21 de janeiro de 2014

A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA



A CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PÁSCOA – Ev. José Costa Junior

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

                O assunto desta lição diz respeito a celebração da primeira páscoa pelo povo de Israel e seu significado para a igreja do Senhor.

                Eis aqui a redenção do povo de Israel baseada sobre o sangue do cordeiro segundo o desígnio eterno de Deus. Isto dá à redenção toda a sua estabilidade divina. Exigiu-se dos filhos de Israel que oferecessem um sacrifício de sangue, e o cordeirinho sem defeito que eles mataram era um símbolo do Cristo morrendo na cruz. O sangue do cordeiro nas ombreiras das portas protegia-os do juízo de Deus: "Vendo o sangue, passarei por cima de vós".

                Hoje, "salvos pelo sangue" é o testemunho do povo de Deus no mundo inteiro, com o sangue de Cristo aplicado ao nosso coração. Mas outros também reivindicam o sangue. Adúlteros, viciados e até criminosos que estão na cadeia neste exato momento — todos vivendo em declarado pecado — dir-lhe-ão: "Deus não me julgará. Estou sob a proteção do sangue de Jesus! Há anos eu cri nele." Outros dizem: "Obediência não salva ninguém. O que você pensa a respeito do sangue não o salvará. Só o que Deus pensa acerca do sangue é importante. Obtenha a proteção do sangue e você estará salvo e seguro para sempre."

                É absolutamente verdadeiro que o sangue de Jesus proporciona proteção contra o juízo de Deus, mas apenas quando acompanhado de um coração obediente!

                Isto foi verdadeiro quanto aos filhos de Israel. A fim de estarem seguros pelo sangue sacrificial, os israelitas tiveram de satisfazer a determinadas condições de obediência. Primeiro, "que cada homem peça ao seu vizinho... jóias de prata e jóias de ouro. .. e roupas... O Senhor deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, de modo que estes lhes davam o que pediam" (Ex 11:2; 12:35-36). Fazer isto não apenas lhes proveria para o futuro mas também provaria que as pessoas que cressem em Deus seriam postas em liberdade. Teriam de provar sua fé pelas obras.

                A seguir, ordenou-lhes "tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia, e marcai a verga da porta e as suas ombreiras" (Ex 12:22). Nenhum anjo executaria esta tarefa para eles, nem Deus a faria para eles; e se tivessem recusado eles mesmos fazê-la, teriam morrido. Não obstante, ainda se exigia mais deles!

                Nesta mesma noite, suas casas deviam tornar-se casas de obediência. "Nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã" (Ex 12:22). Dentro da casa, deviam comer o cordeiro da páscoa, assado no fogo. Não devia ser comido cru ou cozido em água, e os israelitas deviam comê-lo com pães asmos, ou sem fermento, e com ervas amargas. Deus lhes ordenou que o fizessem com lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão — e deviam comê-lo às pressas.

                Não se tratava de simples assentimento intelectual de fé! Estes israelitas eram um povo obediente sobre o qual havia caído o temor de Deus, e eles desejavam ser libertos. Eles desejavam mais do que segurança — desejavam liberdade das forças do Egito. Eles estavam famintos, ansiosos por obedecer! Contraste-se isso com uma doutrina hodierna que declara: "Não é a obediência que conta. Não vivemos sob a lei. Nossa esperança está só no sangue!" Este ensino declara que se dissermos que a obediência é necessária, estamos tentando diminuir o poder do sangue. Todavia, foi a obediência explícita dos israelitas que provou que eles davam valor ao sangue!

                A verdade é que você pode sentir-se seguro sob o sangue e não obstante estar no Egito — ainda ao alcance do chicote do inimigo! O Senhor deseja que tenhamos mais do que proteção contra o juízo! Ele anseia por tirar-nos da prisão e escravidão do pecado — e levar-nos para um lugar vitorioso sobre a carne.

                O objetivo deste estudo é trazer algumas informações e textos, colhidos dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão a respeito da celebração da primeira páscoa pelo povo de Israel e seu significado para a igreja do Senhor . Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.


