INTRODUÇÃO
O teólogo porto-riquenho, Samuel Pagán, discorre, mui sábia e devocionalmente, sobre alguns trechos do capítulo 37 dos Salmos: “A frase ‘confia no Senhor’ é como um antídoto contra a inveja e o ressentimento. E ‘deleita-te no Senhor’ compunge-nos a permitir, confiadamente, que Deus cuide e proteja seus filhos”.
O que inferimos de sua exegese?
Logo, se confiarmos no Senhor, não viveremos angustiados nem abatidos emocionalmente.
Assemelhar-nos-emós-aos rochedos que, apesar dos abalos e tremores, permanecem firmes e inabaláveis.
Consideremos, pois, a petição que, certa feita, o erudito e teólogo, Walter Kaschel, endereçou a Deus:
“Ajude-me, Senhor, a confiar em ti de tal maneira que eu não carregue comigo aqueles problemas que já entreguei aos teus cuidados”.
Estejamos tranqüilos; tudo está em suas mãos. No Senhor, sempre haveremos de encontrar o necessário refúgio para todas as nossas angústias. Ele é o nosso castelo forte. O que vem a ser, porém, essa confiança? De que maneira, podemos cultiva-la?
1 - 0 QUE É A CONFIANÇA EM DEUS
Confiar irrestritamente em Deus também faz parte das disciplinas da vida cristã. Se nEle confiarmos de todo o coração, andaremos como os heróis da fé: resolutos e firmes. Confia você em Deus? Tem você a necessária disciplina para entregar-lhe todas as coisas? O salmista, porquanto confiava em Deus, tudo lhe entregou; tinha ele certeza de que o Senhor tudo faria.
1- Definição. A confiança em Deus é a disposição espiritual e emocional de render-se, incondicionalmente, aos seus cuidados, sabendo que Ele trabalha em favor de seus filhos, a fim de que, em nossa vida, seja a sua glória plenamente exaltada.
Confiar em Deus é uma exposição prática de fé.
Implica em reconhecer-lhe as bondades e as grandezas; aceitar sua providência; depositar-se aos seus desvelos; e acreditar, firmemente, em sua intervenção sempre oportuna.
Por conseguinte, nossa confiança em Deus tem de estar em conformidade absoluta com o credo que professamos. Afirma E. C. McKenzie:
“Não pode haver felicidade se as coisas em que cremos são diferentes das coisas que fazemos”.
2. A confiança em Deus como disciplina teológica. A confiança em Deus não é apenas uma prática a ser cultivada; é também uma doutrina a ser frutificada.
Coluna da teologia espiritual faz que, de nosso interior, ainda que em angústias, fluam rios de águas vivas.
Não era justamente isso que experimentava o salmista? Sua lira, além de teológica, era inesquecivelmente devocional.
Basta ler, por exemplo, o Salmo 37 que serve de base para este capítulo.
O que dizer de um teólogo que, apesar da erudição, só conhece a Deus intelectualmente?
Nesse caso, não temos propriamente um teólogo; temos um pensador que se pôs a especular acerca de Deus.
Stanley Jones, porém, não ficou na superfície deste conhecimento; aprofundando suas experiências com o Senhor, escreveu:
“Entrego tudo a Deus, tendo a consciência de ter feito o que estava ao meu alcance”.
II - A BASE DA CONFIANÇA EM DEUS
Asseverou Dave Brown:- “Muitas vezes não sabemos porque nos acontecem certas coisas em determinada situação ou circunstância. Mas sabemos perfeitamente por que confiamos em Deus que sabe a razão de todas as coisas”.
Logo, há suficientes bases para confiarmos perfeitamente em Deus.
1 - A soberania de Deus. Nada ocorre sem a expressa permissão de Deus (Dn 4.34-37). Este é o princípio da soberania divina, que pode ser assim definida:
“Autoridade absoluta e inquestionável que Deus exerce sobre todas as coisas criadas, quer na terra, quer nos céus, dispondo de tudo de acordo com os seus conselhos e desígnios”. Leia o capítulo 42 do Livro de Jó.
Quem descansa na soberania de Deus, não se estressa nem se desespera; sabe que todas as coisas ocorrem de acordo com o divino querer = (Sl 4.8).
Além do mais, tudo passa a contribuir, juntamente, para o bem daqueles que amam a Deus = (Rm 8.28).
Como é bom confiar no Deus soberano e no seu Cristo.
John Oxenham, ao expressar sua fé no Filho de Deus, é meigo e incisivo:
“E mui doce confiar em Jesus”. Pode você dizer o mesmo? Você confia, de fato, nos recursos que Cristo nos providenciou no Calvário? O Pai Celeste tudo lhe confiou;
inclusive a soberania do Universo.
2 - A sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é o atributo por intermédio do qual o Ser Supremo dirige todas as coisas, executando-as de acordo com os seus pianos, decretos e desígnios = (Ef 3.10).
Somente Ele é capaz de operar de tal maneira na vida de seus filhos, de modo que tudo venha a contribuir para a nossa maior comunhão consigo = (1 Rs 3.28).
