24 de fevereiro de 2010

O PRINCIPIO BIBLICO DA GENEROSIDADE – Segunda Parte

O PRINCIPIO BIBLICO DA GENEROSIDADE – Segunda Parte

INTRODUÇÃO

Os Princípios da Caridade do Novo Testamento == 2 CORÍNTIOS 8-9

No final de sua primeira carta aos coríntios (16.1-4), Paulo mencionou uma “coleta para os santos”. Agora ele aborda com detalhes o tema da caridade. As Epístolas do Novo Testamento e o Livro de Atos deixam claro que entre 52 e 57 d.C., grande parte do trabalho de Paulo foi dedicada à arrecadação de dinheiro para “os pobres dentre os santos” que estavam em Jerusalém (Rm 15.26; Gl 2.10). Mas por que havia tanta pobreza entre os cristãos de Jerusalém? Sem dúvida, um motivo era o fato de que muitos eram colocados no ostracismo pelos judeus, que se recusavam a empregar, ou até mesmo comprar bens de pessoas que nessa época eram encaradas não como membros de uma seita judaica, mas como apóstatas.

Outra razão foi uma escassez de alimentos causada pela superpopulação, que resultou em época de fome no ano 46 d.C., durante o governo de Cláudio (At 11.27-30). O problema dos pobres teria sido exacerbado pelos pesados impostos cobrados na Palestina, não somente pelos romanos, mas também pelos governantes locais. Também foi sugerido que a boa vontade daqueles que possuíam grandes propriedades de vender suas posses para manter os pobres, embora pudesse ter satisfeito necessidades imediatas, teria, a longo prazo, causado o impacto do empobrecimento de todos (At 2.44,45; = 4.32-35).

Como era apropriado que a preocupação dos gentios simbolizasse não apenas a unidade dos judeus, e dos gentios em Cristo (Ef 2.11-22), mas também reconhecesse a dívida que estes antigos pagãos tinham para com o povo em cujo meio originou-se o evangelho (Rm 15.19,27). Isto talvez também tivesse um significado especial para Paulo, como maneira pela qual ele poderia compensar, em parte, os santos que, ainda como Saulo, ele havia perseguido (At 8.3; = 9.1; 26.10,11; = 1 Co 15.9; = Gl 1.13). Mas, acima de tudo, tanto a ênfase de Paulo sobre a caridade quanto a boa vontade das igrejas gentílicas em ajudar (2 Co 8.3,4) demonstravam aquele comprometimento com os outros que o Novo Testamento chama de “amor fraterno”: disposição para fazer sacrifícios pessoais pelo bem-estar de outros, na família de nosso Senhor. Contra este contexto, Paulo escreve com entusiasmo aos coríntios sobre o exemplo dado pelas igrejas da Macedônia (8.1-5), insistindo que eles também se sobressaiam nesta “graça” que estava relacionada à caridade (8.6,7). Paulo é cauteloso em não ordenar: a caridade do Novo Testamento deve fluir de um coração disposto, e não de uma ordem para reservar uma porcentagem da renda (8.8-12).

Ele também é cauteloso em ressaltar que o objetivo é a “igualdade”: a satisfação de todas as necessidades atuais, plenamente consciente de que algum dia o destinatário poderá também satisfazer uma necessidade de quem lhe doou (8.13-15). Depois de algumas observações pessoais sobre si mesmo e sobre Tito (8.16—9.5), Paulo continua a desenvolver o que na verdade é uma teologia sobre a caridade no Novo Testamento. Cada pessoa deve “propor em seu coração” o que dar, olhando para Jesus como o modelo de Deus para todos os relacionamentos com os outros. Cada um deve também se lembrar de que o que é semeado determina o que é colhido (9.6,7), e que ninguém pode dar mais que Deus, que nos fornece a todos tudo o que necessitamos para podermos ser generosos com os outros (9.8-1 1). Tal caridade provocará elogios bem como orações nos corações de quem a recebe (9.12-15).

I - ESTUDO DA PALAVRA

Pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos (8.4). O texto grego apresenta ten charin, “a graça” da caridade.

