As obras da carne e o Fruto do Espírito
Texto
Áureo = "Porque, se viverdes
segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do
corpo, vivereis". Rm 8.13
Verdade Aplicada = A escolha certa pode fazer toda diferença na hora
do toque da trombeta celestial.
Objetivos da Lição
► Saber que as nove características do
Fruto do Espírito constituem o propósito e o alvo de Deus para os crentes;
► Aprender que quem vive no fluir do
Espírito sua conduta é sempre pacificadora e conciliadora;
► Reiterar que o cristão que tem o fruto
do Espírito é sempre uma bênção para sua igreja e para o Reino de Deus.
Textos de Referência = Galatas5:16 -22
AS OBRAS DA CARNE E O FRUTO DO ESPÍRITO
A
liberdade cristã não libera o crente andar segundo o curso desse mundo, mas
para viver e se conduzir sob a vontade, direção e influência do Espírito
Santo.
"Porque
não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados,
contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as
hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12).
Em cada
crente há uma batalha espiritual - a luta da carne contra o Espírito. A carne,
aqui, significa o conjunto de impulsos pecaminosos que domina o homem natural.
As obras da carne estão classificadas em pecados de ordem moral, religiosa e
social. Em contrapartida, quando o Espírito Santo habita na vida do crente,
este não se encontra mais sob o jugo dá carne, seus desejos e obras
pecaminosas, mas está livre para produzir o fruto do Espírito, o qual não é
resultante de uma imposição religiosa ou de qualquer sistema religioso
legalista. O fruto do Espírito, nesta lição, está classificado em virtudes
universais, sociais e individuais.
Por não
haver cristão totalmente isento de pecado, pois isso seria perfeição absoluta
(1Jo 1.8,9), Deus nos deu a condição suficiente para vencermos as tentações: o
Espírito Santo. Viver no Espírito é subjugar a carne e isso gera o conflito
interno, a luta da carne contra o espírito. O estudo de hoje é uma análise
dessa batalha espiritual de cada cristão.
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA BÍBLICA
1. Alma. Alma é a substância incorpórea e invisível do homem, inseparável do
espírito, embora distinta dele, no interior do homem, consciente mesmo fora do
corpo (Mt 10.28). É a sede dos apetites (Dt 12.20; Ec 2.24), das paixões (Ct
1.7), e das emoções (Jó 30.25). A palavra "alma", além do seu sentido
real, aparece também com sentido figurado, como em Êx 1.5 (figurando a pessoa
física); Gn 9.4 (sangue); Jó 12.10 (vida), etc. É, pois, necessário entender o
contexto para ver o sentido do termo.
2. Espírito.O espírito
veio diretamente de Deus (Gn 2.7; Zc 12.1) e tem sede de Deus. Há quem diga
que o espírito de todos os homens, independentemente de seu relacionamento com
Deus, volta para o céu, com base em Ec 12.7: "E o pó volte à terra, como
o era, e o espírito volte a Deus, que o deu", mas isto não tem fundamento
doutrinário ante a analogia geral das Santas Escrituras sobre o assunto,
inclusive porque o espírito também peca (2 Co 7.1).
3. Corpo.O corpo
físico do homem é o invólucro da alma e do espírito; é a parte material. A
alma e o espírito são chamados de "homem interior" ou parte
imaterial, e o corpo de "homem exterior" (2Co 4.16). O corpo é a habitação
ou morada da alma e do espírito, também chamado de tabernáculo ou casa (2Co
5.1-4; 2 Pe 1.14). O homem é, pois, constituído de corpo alma e espírito (1Ts
5.23; Hb 4.12). O nome técnico dessa doutrina é tricotomia.
4. O contraste entre a carne e o
espírito.A palavra grega sarx, "carne",
tem vários significados na Bíblia, principalmente nas epístolas. Pode significar
fraqueza física (Gl 4.13), o corpo, o ser humano (Rm 1.3), o pecado (v.24), os
desejos pecaminosos (Rm 8.8). O contexto quando corretamente interpretado
determina o significado da palavra. Aqui significa o conjunto de impulsos
pecaminosos que dominam o homem natural. Da mesma maneira a palavra grega pneuma,
"espírito", que se aplica ao Espírito Santo, ao espírito
humano, aos anjos e aos espíritos imundos. É preciso atentar bem para o
contexto da referência em apreço para verificar o sentido do termo.
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRAS DA CARNE
1. Pecados de ordem moral (v.19)."Prostituição, impureza, lascívia..." são pecados da
sensualidade ou do corpo (1Co 6.18).
a) Os pecados.A palavra "prostituição" (porneia, em
grego) aqui, referese a toda e qualquer relação sexual ilícita. Em outras
palavras, tudo o que envolve imoralidade sexual está concentrado nessa
palavra. A impureza e a lascívia estão no mesmo contexto. "Impureza"
pode denotar impureza ritual, mas aqui diz respeito à licenciosidade. A palavra
"lascívia" designa "indecência, dissolução, desenfreio,
luxúria", denota excesso, incontinência sexual, libertinagem, inclusive
no traje (Rm 13.13; 1Pe 4.3; Jd v.4).
b) O povo.A sociedade greco-romana era dada à licenciosidade. Quem visita, ainda
hoje a Grécia e a Turquia, parte do mundo greco-romano do século I, pode ver
uma pálida amostragem do que seria a sociedade da época, a começar pelo ritual
religioso deles. Talvez isso justifique o fato de a Bíblia começar a lista com
os pecados da licenciosidade. Hoje a tendência é inverter os valores morais. A
medida que o tempo avança a
sociedade vai se tornando mais permissiva quanto ao pecado e os homens vão se
distanciando cada vez mais de Deus.
2. Pecados de ordem religiosa (v.20)."Idolatria, feitiçarias..." são os
pecados da área da religião, ou pecados do espírito (2Co7.1).
a) Idolatria.É a adoração aos ídolos ou deuses falsos. Deus abomina tal prática, que
é condenada no Decálogo (Êx
20.1-6) e em toda a Bíblia.
b) Feitiçaria. A palavra no original aqui, pharmakeia, significa
"magia", além de "feitiçaria". O termo no original envolve
a manipulação de drogas na medicina, de onde vem a palavra
"farmácia", mas os mágicos e bruxos manipulavam os efeitos
alucinógenos dessas drogas nos rituais de magia (Ap 21.8; 22.15). Hoje a
feitiçaria envolve toda a forma de ocultismo.
3. Pecados de ordem social (vv.20b, 21).Há uma lista quase queinterminável desses pecados
(ver Rm 1.29-31). O
apóstolo apresenta aqui nove desses pecados: "inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios...".
A presença de "heresias" nesta lista é que a palavra grega hairesispode
se aplicar no âmbito religioso ou social, significando "escolha filosófica,
facção, dissensão" (1Co 11.19). Também tem o sentido de erro doutrinário
(2Pe 2.2) ou seita (At 5.17; 23.5).
A Bíblia
cita ainda os pecados do sistema alimentar; bebedices, glutonarias, além da
expressão "coisas semelhantes a estas".
