.

Gênesis 1.27,28

27. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.

Bíblia de Estudo MacArthur: Enfatiza a unicidade do homem como portador da imagem de Deus. Essa imagem não é física, mas sim intelectual, moral e espiritual, distinguindo-o de toda a criação. A criação do homem e da mulher é uma demonstração da pluralidade de Deus (implícita no "façamos" do v. 26). O homem (no sentido de humanidade) é o coroamento da criação.

Bíblia de Estudo Pentecostal: Destaca que a criação do ser humano é um ato singular de Deus.

A "imagem de Deus" (tselem) e a "semelhança" (demuth) conferem ao homem a capacidade de ter comunhão com o Criador e de exercer domínio. A diferença de sexo (macho e fêmea) é essencial, pois ambos são necessários para a plena manifestação da imagem de Deus e para o cumprimento da ordem de procriação.

Bíblia de Estudo Plenitude: Ressalta que o homem é um agente moral, feito para refletir a glória do Criador. A imago Dei (imagem de Deus) é a razão pela qual o homem tem valor intrínseco. Frisa a igualdade fundamental entre homem e mulher perante Deus, pois ambos, igualmente, foram criados à sua imagem.

28. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.

Bíblia de Estudo MacArthur: Define este versículo como o "Mandato Cultural" ou a "Grande Comissão da Criação". O homem recebeu um propósito duplo: procriação (frutificar, multiplicar, encher a terra) e domínio (sujeitar e dominar). O domínio (radah e kabash no hebraico) significa realeza e responsabilidade, o homem agindo como vice-regente de Deus sobre a Terra.

Bíblia de Estudo Pentecostal: Sublinha que o versículo é uma bênção de Deus com um comando. O verbo "sujeitai-a" implica que o domínio não seria exercido sem esforço, exigindo trabalho e gerenciamento responsável da criação. A capacidade de procriação é uma bênção que assegura a continuidade da raça humana e o cumprimento do mandato de povoar a terra.

Bíblia de Estudo Plenitude: Enfatiza que o domínio concedido não é tirania, mas sim uma mordomia sábia e cuidadosa. A ordem de "encher a terra" indica que a reprodução é parte do plano divino. O mandato de domínio estende a imagem de Deus à esfera da autoridade, fazendo do homem o responsável por administrar a Terra para a glória de Deus.

Genesis 2.15-17

15. E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.

Bíblia de Estudo MacArthur: Destaca que o homem foi criado para o trabalho. Os verbos "lavrar" (servir, trabalhar) e "guardar" (vigiar, proteger) estabelecem que o Éden, embora perfeito, exigia esforço e responsabilidade.

O trabalho não é uma maldição, mas uma vocação dada antes da Queda, sendo uma fonte de dignidade e propósito.

Bíblia de Estudo Pentecostal: Vê o homem como um administrador do jardim, reafirmando o domínio concedido em 1.28, mas detalhando seu modo de execução. O trabalho de "lavrar e guardar" era prazeroso e aponta para a santidade do trabalho como parte do serviço a Deus.

Bíblia de Estudo Plenitude: Enfatiza o propósito de Deus para o homem e o jardim. "Guardar" o jardim sugere que ele precisava de proteção, talvez contra a invasão de forças externas (como Satanás).

O versículo mostra que o prazer e a responsabilidade caminhavam juntos na condição original da humanidade.

16. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente,

Bíblia de Estudo MacArthur: Destaca a generosidade de Deus e a vasta liberdade dada ao homem. O termo "livremente" sublinha que a provisão de Deus era mais do que suficiente. A ordem de Deus estabelece a sua autoridade e, implicitamente, a responsabilidade de Adão de responder a ela.

Bíblia de Estudo Pentecostal: Enfatiza a infinita provisão de Deus. Antes de dar a restrição, Deus estabeleceu a liberdade e a abundância. A única restrição serviria para testar a obediência humana e sua disposição de se submeter à vontade do Criador.

Bíblia de Estudo Plenitude: Ressalta que o homem vivia sob uma aliança de obras (ou Adâmica) que exigia obediência perfeita. A abundância permitida serve de contraste para a única restrição, realçando a justiça de Deus em sua exigência.

17. mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

Bíblia de Estudo MacArthur: Interpreta a "morte" como sendo, primeiramente, morte espiritual (separação de Deus), seguida pela perda da imortalidade física, culminando na morte eterna. O propósito da árvore era ser o marco da soberania de Deus: somente Ele define o que é bem e mal. Comer dela seria um ato de usurpação, de buscar autonomia moral de Deus.

 

Bíblia de Estudo Pentecostal: Explica que a árvore era um teste de obediência. A "ciência do bem e do mal" não significava ignorância moral antes do ato, mas sim a capacidade de decidir o padrão moral de forma autônoma (independentemente de Deus). O ato resultaria em morte tripla: espiritual, física e eterna (a separação final).

