Tentação A
batalha por nossas escolhas e atitudes
INTRODUÇÃO
Há certo paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no
deserto e os quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no
lugar ermo. A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o
vitorioso sobre Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e
atitudes na jornada de nossa vida espiritual.
I - A TENTAÇÃO
Os termos "tentação" e "tentar" na Bíblia aplicam-se
tanto no campo secular como no campo religioso. Vamos analisar o assunto
partindo dos significados e sentidos dessas palavras, levando em consideração o
contexto das várias passagens bíblicas.
A provocação de Refidim.
O substantivo "tentação" significa literalmente "teste,
provação, instigação". Na contenda paradigmática de Refidim, no deserto,
temos o significado dessa palavra: "E chamou o nome daquele lugar Massá e
Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao
SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?" (Êx 17.7).
O vocábulo hebraico massá significa "tentação", e meribá quer
dizer "contenda". Os israelitas estavam testando o próprio Deus. A
Septuaginta traduz massá por peirasmós, "tentação", a mesma palavra
usada no Novo Testamento grego. O enfoque do termo aqui é sobre a ideia de
instigação ou sedução para o pecado (Mt 6.13; 26.41).
A experiência de Massá e Meribá.
Ninguém deve testar a Javé, o Deus de Israel, pois o nosso dever é
obedecê-lo (Dt 6.16). O que aconteceu nessa contenda teve a reprovação divina,
de modo que serviu como um paradigma daquilo que não se deve fazer (Sl 95.8,9).
Testar Deus é questionar sua fidelidade no pacto e duvidar de sua autoridade
(Sl 78.41,56). Entendemos que tentar o Criador reflete a nossa descrença nEle,
e a Bíblia é contra essa prática (Is 7.12; At 15.10).
Como um teste.
Isso é muito comum no Antigo Testamento (1 Rs 10.1). O exemplo clássico
é a passagem do sacrifício de Isaque: "E aconteceu, depois destas coisas,
que tentou Deus a Abraão" (Gn 22.1). A finalidade disso é revelar ou
desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6). O hebraico aqui para
"tentou" é nissá, que tem o sentido de testar, experimentar, usado
para pesquisas científicas hoje em Israel. A Septuaginta traduziu por peirazo,
de onde vem o substantivo peirasmós, que aparece no Novo Testamento com
a mesma ideia de teste: "e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o
não são" (Ap 2.2). O Novo Testamento emprega o termo também com ideia de
tentativa (At 16.7; 24.6).
De onde vem a tentação?
·
Do
diabo – o diabo quer nos
destruir, levando-nos ao pecado; ele tentou Adão e Eva e eles caíram no pecado
·
De
outras pessoas – algumas
pessoas nos convidam ou pressionam a fazer o que é errado; isso é tentação
·
De
dentro – nossa natureza
humana nos convida a pecar diante de algumas situações, porque somos
imperfeitos – Tiago 1:14
A Bíblia diz que
a tentação nunca vem de Deus. Deus odeia o pecado e nunca convida
ninguém a pecar (Tiago 1:13). Ele permite situações em que temos de escolher
entre o bem e o mal (provações) mas Ele nunca nos tenta a pecar. Deus nos ajuda
a resistir à tentação.
Não é pecado ser
tentado. Jesus também foi
tentado mas nunca pecou (Hebreus 4:15). Apenas é pecado quando não resistimos à
tentação. Mas não devemos tentar outra pessoa ao pecado de propósito. Convidar
outra pessoa a pecar é errado.
Como resistir à tentação?
