21 de março de 2010

PAULO PLANEJA UMA TERCEIRA VISITA

PAULO PLANEJA UMA TERCEIRA VISITA, 12.14—13.1O

Quando Paulo se aproxima do final de sua carta aos coríntios, o apóstolo prepara o para a sua terceira visita: Estou pronto... para ir ter convosco (12.14). Para esse fim, ele expressa a natureza de sua futura conduta em consonância com os princípios básicos de seu ministério entre eles (12.14-18). Mas ele está apreensivo quanto à condição moral e espiritual na qual os encontrará (12.19-21). Eles podem estar certos de que ele será tão firme, em sua disciplina, quanto a situação deles exigir (13.1-10).

1. O Comportamento Proposto de Paulo em Corinto (12.14-18)

A questão do dinheiro deve ter sido bem sensível (como sempre!) no relacionamento de Paulo com a igreja em Corinto. Ela teve um papel importante nos capítulos 11-12, e ele retorna ao assunto. Paulo insiste em que não vai mudar seu método operacional agora. Esta última etapa da defesa de seu ministério relaciona-se com a sua terceira visita que se aproxima (14). A primeira visita foi na época em que ele lhes levou o evangelho pela primeira vez (At 18.1-18). A segunda foi a dolorosa visita (2.1) que se seguiu à escrita de 1 Coríntios. Como sempre, e como acontece todas as vezes que está com eles, ele não lhes será pesado. Muito embora anteriormente Paulo tenha sido mal entendido neste ponto (11.7-12), seus princípios permanecem firmes. Há duas razões para isto.

A primeira é que aquilo que ele exige deles é maior do que o dinheiro: Não busco o que é vosso, mas, sim, a vós. Ele continuamente (zeto) lhes pede o melhor que têm a dar a si mesmos, para que Paulo possa apresentá-los a Cristo como uma “virgem pura” (11.2), uma oferta aceitável de seu ministério a Deus (cf. Rm 12.1; 15.16). A segunda é que se trata de uma responsabilidade normal dos pais proverem para os seus filhos, e não os filhos para os pais. O apóstolo faz uso desta analogia apenas como uma ilustração da razão pela qual ele não tira vantagem de seu direito como um ministro do evangelho (1 Co 9.6-12b,14).

Ele não quer dizer com isso que filhos crescidos não tenham obrigação com relação a seus pais idosos, quando estes necessitarem (cf. Mc 7.10-13).
Pelos coríntios, o apóstolo deseja ir além (de) da mera obrigação. Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas (15; lit., vossas almas; isto é, seu bem-estar espiritual). O eu (ego) é enfático. O tempo, o dinheiro e a força do apóstolo são deles gratuitamente, mesmo com o empobrecimento de sua própria saúde e vida.

Mantendo a analogia com as imagens utilizadas por Paulo em Filipenses 2.17 (“Ainda que eu seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós”). Wendland traduz este texto do seguinte modo: “Eu, entretanto, de muito bom grado ofereceria um sacrifício; na verdade, permitirei ser completamente oferecido como um sacrifício por vós”.

A última parte do versículo, seguindo os mais antigos manuscritos, deve ser lida como: “Se eu vos amo demasiadamente, devo ser menos amado”? (NEB).” Como Filson destaca, esta triste pergunta responde àquela de 11.11, e indica como seria desnaturado para os coríntios responderem com um amor decrescente à crescente manifestação do amor do apóstolo por eles.

Pelo fato de não lhes ser pesado (16), Paulo estaria admitindo, mesmo com gratidão: “Muito bem, seja assim, dirão vocês, concordando que eu não vivi às vossas custas; mas isto nada mais foi do que astúcia para que eu vos enganasse com mais astúcia ainda” (Bruce). A acusação sussurrada por seus oponentes era que o aparente sacrifício do apóstolo pelos coríntios era apenas mais um truque de sua natureza astuta para enganá-los. Aquilo que o apóstolo se recusou a receber pessoalmente, ele “embolsara” através de seus agentes, a quem pusera como responsáveis pela coleta para Jerusalém.