Bíblia de Estudo Plenitude: Destaca que esta é a primeira proibição na Bíblia, e a punição por desobedecê-la é a morte. "Certamente morrerás" é uma ênfase hebraica, significando "morrendo, morrerás" (morte imediata da imortalidade e da comunhão com Deus). A punição divina é sempre justa e inevitável.

Mateus 10:28

28. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.

Bíblia de Estudo MacArthur: É o versículo-chave sobre o Temor a Deus. Jesus contrasta o poder limitado do homem (que só pode matar o corpo físico) com o poder ilimitado de Deus (que controla o destino eterno da alma, - psychē). O "inferno" é o Geenna, o local do julgamento eterno. A alma e o corpo serão ressuscitados para serem lançados no Geenna, um tormento consciente e eterno.

Bíblia de Estudo Pentecostal: Enfatiza a imortalidade da alma e a sua capacidade de sobreviver à morte física. O propósito de Jesus é encorajar os discípulos a serem ousados na evangelização, pois a perseguição humana é temporária. O medo correto é o temor de Deus, que tem poder sobre o destino eterno. O versículo é um alerta contra o antropocentrismo (o temor ao homem) em favor da teocentrismo (o temor a Deus).

Bíblia de Estudo Plenitude: Aponta para a supremacia do poder de Deus. O medo dos homens deve ser substituído pelo temor reverente de Deus, pois somente Ele pode infligir o castigo mais terrível: a destruição no inferno. Isso sublinha a grande responsabilidade que o ser humano tem diante de seu Criador.

INTRODUÇÃO

Na lição anterior, fizemos uma parada crucial. Olhamos para a complexa estrutura da criação de Deus e definimos a alma, a psychē, em sua posição vital na constituição tríplice do ser humano: corpo, alma e espírito. Vimos que a alma não é meramente um apêndice.

Ela é, conforme o Pr. Silas Queiroz, a porção imaterial que, juntamente com o espírito, nos torna uma pessoa completa, carregando a sublime imagem de Deus (imago Dei)

Esta descoberta, por si só, já é fascinante, mas ela é apenas o ponto de partida para o nosso mergulho. Agora, chegou a hora de sermos como os bereanos (Atos 17.11): cavar mais fundo na Palavra.

Deixaremos o conceito preliminar para trás e buscaremos o cerne da questão: qual é a natureza e a distinção funcional da alma? O que a torna diferente do espírito, o pneuma, se ambas são imateriais? É aqui que a exegese bíblica nos presenteia com tesouros que transformam a maneira como vivemos a fé.

A Bíblia de Estudo Pentecostal nos lembra que a alma é o assento da vida e do eu consciente do homem.

Se o espírito é a nossa capacidade de ter comunhão com o Criador, a alma é a sede de nossos atributos da personalidade: o intelecto, a emoção e a vontade (ou volição). Pense nela como o processador central de sua identidade. É a sua mente (noos), o seu coração (no sentido bíblico de centro da vida moral e emocional, kardia), e a sua capacidade de escolher.

O Comentário Bíblico Champlin descreve a alma como o centro dos afetos e do pensamento racional.

Para o seu aprofundamento teológico, a distinção é funcional e não ontológica (de essência).

O autor pentecostal Robert P. Menzies explica que o Espírito Santo atua no espírito humano para nos dar vida com Deus, mas o processo de santificação, de transformação do caráter, ocorre primordialmente na alma.

É por isso que Paulo nos exorta a renovar a nossa mente (Romanos 12.2), pois o pecado se manifesta através dos pensamentos e desejos da alma não controlada.

A Bíblia de Estudo MacArthur é enfática: o conflito espiritual é uma guerra pela mente. Isso nos leva ao ponto de aplicação prática.

A sua alma é o local do seu relacionamento horizontal (com o próximo) e o reflexo do seu relacionamento vertical (com Deus). Se a nossa alma está enferma, nossos relacionamentos são tóxicos; se está em paz com Deus, refletimos a imagem de Cristo em serviço e amor.

Os atributos da alma nos capacitam a amar a Deus com todo o nosso entendimento, a sentir compaixão e a tomar a decisão diária de segui-Lo.

Anthony D. Palma e outros teólogos continuístas ressaltam que os dons espirituais fluem do espírito, mas a forma como os utilizamos, em amor, sabedoria e ordem, é filtrada pelo domínio da alma.

Portanto, o desafio desta lição é imediato: não basta saber que você tem uma alma; é preciso conhecer os atributos da sua alma para governá-la. Entender a alma é entender o campo de batalha da sua vontade e a fonte das suas motivações.

Ao nos aprofundarmos na distinção e nos atributos da alma, como faremos nesta lição, descobriremos a chave para a verdadeira estabilidade, alegria e eficácia em nosso chamado para sermos luzeiros do evangelho. Vamos aprofundar o conteúdo desta aula? Venha comigo!