A PÁSCOA

                A páscoa é para Israel o que o dia da independência é para um país, e mais ainda. O último juízo sobre o Egito e a provisão do sacrifício pascoal possibilitaram o livramento da escravidão e a peregrinação do povo para a terra prometida. A páscoa é, segundo o Novo Testamento, um símbolo profético da morte de Cristo, da salvação e do andar pela fé a partir da redenção (I Co 5:6-8). Além do livramento do Egito, a páscoa se constituiu em primeiro dia do ano religioso dos hebreus e o começo de sua vida nacional. 

Ocorreu no mês de Abibe (chamado Nisã na história posterior), que corresponde aos nossos meses de março e abril.

A palavra "páscoa" significa "passar de largo", pois o anjo destruidor passou de largo as casas onde havia sido aplicado o sangue nas ombreiras e na verga da porta. Os detalhes do sacrifício e as ordenanças que o acompanhavam são muito significativos:

O animal para o sacrifício devia ser um cordeiro macho de um ano, isto é, um carneiro plenamente desenvolvido e na plenitude de sua vida. Assim Jesus morreu quando tinha 33 anos aproximadamente. O cordeiro tinha de ser sem mácula. Para assegurar que assim fosse, os israelitas o guardavam em casa durante quatro dias. De igual maneira Jesus era impecável e foi provado durante quarenta dias no deserto.

O cordeiro foi sacrificado pela tarde como substituto do primogênito. Por isso morreram os primogênitos das casas egípcias que não creram. Aprendemos que "o salário do pecado é a morte", porém Deus proveu um substituto que "foi ferido pelas nossas transgressões". Os israelitas tinham de aplicar o sangue nas ombreiras e na verga das portas, indicando sua fé pessoal. No Cristianismo não basta crer que Cristo morreu pelos pecados do mundo; somente quando pela fé o sangue de Jesus é aplicado ao coração da pessoa está ela salva da ira de Deus. O anjo exterminador representa a sua ira.

As pessoas tinham de permanecer dentro de casa, protegidas pelo sangue. "Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?" (Hb 2:3). Tinham de assar a carne do cordeiro e comê-la com pão sem fermento e ervas amargas. O fato de assar em vez de cozer o cordeiro exemplifica a perfeição do sacrifício de Cristo e o fato de que deve ser recebido por completo (Jo 19:33, 36). Assim como os hebreus comeram a carne que lhes daria força para a peregrinação, por meio da comunhão com Cristo o crente recebe força espiritual para segui--lo. O pão sem fermento simbolizava a sinceridade e a verdade (I Co 5:6-8) e as ervas amargas provavelmente representavam as dificuldades e as provações que acompanham a redenção.

Os israelitas deviam comê-lo em pé e vestidos como viajantes a fim de que estivessem preparados para o momento de partida (12:11). Assim o crente deve estar pronto para o grande êxodo final quando Jesus vier (Lc 12:35).

Desejando Deus que seu povo se lembrasse sempre da noite do seu livramento, instituiu a festa da páscoa como comemoração perpétua. A importância desta festa é demonstrada pelo fato de que na época de Cristo era a festa por excelência, a grande festa dos judeus. O rito não só olhava retrospectivamente para aquela noite no Egito mas também antecipadamente para o dia da crucificação. A santa ceia é algo parecido com a páscoa e a substitui no Cristianismo. De igual maneira, esta olha em duas direções: atrás, para a cruz, e adiante, para a segunda vinda (I Co 11:26).

                Dali para a frente, os israelitas haviam de consagrar ao Senhor, para serem seus ministros, os primogênitos dentre seus filhos, e também os de seus animais, pois pela provisão da páscoa os havia comprado com sangue e pertenciam a ele. Os que nasciam primeiro dentre os animais se ofereciam em sacrifício, exceto o jumento, que era resgatado e degolado, e assim também os animais impuros em geral (13:13; Lv 27:26, 27). Os primogênitos do homem eram sempre resgatados; depois os levitas foram consagrados a Deus em substituição deles (Nm 3:12, 40-51; 8:16-18). A aplicação espiritual ensina que Deus nos redime para que o sirvamos: "Ou não sabeis. . . que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" (I Co 6:19, 20).