Charis (“graça”) aparece não menos do que dez vezes nos capítulos 8 e 9, e é traduzida de diferentes maneiras. Aqui é a honra ou o privilégio de participar do serviço. Em 8.1; 9.8 e 9.14, charis é usada sobre a dádiva de Deus que capacita os coríntios a participarem. Em 8.6 e 8.19, charis é a própria coleta, como expressão de amor e de boa vontade. Em 8.7 doar-se é descrito como “graça”, enfatizando a virtude do ato. Em 8.9, charis é a própria generosidade de Deus, ao passo que em 8.16 e 9.15 charis é a gratidão que jorra naqueles que recebem a oferta de amor.

Subordinada a cada um destes usos está a idéia básica implícita na palavra. A graça (charis) é favor ou beneficio concedido e, ao mesmo tempo, resposta de gratidão que é adequada ao que foi recebido, O uso múltiplo da palavra nestes capítulos ressalta o fato de que a caridade é completamente ato de graça. Dar é nossa resposta agradecida à grande dádiva que nos foi dada em Cristo. Dar é a concessão de beneficio a outros, que por sua vez estimula sua resposta de louvor a Deus e orações por quem doou.

Não digo isso como quem manda, mas para provar, pela diligência dos outros, a sinceridade da vossa caridade (8.8). Aqui epitagen tem o sentido de “uma ordem”. Paulo não faz uso impróprio de sua autoridade apostólica para ordenar uma ação que precisa, para agradar a Deus, ser expressão genuína de amor sincero e não obrigação ou dever.

Um modo de roubar a alegria de contribuir de nossos companheiros cristãos é insistir utilizando a expressão “você deve”, em lugar de fazer um convite: “você tem a oportunidade”. Alguns temem que a caridade poderia diminuir, se os cristãos não pensassem que eles “devem” entregar uma porcentagem de sua renda. Quando impomos uma exigência de porcentagem, algo que Paulo cuidadosamente evita fazer, na verdade estamos limitando a caridade, pois o amor é, na vida cristã, uma motivação muito mais poderosa do que a obrigação.

II - OBSERVAÇÕES SOBRE O DÍZIMO

A passagem básica sobre o dízimo é encontrada em

Levítico 27.30-33, que apresenta: Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores são do Senhor; santas são ao Senhor. Porém, se alguém, de suas dízimas, resgatar alguma coisa, acrescentará seu quinto sobre ela. No tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. Não esquadrinhará entre o bom e o mau, nem o trocará.

Outras passagens também oferecem explicações detalhadas. Números 18.21-32 dá a instrução deque o dízimo seja usado para sustentar os levitas, a tribo separada para servir a Deus. Conseqüentemente, ele não foi dado em sua própria província quando Canaã foi conquistada por Josué. Deuteronômio 12.5-14 e 14.22-26 ensinam que os dízimos deviam ser trazidos ao santuário central, que foi mais tarde estabelecido em Jerusalém. Deuteronômio 14.27-30 e 26.12- 15 apresentam outro dízimo, que devia ser coletado a cada três anos. Este dízimo devia ser guardado localmente e distribuído aos necessitados. Embora alguns vejam três dízimos no Antigo Testamento, parece mais provável que fossem dois: os dez por cento anuais, separados para aqueles que serviam ao Senhor, e o dízimo de cada três anos, destinado ao auxílio de viúvas, órfãos e estrangeiros desamparados.

O dízimo era aplicável a tudo aquilo que a terra produzia, e não à renda originada do comércio. Na opinião de alguns, o dízimo era um aluguel que Deus cobrava do povo de Israel a quem Ele concedia o privilégio de viver ali (Dt 1.8; 3.2). O dízimo também tinha o intuito de ser uma oportunidade para se expressar fé. Deus prometera abençoar o trabalho de seu povo (14.29). Aqueles que confiavam nele separavam seus dízimos alegremente, certos de que Ele satisfaria suas necessidades através de abundantes colheitas futuras (Ml 3.10).

Podemos justificar a importação do dízimo para nossa era. As raízes daquele costume eram parte da vida de Israel sob a Lei, tanto quanto qualquer sacrifício ritual.