I. ATRIBUTOS DA ALMA

1. De volta ao Gênesis. Precisamos entender o que torna o ser humano a obra-prima da criação. A resposta está no sopro divino de Gênesis 2.7, que transformou o pó da terra em uma "alma vivente". Essa "alma vivente" é o que nos diferencia radicalmente dos animais. Enquanto a criação animal possui uma nephesh que lhe confere vida física e instinto, a nossa psychē é única: ela carrega o DNA da divindade, a imago Dei, manifesta em atributos que nos qualificam para a comunhão com Deus e para o governo sobre a Terra.

O principal atributo da alma é a Autoconsciência e a Autodeterminação, elementos essenciais para que o homem pudesse ser o vice-regente de Deus. O Criador nos fez seus representantes, conferindo-nos um poder de governo que o Salmo 8.3-6 celebra.

Em Gênesis 1.28, o mandato é claro: "sujeitai-a e dominai" (kabash e radah no hebraico), verbos que implicam responsabilidade régia.

A Bíblia de Estudo MacArthur destaca que essa capacidade de domínio nasce da parte imaterial do homem: a alma é a sede da razão (noos) e da vontade (boulē), tornando-nos seres pessoais e morais. Mas como a alma manifestou sua capacidade antes da Queda? De forma prática e límpida, em três áreas no Jardim: Administração e Cuidado (Trabalho): A ordem de "lavrar e guardar" (Gênesis 2.15) o Éden demonstra a aptidão intelectual e volitiva da alma para o trabalho.

O trabalho, antes de ser uma labuta, era uma expressão da razão e do cuidado da alma em resposta à soberania de Deus. Discernimento e Escolha Moral (Volição): A árvore da ciência do bem e do mal (Gênesis 2.16,17) não era um teste para o corpo, mas para a vontade da alma.

A capacidade de discernir o certo do errado e de fazer escolhas autônomas, mesmo com uma restrição única, é o testemunho mais forte do caráter consciente da alma.

A Bíblia de Estudo Plenitude chama essa capacidade de autonomia moral, essencial para o conceito de responsabilidade.

Compreensão e Classificação (Intelecto): Adão ter nomeado os animais (Gênesis 2.19) é mais que um registro histórico; é a demonstração clara de uma mente superior. A nomeação exige observação, classificação e abstração, evidenciando o poder cognitivo e racional da alma. Não foi um ato instintivo, mas um exercício da inteligência dada por Deus. Além da Razão e da Vontade, a alma é a sede das Emoções e dos Afetos. O próprio Deus, ao observar o isolamento de Adão, demonstra afeto: "Não é bom que o homem esteja só" (Gênesis 2.18).

Quando Eva é apresentada, Adão irrompe em uma explosão de satisfação: "Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gênesis 2.23). Este é o registro da primeira manifestação de alegria e apego emocional da alma humana, que o pastor Antônio Gilberto classifica como a expressão mais pura do afeto conjugal.

O amor, a alegria, a satisfação e a profunda conexão são, portanto, atributos divinamente implantados na alma. Portanto, o desafio deste primeiro tópico e subtópico é este: se a sua alma possui estes atributos sublimes, criados para a glória de Deus, você está governando sua mente, suas emoções e sua vontade para cumprir o Mandato Cultural?

A batalha pela santificação, como enfatizam os autores pentecostais como Gordon D. Fee, é a batalha pela renovação da alma, para que seus atributos reflitam o caráter de Cristo.

2. Entre o espírito e o corpo. Entre o espírito e o corpo: Na seção anterior, estabelecemos que a alma é o tesouro da nossa identidade, o nosso distintivo pessoal. Mas onde exatamente essa alma reside e como ela opera no complexo sistema do ser humano tricótomo (corpo, alma e espírito)?

 A alma assume uma posição estratégica: ela é o ponto de articulação entre a parte mais elevada e a parte mais terrena da nossa constituição. A alma é a sede da personalidade porque nela residem seus três atributos fundamentais: a Emoção (os afetos, sentimentos e impulsos), a Razão (o intelecto, o raciocínio, o noos em grego e a Volição (a vontade, a capacidade de decisão). Estes são os elementos que definem o seu "eu".

O Pr. Silas Queiroz reforça: os impulsos e desejos que movem o ser humano em direção a Deus ou ao mundo nascem neste centro da alma. A alma funciona como o tradutor e mediador do nosso ser, estabelecendo dois fluxos vitais de comunicação.

       Comunicação Vertical (Deus): Para ter comunhão com o Ser Divino e receber as verdades do Espírito de Deus, a alma serve-se do nosso espírito humano. O nosso espírito, sendo a parte mais elevada e imortal, é o órgão da intuição e da consciência divina, mas é a alma (através do raciocínio e da vontade) que processa, compreende e decide obedecer à revelação espiritual.

Como ensina o Comentário Bíblico Pentecostal, é o espírito que se une ao Espírito de Deus, mas é a alma que vive a santificação prática.

