12 de fevereiro de 2019

Tentação A batalha por nossas escolhas e atitudes


Tentação A batalha por nossas escolhas e atitudes

INTRODUÇÃO

Há certo paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto e os quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no lugar ermo. A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o vitorioso sobre Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e atitudes na jornada de nossa vida espiritual.

I - A TENTAÇÃO

Os termos "tentação" e "tentar" na Bíblia aplicam-se tanto no campo secular como no campo religioso. Vamos analisar o assunto partindo dos significados e sentidos dessas palavras, levando em consideração o contexto das várias passagens bíblicas.

A provocação de Refidim.

O substantivo "tentação" significa literalmente "teste, provação, instigação". Na contenda paradigmática de Refidim, no deserto, temos o significado dessa palavra: "E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?" (Êx 17.7).

O vocábulo hebraico massá significa "tentação", e meribá quer dizer "contenda". Os israelitas estavam testando o próprio Deus. A Septuaginta traduz massá por peirasmós, "tentação", a mesma palavra usada no Novo Testamento grego. O enfoque do termo aqui é sobre a ideia de instigação ou sedução para o pecado (Mt 6.13; 26.41).

A experiência de Massá e Meribá.

Ninguém deve testar a Javé, o Deus de Israel, pois o nosso dever é obedecê-lo (Dt 6.16). O que aconteceu nessa contenda teve a reprovação divina, de modo que serviu como um paradigma daquilo que não se deve fazer (Sl 95.8,9). Testar Deus é questionar sua fidelidade no pacto e duvidar de sua autoridade (Sl 78.41,56). Entendemos que tentar o Criador reflete a nossa descrença nEle, e a Bíblia é contra essa prática (Is 7.12; At 15.10).

Como um teste.

Isso é muito comum no Antigo Testamento (1 Rs 10.1). O exemplo clássico é a passagem do sacrifício de Isaque: "E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão" (Gn 22.1). A finalidade disso é revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6). O hebraico aqui para "tentou" é nissá, que tem o sentido de testar, experimentar, usado para pesquisas científicas hoje em Israel. A Septuaginta traduziu por peirazo, de onde vem o substantivo peirasmós, que aparece no Novo Testamento com a mesma ideia de teste: "e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são" (Ap 2.2). O Novo Testamento emprega o termo também com ideia de tentativa (At 16.7; 24.6).

De onde vem a tentação?
·      Do diabo – o diabo quer nos destruir, levando-nos ao pecado; ele tentou Adão e Eva e eles caíram no pecado
·      De outras pessoas – algumas pessoas nos convidam ou pressionam a fazer o que é errado; isso é tentação
·      De dentro – nossa natureza humana nos convida a pecar diante de algumas situações, porque somos imperfeitos – Tiago 1:14

A Bíblia diz que a tentação nunca vem de Deus. Deus odeia o pecado e nunca convida ninguém a pecar (Tiago 1:13). Ele permite situações em que temos de escolher entre o bem e o mal (provações) mas Ele nunca nos tenta a pecar. Deus nos ajuda a resistir à tentação.
Não é pecado ser tentado. Jesus também foi tentado mas nunca pecou (Hebreus 4:15). Apenas é pecado quando não resistimos à tentação. Mas não devemos tentar outra pessoa ao pecado de propósito. Convidar outra pessoa a pecar é errado.
Como resistir à tentação?
Todos somos tentados. É bom evitar situações de tentação mas não podemos evitar tudo. Por isso, a Bíblia nos mostra como resistir à tentação:
·      Pedindo ajuda a Deus – não estamos sozinhos na luta contra o pecado; na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir a ajuda de Deus para não cair quando somos tentados – Mateus 6:13
·      Com a palavra de Deus – Jesus resistiu ao diabo citando a Bíblia; é importante conhecer as verdades da Bíblia e confiar mais nelas que nos argumentos da tentação
·      Dizendo “Não!” - muitas vezes nem tentamos resistir! Não podemos ficar passivos; quando reconhecemos uma tentação, precisamos rejeitá-la – Tiago 4:7
·      Fugindo – Deus sempre nos dá uma forma de escapar da tentação; às vezes (como no caso da imoralidade sexual) isso significa fugir da situação – 1 Coríntios 10:13

II - A TENTAÇÃO DE JESUS

Após Seu batismo, Jesus foi "levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo" (Lucas 4:1-2). As três tentações de Jesus no deserto foram um esforço de seduzir e transferir a Sua fidelidade de Deus a Satanás. Vemos uma tentação semelhante em Mateus 16:21-23 onde Satanás, através de Pedro, tenta Jesus a renunciar a cruz à qual estava destinado. Lucas 4:13 nos diz que após as tentações no deserto, Satanás "o deixou até ocasião oportuna", o que aparenta indicar que Jesus foi tentado outras vezes por Satanás, embora novos incidentes não sejam registrados. O ponto importante é que, apesar de várias tentações, Ele nunca pecou.

Que Deus tinha um propósito ao permitir que Jesus fosse tentado no deserto é evidente pela declaração "foi levado pelo Espírito ao deserto". Uma finalidade é assegurar-nos de que temos um sumo sacerdote capaz de Se relacionar conosco em todas as nossas debilidades e fraquezas (Hebreus 4:15) porque Ele mesmo foi tentado em todos os pontos nos quais também somos.

A natureza humana do Nosso Senhor permite que Ele compreenda as nossas próprias fraquezas por ter sido submetido à fraqueza também. "Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados" (Hebreus 2:18). A palavra grega traduzida "tentado" aqui significa "pôr à prova". Então, quando somos colocados à prova e testados pelas circunstâncias da vida, podemos ter certeza de que Jesus entende e se solidariza como alguém que sofreu as mesmas provações.



As tentações de Jesus seguem três padrões que são comuns a todos os homens. A primeira tentação diz respeito à concupiscência da carne (Mateus 4:3-4), a qual inclui todos os tipos de desejos físicos. O Nosso Senhor teve fome, e o diabo o tentou a transformar pedras em pão, mas Ele respondeu citando Deuteronômio 8:3.

A segunda tentação foi acerca da soberba da vida (Mateus 4:5-7), e aqui o diabo tentou usar uma passagem da Escritura contra Ele (Salmo 91:11-12), mas novamente o Senhor respondeu com a Escritura em sentido contrário (Deuteronômio 6:16), afirmando que seria errado abusar de Seus próprios poderes.

A terceira tentação foi acerca da concupiscência dos olhos (Mateus 4:8-10), e se algum atalho ao Messias fosse possível, evitar a paixão e crucifixão para as quais Ele originalmente veio seria a forma. O diabo já tinha o controle sobre os reinos do mundo (Efésios 2:2), mas estava pronto a dar tudo a Cristo em troca de Sua lealdade. O mero pensamento quase causa a natureza divina do Senhor a tremer, e Ele responde agressivamente: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’" (Mateus 4:10, Deuteronômio 6:13).

Caímos em muitas tentações porque a nossa carne é naturalmente fraca, mas temos um Deus que não nos deixará ser tentados além do que possamos suportar; Ele proverá uma saída (1 Coríntios 10:13). Podemos, portanto, ser vitoriosos e agradecer ao Senhor pelo livramento da tentação. A experiência de Jesus no deserto nos ajuda a enxergar essas tentações comuns que nos impedem de servir a Deus de forma eficaz.

Além disso, Jesus nos deixa o exemplo de como devemos responder às tentações em nossas próprias vidas -- com as Escrituras. As forças do mal vêm sobre nós com uma miríade de tentações, mas todas têm as mesmas três coisas em sua essência: a concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida (1 João 2:16).

Só podemos reconhecer e combater essas tentações ao saturar os nossos corações e mentes com a verdade. A armadura de um soldado cristão na batalha espiritual inclui apenas uma arma ofensiva, a espada do Espírito, ou seja, a Palavra de Deus (Efésios 6:17). Conhecer a Bíblia intimamente vai colocar a espada em nossas mãos e nos capacitar a ter vitória sobre as tentações.


III – DETALHES SOBRE A TENTAÇÃO

“Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.Tg 1.13-15”

·Verdades sobre a natureza da tentaçăo (Tg 1.13-14)

Inevitável

As principais versões da Bíblia em língua portuguesa indicam que to­dos passarão por tentações (Tg 1.13). A questão não é “se”, mas “quando” vamos ser tentados. Nem uma tradução portuguesa cogita como possibi­lidade, elas afirmam “quando for tentado”. O nosso primeiro desafio em relação à tentação é entender que estamos sujeitos a ela a todo momento. Precisamos prestar atenção continuamente. Ninguém pode dizer que não passa por tentação, pois é naturalmente humana. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana” (cf. 1Co 10.13). “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (cf. 1Co 10.12).
Maligna
A afirmação de que Deus não pode ser tentado pelo mal salienta o caráter bondoso de Deus. A natureza santa de Deus é solidificada no bem, e o mal é incapaz de seduzi-Lo. Habacuque 1.13 revela que a bondade de Deus é inabalável, a ponto de Ele sequer poder olhar o mal. Tiago afirma no versículo 13 que “Deus não pode ser tentado pelo mal”.
Entendamos que, ainda que o diabo tente uma pessoa, ela só cairá se ceder. A tentação surge da cobiça, e isso é inviável para Deus. Ele é o Dono de tudo (cf. Sl 24.1), de forma que não há o que cobiçar. Além disso, o décimo mandamento de Deus diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17), e Deus não pode negar a Si mesmo (cf. 2Tm 2.13). A tentação, sendo o caminho do mal, é totalmente contrária à natureza de Deus.
Humana
Deus não é o responsável pela tentação; Ele não tenta ninguém (Tg 1.13). A tentação tem por objetivo fazer pecar, induzir ao erro. Não lemos na palavra que Deus é o tentador, mas o diabo é assim chamado (cf. Mt 4.3 e 1Ts 3.5).
Esse papel é do diabo, não de Deus. Imaginar que Deus nos induz ao mal é contrariar a natureza divina Dele. Deus é bom (cf. Sl 136.1).
No nosso desejo de nos livrar da culpa do pecado, acabamos cometendo outro erro: atribuir ao diabo todas as nossas culpas. Porém, embora o diabo seja chamado de tentador, a Bíblia atribui o problema à cobiça humana e não à tentação diabólica (Tg 1.14). Nenhum efeito teria a tentação diabólica se não houvesse a cobiça humana, pois, como vimos antes, não nos vem tentação que não seja humana e cada um é tentado pela própria cobiça.
Identificável
Embora o nome de “tentador” seja atribuído ao diabo, vimos que o maior problema da tentação não é o diabo, e sim os nossos desejos. Conforme Douglas J. Moo, em seu comentário sobre o livro de Tiago, a ideia de “atrair e seduzir” é “caçar e pescar”. É preciso atrair o animal para a armadilha, seduzir o peixe com a isca. Lembremo-nos de que o animal vai até a arma­dilha, e o peixe vai até o anzol atraído por uma necessidade legítima de se alimentar. Assim também, alguns desejos nossos têm fundamentos legítimos como o desejo de comer, beber, descansar, mas que podem se tornar pecaminosos se nos atraírem e nos seduzirem.
Moo ainda mostra que a palavra “cobiça”, traduzida algumas vezes como concupiscên­cia, vem do grego epithymia e pode algumas vezes significar um desejo legítimo como em Lucas 22.15 e Filipenses 1.23. Por isso, é importante exercitar o fruto do Espírito (Gl 5.23), que inclui o domínio próprio. Lembre-se de que as piores tentações são aquelas que estão ligadas às necessidades legítimas.
Quais áreas da sua vida você acredita serem inofensivas? Até mesmo as vontades do dia a dia podem ser ciladas para o pecado: namorar; divertir-se; ter dinheiro, amigos; sair; passear; viajar; ser popular. Na maioria das vezes, nós armamos essas ciladas para nós mesmos. Você sabe qual é a natureza de seus desejos, portanto, esteja alerta! Não subestime uma tentação!
·Verdades sobre o caminho da tentaçăo (Tg 1.15)
Escala: pecado
A tentação se encarrega de anunciar, propagar, oferecer, estimular a prática do pecado. A cobiça é a mãe do pecado, ela o concebe e o dá à luz. Muitos alimentam a cobiça pensando que podem suportar a tentação. Assim, acabam por cair na armadilha da cobiça.
Sinônimo de “conceber”, neste contexto, é “consentir”, “permitir”. A partir do momento em que a pessoa consente ou permite a cobiça, estará naturalmente permitindo a entrada do pecado. E o pecado pode ser muito sutil. Se nos entregarmos aos prazeres da comida, poderemos nos tornar glutões; se consentirmos com a bebida alcoólica, poderemos ser domi­nados por ela; se nos deixarmos levar pelo descanso, poderemos nos tornar preguiçosos.
Destino: morte
O objetivo e a consequência final do pecado é sempre a morte. Foi assim desde o início com a serpente no jardim do Éden. Antes mesmo da consumação do pecado, a morte havia sido dada como sentença condenatória de Deus sobre o pecado (cf. Gn 2.17). No dia em que pecaram, Adão e Eva morreram espiritualmente (cf. Rm 5.12), pois foram separados da intimidade com Deus, que é a fonte da vida. A morte física veio depois para confirmar o que já havia ocorrido espiritualmente no ser humano. Pela falta de disciplina (obediência a Deus), ocorre a morte (Pv 5.22-23).
Alternativa: fuga
Precisamos resistir ao diabo, mas devemos fugir das nossas paixões (cf. Tg 4.7; 1Co 6.18; 2Tm 2.22). É muito difícil vencermos sozinhos o nosso próprio instinto. Paulo sentiu isso na pele. Por mais que ele quisesse fazer o bem, realizá-lo estava além de sua capacidade como ser humano (cf. Rm 7.15-25). A razão é que nossa natureza humana foi corrompida pelo pecado, e somente por meio do sacrifício de Jesus podemos ser purificados e deixar de ser escravos do pecado (cf. Rm 6.20,22).
Com Jesus, somos capazes de evitar o pecado, e a melhor forma de fazer isso diante de nossa própria cobiça é fugirmos. A cobiça só tem dois fins: ou é saciada, ou é abandonada. A melhor forma de abandonar a cobiça é afastar-se daquilo que é cobiçado. Ninguém nunca disse que tal atitude seria fácil. Jesus nos diz que existem dois caminhos a seguir: um que leva à vida; outro que leva à morte. O caminho da vida é apertado e difícil de entrar (cf. Mt 7.13-14); para o trilharmos, temos que estar dispostos a negar a nós mesmos (cf. Mt 16.24). Essa é a única rota de fuga da tentação.
O que você tem perdido por causa do pecado: sonhos, amigos, oportunidades, família, minis­tério? Quantas dessas coisas poderiam ter sido salvas se você abrisse mão de alguns desejos egoístas e buscado seguir o que Jesus nos ensinou?
O momento certo para se arrepender e sair de um abismo é antes de cair nele. Antes que seja tarde demais.

Conclusăo

A tentação é um problema provocado por nós e não por Deus. O diabo é o tentador, mas está em nós cair na tentação e pecar. O desafio é reconhecer nossa vulnerabilidade, nossa fraqueza, e vencê-la. Não temos condições de enfrentar a tentação, pois somos fracos diante de nossos próprios desejos. Portanto, a única forma de vencer a tentação é fugir dela.
Mas fugir do que nos atrai exige força espiritual. Por isso precisamos buscar forças no único que foi tentado, mas nunca pecou: Jesus Cristo (cf. Hb 4.15). Alimentemo-nos da pa­lavra de Deus e cuidemos (cf. 1Tm.4.16), pois o mal que o tentador sugerir só terá efeito se nos deixarmos levar por ele!

Por: Pb. Mickel Porto

Referências

Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD