24 de fevereiro de 2010

O PRINCIPIO BIBLICO DA GENEROSIDADE – Segunda Parte

O PRINCIPIO BIBLICO DA GENEROSIDADE – Segunda Parte

INTRODUÇÃO

Os Princípios da Caridade do Novo Testamento == 2 CORÍNTIOS 8-9

No final de sua primeira carta aos coríntios (16.1-4), Paulo mencionou uma “coleta para os santos”. Agora ele aborda com detalhes o tema da caridade. As Epístolas do Novo Testamento e o Livro de Atos deixam claro que entre 52 e 57 d.C., grande parte do trabalho de Paulo foi dedicada à arrecadação de dinheiro para “os pobres dentre os santos” que estavam em Jerusalém (Rm 15.26; Gl 2.10). Mas por que havia tanta pobreza entre os cristãos de Jerusalém? Sem dúvida, um motivo era o fato de que muitos eram colocados no ostracismo pelos judeus, que se recusavam a empregar, ou até mesmo comprar bens de pessoas que nessa época eram encaradas não como membros de uma seita judaica, mas como apóstatas.

Outra razão foi uma escassez de alimentos causada pela superpopulação, que resultou em época de fome no ano 46 d.C., durante o governo de Cláudio (At 11.27-30). O problema dos pobres teria sido exacerbado pelos pesados impostos cobrados na Palestina, não somente pelos romanos, mas também pelos governantes locais. Também foi sugerido que a boa vontade daqueles que possuíam grandes propriedades de vender suas posses para manter os pobres, embora pudesse ter satisfeito necessidades imediatas, teria, a longo prazo, causado o impacto do empobrecimento de todos (At 2.44,45; = 4.32-35).

Como era apropriado que a preocupação dos gentios simbolizasse não apenas a unidade dos judeus, e dos gentios em Cristo (Ef 2.11-22), mas também reconhecesse a dívida que estes antigos pagãos tinham para com o povo em cujo meio originou-se o evangelho (Rm 15.19,27). Isto talvez também tivesse um significado especial para Paulo, como maneira pela qual ele poderia compensar, em parte, os santos que, ainda como Saulo, ele havia perseguido (At 8.3; = 9.1; 26.10,11; = 1 Co 15.9; = Gl 1.13). Mas, acima de tudo, tanto a ênfase de Paulo sobre a caridade quanto a boa vontade das igrejas gentílicas em ajudar (2 Co 8.3,4) demonstravam aquele comprometimento com os outros que o Novo Testamento chama de “amor fraterno”: disposição para fazer sacrifícios pessoais pelo bem-estar de outros, na família de nosso Senhor. Contra este contexto, Paulo escreve com entusiasmo aos coríntios sobre o exemplo dado pelas igrejas da Macedônia (8.1-5), insistindo que eles também se sobressaiam nesta “graça” que estava relacionada à caridade (8.6,7). Paulo é cauteloso em não ordenar: a caridade do Novo Testamento deve fluir de um coração disposto, e não de uma ordem para reservar uma porcentagem da renda (8.8-12).

Ele também é cauteloso em ressaltar que o objetivo é a “igualdade”: a satisfação de todas as necessidades atuais, plenamente consciente de que algum dia o destinatário poderá também satisfazer uma necessidade de quem lhe doou (8.13-15). Depois de algumas observações pessoais sobre si mesmo e sobre Tito (8.16—9.5), Paulo continua a desenvolver o que na verdade é uma teologia sobre a caridade no Novo Testamento. Cada pessoa deve “propor em seu coração” o que dar, olhando para Jesus como o modelo de Deus para todos os relacionamentos com os outros. Cada um deve também se lembrar de que o que é semeado determina o que é colhido (9.6,7), e que ninguém pode dar mais que Deus, que nos fornece a todos tudo o que necessitamos para podermos ser generosos com os outros (9.8-1 1). Tal caridade provocará elogios bem como orações nos corações de quem a recebe (9.12-15).

I - ESTUDO DA PALAVRA

Pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos (8.4). O texto grego apresenta ten charin, “a graça” da caridade.