       Comunicação Horizontal (Mundo): Para se comunicar e interagir com o mundo físico e com o próximo, a alma utiliza o corpo (soma) e seus órgãos sensoriais (visão, audição, tato, etc.). Se você decide amar (volição da alma), seu corpo age (abraça, ajuda); se você sente alegria (emoção da alma), seu corpo manifesta (sorri, gesticula). O corpo é o veículo de expressão da personalidade.

A Bíblia nos oferece um exemplo vívido dessa tríplice interação no cântico de Maria na casa de Isabel (Lucas 1.46,47). Maria proclama: "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador." A alegria e o louvor começam na esfera profunda, intuitiva e conectada a Deus, mas são externalizados, processados e verbalizados pela alma e, finalmente, expressos pelo corpo através do cântico e da voz.

O Comentário Bíblico Beacon interpreta esta passagem como a prova bíblica de que, embora intimamente ligadas, alma e espírito possuem funções distintas na adoração e na experiência com o Salvador.

Este subtópico traz uma lição prática poderosa: a saúde da sua alma é a chave para a clareza da sua comunicação. Você está permitindo que seu espírito, renovado em Cristo, guie sua alma (razão, emoção e vontade)?

O Espírito Santo trabalha através do seu espírito para purificar a sua alma, garantindo que sua interação com o mundo (soma) seja um testemunho fiel de Cristo.

3. A alma abatida. Se a alma é o centro da nossa emoção e razão, nada revela sua importância quanto a experiência do abatimento. O salmista nos permite entrar em seu diálogo íntimo, um testemunho cru da nossa fragilidade interior, ao perguntar: "Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus..." (Salmo 42.5).

Aqui está o deleite da exegese: a palavra hebraica para "alma" é nephesh, e para "abatida" é shachach, que significa literalmente "curvar-se, inclinar-se, prostrar-se".

O salmista está experimentando um peso tão grande na nephesh que sua personalidade inteira se dobra, se abate1. Esta não é uma tristeza superficial; é uma crise de comunhão (v. 4, 9) que afeta o centro de sua alegria e esperança. O contexto é de profunda aflição espiritual e "sede de Deus". Ele clama: "A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo..." (Salmo 42.2). A sede da nephesh é o anseio primordial de toda a personalidade humana pela Fonte da Vida.

O Comentário Bíblico Pentecostal (Novo Testamento) aponta que essa sede desesperadora ilustra como a alma, mesmo em crise, busca desesperadamente a presença divina para ser saciada, pois foi criada para Ele.

A ausência de Deus desorganiza a estrutura emocional e racional da alma.

O Salmo 84.2 ecoa este mesmo anseio: a alma suspira pelo tabernáculo do Senhor. Isso nos ensina que a função primária da alma é a adoração e a busca pela presença divina. Quando o acesso à comunhão parece interrompido, a alma (emoção e razão) entra em colapso.

O pastor Antônio Gilberto ressalta que o desalento da alma é, frequentemente, o resultado de um desajuste entre o que a alma experimenta no mundo e o que o espírito anseia em Deus.

O aprofundamento continua no arrependimento de Davi (Salmo 51), onde ele ora pela restauração integral do seu ser após o pecado. Ele não apenas pede perdão, mas clama: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto" (Salmo 51.10).

 A tristeza de Davi (uma aflição da nephesh) é tão intensa que ele precisa de um novo espírito reto e da restituição da alegria da salvação (v. 12) para que sua alma se levante do abatimento.

A teologia de Douglas Oss e outros afirma que a alma só encontra estabilidade e alegria quando a obra do Espírito Santo no ruach humano é refletida em uma nephesh submissa e restaurada.

Portanto, o desafio deste subtópico é claro: se sua alma se sente "curvada" (shachach), o remédio não está no entretenimento ou nas coisas superficiais, mas na espera ativa em Deus e na busca pela renovação do seu espírito. Leve sua alma inquieta ao encontro do Deus Vivo. A alma só encontra sua verdadeira estabilidade quando se submete à direção do espírito regenerado.

II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

1. Distinção de substância.  As palavras de Jesus em Mateus 10.28 nos conduzem ao coração da antropologia bíblica: “Não temam os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; antes, temam aquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (NVI).

Em uma única frase, o Senhor revela a estrutura profunda do ser humano e define a linha divisória entre o visível e o invisível, o temporal e o eterno. É aqui que encontramos um fundamento sólido para compreender a alma como parte imaterial do ser humano, distinta, porém inseparável do corpo.

O texto grego usa o termo psychē (ψυχή) para “alma”, palavra que descreve a essência interior do homem, o centro da vida, dos afetos e da consciência. Já “corpo” é sōma (σῶμα), o organismo físico e perecível. Jesus, ao usar ambos, não apenas faz uma distinção conceitual, mas estabelece uma hierarquia ontológica: o corpo pode ser ferido ou morto por agentes humanos, mas a alma pertence exclusivamente ao domínio divino. A “psychē” transcende o poder humano; ela não pode ser aniquilada por nenhum processo natural, pois é sustentada pelo sopro de Deus (Gn 2.7).