O FRUTO DO ESPÍRITO
1. Virtudes universais (v.22).Caridade, gozo e paz. Esse trio diz respeito ao nosso relacionamento com
Deus.
a) Caridade."Amor" na Versão Almeida Atualizada. As quatro palavras
gregas para amor são: eros, inclui paixão, sendo o amor no sentido de
atração de um jovem por uma jovem, e não aparece no Novo Testamento; storgos,
significa "carinhoso, afetuoso" usado entre pais e filhos e só
aparece uma vez no Novo Testamento, na sua forma composta filostorgos(Rm
12.10); filia, é o amor fraternal; e agápe, é o amor de Deus mais
solícito em fazer o outro feliz, ou seja, é a benevolência sem limites. Podemos
chamá-lo de amor cristão.
b) Gozo.Isso fala de gozo interior, regozijo, alegria, motivo de alegria. Algo
proveniente de uma experiência espiritual, cujo fundamento está em Deus. Não
conseqüência de uma vitória numa competição (Rm 14.17; 15.13).
c) Paz.Seu
correspondente hebraico éshalom e não significa apenas ausência de problemas, de
guerra ou a presença do bem-estar. A palavra por si só significa "completo".
A paz aqui quer dizer a tranqüilidade do coração, proveniente do perdão de Deus
mediante a fé em Jesus (Rm 5.1).
2. Virtudes sociais. Longanimidade, benignidade e bondade. São virtudes do relacionamento humano
entre os cristãos. "Longanimidade" é "paciência, perseverança",
e diz respeito a atitude de Deus para com o homem (Rm 2.4; 9.22; 1 Tm 1.16). Assim deve ser a nossa
atitude para com os outros. Benignidade e bondade estão muito relacionadas.
3. Demais virtudes.Fé,
mansidãoe temperança. A palavra original pistispara "fé" pode
significar a fé como elemento, e também "fidelidade". Essas virtudes
que estamos estudando são o fruto do Espírito, como decorrência da fé em
Jesus; por isso que a tradução "fidelidade" fica melhor. Mansidão
transmite o sentido de brandura e não de incapacidade de resistir o mal. Tem o
sentido de submissão à vontade de Deus (Mt 21.5); dócil, que aceita o ensino
(Tg 1.21); e o de moderado (1 Co 4.21). Temperança é o autocontrole, o domínio
próprio paraque os interesses pessoais não sobressaiam nos negócios espirituais
e nos seculares.
CONCLUSÃO
O fruto
do Espírito é o resultado de uma vida redimida pela fé em Jesus. Não é
resultado de uma imposição religiosa ou de qualquer sistema religioso
legalista. O Espírito Santo é quem faz essas coisas na vida do cristão. É por
isso que o apóstolo diz que "contra essas coisas não há lei" (v.23). Se queremos que o fruto do
Espírito se desenvolva em nossa vida, devemos viver uma vida de comunhão
pessoal com o Senhor Jesus (Gl 2.20).
Bibliografia E. Soares
A carne e o Espírito Gl5:16-25
A grande
ênfase da segunda metade da Epístola aos Gálatas é que em Cristo a vida é
liberdade. Estávamos sob servidão da maldição ou condenação da lei, mas Cristo
nos libertou dela. Éramos escravos do pecado, mas agora somos filhos de Deus.
Mas cada
vez que Paulo escreve sobre a liberdade ele acrescenta a advertência de que ela
pode ser muito facilmente perdida. Há os que deslizam da liberdade para a
escravidão (5:1); outros transformam sua liberdade em licenciosidade (5:13).
Este foi o tema de Paulo nos últimos dois parágrafos que já consideramos.
Particularmente nos versículos 13 a 15 da lição nº 10, onde ele enfatizou que
a verdadeira liberdade cristã se expressa no autocontrole, no serviço cheio de
amor prestado ao nosso próximo e na obediência à lei de Deus. A questão agora
é: como essas coisas são possíveis? E a resposta é: pelo Espírito Santo. Só ele
pode nos manter verdadeiramente livres.
Esta
seção na qual Paulo desenvolve esse tema está simplesmente cheia do Espírito
Santo. Ele é mencionado sete vezes. É apresentado como o nosso santificador, é
o único que pode se opor à nossa carne e subjugá-la (versículos 16, 17),
capacitar-nos a cumprir a lei para sermos libertados do seu sombrio domínio
(versículo 18) e produzir o fruto da justiça em nossas vidas (versículos 22,
23). Assim, o desfrutar a
liberdade cristã depende do Espírito Santo. Na verdade, é Cristo que nos
liberta. Mas sem a obra contínua, orientadora e santificadora do Espírito
Santo, a nossa liberdade tende a degenerar em licenciosidade.
O tema
deste parágrafo pode ser dividido em duas partes, intituladas "o fato do
conflito cristão" e "o caminho da vitória cristã".
O Fato do Conflito Cristão (vs. 16-23)
Os combatentes no conflito cristão são chamados de
"a carne" e "o Espírito". Versículos 16 e 17: Andai no Espírito, e jamais satisfareis à
concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito
contra a carne... Com "carne" Paulo quer dizer o que somos por
natureza e hereditariedade, nossa condição caída, o que a Bíblia na
Linguagem de Hoje chama de "os desejos da natureza humana". Com
"Espírito" ele parece referir-se ao próprio Espírito Santo, que nos
renova e regenera, primeiro dando-nos uma nova natureza e, então, permanecendo
em nós. Mais simplesmente, poderíamos dizer que "a carne" representa
o que somos por nascimento natural, e "o Espírito" o que nos tornamos
pelo novo nascimento, o nascimento do Espírito. E estes dois, a carne e o
Espírito, vivem em ferrenha oposição.
Alguns
mestres sustentam que o cristão não tem conflito interior, ou qualquer guerra
civil dentro de si, pois, segundo eles, a sua carne foi erradicada e sua velha
natureza está morta. Esta passagem contradiz tal ponto de vista.
Os cristãos, na expressão vivida de Lutero,
não são feitos de "pau e pedra", isto é, não são pessoas que
"nunca se emocionam com nada, nunca sentem qualquer desejo ou anseio da
carne".É verdade que, à medida que aprendemos a andar no Espírito, a carne
fica cada vez mais subjugada. Mas a carne e o Espírito permanecem, e o conflito
entre eles é feroz e incessante. Na
verdade, podemos até dizer que este é um conflito especificamente cristão. Não
negamos que exista uma coisa chamada conflito moral nas pessoas que não são
cristãs; no entanto, ele é mais feroz nos cristãos porque eles possuem duas naturezas, a carne e
o Espírito, que vivem em um antagonismo irreconciliável.
Consideremos
agora o tipo de comportamento através do qual se expressam as duas naturezas.
a. As obras da carne (vs.
18-21)
As obras da carne, diz Paulo, são conhecidas.São óbvias a
todos. A carne propriamente dita, a nossa velha
natureza, é secreta e invisível; mas as suas obras, as palavras e os atos pelos
quais se manifesta, são públicos e evidentes. E quais são?
Antes de
examinarmos a lista das "obras da carne", convém dizer algo mais
sobre a expressão "a concupiscência da carne" (versículo 16).
Infelizmente essa expressão veio a ter em português uma conotação que o seu
equivalente grego não tem. Atualmente, "concupiscência" significa
"desejo sexual descontrolado" e "carne" significa
"corpo", de modo que "a concupiscência da carne" e "os
pecados da carne" são (na linguagem comum) aqueles atos relacionados com
os nossos apetites físicos. Mas o que Paulo quis dizer é muito mais do que
isso. Para ele "a
concupiscência da carne" é todo desejo pecaminoso de nossa natureza caída.
