16 de julho de 2013

O COMPORTAMENTO DOS SALVOS EM CRISTO



CONDUTA DIGNA DO EVANGELHO

Filipenses 1.27—2.1-4

Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus. Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele, tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e, agora, ouvis estar em mim.

Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. (Fp 1.27—2.1-4)

A quebra da sequência dos versículos tem por objetivo destacar a importância do assunto inserido no texto. O texto indicado para este capítulo trata, como se vê, da conduta digna que o cristão deve viver em meio aos sofrimentos infligidos no contexto da vida cristã. Esses mesmos versículos destacam a perseverança como qualidade indispensável para suportar o sofrimento. Em todo o Novo Testamento, especialmente nas cartas de Paulo, o sofrimento esteve presente na vida dos cristãos. Ele mesmo lidava com o sofrimento com uma postura firme na esperança de que um dia não haveria mais sofrimento para os que estão em Cristo.

Neste final do capítulo 1 (Fp 1.27-30), Paulo faz de Cristo o exemplo supremo da vida dedicada. Esse exemplo se torna um consolo quando sofremos por amor a Cristo. Paulo chama a atenção dos filipenses para as aflições e perseguições que ele havia passado e que eles também experimentariam. Em outra carta, o apóstolo resume seu pensamento nesse sentido quando diz: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12).

O apóstolo admoesta aos cristãos de Fiipos a que norteassem suas vidas pelo evangelho de Cristo, independentemente das adversidades que tivessem de enfrentar por causa do nome de Jesus. Por que aceitar sofrer pelo evangelho? A resposta simples e objetiva estava na convicção de que um dia esse sofrimento iria parar, e a presença do Espírito Santo na vida íntima de cada crente fortaleceria a esperança da glória. Na realidade, Paulo faz um convite aos cristãos para que sejam capazes de padecer pelo Senhor Jesus, porque o galardão da fidelidade estava garantido.

A Conduta de Cidadãos dos Céus

1. O significado de “portar-se dignamente” (1.27)

Ao exortar aos cristãos filipenses que se portassem dignamente, Paulo tinha em mente o estilo de vida da cidade e da sociedade de Filipos, como uma representação autêntica da vida romana. Ele entendia que a cidade que oferecia honras aos seus cidadãos e que levava uma vida politeísta poderia afetar a fé em Cristo. Ele, então, apela à consciência cristã dos membros da igreja a que tivessem cuidado em não corromper a fé recebida em Cristo. Paulo lembra nessa exortação o fato de que eles deveriam saber como viver numa sociedade comprometida com a cidadania imperial romana, sem se esquecer de que eles tinham uma cidadania celestial, cujo Rei era o Senhor Jesus Cristo. Esse fato é lembrado no texto de 3.20: “Mas a nossa cidade está nos céus”. O apóstolo apela para a conduta cristã que os filipenses deveriam ter em relação à vida da cidade política e social de Filipos.

A maior dificuldade do mundano está na palavra “conduta”, que é interpretada como um modo de cercear a liberdade de ser e de fazer o que quiser fazer. Entretanto, do ponto de vista da Bíblia, essa palavra cabe perfeitamente no estilo de vida cristã. A conduta requerida não é um cerceamento à liberdade; pelo contrário, é um modo de exercer liberdade com domínio sobre todos os ímpetos da natureza humana.

Note o que o texto diz: “somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo”. A palavra chave nesta frase é “portar-se” que melhor traduzida e de acordo com o contexto se refere ao comportamento de um cidadão. Portanto, como “cidadãos dos céus” os cristãos devem conduzir-se de um modo digno do evangelho. Esse modo digno de conduzir-se implica agir com firmeza e equilíbrio na vida cristã cotidiana.

A palavra “digno” está no texto grego do Novo Testamento como aksios (ou axios) e é usada por Paulo em outras cartas aos efésios (Ef 4.1), aos colossenses (Cl 1.10) e aos tessalonicenses (1 Ts 2.12). A palavra axios sugere, na sua etimologia, a figura de uma balança de dois pratos em que o fiel da balança determina a medida exata daquilo que está no prato. O valor ou dignidade é achado quando o fiel da balança fica na posição vertical central. Os pratos da balança que ficam em posição horizontal precisam ter o mesmo peso para equilibrar o fiel da balança. O cristão precisa ter uma vida equilibrada com o fiel da balança que é a vontade soberana de Deus para a sua vida. Em síntese, os privilégios de que gozamos na vida cristã devem condizer com nossa conduta de cidadãos dos céus.

2. O comportamento de cidadãos dos céus (1.27)

O texto diz literalmente “vivei” como “cidadãos dos céus” do mesmo modo como cada cidadão romano tinha que viver conforme as leis do Império Romano.

Muito mais, como cidadãos romanos, os cristãos deveriam viver de modo digno do evangelho, sem ofender a lei terrena, mas nunca negando a salvação recebida de Cristo Jesus. Por isso, um cidadão consciente sabia que deveria sempre respeitar as leis do império para ter privilégios de cidadãos (Rm 13.1-7). Do mesmo modo, o cristão devia comportar-se como cidadão dos céus, porque sua nova pátria é o Reino de Deus. Mais à frente, Paulo identifica bem esse novo estado de vida do cristão quando diz: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). O cristão deve, portanto, comportar-se de forma digna dessa cidadania. Todo aquele que for nascido de novo, é nova criatura e tem seu nome escrito no Livro da Vida do Cordeiro, por isso faz parte da família celestial (2 Co 5.17; Fp 4.3).

Paulo tinha uma visão ética da vida cristã muito definida. Por isso, é frequente nas suas cartas o apelo ao padrão de conduta ética para as igrejas sob a sua orientação pastoral. Várias vezes nos deparamos com esse apelo paulino nas suas cartas. Aos Tessalonicenses, ele escreveu: “Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos, para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para o seu reino e glória” (1 Ts 2.12). Ao recomendar uma cristã chamada Febe, membro da igreja em Cencreia, Paulo escreveu aos romanos:
“Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos” (Rm 16.1,2). Percebe-se que é o evangelho que estabelece a norma ética do comportamento cristão.

Uma Conduta Capaz de Fazer Frente à Oposição no Seio da Igreja (1.28)

A igreja enfrentava uma oposição de intimidação (1.28)

A versão bíblica Almeida Revista e Corrigida (ARC) apresenta o texto assim: “Em nada vos espanteis dos que resistem” (v. 28). A versão da Bíblia Viva esclarece ainda mais o texto com estas palavras:
“sem temor algum, não importa o que os seus inimigos possam fazer”.

A palavra “resistir” tem o mesmo sentido que “oposição”, e isso estava ganhando espaço no seio da Igreja como uma forma de intimidação aos fiéis.

A expressão “em nada vos espanteis” contém um verbo expressivo que sugere o tropel de cavalos assustados. Paulo mostra a distinção na reação de coragem e firmeza que os filipenses deveriam ter em relação às perseguições. Ele garante que o sofrer por Cristo é garantia de salvação e vitória sobre os inimigos. A invasão de falsos mestres e apóstolos no seio da igreja produzia medo da parte dos cristãos que 
Paulo havia doutrinado.

A resistência ao ensino do evangelho vinha de fora por intermédio de pregadores que negavam a divindade de Cristo e os valores ensinados pelos apóstolos. Essa resistência de alguns tinha por objetivo ameaçar e intimidar os cristãos sinceros. Paulo estava preso. Então eles se aproveitaram da ausência do apóstolo e dos outros obreiros auxiliares de Paulo para exercerem influência nos pensamentos e no afastamento da fé cristã. 

Mas Paulo apela ao sentimento daqueles cristãos estimulando-os a permanecer firmes sem se deixarem enganar e desanimar. Na verdade, Paulo os estimula a que mantenham a fé genuína e enfrentem de cabeça erguida aos que resistem à mensagem do evangelho. A oposição identificada no seio da igreja vinha de fora da comunidade que abriu caminho para dentro da igreja e passou a influenciar alguns cristãos. Esses opositores eram formados por alguns eruditos perniciosos e itinerantes que, para ganhar espaço no seio da igreja, criticavam o apóstolo Paulo. Porém, o apóstolo eleva a importância do evangelho de Cristo como capaz de produzir em seus corações a vitória da parte do Senhor.

2. O paradoxo de padecer por Cristo Jesus (1.29)

“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por Ele” (Fp 1.29). Temos aqui uma magnífica declaração. A voz passiva da frase “vos foi com concedida” atribui todas as coisas que estavam acontecendo à soberana vontade de Deus. Foi Deus quem concedeu a experiência de padecer por Cristo. Os filipenses deveriam confiar no propósito divino e não se deixarem abater pelas experiências amargas das perseguições e privações infligidas contra eles. Na verdade, Paulo transparece em seu pensamento que aquelas provações vêm a eles pela graça de Deus e o resultado final será a vitória em Cristo. A expressão “padecer por Cristo” indicava que esse padecimento implicava comparticipar das aflições de Cristo, numa identificação pessoal com Ele, que antes padeceu por nós. O apóstolo Pedro em sua epístola escreveu: “Alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pe 4.13).

Indiscutivelmente, o versículo 29 une o privilégio de crer, como um ato de coragem, e a graça de padecer por Cristo. Isto é, de fato, um paradoxo, cujo sentido pode significar “aquilo que parece contraditório ou que parece contrário ao comum”. Pode ser “aquilo que tem aparente falta de nexo ou de lógica”. Nos tempos atuais, o pensamento neopentecostal não admite a ideia de sofrer, padecer, ficar doente. A falsa teoria da chamada teologia da prosperidade não admite a ideia de sofrimento. Porém, a Bíblia contradiz essa teoria e ainda desafia o crente a aceitar o sofrimento como uma oportunidade de glorificar a Cristo. E privilégio do cristão sofrer por Cristo por causa da esperança da glória. Essa capacidade de aceitar o sofrimento nesta vida terrena e permanecer fiel ao Senhor Jesus se choca frontalmente com sistema de pensamento mundano.

Nenhum ser humano aceita o sofrimento como coisa normal, muito menos transformá-lo numa esperança. Paulo via seus sofrimentos como um serviço que ele fazia para Cristo. Ele tinha consciência desse sentimento porque ouviu a palavra de Ananias de Damasco, que foi à casa onde ele aguardava uma orientação do Senhor. A palavra de Deus para Ananias acerca de Paulo foi esta: “Eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.16). Essa predição cumpriu-se literalmente na experiência apostólica de Paulo. Todavia, ele aceitou seus sofrimentos como participação nos sofrimentos de Cristo (Fp 3.10).

Quando temos uma visão genuína do nosso futuro, não teremos problemas com os sofrimentos presentes na vida terrena. Lucas contou no livro de Atos que os apóstolos foram açoitados e lançados na prisão (At 5.18). Esses apóstolos sentiam-se privilegiados em sofrer por Jesus Cristo. Diz Lucas: “E, chamando os apóstolos e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus e os deixaram ir. Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus” (At 5.40,41). Tudo o que Paulo desejava com os fihipenses é que eles enfrentassem seus sofrimentos e afrontas com a alegria de sofrerem pelo nome de Jesus.

3. O combate do evangelho é travado contra inimigos espirituais (1.30)

Como entender essa escritura? O texto diz: “tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e, agora, ouvis estar em mim”. A palavra combate ganha um sentido especial nessa escritura porque se tratava de algo no campo espiritual. Os filipenses sabiam perfeitamente o tipo de combate que Paulo teve quando do início da igreja em Filipos (At 16.2; 1 Ts 2.2). Os filipenses também souberam do combate que Paulo teve quando partiu da Macedônia (Fp 4.15). Embora seu combate seja feroz e Paulo enfrente constantes ameaças de morte, o apóstolo não temia entrar nesse combate porque entendia que seu ministério apostólico dependia totalmente de Deus. Nesse sentido, ele apela ao coração dos filipenses no sentido de encorajá-los a que fiquem firmes na fé e tenham a mesma confiança que ele mesmo tinha acerca do cuidado de Deus. Ora, os filipenses estavam engajados no mesmo combate espiritual e, por isso, não deveriam desanimar. No exercício do ministério cristão, estamos num campo de batalha com um combate feroz contra as potestades de Satanás (Ef 6.10-12).