O Pr Silas Queiroz observa que “a alma não é uma substância material ou resultado de funções biológicas, mas uma realidade espiritual que confere vida e identidade ao homem” (QUEIROZ, Corpo, Alma e Espírito, CPAD, 2014).

A alma é o “eu” consciente que pensa, sente e escolhe — aquilo que sobrevive à morte física e permanece diante do Criador.

A Bíblia usa os termos alma e espírito de modo intercambiável em alguns contextos, o que tem gerado debates teológicos ao longo da história.                        Em Eclesiastes 12.7 lemos: “O pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu”.

Tiago 2.26 reforça que “o corpo sem espírito está morto”.

E em Apocalipse 6.9, João vê “as almas dos que foram mortos por causa da Palavra de Deus”.

Esses textos apontam para a mesma realidade: a dimensão imaterial do homem, seja designada “alma” (psychē) ou “espírito” (pneuma), é o centro vital e consciente do ser, o elemento que subsiste mesmo após a morte.

A Bíblia de Estudo Pentecostal explica que “alma e espírito são distintas, mas inseparáveis no ser humano; a primeira é o assento da personalidade, o segundo é o elemento pelo qual o homem se relaciona com Deus” 1Ts 5.23.

Essa interação entre alma e espírito revela o cuidado de Deus em criar o homem como uma unidade complexa, dotada de materialidade e espiritualidade que se completam. A compreensão de que a alma é imortal deve gerar temor santo e profunda responsabilidade espiritual. Se o corpo é temporário e pode ser destruído, a alma permanece.

O que fazemos com ela hoje terá consequências eternas. Jesus não falou em teoria, Ele advertiu seus discípulos a temerem a Deus, não aos homens. O temor do Senhor nasce da consciência de que a alma pertence a Ele e voltará para prestar contas. Essa verdade também consola o crente fiel. A morte não é o fim, mas o começo da eternidade com Cristo.

Como afirma Gordon Fee, “a esperança cristã não se apoia na negação da morte, mas na certeza da ressurreição e da comunhão eterna com o Senhor”.

Assim, viver com essa consciência nos liberta do medo e nos chama à santidade. A alma é o santuário interior onde o Espírito Santo habita. Cuidar dela é dever sagrado. Uma vida negligente, presa às coisas visíveis, enfraquece o interior e adoece o espírito.

Mas quando a alma é alimentada pela Palavra e guiada pelo Espírito, o cristão experimenta plenitude, mesmo em meio à dor.

Craig Keener acrescenta que “a distinção entre corpo e alma, longe de promover dualismo, reforça a esperança de uma redenção completa: Deus salvará o homem inteiro”.

O corpo será transformado, e a alma, já redimida, encontrará plena comunhão com o Criador. Por isso, não invista apenas no que perece. Cuide da sua alma. Alimente-a com a verdade. Purifique-a com arrependimento e oração. Um dia, o corpo voltará ao pó, mas a alma seguirá viva — e será acolhida ou rejeitada diante do trono de Deus.

2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal. Quando Jesus declarou em Mateus 10.28 que Deus pode destruir tanto o corpo quanto a alma no inferno, Ele estava corrigindo não apenas uma visão religiosa equivocada, mas também toda forma de pensamento que reduz o ser humano à mera matéria. Suas palavras revelam que há uma dimensão espiritual e eterna na existência humana, uma realidade que o mundo materialista prefere ignorar.

A palavra usada por Jesus para “alma” é psychē (ψυχή), termo que descreve o centro da personalidade, da vontade e da consciência moral. Essa dimensão não é produto do corpo, mas procede do sopro de vida que Deus insuflou no homem (Gn 2.7). A alma é imaterial, invisível e, sobretudo, responsável diante do Criador. Ao tratar da destruição da alma no inferno, Cristo não fala de aniquilação, mas de condenação eterna, de separação consciente e definitiva de Deus.

A Bíblia de Estudo MacArthur destaca que “a alma é indestrutível e sobreviverá para desfrutar da presença de Deus ou sofrer separação eterna” Mt 10.28.

Essa verdade confronta ideologias antigas e modernas que negam o espiritual. Desde os filósofos materialistas da Antiguidade até o marxismo contemporâneo, há uma insistência em definir o homem como um ser puramente biológico, condicionado pelas forças econômicas ou sociais.

 O marxismo, por exemplo, rejeita a ideia de uma alma consciente e imortal, reduzindo o ser humano ao resultado das estruturas de produção. Nesse pensamento, o mal não está no coração humano, mas nas condições externas; a culpa é da sociedade, não do indivíduo. Assim, o homem deixa de ser pecador e passa a ser apenas vítima. Essa distorção atinge o âmago da fé cristã. Quando o pecado é deslocado da esfera pessoal para a estrutural, a necessidade de arrependimento e conversão desaparece.

No entanto, a Palavra de Deus é clara: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados” (At 3.19).

O termo grego para “arrependei-vos” é metanoeō (μετανοέω), que significa literalmente “mudar a mente”. O arrependimento não é social, mas pessoal; não é coletivo, mas individual. Cada alma precisará responder diante de Deus pelo que fez com o Evangelho de Cristo.

O Pr Silas Queiroz lembra que “a imaterialidade da alma implica responsabilidade moral e consciência eterna diante do Criador”.

Essa consciência é o que distingue o homem de todos os outros seres criados. Somos seres espirituais que existirão eternamente, e o destino dessa eternidade depende das decisões tomadas aqui e agora.

O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento ressalta que Jesus, ao ensinar sobre a alma e o corpo, “não apenas refuta o materialismo, mas reafirma a santidade da vida humana e a necessidade de salvação pessoal em Cristo”.

O homem não pode ser reduzido a um conjunto de reações químicas ou condicionamentos sociais. Ele é portador da imagem divina (imago Dei), e sua alma carrega a marca da eternidade. Toda ideologia que promete resolver os dilemas humanos por meio de sistemas políticos, econômicos ou sociais repete o mesmo erro. Nenhuma estrutura pode redimir o coração do homem. Somente Cristo é o Mediador capaz de reconciliar o ser humano com Deus (At 4.12).

O problema do mundo não é a economia, mas o pecado; não é o sistema, mas a alma não regenerada. Essa verdade precisa ecoar nas igrejas locais. Muitos crentes têm sido seduzidos por discursos sociológicos que soam compassivos, mas esvaziam o Evangelho de sua urgência espiritual.

É preciso lembrar: a salvação é pessoal. A alma que pecar, essa morrerá (Ez 18.4).

E a alma que crer em Cristo, viverá para sempre (Jo 17.3).

Por isso, cada um deve examinar sua própria vida. Você tem cuidado da sua alma? Ou tem se deixado moldar pelas filosofias que negam a eternidade? A vida passa, mas a alma permanece. Ela é o que você realmente é, e um dia estará diante de Deus. Cuide dela com temor e fé, porque dela depende seu destino eterno.

3. Materialismo e teologia. O materialismo não se limita ao campo político ou filosófico; ele invade também a teologia, distorcendo a missão da Igreja e a compreensão da própria fé cristã. Quando o homem começa a enxergar o mundo apenas por lentes econômicas ou ideológicas, acaba moldando sua visão de Deus de acordo com o sistema que o cerca. O resultado é uma espiritualidade sem transcendência, um evangelho sem cruz e uma igreja sem arrependimento. A Escritura afirma que “o homem vive não só de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4).

O verbo usado por Jesus, “viverá”, indica uma vida plena que não se reduz à existência física. O materialismo, contudo, reduz a fé à sobrevivência e transforma o Evangelho em mero instrumento de mudança social.

A consequência é grave: o homem deixa de ser visto como pecador carente de salvação e passa a ser tratado apenas como vítima das estruturas humanas. Historicamente, essa visão contaminou a teologia cristã em diferentes frentes.

No catolicismo, deu origem à Teologia da Libertação; no protestantismo, inspirou a Teologia da Missão Integral. Ambas, embora partam de preocupações legítimas com a justiça e o sofrimento humano, acabaram absorvendo princípios marxistas que colocam a luta de classes acima da redenção individual.

O marxismo, com seu fundamento no materialismo histórico, rejeita a transcendência e busca eliminar Deus do centro da história humana. Assim, o pecado deixa de ser rebelião contra Deus e passa a ser interpretado como desigualdade social.

Silas Queiroz observa com precisão que “toda teologia que desloca o foco da redenção do indivíduo para as estruturas sociais, inevitavelmente, enfraquece a consciência moral e apaga o sentido da eternidade”.

O Evangelho, porém, não começa no sistema, mas no coração. Jesus veio transformar o homem de dentro para fora. Ele não prometeu uma revolução de classes, mas a regeneração da alma.

O apóstolo Paulo advertiu Timóteo a conservar “a sã doutrina”, expressão que significa literalmente “ensino saudável” (1Tm 4.6; 2Tm 4.3).

A doutrina sadia não é apenas correta intelectualmente; ela produz vida espiritual, discernimento e santidade.

Por isso, toda teologia que nega o pecado pessoal e a necessidade de arrependimento é, nas palavras de Antônio Gilberto, “um ateísmo prático travestido de religiosidade”.

É preciso discernir os tempos. Algumas correntes teológicas modernas reinterpretam a Bíblia à luz de filosofias humanistas e relativistas, criando um evangelho que agrada às massas, mas desagrada ao Espírito Santo.

Craig Keener alerta que “quando o texto bíblico é subjugado à ideologia, a revelação deixa de transformar e passa a ser manipulada”.

O resultado é confusão espiritual e enfraquecimento da fé, exatamente o que Jesus denunciou em Lucas 11.17: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído”.