Isto fica bem explícito no seu feio catálogo de "obras da carne".
Não que
a lista seja exaustiva, pois ele a conclui dizendo "e cousas
semelhantes" (versículo 21). Mas o que ele inclui abrange pelo menos quatro áreas: sexo, religião, sociedade e alimentação.
Primeiro, a área do sexo: prostituição, impureza, lascívia (versículo
19). A palavra "prostituição" geralmente é
traduzida por "fornicação", dando a entender uma relação sexual entre
pessoas que não são casadas; mas pode referir-se a qualquer tipo de
comportamento sexual ilegal. Talvez "impureza" pudesse ser traduzida
por "comportamento anormal" e "lascívia" por
"indecência", uma alusão a "um público e atrevido desprezo pelo
decoro". Essas três palavras são suficientes para mostrar que todas as
ofensas sexuais, sejam elas públicas ou particulares, "naturais" ou
"anormais", entre pessoas casadas ou solteiras, devem ser
classificadas como obras da carne.
Em segundo lugar temos a área da religião: idolatria,
feitiçarias (versículo 20). É importante perceber que a idolatria é tão obra da carne quanto a
imoralidade, e que assim as obras da carne incluem ofensas contra Deus além das
ofensas contra o próximo ou contra nós mesmos. Se "idolatria" é o
impudente culto prestado a outros deuses, "feitiçaria" é "o
intercâmbio secreto com os poderes do mal".
Terceiro, a área social. Paulo nos dá agora oito exemplos de colapso de relacionamentos
pessoais, que a Bíblia na Linguagem de Hoje traduz por "inimizades,
brigas, ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta (ou "acessos de
cólera" e "rivalidades"), desunião, paixão partidária,
invejas" (versículos 20, 21).
Quarto, a área da alimentação:bebedices, glutonarias (ou, segundo a BLH, "farras", versículo 21).
A esta
lista de obras da carne no campo do sexo, da religião, da sociedade e da
alimentação, Paulo acrescenta uma solene advertência: como já outrora vos
preveni (quando esteve com eles na Galácia), que não herdarão o reino de
Deus os que tais coisas praticam (o verbo prassontesrefere-se a uma
prática habitual e não a um acontecimento isolado, versículo 21). Considerando
que o reino de Deus é um reino de piedade, retidão e autocontrole, aqueles que
satisfazem a carne serão excluídos dele, pois tais obras dão evidência de que
não estão em Cristo. E, se não estão em Cristo, não são descendência de Abraão,
não são "herdeiros segundo a promessa" (3:29). Quanto a outras
referências à nossa herança em Cristo, esperadas ou perdidas, veja Gálatas
4:7,30.
b. O fruto do Espírito (vs. 22,
23)
Temos
aqui um aglomerado de nove
graças cristãs que parecem descrever a atitude do cristão para com Deus,
outras pessoas e ele mesmo.
Amor, alegria, paz.Esta é uma tríade de virtudes cristãs universais.
Mas parece que se referem principalmente a nossa atitude para com Deus, pois o
primeiro amor do cristão é o seu amor a Deus, sua principal alegria é a sua
alegria em Deus e a sua paz mais profunda é a sua paz com Deus.
A seguir, temos longanimidade, benignidade,
bondade.São virtudes
sociais, principalmente voltadas para os outros e não para Deus.
"Longanimidade" é paciência para com aqueles que nos irritam ou
perseguem. "Benignidade" é uma questão de disposição, e "bondade"
refere-se a palavras e atos.
A terceira tríade é fidelidade, mansidão,
domínio próprio."Fidelidade"
parece descrever a certeza de se poder confiar em uma pessoa cristã.
"Mansidão" é aquela atitude de humildade que Cristo tem (Mt 11:29; 2
Co 10:1). E ambas são aspectos do "autocontrole" ou "domínio
próprio", que encerra a lista.
Assim,
podemos dizer que "amor, alegria, paz" vão principalmente na direção
de Deus; "longanimidade, benignidade, bondade", na direção do homem;
e "fidelidade, mansidão, domínio próprio", para consigo mesmo. E
todos eles são "o fruto do Espírito", o produto natural que aparece
na vida dos cristãos dirigidos pelo Espírito. Por isso Paulo acrescenta
novamente: Contra estas
cousas não há lei(versículo 23), pois a função da lei é controlar,
restringir, impedir, e aqui não há necessidade de limitações.
Tendo
examinado separadamente "as obras da carne" e "fruto do
Espírito", torna-se mais claro do que nunca para nós que "a
carne" e "o Espírito" estão em conflito ativo um contra o outro.
Eles nos empurram para direções opostas. Existe entre os dois "uma
rivalidade interminável e mortal". E o resultado desse conflito é:
"para que não façais o que porventura seja do vosso querer" (final do
versículo 17). O paralelo entre esta pequena frase e a segunda parte de Romanos
7 é, no meu parecer, íntimo demais para ser acidental. Cada cristão renovado
pode dizer: "No
tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Rm7:22).
Isto é, "eu a amo e desejo cumpri-la. Minha nova natureza tem fome de
Deus, de santidade e de bondade. Eu quero ser bom e fazer o bem." Esta é
a linguagem de cada crente regenerado. "Mas", ele deve acrescentar, "por
mim mesmo, ainda que tenha esses desejos renovados, não consigo fazer o que
quero. Por que não? Por causa do pecado que habita em mim." Ou, como o
apóstolo o expressa aqui em Gálatas 5, "por causa dos fortes desejos da
carne que anseiam contra o Espírito".
É este é o conflito cristão: ameaçador, doloroso e
incessante. Além disso,
é um conflito no qual por si mesmo o cristão simplesmente não consegue
ser vitorioso. Ele se vê obrigado a dizer: "O querer o bem está em mim;
não, porém, o efetuá-lo" (Rm7:18); ou, falando como se fosse para si
mesmo: "Você não consegue fazer as coisas que deveria" (Gl 5:17).
"E
isso é tudo?", algum leitor perplexo estará perguntando. "A trágica
confissão de que eu não consigo fazer o que deveria é a última palavra sobre o
conflito moral interior do cristão? Isso é tudo o que o Cristianismo oferece:
uma experiência de contínua derrota?" Na verdade, não. Se ficássemos
abandonados a nós mesmos, não conseguiríamos fazer o que devemos; pelo
contrário, sucumbiríamos aos desejos de nossa velha natureza. Mas, se
"andamos pelo Espírito" (versículo 16), então não satisfazemos
os desejos da carne. Ainda os experimentamos, mas não os satisfazemos. Pelo
contrário, produzimos o fruto do Espírito.