O encorajamento dado pelo apóstolo aos irmãos de Filipos tinha sua base na própria experiência de alguém que pessoalmente havia sofrido e ainda estava sofrendo por amor de Cristo. Que combate era esse? Era um combate promovido por inimigos espirituais para abatê-lo, destruí-lo e neutralizá-lo. Esse combate atingia sua vida física, moral e espiritual.

Em outra carta aos Coríntios, Paulo menciona que três vezes havia sido “açoitado com varas” (2 Co 11.25) e uma vez havia acontecido em Filipos, quando havia chegado à cidade para pregar o evangelho (At 16.22,23) — e dessa última experiência os irmãos filipenses eram sabedores. Ele sabia que os irmãos de Filipos estavam sofrendo algum tipo de constrangimento e, por isso, podia dizer que o mesmo sofrimento ele estava vivendo. Certamente, era um consolo para os filipenses saber que Paulo estava sofrendo, mas não havia desanimado nem desistido da sua missão. Estava viva na mente do apóstolo a mensakem divina, quando se encontrou com Cristo: “E eu lhe mostrarei o quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16). Essa é a força do evangelho capaz de reagir ao sofrimento para fazer valer o nome do Senhor e a vitória final.

Uma Conduta que Promova a Unidade da Igreja (2.1-4)

A ausência fisica de Paulo na vida da igreja acabou por provocar várias situações quase que incontroláveis de desunião. Para que a igreja sobrevivesse, a unidade precisava ser preservada, O apóstolo tivera notícias que o preocuparam e, por isso, ele se interessa em fortificar a igreja nos seus fundamentos. Os inimigos externos (1.28), porque vieram de fora, ameaçavam a unidade doutrinária da igreja com influências judaizantes e filosóficas de cristãos que não conseguiram se desvencilhar do passado. Essas pessoas trouxeram discursos que minavam a fé cristã ensinada por Paulo. O apóstolo, então, se volta para a igreja e a trata como uma família que precisava manter os elos familiares. Ele convida os cristãos filipenses a que examinem todas as coisas comparando-as com aquilo que ele havia ensinado do autêntico evangelho de Cristo. Nos tempos atuais, a igreja de Cristo tem sido invadida por falsos pregadores e ensinadores. São obreiros falsos que trazem para o seio da igreja doutrinas falsas que contrariam a sã doutrina cristã.

O apóstolo Paulo, em meio aos seus pensamentos colocados na Carta, deixa de lado o assunto sobre os sofrimentos exteriores — que envolviam perseguições, privações materiais — e focaliza outro tipo de sofrimento que estava afetando a vida da igreja. Alguns acontecimentos internos na vida eclesiástica que estavam prejudicando a unidade da igreja eram do conhecimento do apóstolo, e ele não podia estar presente para dirimir dúvidas e desfazer equívocos.

1. O ardente desejo de Paulo pela unidade da igreja (2.1-3)

O último versículo do capítulo 1 fala de um combate, e Paulo procura fortalecer a igreja contra inimigos externos que, de algum modo, estavam afetando a unidade da igreja. Como uma igreja poderá conseguir unidade quando se depara com pessoas com atitudes contenciosas, egoístas e cheias de vã-glória, divergindo e contestando as doutrinas ensinadas por Paulo?

Eram pessoas pretensiosas, que divergiam do pensamento central do cristianismo, que é o Senhor Jesus Cristo, insuflando mistura de doutrina cristã com filosofias? Paulo refuta esses falsos conceitos que visavam promover a discórdia entre os irmãos e dispersá-los da convivência e da comunhão fraternal. O apóstolo apela ao bom senso dos cristãos de Filipos e pede que tenham um mesmo sentimento e um mesmo parecer (2.2). A unidade será preservada se todos tiverem o mesmo amor que produz harmonia, unidade e um mesmo sentimento.

2. Mantendo a presença interior do Espírito (2.1-4)

O apelo à manutenção da comunhão do Espírito reforçava o fato de que eles haviam recebido o Espírito, que vivia dentro deles, e, por isso, deveriam tomar uma atitude de manter a unidade e cultivar a união de pensamento em relação ao que aprenderam do evangelho. A despeito de os seres humanos serem de culturas e temperamentos diferentes, podiam partilhar o mesmo sentimento que também houve em Cristo Jesus. Paulo escreveu: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5). A presença interior do Espírito implica a lembrança de que Jesus é o Senhor sobre todas as coisas. 

Sua presença dentro do crente é a garantia de que a obra de Cristo foi perfeita e completa. Sua presença em nós promove a paz e a união no seio da igreja. A lealdade a Cristo torna-se o fruto dessa presença que nos faz obedecer à sua Palavra, o novo mandamento deixado por Ele (Jo 13.34,35).

“.. se há algum conforto em Cristo” (2.1). O termo grego paraklesis no Novo Testamento é traduzido por alguns vocábulos como “conforto”, “consolo” ou “exortação”. A palavra “conforto”, como está na ARC, aparece também na ARA como “exortação”, e ambas dão a ideia de encorajamento ou apoio nas lutas da vida (At 9.31). Várias ideias estão associadas à palavra grega no Novo Testamento. Esse termo grego aparece no Novo Testamento como um dom espiritual (Rm 12.8) e, também, como um modo de instruir e estimular a fé (1 Tm 4.13; Hb 12.5). Em outros textos, aparece como consolo ou conforto (Lc 2.25; At 15.31; Rm 15.4,5; 2 Co 1.3,5-7). Paulo usa a palavra paraklesis com o sentido de lembrar algo recebido. Paulo pede e admoesta os filipenses a que vivam em união e trabalharem juntos em toda a obra do evangelho e em perfeita harmonia. O conforto em Cristo é produzido pelo Espírito Santo na vida da igreja. Por isso, não poderia haver rancores e mágoas nos corações.

“...se alguma consolação de amor” (2.1). A base do consolo em Cristo é o amor. Sem amor é impossível absorver o consolo espiritual, porque o amor de Cristo constrange e move a nossa vida, como o próprio apóstolo estava convencido disso ao declarar aos coríntios: “Porque o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14). Para a mente de Paulo, o amor que Jesus Cristo nutre pela sua Igreja deve impelir a que todos vivam dignamente. O amor de Cristo nos constrange, no sentido de que as divisões e facções são desfeitas para que haja união de sentimentos.

“...se alguma comunhão no Espírito” (2.1). O princípio que unifica a igreja é a comunhão do Espírito no corpo de Cristo, a sua Igreja. Por outro lado, estava indicando que a presença do Espírito na vida interior de cada crente é um fato consumado na experiência cristã. Por isso, com a ajuda do Espírito, podemos superar todas aquelas atitudes que roubam a humildade e o relacionamento sadio com todos os irmãos. A comunhão no Espírito anula o individualismo e cria uma nova vida em comum no seio da igreja. A mutualidade e a cooperação entre todos são elementos vitais que a comunhão no Espírito produz.

“...se alguns entranháveis afetos e compaixões” (2.1). No texto da ARA está assim: “se há entranhados afetos e misericórdias”, indicando que se tratava de um forte e caloroso amor, especialmente aquele amor demonstrado pelos filipenses ao apóstolo. Havia uma relação de afeto da parte da igreja de Filipos por Paulo e pela sua situação como preso em Roma, por isso, preocupavam-se com ele em sua prisão. E Paulo, reciprocamente, demonstra o mesmo amor e afeto pelos filienses e todas as igrejas da Macedônia.

A palavra “afetos” aparece no grego como splanchnon, que no sentido figurado significa “piedade ou simpatia, solidariedade”. Esses termos definem as palavras: afeto, entranhas, graça, misericórdia. “Entranhas” sugere a sede da vida emocional. No capítulo 1.8, Paulo fala de seu amor pelos filipenses: “Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo”. Ao referir-se ao amor de Cristo, Paulo fazia uma conexão desse amor para com Ele e para com os filipenses. Esse amor é algo palpável e sentido. Não é nada platônico, intocável, teórico. E entranhável pelo Espírito Santo.

A palavra “compaixões” aparece em outras versões como “misericórdias”, cujo sentido se trata daquele sentimento que descreve a emoção e a sensibilidade para com os necessitados.
A compaixão deveria guardar aos cristãos da desunião. William Barclay, em seu Comentario ai Nuevo Testamento, declarou: “A desunião rompe a estrutura essencial da vida”. Ele também disse que “os homens não foram criados para ser como lobos rosnando uns com os outros, sim para viver em harmonia”.

“.. completai o meu gozo” (2.2) não tinha um caráter egoísta da parte do apóstolo, mas era um estímulo a que experimentassem o mesmo gozo que produzia um sentimento de segurança e esperança de que esse gozo resultaria no gozo da vida eterna. Paulo se dirige aos filipenses dizendo-lhes da sua alegria por eles, mas estimula e pede a eles que completem seu gozo (alegria, regozijo) demonstrando, em contrapartida, “o mesmo sentimento” ou “o mesmo amor”. Que amor é este? Não se trata do mero sentimento que sentimos pelas pessoas, mas era algo especial da parte de Deus. A bíblia declara que Deus derramou seu amor em nossos corações através do Espírito Santo (Rm 5.5).

Ora, por esse modo, poderos amar as pessoas independentemente de elas nos amarem ou não. Quando amamos com o amor de Cristo aprendemos a ver os valores das pessoas e não apenas seus defeitos.

“Nada façais por contenda ou por vanglória” (2.3). A exortação paulina conscientizava ao cristão filipense, e a tantos quantos são membros do corpo de Cristo, que o membro nada fará no seio da igreja de forma isolada, “por contenda ou por vanglória”, isto é, por ambição egoísta ou por presunção. Essas duas posturas, egoísmo e presunção, são antagônicas diretamente à comunhão com Cristo. Certa feita Jesus, falando aos discípulos e exemplificando fatos a eles, disse-lhes: “Mas entre vós não será assim” (Mc 10.43). 

Tudo o que possa ser prejudicial ao convívio fraternal deve ser extirpado na vida cristã cotidiana dos crentes em Cristo.
Naturalmente, as pessoas perniciosas que estavam no seio da igreja influenciando os irmãos fiéis a se debaterem por causa de cargos ou funções tinham que ser alijados da comunhão. O espírito de Diótrefes, que lutava pela primazia no seio da igreja, sem respeitar os princípios de autoridade que devem nortear a vida de uma igreja, tem que ser reprimido (3 Jo 9). O conselho de Paulo era para que os irmãos evitassem os que contendiam por primazia, por questões de orgulho, que é algo que surge da mesma raiz de vanglória. O que caracteriza o cristão é a humildade, que é uma qualidade que se opõe ao orgulho. A Bíblia diz que Deus dá graça aos humildes (Pv 3.34; Tg 4.6; 1 Pe 5.5).

“Não atente cada um para o que é propriamente seu” (2.4). Nessa exortação, o apóstolo Paulo procura inculcar na mente dos cristãos que o espírito egoísta contradiz o espírito cristão, cujo padrão de vida baseia-se no amor ao próximo. Antes de querer pensar apenas nas minhas coisas, nos meus interesses, devo pensar em ser útil às pessoas nos seus interesses. A convivência com os irmãos da mesma fé requer de cada cristão uma boa dose de humildade e desprendimento. O meu crescimento não pode prejudicar o crescimento dos demais. Os meus dons não são para o usufruto meu, mas devem ser úteis à comunidade. Os que buscam primazia no seio da igreja com atitudes egoístas se esquecem do princípio deixado por Jesus:

“E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos” (Mc 10.44).

Na ética cristã, aprendemos um princípio básico em relação às pessoas que é o de, primeiro, pensar nos outros no sentido de ajudar. A expressão “levai as cargas uns dos outros” faz parte da filosofia de relações humanas ensinada por Jesus. O exemplo de Cristo é sempre o argumento forte do apóstolo nas relações éticas (Rm 14.1-3). O Espírito ajuda o crente a evitar todo partidarismo, egoísmo e vanglória, produzindo no seu coração um sentimento de respeito e amor pelos demais irmãos da mesma fé (v. 4).


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus


Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS


Filipenses – A humildade de  Cristo como exemplo para a Igreja = Elienai Cabral