Se Deus assim age, devemos estar tranqüilos e confiantes.
Se você estiver atravessando alguma dificuldade, não se desespere.
O Pai Celeste fará com que as lutas de hoje sejam, amanhã, nossos maiores triunfos.
3 - O poder de Deus. O poder de Deus é a sua ilimitada capacidade para agir, de acordo com a sua soberania e de conformidade com a sua justiça, quer nos céus, quer na terra, seja no Universo, seja no microcosmo de nosso ser.
Por isso, confiamos em Deus. Ele pode nada lhe é impossível = (Mt 19.26).
Segundo opera Ele em nossa vida, cumprindo todos = (Jó 42.2).
Deus também opera eficazmente na História da Humanidade, dirigindo-a consoante aos seus eternos desígnios.
Haja vista o nascimento de Cristo. O inferno todo arvorou-se para que o Messias não viesse ao mundo.
Todavia, o Senhor interveio, eficaz e poderosamente, para que o seu Filho viesse na plenitude dos tempos = (Gl 4.4).
Por conseguinte, sendo Deus o Ser Supremo por excelência, estejamos despreocupados quanto aos percalços desta vida.
Afinal, Ele é o Todo-Poderoso; tudo lhe é possível até o próprio impossível.
Então, por que vivermos em tormentos?
4 - A provisão de Deus. Deus tudo aprovisiona, objetivando a execução de seus planos em nossa vida, O que diremos da história de José?
O que parecia uma tragédia pessoal para o jovem hebreu, transformou-se num plano de salvação nacional para Israel = (Gn 45.7).
Se num primeiro momento José é vendido como escravo para o Egito, no segundo, Deus o levanta como o senhor de todo o Egito.
E, assim, pôde ele sustentar os israelitas, dos quais adviria o Cristo. Da mesma forma ocorre em nossa vida; o que se afigura como tragédia, transforma-se, de acordo com o seu querer, num triunfo para maior glória do seu nome.
A providência divina é uma das mais importantes doutrinas das Sagradas Escrituras. Ela pode ser definida como a amorosa disposição de Deus que, sendo a mesma sabedoria, dispõe de todas as coisas, a fim de que os seus filhos de nada venham a ressentir-se, proporcionando-lhes sempre o necessário, levando-nos a resplender-lhe a majestade.
No estudo da providência divina, precisamos enfocar três importantes elementos das atividades de Deus no Universo.
Em primeiro lugar, Deus mantém tudo quanto criou, visando o bem-estar de cada uma de suas criaturas.
Ele não é um Deus ausente; Ele é um Deus bem presente e atuante.
Além da manutenção de quanto existe, há também a sua cooperação; tudo Ele faz, a fim de que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam.
Em último lugar, está o seu governo.
Como o Deus que está no controle de tudo, vai Ele dirigindo cada aspecto de sua maravilhosa providência.
Afinal, Deus não é um ser apenas transcendente; é também imanente.
Embora transcenda a criação, acha-se bem junto a esta.
Portanto, não se desespere; Deus jamais o abandonará. Discipline-se a confiar no amoroso Deus.
5 - O amor de Deus. O amor é o atributo moral de Deus, que o leva a manter um permanente relacionamento com o ser humano, buscando-lhe sempre o bem e proporcionando-lhe os meios mais eficazes, a fim de que a nossa felicidade seja espiritual,.emocional e fisicamente plena.
Embora ajamos sido alijados de eu Reino, em conseqüência da transgressão de nossos primeiros genitores, continua Ele a amar-nos com um amor eterno.
Por isto, entregou o Unigênito para resgatar-nos do pecado, através de sua morte e ressurreição.
Por conseguinte, todos os atos de Deus são amorosos = (Rm 5.5).
Mesmo que nos sejam dolorosos no presente, trazem-nos inefáveis consolos no porvir.
Confiemos, pois, em Deus até mesmo onde o consolo é impossível.
Se os homens vêem apenas lágrimas, enxergamos-nós o lenitivo que emana do coração de Deus diretamente para o nosso coração = (Is 49.13).
Nos momentos mais lutuosos, ouvimos-lhe a voz:
“Não temas”. Como viver sem este amor?
III - EXEMPLOS DE CONFIANÇA EM DEUS
No Salmo 37, como vimos Davi demonstra quão grande era a sua confiança nas provisões do Todo-Poderoso.
Embora tivesse os motivos todos para viver angustiosamente, sabia ele que Deus estava cuidando de si.
Logo: não havia motivos para temer.
Vejamos, pois, outros exemplos nas Sagradas Escrituras.
1 - Abraão. Era o crente Abraão tão confiante no Senhor que, mesmo diante da desesperança, cultivava a esperança em Deus = (Rm 4.18).
Eis o testemunho que lhe dá o autor da Epístola aos Hebreus:
“Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel àquele que lhe havia feito a promessa”.
“Por isso, também de um, aliás, já amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do mar” (Hb 11.11,12).
Todas as circunstâncias contra Abraão; todavia, nosso pai na fé sabia perfeitamente: aquEle que lhe fizera as promessas jamais seria pego de surpresa por aquilo que os homens consideram impossível.
Aliás, a especialidade de Deus é, justamente, trabalhar as coisas, tidas por nós, como impossíveis.
2 - Jó. No auge de suas provações, demonstra o patriarca Jó que a sua confiança em Deus continuava inabalável:
“Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Tudo na vida de Jó fora destruído: família, bens, saúde e reputação.
Aos olhos humanos, era o patriarca uma ruína.
Sob o olhar do Altíssimo, contudo, era um vaso que, na fornalha, estava depurando-se até que chegasse à máxima perfeição.
Hoje, quando lemos o livro de Jó, aprendemos: No ardor da prova, Deus nos reconstrói até que nos transformamos em vasos úteis para o seu Reino.
3 - Paulo. Apesar de enfrentar tantas dificuldades em seu ministério, Paulo possuía uma confiança singular naquele que tudo realiza e opera:
“Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia” = (2Tm 1.12).
Quando lemos o capítulo 12 da Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, deparamo-nos com um homem que, à semelhança do Senhor, sofria e sabia o que era sofrer. No entanto, jamais se deixava amargurar; porque sabia em quem tinha crido. Oferecido já como libação pela Igreja de Deus, sua confiança no Senhor era incomum.
Você realmente confia em Deus? Tem absoluta confiança em sua providência? Então viva placidamente. Temos de saber em quem temos crido.
IV - COMO EXERCER A NOSSA CONFIANÇA EM DEUS
De que maneira cultivaremos a nossa confiança em Deus?
A Bíblia ensina-nos a andar de valor em valor sem jamais desfalecer.
Observemos, pois, como cultivar a nossa confiança em Deus.
1 - Vivendo pela fé. Habacuque, num momento de aparente crise espiritual, ouviu do Senhor esta maravilhosa expressão que, séculos mais tarde, seria citada pelo apóstolo:
“Mas o justo viverá pela sua fé” = (Hc 2. 4).
A fé não significa apenas acreditar na existência de Deus; significa ter absoluta confiança na intervenção divina em todas as instâncias da vida.
Crer que Deus existe é fácil; é urgente, porém, que nos depositemos incondicionalmente em suas mãos.
Viver pela fé faz do homem um justo tanto diante de Deus como perante seus semelhantes.
Afinal, como realça Paulo, os que recebemos a Cristo, somos justificados pela fé e pela mesma fé somos salvos.
Então, viva pela fé; é o melhor caminho para a nossa felicidade.
2 - Vivendo sem ansiedade. A falta de confiança em Deus gera ansiedade, e a ansiedade acaba por dar à luz a depressão.
Por isto, o conselho de Paulo tem de ser aplicado por aqueles que anseiam um viver brando e pacífico, conscientes de que Deus está no comando de tudo:
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” =(Fp 4.6).
O que nos representam as ansiedades?
Não passam, às vezes, de temores infundados.
Há os que tanto medo tem de um possível terremoto que acabam por morrer de um ataque cardíaco.
Então, de que nos adiantam as ansiedades?
Poderão estas proporcionar-nos longevidade?
Aliás, elas sempre terminam por nos roubar a brevidade da existência.
O que confia no Senhor, porém, mantém-se forte e inabalável diante das intempéries que se abatem sobre a nossa vida.
3 - Vivendo em oração. Aos irmãos de Tessalônica, recomenda Paulo: “Orai sem cessar”. O que isto significa?
Antes de mais nada, temos de apresentar ao Senhor todas as nossas petições, na certeza de que Ele é poderoso para no-las suprir.
O crente que vive em oração desenvolve uma profunda dependência de Deus e uma conseqüente independência em relação ao mundo.
Quanto mais dependente de Deus mais independente de um mundo cruel e pecador. Nada o abala.
Ainda que os montes transportem-se para o meio dos mares, o seu coração firme permanece; ele confia singularmente em Deus.
4 - Vivendo a Bíblia Sagrada. O general Josué recebeu do Senhor esta recomendação:
“Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” = (Js 1.8).
Sempre que formos assaltados por alguma dúvida, ou surpreendidos por alguma tormenta, lembremo-nos do Santo Livro e das promessas que se acham aí consignadas.
Agindo assim, aprenderemos a viver de modo vitorioso; nenhum mal nos atingirá.
CONCLUSÃO
Confia você inteiramente em Deus? Ele se acha ao nosso redor, levando-nos a viver triunfantemente em Cristo Jesus.
“Basta confiar em Deus e crer em suas promessas que são mui ricas para nos valer”. É por isto que, em nossos cultos, louvamos a Deus, proclamando: “fimes nas pr0mess do meu Salvador”.
Não se deixe abalar pelas circunstâncias; firme-se no Deus eterno; somente Ele far-nos-á habitar nas regiões celestiais em Cristo Jesus.
Amém
As Disciplinas da Vida Cristã
Claudionor de Andrade
1º- Edição 2008 - CPAD
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