INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Três meses depois da saída do Egito, Deus conduziu os hebreus pelo
deserto até o Monte Sinai, onde ficaram acampados (Êx 19:1,2). Ali, Israel se
tornou uma nação eleita e santa ao entrar em um relacionamento de aliança com
Deus (Êx 19:3-8). A eleição divina de Israel colocou essa nação em uma posição
especialmente privilegiada no mundo.
No Monte Sinai, o Senhor declarou, em particular, a Moisés, a quem
chamou à Sua presença, as orientações preparatórias para a entrega da Lei (Êx
19:3-6). Ali, o Senhor proferiu os Dez Mandamentos (Decálogo) que se
constituíram nos estatutos perpétuos para serem obedecidos (Êx 20:6; 24:12).
Do meio de uma tremenda tempestade, acompanhada de terremotos e do som
sobrenatural de trombetas, com a montanha toda envolta em fumo e coroada de
chamas aterradoras, Deus falou as palavras dos Dez Mandamentos e deu a Moisés a
lei. Tais ordenanças revelam os princípios espirituais e relacionais de Deus ao
Seu povo, bem como Sua natureza santa, os quais os seres humanos devem observar
como parâmetro de conduta (Dt 33:3).
Os "Dez
Mandamentos" revelam, nesta aliança de Deus com Israel, o
próprio caráter de Deus e, como tal, são uma demonstração do comportamento que
Deus requer de todo ser humano em relação a Deus e ao semelhante, cuja
profundidade e alcance foram bem demonstrados por Jesus no sermão do monte.
Deus requereu de Israel e requer, também, de nós – Igreja do Senhor
Jesus - duas atitudes em relação às Suas ordenanças: que possamos ouvir e
obedecer (Dt 11:26,27). Desse modo, tornamo-nos Sua propriedade peculiar, Seu
reino sacerdotal e Seu povo santo (Êx 19:5,6).
O Ev. Dr. Caramuru
Afonso Francisco, citando Meir
Matzliah Melamed, em seu comentário sobre “A Ética Cristã e os Dez Mandamentos”, diz que “... A importância
dos Dez Mandamentos não se resume unicamente no seu significado, mas ao fato de
que constituem exemplos clássicos para todas as demais leis”.
Hans Ulrich Reifler, em sua análise sobre “a ética
dos Dez Mandamentos”, diz:
Os Dez Mandamentos foram escritos por Deus em duas tábuas (Êx 31:18) e
foram reconhecidas como o cerne ou o princípio da lei já em Êxodo 24:12:
"Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; dar-te-ei
tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que escrevi, para os
ensinares". Além desses dois textos básicos, encontramos referências a
elas em Deuteronômio 10:1-5.
No Novo Testamento, com exceção do quarto mandamento, que se refere à
observância do sábado, encontramos todos os Dez Mandamentos em suas formas inibidora
(ou negativa) e positiva (ou construtiva).
Mandamento
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Referência
Correlata no Novo Testamento
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1 e 2
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1João 5.21
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3
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Tg 5.12
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4
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Nenhuma referencia
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5
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Ef 6.1-3
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6
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Rm 13.9
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7
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1Co 6.9, 10
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8
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Ef 4.28
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9
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CI3.9; Tg 4.11
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10
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Ef 5.3
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Além dessas referências específicas, temos alusões ao Decálogo nos
ensinos de Jesus em Mateus 15; 19; 22:37-40; Lucas 10:26-28, e em outras
passagens.
A expressão "Dez Mandamentos" deriva de Êxodo 34:28 e de
Deuteronômio 4:13; 10:4:
"E ali esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não
comeu pão nem bebeu água; c escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras" (Êx 34:28);
"Então vos anunciou ele a sua aliança, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em
duas tábuas de pedra" (Dt 4:13);
"Então escreveu o Senhor nas tábuas, segundo a primeira escritura, os dez mandamentos que ele vos falara
no dia da congregação, no monte, no meio do fogo" (Dt 10:4).