Nas igrejas locais, esse engano se manifesta de forma sutil. Quando o crente passa a buscar apenas soluções sociais, políticas ou psicológicas, esquece que o maior problema do homem é o pecado. A igreja não foi chamada para substituir o Estado, mas para proclamar o Reino. A missão da Igreja é integral, sim, mas parte da reconciliação com Deus, e não de ideologias humanas.

 Como lembra o Comentário Bíblico Beacon, “a salvação que não começa com arrependimento e fé em Cristo é mera reforma moral, incapaz de transformar o coração”.

Essa é a hora de a Igreja examinar a si mesma! Temos pregado um Cristo que salva da ira vindoura ou um Cristo que apenas melhora a sociedade? O Evangelho de Jesus continua sendo o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). E esse poder começa na alma, imaterial, eterna e responsável, que precisa nascer de novo para ver o Reino de Deus.

III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS

1. Edificação e saúde.  A alma humana é o campo onde se trava uma das batalhas mais intensas da vida cristã. É nela que repousam nossos afetos, pensamentos e decisões morais. Por isso, a saúde espiritual não é apenas uma questão de emoção ou de vontade, mas de comunhão constante com Deus. Jesus nos advertiu sobre o perigo de uma alma que acumula tesouros terrenos, mas ignora o valor do eterno (Lc 12.13–21). O cuidado da alma, portanto, não é opcional, é vital. A alma (ψυχή, psychē) representa o centro da vida interior, o “eu” consciente que pensa, sente e escolhe.

Quando negligenciada, essa dimensão se torna vulnerável às pressões e ansiedades do mundo moderno. Paulo sabia disso ao escrever aos filipenses: “Não andem ansiosos por coisa alguma” (Fp 4.6).

O verbo grego usado, merimnáō, significa “dividir a mente”, retratando um coração fragmentado entre fé e preocupação. A oração, portanto, não é apenas um pedido; é o realinhamento da alma com a soberania de Deus.

A verdadeira paz, chamada por Paulo de eirēnē (Fp 4.7), não é ausência de problemas, mas a presença ativa de Cristo guardando mente e coração.

Essa paz, que “excede todo entendimento”, é uma fortaleza espiritual invisível, cercando a alma como muralhas divinas. Pedro complementa essa verdade ao nos exortar: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1Pe 5.7).

O verbo epirríptō (lançar) descreve um ato intencional: entregar de uma vez por todas o fardo da alma Àquele que nunca se cansa. Contudo, a renovação da alma não ocorre automaticamente. É um processo cooperativo entre a graça divina e a disciplina espiritual. Paulo afirma que “a paz de Cristo deve governar em nossos corações” (Cl 3.15).

A palavra “governar”, do grego brabeuō, descreve um árbitro que decide quem tem razão em uma disputa. Ou seja, a paz de Cristo precisa decidir nossas reações, regular nossas emoções e corrigir nossos impulsos. Quando ela perde esse lugar de autoridade, as emoções dominam e a alma adoece.

A edificação interior depende daquilo que alimentamos diariamente. Paulo orienta: “Tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8).

A mente é o portão da alma. O que entra por ela molda o que sentimos, falamos e fazemos. O salmista, por isso, adverte que a bem-aventurança começa evitando “o conselho dos ímpios” (Sl 1.1).

Como cristãos, somos chamados a discernir o que consumimos, palavras, músicas, imagens e conversas. Cada escolha é uma semente lançada na terra da alma. Se semeamos ruído e superficialidade, colhemos confusão e cansaço espiritual; mas se semeamos Palavra e oração, colheremos estabilidade e paz.

Hoje, o Senhor nos chama a cuidar da alma como quem protege um tesouro. Que cada pensamento, palavra e hábito sejam guiados pela presença do Espírito Santo. A alma sadia é aquela que se rende, diariamente, ao governo de Deus. E só há descanso verdadeiro quando o coração aprende a repousar nEle.

2. Purificação e renovação. A alma humana é um campo fértil, e o que nela germina depende do que permitimos que entre. Jesus afirmou que “do coração procedem maus pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidades sexuais, furtos, falsos testemunhos e calúnias (Mt 15.19).

O termo “coração”, no texto grego, é kardía, e refere-se ao centro da vida interior, a sede dos pensamentos e desejos.

Quando a alma não é purificada, ela se torna terreno para o pecado, e o pecado amadurecido gera morte (Tg 1.14–15). Purificar a alma não é apenas afastar-se do mal exterior, mas permitir que a Palavra penetre o interior, onde nascem os desejos e motivações. Pedro exorta: “Tendo purificado as vossas almas pela obediência à verdade” (1Pe 1.22).

O verbo hēgnikotes (de hagnízō, “tornar puro”) indica um processo contínuo de santificação — não um ato isolado. A alma é purificada à medida que se submete à verdade de Deus, e a obediência torna-se o instrumento dessa limpeza.

Essa purificação não é fruto de disciplina humana, mas resultado da operação do Espírito Santo. Paulo descreve esse processo em Efésios 4.23–24, ao dizer: “Renovem-se no espírito da mente, e revistam-se do novo homem”.