Ele realmente não ficou sem receber nada. Mas quem eram, na realidade, os astutos (cf. 11.2-4, 13, 15)? Como escreve Calvino: “E costume dos mal-intencionados atribuir, sem pudor, aos servos de Deus o que eles costumam fazer, quando têm o poder ou a ocasião de fazê-lo”. Os intrusos egoístas em Corinto gostariam muito de colocar, sem dúvida, as próprias mãos na oferta. Mas, em vez disso, eles foram postos sob uma luz embaraçosa pela recusa do apóstolo em aceitar o sustento pessoal; assim, eles retornaram às mentiras astutas para minar a confiança que os coríntios tinham na autoridade apostólica de Paulo.

A essas suspeitas inventadas contra o apóstolo, ele responde com uma série de quatro perguntas (17-18). O problema principal, asperamente colocado pela NEB, é: “Quem dos homens que vos enviei foi usado por mim para vos enganar?” (17) E é apoiado por uma segunda pergunta: Tito se aproveitou de vós? (18) Estas duas primeiras questões são feitas com a partícula negativa me, que implica em um “não” como resposta. O verbo aproveitar, nas duas perguntas, como em 2.11, tem a conotação de “tirar vantagem de” (ASV). Essas perguntas, escreve Plummer, são absurdas.’85 Os coríntios têm que admitir, quando pressionados, que Tito e o irmão enviado por Paulo haviam se conduzido com uma integridade inquestionável quando iniciaram a coleta.”

Em seguida, Paulo assumiu a completa responsabilidade pela coleta e relacionou a sua integridade à de seus emissários. Assim como os enviados, é quem os enviou. Eles não agiram com o mesmo espírito? Eles não seguiram as mesmas pisadas? Esta dupla de perguntas usa ou, indicativo de que Paulo esperava um “sim” como resposta. Tanto Paulo como os seus mensageiros eram inocentes em seus motivos e ações. As suspeitas dos coríntios estavam em contradição com o que eles tinham visto com os seus próprios olhos. O apóstolo é capaz de se defender e se apoiar no princípio básico de seu ministério entre eles em relação ao dinheiro, porque 1) seu motivo é simples e sinceramente o sacrifício de si mesmo pelos outros; e 2) seu gerenciamento do delicado assunto da coleta é capaz de passar pelo teste de uma inspeção rigorosa.
2. A Apreensão de Paulo (12.19-21)

Terminada a sua exposição, a verdadeira razão de Paulo para esta defesa é registrada aqui. Uma série de alertas segue o que compreensivélmente surge da ansiedade de Paulo em relação à sua visita que se aproxima. Será que sua terceira visita será tão dolorosa quanto a segunda (1.23; 2.1)? Isto está nas mãos deles.
Os coríntios não são os verdadeiros juízes da defesa que Paulo fez nos capítulos anteriores. O verbo desculpar (19) seria melhor traduzido como “defender”.

O julgamento de Paulo não é feito por eles, mas sim com eles em Cristo perante Deus (cf. 1 Co 4.3). Em contraste com o que eles possam ter pensado “todo esse tempo”, ele não está se defendendo diante deles por motivos de auto-estima ou autoproteção.”° A postura de Paulo, comenta Hughes, “muito longe de ser egoísta ou auto-suficiente é, de forma indireta, ‘cristocêntrica’“Ele fala somente em Cristo (2.17; 12.2; cf. 5.17), “uma ligação que o guarda do orgulho, do exibicionismo e de trapacear com esperteza”.

Deus é seu único e verdadeiro Juiz (1.18, 23; 4.2; 5.11; 7.12; 11.11, 31), e aquilo que ele é em Cristo é a sua única motivação (5.14). Assim, os coríntios, longe de serem seus juizes de acusação, são seus caríssimos amados, uma expressão que ele só emprega em relação a eles nessa carta aqui e em 7.1. Todas as coisas que o apóstolo fala, ele fala em Cristo... para edificação dos coríntios. Foi a sua zelosa preocupação pelo bem espiritual deles (11.2) que o levou a um procedimento que eles poderiam entender erroneamente.

O termo porque (gar) introduz uma longa sentença (20-21), que explica a preocupação de Paulo. O crescimento gradual é uma forma suave de expressar as necessidades deles! Mas o que ele tem a dizer é dito com a carinhosa moderação de um pai: .. .receio que... que... que....” Ele não denuncia, mas anuncia a sua apreensão. Seu medo de encontrar um comportamento eticamente deficiente é expressado de duas maneiras.

Primeiro que ele não os ache como deseja. Segundo, que ele não seja achado pelos coríntios como eles desejam, ou seja, como alguém que terá que exercer uma severa disciplina. A referência é, sem dúvida, a uma minoria na igreja (2.5-6). Paulo lista em quatro pares aquilo que ele teme encontrar em Corinto. Lenski sugere que “quatro é usado comumente para designar uma integridade retórica; e a multiplicação de cada um dos quatro intensifica a integralidade”. Cada membro de um par lançaria uma luz sobre o outro.

Seguindo a tradução da versão NASB, os pares seriam

1) “briga, inveja”,
2) “iras, disputas”,
3) “difamação, mexericos”, e
4) “arrogância, tumultos”.

À medida que o apóstolo continua a falar de seus temores sobre a sua futura visita, ele se expressa de uma forma incomum: receio... que... o meu Deus me humilhe para convosco (21). O oposto seria o esperado; que os coríntios sofressem humilhação e vergonha. Entretanto, Paulo teme que ele vá descobrir que não houve arrependimento dos pecados anteriores por parte dos coríntios.

Ele seria, então, obrigado a se lamentar de tristeza por eles. O apóstolo teria falhado em fazer com que eles se arrependessem, o que seria uma derrota para ele. Se for assim, ele aceitará sua humilhação como vinda de Deus. Esta lamentação sobre a ruína deles é indicativa de seu coração apostólico. O único remédio para esta falta de arrependimento será, sem dúvida, a exclusão da igreja (13.2; cf. 1 Co 5.1-5). A conduta imoral deles não pode ser permanentemente tolerada.

A grosseira imoralidade de alguns membros da igreja em Corinto é descrita por
Paulo em três palavras que se sobrepõem. Imundícia (akatharsia) é um termo genérico para impureza e vida desregrada; prostituição (ou fornicação; porneia) refere-se à promiscuidade no relacionamento sexual; e desonestidade (ou lascívia; aselgia) indica o desacato deliberado da decência em público. Estes pecados são exatamente os mesmos que deram ocasião à escrita de 1 Cormntios.

O problema moral básico na igreja de Corinto pode não ter sido solucionado na época em que Paulo escreveu a carta. Todavia, a atitude da maioria era tal que, se a minoria não se arrependesse e se afastasse de seu comportamento insolente, o apóstolo poderia lidar com eles de maneira severa sem precipitar outra “visita dolorosa” (2.2).

O palpitar do coração de um autêntico ministro cristão está, mais uma vez, abertopara nós.

Na 1) perspectiva divina, ele está

a) aberto ao julgamento de Deus, e
b) controlado por uma relação transformadora com Cristo, l9ab.

Na 2) perspectiva humana, a situação consiste em

a) uma desgastante preocupação pelos outros,
b) exercida com tanto carinho que a humilhação e a dor podem ser a sua recompensa, 19e-21.

3. A Determinação de Paulo de Ser Firme (13.1-10)

O apóstolo apresenta agora sua advertência final aos coríntios — que quando vier pela terceira vez, ele será tão severo em sua disciplina quanto a condição moral e espiritual deles exigir. Se isso for o que os coríntios querem, eles terão a prova de que Cristo fala por meio dele! Mas o apóstolo tem a esperança de que eles corrijam a situação antes que ele chegue, e que ele não seja obrigado a empregar sua autoridade com tanta rigidez.

Com a ênfase da repetição (12.14,20-21), Paulo menciona novamente que ele está indo a Corinto pela terceira vez (1). Além disso, ele está indo para fazer justiça no meio deles. As acusações serão examinadas e julgadas de acordo com o princípio mosaico estabelecido em Deuteronômio 19.15, a saber: “Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda palavra”. Este procedimento foi aprovado por Cristo na solução de casos de disciplina ou disputa na igreja (cf. Jo 8.17; 1 Tm 5.19; Hb 10.28; 1 Jo 5.8). A igreja cristã continuou a se utilizar do princípio do AT de que um homem não podia ser condenado pelo testemunho de uma só pessoa. Duas, no mínimo, e preferencialmente três, eram necessárias. Paulo iria não apenas obedecer a este princípio, mas também tiraria proveito dele.

A advertência que o apóstolo lhes havia feito em sua segunda visita é repetida agora (2). AARC traduz bem este versículo: Já anteriormente o disse e segunda vez o digo, como quando estava presente; mas agora, estando ausente, o digo aos que antes pecaram e a todos os mais que, se outra vez for, não lhes perdoarei.

Esta segunda menção daqueles que pecaram (cf. 12.21), e o fato de a igreja os tolerar, nos lembra como era difícil para os cristãos gentios romperem com a liberalidade sexual característica do seu ambiente (cf. 1 Co 5.1-2; 6.12-20; 1 Ts 4.3-7). O padrão cristão de pureza sexual não se originou dos gregos, mas do AT e dos judeus. Paulo avisa essas pessoas e a todos os demais que, quando vier, não perdoará aqueles que se recusarem a se arrepender (cf. 10; 10.6). Se encontrar resistência, ele os excomungará da igreja.

Com uma referência final ao intercâmbio entre fraqueza e força no apóstolo de Cristo, Paulo fornece a razão pela qual ele não será leniente quando vier (3). Ele agora está pronto para dar, a seus oponentes e a todos os que lhes deram ouvidos, a prova de que Cristo fala nele. Possivelmente em vista da riqueza de dons espirituais dos coríntios (1 Co 12 e 14), eles tenham se recusado a perceber o poder de Cristo na vida de Paulo, enquanto o apóstolo esteve presente com eles (cf. 10.10). Dessa forma, eles agora terão o sinal decisivo que querem, mas não da forma como querem. A disciplina severa será um sinal claro de que, através do ministério de Paulo, Cristo não é fraco para com eles, mas é poderoso entre eles (cf. Rm 15.18). Como diz Denney: “Ao desafiarem Paulo a ir e exercer sua autoridade.., presumindo o que eles chamavam de sua fraqueza, estavam, na verdade, desafiando a Cristo”.

O que o apóstolo está realmente dizendo é que o modelo de seu ministério é simplesmente o de seu Senhor: Porque, ainda que (kai gar) Cristo tenha sido crucificado por fraqueza, vive, contudo (alia), pelo poder de Deus (4). Como resultado (ex) de sua condição de fraqueza encarnada, Cristo sofreu a “morte de cruz” (Fp 2.8), o máximo da humilhação e fraqueza. Contudo... pelo (ek, como resultado do) poder de Deus Ele agora vive “pela ressurreição dos mortos” (Rm 1.4).

No ministério de Jesus em beneficio dos pecadores, a extremidade de sua fraqueza tornou-se o ponto no qual Deus, pela ressurreição de seu Filho, e da maneira mais convincente, revelou o seu poder de resgatar os homens dos seus pecados (cf. At 2.22-36; Rm 4.25; 5.10; 1 Co 15. 16-17). Denney, de uma forma bela, nos conduz até o ponto que Paulo quer chegar: “A cruz não esgota a relação de Cristo com o pecado; Ele passou da cruz para o trono e, quando voltar, virá na condição de Supremo Juiz. Assim, “quando Cristo voltar, Ele não poupará ninguém. As duas coisas se unem nele: a infinita paciência da cruz, e a inexorável justiça do trono”.

O mesmo é verdadeiro para os ministros de Cristo: Porque nós também (kai gar) somos fracos nele, mas (alia)203 viveremos com ele pelo poder de Deus em vós. Uma vez que a vida ressuscitada de Cristo está em ação no ministério de Paulo (4. 10-14), o apóstolo será capaz de ir a eles com a autoridade do Cristo vivo. Por causa da natureza integral deste poder, ele não poderá poupar, e não poupará, o pecador não arrependido. O poder de Deus no evangelho de Cristo (Rm 1.16) atua nas duas direções:

“Para uns, na verdade, cheiro de morte para morte, para outros, porém, cheiro de vida para vida” (2.16, NASB). Paulo, como apóstolo de Cristo, é um instrumento deste poder. E este poder será manifestado aos coríntios. O poder, e não a fraqueza, marcará a sua iminente visita. Wendland observa que estes versículos (3-4) definem precisamente a fundamentação de tudo que Paulo disse sobre sua fraqueza e sofrimento. Seu poder, residente em sua fraqueza, é semelhante ao do seu Senhor crucificado e ressuscitado.

Então, a sua fraqueza pode ser a sua jactância; então, também, Cristo age através de seu apóstolo, e a vida de Cristo flui a partir dele. O “outro evangelho” (11.4), aquele que era pregado por seus oponentes, é caracterizado pelo fato de não incluir este paradoxo, esta oposição entre a Cruz e a Ressurreição, entre o sofrimento e o poder de Deus, os quais mesmo assim são um só. Por essa razão, os seus oponentes não compreendem a fraqueza de Paulo; eles eram tolos se supunham que descartariam o apostolado de Paulo usando o argumento de que ele não era “nada” (12.11).

As posições agora estão trocadas. Com a ameaça de julgamento que surge da certeza de que Cristo está agindo em sua vida e através dele, o apóstolo exorta os membros da igreja em Corinto a se examinarem continuamente, para verificar se permanecem na fé (5). Eles têm que provar a si mesmos. As duas expressões a vós mesmos recebem a ênfase por virem primeiro na língua grega. Paulo tem a esperança de obter deles o comportamento desejado ao lembrá-los de que são cristãos: “Ou não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais, de fato, reprovados!” (texto de Lenski). Se já estiverem reprovados, não aplicarão o teste. A pergunta de Paulo os testa, pois se eles forem crentes verdadeiros, não se ressentirão de um teste real.
A forma da pergunta (ei meti) indica que Paulo acreditava que ainda estivessem saudáveis de coração. As expressões na fé e Jesus Cristo... em vós interpretam uma à outra: “Fé é a realidade da presença de Cristo, é a vida de Cristo naqueles que crêem ... (cf. Gl 2.20; Ef 3.17). O teste da autenticidade do relacionamento deles com Cristo representa a qualidade ética do seu comportamento.

Da mesma forma que os coríntios são capazes de detectar a presença de Jesus Cristo em si mesmos, Paulo espera que eles sejam capazes de reconhecer que ele e seus cooperadores no ministério não estão reprovados (6). Eu espero (lit., elipizo). O apóstolo espera que eles encontrem, no relacionamento salvador que desfrutam com Cristo, a desejada “prova” de que Cristo fala (3) através de Paulo. Talvez, então, ele não tenha que visitá-los com rigor.