Todos somos
tentados. É bom evitar
situações de tentação mas não podemos evitar tudo. Por isso, a Bíblia nos
mostra como resistir à tentação:
·
Pedindo
ajuda a Deus – não estamos
sozinhos na luta contra o pecado; na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a
pedir a ajuda de Deus para não cair quando somos tentados – Mateus 6:13
·
Com
a palavra de Deus – Jesus
resistiu ao diabo citando a Bíblia; é importante conhecer as verdades da Bíblia
e confiar mais nelas que nos argumentos da tentação
·
Dizendo
“Não!” - muitas vezes nem
tentamos resistir! Não podemos ficar passivos; quando reconhecemos uma
tentação, precisamos rejeitá-la – Tiago 4:7
·
Fugindo – Deus sempre nos dá uma forma de escapar da
tentação; às vezes (como no caso da imoralidade sexual) isso significa fugir da
situação – 1 Coríntios 10:13
II - A TENTAÇÃO DE
JESUS
Após Seu batismo, Jesus foi "levado pelo Espírito ao deserto, onde,
durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo" (Lucas 4:1-2). As três
tentações de Jesus no deserto foram um esforço de seduzir e transferir a Sua
fidelidade de Deus a Satanás. Vemos uma tentação semelhante em Mateus 16:21-23
onde Satanás, através de Pedro, tenta Jesus a renunciar a cruz à qual estava
destinado. Lucas 4:13 nos diz que após as tentações no deserto, Satanás "o
deixou até ocasião oportuna", o que aparenta indicar que Jesus foi tentado
outras vezes por Satanás, embora novos incidentes não sejam registrados. O ponto
importante é que, apesar de várias tentações, Ele nunca pecou.
Que Deus tinha um propósito ao permitir que Jesus fosse tentado no deserto é evidente pela declaração "foi levado pelo Espírito ao deserto". Uma finalidade é assegurar-nos de que temos um sumo sacerdote capaz de Se relacionar conosco em todas as nossas debilidades e fraquezas (Hebreus 4:15) porque Ele mesmo foi tentado em todos os pontos nos quais também somos.
A natureza humana do Nosso Senhor permite que Ele compreenda as nossas
próprias fraquezas por ter sido submetido à fraqueza também. "Porque,
tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer
aqueles que também estão sendo tentados" (Hebreus 2:18). A palavra grega
traduzida "tentado" aqui significa "pôr à prova". Então,
quando somos colocados à prova e testados pelas circunstâncias da vida, podemos
ter certeza de que Jesus entende e se solidariza como alguém que sofreu as
mesmas provações.
As tentações de Jesus seguem três padrões que são comuns a todos os homens. A primeira tentação diz respeito à concupiscência da carne (Mateus 4:3-4), a qual inclui todos os tipos de desejos físicos. O Nosso Senhor teve fome, e o diabo o tentou a transformar pedras em pão, mas Ele respondeu citando Deuteronômio 8:3.
A segunda tentação foi acerca da soberba da vida (Mateus 4:5-7), e aqui
o diabo tentou usar uma passagem da Escritura contra Ele (Salmo 91:11-12), mas
novamente o Senhor respondeu com a Escritura em sentido contrário (Deuteronômio
6:16), afirmando que seria errado abusar de Seus próprios poderes.
A terceira tentação foi acerca da concupiscência dos olhos (Mateus 4:8-10), e se algum atalho ao Messias fosse possível, evitar a paixão e crucifixão para as quais Ele originalmente veio seria a forma. O diabo já tinha o controle sobre os reinos do mundo (Efésios 2:2), mas estava pronto a dar tudo a Cristo em troca de Sua lealdade. O mero pensamento quase causa a natureza divina do Senhor a tremer, e Ele responde agressivamente: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’" (Mateus 4:10, Deuteronômio 6:13).
Caímos em muitas tentações porque a nossa carne é naturalmente fraca, mas temos um Deus que não nos deixará ser tentados além do que possamos suportar; Ele proverá uma saída (1 Coríntios 10:13). Podemos, portanto, ser vitoriosos e agradecer ao Senhor pelo livramento da tentação. A experiência de Jesus no deserto nos ajuda a enxergar essas tentações comuns que nos impedem de servir a Deus de forma eficaz.
Além disso, Jesus nos deixa o exemplo de como devemos responder às tentações em nossas próprias vidas -- com as Escrituras. As forças do mal vêm sobre nós com uma miríade de tentações, mas todas têm as mesmas três coisas em sua essência: a concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida (1 João 2:16).
Só podemos reconhecer e combater essas tentações ao saturar os nossos
corações e mentes com a verdade. A armadura de um soldado cristão na batalha
espiritual inclui apenas uma arma ofensiva, a espada do Espírito, ou seja, a
Palavra de Deus (Efésios 6:17). Conhecer a Bíblia intimamente vai colocar a
espada em nossas mãos e nos capacitar a ter vitória sobre as tentações.