O Caminho da Vitória Cristã (vs. 24, 25)
O que devemos fazer para controlar a concupiscência
da carne e produzir o fruto do Espírito? Em síntese, a resposta é a seguinte: devemos manter a devida atitude
cristã. Nas palavras do próprio apóstolo, devemos "crucificar" a
carne e "andar no Espírito".
a. Devemos crucificar a carne
A frase
ocorre no versículo 24: E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne,
com as suas paixões e concupiscências. Este versículo é freqüentemente mal
interpretado. Observe que a "crucificação" da carne descrita aqui
não é uma coisa feita a nós maspor nós. Nós é que
"crucificamos a carne". Talvez eu deva explicar melhor a interpretação
popular, dizendo que Gálatas 5:24 não nos ensina a mesma verdade que Gálatas
2:20 ou Romanos 6:6. Nesses versículos somos instruídos que, através de uma
união pela fé com Cristo, "fomos crucificados com ele". Mas aqui somos nós que agimos.
Nós "crucificamos" a nossa velha natureza. Agora não se trata de
"morrer", o que já experimentamos através de nossa união com Cristo;
é, antes, um deliberado "matar".
O que
significa isso? Paulo toma emprestada a imagem da crucificação do próprio
Cristo, naturalmente, que disse: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo
se negue, tome a sua cruz e siga-me" (Mc 8:34). "Tomar a cruz"
era a vivida imagem que nosso Senhor usava para falar de renúncia. Todo
discípulo de Cristo deve comportar-se como um criminoso condenado e carregar a
sua cruz até o lugar da execução. Agora Paulo dá à metáfora a sua conclusão
lógica. Além de tomar a nossa cruz e caminhar com ela, devemos verificar se a
execução realmente aconteceu. Temos de realmente tomar a carne, nosso eu voluntarioso
e volúvel, e (falando por metáfora) pregá-lo na cruz. Essa é a pitoresca
descrição que Paulo faz do arrependimento, do voltar nossas costas à antiga
vida de egoísmo e pecado, repudiando-a final e totalmente.
O fato
de ser a "crucificação" o destino da carne é muito significativo.
Sempre é perigoso argumentar com analogias; mas eu creio que estes pontos,
longe de serem imaginários, fazem parte da idéia da crucificação e não podem
ser separados dela.
Primeiro, a rejeição que o cristão faz de sua velha
natureza tem de ser impiedosa.A crucificação no mundo greco-romano não era uma
forma agradável de execução, nem era administrada a pessoas simpáticas e
finas; era reservada para os piores criminosos, razão por que era considerada
uma coisa vergonhosa Jesus Cristo ter sido crucificado. Se, portanto, nós
temos de "crucificar" a nossa carne, está claro que a carne não é
algo respeitável que deva ser tratado com cortesia e deferência, mas uma coisa
tão maligna que nada mais merece a não ser crucificação.
Segundo, a nossa rejeição da velha natureza será dolorosa.A crucificação era uma forma de execução
"acompanhada de intensas dores" (Grimm-Thayer). E quem de nós não
conhece o profundo sofrimento de um conflito íntimo quando os "prazeres
transitórios do pecado" (Hb11:25) são renunciados?
Terceiro, a rejeição de nossa velha natureza tem de
ser decisiva.A morte pela crucificação, embora fosse lenta, era
uma morte certa. Os criminosos que eram pregados na cruz não sobreviviam. John
Brown apresenta-nos o significado desse fato: "A crucificação... produzia
morte não súbita mas gradual..
Os
verdadeiros cristãos... não conseguem destruí-la (isto é, a carne)
completamente enquanto se encontram aqui embaixo; mas eles a fixaram na cruz, e
estão determinados a mantê-la ali até que expire." Quando um criminoso era
pregado na cruz ficava ali até morrer. Os soldados ficavam no cenário da execução
para guardar a vítima. Seu dever era evitar que alguém retirasse a pessoa da
cruz, pelo menos não antes de morrer. "E os que são de Cristo Jesus",
diz Paulo, "crucificaram a carne, com as suas paixões e
concupiscências." O verbo grego está no tempo aoristo, indicando que isso
é algo que nós fizemos decisivamente no momento da conversão. Quando vamos a
Jesus Cristo, arrependemo-nos. "Crucificamos" tudo o que sabemos que
está errado. Tomamos a nossa velha natureza egocêntrica, com todas as suas
paixões e desejos pecaminosos, e a pregamos na cruz. E esse nosso
arrependimento foi decisivo, tão decisivo quanto uma crucificação. Então, Paulo
diz, se crucificamos a carne, devemos abandoná-la ali para morrer. Devemos
renovar diariamente essa atitude de rejeição impiedosa e intransigente para
com o pecado. Na linguagem de Jesus, como Lucas a registra, cada cristão deve "dia
a dia tomar a sua cruz" (Lc9:23).
Este
ensinamento bíblico tem sido tão amplamente negligenciado que agora precisa ser
reforçado. O primeiro grande
segredo da santidade jaz no grau e na determinação de nosso arrependimento.
Se pecados insistentes persistentemente nos perseguem, ou é porque não nos
arrependemos verdadeiramente, ou porque, tendo nos arrependido, não
permanecemos em nosso arrependimento. É como se, tendo pregado a nossa velha
natureza na cruz, continuássemos ansiosamente retornando à cena da sua
execução. Começamos a acariciá-la, a mimá-la, a ansiar por sua libertação, até
mesmo tentamos retirá-la novamente da cruz.
Precisamos
aprender a deixá-la lá. Quando algum pensamento invejoso, arrogante, malicioso
ou impuro invade nossa mente, devemos chutá-lo imediatamente. É fatal se
começamos a examiná-lo considerando se vamos ou não aceitá-lo. Nós já
declaramos guerra contra ele; não vamos fazer negociações. Resolvemos a questão
para sempre; não vamos reconsiderá-la. Crucificamos a carne; não vamos jamais
arrancar os pregos.
b. Devemos andar no Espírito
Examinemos
agora a atitude que devemos adotar para com o Espírito Santo. Isto foi descrito
de duas maneiras. Primeiro, devemos ser guiados pelo Espírito (versículo
18). Segundo, devemos andar no (ou pelo) Espírito (versículos 16
e 25). Em ambas as expressões no texto grego, "o Espírito" vem em
primeiro lugar como ênfase, foi usado um dativo simples (sem a preposição
"em" ou "por") e o verbo está no presente contínuo. Ao
mesmo tempo há uma diferença clara entre "ser guiado pelo Espírito" e
"andar pelo Espírito", pois aquela expressão está na voz passiva e
esta, na ativa. É o Espírito quem guia, mas quem anda somos nós.
Primeiro, então, os cristãos são descritos como
sendo "guiados pelo Espírito". O verbo se usa para com o fazendeiro que pastoreia o gado, para com o
pastor que conduz as ovelhas, para com os soldados que acompanham um prisioneiro
ao tribunal ou à prisão, e para com o vento que impele um navio. É usado
metaforicamente referindo-se tanto aos bons quanto aos maus espíritos, ao poder
maligno de Satanás que desvia as pessoas (por exemplo, 1Co 12:2; Ef 2:2) e ao
Espírito Santo guardando Cristo durante as suas tentações no deserto (Lc 4:1,2)
e conduzindo os filhos de Deus atualmente (Rm 8:14). Como nosso
"líder" o Espírito Santo toma a iniciativa. Ele afirma seus desejos
contra os da carne (versículo 17) e forma em nós desejos santos e celestiais.
Ele nos pressiona com gentileza, e nós temos de nos submeter à sua orientação
e controle.
E é dele
essa voz gentil que ouvimos,
Branda
como a brisa do entardecer,
Que
controla cada falta, que acalma cada temor,
E fala
do céu.
Pois cada
virtude que possuímos,
E cada
vitória que alcançamos,
E cada
pensamento de santidade,
É dele
somente.
É um
grande erro, no entanto, pensar que todo o nosso dever se resume em uma
submissão passiva ao controle do Espírito, como se tudo o que tivéssemos a
fazer fosse submeter-nos à sua liderança. Pelo contrário, nós temos de
"andar", de maneira ativa e propositada, no caminho direito. E o
Espírito Santo é o caminho pelo qual andamos, como também o guia que nos mostra
o caminho.
Isto se
torna claro quando comparamos cuidadosamente os versículos 16 e 25. Em
português os dois versículos contêm o verbo "andar", mas as palavras
gregas são diferentes. O verbo no versículo 16 é a palavra comum usada para
andar, mas no versículo 25 (stoicheō) refere-se literalmente a pessoas
que estão sendo "colocadas na fila". Por isso significa "andar
na linha" ou "estar alinhando com". É usada para com os crentes
que, partilhando da fé de Abraão, "andam nas pisadas" de Abraão, ou
seguem o seu exemplo (Rm 4.12). Semelhantemente, descreve os cristãos que
"andam de acordo com" a posição que já alcançaram (Fp3:16), ou as
exigências da lei (At 21:24), ou a verdade do evangelho (Gl 6:16). Em cada
caso há uma regra, um padrão ou um princípio que está sendo seguido. Em
Gálatas 5:25 esta "regra" ou "linha" é o próprio Espírito
Santo e a sua vontade. Assim, "andar no Espírito" é andar
deliberadamente ao longo do caminho ou de acordo com a linha que o Espírito
Santo estabelece. O Espírito nos "guia"; mas nós temos de "andar no" Espírito ou de
acordo com as suas regras.
Portanto,
assim como devemos "crucificar a carne", repudiando o que sabemos ser
errado, também devemos "andar no Espírito", dispondo-nos a seguir o
que sabemos que é certo. Rejeitamos um caminho para andar no outro. Abandonamos
o que é mau a fim de nos ocuparmos do que é bom.
E se é importante que sejamos cruéis no
abandono das coisas da carne, também é de importância vital sermos disciplinados
quando abraçamos as coisas do Espírito. As Escrituras dizem que devemos "cogitar nas coisas do
Espírito", "buscar as coisas lá do alto", "pensar nas
cousas lá do alto", "pensar nessas coisas" (isto é, tudo o que
é respeitável, justo, puro, amável, de boa fama).
Isso
será percebido em todo o nosso modo de viver, no lazer que buscamos, nos livros
que lemos e nas amizades que fazemos. Acima de tudo, no que os autores mais
antigos chamavam de "um diligente uso dos meios da graça", isto é, na
prática disciplinada da oração e da meditação nas Escrituras, na comunhão com
os crentes, que nos leva ao amor e às boas obras, na guarda do dia do Senhor
como dia do Senhor, e na freqüência aos cultos públicos e à ceia do Senhor. Em
tudo isso ocupamo-nos de coisas espirituais. Não basta submeter-nos
passivamente ao controle do Espírito; também temos de andar ativamente no caminho
do Espírito. Só assim aparecerá o fruto do Espírito.
Conclusão
Vimos
que as obras da carne são muitas e más; que o fruto do Espírito é agradável e
desejável; que a carne e o Espírito estão em contínuo conflito entre si, de
modo que por nós mesmos não conseguimos fazer o que desejamos; e que o nosso
dever é crucificar a carne, rejeitar seus caminhos malignos e andar no
Espírito, adotando os seus bons modos.
Essa
vitória está ao alcance de todo cristão, pois todo cristão "crucificou a
carne" (versículo 24) e todo cristão "vive no Espírito" (versículo
25). Nossa tarefa é reservar um tempo todos os dias para pensar nessas
verdades, e viver de acordo com elas. Se crucificamos a carne (e é o que
fizemos), então devemos deixá-la bem pregada na cruz, onde ela merece ficar;
não devemos brincar com os pregos. E, se vivemos no Espírito (e é o que
fazemos), então devemos andar no Espírito. Portanto, quando o tentador chegar
com insinuações malignas, devemos atacá-lo selvagemente, dizendo: "Eu pertenço a Cristo. Eu
crucifiquei a carne. Está totalmente fora de questão até mesmo sonhar em
fazê-la descer da cruz." E novamente: "Eu pertenço a Cristo. O
Espírito habita em mim. Portanto vou pensar nas coisas do Espírito e andar no
Espírito, de acordo com as suas regras e linha, dia a dia."
Bibliografia
J. Stott
A VIDA CRISTÃ COMO A VIDA NO ESPIRITO (5:16-26)
16. Digo, porém:esta frase introdutória familiar do apóstolo
nunca é usada de maneira puramente formal. Em 3:17 e 4:1 serve para introduzir
uma nova explicação daquilo que já foi dito. Aqui e em 5:2 chama atenção para o
apelo pessoal de Paulo aos seus leitores.
Andai no Espírito:alguns entendem "espírito" aqui no sentido amplo da vida
espiritual em contraste com a carne. Mas a expressão tem mais força se a
referência for ao Espírito de Deus, especialmente porque isto se encaixa
melhor no contexto imediato. A idéia da vida cristã como um andar é freqüente
no Novo Testamento. Deve ser notado que o tempo do imperativo (presente)
demonstra que Paulo não os exorta a fazer aquilo que não fizeram antes; pelo
contrário, conclama-os a "continuar andando pelo Espírito".
E jamais satisfareis:o verbo no futuro do indicativo dá um sentido mais dinâmico do que o
imperativo. Aqueles que andam no Espírito certamente não (enfático) satisfarão
à concupiscência da carne. Este é um resultado garantido da vida no Espírito.
À concupiscência:esta palavra (epithumia) é
geralmente usada no sentido de ansiar por coisas proibidas, mas não
exclusivamente, porque o versículo seguinte demonstra que pode ser usada para
os desejos do Espírito. Quando é associada, como aqui, com a "carne"
seu sentido mais dominante é denotar "paixão".
17. Porque
a carne milita:esta
expressão não é idêntica àquela do v. 16, porque o uso do verbo cognato aqui (epithumeõ) ressalta o lado mais
ativo das concupiscências da carne. "Cobiça" ou "milita"
contra o Espírito porque não tem saída para suas energias pelo caminho do
Espírito. Apenas pode ficar em oposição direta.
E o Espírito contra a carne:como na frase anterior, assim também aqui a declaração é ativa. O
espírito é o sujeito da mesma forma que a carne. A antítese é tão completa na
forma literária quanto o é na própria realidade.
São opostos entre si:o verbo denota hostilidade, a partir da idéia radical de duas coisas
jazendo opostas uma à outra. No ponto de vista de Paulo, o Espírito e a carne
são adversários irreconciliáveis entre si.
Para que não façais o que porventura seja do vosso querer:aqui o grego (uma cláusula com hina), sugere uma cláusula final,
o que significaria que a oposição entre a carne e o Espírito é a fim de evitar
(assim Burton). Mas se for assim, há alguma obscuridade acerca do significado
da última frase, que pode ser traduzida "quaisquer coisas que
desejais". Isto se refere a coisas boas, ou más, ou a ambas? Seria mais
natural supor que as coisas más estejam em mente, e que pensa-se no Espírito em
termos de refrear os desejos da carne. Mas, já que a oposição é mútua, não é
impossível que a idéia da carne visando impedir o cumprimento dos bons desejos
do Espírito também esteja em mente.
