A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA – Ev. José Costa Junior
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
O
assunto desta lição diz respeito a celebração da primeira páscoa pelo povo de
Israel e seu significado para a igreja do Senhor.
Eis
aqui a redenção do povo de Israel baseada sobre o sangue do cordeiro segundo o
desígnio eterno de Deus. Isto dá à redenção toda a sua estabilidade divina.
Exigiu-se dos filhos de Israel que oferecessem um sacrifício de sangue, e o
cordeirinho sem defeito que eles mataram era um símbolo do Cristo morrendo na
cruz. O sangue do cordeiro nas ombreiras das portas protegia-os do juízo de
Deus: "Vendo o sangue, passarei por cima de vós".
Hoje,
"salvos pelo sangue" é o testemunho do povo de Deus no mundo inteiro,
com o sangue de Cristo aplicado ao nosso coração. Mas outros também reivindicam
o sangue. Adúlteros, viciados e até criminosos que estão na cadeia neste exato
momento — todos vivendo em declarado pecado — dir-lhe-ão: "Deus não me
julgará. Estou sob a proteção do sangue de Jesus! Há anos eu cri nele."
Outros dizem: "Obediência não salva ninguém. O que você pensa a respeito
do sangue não o salvará. Só o que Deus pensa acerca do sangue é importante.
Obtenha a proteção do sangue e você estará salvo e seguro para sempre."
É
absolutamente verdadeiro que o sangue de Jesus proporciona proteção contra o
juízo de Deus, mas apenas quando acompanhado de um coração obediente!
Isto
foi verdadeiro quanto aos filhos de Israel. A fim de estarem seguros pelo
sangue sacrificial, os israelitas tiveram de satisfazer a determinadas
condições de obediência. Primeiro, "que cada homem peça ao seu vizinho...
jóias de prata e jóias de ouro. .. e roupas... O Senhor deu ao povo graça aos
olhos dos egípcios, de modo que estes lhes davam o que pediam" (Ex 11:2;
12:35-36). Fazer isto não apenas lhes proveria para o futuro mas também
provaria que as pessoas que cressem em Deus seriam postas em liberdade. Teriam
de provar sua fé pelas obras.
A
seguir, ordenou-lhes "tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que
estiver na bacia, e marcai a verga da porta e as suas ombreiras" (Ex
12:22). Nenhum anjo executaria esta tarefa para eles, nem Deus a faria para
eles; e se tivessem recusado eles mesmos fazê-la, teriam morrido. Não obstante,
ainda se exigia mais deles!
Nesta
mesma noite, suas casas deviam tornar-se casas de obediência. "Nenhum de
vós saia da porta da sua casa até pela manhã" (Ex 12:22). Dentro da casa,
deviam comer o cordeiro da páscoa, assado no fogo. Não devia ser comido cru ou
cozido em água, e os israelitas deviam comê-lo com pães asmos, ou sem fermento,
e com ervas amargas. Deus lhes ordenou que o fizessem com lombos cingidos,
sandálias nos pés e cajado na mão — e deviam comê-lo às pressas.
Não se
tratava de simples assentimento intelectual de fé! Estes israelitas eram um
povo obediente sobre o qual havia caído o temor de Deus, e eles desejavam ser
libertos. Eles desejavam mais do que segurança — desejavam liberdade das forças
do Egito. Eles estavam famintos, ansiosos por obedecer! Contraste-se isso com
uma doutrina hodierna que declara: "Não é a obediência que conta. Não
vivemos sob a lei. Nossa esperança está só no sangue!" Este ensino declara
que se dissermos que a obediência é necessária, estamos tentando diminuir o
poder do sangue. Todavia, foi a obediência explícita dos israelitas que provou
que eles davam valor ao sangue!
A
verdade é que você pode sentir-se seguro sob o sangue e não obstante estar no
Egito — ainda ao alcance do chicote do inimigo! O Senhor deseja que tenhamos
mais do que proteção contra o juízo! Ele anseia por tirar-nos da prisão e
escravidão do pecado — e levar-nos para um lugar vitorioso sobre a carne.
O
objetivo deste estudo é trazer algumas informações e textos, colhidos dentro da
literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão a respeito da
celebração da primeira páscoa pelo povo de Israel e seu significado para a
igreja do Senhor . Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de
dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e
ferramentas que poderão enriquecer sua aula.
A PÁSCOA
A
páscoa é para Israel o que o dia da independência é para um país, e mais ainda.