III – DETALHES SOBRE
A TENTAÇÃO
“Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não
pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.Tg 1.13-15”
·Verdades sobre a natureza da tentaçăo (Tg 1.13-14)
Inevitável
As principais versões da Bíblia
em língua portuguesa indicam que todos passarão por tentações (Tg 1.13). A
questão não é “se”, mas “quando” vamos ser tentados. Nem uma tradução
portuguesa cogita como possibilidade, elas afirmam “quando for tentado”. O
nosso primeiro desafio em relação à tentação é entender que estamos sujeitos a
ela a todo momento. Precisamos prestar atenção continuamente. Ninguém pode
dizer que não passa por tentação, pois é naturalmente humana. “Não vos
sobreveio tentação que não fosse humana” (cf. 1Co 10.13). “Aquele, pois,
que pensa estar em pé veja que não caia” (cf. 1Co 10.12).
Maligna
A afirmação de que Deus não pode
ser tentado pelo mal salienta o caráter bondoso de Deus. A natureza santa de
Deus é solidificada no bem, e o mal é incapaz de seduzi-Lo. Habacuque 1.13
revela que a bondade de Deus é inabalável, a ponto de Ele sequer poder olhar o
mal. Tiago afirma no versículo 13 que “Deus não pode ser tentado pelo mal”.
Entendamos que, ainda que o diabo
tente uma pessoa, ela só cairá se ceder. A tentação surge da cobiça, e isso é
inviável para Deus. Ele é o Dono de tudo (cf. Sl 24.1), de forma que não há o
que cobiçar. Além disso, o décimo mandamento de Deus diz: “Não cobiçarás” (Êx
20.17), e Deus não pode negar a Si mesmo (cf. 2Tm 2.13). A tentação, sendo o
caminho do mal, é totalmente contrária à natureza de Deus.
Humana
Deus não é o responsável pela
tentação; Ele não tenta ninguém (Tg 1.13). A tentação tem por objetivo fazer
pecar, induzir ao erro. Não lemos na palavra que Deus é o tentador, mas o diabo
é assim chamado (cf. Mt 4.3 e 1Ts 3.5).
Esse papel é do diabo, não de
Deus. Imaginar que Deus nos induz ao mal é contrariar a natureza divina Dele.
Deus é bom (cf. Sl 136.1).
No nosso desejo de nos livrar da
culpa do pecado, acabamos cometendo outro erro: atribuir ao diabo todas as
nossas culpas. Porém, embora o diabo seja chamado de tentador, a Bíblia atribui
o problema à cobiça humana e não à tentação diabólica (Tg 1.14). Nenhum efeito
teria a tentação diabólica se não houvesse a cobiça humana, pois, como vimos
antes, não nos vem tentação que não seja humana e cada um é tentado pela
própria cobiça.
Identificável
Embora o nome de “tentador” seja
atribuído ao diabo, vimos que o maior problema da tentação não é o diabo, e sim
os nossos desejos. Conforme Douglas J. Moo, em seu comentário sobre o livro de
Tiago, a ideia de “atrair e seduzir” é “caçar e pescar”. É
preciso atrair o animal para a armadilha, seduzir o peixe com a isca.
Lembremo-nos de que o animal vai até a armadilha, e o peixe vai até o anzol
atraído por uma necessidade legítima de se alimentar. Assim também, alguns
desejos nossos têm fundamentos legítimos como o desejo de comer, beber,
descansar, mas que podem se tornar pecaminosos se nos atraírem e nos seduzirem.
Moo ainda mostra que a palavra
“cobiça”, traduzida algumas vezes como concupiscência, vem do grego epithymia
e pode algumas vezes significar um desejo legítimo como em Lucas 22.15 e
Filipenses 1.23. Por isso, é importante exercitar o fruto do Espírito (Gl
5.23), que inclui o domínio próprio. Lembre-se de que as piores tentações são
aquelas que estão ligadas às necessidades legítimas.
Quais áreas da sua vida você
acredita serem inofensivas? Até mesmo as vontades do dia a dia podem ser
ciladas para o pecado: namorar; divertir-se; ter dinheiro, amigos; sair;
passear; viajar; ser popular. Na maioria das vezes, nós armamos essas ciladas
para nós mesmos. Você sabe qual é a natureza de seus desejos, portanto, esteja
alerta! Não subestime uma tentação!
·Verdades sobre o caminho da tentaçăo (Tg 1.15)
Escala: pecado
A tentação se encarrega de
anunciar, propagar, oferecer, estimular a prática do pecado. A cobiça é a mãe
do pecado, ela o concebe e o dá à luz. Muitos alimentam a cobiça pensando que
podem suportar a tentação. Assim, acabam por cair na armadilha da cobiça.
Sinônimo de “conceber”, neste
contexto, é “consentir”, “permitir”. A partir do momento em que a pessoa
consente ou permite a cobiça, estará naturalmente permitindo a entrada do
pecado. E o pecado pode ser muito sutil. Se nos entregarmos aos prazeres da
comida, poderemos nos tornar glutões; se consentirmos com a bebida alcoólica,
poderemos ser dominados por ela; se nos deixarmos levar pelo descanso,
poderemos nos tornar preguiçosos.
Destino: morte
O objetivo e a consequência final
do pecado é sempre a morte. Foi assim desde o início com a serpente no jardim
do Éden. Antes mesmo da consumação do pecado, a morte havia sido dada como
sentença condenatória de Deus sobre o pecado (cf. Gn 2.17). No dia em que
pecaram, Adão e Eva morreram espiritualmente (cf. Rm 5.12), pois foram
separados da intimidade com Deus, que é a fonte da vida. A morte física veio
depois para confirmar o que já havia ocorrido espiritualmente no ser humano.
Pela falta de disciplina (obediência a Deus), ocorre a morte (Pv 5.22-23).
Alternativa: fuga
Precisamos resistir ao diabo, mas
devemos fugir das nossas paixões (cf. Tg 4.7; 1Co 6.18; 2Tm 2.22). É muito
difícil vencermos sozinhos o nosso próprio instinto. Paulo sentiu isso na pele.
Por mais que ele quisesse fazer o bem, realizá-lo estava além de sua capacidade
como ser humano (cf. Rm 7.15-25). A razão é que nossa natureza humana foi
corrompida pelo pecado, e somente por meio do sacrifício de Jesus podemos ser
purificados e deixar de ser escravos do pecado (cf. Rm 6.20,22).
Com Jesus, somos capazes de
evitar o pecado, e a melhor forma de fazer isso diante de nossa própria cobiça
é fugirmos. A cobiça só tem dois fins: ou é saciada, ou é abandonada. A melhor
forma de abandonar a cobiça é afastar-se daquilo que é cobiçado. Ninguém nunca
disse que tal atitude seria fácil. Jesus nos diz que existem dois caminhos a
seguir: um que leva à vida; outro que leva à morte. O caminho da vida é
apertado e difícil de entrar (cf. Mt 7.13-14); para o trilharmos, temos que
estar dispostos a negar a nós mesmos (cf. Mt 16.24). Essa é a única rota de
fuga da tentação.
O que você tem perdido por causa
do pecado: sonhos, amigos, oportunidades, família, ministério? Quantas dessas
coisas poderiam ter sido salvas se você abrisse mão de alguns desejos egoístas
e buscado seguir o que Jesus nos ensinou?
O momento certo para se
arrepender e sair de um abismo é antes de cair nele. Antes que seja tarde
demais.
Conclusăo
A tentação é um
problema provocado por nós e não por Deus. O diabo é o tentador, mas está em
nós cair na tentação e pecar. O desafio é reconhecer nossa vulnerabilidade,
nossa fraqueza, e vencê-la. Não temos condições de enfrentar a tentação, pois
somos fracos diante de nossos próprios desejos. Portanto, a única forma de
vencer a tentação é fugir dela.
Mas fugir do que
nos atrai exige força espiritual. Por isso precisamos buscar forças no único
que foi tentado, mas nunca pecou: Jesus Cristo (cf. Hb 4.15). Alimentemo-nos da
palavra de Deus e cuidemos (cf. 1Tm.4.16), pois o mal que o tentador sugerir
só terá efeito se nos deixarmos levar por ele!
Por: Pb. Mickel Porto
Referências
Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD