15 de maio de 2009

Os Limites da Liberdade Cristã

1 – INTRODUÇÃO

A liberdade do crente permanece como tema da segunda unidade do nosso estudo. Estamos aprendendo que essa liberdade, para ser benéfica, deve ter os seus limites impostos pelo crente e baseados no conhecimento da Palavra de Deus e na consciência de ser ele o templo do Espírito Santo. O cristão modela sua liberdade pelas normas morais contidas na Bíblia e pelo que percebe ser a vontade de Deus para a sua vida.

Nessa lição, enfocaremos uma área vital em que precisamos usar com sabedoria na nossa liberdade cristã — o matrimônio. São múltiplas as dificuldades. E verdade que Deus deseja nossa autenticidade individual na vida cristã e na relação conjugal. Mas nossa liberdade não deve retirar a do nosso cônjuge e nem rebaixar os outros. Ao contrário, nosso livre-arbítrio para escolher uma vida abundante e plena de serviço cristão deve abençoar a vida dos nossos semelhantes e glorificar o nosso Deus.

Em muitos países, os conceitos de matrimônio, lar e família são desprezados e atacados abertamente. Satanás está destruindo a unidade fundamental da sociedade civilizada — a família. Se você é casado, lembre-se de que manter uma boa relação conjugal faz parte da obra de Deus. Não tente fugir da sua responsabilidade de marido ou esposa, com o pretexto de que “Deus vem em primeiro lugar”. Peça ao Senhor a graça de ser bondoso e compreensivo com relação à sua família e a outros (especialmente os novos crentes) que estão passando dificuldades matrimoniais.

II - LIBERDADE E LIMITES NO CASAMENTO
(7.1-24; MT 19.3-11; EF 5.15-33)


As palavras “quanto às coisas que me escrevestes” (7.1) dão a entender que Paulo irá responder a certas perguntas específicas colocadas pelos coríntios. O capítulo 7 pode ser dividido em duas partes relativas à vida conjugal: nos versículos 1-24, Paulo se dirige principalmente aos casados e nos versículos 25-40, aos solteiros.

1. Liberdade e limites nas relações sexuais

No capítulo 6, Paulo declara que os crentes não devem ter relações sexuais fora do casamento. Passa agora a dar uma orientação acerca do papel das relações sexuais no matrimônio. A expressão “tocar em mulher” se refere, na Bíblia e na literatura antiga, ao ato sexual (Gn 20.6; Pv 6.29), não ao casamento em si.
Paulo bem sabia que o celibato, tal como praticava (v. 7) tem as suas vantagens, mas apesar disso, não ensina contra o casamento. Veja suas magníficas palavras acerca do matrimônio em Efésios 5.15-33, como exemplo da relação de Cristo com sua Igreja. Paulo escreve aos coríntios para corrigir uma idéia errada acerca do corpo. A filosofia gnóstica exaltava o conhecimento e considerava o corpo como algo vil; só importava o espírito. O resultado dessa filosofia foram dois pontos de vista exagerados entre os coríntios:

1. “Já que o corpo não importa e vai morrer logo, vamos satisfazer todos os desejos da carne” (1 Co 15.32).

2. “O corpo é vil; por isso, não devemos satisfazer os seus desejos, mesmo nas coisas normais, como é o sexo no casamento”.

Paulo tratou do primeiro desses erros no capítulo 6 e passa agora a tratar do segundo. E bom estudarmos esse ensinamento, porque sempre há pessoas que afirmam que o castigo do corpo engrandece e agrada a Deus, o que não é verdade.

O sexo no casamento condiz plenamente com a vontade de Deus e nada tem de pecaminoso. Deus instituiu a família e ordena a procriação para garantir a continuidade da raça humana (Gn 1.27,28; 2.24; 9.1; Hb 13.4). A criação de filhos para servir a Deus é parte integral do plano dEle (Gn 18.19). O matrimônio é uma relação ou “sociedade” mútua, em que cada participante deve zelar pelos direitos e bem-estar do parceiro.

SEXO NO CASAMENTO

1 Coríntios 7.1-7
Normal, não pecaminoso
Salvaguarda contra a imoralidade
Satisfação mútua
Relação considerada equilibrada
Abstinência por consentimento mútuo

Em muitas culturas, os homens tratam suas esposas como escravas ou propriedade material. Mas o Cristianismo proporciona liberdade, respeito mútuo, amor e consideração ao casamento. O marido é o cabeça da família, mas tem a obrigação de tratar a esposa com amor e consideração (Ef 5.15-33).