Quanto aos ensinos do Novo Testamento, quando se trata de ofertas, e não do dízimo, cada um deve dar não uma quantia estabelecida, mas que “cada um contribua segundo propôs em seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7). Como expressão do amor e da confiança que Deus suprirá cada uma de nossas necessidades, a caridade cristã é verdadeiramente algo gracioso. E nossa resposta de amor à maravilhosa dádiva de amor que recebemos de Deus, e nossa resposta de amor aos nossos irmãos e irmãs que estejam passando por necessidades.

Como podemos medir atitudes? Paulo diz que é “segundo o qualquer tem”. A doação que a viúva faz de duas pequenas moedas (Mc 12.41-44) supera e muito as moedas de ouro e prata que deram os ricos, porque ela deu tudo o que tinha. Não devemos cair na armadilha de pensar quanto daríamos se fôssemos ricos. Em lugar disso, devemos simplesmente dar conforme nossa capacidade, ansiosos para ajudar o quanto pudermos. Mas não digo isso para que os outros tenham alívio, e vós, opressão; mas para igualdade (8.13, 14a). A palavra grega isotetos significa mais que igualdade, também significa imparcialidade, ou cotas iguais. Paulo explica no versículo seguinte. Sua intenção é que as necessidades sejam supridas, com a expectativa de que os que podem doar agora, possam, no futuro, estar em posição que suas próprias necessidades poderão ser satisfeitas por aqueles com quem eles compartilharam.

Cada um contribua segundo propôs em seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria (9.7). Talvez a palavra proeretai devesse ter sido traduzida como “determinou” em seu coração. Ela enfatiza a consciência e a profunda convicção que deve set refletida quando cada um de nós considera quanto pode dar. Não é de admirar que tantos cristãos não se sintam à vontade com a liberdade que nós recebemos em Cristo. Talvez percebamos que com a liberdade vem a responsabilidade, e isto nós não estamos prontos para aceitar.

III - TEXTO EM PROFUNDIDADE

Os Princípios da Caridade do Novo Testamento (2 Co 8,9)

Contexto. Seria muito fácil ler estes capítulos, e extrair uma falsa dicotomia entre a ênfase de Paulo, no Novo Testamento, sobre uma responsabilidade pessoal de ofertar, e a necessidade do Antigo Testamento de pagar o dízimo de Deus.

Por exemplo, a Mishnah (Maaserot 3.10) examina o caso de uma figueira em um jardim, com um galho que se estende sobre o pátio de um vizinho. Quem estiver naquele pátio terá a permissão de comer os figos, um a um, se assim o desejar. Mas, se apanhar todos os figos juntos (encher uma cesta), deverá pagar o dízimo sobre eles. Ou tomemos o tratado Maaser Sheni, que comenta o segundo dízimo. Ali, em 4.6, os sábios examinam a situação em que um comprador se apossa da produção com a condição do segundo dízimo. Quais são suas obrigações se, antes de poder pagar por isso, seu preço suba a duas “selas”? E o que acontece se seu valor for de duas selas quando ele a compra, mas depois o preço cai para uma sela antes que ele possa pagar?

O motivo de formular e responder perguntas como estas era colocar limites à Lei. Isto é, os sábios estavam profundamente preocupados com a exploração de todas as implicações da Lei de Moisés, para que uma pessoa comprometida com a obediência não violasse a Lei inadvertidamente. Mas, qualquer que seja o motivo, existe diferença ampla e clara de tom entre esta abordagem da caridade e a abordagem que Paulo assume em 2 Coríntios 8—9. Mas, como observei, existe um sentido em que este contraste cria uma falsa dicotomia. A razão é que não existe um paralelo real entre o dízimo do Antigo Testamento e a caridade do Novo! O dízimo era obrigação imposta a Israel, um aluguel devido a Deus pelo uso de sua terra, que continuaria em vigor mesmo depois que sua promessa de dar a terra à semente de Abraão (Cristo) se cumprisse no final da história (Gn 12.7; 3.15).