Charis (“graça”) aparece não menos do que dez vezes nos capítulos 8 e 9, e é traduzida de diferentes maneiras. Aqui é a honra ou o privilégio de participar do serviço. Em 8.1; 9.8 e 9.14, charis é usada sobre a dádiva de Deus que capacita os coríntios a participarem. Em 8.6 e 8.19, charis é a própria coleta, como expressão de amor e de boa vontade. Em 8.7 doar-se é descrito como “graça”, enfatizando a virtude do ato. Em 8.9, charis é a própria generosidade de Deus, ao passo que em 8.16 e 9.15 charis é a gratidão que jorra naqueles que recebem a oferta de amor.

Subordinada a cada um destes usos está a idéia básica implícita na palavra. A graça (charis) é favor ou beneficio concedido e, ao mesmo tempo, resposta de gratidão que é adequada ao que foi recebido, O uso múltiplo da palavra nestes capítulos ressalta o fato de que a caridade é completamente ato de graça. Dar é nossa resposta agradecida à grande dádiva que nos foi dada em Cristo. Dar é a concessão de beneficio a outros, que por sua vez estimula sua resposta de louvor a Deus e orações por quem doou.

Não digo isso como quem manda, mas para provar, pela diligência dos outros, a sinceridade da vossa caridade (8.8). Aqui epitagen tem o sentido de “uma ordem”. Paulo não faz uso impróprio de sua autoridade apostólica para ordenar uma ação que precisa, para agradar a Deus, ser expressão genuína de amor sincero e não obrigação ou dever.

Um modo de roubar a alegria de contribuir de nossos companheiros cristãos é insistir utilizando a expressão “você deve”, em lugar de fazer um convite: “você tem a oportunidade”. Alguns temem que a caridade poderia diminuir, se os cristãos não pensassem que eles “devem” entregar uma porcentagem de sua renda. Quando impomos uma exigência de porcentagem, algo que Paulo cuidadosamente evita fazer, na verdade estamos limitando a caridade, pois o amor é, na vida cristã, uma motivação muito mais poderosa do que a obrigação.

II - OBSERVAÇÕES SOBRE O DÍZIMO

A passagem básica sobre o dízimo é encontrada em

Levítico 27.30-33, que apresenta: Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores são do Senhor; santas são ao Senhor. Porém, se alguém, de suas dízimas, resgatar alguma coisa, acrescentará seu quinto sobre ela. No tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. Não esquadrinhará entre o bom e o mau, nem o trocará.

Outras passagens também oferecem explicações detalhadas. Números 18.21-32 dá a instrução deque o dízimo seja usado para sustentar os levitas, a tribo separada para servir a Deus. Conseqüentemente, ele não foi dado em sua própria província quando Canaã foi conquistada por Josué. Deuteronômio 12.5-14 e 14.22-26 ensinam que os dízimos deviam ser trazidos ao santuário central, que foi mais tarde estabelecido em Jerusalém. Deuteronômio 14.27-30 e 26.12- 15 apresentam outro dízimo, que devia ser coletado a cada três anos. Este dízimo devia ser guardado localmente e distribuído aos necessitados. Embora alguns vejam três dízimos no Antigo Testamento, parece mais provável que fossem dois: os dez por cento anuais, separados para aqueles que serviam ao Senhor, e o dízimo de cada três anos, destinado ao auxílio de viúvas, órfãos e estrangeiros desamparados.

O dízimo era aplicável a tudo aquilo que a terra produzia, e não à renda originada do comércio. Na opinião de alguns, o dízimo era um aluguel que Deus cobrava do povo de Israel a quem Ele concedia o privilégio de viver ali (Dt 1.8; 3.2). O dízimo também tinha o intuito de ser uma oportunidade para se expressar fé. Deus prometera abençoar o trabalho de seu povo (14.29). Aqueles que confiavam nele separavam seus dízimos alegremente, certos de que Ele satisfaria suas necessidades através de abundantes colheitas futuras (Ml 3.10).

Podemos justificar a importação do dízimo para nossa era. As raízes daquele costume eram parte da vida de Israel sob a Lei, tanto quanto qualquer sacrifício ritual.

Quanto aos ensinos do Novo Testamento, quando se trata de ofertas, e não do dízimo, cada um deve dar não uma quantia estabelecida, mas que “cada um contribua segundo propôs em seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7). Como expressão do amor e da confiança que Deus suprirá cada uma de nossas necessidades, a caridade cristã é verdadeiramente algo gracioso. E nossa resposta de amor à maravilhosa dádiva de amor que recebemos de Deus, e nossa resposta de amor aos nossos irmãos e irmãs que estejam passando por necessidades.

