26 de dezembro de 2016

As obras da carne e o Fruto do Espírito


As obras da carne e o Fruto do Espírito
Texto Áureo = "Porque, se viverdes segundo a car­ne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis". Rm 8.13
 
Verdade Aplicada = A escolha certa pode fazer toda di­ferença na hora do toque da trombeta celestial.
 
Objetivos da Lição
 
        Saber que as nove características do Fruto do Espírito constituem o propó­sito e o alvo de Deus para os crentes;
       Aprender que quem vive no fluir do Espírito sua conduta é sempre pacificadora e conciliadora;
       Reiterar que o cristão que tem o fru­to do Espírito é sempre uma bênção para sua igreja e para o Reino de Deus.
 
Textos de Referência = Galatas5:16 -22
 
AS OBRAS DA CARNE E O FRUTO DO ESPÍRITO
 
A liberdade cristã não libe­ra o crente andar segundo o curso desse mundo, mas para viver e se conduzir sob a von­tade, direção e influência do Espírito Santo.
 
"Porque não temos que lu­tar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste sé­culo, contra as hostes espiritu­ais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12).
 
Em cada crente há uma batalha espiritual - a luta da carne contra o Espírito. A carne, aqui, significa o conjunto de impulsos pecaminosos que domina o homem natural. As obras da carne estão classificadas em pecados de ordem moral, religiosa e social. Em contrapartida, quando o Espírito Santo habita na vida do crente, este não se encontra mais sob o jugo dá carne, seus desejos e obras pecaminosas, mas está livre para produzir o fruto do Espírito, o qual não é resultante de uma imposição religiosa ou de qualquer sistema re­ligioso legalista. O fruto do Espíri­to, nesta lição, está classificado em virtudes universais, sociais e individuais.
 
Por não haver cristão totalmente isento de pecado, pois isso seria perfeição absoluta (1Jo 1.8,9), Deus nos deu a condição suficiente para ven­cermos as tentações: o Espírito San­to. Viver no Espírito é subjugar a carne e isso gera o conflito interno, a luta da carne contra o espírito. O estudo de hoje é uma análise dessa batalha espiritual de cada cristão.
 
 
NOÇÕES DE ANTROPOLOGIA BÍBLICA
 
1. Alma. Alma é a substância incorpórea e invisível do homem, inseparável do espírito, embora dis­tinta dele, no interior do homem, consciente mesmo fora do corpo (Mt 10.28). É a sede dos apetites (Dt 12.20; Ec 2.24), das paixões (Ct 1.7), e das emoções (Jó 30.25). A palavra "alma", além do seu sentido real, aparece também com sentido figu­rado, como em Êx 1.5 (figurando a pessoa física); Gn 9.4 (sangue); Jó 12.10 (vida), etc. É, pois, necessário entender o contexto para ver o sen­tido do termo.
 
2. Espírito.O espírito veio dire­tamente de Deus (Gn 2.7; Zc 12.1) e tem sede de Deus. Há quem diga que o espírito de todos os homens, independentemente de seu relacionamen­to com Deus, volta para o céu, com base em Ec 12.7: "E o pó volte à ter­ra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu", mas isto não tem fundamento doutrinário ante a ana­logia geral das Santas Escrituras so­bre o assunto, inclusive porque o es­pírito também peca (2 Co 7.1).
 
3. Corpo.O corpo físico do ho­mem é o invólucro da alma e do es­pírito; é a parte material. A alma e o espírito são chamados de "homem interior" ou parte imaterial, e o cor­po de "homem exterior" (2Co 4.16). O corpo é a habitação ou morada da alma e do espírito, também chama­do de tabernáculo ou casa (2Co 5.1-4; 2 Pe 1.14). O homem é, pois, constituído de corpo alma e espírito (1Ts 5.23; Hb 4.12). O nome técnico dessa doutrina é tricotomia.
 
4. O contraste entre a carne e o espírito.A palavra grega sarx, "car­ne", tem vários significados na Bíblia, principalmente nas epístolas. Pode sig­nificar fraqueza física (Gl 4.13), o cor­po, o ser humano (Rm 1.3), o pecado (v.24), os desejos pecaminosos (Rm 8.8). O contexto quando corretamente interpretado determina o significado da palavra. Aqui significa o conjunto de impulsos pecaminosos que domi­nam o homem natural. Da mesma maneira a palavra grega pneuma, "es­pírito", que se aplica ao Espírito San­to, ao espírito humano, aos anjos e aos espíritos imundos. É preciso atentar bem para o contexto da referência em apreço para verificar o sentido do termo.
 
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRAS DA CARNE
 
1. Pecados de ordem moral (v.19)."Prostituição, impureza, las­cívia..." são pecados da sensualida­de ou do corpo (1Co 6.18).
 
a) Os pecados.A palavra "pros­tituição" (porneia, em grego) aqui, referese a toda e qualquer relação sexual ilícita. Em outras palavras, tudo o que envolve imoralidade se­xual está concentrado nessa palavra. A impureza e a lascívia estão no mesmo contexto. "Impureza" pode denotar impureza ritual, mas aqui diz respeito à licenciosidade. A palavra "lascívia" designa "indecência, dis­solução, desenfreio, luxúria", denota excesso, incontinência sexual, li­bertinagem, inclusive no traje (Rm 13.13; 1Pe 4.3; Jd v.4).
 
b) O povo.A sociedade greco-romana era dada à licenciosidade. Quem visita, ainda hoje a Grécia e a Turquia, parte do mundo greco-ro­mano do século I, pode ver uma pá­lida amostragem do que seria a so­ciedade da época, a começar pelo ri­tual religioso deles. Talvez isso jus­tifique o fato de a Bíblia começar a lista com os pecados da licenciosi­dade. Hoje a tendência é inverter os valores morais. A medida que o tem­po avança a sociedade vai se tornan­do mais permissiva quanto ao peca­do e os homens vão se distanciando cada vez mais de Deus.
 
2. Pecados de ordem religiosa (v.20)."Idolatria, feitiçarias..." são os pecados da área da religião, ou pecados do espírito (2Co7.1).
 
a) Idolatria.É a adoração aos ído­los ou deuses falsos. Deus abomina tal prática, que é condenada no Decálogo (Êx 20.1-6) e em toda a Bíblia.
 
b) Feitiçaria. A palavra no ori­ginal aqui, pharmakeia, significa "magia", além de "feitiçaria". O ter­mo no original envolve a manipula­ção de drogas na medicina, de onde vem a palavra "farmácia", mas os mágicos e bruxos manipulavam os efeitos alucinógenos dessas drogas nos rituais de magia (Ap 21.8; 22.15). Hoje a feitiçaria envolve toda a forma de ocultismo.
 
3. Pecados de ordem social (vv.20b, 21).Há uma lista quase queinterminável desses pecados (ver Rm 1.29-31). O apóstolo apresenta aqui nove desses pecados: "inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídi­os...". A presença de "heresias" nes­ta lista é que a palavra grega hairesispode se aplicar no âmbito religioso ou social, significando "escolha fi­losófica, facção, dissensão" (1Co 11.19). Também tem o sentido de erro doutrinário (2Pe 2.2) ou seita (At 5.17; 23.5).
 