Os sábios tinham intenção de definir a extensão desta obrigação e estabelecer regras que guiariam os judeus religiosos a cumpri-las. Em contraste, Paulo está falando a respeito da caridade voluntária para ajudar aos pobres. O que sempre foi considerado, no Antigo Testamento e no judaísmo, como um assunto separado do dízimo. Portanto, Ben Shira, que escreveu 150 anos antes de Cristo, incentiva o religioso a respeitar o sacerdote e lhe “dar sua cota, como foi ordenado” (7.3 1), e passa imediatamente do assunto do dízimo ao assunto da generosidade para com os pobres.

Ao pobre também estenda sua mão, Para que sua bênção seja completa. Faça sua doação a alguém vivo, Não evite os que choram, Mas chore com aqueles que choram; Não negligencie o cuidado com os doentes Por estas coisas você será amado (7.32-35).

Dar ajuda aos pobres, portanto, era, e é, virtude tão grande no judaísmo assim como o é na grande exortação de Paulo aos coríntios (e a nós!) para que todos sejam generosos com os necessitados. Nós podemos, é claro, argumentar que existe grande diferença na motivação para contribuir que está explícita nos textos dos sábios e de Paulo. Este vê a caridade como uma resposta para a graça de Deus; os rabinos a viam como um ato meritório. Desta forma, conta-se a história do debate do rabino Akiba com Tineius Rufus, o governador romano da Judéia. Rufus desafiou o rabino: “Se, como você diz, seu Deus ama aos pobres, por que então Ele não os ajuda?” Diz-se que o rabino respondeu que Deus deixou o cuidado dos pobres a cargo dos judeus “para que muitos possam ser salvos da punição do Geena, pelo mérito alcançado através da caridade”.

Mesmo assim, nossa distinção básica ainda permanece. A caridade descrita e incentivada no Novo Testamento não é comparável ao dízimo do Antigo Testamento, mas está, na verdade, mais intimamente relacionada ao princípio estabelecido em Deuteronômio 15.10,11: “Livremente lhe darás, e que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo no que puseres a tua mão. Pois nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra”.

E neste tipo de caridade que o Novo Testamento também concentra nossa atenção. Naquela época, não havia edifícios com grandes hipotecas a serem pagas, e havia poucos ministros assalariados. Mas, já houve cristãos em várias partes do mundo que, em épocas diferentes, precisaram de ajuda para sobreviver como membros do corpo de Cristo. Sem criticar os objetivos de construção de templos e edifícios para igrejas, para os quais se destina grande parte da caridade contemporânea, nós, certamente, concordamos que as verdadeiras necessidades dos seres humanos devem ter prioridade, quando consideramos piedosamente como Deus deseja que direcionemos os recursos que Ele nos orienta a separar para sua obra.

Interpretação. Baseados nestes dois importantes capítulos estão alguns conceitos básicos que modelam nossa compreensão da caridade cristã. Em lugar de tentar esquematizar esta passagem, a melhor maneira de explorá-la é identificar e discutir estes conceitos básicos. Eles podem ser relacionados da seguinte maneira:

• A caridade é um privilégio (8.4) • A caridade nasce do comprometimento (8.5) • A caridade é voluntária (8.8) • A caridade tem um objetivo (8.13-16) • A caridade tem conseqüências pessoais (9.6) • A caridade envolve coração e mente (9.7) • A caridade tem resultados espirituais, além dos materiais (9.12)

À medida que estudamos estes conceitos um a um, começamos a construir uma teologia característica do Novo Testamento sobre a caridade que poderá nos orientar individualmente e em nossas igrejas.

A Caridade é um Privilégio (8.4). Paulo descreve a participação na oferta que ele está arrecadando para os santos atingidos pela pobreza em Jerusalém, como “a graça de participarem da assistência aos santos” (8.4, versão RA). E claro que as igrejas da Macedônia, a que Paulo refere-se, encaravam a caridade como um privilégio. Apesar de suportar “muita tribulação”, e apesar de sua própria “profunda pobreza” (8.2), os cristãos desta província estavam ansiosos para participar. Aqui, é importante observar que Paulo descreve estes crentes como também tendo abundância de alegria. Eles tinham relacionamento vital e satisfatório com Jesus, que lhes dava alegria interior, apesar de suas circunstâncias difíceis.