Isto,
porém, é menos provável, tendo em vista a profunda convicção de Paulo de que o
Espírito é mais poderoso do que a carne. A cláusula hina, de outro lado, pode ser considerada como expressando
resultado, o que é bem mais fácil, porque evita atribuir propósito a um estado
de oposição contínua. Onde existe uma condição de conflito, a perda da
liberdade de ação é o resultado inevitável (cf. Bonnard).
18. Guiados
pelo Espírito: o Espírito
é aqui considerado como um guia, a quem o crente deve submeter-se. Semelhante conceito da atividade do Espírito é
muito mais pessoal do que a expressão "andai no Espírito" no v. 16.
Deve ser notado que neste versículo a distinção não é entre o Espírito e a
carne, mas entre o Espírito e a lei. Qual foi a razão desta mudança, tendo em
vista o fato de o contexto imediato dizer respeito à carne? Com toda a
probabilidade Paulo receava que os gálatas tomariam por certo que existiam
apenas duas alternativas. Pode ter sido pensado que a rejeição do legalismo
forçosamente levasse ao antinomianismo, com sua conseqüente licenciosidade.
Mas o apóstolo introduz a presente declaração para corrigir esta impressão
falsa. Há uma terceira opção. O Espírito é antítese tanto da lei (no sentido do
legalismo) quanto da carne. Com isto, naturalmente, Paulo não está colocando a
lei e a carne na mesma categoria, mas demonstra que, com relação ao Espírito,
elas têm uma coisa em comum, i.e., a oposição à vida controlada pelo Espírito.
A idéia de ser guiado pelo Espírito ocorre também em Romanos 8:14, onde é dito
ser o sinal da filiação.
Não estais sob a lei:tanto aqui quanto na frase anterior não há artigo definido no grego, o
que sugeriria princípios gerais ao invés de exemplos específicos. Todavia, no
caso da lei, a lei mosaica específica jamais se afasta dos pensamentos de Paulo
nesta Epístola. A idéia pode ser expressa da seguinte maneira: o legalismo e a
vida espiritual não se misturam, como fica claro na distinção entre a era
mosaica e a era do Espírito.
19. As obras da carne:é surpreendente ver Paulo usar a
palavra "obras" juntamente com "carne", porque nas quatro
referências anteriores às obras nesta Epístola elas se relacionam com a lei.
Isto é inesperado depois da referência à lei no v. 18, mas mesmo assim destaca
muito fortemente o desenvolvimento prático da vida dominada pela carne. É
significativo que "obras" são consideradas bastante abrangentes para
incluírem não somente os atos públicos como também as atitudes, conforme
demonstra a lista seguinte. A lista pormenorizada também demonstra que há uma
distinção na mente de Paulo entre "obra da carne" e "obras da
lei", sendo que estas últimas denotam "obediência a determinados estatutos".
São conhecidas:i.e.,
são o tipo de coisa que todas as pessoas conhecem bem, e não há probabilidade
de serem disputadas. A libertinagem não pode ser levada a efeito em segredo.
Prostituição, impureza, lascívia:a lista é introduzida no grego por um relativo (hatina) que chama atenção ao
aspecto qualitativo. A própria lista é uma seleção para ilustrar o tipo de
coisa que se pode esperar da atividade da carne. Os três primeiros itens são
pecados da sensualidade. Mas, por que começar com estes? É possível que seja
devido à sua predominância e por serem praticados tão abertamente nos dias de
Paulo. Estavam em grande destaque no ambiente pagão do qual os gálatas foram
tirados, sendo até mesmo aprovados nos ritos da adoração pagã. A
"prostituição" (porneia) refere-se
a um exemplo específico da "impureza" (akatharsia) mais geral, a qual, embora às vezes possa denotar
impureza ritual, refere-se aqui à impureza moral. A terceira palavra do trio (aselgeia) significa literalmente
a libertinagem de modo geral, mas sem dúvida é usada aqui para a lascívia nas
relações sexuais. Nos tempos modernos, o aumento destes pecados sensuais e seu
efeito desastroso nos relacionamentos sociais não precisam ser ilustrados. O
movimento conhecido como a Nova Moralidade praticamente sanciona estes pecados
que Paulo classifica inflexivelmente como estando opostos à vida no Espírito.
Seria lastimável para o mundo e ainda mais lastimável para a Igreja se chegasse
a ser suposto um dia que a livre expressão sexual pudesse ser excluída das
obras da carne.
20. Idolatria, feitiçarias:a ligação existente entre a
imoralidade e a idolatria na mente de Paulo não é difícil de explicar. As duas
achavam-se estreitamente associadas no paganismo da época, especialmente em boa
parte dos cultos pagãos. A feitiçaria ou a bruxaria, cuja prática era
igualmente predominante, é representada aqui por pharmakeiaque significa "uso de remédios ou drogas".
Essa palavra também significa o uso de drogas com propósitos mágicos. Deve ser
lembrado que a linha divisória entre a medicina e a magia não era muito nítida
naqueles dias, como continua ocorrendo em muitas culturas tribais hoje em dia.
É significativo que Paulo tivesse de enfrentar um oponente do evangelho
classificado como mágico (At 13:4ss.). Sem dúvida, Elimas não foi o único desta
classe predominante de pessoas com quem Paulo entrou em choque. Tanto a
idolatria quanto a feitiçaria eram, portanto, exemplos dos pecados do culto
pagão, sendo que a primeira fornecia um substituto inadequado para Deus, e a
segunda simulava as obras do Espírito.
20, 21. Inimizades, porfias... invejas:as oito obras da carne
que se seguem formam um grupo completo que pode ser considerado uma descrição
dos males sociais. Alguns (e.g. Lightfoot) vêem uma escala ascendente de
intensidade depois do termo geral "inimizades" que começa a lista.
Mas, este é provavelmente um caso de atribuir excessivo significado à disposição
da lista. Paulo é sem dúvida levado de um pensamento para outro na categoria
geral da inimizade, que fica em primeiro lugar. Quatro palavras descrevem as
rixas: as duas primeiras, e depois, as "dissensões" e as
"facções".
As
"inimizades" referem-se à hostilidade em geral, as
"porfias" são mais abertas, e ressaltam a idéia da altercação,
"dissensões" (a palavra dichostasiasignifica
"colocar-se à parte") que chama atenção à formação de grupos
separatistas hostis, ao passo que "facções" (ou "espírito partidário"),
que se origina da mesma palavra que "heresia"(hairesis), refere-se ao
desenvolvimento de várias opiniões conflitantes. A impressão geral criada por
estas palavras é de caos.
As
outras quatro "obras da carne" nesta parte da lista são todas
atitudes mentais, resultando em ações que envolvem outras pessoas da comunidade.
Talvez a mais desagradável delas seja a primeira, "ciúmes", porque a
mesma palavra também significa "zelo" e a idéia neste contexto deve
ser de "zelo pervertido". Esta, juntamente com a oitava palavra,
"invejas", constitui-se num par formidável. As duas continuam sendo
os inimigos mais mortíferos da vida da comunidade cristã em plano mais elevado.
As outras duas no grupo, "ira" e "discórdias", são falhas
humanas muito generalizadas. A primeira, que é expressa no plural (thumoi), descreve crises de ira
mais do que uma atitude permanente (Burton). A palavra "discórdias"
não dá bem o sentido integral do grego (entheia), que denota mais "ambição", atitude
interesseira, i.e., uma forma especialmente anti-social de egoísmo. O apóstolo
talvez esteja pensando nos esforços empregados por um membro destacado da comunidade,
a fim de expulsar todos os seus rivais e conseguir adeptos sem importar-se com
os meios utilizados, mas a rivalidade é básica em todos os níveis da sociedade
e esta idéia não precisa ficar confinada à liderança.
Vale
notar que quatro dos pecados mencionados nesta lista de oito ocorrem também em
2 Coríntios 12:20 (invejas, iras, porfias, e contendas). Paulo receia que
achará estes pecados em evidência, juntamente com quatro outros vícios
estreitamente ligados a eles, quando visitar os Coríntios. É possível, tendo em
vista este fato e a ocorrência de outras listas éticas em Paulo e outros
escritores neotestamentários, que o apóstolo esteja repetindo uma lista ou
listas em uso corrente entre os moralistas dos seus dias. Para um comentário
sobre tais listas, cf. B.S. Easton: The
Pastoral Epistles, 1948, págs. 197-202.
21. Bebedices, glutonarias: a lista inteira termina com os pecados da intemperança, que
não só predominavam como eram também sancionados por várias formas pagãs de
adoração. Em Romanos 13:3 Paulo fez menção deles juntamente com alguns dos
outros males aqui referidos. Nessa passagem o apóstolo exorta seus leitores a
não fazerem provisão para a carne a fim de satisfazer as suas concupiscências
e, portanto, a idéia forma um paralelo estreito com a presente passagem. Tendo
em vista a necessidade da constante repetição desta advertência contra a
intemperança não nos surpreende descobrir que uma das qualificações negativas
do bispo é não ser dado ao vinho (1Tm 3:3; Tt 1:17).
Ecoisas
semelhantes a estas:esta expressão é claramente acrescentada por Paulo para demonstrar ter
sido intencionalmente seletivo, para ilustrar o seu ponto de vista. As obras da
carne deste tipo, e deve ser possível reconhecer outros por meio desses
exemplos. Uma lista moderna não seria muito diferente da preparada por Paulo e
talvez fosse até mesmo idêntica.
Eu vos declaro, como já outrora vos preveni:o verbo usado em cada parte desta declaração
significa "dizer de antemão", com o significado derivado de
"declarar". Presumivelmente a ocasião anterior à qual se refere foi a
instrução dada durante sua obra missionária entre eles.
Não herdarão o reino de Deus:a advertência é severa. Os judeus, na sua maioria, teriam concordado com
a advertência de Paulo, porque seus padrões morais eram consideravelmente mais
altos do que aqueles do mundo gentio. Os gentios certamente precisariam de uma
ética mais elevada ao aceitarem o cristianismo, mas Paulo está convicto de que
semelhante ética podia ser encontrada na vida do Espírito, à parte de uma regra
legalista. A palavra "reino" refere-se ao reino de Deus que deveria
ter lugar no fim da presente era, mas também pode incluir uma realização
presente, conforme parece ter feito no ensino de nosso Senhor. Esta declaração
demonstra que, embora Paulo não desse muita ênfase ao ensino do reino nas suas
Epístolas, as referências que faz a ele estão cheias de significado e de óbvia
importância no seu pensamento. Declarações semelhantes a esta, que ressaltam
as exigências éticas do reino, podem ser achadas em 1 Coríntios 6:9-10 e
Efésios 5:5.
22. Mas
o fruto do Espírito: a mudança de "obras" para "fruto" é importante
porque remove a ênfase do esforço humano. A linguagem figurada que ele emprega é
especialmente sugestiva para transmitir a idéia de crescimento espiritual, em
notável contraste com a deterioração que segue as atividades da carne. É
significativo o uso do singular "fruto" ao invés do plural, porque
este último sugeriria produtos diversos, enquanto o verdadeiro alvo de Paulo é
demonstrar os vários aspectos da única colheita. Nenhuma destas qualidades que
Paulo menciona pelo nome pode ser isolada e tratada como uma finalidade em si
mesma.
A
metáfora do fruto, freqüentemente usada no ensino de Jesus, foi incluída em
algumas outras ocasiões nas Epístolas de Paulo, e a mais interessante delas é a
de Efésios 5:9, onde ocorre, como aqui, imediatamente após uma referência ao
caráter ético do reino. Parece certo haver na mente do apóstolo uma distinção
nítida entre o fruto do Espírito e os dons espirituais (charismata) mencionados na
Primeira Epístola aos Coríntios (assim Ridderbos). Neste último caso as
dotações eram para tarefas especiais, não sendo, portanto compartilhadas por
todos igualmente. Mas o fruto do Espírito é o produto normal de cada crente
guiado pelo Espírito.
Assim
como ocorre na lista das obras da carne, também com esta lista é impossível
enfatizar demasiadamente a ordem exata de cada item individual. Mesmo assim,
duas observações podem ser feitas. Os três primeiros itens foram sem dúvida
colocados no início da lista numa ordem de importância. Além disto, estes três
tratam de qualidades interiores que afetam principalmente o ego propriamente
dito, embora não possam ser divorciados do alcance cristão, estendido a outras
pessoas; os seis últimos acham-se mais socialmente orientados. Mas esta deve
ser considerada uma classificação apenas a grosso modo.
Amor:poucos
disputariam a escolha que Paulo fez do amor como sendo primário. Está em
harmonia com seu grande hino do amor em 1 Coríntios 13. Ele se encontra no
coração do evangelho. Paulo já teve algo para dizer acerca do assunto nesta
Epístola, tanto acerca do amor de Cristo para com os homens (2:20) quanto do
amor dos próprios homens (5:6). O amor cristão diferia imensamente da noção
contemporânea em que o amor ligava-se inextricavelmente à paixão carnal, por
seguir o padrão do amor de Cristo em relação aos homens. Tanto o amor dEle
quanto o nosso são produto do mesmo Espírito.
Alegria, paz:a
alegria caracteriza especialmente a carta de Paulo aos filipenses, mas também
ocorre em várias outras cartas. Nesta carta é mencionada apenas aqui. Várias
vezes Paulo usa a expressão "o Deus da paz", que indica o tipo de paz
procurado por ele. Cf. 1 Coríntios 7:15, onde aplica esta paz aos
relacionamentos domésticos ao observar que Deus nos chamou para a paz. Esta paz
é muito diferente da noção geral de paz, visto ser uma possessão interna que
traz consigo a serenidade mental, contrastando-se vivamente com as "obras
da carne" caóticas. Estas três primeiras qualidades são completamente
estranhas à própria atmosfera produzida pela "carne".
Longanimidade:a palavra
contém a idéia de "perseverança", que lhe dá um conteúdo bem mais
forte do que a tradução "paciência" que muitas versões usam. Mesmo
assim, a ênfase principal aqui recai sobre uma qualidade passiva — resistir
firme sob as tensões e pressões da vida. Esta é uma qualidade vista mais
vividamente num contexto social.