Ao longo da história, os cristãos dividiram os Dez Mandamentos de
maneiras diferentes. De um lado temos a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja
Ortodoxa Russa, juntamente com as Igrejas Reformadas e os anabatistas, seguindo
a divisão proposta por Orígenes, Agostinho, Bonifácio e Calvino; e do outro
lado encontramos a divisão empregada pela Igreja Católica Romana e pelas
Igrejas Luteranas.
As Igrejas Ortodoxas e Reformadas
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A Igreja Católica Romana e as Igrejas Luteranas
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1. Não
terás outros deuses diante de mim (Ex 20:3).
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1. Não
terás outros deuses e não farás imagens.
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2. Não farás
imagens de escultura (Ex 20:4-6).
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2. Não
tomarás o nome de Deus em vão.
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3. Não
tomarás o nome de Deus em vão (Ex 20:7).
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3.
Lembra-te do dia de sábado.
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4.
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar (Ex 20:8-11).
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4. Honra
teus pais.
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5. Honra
teus pais (Ex 20:12).
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5. Não
matarás.
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6. Não
matarás (Ex 20:13).
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6. Não
adulterarás.
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7. Não
adulterarás (Ex 20:14).
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7. Não
furtarás.
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8. Não
furtarás (Ex 20:15).
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8. Não
dirás falso testemunho.
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9. Não
dirás falso testemunho (Ex 20:16).
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9. Não
cobiçarás a casa de teu próximo.
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10. Não
cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua mulher ou servo, ou animal (Ex
20:17).
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10. nem
sua mulher ou servo, ou animal.
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Seguindo o modelo proposto por Calvino, baseado em Agostinho e Orígenes,
percebemos que os primeiros quatro mandamentos, correspondente a “primeira
tábua, tratam da relação vertical,
ou seja, das responsabilidades do homem para com seu Criador, enquanto a
"segunda tábua", ou os seis mandamentos restantes, trata da relação horizontal, isto é, das
responsabilidades do homem para com seu próximo. Reencontramos esta dupla
relação no ensino de Jesus Cristo, quando o Mestre respondeu a respeito do
grande mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro
mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas" (Mt
22:37-40).
Outra maneira de dividir os Dez Mandamentos e agrupá-los em três partes:
Mandamentos
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Êxodo 20
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Assunto
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1-3
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vv. 2-7
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Relação
correta com Deus.
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4
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vv. 8-11
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Relação
correta com o trabalho.
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5-10
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vv. 12-17
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Relação
correta com a sociedade.
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Ou então:
Mandamentos
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Êxodo 20
|
Assunto
|
1-3
|
vv. 2-7
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Moral
teológica.
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4-6
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vv. 8-14
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Moral
individual.
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7-10
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vv. 15-17
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Moral
social.
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Assim, partindo da observação dos aspectos vertical e horizontal do
Decálogo, traçamos o seguinte esboço:
1. O testemunho da singularidade e exclusividade de Deus (Êx 20:3).
2. O testemunho da incomparabilidade de Deus (Êx 20:4-6).
3. O testemunho da santidade de Deus (Êx 20:7).
4. O testemunho do senhorio de Deus sobre o tempo (Êx 20:8-11).
5. A proteção da velhice (Êx 20:12).
6. A proteção da vida (Êx 20:13).
7. A proteção do matrimonio e do corpo (Êx 20:14).
8. A proteção da propriedade e do trabalho (Êx 20:15).
9. A proteção da honra (Êx 20:16).
10. A proteção contra as ambições erradas e a cobiça (Êx 20:17).
Segundo o pr. Esequias Soares, o Decálogo é a única parte do Pentateuco
escrita "pelo dedo de Deus" (Êx 31.18), linguagem figurada que, segundo
Agostinho de Hipona, indica "pelo Espirito de Deus" e, de acordo com
Clemente de Alexandria, "pelo poder de Deus". É também a única porção
da lei que Israel ouviu partir da voz do próprio Deus no monte quando ele
transmitia essas Dez palavras (Êx 19.24, 25; 20.18-20). Os demais preceitos
foram transmitidos por Javé exclusivamente a Moisés. Além dessas
características, elas servem como esboço de toda a lei de Moisés. Todavia, isso
não coloca o seu conteúdo numa posição acima da legislação mosaica porque toda
a lei veio de Deus e "toda a
Escritura é inspirada por Deus" (2Tm 3.16 - ARA).