OS ELEMENTOS DA PÁSCOA

                O cordeiro em torno do qual a congregação estava reunida, e com o qual fazia festa, era um cordeiro assado — um cordeiro que tinha sido submetido à ação do fogo. Vemos neste pormenor "Cristo a nossa páscoa" expondo-Se a Si Mesmo à ação do fogo da santidade e da justiça de Deus, que acharam n'Ele um objeto perfeito. Ele pôde dizer: "Provaste o meu coração; visitaste-me de noite; examinaste-me e nada achaste; o que pensei, a minha boca não transgredirá" (SI 17:3).Tudo n'Ele era perfeito. O fogo provou-O e não havia impureza. "A cabeça com os pés e com a fressura". Quer dizer, o centro da Sua inteligência; a Sua vida exterior com tudo quanto lhe pertencia — tudo foi submetido à ação do fogo, e tudo foi achado perfeito.

                A maneira como o cordeiro devia ser assado é profundamente significativa, como o são em pormenor as ordenações de Deus. Nada deve ser passado por alto, porque está cheio de significação — "não comereis dele nada cru, nem cozido em água". Se o cordeiro tivesse sido comido assim não teria sido a expressão da grande verdade que prefigurava segundo o propósito divino, isto é: que o nosso Cordeiro da páscoa deveria sofrer, na cruz, o fogo da justa ira de Deus; uma verdade, aliás, preciosa para a alma. Não estamos somente sob a proteção eterna do sangue do Cordeiro, como as nossas almas se alimentam pela fé da pessoa do Cordeiro. Muitos de nós enganamo-nos a este respeito. Estamos prontos a contentarmo-nos por estarmos salvos por meio da obra que Cristo cumpriu a nosso favor sem mantermos uma santa comunhão com Ele próprio. O Seu coração amoroso nunca poderá contentar-se com isto. Ele trouxe-nos para perto de Si para que pudéssemos apreciá-Lo, alimentarmo-nos d'Ele e regozijarmo-nos n'Ele. Cristo apresenta-Se perante nós como Aquele que sofreu o fogo intenso da ira de Deus, a fim de ser, neste caráter maravilhoso de Cordeiro, alimento para as nossas almas redimidas.

                Mas como devia ser comido este cordeiro?- "...com pães asmos; com ervas amargosas a comerão". O fermento é empregado, invariavelmente, através das Escrituras, como símbolo do mal. Nunca é usado nem no Velho nem no Novo Testamento como simbolizando alguma coisa pura, santa ou boa. Assim, neste capítulo, a celebração da festa com "pães asmos" é figura da separação prática do mal como resultado próprio de havermos sido lavados dos nossos pecados no sangue do Cordeiro e a própria consequência da comunhão com os Seus sofrimentos. Nada senão pão perfeitamente livre de fermento podia ser compatível com o cordeiro assado. Uma simples partícula daquilo que era figura destacada do mal teria destruído o caráter moral de toda a ordenação. Como poderíamos nós associar qualquer espécie de mal como a nossa comunhão com Cristo nos Seus sofrimentos?- Seria impossível. Todos aqueles que, pelo poder do Espírito Santo, têm compreendido a significação da cruz, não terão dificuldade, pelo mesmo poder, de afastar entre eles o fermento.

                "Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Peio que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade" (I Co 5:7-8). A festa de que se fala nesta passagem é a mesma que, na vida e conduta da Igreja, corresponde à festa dos pães asmos. Esta durava "sete dias"; e a Igreja, coletivamente, e o crente individualmente, são chamados para andar em santidade prática, durante os sete dias, ou seja todo o tempo da sua carreira aqui na terra; e isto, note-se, como resultado imediato de haverem sido lavados no sangue, e tendo comunhão com os sofrimentos de Cristo.

O israelita não deitava fora o fermento a fim de ser salvo, mas, sim, porque estava salvo; e se deixasse de o deitar fora, não comprometia com isso a sua segurança por meio do sangue, mas simplesmente a comunhão com a assembleia. "Por sete dias não se ache nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, aquela alma será cortada da congregação de Israel, assim o estrangeiro como o natural da terra". O corte de uma alma da congregação corresponde precisamente à suspensão de um cristão da comunhão, quando acede àquilo que é contrário à santidade da presença de Deus. Deus não pode tolerar o mal.