E impossível encarar a caridade isoladamente do resto da experiência cristã de alguém. Ninguém cujo amor por Cristo tenha esfriado, ninguém que esteja orientado para o mundo em lugar de para o céu, ninguém cuja felicidade esteja relacionada àquilo que possui, ninguém que deixe de sentir um jorro de alegria, ao sentir o toque diário de Jesus achará a caridade um privilégio, ou sentirá a graça que inspira a oportunidade que Deus nos dá de compartilhar com aqueles que estão em privação.

IV - A Caridade Nasce do Comprometimento (8.5)

Paulo continua a descrever os macedônios, e observa que “a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus”. A experiência macedônica da graça de Deus causava um gozo abundante (8.2). Os primeiros metodistas eram criticados pela igreja da Inglaterra daquela época, de quem eles se separaram como “entusiastas”. Toda aquela emoção era considerada inadequada. Mas, a emoção desempenha um papel vital no verdadeiro cristianismo. A religião nunca é suficiente, entretanto. A alegria em Cristo deve estar ao lado do comprometimento com o Senhor, e esse comprometimento deve ser expresso ao vivermos uma vida que é “pela vontade de Deus” (8.5). Se a caridade cristã deve ser tão generosa e espontânea como Paulo parece descrever aqui, a alegria que nós temos em Jesus deve nos levar a nos dedicarmos ao Senhor, e a nos comprometermos conscientemente em fazer sua vontade. Uma vez mais, somos lembrados de que a caridade não deve ser considerada isoladamente da experiência espiritual global de um indivíduo, ou de uma congregação. Se concentrarmos nossa atenção em cultivar o crescimento espiritual, as pessoas responderão generosamente, quando diante de uma necessidade.

4.1 - A Caridade é Voluntária (8.8). Uma verdade que muitos acham difícil de aceitar é que a caridade é verdadeiramente voluntária. O cristão não é obrigado a fazer caridade. O cristão não está obrigado a contribuir, mas deve fazê-lo de forma abundante e com alegria. Portanto, Paulo diz: “Não digo isso como quem manda” Uma das verdades mais difíceis de serem compreendidas é a de que a graça que nos liberta das obrigações em nosso relacionamento com Deus, na verdade nos liberta para fazermos muito mais do que faríamos de outra maneira. Quando Paulo diz que ele deseja “provar a sinceridade da vossa caridade”, ele nos alerta para a motivação definitiva e necessária para a caridade, e para cada ato do serviço.

4.2 -A Caridade Tem um Objetivo (8.13-16). Existe característica diferença aqui, entre a razão para a caridade no Novo Testamento e no judaísmo do século 1. No judaísmo, os pobres da terra eram os despojados socialmente: as viúvas, os órfãos, os sem teto, os trabalhadores diaristas, que não encontravam trabalho. A caridade para com estas pessoas era incentiva- da, pois Deus havia expressado preocupação especial por elas. Além disso, Provérbios 19.17 ensina: “Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e ele lhe pagará seu benefício”. Certamente, havia compaixão semelhante pelos pobres na igreja primitiva (At 4.32-37; 6.1-3; Tg 1.27). Mas, neste caso, Paulo apresenta um objetivo muito diferente para a caridade que não o alívio da necessidade individual.

Em Jerusalém e na Judéia, toda a comunidade cristã era quase pobre, pelas razões apresentadas no tópico Exposição (acima). Paulo vê isto como um problema especial, problema da igreja, que em parte significativa das condições do mundo tornava impossível que os crentes sobrevivessem e trabalhassem. A oferta de Paulo não pretende somente satisfazer as necessidades humanas reais, mas também prover os recursos necessários para capacitar os cristãos a darem um testemunho vital de Cristo em Jerusalém e na Judéia.

Aqui, vemos a adequação da analogia entre a igreja e um corpo. Cada membro precisa receber o que for necessário para sua saúde, e vitalidade para a realização da obra de Cristo no mundo. A contribuição que Paulo está solicitando pretende não somente satisfazer as necessidades dos pobres em Jerusalém, mas também capacitar a igreja dali a sobreviver e trabalhar. Esta análise sugere dois objetivos básicos para a caridade cristã. Nós damos, para satisfazer as necessidades humanas, simplesmente porque Deus realmente se preocupa com os pobres e oprimidos. Nós também ofertamos com a finalidade de capacitar os cristãos a trabalharem como igreja, testificando de Cristo de diversas maneiras dentro da sociedade.