Em consonância com esta esperança, ele roga a Deus que eles não façam mal algum (7). Paulo acredita que eles farão aquilo que é honesto (kalon, moralmente correto), e não se alinharão com os pecadores impenitentes em Corinto. Esta é a motivação de sua oração, e não apenas que ele e seus companheiros possam ser achados aprovados. De fato, ele e seus companheiros estariam até mesmo dispostos a parecer reprovados, desde que os coríntios fizessem o que era certo. Ele deseja dispensar a oportunidade de demonstrar, através da ação disciplinar, a “prova” (3) de que Cristo está falando nele com o poder de Deus. Paulo não se compraz com uma punição severa a seus filhos espirituais.

Até mesmo o direito do apóstolo a uma justificativa clara e pessoal tem que ceder diante da verdade (8), isto é, diante do progresso do evangelho em Corinto. Todo interesse próprio é barrado (5.14). Ele quer apenas a obediência, a pureza e a unidade da igreja. Exercer a sua autoridade apenas por vaidade seria prostituir o seu apostolado. O correto recebimento do evangelho é o grande objetivo da sua vida, em torno do qual giram todas as demais coisas. Dessa forma, Paulo, aquele em quem “a verdade de Cristo” estava (11.30), não era capaz (dynametha) de fazer nada contra a verdade.

Em vez disso, Paulo explica que se regozija de estar fraco, quando eles estão fortes (9). Ele se regozija por perder a oportunidade do uso legitimo do seu poder de punir, e assim demonstrar a sua força, desde que isso seja feito por causa da força moral e espirituais deles. O desejo de Paulo é uma oração. Sua oração é pela perfeição (katartisis) deles, pela restauração de tudo que estava fora de ordem em suas vidas, como membros do corpo de Cristo.

A idéia básica contida na palavra é a de estar apropriadamente equipado e organizado para um funcionamento harmonioso e eficiente. Delling escreve que, aqui, katartisis “denota força interior, seja da comunidade em seu relacionamento orgânico, ou de seus membros, isto é, a maturidade deles como cristãos”. A preocupação é semelhante à de 7.1. Como Wesley comenta, é a perfeição “na fé que trabalha por amor”.

A oração compreende

1) a total aceitação da graça, e
2) a expressão efetiva da santidade cristã.

O apóstolo escreveu esta carta para ajudar os coríntios (10). Ele a conclui com sua resposta às acusações que recebeu de ser forte em suas cartas, mas fraco em sua presença pessoal (10.10), tema que tem sido abordado desde 10.1. Ele escreve estando ausente para que quando estiver presente não tenha que agir com rigor. Isto não é uma negação de sua autoridade, mas seu exercício obediente. O poder que o Senhor lhe deu não era para destruição, mas para edificação (10.8; 12.19). Sua autoridade tem a finalidade de “edificar e não devastar” (Lenski). Mas ele será rígido se eles não agirem. Amaneira como o apóstolo agirá é decisão deles. Paulo está esperançoso.

A autoridade do apóstolo Paulo, como ministro de Cristo, 1) inclui o poder de disciplinar a igreja quando o arrependimento é persistentemente recusado, porque 2) este é o poder da vida de Cristo, mas 3) seu uso é sempre controlado pelos propósitos maiores do evangelho (cf. Mt 16.19; 18.15-18; Jo 20.23; At 5.1-6; 1 Co 5.5).

Na igreja do NT há apenas uma Fonte de autoridade: Jesus Cristo. Ele confere sua autoridade pela sua presença em seus apóstolos, ministros, professores, administradores, etc., que exercem sua autoridade em consonância com as suas várias funções. Tal autoridade não é, meramente, entregue de forma oficial, mas deve autenticar a si mesma em seu exercício: “Viveremos com ele pelo poder de Deus que é dirigido a vós” (4, NASB).

Em 12.14—13.10, Paulo nos confronta com um ministério que é

1) Consistente em seus princípios motivadores, 12.14-18;
2) Misericordioso em seu compromisso com o bem- estar da igreja, 12.19-21; e 3) Confirmado pela autoridade que tem para manter a integridade do corpo de Cristo, 13.1-10.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Beacon

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