Benignidade, bondade:a primeira destas palavras pode denotar a bondade, mas no Novo
Testamento sempre significa benignidade. A segunda também pode indicar tanto a
bondade quanto a benignidade. Realmente, parece haver pouca distinção entre
ambas. Apesar disto, não seria do feitio de Paulo, numa lista deste tipo, usar
duas palavras sinônimas sem pretender alguma distinção. Há alguma
possibilidade, portanto, de "bondade" ser considerada como sendo
mais ativa do que "benignidade".
Fidelidade:esta
palavra traduz o grego pistis, no
sentido de "fé em Deus". Mas visto ser a fé uma exigência básica na
abordagem a Deus feita pelo homem, este último tipo de fé não pode ser
considerado parte do fruto do Espírito da mesma maneira que as demais virtudes
mencionadas.
Daí a
tradução "fidelidade" aqui, seja no sentido de fidelidade a padrões
da verdade, ou no sentido de fidedignidade no trato com outras pessoas (cf.
Burton).
23.
Mansidão:esta palavra (prautês) transmite o sentido de
brandura, que é visto como a disposição de submeter-se à vontade de Deus. Este
sentido de "brandura" tem sido com freqüência confundido, sendo
considerado como incapacidade de resistir até mesmo às coisas que são más. Mas
não é este o significado da palavra, pois ela é o antônimo de "ira"
na outra lista. Não se trata de uma qualidade natural, porque doutra forma não
teria sido incluída no fruto do Espírito Santo. Precisa de cultivo espiritual.
O desenvolvimento da mesma leva à harmonia e não à discórdia. Constitui, por
esta razão, um fator poderoso na eliminação daqueles pecados de dissensões tão
destacados na lista anterior.
Domínio-próprio:i.e., o
domínio sobre os desejos do ego. O verbo correspondente é usado em 1 Coríntios
7:9 sobre o controle dos desejos sexuais, mas o substantivo no presente
contexto inquestionavelmente tem uma conotação mais ampla. Na vida dirigida
pelo Espírito, o "eu" deve manter-se em seu lugar adequado. O
autocontrole, no entanto, não significa a negação de si mesmo, mas uma
avaliação real da função do nosso ego na forma mais nobre de vida. Não poderá
haver exemplo melhor do que o de nosso Senhor, que jamais enfatizou sua própria
vontade, mas nunca deixou de impressionar os demais com o poder da sua
personalidade. O Espírito reproduz no crente o mesmo tipo de conceito
equilibrado do "eu".
Contra estas coisas não há lei:o apóstolo volta ao tema da lei porque provavelmente tem em mente a
insistência dos judaizantes em que um sistema legal é a única maneira de
refrear as obras da carne ao condená-las. Paulo, porém, deseja indicar que a
vida no Espírito é uma alternativa viável, porque não há necessidade de
qualquer lei restritiva. A palavra "lei" é geral aqui, embora Paulo
muito provavelmente estivesse pensando na lei mosaica. Em certo sentido, caso
segundo o sistema legal os homens tivessem demonstrado as qualidades
enumeradas nesta lista, não teria havido necessidade para a condenação pela
lei. O fruto do Espírito é, portanto, a resposta positiva ao desafio dos
legalistas aos gálatas.
24. E os que são de Cristo Jesus:há uma estreita conexão entre este versículo e o
anterior. Em contraste com um sistema legal, Cristo introduziu um
relacionamento inteiramente novo. A carne foi vencida por uma nova lealdade,
até mesmo por um novo senhorio. Deve ser notado que há um artigo definido no
grego antes de "Cristo Jesus", chamando atenção para o título "o
Messias", que seria de relevância específica na discussão de Paulo com os
judaizantes.
Crucificaram a carne:o verbo indica uma ação
completada no passado e pode muito naturalmente referir-se à conversão. Alguns
entendem que o aoristo se refere à qualidade definitiva do ato mais do que à
ocasião específica, e esta é uma interpretação justificável.
É
significativa a declaração de que o ato da crucificação foi levado a efeito por
aqueles em Cristo, i.e., o verbo é colocado na voz ativa. Como contraste,
quando Paulo está tratando da sua própria experiência contínua em 2:20, usa o mesmo verbo no passivo. A
voz ativa neste presente contexto enfatiza a responsabilidade dos crentes,
embora Paulo fosse o primeiro a reconhecer que a crucificação da carne com as
suas paixões e concupiscências é somente possível mediante a identificação com
o Cristo crucificado.
A lista
nos vv. 19 e 20 já ilustrou suficientemente aquilo
que Paulo tem em mente. O fruto do Espírito é tão antitético às operações da
carne que algo de drástico deve ser feito contra elas, i.e., devem ser
crucificadas. Em si mesma, a palavra
traduzida "paixões" (pathêma)
é neutra, sendo de fato usada por Paulo no sentido de sofrimento,
mas este "forte sentimento" é claramente aplicado num mau sentido
conforme revela o contexto, e o artigo usado com as duas palavras em grego
denota aquelas paixões e concupiscências que pertencem especificamente à
carne.
25.
Se vivemos no Espírito:a cláusula condicional é retórica e pode ser traduzida: "Já que
vivemos no Espírito." A questão não está em dúvida, mas, sim, forma a
base do apelo de Paulo. A vida no Espírito leva consigo responsabilidades
inevitáveis.
Andemos também no Espírito:há claramente na mente de Paulo uma distinção entre "viver" e
"andar", sendo que este último requer uma aplicação constante, ao
passo que o primeiro expressa uma comunhão permanente. O crente cristão tem um
tipo de vida diferente daqueles que estão sob o domínio da carne. Mas a
aplicação prática desta nova vida não é automática. Requer alguma
perseverança, assim como uma criança que está aprendendo a andar precisa de
persistência. A metáfora é sugestiva, porque o mesmo Espírito que dá vida dá
também forças e orientação no decurso da viagem da vida.
26. Não nos deixemos possuir de vangloria:Paulo continua sua
exortação com três aspectos negativos, sendo que todos eles são uma indicação
daquilo que quer dizer por andar no Espírito. É como escolher seu caminho ao
longo de uma senda cheia de buracos profundos. Existem muitas coisas a serem
evitadas, tais como estas três. Provavelmente são selecionadas para oferecer
uma antítese tão direta quanto possível as contendas engendradas pela carne.
Uma tradução mais literal do grego aqui seria: "Não nos tornemos pessoas
vangloriosas", i.e., não nos apartemos do padrão de humildade colocado
diante de nós.
Provocando-nos uns aos outros:"provocar", usado somente aqui no Novo Testamento,
literalmente significa "chamar para fora", e, daí,
"desafiar". Onde o Espírito controla não há combates entre as pessoas
porque todos são guiados pelo mesmo Espírito.
Tendo inveja uns dos outros:aqui é empregado no grego um verbo,
"invejar", que corresponde ao substantivo usado no v. 21, sugerindo
que as obras da carne devem ser ativamente resistidas. A vida da igreja tem com
freqüência sido tragicamente arruinada pela falta em cumprir as responsabilidades
do andar no Espírito.
Bibliografia
D. Guthrie