Como podemos medir atitudes? Paulo diz que é “segundo o qualquer tem”. A doação que a viúva faz de duas pequenas moedas (Mc 12.41-44) supera e muito as moedas de ouro e prata que deram os ricos, porque ela deu tudo o que tinha. Não devemos cair na armadilha de pensar quanto daríamos se fôssemos ricos. Em lugar disso, devemos simplesmente dar conforme nossa capacidade, ansiosos para ajudar o quanto pudermos. Mas não digo isso para que os outros tenham alívio, e vós, opressão; mas para igualdade (8.13, 14a). A palavra grega isotetos significa mais que igualdade, também significa imparcialidade, ou cotas iguais. Paulo explica no versículo seguinte. Sua intenção é que as necessidades sejam supridas, com a expectativa de que os que podem doar agora, possam, no futuro, estar em posição que suas próprias necessidades poderão ser satisfeitas por aqueles com quem eles compartilharam.

Cada um contribua segundo propôs em seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria (9.7). Talvez a palavra proeretai devesse ter sido traduzida como “determinou” em seu coração. Ela enfatiza a consciência e a profunda convicção que deve set refletida quando cada um de nós considera quanto pode dar. Não é de admirar que tantos cristãos não se sintam à vontade com a liberdade que nós recebemos em Cristo. Talvez percebamos que com a liberdade vem a responsabilidade, e isto nós não estamos prontos para aceitar.

III - TEXTO EM PROFUNDIDADE

Os Princípios da Caridade do Novo Testamento (2 Co 8,9)

Contexto. Seria muito fácil ler estes capítulos, e extrair uma falsa dicotomia entre a ênfase de Paulo, no Novo Testamento, sobre uma responsabilidade pessoal de ofertar, e a necessidade do Antigo Testamento de pagar o dízimo de Deus.

Por exemplo, a Mishnah (Maaserot 3.10) examina o caso de uma figueira em um jardim, com um galho que se estende sobre o pátio de um vizinho. Quem estiver naquele pátio terá a permissão de comer os figos, um a um, se assim o desejar. Mas, se apanhar todos os figos juntos (encher uma cesta), deverá pagar o dízimo sobre eles. Ou tomemos o tratado Maaser Sheni, que comenta o segundo dízimo. Ali, em 4.6, os sábios examinam a situação em que um comprador se apossa da produção com a condição do segundo dízimo. Quais são suas obrigações se, antes de poder pagar por isso, seu preço suba a duas “selas”? E o que acontece se seu valor for de duas selas quando ele a compra, mas depois o preço cai para uma sela antes que ele possa pagar?

O motivo de formular e responder perguntas como estas era colocar limites à Lei. Isto é, os sábios estavam profundamente preocupados com a exploração de todas as implicações da Lei de Moisés, para que uma pessoa comprometida com a obediência não violasse a Lei inadvertidamente. Mas, qualquer que seja o motivo, existe diferença ampla e clara de tom entre esta abordagem da caridade e a abordagem que Paulo assume em 2 Coríntios 8—9. Mas, como observei, existe um sentido em que este contraste cria uma falsa dicotomia. A razão é que não existe um paralelo real entre o dízimo do Antigo Testamento e a caridade do Novo! O dízimo era obrigação imposta a Israel, um aluguel devido a Deus pelo uso de sua terra, que continuaria em vigor mesmo depois que sua promessa de dar a terra à semente de Abraão (Cristo) se cumprisse no final da história (Gn 12.7; 3.15).

Os sábios tinham intenção de definir a extensão desta obrigação e estabelecer regras que guiariam os judeus religiosos a cumpri-las. Em contraste, Paulo está falando a respeito da caridade voluntária para ajudar aos pobres. O que sempre foi considerado, no Antigo Testamento e no judaísmo, como um assunto separado do dízimo. Portanto, Ben Shira, que escreveu 150 anos antes de Cristo, incentiva o religioso a respeitar o sacerdote e lhe “dar sua cota, como foi ordenado” (7.3 1), e passa imediatamente do assunto do dízimo ao assunto da generosidade para com os pobres.

Ao pobre também estenda sua mão, Para que sua bênção seja completa. Faça sua doação a alguém vivo, Não evite os que choram, Mas chore com aqueles que choram; Não negligencie o cuidado com os doentes Por estas coisas você será amado (7.32-35).