Paulo recomenda o casamento como salvaguarda contra a imoralidade e a paixão (Mt 5.27,28). Nem todos têm o dom do celibato, a capacidade de permanecer virgem (vv. 7-9). Não há base bíblica para o celibato do clero. Alguns ministros conseguem permanecer solteiros pela graça de Deus, para melhor realizar a obra especial que o Senhor lhes destinou. Mas não seria justo exigir tal celibato de todo o clero, como querem alguns (1 Tm 4.1-3).
Debate-se bastante a questão do possível casamento e viuvez de Paulo. Creio que ele já era casado porque:

1. É difícil acreditar que um judeu tão zeloso como Paulo não tivesse casado, porque o celibato contradizia o ensino judaico.

2. Era evidentemente participante do Sinédrio, ou Supremo Tribunal Judaico (At 26.10), cujos membros eram todos casados.

3. É óbvio que, ao escrever suas cartas aos coríntios, Paulo era celibatário (9.5). Portanto, é razoável supor que sua esposa tivesse falecido ou abandonado o apóstolo após a conversão dele.

4. Limites no abandono da relação conjugal (7.10-24; Mt 19.3-1 1).

Os coríntios estavam confusos acerca do dever do crente com relação ao cônjuge descrente. Alguns ensinavam que deviam separar-se ou se divorciar. Paulo dá a sua resposta: “Não se divorciem!” Ele se baseia nos ensinamentos de Jesus em Mateus 5.3 1,32 e 19.3-11.

Os problemas relativos ao divórcio e separação são difíceis de resolver. Não há nos ensinos de Paulo ou de Jesus Cristo uma única regra abrangente e inflexível. Está claro que o Novo Testamento não admite divórcio quando se trata de um casamento crente (1 Co 7.10,11). Mas nos versículos 12-16, Paulo trata do casamento misto (crente com descrente). Mesmo nesse caso, os cônjuges não devem se separar, a menos que o descrente resolva abandonar a família ou exija a separação.

Em alguns casos, as condições parecem impossíveis. Por exemplo, um marido bêbado que surra a esposa e ameaça matar os filhos, ou uma esposa infiel que tem relações com um terceiro; um marido criminoso que tenta fazer sua esposa de cúmplice. “Deus chamou- nos para a paz” (v. 15) e, às vezes, a separação pode ser a única solução. Por outro lado, muitas esposas e maridos, pela graça de Deus, têm permanecido fiéis ao cônjuge nessas circunstâncias, e Deus tem feito milagres em seu favor. Em muitos casos, até em lares cristãos, o divórcio resulta do egoísmo, e não da situação difícil do(s) cônjuge(s). Qualquer crente que esteja contemplando o divórcio deve ler diariamente Efésios 5.15-33.

Nos casamentos mistos, o cônjuge descrente que não se submete à lei de Deus tem a opção de se separar e muitas vezes assim o faz (v. 15).
Mas o cônjuge crente, se possível, deve manter-se fiel e permanecer onde está, orando e confiando que o Senhor lhe dará a solução. Muitas vezes, o cônjuge descrente se entrega a Jesus e o lar passa a ser transformado pela sua influência santificadora.

Deve-se manter a família unida, se possível, em benefício das crianças. Muitos delinqüentes juvenis vêm de lares desfeitos. As crianças precisam entregar-se a Jesus Cristo. Elas merecem ter pai e mãe. Pais crentes exercem uma influência santificadora sobre seus filhos.

2. Problemas e princípios

Os pastores são chamados com freqüência a aconselhar casais ou indivíduos com problemas conjugais. Alguns já têm problemas tão complexos ao se entregar a Jesus, que seria preciso a sabedoria de Salomão para solucioná-los: divórcio, segundas núpcias, poligamias, famílias extraconjugais, cônjuges infiéis etc. Devemos buscar cuidadosamente as soluções bíblicas para problemas tão comuns como esses e aplicá-las aos nossos dias. Não há na Bíblia regras para todos os casos, mas Deus nos tem dado princípios válidos. Cabe-nos apelar ao Espírito Santo para nos orientar na aplicação deles a cada problema que enfrentamos.

O princípio dado nos versículos 20 e 24, num sentido prático, é um dos mais importantes do Novo Testamento. Leia duas vezes os versículos 17-24. Aquilo que Paulo “ordena” não vem da mente dele; é um princípio divino que ele simplesmente repete. Lembremos o seguinte:

1. Paulo escrevia sob inspiração do Espírito Santo.

2. Ele estava respondendo a problemas específicos.

3. Tratava alguns problemas não mencionados por Jesus nos Evangelhos.

4. Estava falando com novos crentes numa cidade com verdadeiro “fanatismo sexual”.

5. Tanto ele quanto os coríntios acreditavam que Jesus voltaria logo.

Esses fatos nos ajudam a entender melhor o capítulo inteiro. Já não moramos na Corinto do século 1, mas os princípios elaborados aqui são aplicáveis aos problemas de hoje. Paulo emprega o exemplo da circuncisão e da escravidão para ilustrar o princípio do versículo 20: Cada um permaneça na vocação em que foi chamado. Exemplifica também a sua aplicação. Somos incapazes de modificar determinadas situações (quem, por exemplo, tentaria desfazer a sua circuncisão?).
A tentativa de modificá-las só pioraria a situação; como no caso de desfazer o lar porque um dos cônjuges não é crente ou porque a situação não pode ser regularizada legalmente sem o divórcio de um cônjuge anterior, O exemplo da escravidão (vv. 2 1-23) nos mostra que “permanecer na sua vocação” não constitui uma ordem determinante; se a situação é suscetível de melhoramento. Deus compreende as nossas circunstâncias e geralmente conseguimos servi-lo melhor na situação em que já nos encontramos.

O princípio de permanecer na sua vocação (v. 24) tem inúmeras aplicações à vida em geral e aos dons que Deus dá a cada um de nós. Não obrigamos o músico nato a ser mecânico, nem o fazendeiro a tornar-se advogado. A igreja deve deixar que o evangelista faça aquilo que é a sua vocação sem tentar obrigá-lo a ser pastor (Rm 12.6-8). Deus nos chamou primeiro à salvação


(1 Co 1.9) e depois a várias funções.

Vamos considerar a aplicação do princípio do versículo 24 a certos problemas. Toda regra imposta pela igreja e toda solução proposta para problemas conjugais têm de levar em conta as leis e costumes de cada país; alguns permitem o divórcio, outros não. Devemos considerar também as circunstâncias de cada caso. Os problemas são tão diversificados que não bastam regulamentos simples e generalizações exageradas. Mas é muito útil a aplicação dos vários princípios bíblicos que temos à disposição.

Por exemplo, um indivíduo que esteve amigado com três mulheres antes da sua conversão deveria deixar a terceira (com quem vivia quando convertido) e tentar voltar à primeira? Até certo ponto, a sua resolução poderia depender de qual delas (se alguma) foi a sua legítima esposa, da existência de filhos etc. Contudo, em muitos casos, o bom senso indica que esse homem deveria ficar com a esposa com quem vivia quando se converteu.

Muitos problemas são dificílimos de resolver. Devemos pensar na solução mais benéfica para cônjuges e filhos (se existem). A meu ver, a melhor resposta reside, na maioria das vezes, na aplicação do princípio contido nos versículos 20 e 24 do capítulo 7.

3. Liberdade fora do casamento


3.1. Liberdade de não casar

Paulo passa a responder outra pergunta específica no versículo 5. Tem a ver com o casamento (ou não) de virgens. Nesse trecho vv. 25-40), emprega-se cinco vezes a palavra virgem com significado feminino. (Apocalipse 14.4 fala de virgens do sexo masculino mas a linguagem é simbólica e não vem ao caso.)
Paulo diz não ter recebido mandamento específico do Senhor a respeito dessa questão (v. 25). Os Evangelhos nada dizem sobre essa situação, e Paulo não recebeu nenhuma revelação particular do Senhor. Mas ele dá a sua opinião, como pessoa digna de confiança. Ao lermos os versículos 25-40, temos a impressão de que o apóstolo Paulo se opõe ao casamento. Nada mais longe da verdade! Ele simplesmente aconselha o celibato às jovens coríntias daquela época. Isso não contradiz o ensino geral das Escrituras a respeito do casamento encontrado em gênesis, nas palavras de Jesus e em outros trechos bíblicos: “Venerado seja entre todos o matrimônio” (Hb 13.4).