Com relação a este segundo objetivo, que é soberano nesta passagem, Paulo nos lembra de que esta caridade não deve ser encarada como sendo interminável. Em Deuteronômio, está a afirmação direta de que sempre haverá pobres que precisarão de ajuda (15.11) Mas Paulo diz que devemos dar agora, “para que também sua [deles] abundância supra a vossa falta” (2 Co 8.14). A igreja dispersa por todo o mundo é interdependente e, com o passar da história, primeiramente urna região, depois outra prospera- tão ou decairão. E responsabilidade daqueles que prosperam agora, dar generosamente para satisfazer os crentes necessitados, nas regiões que não prosperam, plenamente conscientes de que com o tempo as situações poderão estar invertidas.

4.3 - A Caridade Tem Conseqüências Pessoais (9.6). Embora a salvação do crente não dependa, de nenhuma maneira, de quaisquer atos meritórios. E, embora o cristão não tenha nenhuma obrigação de fazer caridade, existem conseqüências pessoais para cada escolha que fazemos. Paulo, sem querer ordenar a caridade, apesar disto, sente-se completamente livre para mencionar algumas das implicações da decisão dos cristãos de contribuir ou não.

Desta forma, Paulo diz: “o que semeia pouco, pouco também ceifara; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará.”

4.4 - A Caridade Envolve Coração e Mente (9.7). Como o Estudo da Palavra sobre 9.7 destacou, devemos avaliar cuidadosamente e “decidir” o que vamos dar. Isto não somente enfatiza a responsabilidade pessoal, mas também a avaliação cuidadosa e racional. Mas, qual é o princípio que devemos usar para a avaliação? A resposta é sugerida em 8.13. Devemos olhar o que temos, e olhar o que os outros necessitam. E então, equilibrando o que temos, e o que os outros necessitam, devemos tomar nossa decisão.

O tipo de caridade que Paulo está explorando aqui não é simplesmente um assunto para a mente. E também um assunto para o coração. Uma vez tomada a decisão adequada, devemos fazer a contribuição com alegria, “porque Deus ama ao que dá com alegria”. A caridade deve produzir contentamento, deve ser prazerosa. Quando nosso coração está na doação, não existe qualquer sentimento de obrigação ou de má vontade, e o ato de caridade é purificado, um sacrifício que Deus aprova e a cujo autor Ele ama. Seria errado desencorajar qualquer oferta que seja feita sem sentimento de alegria. Se fizéssemos isto, o destinatário seria privado da doação. Mas, também, seria igualmente errado deixar de lembrar que qualquer doação que não seja motivada por amor, e feita com alegria, não traz benefícios para o doador! ( I Coríntios 13.3)

4.5 - A Caridade Tem Resultados Espirituais, Além de Resultados Materiais (9.12). O recebimento da doação estimula o louvor a Deus, e orações pelo doador. Doar, portanto, tem conseqüências espirituais diretas, além das materiais. Nós não doamos somente para suprir necessidades de outros; mas, porque, ao doarmos, aprofundamos o relacionamento de outros com o Senhor; e fazemos com que sintam seu amor, e sua preocupação constantes.

Aplicação. Os dois grandes capítulos de Paulo sobre a caridade nos ajudam, como indivíduos, a reexaminarmos nossa atitude em relação à riqueza, e nossa sensibilidade em relação às necessidades de outros. Mas, estes ensinamentos também sugerem que aqueles em posição de liderança na igreja deveriam reexaminar não somente seu ensino sobre caridade, mas também a maneira como a igreja procura angariar fundos. Apresentando claramente as necessidades para as quais se destinam as contribuições, e instruindo as pessoas sobre os conceitos que Paulo apresenta aqui, generosidade ainda maior pode ser estimulada, e Deus receberá ainda mais louvor.

V - Estímulo à Obra de Caridade -- vv. 1-5

Nesses versículos, o apóstolo fala mui respeitosa- mente para os coríntios, e com grande habilidade. Enquanto parece justificar sua insistência para que se envolvam com a caridade, continua a pressioná-los a isso, e mostra o quanto o seu coração está voltado para essa questão.