Dar ajuda aos pobres, portanto, era, e é, virtude tão grande no judaísmo assim como o é na grande exortação de Paulo aos coríntios (e a nós!) para que todos sejam generosos com os necessitados. Nós podemos, é claro, argumentar que existe grande diferença na motivação para contribuir que está explícita nos textos dos sábios e de Paulo. Este vê a caridade como uma resposta para a graça de Deus; os rabinos a viam como um ato meritório. Desta forma, conta-se a história do debate do rabino Akiba com Tineius Rufus, o governador romano da Judéia. Rufus desafiou o rabino: “Se, como você diz, seu Deus ama aos pobres, por que então Ele não os ajuda?” Diz-se que o rabino respondeu que Deus deixou o cuidado dos pobres a cargo dos judeus “para que muitos possam ser salvos da punição do Geena, pelo mérito alcançado através da caridade”.

Mesmo assim, nossa distinção básica ainda permanece. A caridade descrita e incentivada no Novo Testamento não é comparável ao dízimo do Antigo Testamento, mas está, na verdade, mais intimamente relacionada ao princípio estabelecido em Deuteronômio 15.10,11: “Livremente lhe darás, e que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo no que puseres a tua mão. Pois nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra”.

E neste tipo de caridade que o Novo Testamento também concentra nossa atenção. Naquela época, não havia edifícios com grandes hipotecas a serem pagas, e havia poucos ministros assalariados. Mas, já houve cristãos em várias partes do mundo que, em épocas diferentes, precisaram de ajuda para sobreviver como membros do corpo de Cristo. Sem criticar os objetivos de construção de templos e edifícios para igrejas, para os quais se destina grande parte da caridade contemporânea, nós, certamente, concordamos que as verdadeiras necessidades dos seres humanos devem ter prioridade, quando consideramos piedosamente como Deus deseja que direcionemos os recursos que Ele nos orienta a separar para sua obra.

Interpretação. Baseados nestes dois importantes capítulos estão alguns conceitos básicos que modelam nossa compreensão da caridade cristã. Em lugar de tentar esquematizar esta passagem, a melhor maneira de explorá-la é identificar e discutir estes conceitos básicos. Eles podem ser relacionados da seguinte maneira:

• A caridade é um privilégio (8.4) • A caridade nasce do comprometimento (8.5) • A caridade é voluntária (8.8) • A caridade tem um objetivo (8.13-16) • A caridade tem conseqüências pessoais (9.6) • A caridade envolve coração e mente (9.7) • A caridade tem resultados espirituais, além dos materiais (9.12)

À medida que estudamos estes conceitos um a um, começamos a construir uma teologia característica do Novo Testamento sobre a caridade que poderá nos orientar individualmente e em nossas igrejas.

A Caridade é um Privilégio (8.4). Paulo descreve a participação na oferta que ele está arrecadando para os santos atingidos pela pobreza em Jerusalém, como “a graça de participarem da assistência aos santos” (8.4, versão RA). E claro que as igrejas da Macedônia, a que Paulo refere-se, encaravam a caridade como um privilégio. Apesar de suportar “muita tribulação”, e apesar de sua própria “profunda pobreza” (8.2), os cristãos desta província estavam ansiosos para participar. Aqui, é importante observar que Paulo descreve estes crentes como também tendo abundância de alegria. Eles tinham relacionamento vital e satisfatório com Jesus, que lhes dava alegria interior, apesar de suas circunstâncias difíceis.

E impossível encarar a caridade isoladamente do resto da experiência cristã de alguém. Ninguém cujo amor por Cristo tenha esfriado, ninguém que esteja orientado para o mundo em lugar de para o céu, ninguém cuja felicidade esteja relacionada àquilo que possui, ninguém que deixe de sentir um jorro de alegria, ao sentir o toque diário de Jesus achará a caridade um privilégio, ou sentirá a graça que inspira a oportunidade que Deus nos dá de compartilhar com aqueles que estão em privação.