Um simples pensamento impuro interrompe a comunhão da alma; e enquanto a mancha produzida por este pensamento não for tirada pela confissão, baseada na intercessão de Cristo, não é possível restabelecer a comunhão (vide I Jo 1:5 -10). O cristão sincero regozija-se nisto; e dá louvores em memória da santidade de Deus (SI 97:12). Ainda que pudesse, não diminuiria, nem por um momento, o estalão: é seu gozo inexcedível andar na companhia d Aquele que não andará nem por um momento com uma simples partícula de "fermento".

Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os pães asmos, a significação e mesma utilidade moral. Não podemos desfrutar da participação dos sofrimentos de Cristo sem recordarmos o que tornou necessários esses sofrimentos, e esta recordação deve, necessariamente, produzir um espírito de mortificação e submissão, ilustrado, de um modo apropriado, nas ervas amargosas da festa da páscoa. Se o cordeiro assado representa Cristo sofrendo a ira de Deus em Sua Própria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o crente reconhece a verdade que Ele sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).

Por causa da leviandade dos nossos corações é bom compreendermos a profunda significação das ervas amargosas. Quem poderá ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em alguma medida, o significado dos pães asmos com ervas amargosas?- Uma vida praticamente santa, unida a uma profunda submissão de alma, deve ser o fruto da comunhão verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque é de todo impossível que o mal moral e a leviandade de espírito possam subsistir na presença desses sofrimentos.

Mas, pode perguntar-se não sente a alma um gozo profundo no conhecimento que Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por nós, o cálice da ira justa de Deus? Por certo que é assim. E este o fundamento inabalável de todo o nosso gozo. Mas, poderemos nós esquecer que foi" por nossos pecados" que Ele sofreu? Poderemos perder de vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões? Certamente que não. Devemos comer o nosso cordeiro com ervas amargosas; as quais, não se esqueça, não representam as lágrimas de um sentimentalismo desprezível e superficial, mas sim as experiências profundas e verdadeiras de uma alma que compreende com inteligência espiritual o significado e efeito prático da cruz.

                              
CONCLUSÃO
               
                Concluiremos vendo o que o Senhor sempre esteve e sempre está buscando fazer no caso de Israel e de Sua Igreja. Podemos dizer assim: Deus está sempre tentando trazê-los para o coração, para o espírito, para a vida, para ocupar a base da ressurreição.

Isso fica claro pela Páscoa no Egito, quando o primogênito em cada lar no Egito foi morto naquela noite terrível. Mas Israel não estava isento, como superficialmente se supõe. A idéia popular e superficial é que os primogênitos em Israel não foram mortos, apenas os do Egito morreram. Mas os primogênitos em todo o Israel foram mortos. A diferença era que os do Egito foram realmente mortos e os de Israel de forma substitutiva.

Quando o cordeiro era morto em cada lar de Israel, para cada família, o cordeiro representativamente sofria o mesmo julgamento dos primogênitos no Egito, e Israel, representativamente, passava da morte para a vida. Naquele cordeiro Israel foi levado através da morte para o terreno da ressurreição. Para o Egito não havia terreno da ressurreição; para Israel havia. Essa é a diferença.

Assim, todos morreram; uns em realidade e outros representativamente. Desse modo, Deus, bem no início do estabelecimento da vida nacional de Israel, procurou estabelecê-los no terreno da ressurreição, cujo significado é: a morte aconteceu e um fim foi introduzido. Toda uma ordem de coisas foi destruída e outra inteiramente diferente introduzida; e levá-los a tomar sua posição nessa nova base, na nova ordem, foi o esforço e propósito de Deus na Páscoa.

                Cristo foi sempre o pensamento primário de Deus, e por isso, logo que começa a falar ou atuar, Ele aproveita a ocasião para manifestar Aquele que ocupava o lugar mais elevado em Seus conselhos e afetos; e, seguindo a corrente de inspiração divina, descobrimos que cada cerimónia, cada rito, cada ordenação, e cada sacrifício indicava "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1:29); porém em nenhum de uma forma tão evidente como a Páscoa. O cordeiro da páscoa, com tudo que com ele se ligava, apresenta-nos uma das figuras mais interessantes e instrutivas das Escrituras.

                Espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.



Ev. José Costa Junior





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