I Ele relata que não era necessário pressioná-los com outros argumentos para proporcionar alívio aos seus irmãos pobres (v. 1), estando satisfeito com o que tinha dito para persuadir aqueles de quem tinha um conceito tão bom. Porque:

1. Ele conhecia a prontidão deles para toda a boa obra e como tinham começado essa boa obra havia um ano. 2. Ele tinha se gloriado do zelo deles em relação aos macedônios, e isso estimulou muitos a fazer como tinham feito. Ele estava persuadido de que, como tinham começado bem, eles continuariam indo bem; e assim, elogiando-os pelo que tinham feito, ele os exorta a continuar e perseverar.

II Ele parece apresentar desculpas pelo fato de enviar Tito e os outros irmãos a eles. Ele não queria que ficassem ofendidos com ele por causa disso, como se fosse severo demais, e tivesse feito pressão demais sobre eles. Ele revela a razão exata por tê-los enviado, ou seja:

1. Que, ao terem essa informação oportuna, eles possam estar totalmente prontos (v. 3), e não surpresos com exigências apressadas, quando chegasse a Corinto.

Considere: Quando queremos que os outros façam aquilo que é bom devemos agir para com eles com prudência e ternura e dar-lhes tempo. 2. Que ele não se envergonhe da sua glória em relação a eles, caso sejam achados despreparados (v 3,4). Ele anuncia que alguns da Macedônia poderão vir alegremente com ele: e, se a coleta não tivesse sido feita, isso deixaria envergonhado o apóstolo, e, por que não dizei; a eles também, considerando a glória de Paulo em relação a eles. Ele teve esse cuidado para preservar a reputação deles e a sua própria. Observe: Os cristãos deveriam consultar a reputação da sua profissão e empenhar-se em adornar a doutrina de Deus, nosso Salvador.

VI - Estímulo à Obra de Caridade - - vv. 6-15

I Orientações adequadas a serem observadas acerca da maneira certa e aceitável de prestar auxilio. E muito importante que não façamos apenas o que é requerido, mas façamos como é ordenado. Observe a maneira como o apóstolo queria que os coríntios dessem: 1. Deveria ser de maneira generosa. Foi anunciado (v. 5) que se esperava uma contribuição abundante, uma questão de generosidade, não aquilo que tivesse gosto de avareza. E ele propõe para a consideração deles que as pessoas que esperam um bom retorno na colheita, não estão acostumadas a ser mesquinhas para pouparem na hora de semear a semente, porque o retorno é geralmente proporcional ao que foi semeado (v. 6). 2. Deveria ser de maneira deliberada. “Cada um contribua segundo propôs no seu coração” (v. 7).

Obras de caridade, como outras boas obras, deveriam ser feitas com contemplação e planejamento, já que alguns apenas fazem o bem por casualidade. Eles se compadecem num momento apressado, com a importunação de outros, sem um bom intento no coração, e dão mais do que gostariam e, então, se arrependem disso mais tarde. Ou, possivelmente, se considerassem devidamente todas as coisas, teriam dado mais. Uma deliberação devida, que envolva nossas próprias circunstâncias e as circunstâncias das pessoas que estamos prestes a ajudar, será muito útil para nos orientar em quão generosos devemos ser em nossas contribuições para fins de caridade. 3. Deveria ser de maneira voluntária, independentemente de quanto damos, seja mais, seja menos: não com tristeza ou por necessidade”, mas “. .. com alegria” (v. 7). As pessoas às vezes vão dar meramente para satisfazer a importunação daqueles que pedem a sua caridade.

Eles dão de forma forçada, e essa má vontade estraga tudo que fazem. Deveríamos dar além daquilo que algumas pessoas necessitadas nos pedem. Não deveríamos somente dar o pão, mas também a nossa alma (Is 58.10).

Deveríamos dar liberalmente, com a mão aberta, e com alegria, com um semblante satisfeito, estando gratos pela oportunidade de sermos caridosos.