IV - A Caridade Nasce do Comprometimento (8.5)

Paulo continua a descrever os macedônios, e observa que “a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus”. A experiência macedônica da graça de Deus causava um gozo abundante (8.2). Os primeiros metodistas eram criticados pela igreja da Inglaterra daquela época, de quem eles se separaram como “entusiastas”. Toda aquela emoção era considerada inadequada. Mas, a emoção desempenha um papel vital no verdadeiro cristianismo. A religião nunca é suficiente, entretanto. A alegria em Cristo deve estar ao lado do comprometimento com o Senhor, e esse comprometimento deve ser expresso ao vivermos uma vida que é “pela vontade de Deus” (8.5). Se a caridade cristã deve ser tão generosa e espontânea como Paulo parece descrever aqui, a alegria que nós temos em Jesus deve nos levar a nos dedicarmos ao Senhor, e a nos comprometermos conscientemente em fazer sua vontade. Uma vez mais, somos lembrados de que a caridade não deve ser considerada isoladamente da experiência espiritual global de um indivíduo, ou de uma congregação. Se concentrarmos nossa atenção em cultivar o crescimento espiritual, as pessoas responderão generosamente, quando diante de uma necessidade.

4.1 - A Caridade é Voluntária (8.8). Uma verdade que muitos acham difícil de aceitar é que a caridade é verdadeiramente voluntária. O cristão não é obrigado a fazer caridade. O cristão não está obrigado a contribuir, mas deve fazê-lo de forma abundante e com alegria. Portanto, Paulo diz: “Não digo isso como quem manda” Uma das verdades mais difíceis de serem compreendidas é a de que a graça que nos liberta das obrigações em nosso relacionamento com Deus, na verdade nos liberta para fazermos muito mais do que faríamos de outra maneira. Quando Paulo diz que ele deseja “provar a sinceridade da vossa caridade”, ele nos alerta para a motivação definitiva e necessária para a caridade, e para cada ato do serviço.

4.2 -A Caridade Tem um Objetivo (8.13-16). Existe característica diferença aqui, entre a razão para a caridade no Novo Testamento e no judaísmo do século 1. No judaísmo, os pobres da terra eram os despojados socialmente: as viúvas, os órfãos, os sem teto, os trabalhadores diaristas, que não encontravam trabalho. A caridade para com estas pessoas era incentiva- da, pois Deus havia expressado preocupação especial por elas. Além disso, Provérbios 19.17 ensina: “Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e ele lhe pagará seu benefício”. Certamente, havia compaixão semelhante pelos pobres na igreja primitiva (At 4.32-37; 6.1-3; Tg 1.27). Mas, neste caso, Paulo apresenta um objetivo muito diferente para a caridade que não o alívio da necessidade individual.

Em Jerusalém e na Judéia, toda a comunidade cristã era quase pobre, pelas razões apresentadas no tópico Exposição (acima). Paulo vê isto como um problema especial, problema da igreja, que em parte significativa das condições do mundo tornava impossível que os crentes sobrevivessem e trabalhassem. A oferta de Paulo não pretende somente satisfazer as necessidades humanas reais, mas também prover os recursos necessários para capacitar os cristãos a darem um testemunho vital de Cristo em Jerusalém e na Judéia.

Aqui, vemos a adequação da analogia entre a igreja e um corpo. Cada membro precisa receber o que for necessário para sua saúde, e vitalidade para a realização da obra de Cristo no mundo. A contribuição que Paulo está solicitando pretende não somente satisfazer as necessidades dos pobres em Jerusalém, mas também capacitar a igreja dali a sobreviver e trabalhar. Esta análise sugere dois objetivos básicos para a caridade cristã. Nós damos, para satisfazer as necessidades humanas, simplesmente porque Deus realmente se preocupa com os pobres e oprimidos. Nós também ofertamos com a finalidade de capacitar os cristãos a trabalharem como igreja, testificando de Cristo de diversas maneiras dentro da sociedade.

Com relação a este segundo objetivo, que é soberano nesta passagem, Paulo nos lembra de que esta caridade não deve ser encarada como sendo interminável. Em Deuteronômio, está a afirmação direta de que sempre haverá pobres que precisarão de ajuda (15.11) Mas Paulo diz que devemos dar agora, “para que também sua [deles] abundância supra a vossa falta” (2 Co 8.14). A igreja dispersa por todo o mundo é interdependente e, com o passar da história, primeiramente urna região, depois outra prospera- tão ou decairão. E responsabilidade daqueles que prosperam agora, dar generosamente para satisfazer os crentes necessitados, nas regiões que não prosperam, plenamente conscientes de que com o tempo as situações poderão estar invertidas.

4.3 - A Caridade Tem Conseqüências Pessoais (9.6). Embora a salvação do crente não dependa, de nenhuma maneira, de quaisquer atos meritórios. E, embora o cristão não tenha nenhuma obrigação de fazer caridade, existem conseqüências pessoais para cada escolha que fazemos. Paulo, sem querer ordenar a caridade, apesar disto, sente-se completamente livre para mencionar algumas das implicações da decisão dos cristãos de contribuir ou não.

Desta forma, Paulo diz: “o que semeia pouco, pouco também ceifara; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará.”

4.4 - A Caridade Envolve Coração e Mente (9.7). Como o Estudo da Palavra sobre 9.7 destacou, devemos avaliar cuidadosamente e “decidir” o que vamos dar. Isto não somente enfatiza a responsabilidade pessoal, mas também a avaliação cuidadosa e racional. Mas, qual é o princípio que devemos usar para a avaliação? A resposta é sugerida em 8.13. Devemos olhar o que temos, e olhar o que os outros necessitam. E então, equilibrando o que temos, e o que os outros necessitam, devemos tomar nossa decisão.

O tipo de caridade que Paulo está explorando aqui não é simplesmente um assunto para a mente. E também um assunto para o coração. Uma vez tomada a decisão adequada, devemos fazer a contribuição com alegria, “porque Deus ama ao que dá com alegria”. A caridade deve produzir contentamento, deve ser prazerosa. Quando nosso coração está na doação, não existe qualquer sentimento de obrigação ou de má vontade, e o ato de caridade é purificado, um sacrifício que Deus aprova e a cujo autor Ele ama. Seria errado desencorajar qualquer oferta que seja feita sem sentimento de alegria. Se fizéssemos isto, o destinatário seria privado da doação. Mas, também, seria igualmente errado deixar de lembrar que qualquer doação que não seja motivada por amor, e feita com alegria, não traz benefícios para o doador! ( I Coríntios 13.3)

4.5 - A Caridade Tem Resultados Espirituais, Além de Resultados Materiais (9.12). O recebimento da doação estimula o louvor a Deus, e orações pelo doador. Doar, portanto, tem conseqüências espirituais diretas, além das materiais. Nós não doamos somente para suprir necessidades de outros; mas, porque, ao doarmos, aprofundamos o relacionamento de outros com o Senhor; e fazemos com que sintam seu amor, e sua preocupação constantes.

Aplicação. Os dois grandes capítulos de Paulo sobre a caridade nos ajudam, como indivíduos, a reexaminarmos nossa atitude em relação à riqueza, e nossa sensibilidade em relação às necessidades de outros. Mas, estes ensinamentos também sugerem que aqueles em posição de liderança na igreja deveriam reexaminar não somente seu ensino sobre caridade, mas também a maneira como a igreja procura angariar fundos. Apresentando claramente as necessidades para as quais se destinam as contribuições, e instruindo as pessoas sobre os conceitos que Paulo apresenta aqui, generosidade ainda maior pode ser estimulada, e Deus receberá ainda mais louvor.

V - Estímulo à Obra de Caridade -- vv. 1-5

Nesses versículos, o apóstolo fala mui respeitosa- mente para os coríntios, e com grande habilidade. Enquanto parece justificar sua insistência para que se envolvam com a caridade, continua a pressioná-los a isso, e mostra o quanto o seu coração está voltado para essa questão.

I Ele relata que não era necessário pressioná-los com outros argumentos para proporcionar alívio aos seus irmãos pobres (v. 1), estando satisfeito com o que tinha dito para persuadir aqueles de quem tinha um conceito tão bom. Porque:

1. Ele conhecia a prontidão deles para toda a boa obra e como tinham começado essa boa obra havia um ano. 2. Ele tinha se gloriado do zelo deles em relação aos macedônios, e isso estimulou muitos a fazer como tinham feito. Ele estava persuadido de que, como tinham começado bem, eles continuariam indo bem; e assim, elogiando-os pelo que tinham feito, ele os exorta a continuar e perseverar.

II Ele parece apresentar desculpas pelo fato de enviar Tito e os outros irmãos a eles. Ele não queria que ficassem ofendidos com ele por causa disso, como se fosse severo demais, e tivesse feito pressão demais sobre eles. Ele revela a razão exata por tê-los enviado, ou seja:

1. Que, ao terem essa informação oportuna, eles possam estar totalmente prontos (v. 3), e não surpresos com exigências apressadas, quando chegasse a Corinto.