A Bíblia cita ainda os pecados do sistema alimentar; bebedices, glutonarias, além da expressão "coisas semelhantes a estas".
 
O FRUTO DO ESPÍRITO
 
1. Virtudes universais (v.22).Caridade, gozo e paz. Esse trio diz respeito ao nosso relacionamento com Deus.
 
a) Caridade."Amor" na Versão Almeida Atualizada. As quatro pala­vras gregas para amor são: eros, in­clui paixão, sendo o amor no sentido de atração de um jovem por uma jo­vem, e não aparece no Novo Testamento; storgos, significa "carinhoso, afetuoso" usado entre pais e filhos e só aparece uma vez no Novo Testa­mento, na sua forma composta filostorgos(Rm 12.10); filia, é o amor fraternal; e agápe, é o amor de Deus mais solícito em fazer o outro feliz, ou seja, é a benevolência sem limites. Podemos chamá-lo de amor cristão.
 
b) Gozo.Isso fala de gozo interi­or, regozijo, alegria, motivo de alegria. Algo proveniente de uma ex­periência espiritual, cujo fundamento está em Deus. Não conseqüência de uma vitória numa competição (Rm 14.17; 15.13).
 
c) Paz.Seu correspondente hebraico éshalom e não significa apenas ausência de problemas, de guerra ou a presença do bem-estar. A palavra por si só significa "com­pleto". A paz aqui quer dizer a tranqüilidade do coração, proveniente do perdão de Deus mediante a fé em Jesus (Rm 5.1).
 
2. Virtudes sociais. Longanimidade, benignidade e bondade. São virtudes do relacionamento hu­mano entre os cristãos. "Longanimidade" é "paciência, perseveran­ça", e diz respeito a atitude de Deus para com o homem (Rm 2.4; 9.22; 1 Tm 1.16). Assim deve ser a nossa atitude para com os outros. Benignidade e bondade estão muito relacionadas.
 
3. Demais virtudes.Fé, mansidãoe temperança. A palavra original pistispara "fé" pode significar a fé como elemento, e também "fidelidade". Es­sas virtudes que estamos estudando são o fruto do Espírito, como decor­rência da fé em Jesus; por isso que a tradução "fidelidade" fica melhor. Mansidão transmite o sentido de brandura e não de incapacidade de resistir o mal. Tem o sentido de submissão à vontade de Deus (Mt 21.5); dócil, que aceita o ensino (Tg 1.21); e o de mo­derado (1 Co 4.21). Temperança é o autocontrole, o domínio próprio paraque os interesses pessoais não sobressaiam nos negócios espirituais e nos seculares.
 
CONCLUSÃO
 
O fruto do Espírito é o resultado de uma vida redimida pela fé em Jesus. Não é resultado de uma imposi­ção religiosa ou de qualquer sistema religioso legalista. O Espírito Santo é quem faz essas coisas na vida do cris­tão. É por isso que o apóstolo diz que "contra essas coisas não há lei" (v.23). Se queremos que o fruto do Espírito se desenvolva em nossa vida, devemos viver uma vida de comunhão pessoal com o Senhor Jesus (Gl 2.20).
 
Bibliografia E. Soares
 
A carne e o Espírito Gl5:16-25
 
A grande ênfase da segunda metade da Epístola aos Gálatas é que em Cristo a vida é liberdade. Estávamos sob servidão da maldição ou condenação da lei, mas Cristo nos libertou dela. Éramos escravos do pe­cado, mas agora somos filhos de Deus.
 
Mas cada vez que Paulo escreve sobre a liberdade ele acrescenta a advertência de que ela pode ser muito facilmente perdida. Há os que deslizam da liberdade para a escravidão (5:1); outros transformam sua liberdade em licenciosidade (5:13). Este foi o tema de Paulo nos últi­mos dois parágrafos que já consideramos. Particularmente nos versí­culos 13 a 15 da lição nº 10, onde ele enfatizou que a verdadeira liberdade cristã se expressa no autocontrole, no serviço cheio de amor prestado ao nosso próximo e na obediência à lei de Deus. A questão agora é: como essas coisas são possíveis? E a resposta é: pelo Espírito Santo. Só ele pode nos man­ter verdadeiramente livres.
 
Esta seção na qual Paulo desenvolve esse tema está simplesmente cheia do Espírito Santo. Ele é mencionado sete vezes. É apresentado como o nosso santificador, é o único que pode se opor à nossa carne e subjugá-la (versículos 16, 17), capacitar-nos a cumprir a lei para sermos libertados do seu sombrio domínio (versículo 18) e produzir o fruto da justiça em nossas vidas (versículos 22, 23). Assim, o desfrutar a liberdade cristã depende do Espírito Santo. Na verdade, é Cristo que nos liberta. Mas sem a obra contínua, orientadora e santificadora do Espírito Santo, a nossa liberdade tende a degenerar em licenciosidade.
 
O tema deste parágrafo pode ser dividido em duas partes, intitula­das "o fato do conflito cristão" e "o caminho da vitória cristã".
 
O Fato do Conflito Cristão (vs. 16-23)
 
Os combatentes no conflito cristão são chamados de "a carne" e "o Espírito". Versículos 16 e 17: Andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne... Com "carne" Paulo quer dizer o que somos por natureza e hereditariedade, nossa condição caída, o que a Bíblia na Linguagem de Hoje chama de "os desejos da natureza hu­mana". Com "Espírito" ele parece referir-se ao próprio Espírito San­to, que nos renova e regenera, primeiro dando-nos uma nova natureza e, então, permanecendo em nós. Mais simplesmente, poderíamos di­zer que "a carne" representa o que somos por nascimento natural, e "o Espírito" o que nos tornamos pelo novo nascimento, o nascimento do Espírito. E estes dois, a carne e o Espírito, vivem em ferrenha opo­sição.
 
Alguns mestres sustentam que o cristão não tem conflito interior, ou qualquer guerra civil dentro de si, pois, segundo eles, a sua carne foi erradicada e sua velha natureza está morta. Esta passagem contra­diz tal ponto de vista.
Os cristãos, na expressão vivida de Lutero, não são feitos de "pau e pedra", isto é, não são pessoas que "nunca se emocionam com nada, nunca sentem qualquer desejo ou anseio da carne".É verdade que, à medida que aprendemos a andar no Espírito, a carne fica cada vez mais subjugada. Mas a carne e o Espírito permanecem, e o conflito entre eles é feroz e incessante. Na verdade, pode­mos até dizer que este é um conflito especificamente cristão. Não ne­gamos que exista uma coisa chamada conflito moral nas pessoas que não são cristãs; no entanto, ele é mais feroz nos cristãos porque eles possuem duas naturezas, a carne e o Espírito, que vivem em um antagonismo irreconciliável.
 
Consideremos agora o tipo de comportamento através do qual se expressam as duas naturezas.
 
a. As obras da carne (vs. 18-21)
 
As obras da carne, diz Paulo, são conhecidas.São óbvias a todos. A carne propriamente dita, a nossa velha natureza, é secreta e invisível; mas as suas obras, as palavras e os atos pelos quais se manifesta, são públicos e evidentes. E quais são?
 
Antes de examinarmos a lista das "obras da carne", convém dizer algo mais sobre a expressão "a concupiscência da carne" (versículo 16). Infelizmente essa expressão veio a ter em português uma conotação que o seu equivalente grego não tem. Atualmente, "concupiscência" signifi­ca "desejo sexual descontrolado" e "carne" significa "corpo", de modo que "a concupiscência da carne" e "os pecados da carne" são (na lin­guagem comum) aqueles atos relacionados com os nossos apetites fí­sicos. Mas o que Paulo quis dizer é muito mais do que isso. Para ele "a concupiscência da carne" é todo desejo pecaminoso de nossa natureza caída. Isto fica bem explícito no seu feio catálogo de "obras da carne".
 
Não que a lista seja exaustiva, pois ele a conclui dizendo "e cousas semelhantes" (versículo 21). Mas o que ele inclui abrange pelo menos quatro áreas: sexo, religião, sociedade e alimentação.
 
Primeiro, a área do sexo: prostituição, impureza, lascívia (versícu­lo 19). A palavra "prostituição" geralmente é traduzida por "fornicação", dando a entender uma relação sexual entre pessoas que não são casadas; mas pode referir-se a qualquer tipo de comportamento sexual ilegal. Talvez "impureza" pudesse ser traduzida por "comportamen­to anormal" e "lascívia" por "indecência", uma alusão a "um pú­blico e atrevido desprezo pelo decoro". Essas três palavras são sufi­cientes para mostrar que todas as ofensas sexuais, sejam elas públicas ou particulares, "naturais" ou "anormais", entre pessoas casadas ou solteiras, devem ser classificadas como obras da carne.
 
 
Em segundo lugar temos a área da religião: idolatria, feitiçarias (versículo 20). É importante perceber que a idolatria é tão obra da carne quanto a imoralidade, e que assim as obras da carne incluem ofensas contra Deus além das ofensas contra o próximo ou contra nós mes­mos. Se "idolatria" é o impudente culto prestado a outros deuses, "feitiçaria" é "o intercâmbio secreto com os poderes do mal".
 
Terceiro, a área social. Paulo nos dá agora oito exemplos de colap­so de relacionamentos pessoais, que a Bíblia na Linguagem de Hoje traduz por "inimizades, brigas, ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta (ou "acessos de cólera" e "rivalidades"), desunião, paixão partidária, invejas" (versículos 20, 21).
 
Quarto, a área da alimentação:bebedices, glutonarias (ou, segun­do a BLH, "farras", versículo 21).
 
A esta lista de obras da carne no campo do sexo, da religião, da sociedade e da alimentação, Paulo acrescenta uma solene advertência: como já outrora vos preveni (quando esteve com eles na Galácia), que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam (o verbo prassontesrefere-se a uma prática habitual e não a um acontecimento iso­lado, versículo 21). Considerando que o reino de Deus é um reino de piedade, retidão e autocontrole, aqueles que satisfazem a carne serão excluídos dele, pois tais obras dão evidência de que não estão em Cristo. E, se não estão em Cristo, não são descendência de Abraão, não são "herdeiros segundo a promessa" (3:29). Quanto a outras referên­cias à nossa herança em Cristo, esperadas ou perdidas, veja Gálatas 4:7,30.
 
b. O fruto do Espírito (vs. 22, 23)
 
Temos aqui um aglomerado de nove graças cristãs que parecem descrever a atitude do cristão para com Deus, outras pessoas e ele mesmo.
 
Amor, alegria, paz.Esta é uma tríade de virtudes cristãs univer­sais. Mas parece que se referem principalmente a nossa atitude para com Deus, pois o primeiro amor do cristão é o seu amor a Deus, sua principal alegria é a sua alegria em Deus e a sua paz mais profunda é a sua paz com Deus.
 
A seguir, temos longanimidade, benignidade, bondade.São virtu­des sociais, principalmente voltadas para os outros e não para Deus. "Longanimidade" é paciência para com aqueles que nos irritam ou perseguem. "Benignidade" é uma questão de disposição, e "bonda­de" refere-se a palavras e atos.
 
A terceira tríade é fidelidade, mansidão, domínio próprio."Fideli­dade" parece descrever a certeza de se poder confiar em uma pessoa cristã. "Mansidão" é aquela atitude de humildade que Cristo tem (Mt 11:29; 2 Co 10:1). E ambas são aspectos do "autocontrole" ou "do­mínio próprio", que encerra a lista.
 
Assim, podemos dizer que "amor, alegria, paz" vão principalmente na direção de Deus; "longanimidade, benignidade, bondade", na di­reção do homem; e "fidelidade, mansidão, domínio próprio", para consigo mesmo. E todos eles são "o fruto do Espírito", o produto na­tural que aparece na vida dos cristãos dirigidos pelo Espírito. Por isso Paulo acrescenta novamente: Contra estas cousas não há lei(versículo 23), pois a função da lei é controlar, restringir, impedir, e aqui não há necessidade de limitações.
 
Tendo examinado separadamente "as obras da carne" e "fruto do Espírito", torna-se mais claro do que nunca para nós que "a carne" e "o Espírito" estão em conflito ativo um contra o outro. Eles nos empurram para direções opostas. Existe entre os dois "uma rivalidade interminável e mortal". E o resultado desse conflito é: "para que não façais o que porventura seja do vosso querer" (final do versículo 17). O paralelo entre esta pequena frase e a segunda parte de Romanos 7 é, no meu parecer, íntimo demais para ser acidental. Cada cristão re­novado pode dizer: "No tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Rm7:22). Isto é, "eu a amo e desejo cumpri-la. Minha nova natureza tem fome de Deus, de santidade e de bondade. Eu que­ro ser bom e fazer o bem." Esta é a linguagem de cada crente regene­rado. "Mas", ele deve acrescentar, "por mim mesmo, ainda que te­nha esses desejos renovados, não consigo fazer o que quero. Por que não? Por causa do pecado que habita em mim." Ou, como o apóstolo o expressa aqui em Gálatas 5, "por causa dos fortes desejos da carne que anseiam contra o Espírito".
 
É este é o conflito cristão: ameaçador, doloroso e incessante. Além disso, é um conflito no qual por si mesmo o cristão simplesmente não consegue ser vitorioso. Ele se vê obrigado a dizer: "O querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo" (Rm7:18); ou, falando como se fosse para si mesmo: "Você não consegue fazer as coisas que deve­ria" (Gl 5:17).
 
"E isso é tudo?", algum leitor perplexo estará perguntando. "A trágica confissão de que eu não consigo fazer o que deveria é a última palavra sobre o conflito moral interior do cristão? Isso é tudo o que o Cristianismo oferece: uma experiência de contínua derrota?" Na verdade, não. Se ficássemos abandonados a nós mesmos, não conseguiríamos fazer o que devemos; pelo contrário, sucumbiríamos aos dese­jos de nossa velha natureza. Mas, se "andamos pelo Espírito" (versículo 16), então não satisfazemos os desejos da carne. Ainda os experi­mentamos, mas não os satisfazemos. Pelo contrário, produzimos o fruto do Espírito.
 
O Caminho da Vitória Cristã (vs. 24, 25)
 
O que devemos fazer para controlar a concupiscência da carne e produzir o fruto do Espírito? Em síntese, a resposta é a seguinte: devemos manter a devida atitude cristã. Nas palavras do próprio apóstolo, de­vemos "crucificar" a carne e "andar no Espírito".
a. Devemos crucificar a carne
 
A frase ocorre no versículo 24: E os que são de Cristo Jesus crucifica­ram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Este versículo é freqüentemente mal interpretado. Observe que a "crucificação" da car­ne descrita aqui não é uma coisa feita a nós maspor nós. Nós é que "crucificamos a carne". Talvez eu deva explicar melhor a interpreta­ção popular, dizendo que Gálatas 5:24 não nos ensina a mesma verda­de que Gálatas 2:20 ou Romanos 6:6. Nesses versículos somos instruí­dos que, através de uma união pela fé com Cristo, "fomos crucifica­dos com ele". Mas aqui somos nós que agimos. Nós "crucificamos" a nossa velha natureza. Agora não se trata de "morrer", o que já ex­perimentamos através de nossa união com Cristo; é, antes, um delibe­rado "matar".
 
O que significa isso? Paulo toma emprestada a imagem da crucificação do próprio Cristo, naturalmente, que disse: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me" (Mc 8:34). "Tomar a cruz" era a vivida imagem que nosso Senhor usava para fa­lar de renúncia. Todo discípulo de Cristo deve comportar-se como um criminoso condenado e carregar a sua cruz até o lugar da execução. Agora Paulo dá à metáfora a sua conclusão lógica. Além de tomar a nossa cruz e caminhar com ela, devemos verificar se a execução realmente aconteceu. Temos de realmente tomar a carne, nosso eu volun­tarioso e volúvel, e (falando por metáfora) pregá-lo na cruz. Essa é a pitoresca descrição que Paulo faz do arrependimento, do voltar nos­sas costas à antiga vida de egoísmo e pecado, repudiando-a final e totalmente.
 
O fato de ser a "crucificação" o destino da carne é muito significa­tivo. Sempre é perigoso argumentar com analogias; mas eu creio que estes pontos, longe de serem imaginários, fazem parte da idéia da crucificação e não podem ser separados dela.
 
Primeiro, a rejeição que o cristão faz de sua velha natureza tem de ser impiedosa.A crucificação no mundo greco-romano não era uma forma agradável de execução, nem era administrada a pessoas simpá­ticas e finas; era reservada para os piores criminosos, razão por que era considerada uma coisa vergonhosa Jesus Cristo ter sido crucifica­do. Se, portanto, nós temos de "crucificar" a nossa carne, está claro que a carne não é algo respeitável que deva ser tratado com cortesia e deferência, mas uma coisa tão maligna que nada mais merece a não ser crucificação.
 
Segundo, a nossa rejeição da velha natureza será dolorosa.A crucificação era uma forma de execução "acompanhada de intensas dores" (Grimm-Thayer). E quem de nós não conhece o profundo sofrimento de um conflito íntimo quando os "prazeres transitórios do pe­cado" (Hb11:25) são renunciados?
 
Terceiro, a rejeição de nossa velha natureza tem de ser decisiva.A morte pela crucificação, embora fosse lenta, era uma morte certa. Os criminosos que eram pregados na cruz não sobreviviam. John Brown apresenta-nos o significado desse fato: "A crucificação... produzia mor­te não súbita mas gradual..
Os verdadeiros cristãos... não conseguem destruí-la (isto é, a carne) completamente enquanto se encontram aqui embaixo; mas eles a fixaram na cruz, e estão determinados a mantê-la ali até que expire." Quando um criminoso era pregado na cruz ficava ali até morrer. Os soldados ficavam no cenário da execução para guar­dar a vítima. Seu dever era evitar que alguém retirasse a pessoa da cruz, pelo menos não antes de morrer. "E os que são de Cristo Jesus", diz Paulo, "crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências." O verbo grego está no tempo aoristo, indicando que isso é algo que nós fizemos decisivamente no momento da conversão. Quando vamos a Jesus Cristo, arrependemo-nos. "Crucificamos" tudo o que sabe­mos que está errado. Tomamos a nossa velha natureza egocêntrica, com todas as suas paixões e desejos pecaminosos, e a pregamos na cruz. E esse nosso arrependimento foi decisivo, tão decisivo quanto uma crucificação. Então, Paulo diz, se crucificamos a carne, devemos abandoná-la ali para morrer. Devemos renovar diariamente essa atitu­de de rejeição impiedosa e intransigente para com o pecado. Na lin­guagem de Jesus, como Lucas a registra, cada cristão deve "dia a dia tomar a sua cruz" (Lc9:23).
 
Este ensinamento bíblico tem sido tão amplamente negligenciado que agora precisa ser reforçado. O primeiro grande segredo da santi­dade jaz no grau e na determinação de nosso arrependimento. Se pe­cados insistentes persistentemente nos perseguem, ou é porque não nos arrependemos verdadeiramente, ou porque, tendo nos arrependido, não permanecemos em nosso arrependimento. É como se, tendo pregado a nossa velha natureza na cruz, continuássemos ansiosamente retornando à cena da sua execução. Começamos a acariciá-la, a mimá-la, a ansiar por sua libertação, até mesmo tentamos retirá-la novamente da cruz.
 
Precisamos aprender a deixá-la lá. Quando algum pensamen­to invejoso, arrogante, malicioso ou impuro invade nossa mente, de­vemos chutá-lo imediatamente. É fatal se começamos a examiná-lo considerando se vamos ou não aceitá-lo. Nós já declaramos guerra contra ele; não vamos fazer negociações. Resolvemos a questão para sempre; não vamos reconsiderá-la. Crucificamos a carne; não vamos jamais ar­rancar os pregos.
 
b. Devemos andar no Espírito
 
Examinemos agora a atitude que devemos adotar para com o Espírito Santo. Isto foi descrito de duas maneiras. Primeiro, devemos ser guiados pelo Espírito (versículo 18). Segundo, devemos andar no (ou pelo) Espírito (versículos 16 e 25). Em ambas as expressões no texto grego, "o Espírito" vem em primeiro lugar como ênfase, foi usado um dativo simples (sem a preposição "em" ou "por") e o verbo está no presente contínuo. Ao mesmo tempo há uma diferença clara entre "ser guiado pelo Espírito" e "andar pelo Espírito", pois aquela expressão está na voz passiva e esta, na ativa. É o Espírito quem guia, mas quem anda somos nós.
 
 
Primeiro, então, os cristãos são descritos como sendo "guiados pelo Espírito". O verbo se usa para com o fazendeiro que pastoreia o gado, para com o pastor que conduz as ovelhas, para com os soldados que acompanham um prisioneiro ao tribunal ou à prisão, e para com o vento que impele um navio. É usado metaforicamente referindo-se tanto aos bons quanto aos maus espíritos, ao poder maligno de Satanás que des­via as pessoas (por exemplo, 1Co 12:2; Ef 2:2) e ao Espírito Santo guardando Cristo durante as suas tentações no deserto (Lc 4:1,2) e conduzindo os filhos de Deus atualmente (Rm 8:14). Como nosso "líder" o Espírito Santo toma a iniciativa. Ele afirma seus desejos contra os da carne (versículo 17) e forma em nós desejos santos e celestiais. Ele nos pressiona com gentileza, e nós temos de nos submeter à sua orien­tação e controle.
 