O último juízo sobre o Egito e a provisão do sacrifício pascoal possibilitaram
o livramento da escravidão e a peregrinação do povo para a terra prometida. A
páscoa é, segundo o Novo Testamento, um símbolo profético da morte de Cristo,
da salvação e do andar pela fé a partir da redenção (I Co 5:6-8). Além do
livramento do Egito, a páscoa se constituiu em primeiro dia do ano religioso
dos hebreus e o começo de sua vida nacional.
Ocorreu no mês de Abibe (chamado
Nisã na história posterior), que corresponde aos nossos meses de março e abril.
A palavra "páscoa" significa "passar de
largo", pois o anjo destruidor passou de largo as casas onde havia sido
aplicado o sangue nas ombreiras e na verga da porta. Os detalhes do sacrifício
e as ordenanças que o acompanhavam são muito significativos:
O animal para o sacrifício devia ser um cordeiro macho de um
ano, isto é, um carneiro plenamente desenvolvido e na plenitude de sua vida.
Assim Jesus morreu quando tinha 33 anos aproximadamente. O cordeiro tinha de
ser sem mácula. Para assegurar que assim fosse, os israelitas o guardavam em
casa durante quatro dias. De igual maneira Jesus era impecável e foi provado
durante quarenta dias no deserto.
O cordeiro foi sacrificado pela tarde como substituto do
primogênito. Por isso morreram os primogênitos das casas egípcias que não
creram. Aprendemos que "o salário do pecado é a morte", porém Deus
proveu um substituto que "foi ferido pelas nossas transgressões". Os
israelitas tinham de aplicar o sangue nas ombreiras e na verga das portas,
indicando sua fé pessoal. No Cristianismo não basta crer que Cristo morreu
pelos pecados do mundo; somente quando pela fé o sangue de Jesus é aplicado ao
coração da pessoa está ela salva da ira de Deus. O anjo exterminador representa
a sua ira.
As pessoas tinham de permanecer dentro de casa, protegidas
pelo sangue. "Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande
salvação?" (Hb 2:3). Tinham de assar a carne do cordeiro e comê-la com pão
sem fermento e ervas amargas. O fato de assar em vez de cozer o cordeiro
exemplifica a perfeição do sacrifício de Cristo e o fato de que deve ser
recebido por completo (Jo 19:33, 36). Assim como os hebreus comeram a carne que
lhes daria força para a peregrinação, por meio da comunhão com Cristo o crente
recebe força espiritual para segui--lo. O pão sem fermento simbolizava a
sinceridade e a verdade (I Co 5:6-8) e as ervas amargas provavelmente
representavam as dificuldades e as provações que acompanham a redenção.
Os israelitas deviam comê-lo em pé e vestidos como viajantes
a fim de que estivessem preparados para o momento de partida (12:11). Assim o
crente deve estar pronto para o grande êxodo final quando Jesus vier (Lc
12:35).
Desejando Deus que seu povo se lembrasse sempre da noite do
seu livramento, instituiu a festa da páscoa como comemoração perpétua. A
importância desta festa é demonstrada pelo fato de que na época de Cristo era a
festa por excelência, a grande festa dos judeus. O rito não só olhava
retrospectivamente para aquela noite no Egito mas também antecipadamente para o
dia da crucificação. A santa ceia é algo parecido com a páscoa e a substitui no
Cristianismo. De igual maneira, esta olha em duas direções: atrás, para a cruz,
e adiante, para a segunda vinda (I Co 11:26).
Dali
para a frente, os israelitas haviam de consagrar ao Senhor, para serem seus
ministros, os primogênitos dentre seus filhos, e também os de seus animais, pois
pela provisão da páscoa os havia comprado com sangue e pertenciam a ele. Os que
nasciam primeiro dentre os animais se ofereciam em sacrifício, exceto o
jumento, que era resgatado e degolado, e assim também os animais impuros em
geral (13:13; Lv 27:26, 27). Os primogênitos do homem eram sempre resgatados;
depois os levitas foram consagrados a Deus em substituição deles (Nm 3:12,
40-51; 8:16-18). A aplicação espiritual ensina que Deus nos redime para que o
sirvamos: "Ou não sabeis. . . que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso
espírito, os quais pertencem a Deus" (I Co 6:19, 20).
OS ELEMENTOS DA
PÁSCOA
O
cordeiro em torno do qual a congregação estava reunida, e com o qual fazia festa,
era um cordeiro assado — um cordeiro que tinha sido submetido à ação do fogo.
Vemos neste pormenor "Cristo a nossa páscoa" expondo-Se a Si Mesmo à
ação do fogo da santidade e da justiça de Deus, que acharam n'Ele um objeto
perfeito. Ele pôde dizer: "Provaste o meu coração; visitaste-me de noite;
examinaste-me e nada achaste; o que pensei, a minha boca não transgredirá"
(SI 17:3).Tudo n'Ele era perfeito. O fogo provou-O e não havia impureza.
"A cabeça com os pés e com a fressura". Quer dizer, o centro da Sua
inteligência; a Sua vida exterior com tudo quanto lhe pertencia — tudo foi
submetido à ação do fogo, e tudo foi achado perfeito.
A
maneira como o cordeiro devia ser assado é profundamente significativa, como o
são em pormenor as ordenações de Deus. Nada deve ser passado por alto, porque
está cheio de significação — "não comereis dele nada cru, nem cozido em
água". Se o cordeiro tivesse sido comido assim não teria sido a expressão
da grande verdade que prefigurava segundo o propósito divino, isto é: que o
nosso Cordeiro da páscoa deveria sofrer, na cruz, o fogo da justa ira de Deus;
uma verdade, aliás, preciosa para a alma. Não estamos somente sob a proteção
eterna do sangue do Cordeiro, como as nossas almas se alimentam pela fé da
pessoa do Cordeiro. Muitos de nós enganamo-nos a este respeito. Estamos prontos
a contentarmo-nos por estarmos salvos por meio da obra que Cristo cumpriu a
nosso favor sem mantermos uma santa comunhão com Ele próprio. O Seu coração
amoroso nunca poderá contentar-se com isto. Ele trouxe-nos para perto de Si
para que pudéssemos apreciá-Lo, alimentarmo-nos d'Ele e regozijarmo-nos n'Ele.
Cristo apresenta-Se perante nós como Aquele que sofreu o fogo intenso da ira de
Deus, a fim de ser, neste caráter maravilhoso de Cordeiro, alimento para as
nossas almas redimidas.
Mas
como devia ser comido este cordeiro?- "...com pães asmos; com ervas
amargosas a comerão". O fermento é empregado, invariavelmente, através das
Escrituras, como símbolo do mal. Nunca é usado nem no Velho nem no Novo Testamento
como simbolizando alguma coisa pura, santa ou boa. Assim, neste capítulo, a
celebração da festa com "pães asmos" é figura da separação prática do
mal como resultado próprio de havermos sido lavados dos nossos pecados no
sangue do Cordeiro e a própria consequência da comunhão com os Seus
sofrimentos. Nada senão pão perfeitamente livre de fermento podia ser
compatível com o cordeiro assado. Uma simples partícula daquilo que era figura
destacada do mal teria destruído o caráter moral de toda a ordenação. Como
poderíamos nós associar qualquer espécie de mal como a nossa comunhão com
Cristo nos Seus sofrimentos?- Seria impossível. Todos aqueles que, pelo poder
do Espírito Santo, têm compreendido a significação da cruz, não terão
dificuldade, pelo mesmo poder, de afastar entre eles o fermento.
"Porque
Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Peio que façamos festa, não com
o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos
da sinceridade e da verdade" (I Co 5:7-8). A festa de que se fala nesta
passagem é a mesma que, na vida e conduta da Igreja, corresponde à festa dos
pães asmos. Esta durava "sete dias"; e a Igreja, coletivamente, e o
crente individualmente, são chamados para andar em santidade prática, durante
os sete dias, ou seja todo o tempo da sua carreira aqui na terra; e isto,
note-se, como resultado imediato de haverem sido lavados no sangue, e tendo
comunhão com os sofrimentos de Cristo.
O israelita não deitava fora o fermento a fim de ser salvo,
mas, sim, porque estava salvo; e se deixasse de o deitar fora, não comprometia
com isso a sua segurança por meio do sangue, mas simplesmente a comunhão com a
assembleia. "Por sete dias não se ache nenhum fermento nas vossas casas;
porque qualquer que comer pão levedado, aquela alma será cortada da congregação
de Israel, assim o estrangeiro como o natural da terra". O corte de uma
alma da congregação corresponde precisamente à suspensão de um cristão da
comunhão, quando acede àquilo que é contrário à santidade da presença de Deus.
Deus não pode tolerar o mal.
Um simples pensamento impuro interrompe a comunhão da alma;
e enquanto a mancha produzida por este pensamento não for tirada pela
confissão, baseada na intercessão de Cristo, não é possível restabelecer a
comunhão (vide I Jo 1:5 -10). O cristão sincero regozija-se nisto; e dá
louvores em memória da santidade de Deus (SI 97:12). Ainda que pudesse, não
diminuiria, nem por um momento, o estalão: é seu gozo inexcedível andar na
companhia d Aquele que não andará nem por um momento com uma simples partícula
de "fermento".
Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar
os pães asmos, a significação e mesma utilidade moral. Não podemos desfrutar da
participação dos sofrimentos de Cristo sem recordarmos o que tornou necessários
esses sofrimentos, e esta recordação deve, necessariamente, produzir um
espírito de mortificação e submissão, ilustrado, de um modo apropriado, nas
ervas amargosas da festa da páscoa. Se o cordeiro assado representa Cristo
sofrendo a ira de Deus em Sua Própria Pessoa na cruz, as ervas amargosas
mostram que o crente reconhece a verdade que Ele sofreu por nós. "O
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados" (Is 53:5).
Por causa da leviandade dos nossos corações é bom
compreendermos a profunda significação das ervas amargosas. Quem poderá ler os
Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em alguma medida, o significado
dos pães asmos com ervas amargosas?- Uma vida praticamente santa, unida a uma
profunda submissão de alma, deve ser o fruto da comunhão verdadeira com os
sofrimentos de Cristo, porque é de todo impossível que o mal moral e a
leviandade de espírito possam subsistir na presença desses sofrimentos.
Mas, pode perguntar-se não sente a alma um gozo profundo no
conhecimento que Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente,
por nós, o cálice da ira justa de Deus? Por certo que é assim. E este o
fundamento inabalável de todo o nosso gozo. Mas, poderemos nós esquecer que
foi" por nossos pecados" que Ele sofreu? Poderemos perder de vista a
verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou
a Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões? Certamente que não. Devemos
comer o nosso cordeiro com ervas amargosas; as quais, não se esqueça, não
representam as lágrimas de um sentimentalismo desprezível e superficial, mas
sim as experiências profundas e verdadeiras de uma alma que compreende com
inteligência espiritual o significado e efeito prático da cruz.
CONCLUSÃO
Concluiremos
vendo o que o Senhor sempre esteve e sempre está buscando fazer no caso de
Israel e de Sua Igreja. Podemos dizer assim: Deus está sempre tentando
trazê-los para o coração, para o espírito, para a vida, para ocupar a base da
ressurreição.
Isso fica claro pela Páscoa no Egito, quando o primogênito
em cada lar no Egito foi morto naquela noite terrível. Mas Israel não estava
isento, como superficialmente se supõe. A idéia popular e superficial é que os
primogênitos em Israel não foram mortos, apenas os do Egito morreram. Mas os
primogênitos em todo o Israel foram mortos. A diferença era que os do Egito
foram realmente mortos e os de Israel de forma substitutiva.
Quando o cordeiro era morto em cada lar de Israel, para cada
família, o cordeiro representativamente sofria o mesmo julgamento dos
primogênitos no Egito, e Israel, representativamente, passava da morte para a
vida. Naquele cordeiro Israel foi levado através da morte para o terreno da
ressurreição. Para o Egito não havia terreno da ressurreição; para Israel
havia. Essa é a diferença.
Assim, todos morreram; uns em realidade e outros
representativamente. Desse modo, Deus, bem no início do estabelecimento da vida
nacional de Israel, procurou estabelecê-los no terreno da ressurreição, cujo
significado é: a morte aconteceu e um fim foi introduzido. Toda uma ordem de
coisas foi destruída e outra inteiramente diferente introduzida; e levá-los a
tomar sua posição nessa nova base, na nova ordem, foi o esforço e propósito de
Deus na Páscoa.
Cristo
foi sempre o pensamento primário de Deus, e por isso, logo que começa a falar
ou atuar, Ele aproveita a ocasião para manifestar Aquele que ocupava o lugar
mais elevado em Seus conselhos e afetos; e, seguindo a corrente de inspiração
divina, descobrimos que cada cerimónia, cada rito, cada ordenação, e cada
sacrifício indicava "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"
(Jo 1:29); porém em nenhum de uma forma tão evidente como a Páscoa. O cordeiro
da páscoa, com tudo que com ele se ligava, apresenta-nos uma das figuras mais
interessantes e instrutivas das Escrituras.
Espero
em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão
precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum
conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada
ao SENHOR JESUS.
Ev. José Costa Junior
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