Considere: Quando queremos que os outros façam aquilo que é bom devemos agir para com eles com prudência e ternura e dar-lhes tempo. 2. Que ele não se envergonhe da sua glória em relação a eles, caso sejam achados despreparados (v 3,4). Ele anuncia que alguns da Macedônia poderão vir alegremente com ele: e, se a coleta não tivesse sido feita, isso deixaria envergonhado o apóstolo, e, por que não dizei; a eles também, considerando a glória de Paulo em relação a eles. Ele teve esse cuidado para preservar a reputação deles e a sua própria. Observe: Os cristãos deveriam consultar a reputação da sua profissão e empenhar-se em adornar a doutrina de Deus, nosso Salvador.

VI - Estímulo à Obra de Caridade - - vv. 6-15

I Orientações adequadas a serem observadas acerca da maneira certa e aceitável de prestar auxilio. E muito importante que não façamos apenas o que é requerido, mas façamos como é ordenado. Observe a maneira como o apóstolo queria que os coríntios dessem: 1. Deveria ser de maneira generosa. Foi anunciado (v. 5) que se esperava uma contribuição abundante, uma questão de generosidade, não aquilo que tivesse gosto de avareza. E ele propõe para a consideração deles que as pessoas que esperam um bom retorno na colheita, não estão acostumadas a ser mesquinhas para pouparem na hora de semear a semente, porque o retorno é geralmente proporcional ao que foi semeado (v. 6). 2. Deveria ser de maneira deliberada. “Cada um contribua segundo propôs no seu coração” (v. 7).

Obras de caridade, como outras boas obras, deveriam ser feitas com contemplação e planejamento, já que alguns apenas fazem o bem por casualidade. Eles se compadecem num momento apressado, com a importunação de outros, sem um bom intento no coração, e dão mais do que gostariam e, então, se arrependem disso mais tarde. Ou, possivelmente, se considerassem devidamente todas as coisas, teriam dado mais. Uma deliberação devida, que envolva nossas próprias circunstâncias e as circunstâncias das pessoas que estamos prestes a ajudar, será muito útil para nos orientar em quão generosos devemos ser em nossas contribuições para fins de caridade. 3. Deveria ser de maneira voluntária, independentemente de quanto damos, seja mais, seja menos: não com tristeza ou por necessidade”, mas “. .. com alegria” (v. 7). As pessoas às vezes vão dar meramente para satisfazer a importunação daqueles que pedem a sua caridade.

Eles dão de forma forçada, e essa má vontade estraga tudo que fazem. Deveríamos dar além daquilo que algumas pessoas necessitadas nos pedem. Não deveríamos somente dar o pão, mas também a nossa alma (Is 58.10).

Deveríamos dar liberalmente, com a mão aberta, e com alegria, com um semblante satisfeito, estando gratos pela oportunidade de sermos caridosos.

II O encorajamento para realizar essa obra de caridade da forma que foi dirigida. Aqui o apóstolo conta aos coríntios o seguinte:

1. Eles não serão perdedores naquilo que derem. Isso poderia servir para remover uma objeção secreta na mente de muitos contra essa boa obra, na mente dos que poderiam estar prontos a ficar com aquilo que vão doar. Mas essas pessoas deveriam lembrar que o que é dado aos pobres da maneira correta certamente não estará perdido. A semente preciosa que é lançada no solo não é perdida, embora esteja enterrada ali por um tempo. Ela brotará e dará fruto. O semeador a receberá novamente com abundância (v. 6). Aqueles que dão generosa e liberalmente com compaixão experimentarão esse tipo de retribuição.

Porque: (1) Deus ama o doador alegre (v. 7). O que será que as pessoas que são objeto do amor divino podem esperar receber dele? Será que um homem pode ser um perdedor ao fazer aquilo que agrada a Deus? Será que essa pessoa não terá a certeza de que de uma maneira ou outra será um ganhador? Não somente isso, será que o amor e o favor de Deus não são melhores do que todas as outras coisas, melhores do que a própria vida? (2) Deus é poderoso para fazer nossa caridade resultar em beneficio próprio (v. 8). Não temos motivos para desconfiar da bondade de Deus, e certamente não temos motivos para questionar seu poder. Ele “...é poderoso para tornar abundante em vós toda graça”; em dar um grande incremento nas coisas boas espirituais e temporais.