E é dele essa voz gentil que ouvimos,
Branda como a brisa do entardecer,
Que controla cada falta, que acalma cada temor,
E fala do céu.
Pois cada virtude que possuímos,
E cada vitória que alcançamos,
E cada pensamento de santidade,
É dele somente.
 
É um grande erro, no entanto, pensar que todo o nosso dever se resume em uma submissão passiva ao controle do Espírito, como se tudo o que tivéssemos a fazer fosse submeter-nos à sua liderança. Pelo contrário, nós temos de "andar", de maneira ativa e propositada, no caminho direito. E o Espírito Santo é o caminho pelo qual andamos, como também o guia que nos mostra o caminho.
 
Isto se torna claro quando comparamos cuidadosamente os versícu­los 16 e 25. Em português os dois versículos contêm o verbo "andar", mas as palavras gregas são diferentes. O verbo no versículo 16 é a pala­vra comum usada para andar, mas no versículo 25 (stoicheō) refere-se literalmente a pessoas que estão sendo "colocadas na fila". Por isso significa "andar na linha" ou "estar alinhando com". É usada para com os crentes que, partilhando da fé de Abraão, "andam nas pisadas" de Abraão, ou seguem o seu exemplo (Rm 4.12). Semelhantemente, descreve os cristãos que "andam de acordo com" a posição que já alcança­ram (Fp3:16), ou as exigências da lei (At 21:24), ou a verdade do evan­gelho (Gl 6:16). Em cada caso há uma regra, um padrão ou um princí­pio que está sendo seguido. Em Gálatas 5:25 esta "regra" ou "linha" é o próprio Espírito Santo e a sua vontade. Assim, "andar no Espírito" é andar deliberadamente ao longo do caminho ou de acordo com a li­nha que o Espírito Santo estabelece. O Espírito nos "guia"; mas nós temos de "andar no" Espírito ou de acordo com as suas regras.
 
Portanto, assim como devemos "crucificar a carne", repudiando o que sabemos ser errado, também devemos "andar no Espírito", dispondo-nos a seguir o que sabemos que é certo. Rejeitamos um caminho para andar no outro. Abandonamos o que é mau a fim de nos ocupar­mos do que é bom.
E se é importante que sejamos cruéis no abandono das coisas da carne, também é de importância vital sermos disciplina­dos quando abraçamos as coisas do Espírito. As Escrituras dizem que devemos "cogitar nas coisas do Espírito", "buscar as coisas lá do al­to", "pensar nas cousas lá do alto", "pensar nessas coisas" (isto é, tu­do o que é respeitável, justo, puro, amável, de boa fama).
 
Isso será percebido em todo o nosso modo de viver, no lazer que buscamos, nos livros que lemos e nas amizades que fazemos. Acima de tudo, no que os autores mais antigos chamavam de "um diligente uso dos meios da graça", isto é, na prática disciplinada da oração e da meditação nas Escrituras, na comunhão com os crentes, que nos leva ao amor e às boas obras, na guarda do dia do Senhor como dia do Senhor, e na freqüência aos cultos públicos e à ceia do Senhor. Em tudo isso ocupamo-nos de coisas espirituais. Não basta submeter-nos passivamente ao controle do Espírito; também temos de andar ativamente no cami­nho do Espírito. Só assim aparecerá o fruto do Espírito.
 
Conclusão
 
Vimos que as obras da carne são muitas e más; que o fruto do Espírito é agradável e desejável; que a carne e o Espírito estão em contínuo conflito entre si, de modo que por nós mesmos não conseguimos fazer o que desejamos; e que o nosso dever é crucificar a carne, rejeitar seus caminhos malignos e andar no Espírito, adotando os seus bons modos.
 
Essa vitória está ao alcance de todo cristão, pois todo cristão "cru­cificou a carne" (versículo 24) e todo cristão "vive no Espírito" (versí­culo 25). Nossa tarefa é reservar um tempo todos os dias para pensar nessas verdades, e viver de acordo com elas. Se crucificamos a carne (e é o que fizemos), então devemos deixá-la bem pregada na cruz, on­de ela merece ficar; não devemos brincar com os pregos. E, se vivemos no Espírito (e é o que fazemos), então devemos andar no Espírito. Por­tanto, quando o tentador chegar com insinuações malignas, devemos atacá-lo selvagemente, dizendo: "Eu pertenço a Cristo. Eu crucifiquei a carne. Está totalmente fora de questão até mesmo sonhar em fazê-la descer da cruz." E novamente: "Eu pertenço a Cristo. O Espírito ha­bita em mim. Portanto vou pensar nas coisas do Espírito e andar no Espírito, de acordo com as suas regras e linha, dia a dia."
 
Bibliografia J. Stott
 
 
A VIDA CRISTÃ COMO A VIDA NO ESPIRITO (5:16-26)
 
16. Digo, porém:esta frase introdutória familiar do apóstolo nunca é usada de maneira puramente formal. Em 3:17 e 4:1 serve para introduzir uma nova explicação daquilo que já foi dito. Aqui e em 5:2 chama atenção para o apelo pessoal de Paulo aos seus leitores.
 
Andai no Espírito:alguns entendem "espírito" aqui no sentido amplo da vida espiritual em contraste com a carne. Mas a expressão tem mais força se a referência for ao Espírito de Deus, especialmente porque isto se encai­xa melhor no contexto imediato. A idéia da vida cristã como um andar é freqüente no Novo Testamento. Deve ser notado que o tempo do imperati­vo (presente) demonstra que Paulo não os exorta a fazer aquilo que não fizeram antes; pelo contrário, conclama-os a "continuar andando pelo Espírito".
 
E jamais satisfareis:o verbo no futuro do indicativo dá um sentido mais dinâmico do que o imperativo. Aqueles que andam no Espírito certamente não (enfático) satisfarão à concupiscência da carne. Este é um resultado ga­rantido da vida no Espírito.
 
À concupiscência:esta palavra (epithumia) é geralmente usada no sentido de ansiar por coisas proibidas, mas não exclusivamente, porque o versículo seguinte demonstra que pode ser usada para os desejos do Espírito. Quan­do é associada, como aqui, com a "carne" seu sentido mais dominante é denotar "paixão".
 
17. Porque a carne milita:esta expressão não é idêntica àquela do v. 16, porque o uso do verbo cognato aqui (epithumeõ) ressalta o lado mais ativo das concupiscências da carne. "Cobiça" ou "milita" contra o Espírito porque não tem saída para suas energias pelo caminho do Espírito. Apenas pode ficar em oposição direta.
 
E o Espírito contra a carne:como na frase anterior, assim também aqui a declaração é ativa. O espírito é o sujeito da mesma forma que a carne. A an­títese é tão completa na forma literária quanto o é na própria realidade.
 
São opostos entre si:o verbo denota hostilidade, a partir da idéia radical de duas coisas jazendo opostas uma à outra. No ponto de vista de Paulo, o Espírito e a carne são adversários irreconciliáveis entre si.
 
Para que não façais o que porventura seja do vosso querer:aqui o grego (uma cláusula com hina), sugere uma cláusula final, o que significaria que a oposição entre a carne e o Espírito é a fim de evitar (assim Burton). Mas se for assim, há alguma obscuridade acerca do significado da última frase, que pode ser traduzida "quaisquer coisas que desejais". Isto se refere a coi­sas boas, ou más, ou a ambas? Seria mais natural supor que as coisas más estejam em mente, e que pensa-se no Espírito em termos de refrear os de­sejos da carne. Mas, já que a oposição é mútua, não é impossível que a idéia da carne visando impedir o cumprimento dos bons desejos do Espíri­to também esteja em mente.
Isto, porém, é menos provável, tendo em vista a profunda convicção de Paulo de que o Espírito é mais poderoso do que a carne. A cláusula hina, de outro lado, pode ser considerada como expressando resultado, o que é bem mais fácil, porque evita atribuir propósito a um estado de oposição contínua. Onde existe uma condição de conflito, a perda da liberdade de ação é o resultado inevitável (cf. Bonnard).
 
18. Guiados pelo Espírito: o Espírito é aqui considerado como um guia, a quem o crente deve submeter-se. Semelhante conceito da atividade do Espírito é muito mais pessoal do que a expressão "andai no Espírito" no v. 16. Deve ser notado que neste versículo a distinção não é entre o Espírito e a carne, mas entre o Espírito e a lei. Qual foi a razão desta mudan­ça, tendo em vista o fato de o contexto imediato dizer respeito à carne? Com toda a probabilidade Paulo receava que os gálatas tomariam por certo que existiam apenas duas alternativas. Pode ter sido pensado que a rejeição do legalismo forçosamente levasse ao antinomianismo, com sua conseqüen­te licenciosidade. Mas o apóstolo introduz a presente declaração para cor­rigir esta impressão falsa. Há uma terceira opção. O Espírito é antítese tanto da lei (no sentido do legalismo) quanto da carne. Com isto, naturalmen­te, Paulo não está colocando a lei e a carne na mesma categoria, mas de­monstra que, com relação ao Espírito, elas têm uma coisa em comum, i.e., a oposição à vida controlada pelo Espírito. A idéia de ser guiado pelo Espí­rito ocorre também em Romanos 8:14, onde é dito ser o sinal da filiação.
 
Não estais sob a lei:tanto aqui quanto na frase anterior não há artigo defi­nido no grego, o que sugeriria princípios gerais ao invés de exemplos espe­cíficos. Todavia, no caso da lei, a lei mosaica específica jamais se afasta dos pensamentos de Paulo nesta Epístola. A idéia pode ser expressa da seguinte maneira: o legalismo e a vida espiritual não se misturam, como fica claro na distinção entre a era mosaica e a era do Espírito.
 
19. As obras da carne:é surpreendente ver Paulo usar a palavra "obras" juntamente com "carne", porque nas quatro referências anteriores às obras nesta Epístola elas se relacionam com a lei. Isto é inesperado depois da re­ferência à lei no v. 18, mas mesmo assim destaca muito fortemente o de­senvolvimento prático da vida dominada pela carne. É significativo que "obras" são consideradas bastante abrangentes para incluírem não somente os atos públicos como também as atitudes, conforme demonstra a lista se­guinte. A lista pormenorizada também demonstra que há uma distinção na mente de Paulo entre "obra da carne" e "obras da lei", sendo que estas úl­timas denotam "obediência a determinados estatutos".
 
São conhecidas:i.e., são o tipo de coisa que todas as pessoas conhecem bem, e não há probabilidade de serem disputadas. A libertinagem não pode ser levada a efeito em segredo.
 
 
 
Prostituição, impureza, lascívia:a lista é introduzida no grego por um rela­tivo (hatina) que chama atenção ao aspecto qualitativo. A própria lista é uma seleção para ilustrar o tipo de coisa que se pode esperar da atividade da carne. Os três primeiros itens são pecados da sensualidade. Mas, por que começar com estes? É possível que seja devido à sua predominância e por serem praticados tão abertamente nos dias de Paulo. Estavam em grande destaque no ambiente pagão do qual os gálatas foram tirados, sendo até mesmo aprovados nos ritos da adoração pagã. A "prostituição" (porneia) refere-se a um exemplo específico da "impureza" (akatharsia) mais geral, a qual, embora às vezes possa denotar impureza ritual, refere-se aqui à impu­reza moral. A terceira palavra do trio (aselgeia) significa literalmente a libertinagem de modo geral, mas sem dúvida é usada aqui para a lascívia nas relações sexuais. Nos tempos modernos, o aumento destes pecados sensuais e seu efeito desastroso nos relacionamentos sociais não precisam ser ilustra­dos. O movimento conhecido como a Nova Moralidade praticamente san­ciona estes pecados que Paulo classifica inflexivelmente como estando opostos à vida no Espírito. Seria lastimável para o mundo e ainda mais lastimável para a Igreja se chegasse a ser suposto um dia que a livre expres­são sexual pudesse ser excluída das obras da carne.
 
20. Idolatria, feitiçarias:a ligação existente entre a imoralidade e a idolatria na mente de Paulo não é difícil de explicar. As duas achavam-se estreitamente associadas no paganismo da época, especialmente em boa par­te dos cultos pagãos. A feitiçaria ou a bruxaria, cuja prática era igualmente predominante, é representada aqui por pharmakeiaque significa "uso de remédios ou drogas". Essa palavra também significa o uso de drogas com pro­pósitos mágicos. Deve ser lembrado que a linha divisória entre a medicina e a magia não era muito nítida naqueles dias, como continua ocorrendo em muitas culturas tribais hoje em dia. É significativo que Paulo tivesse de en­frentar um oponente do evangelho classificado como mágico (At 13:4ss.). Sem dúvida, Elimas não foi o único desta classe predominante de pessoas com quem Paulo entrou em choque. Tanto a idolatria quanto a feitiçaria eram, portanto, exemplos dos pecados do culto pagão, sendo que a primei­ra fornecia um substituto inadequado para Deus, e a segunda simulava as obras do Espírito.
 
20, 21. Inimizades, porfias... invejas:as oito obras da carne que se seguem formam um grupo completo que pode ser considerado uma descri­ção dos males sociais. Alguns (e.g. Lightfoot) vêem uma escala ascendente de intensidade depois do termo geral "inimizades" que começa a lista. Mas, este é provavelmente um caso de atribuir excessivo significado à dis­posição da lista. Paulo é sem dúvida levado de um pensamento para outro na categoria geral da inimizade, que fica em primeiro lugar. Quatro pala­vras descrevem as rixas: as duas primeiras, e depois, as "dissensões" e as "facções".
 
 
 
As "inimizades" referem-se à hostilidade em geral, as "porfias" são mais abertas, e ressaltam a idéia da altercação, "dissensões" (a palavra dichostasiasignifica "colocar-se à parte") que chama atenção à forma­ção de grupos separatistas hostis, ao passo que "facções" (ou "espírito par­tidário"), que se origina da mesma palavra que "heresia"(hairesis), refe­re-se ao desenvolvimento de várias opiniões conflitantes. A impressão geral criada por estas palavras é de caos.
 
As outras quatro "obras da carne" nesta parte da lista são todas atitudes mentais, resultando em ações que envolvem outras pessoas da comu­nidade. Talvez a mais desagradável delas seja a primeira, "ciúmes", porque a mesma palavra também significa "zelo" e a idéia neste contexto deve ser de "zelo pervertido". Esta, juntamente com a oitava palavra, "invejas", constitui-se num par formidável. As duas continuam sendo os inimigos mais mortíferos da vida da comunidade cristã em plano mais elevado. As outras duas no grupo, "ira" e "discórdias", são falhas humanas muito generaliza­das. A primeira, que é expressa no plural (thumoi), descreve crises de ira mais do que uma atitude permanente (Burton). A palavra "discórdias" não dá bem o sentido integral do grego (entheia), que denota mais "ambição", atitude interesseira, i.e., uma forma especialmente anti-social de egoísmo. O apóstolo talvez esteja pensando nos esforços empregados por um membro destacado da comunidade, a fim de expulsar todos os seus rivais e con­seguir adeptos sem importar-se com os meios utilizados, mas a rivalidade é básica em todos os níveis da sociedade e esta idéia não precisa ficar confi­nada à liderança.
 
Vale notar que quatro dos pecados mencionados nesta lista de oito ocorrem também em 2 Coríntios 12:20 (invejas, iras, porfias, e contendas). Paulo receia que achará estes pecados em evidência, juntamente com qua­tro outros vícios estreitamente ligados a eles, quando visitar os Coríntios. É possível, tendo em vista este fato e a ocorrência de outras listas éticas em Paulo e outros escritores neotestamentários, que o apóstolo esteja repetin­do uma lista ou listas em uso corrente entre os moralistas dos seus dias. Para um comentário sobre tais listas, cf. B.S. Easton: The Pastoral Epistles, 1948, págs. 197-202.
 
21. Bebedices, glutonarias: a lista inteira termina com os pecados da intemperança, que não só predominavam como eram também sancionados por várias formas pagãs de adoração. Em Romanos 13:3 Paulo fez menção deles juntamente com alguns dos outros males aqui referidos. Nessa passa­gem o apóstolo exorta seus leitores a não fazerem provisão para a carne a fim de satisfazer as suas concupiscências e, portanto, a idéia forma um pa­ralelo estreito com a presente passagem. Tendo em vista a necessidade da constante repetição desta advertência contra a intemperança não nos sur­preende descobrir que uma das qualificações negativas do bispo é não ser dado ao vinho (1Tm 3:3; Tt 1:17).
 
 
 
Ecoisas semelhantes a estas:esta expressão é claramente acrescentada por Paulo para demonstrar ter sido intencionalmente seletivo, para ilustrar o seu ponto de vista. As obras da carne deste tipo, e deve ser possível reconhecer outros por meio desses exemplos. Uma lista moderna não seria muito dife­rente da preparada por Paulo e talvez fosse até mesmo idêntica.
 
Eu vos declaro, como já outrora vos preveni:o verbo usado em cada parte desta declaração significa "dizer de antemão", com o significado derivado de "declarar". Presumivelmente a ocasião anterior à qual se refere foi a instrução dada durante sua obra missionária entre eles.
 
Não herdarão o reino de Deus:a advertência é severa. Os judeus, na sua maioria, teriam concordado com a advertência de Paulo, porque seus pa­drões morais eram consideravelmente mais altos do que aqueles do mundo gentio. Os gentios certamente precisariam de uma ética mais elevada ao aceitarem o cristianismo, mas Paulo está convicto de que semelhante ética podia ser encontrada na vida do Espírito, à parte de uma regra legalista. A palavra "reino" refere-se ao reino de Deus que deveria ter lugar no fim da presente era, mas também pode incluir uma realização presente, confor­me parece ter feito no ensino de nosso Senhor. Esta declaração demonstra que, embora Paulo não desse muita ênfase ao ensino do reino nas suas Epístolas, as referências que faz a ele estão cheias de significado e de óbvia importância no seu pensamento. Declarações semelhantes a esta, que res­saltam as exigências éticas do reino, podem ser achadas em 1 Coríntios 6:9-10 e Efésios 5:5.
 
22. Mas o fruto do Espírito: a mudança de "obras" para "fruto" é importante porque remove a ênfase do esforço humano. A linguagem figu­rada que ele emprega é especialmente sugestiva para transmitir a idéia de crescimento espiritual, em notável contraste com a deterioração que segue as atividades da carne. É significativo o uso do singular "fruto" ao invés do plural, porque este último sugeriria produtos diversos, enquanto o verda­deiro alvo de Paulo é demonstrar os vários aspectos da única colheita. Nenhuma destas qualidades que Paulo menciona pelo nome pode ser isola­da e tratada como uma finalidade em si mesma.
 
A metáfora do fruto, fre­qüentemente usada no ensino de Jesus, foi incluída em algumas outras ocasiões nas Epístolas de Paulo, e a mais interessante delas é a de Efésios 5:9, onde ocorre, como aqui, imediatamente após uma referência ao cará­ter ético do reino. Parece certo haver na mente do apóstolo uma distinção nítida entre o fruto do Espírito e os dons espirituais (charismata) mencio­nados na Primeira Epístola aos Coríntios (assim Ridderbos). Neste último caso as dotações eram para tarefas especiais, não sendo, portanto comparti­lhadas por todos igualmente. Mas o fruto do Espírito é o produto normal de cada crente guiado pelo Espírito.
 
 
Assim como ocorre na lista das obras da carne, também com esta lis­ta é impossível enfatizar demasiadamente a ordem exata de cada item individual. Mesmo assim, duas observações podem ser feitas. Os três primeiros itens foram sem dúvida colocados no início da lista numa ordem de impor­tância. Além disto, estes três tratam de qualidades interiores que afetam principalmente o ego propriamente dito, embora não possam ser divorcia­dos do alcance cristão, estendido a outras pessoas; os seis últimos acham-se mais socialmente orientados. Mas esta deve ser considerada uma classifica­ção apenas a grosso modo.
 
Amor:poucos disputariam a escolha que Paulo fez do amor como sendo primário. Está em harmonia com seu grande hino do amor em 1 Coríntios 13. Ele se encontra no coração do evangelho. Paulo já teve algo para dizer acerca do assunto nesta Epístola, tanto acerca do amor de Cristo para com os homens (2:20) quanto do amor dos próprios homens (5:6). O amor cristão diferia imensamente da noção contemporânea em que o amor liga­va-se inextricavelmente à paixão carnal, por seguir o padrão do amor de Cristo em relação aos homens. Tanto o amor dEle quanto o nosso são pro­duto do mesmo Espírito.
 
Alegria, paz:a alegria caracteriza especialmente a carta de Paulo aos filipenses, mas também ocorre em várias outras cartas. Nesta carta é mencio­nada apenas aqui. Várias vezes Paulo usa a expressão "o Deus da paz", que indica o tipo de paz procurado por ele. Cf. 1 Coríntios 7:15, onde aplica esta paz aos relacionamentos domésticos ao observar que Deus nos chamou para a paz. Esta paz é muito diferente da noção geral de paz, visto ser uma possessão interna que traz consigo a serenidade mental, contrastando-se vi­vamente com as "obras da carne" caóticas. Estas três primeiras qualidades são completamente estranhas à própria atmosfera produzida pela "carne".
 
Longanimidade:a palavra contém a idéia de "perseverança", que lhe dá um conteúdo bem mais forte do que a tradução "paciência" que muitas ver­sões usam. Mesmo assim, a ênfase principal aqui recai sobre uma qualidade passiva — resistir firme sob as tensões e pressões da vida. Esta é uma quali­dade vista mais vividamente num contexto social.
 