O solteiro (ou solteira) não deve se sentir pressionado a casar simplesmente porque é “costume”. Nem precisa sentir-se desprezado, inferiorizado ou envergonhado. Esse trecho bíblico oferece uma excelente resposta àquelas pessoas que aconselham “casamento a todo custo”. O primeiro motivo dado por Paulo em apoio ao celibato é a existência de uma “angustiosa situação”. Qual foi essa situação? Não sabemos. Mas é verdade que certas crises tornam necessário o adiamento ou abandono de planos matrimoniais: doença, guerra, responsabilidade de cuidar de pais idosos ou sustentar a família etc.


4. Motivo de celibato


Depois, Paulo menciona “angustia na carne”. Há problemas bem conhecidos aos casados: falta de emprego, buracos no telhado, colheita ruim, carência de comestíveis, nenê doente, frustração sexual, vizinhos desagradáveis, filhos rebeldes, o desafio de alimentar, vestir e educar uma família etc. Os solteiros não têm de enfrentar os mesmos problemas que o casal é obrigado.

O marido cristão tem o dever de sustentar a sua família, e os demais maridos também possuem responsabilidade igual (Gn 3.19; 1 Tm 5.8). Paulo não condena tal situação, mas mostra como a vida celibatária é vantajosa para o ministério cristão. Compreendemos bem a dificuldade de equilibrar simultaneamente os deveres de pai (ou mãe) e de ministro do Evangelho, sem prejudicar nenhum aspecto da nossa vocação total. O próprio Paulo não poderia ter desenvolvido o ministério que teve no vasto campo missionário, se tivesse a responsabilidade de criar uma porção de filhos.
Mesmo assim, vemos que Pedro e outros apóstolos viajavam acompanhados por suas esposas (9.5). Às vezes, o ministério de um pastor se torna mais eficaz por causa do apoio da família.

No versículo 7, Paulo nos informa que algumas pessoas sentem a vocação do celibato, recebendo de Deus o dom de permanecer celibatárias com grande alegria e contentamento. Em 7.39, vemos que o crente não deve se casar com o descrente. E as palavras “com quem quiser” implicam na não-obrigação de casar com alguém de quem a pessoa não goste. Outro motivo do celibato é a falta de ocasião ou de pessoas idôneas para o casamento.

Em algumas regiões do mundo há muito mais mulheres que homens. Nas áreas onde se prática a poligamia, existem menos moças que rapazes livres para casar. Seja por livre alvitre ou por falta de ocasião de realizar um bom casamento, as pessoas que permanecem solteiras levam sempre vantagem sobre as malcasadas.

5. Liberdade de casar

Os versículos 36-38 constituem um trecho difícil. Muitos comentaristas têm lutado com o significado da expressão: “sua virgem” (filha) no versículo 36, por exemplo. O trecho pode referir-se às seguintes relações:

1. Pais e filhas virgens.

2. Um rapaz e sua noiva.

3. Um casa, cujos cônjuges convivem como irmãos num “casamento espiritual”, evitando as relações sexuais.

Pessoalmente, prefiro a primeira dessas três interpretações porque:

1. Naquela época, os pais costumavam arranjar o casamento das suas filhas; ainda hoje se pratica esse costume em muitos países.

2. O verbo que inicia o versículo 38 significa “dar em casamento” e não “casar-se”.

Vemos a natureza toda especial desse capítulo, ao nos darmos conta de que o apóstolo Paulo enumera apenas três motivos ou vantagens do casamento num total de quarenta versículos. O primeiro (v. 8) refere-se à paixão sexual (“abrasado”); pode ser também uma alusão ao fogo do julgamento divino sobre aqueles que caem na imoralidade ou desleixo pessoal. Deus nos fez, homens e mulheres com um desejo sexual normal, para garantir a continuidade da raça humana.
Mas a mera atração sexual não basta como fundamento do matrimônio. Um casamento baseado apenas nisso pode fracassar caso apareça alguém mais atraente. O segundo motivo em favor do casamento aparece no versículo 39: casar não é pecado. Já estudamos a atitude dos coríntios a esse respeito e a resposta dada pelo apóstolo.