Ele pode fazer com que tenhamos suficiência em todas as coisas, que estejamos contentes com o que temos, para que seja reposto o que damos, e assim sejamos capazes de dar ainda mais. Como está escrito em relação ao homem generoso (Sl 112.9): Ele “...é libera4 dá aos necessitados; a sua justiça (isto é, a sua esmola), permanece para sempre”. A honra disso é duradoura, a recompensa é eterna, e ele continua tendo condições de viver confortavelmente e de dar generosamente aos outros. (3) O apóstolo elabora uma oração a Deus em favor deles para que sejam ganhadores e não perdedores (vv. 10,11).

Observe aqui: A quem a oração é feita — a Deus, “... que dá a semente ao que semeia”, e que, pela sua providência, dá um aumento tão grande de frutos da terra que não temos apenas pão suficiente para comer ao longo do ano, mas suficiente para nova sementeira visando o suprimento futuro. E Deus que nos dá não só os nossos meios de subsistência, mas também o que é necessário para suprir as necessidades dos outros, como sementes a serem semeadas. [2] O motivo da oração.

Há várias coisas que ele deseja para eles, a saber que tenham pão para comer, sempre suficiente para si mesmos, e comida conveniente. Deus também multiplicará a sementeira deles, para que sejam capazes de continuar fazendo o bem e para que haja um aumento dos frutos da justiça deles. Assim poderão colher com abundância e ter o melhor e mais amplo retorno da sua caridade, e em tudo enriquecer “...para toda a beneficência” (v. 11).

Assim eles perceberão que não serão perdedores, mas grandes ganhadores. Observe: Obras de caridade jamais nos empobrecerão, porque são os meios apropriados para tornar-nos verdadeiramente ricos.

2. Além de eles não serem perdedores, os santos aflitos seriam os beneficiários. Porque esse serviço supriria a necessidade deles (v. 12). Se sabemos que eles são santos, que participam da casa da fé, e que passam por grandes necessidades, quão prontos deveríamos estar para fazer o bem a eles! Nossa bondade não pode estender-se até Deus, mas deveríamos estendê-la livremente a esses excelentes da terra, e dessa forma mostrar que nos alegramos com eles.

3. Isso redundaria em louvor e glória a Deus. Muitas ações de graça seriam dadas a Deus por conta disso, pelo apóstolo, e por aqueles que estavam envolvidos nessa ministração (v. 11). Eles louvariam a Deus, que os havia tornado em agentes alegres nessa obra tão admirável, e os tornou bem-sucedidos nela. Além deles, outros também estariam agradecidos. Os pobres, que foram supridos em suas necessidades, não deixariam de ser muito agradecidos a Deus e abençoariam a Deus por eles.

E todos que desejavam o crescimento do evangelho glorificariam a Deus por essa experiência ou prova de submissão ao evangelho de Cristo e verdadeiro amor a todos os homens (v. 13). Observe: (1) O verdadeiro cristianismo é uma submissão ao evangelho, uma rendição da nossa vida à influência dominante das suas verdades e leis. (2) Devemos evidenciar a sinceridade da nossa submissão ao evangelho pelas obras de caridade. (3) Isso será para o mérito da nossa confissão e para o louvor e glória de Deus.

4. Aqueles cujas necessidades foram supridas buscam dar a sua melhor retribuição ao realizar muitas orações a Deus por aqueles que os socorreram (v. 14). Deveríamos retribuir a bondade que recebemos da mesma forma quando não temos condições de retribuir de outra forma. E visto que essa é a única retribuição que os pobres podem dar, essa é uma grande vantagem para os ricos. Por último, o apóstolo conclui essa questão com esta doxologia: “Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável” (v. 15).

Alguns acham que para o apóstolo esse dom inefável é o dom da graça conferido às igrejas, em torná-las capazes e dispostas a suprir as necessidades dos santos aflitos, que seriam atendidas com um beneficio inefável tanto para os doadores quanto para os receptores. Parece, no entanto, que ele tem Jesus Cristo em mente, que é, na verdade, o dom inefável de Deus para este mundo, um dom que nos torna muito gratos.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento 3º. Edição Comentário Bíblico NT. Mathew Henry