Benignidade, bondade:a primeira destas palavras pode denotar a bondade, mas no Novo Testamento sempre significa benignidade. A segunda também pode indicar tanto a bondade quanto a benignidade. Realmente, parece ha­ver pouca distinção entre ambas. Apesar disto, não seria do feitio de Paulo, numa lista deste tipo, usar duas palavras sinônimas sem pretender alguma distinção. Há alguma possibilidade, portanto, de "bondade" ser considera­da como sendo mais ativa do que "benignidade".
 
Fidelidade:esta palavra traduz o grego pistis, no sentido de "fé em Deus". Mas visto ser a fé uma exigência básica na abordagem a Deus feita pelo ho­mem, este último tipo de fé não pode ser considerado parte do fruto do Espírito da mesma maneira que as demais virtudes mencionadas.
Daí a tra­dução "fidelidade" aqui, seja no sentido de fidelidade a padrões da verdade, ou no sentido de fidedignidade no trato com outras pessoas (cf. Burton).
 
23. Mansidão:esta palavra (prautês) transmite o sentido de brandura, que é visto como a disposição de submeter-se à vontade de Deus. Este sen­tido de "brandura" tem sido com freqüência confundido, sendo considera­do como incapacidade de resistir até mesmo às coisas que são más. Mas não é este o significado da palavra, pois ela é o antônimo de "ira" na outra lis­ta. Não se trata de uma qualidade natural, porque doutra forma não teria sido incluída no fruto do Espírito Santo. Precisa de cultivo espiritual. O desenvolvimento da mesma leva à harmonia e não à discórdia. Constitui, por esta razão, um fator poderoso na eliminação daqueles pecados de dis­sensões tão destacados na lista anterior.
 
Domínio-próprio:i.e., o domínio sobre os desejos do ego. O verbo correspondente é usado em 1 Coríntios 7:9 sobre o controle dos desejos sexuais, mas o substantivo no presente contexto inquestionavelmente tem uma co­notação mais ampla. Na vida dirigida pelo Espírito, o "eu" deve manter-se em seu lugar adequado. O autocontrole, no entanto, não significa a nega­ção de si mesmo, mas uma avaliação real da função do nosso ego na forma mais nobre de vida. Não poderá haver exemplo melhor do que o de nosso Senhor, que jamais enfatizou sua própria vontade, mas nunca deixou de impressionar os demais com o poder da sua personalidade. O Espírito re­produz no crente o mesmo tipo de conceito equilibrado do "eu".
 
Contra estas coisas não há lei:o apóstolo volta ao tema da lei porque provavelmente tem em mente a insistência dos judaizantes em que um sistema legal é a única maneira de refrear as obras da carne ao condená-las. Paulo, porém, deseja indicar que a vida no Espírito é uma alternativa viável, por­que não há necessidade de qualquer lei restritiva. A palavra "lei" é geral aqui, embora Paulo muito provavelmente estivesse pensando na lei mosaica. Em certo sentido, caso segundo o sistema legal os homens tivessem demons­trado as qualidades enumeradas nesta lista, não teria havido necessidade para a condenação pela lei. O fruto do Espírito é, portanto, a resposta po­sitiva ao desafio dos legalistas aos gálatas.
 
24. E os que são de Cristo Jesus:há uma estreita conexão entre este versículo e o anterior. Em contraste com um sistema legal, Cristo introdu­ziu um relacionamento inteiramente novo. A carne foi vencida por uma nova lealdade, até mesmo por um novo senhorio. Deve ser notado que há um artigo definido no grego antes de "Cristo Jesus", chamando atenção para o título "o Messias", que seria de relevância específica na discussão de Paulo com os judaizantes.
 
Crucificaram a carne:o verbo indica uma ação completada no passado e pode muito naturalmente referir-se à conversão. Alguns entendem que o aoristo se refere à qualidade definitiva do ato mais do que à ocasião específica, e esta é uma interpretação justificável.
É significativa a declaração de que o ato da crucificação foi levado a efeito por aqueles em Cristo, i.e., o verbo é colocado na voz ativa. Como contraste, quando Paulo está tratando da sua própria experiência contínua em 2:20, usa o mesmo verbo no passivo. A voz ativa neste presente contexto enfatiza a responsabilidade dos crentes, embora Paulo fosse o primeiro a reconhecer que a crucificação da carne com as suas paixões e concupiscências é somente possível mediante a identificação com o Cristo crucificado.
 
A lista nos vv. 19 e 20 já ilustrou suficientemente aquilo que Paulo tem em mente. O fruto do Espírito é tão antitético às operações da carne que algo de drástico deve ser feito contra elas, i.e., devem ser crucificadas. Em si mesma, a palavra traduzida "paixões" (pathêma) é neutra, sendo de fato usada por Paulo no sentido de sofrimen­to, mas este "forte sentimento" é claramente aplicado num mau sentido conforme revela o contexto, e o artigo usado com as duas palavras em gre­go denota aquelas paixões e concupiscências que pertencem especificamen­te à carne.
 
25. Se vivemos no Espírito:a cláusula condicional é retórica e pode ser traduzida: "Já que vivemos no Espírito." A questão não está em dúvi­da, mas, sim, forma a base do apelo de Paulo. A vida no Espírito leva consigo responsabilidades inevitáveis.
 
Andemos também no Espírito:há claramente na mente de Paulo uma dis­tinção entre "viver" e "andar", sendo que este último requer uma aplica­ção constante, ao passo que o primeiro expressa uma comunhão permanen­te. O crente cristão tem um tipo de vida diferente daqueles que estão sob o domínio da carne. Mas a aplicação prática desta nova vida não é automáti­ca. Requer alguma perseverança, assim como uma criança que está apren­dendo a andar precisa de persistência. A metáfora é sugestiva, porque o mesmo Espírito que dá vida dá também forças e orientação no decurso da viagem da vida.
 
26. Não nos deixemos possuir de vangloria:Paulo continua sua exortação com três aspectos negativos, sendo que todos eles são uma indicação daquilo que quer dizer por andar no Espírito. É como escolher seu cami­nho ao longo de uma senda cheia de buracos profundos. Existem muitas coisas a serem evitadas, tais como estas três. Provavelmente são seleciona­das para oferecer uma antítese tão direta quanto possível as contendas en­gendradas pela carne. Uma tradução mais literal do grego aqui seria: "Não nos tornemos pessoas vangloriosas", i.e., não nos apartemos do padrão de humildade colocado diante de nós.
 
Provocando-nos uns aos outros:"provocar", usado somente aqui no Novo Testamento, literalmente significa "chamar para fora", e, daí, "desafiar". Onde o Espírito controla não há combates entre as pessoas porque todos são guiados pelo mesmo Espírito.
 
Tendo inveja uns dos outros:aqui é empregado no grego um verbo, "invejar", que corresponde ao substantivo usado no v. 21, sugerindo que as obras da carne devem ser ativamente resistidas. A vida da igreja tem com freqüência sido tragicamente arruinada pela falta em cumprir as responsa­bilidades do andar no Espírito.
 
Bibliografia D. Guthrie