6. Motivos para o casamento

Melhor casar que viver abrasado 7.9
Não é pecado casar 7.36
Desejo de casar 7.39

7. Outras escrituras

Relação instituída por Deus Mt 19.4-6
Vantajoso ao homem Gn 2.18-24
Continuar a espécie Gn 9.7
Em prol das crianças Dt 6.1-9
Estado digno de honra Hb 13.4
Desejo normal 1 Tm 5.11,13,15

O terceiro motivo diz respeito à liberdade ou direito de casar (v. 39) e estabelece um limite. Paulo fala nesse trecho das segundas núpcias de um viúvo ou viúva. Após a morte do cônjuge, o sobrevivente tem a liberdade de casar-se com quem quiser, contanto que seja crente (“somente no Senhor”).

Nos dias de hoje, Satanás está tentando destruir o casamento, o lar e a família. A promoção do sexo, prostituição, homossexualismo, divórcio e concubinato são sinais desse fato; há em tudo isso uma fuga de responsabilidade dos participantes. Muitas nações e civilizações do passado foram destruídas por esses mesmos males. Hoje vemos epidemias de doenças venéreas sem cura; as crianças inocentes sofrem mais, tanto nas doenças que lhes são transmitidas quanto no abandono familiar e na falta de treinamento moral. Esposas e filhos abandonados lutam para sobreviver sem recurso jurídico ou sustento paternal.

O matrimônio implica num compromisso mútuo e voluntário que dura até a morte dos cônjuges. A família estável e temente a Deus é a pedra fundamental da comunidade ou nação bem-sucedida. Os lares de crentes devem ser o modelo da retidão do plano de Deus e a evidência da sua bênção divina. Paulo escreveu esse segmento da sua epístola para responder a certas perguntas específicas, sem o propósito de tratar de forma abrangente o assunto do matrimônio. Mesmo assim, os princípios que ele comunica são válidos até os nossos dias. “O que acha uma mulher acha uma coisa boa, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22).

III - LIBERDADE, ÍDOLOS E COMIDA (8; 10.14-23)

1. Liberdade no conhecimento da idolatria

No capítulo 8, o apóstolo Paulo responde a mais uma pergunta dos coríntios, referente ao consumo de carne oferecida a ídolos. Antes da sua conversão, muitos dos crentes em Corinto eram pagãos, adoravam ídolos e sacrificavam animais aos seus deuses. Nesses sacrifícios, juravam sua devoção às respectivas deidades, invocavam a bênção dos deuses representados pelos ídolos e se comunicavam com as forças diabólicas, enquanto comiam uma parte da carne sacrificada (1 Co 10.18). Tudo isso era um ato de louvor pagão. O restante da carne era consumida pelos sacerdotes ou vendida no mercado. Após a sua conversão, os crentes coríntios desejavam saber se ainda seria lícito comer daquela carne oferecida aos ídolos ou se deveriam abster-se de tal consumo.

A adoração aos ídolos é bem antiga no nosso mundo; as civilizações antigas acreditavam que certos animais eram portadores de espíritos divinos que divinizavam os próprios animais. Fabricavam-se imagens de touros, peixes e crocodilos, as quais se tornavam deuses do povo. Lembremos ainda o que Arão (irmão de Moisés) fez com o bezerro de ouro (Ex 32.5,6; J5 24.14). Deus proibiu Israel de fazer imagens (Ex 20.4) e até mandou destruir os ídolos de deuses estrangeiros (Dt 12.2,3). Houve, de fato, uma história de fracassos a esse respeito, mesmo assim muitos judeus escolheram morrer a deixar a idolatria.

O povo dos tempos de Paulo (e algumas civilizações de nossos dias) adoravam deuses da natureza e também ídolos feitos de madeira, pedra e metal. Cultuavam, conforme a crença pagã, o Sol, a Lua, as estrelas, as montanhas, os rios e as árvores. Certos deuses e deusas deviam controlar a chuva, o sucesso na guerra, a agricultura etc. Os gregos adoravam muitos deuses (At 17.23). Os romanos proclamavam também a divindade dos seus imperadores. Rodeados de tais práticas, os cristãos podiam evitar contatos freqüentes com a idolatria.