Ainda, segundo o pr. Esequias Soares, as Dez palavras foram dadas a
Israel logo após a libertação dos israelitas do Egito e se aplicam
primariamente aos hebreus, não a toda a humanidade. Isso fica muito claro na
expressão "para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu
Deus, te dá" (Êx 20.12; Dt 5.16), que diz respeito à terra de Canaã. E o quarto mandamento, na recapitulação
em Deuteronômio, afirma "porque te lembrarás de que foste servo na terra
do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço
estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de
sábado" (Dt 5.15). O sábado legal era o sinal do concerto entre Javé e o
seu povo Israel (Êx 31.13,17). São peculiaridades do sábado no sistema mosaico
que o Senhor Jesus e seus apóstolos não incluíram como parte obrigatória na fé
cristã.
Alguns interpretam que o Senhor Jesus Cristo sintetizou as duas tábuas
nos dois grandes mandamentos (Mt 22:34-40), com a ressalva do sábado, pois não
há ensino no Novo Testamento para a observância do quarto mandamento.
O sábado (mencionado pela primeira vez em Gênesis 2:1-3 e depois juntamente com
o relato do maná em Êxodo 16) agora é formalmente instituído como lei à nação
de Israel. Esse dia era um símbolo do descanso que os cristãos hoje desfrutam
em Cristo e também da redenção que a criação desfrutará no milênio. O sábado
judaico (hb. Shabbath – “cessar,
interromper”), o sétimo dia da semana, começa ao pôr-do-sol da sexta-feira
e termina ao pôr-do-sol do sábado. Nenhuma passagem do Novo Testamento ordena
os cristãos a observar o sábado.
Conquanto o cristão não esteja mais obrigado a observar o sábado
judaico, ele tem fortes razões bíblicas para dedicar um dia, em sete, para seu
repouso e adoração a Deus:
a) O princípio de um dia sagrado de repouso foi instituído antes da lei
judaica - “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou” (Gn 2:3). Isto indica
que o propósito divino é que um dia, em sete, fosse uma fonte de benção para
toda a humanidade e não apenas para a nação judaica.
b) O propósito espiritual de um dia de descanso em sete é benéfico ao
cristão. No Novo Testamento esse dia era visto como uma cessação de labor e ao
mesmo tempo um dia dedicado a Deus; um período para se conhecer melhor a Deus e
adorá-lo; uma oportunidade para dedicar-se em casa e em público às coisas de
Deus (Nm 28:9; Lv 24:8).
c) Jesus nunca ab-rogou o princípio de um dia de descanso para o homem.
O que Ele reprovou foi o abuso dos líderes judaicos quanto à guarda do sábado
(Mt 12:1-8; Lc 13:10-17; 14:1-6).
d) Jesus indica que o dia de descanso semanal foi dado por Deus para o
bem-estar espiritual e físico do homem (Mc 2:27).
e) Nos tempos do Novo Testamento os cristãos dedicavam um dia especial,
o primeiro dia da semana, para adorar a Deus e comemorar a ressurreição de
Cristo (At 20:7; 1Co 16:2; Ap 1:10).
Muitos identificam o Decálogo como lei moral sem fazer restrição ao
quarto mandamento, que fala do sábado. É importante que se saiba que o sábado
foi dado como uma bênção para os israelitas e posto como sinal entre Deus e
Israel, como memorial da libertação do Egito (Êx 31.13, 17; Dt 5.15). Nem a
Igreja e nem nenhuma nação têm compromisso com o sábado legal de Moisés para
observar o sétimo dia da semana (Cl 2.14-17). Jesus disse que o sábado é um
preceito cerimonial (Mt 12.1-5; João 7.21, 22).
Segundo o pr. Esequias Soares, matar, adulterar, furtar e proferir falso
testemunho já existia nos códigos mesopotâmios e do Egito como crimes, embora
os fundamentos e propósitos fossem diferentes dos revelados na lei de Moisés.
Os hebreus do período pré-Sinai sabiam que era errado desonrar a Deus pelo uso
impróprio do seu nome, como era igualmente errado faltar com o respeito aos
pais e cobiçar a propriedade alheia. Mas com a revelação do Sinai, eles tiveram
uma compreensão mais ampla desses mandamentos e passaram a entender que não se
tratava de meras normas jurídicas, mas da vontade de Deus. Foi Javé quem
colocou a lei no coração e na mente de todos os seres humanos, dando-lhes assim
as condições necessárias para discernirem entre o certo e o errado, por meio da
consciência (Rm 2.14-16). O concerto do Sinai mostra a origem divina de todos
esses mandamentos.
Diz, ainda, o pr. Esequias Soares:
Os Dez Mandamentos não aparecem como tal na sua totalidade nenhuma vez sequer no Novo
Testamento. Os mandamentos que o Senhor Jesus citou para o moço rico (Mt
19:18,19) e os mencionados pelo apóstolo Paulo (Rm 13:9), além de não serem a
totalidade, não estão na sequência canônica. Na fé cristã, a sua autoridade é a
mesma das demais partes das Sagradas Escrituras.
A lei cerimonial é a parte da legislação mosaica que trata das cerimônias de sacrifícios
e das festas religiosas, do kashrut,
leis dietéticas, dentre outras, que se cumpriu em Jesus. Os preceitos de
caráter jurídico, como a lei civil, também já foram cumpridas, porque não
existe mais um estado teocrático, e a Igreja não é um Estado.
A questão é se a moral cristã deve estar fundamentada nos Dez Mandamentos
e qual é o papel desses preceitos na vida da Igreja. Quando o Novo Testamento
afirma que a lei foi abolida por Cristo, não especifica se é lei moral,
cerimonial ou civil. O apóstolo Paulo inclui a parte do sistema mosaico que foi
"gravado com letras em pedras" (2Co 2:7). Assim, quando se diz que
não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça (Rm 6:14, 15), dizemos que
essa lei é a Torá completa, e não parte dela. Toda a lei resume-se na lei do
amor, amor a Deus e ao próximo (Mt 22:37-40; Rm 13:8-10). Estar debaixo da
graça significa que fomos libertos da lei para servir e não para pecar, nós
somos servos de Cristo e não da lei, é o Espírito Santo que guia o cristão no
dia a dia (Rm 7:6) (Ensinador Cristão).
É válido, ainda, ressaltar o seguinte:
Todo o Pentateuco é considerado a Lei de Deus e não meramente os Dez
Mandamentos (ler Josué 24:26). O que de fato existem são preceitos morais,
cerimoniais e civis, mas a Lei é uma só. “É chamada de Lei de Deus porque veio
de Deus, e lei de Moisés porque foi ele o mediador entre Deus e Israel (Ne
10:29). Ambos os termos aparecem alternadamente na Bíblia (Ne 8:1,2,8,18; Lc
2:22,23). A cerimonia dos holocaustos, a circuncisão e o preceito sobre o
cuidado dos bois são igualmente reconhecidos como lei de Moisés (2Cr 23:18;
30:16; At 15:5; 1Co 9:9)” (LBM – CPAD).
Referências Bibliográficas:
Hans Ulrich Reifler. A ética dos dez Mandamentos. Vida Nova.
Esequias Saores. Os Dez Mandamentos – Valores Divinos para uma Sociedade
em Constante Mudança. CPAD.
Paul Hoff – O Pentateuco. Ed. Vida.
Leo G. Cox - O Livro de Êxodo - Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Victor P. Hamilton - Manual do Pentateuco. CPAD.
Dr. Caramuru Afonso Francisco. A
Ética Cristã e os Dez Mandamentos. PortalEBD.