O verbo ananeousthai (renovar) sugere uma transformação progressiva, um renovar constante da consciência e das afeições.

Silas Queiroz observa que “a alma, quando iluminada pelo Espírito, passa a refletir a imagem moral de Cristo, sendo progressivamente moldada por sua vontade”.

A renovação da mente é o caminho para discernirmos a vontade de Deus. Paulo, em Romanos 12.2, nos adverte a não nos conformarmos (syschēmatízesthe) com este século. O termo descreve a ideia de tomar a forma de algo, como o metal que se molda a um molde externo. O mundo tenta constantemente imprimir seus padrões sobre a alma; mas o Espírito de Deus trabalha no interior, transformando-nos (metamorphoústhe), isto é, operando uma metamorfose espiritual que começa no pensamento e se manifesta na conduta.

Essa transformação é o que nos leva a experimentar a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Não se trata de mera conformidade moral, mas de uma sintonia espiritual, em que a alma, purificada e renovada, passa a desejar o que Deus deseja e a rejeitar o que Ele rejeita.

Antônio Gilberto afirma que “a santificação verdadeira não é um verniz religioso, mas uma renovação interior que faz o crente reagir espiritualmente ao mal”.

A vida em santidade é, portanto, um reflexo da saúde da alma. Quando a mente é constantemente exposta à Palavra, os pensamentos são filtrados; quando a vontade é submissa a Cristo, as emoções são pacificadas; e quando o coração é limpo, o Espírito Santo encontra espaço para guiar e transformar. O salmista nos lembra: “Quem subirá ao monte do Senhor? O que é limpo de mãos e puro de coração” (Sl 24.3–4).

Purificar e renovar a alma é um chamado diário. Exige vigilância sobre o que pensamos, sentimos e desejamos. O Espírito Santo não age em terreno negligenciado. Ele trabalha onde há entrega. Que cada um de nós, com temor e amor, cuide da própria alma como quem cuida de um santuário, porque de fato ela o é (1Co 6.19).

CONCLUSÃO

O cristão precisa viver em plena santificação, o que inclui a contínua rejeição de pensamentos, sentimentos e desejos pecaminosos, mantendo pura a sua alma (1Pe 1.22; 1Jo 1.7).

Atribui-se a Lutero a frase que diz: “Não podemos impedir que os pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que eles façam ninhos sobre elas”.

A vida cristã é um chamado à santificação progressiva, não apenas um evento pontual, mas um processo contínuo de transformação interior, em que a alma é purificada pela obediência à verdade e pela ação constante do Espírito Santo (1Pe 1.22; 1Jo 1.7).

Santificar-se é permitir que a Palavra de Deus molde nossos pensamentos, sentimentos e desejos, separando-nos do pecado e conformando-nos à imagem de Cristo (Rm 12.2).

Martinho Lutero expressou essa realidade espiritual com sabedoria prática: “Não podemos impedir que os pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que façam ninhos sobre elas.” Essa metáfora descreve a luta interior de todo crente: os maus pensamentos podem surgir, mas não precisam encontrar abrigo em nossa mente. O cristão maduro reconhece a tentação, mas a confronta com a verdade da Palavra, não permitindo que ela se transforme em pecado consumado (Tg 1.14-15).

A santificação, portanto, exige vigilância e entrega diária. É um chamado à mente renovada, à alma disciplinada e ao coração rendido. O Espírito Santo atua como o grande Purificador da alma, ensinando-nos a discernir o que vem de Deus e o que provém da carne.

Quando o crente se submete a essa obra interior, sua vida se torna um reflexo da pureza de Cristo, não uma perfeição humana, mas uma santidade cultivada pela graça. Ser santo é viver sensível à voz de Deus, pronto a rejeitar o mal, a confessar o pecado e a buscar a comunhão contínua com o Pai.

O caminho da santificação é estreito, mas conduz à verdadeira liberdade da alma: uma liberdade que não consiste em fazer o que se quer, e sim em querer o que agrada a Deus. Podemos, então, ao concluir esta preciosa lição, extrair três aplicações práticas para a nossa vida:

1. Vigie os pensamentos. A santidade começa na mente. Rejeite rapidamente todo pensamento impuro, invejoso ou orgulhoso, substituindo-o por aquilo que é verdadeiro, justo e digno de louvor (Fp 4.8).

2. Cultive a pureza interior. Ore diariamente pedindo que o Espírito Santo renove suas emoções e desejos, lembrando que a alma purificada é o campo onde Deus planta frutos espirituais (Gl 5.22-23).

3. Confesse e recomece. Quando cair, não permaneça na culpa. Confesse o pecado, receba o perdão de Cristo e prossiga em santificação, sabendo que “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7).

Viva para a máxima glória do Nome do Senhor Jesus!

Viva conectado a Cristo, adore com sinceridade, sirva com amor e aja com justiça, para que cada atitude reflita a glória de Deus no mundo.

OTIMA AULA

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