Antes da sua conversão, os gentios viviam com medo dos seus deuses, mas o Evangelho os havia libertado dessa opressão. Eles, como o apóstolo Paulo, sabiam que os ídolos não eram nada e não conheciam o Deus verdadeiro, cultuado por judeus e cristãos. Ele é único, eterno, o Criador, onipotente e onisciente. O poder dEle ultrapassa o poder dos demônios. Os crentes não precisavam mais apelar aos ídolos. Eles amavam o seu Deus, e por isso não mais adoravam a ídolos. Mas deviam ou não comer da carne oferecida a eles? Isto é o que não sabiam, e houve entre eles duas opiniões bem divergentes; alguns achavam que sim e outros não.
Os crentes que comiam tal carne baseavam-se na sua liberdade e no conhecimento da nulidade do poder dos ídolos. Paulo dá o seu parecer a respeito, frisando que o conhecimento dos fatos deve ser equilibrado pelo amor.
Tanto o conhecimento quanto o amor são essenciais para a atividade humana e constituem parte importante da vida cristã. “Sabemos que todos temos ciência”, diz Paulo (v. 1). As vezes, o saber (conhecimento) ensoberbece o sábio, e foi assim que aconteceu no caso dos coríntios.

CONHECIMENTO AMOR
No cérebro No coração
Adquirido pelo estudo Cultivado com a ajuda de Deus
Ensoberbece — 1 Co 8.1 Edifica
Inferior — 13.2 Superior
Provisório 13.8,13 Permanece


O conhecimento (saber) sem o amor pode ser destrutivo, tanto na vida do “sábio” quanto na sua relação com os demais; pode até afastar as pessoas do Senhor (8.11). Como no caso do fogo e da água, precisamos de ambos os elementos para levar uma vida equilibrada e não devemos desprezar nem negar a sua utilidade.

Os mesmos elementos têm função construtiva e destrutiva, conforme o uso; o perigo está no exagero ou na falta de controle. O conhecimento que obtemos através do estudo pode abençoar e instruir a humanidade, e assim devemos fazer.

2. Liberdade limitada pelo amor

Paulo salienta a existência de um só Deus, manifesto em três pessoas — o Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. (Compare o versículo 6 com Cl 1.15-17 e Ef 4.6.) Os judeus crentes em Jesus que moravam em Corinto entendiam bem a nulidade dos ídolos, mas nem todos os habitantes da cidade percebiam esse fato (vv. 4,7-9). Os gregos recém-convertidos, que passavam a vida inteira cultuando os ídolos, levariam um choque se vissem alguns cristãos mais maduros na fé fazendo sua refeição num templo idólatra.

Tal exemplo poderia levá-los a fazer igual e a confiar novamente no valor ou poder do ídolo por causa do mal-entendido. Assim, os irmãos menos estáveis poderiam ser “destruídos” (vv. 10-13). Por isso, diz Paulo, o crente mais maduro ou experiente nem sempre deve insistir nos seus direitos espirituais, pois seria pecado exercer toda a sua liberdade, se essa causasse a queda dos irmãos mais fracos.

O versículo-chave é o 9. Memorize esse versículo. Paulo reconhece a liberdade dos crentes coríntios: “Todas as coisas me são lícitas...” mas apela a eles no sentido de aplicarem em tudo uma lei superior, a lei do amor. Para não ferir ou ofender o irmão de consciência mais frágil, o crente forte deve estar disposto a restringir sua própria liberdade.

3. O amor limita a liberdade

Não deixe que o exercício de sua liberdade escandalize os mais fracos, conduzindo-os ao erro.

A lei do amor aplica-se de diversas maneiras. Os costumes e normas dos crentes variam bastante de uma igreja para outra no que diz respeito à comida, bebida, ao vestuário, ao uso de enfeites, às diversões etc. Tais diferenças têm causado até rupturas e mal-entendidos em algumas congregações. A semelhança do apóstolo Paulo, devemos estar dispostos a “ceder um passo” em nossas convicções para ajudar os nossos irmãos na fé (v. 13). Podemos por à prova a nossa liberdade e seu exercício, colocando três perguntas sugeridas por Paulo como critério de atuação:

1. É benéfico?

2. Convém aos demais?

3. Prejudica aos demais?

Vamos supor que você seja um pastor, e os membros da sua congregação costumam beber vinho leve com boa consciência, como fazem muitos crentes na Europa. Então vai pastorear uma outra igreja com forte preconceito contra o consumo de bebidas alcoólicas, por haver naquela congregação vários ex-bêbados salvos pela graça de Jesus. Qual deve ser seu procedimento e por quê? Lembre-se de que a ciência às vezes incha, mas o amor sempre edifica.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Thomas Reginald Hoover