II O encorajamento para realizar essa obra de caridade da forma que foi dirigida. Aqui o apóstolo conta aos coríntios o seguinte:

1. Eles não serão perdedores naquilo que derem. Isso poderia servir para remover uma objeção secreta na mente de muitos contra essa boa obra, na mente dos que poderiam estar prontos a ficar com aquilo que vão doar. Mas essas pessoas deveriam lembrar que o que é dado aos pobres da maneira correta certamente não estará perdido. A semente preciosa que é lançada no solo não é perdida, embora esteja enterrada ali por um tempo. Ela brotará e dará fruto. O semeador a receberá novamente com abundância (v. 6). Aqueles que dão generosa e liberalmente com compaixão experimentarão esse tipo de retribuição.

Porque: (1) Deus ama o doador alegre (v. 7). O que será que as pessoas que são objeto do amor divino podem esperar receber dele? Será que um homem pode ser um perdedor ao fazer aquilo que agrada a Deus? Será que essa pessoa não terá a certeza de que de uma maneira ou outra será um ganhador? Não somente isso, será que o amor e o favor de Deus não são melhores do que todas as outras coisas, melhores do que a própria vida? (2) Deus é poderoso para fazer nossa caridade resultar em beneficio próprio (v. 8). Não temos motivos para desconfiar da bondade de Deus, e certamente não temos motivos para questionar seu poder. Ele “...é poderoso para tornar abundante em vós toda graça”; em dar um grande incremento nas coisas boas espirituais e temporais.

Ele pode fazer com que tenhamos suficiência em todas as coisas, que estejamos contentes com o que temos, para que seja reposto o que damos, e assim sejamos capazes de dar ainda mais. Como está escrito em relação ao homem generoso (Sl 112.9): Ele “...é libera4 dá aos necessitados; a sua justiça (isto é, a sua esmola), permanece para sempre”. A honra disso é duradoura, a recompensa é eterna, e ele continua tendo condições de viver confortavelmente e de dar generosamente aos outros. (3) O apóstolo elabora uma oração a Deus em favor deles para que sejam ganhadores e não perdedores (vv. 10,11).

Observe aqui: A quem a oração é feita — a Deus, “... que dá a semente ao que semeia”, e que, pela sua providência, dá um aumento tão grande de frutos da terra que não temos apenas pão suficiente para comer ao longo do ano, mas suficiente para nova sementeira visando o suprimento futuro. E Deus que nos dá não só os nossos meios de subsistência, mas também o que é necessário para suprir as necessidades dos outros, como sementes a serem semeadas. [2] O motivo da oração.

Há várias coisas que ele deseja para eles, a saber que tenham pão para comer, sempre suficiente para si mesmos, e comida conveniente. Deus também multiplicará a sementeira deles, para que sejam capazes de continuar fazendo o bem e para que haja um aumento dos frutos da justiça deles. Assim poderão colher com abundância e ter o melhor e mais amplo retorno da sua caridade, e em tudo enriquecer “...para toda a beneficência” (v. 11).

Assim eles perceberão que não serão perdedores, mas grandes ganhadores. Observe: Obras de caridade jamais nos empobrecerão, porque são os meios apropriados para tornar-nos verdadeiramente ricos.

2. Além de eles não serem perdedores, os santos aflitos seriam os beneficiários. Porque esse serviço supriria a necessidade deles (v. 12). Se sabemos que eles são santos, que participam da casa da fé, e que passam por grandes necessidades, quão prontos deveríamos estar para fazer o bem a eles! Nossa bondade não pode estender-se até Deus, mas deveríamos estendê-la livremente a esses excelentes da terra, e dessa forma mostrar que nos alegramos com eles.

3. Isso redundaria em louvor e glória a Deus. Muitas ações de graça seriam dadas a Deus por conta disso, pelo apóstolo, e por aqueles que estavam envolvidos nessa ministração (v. 11). Eles louvariam a Deus, que os havia tornado em agentes alegres nessa obra tão admirável, e os tornou bem-sucedidos nela. Além deles, outros também estariam agradecidos. Os pobres, que foram supridos em suas necessidades, não deixariam de ser muito agradecidos a Deus e abençoariam a Deus por eles.

E todos que desejavam o crescimento do evangelho glorificariam a Deus por essa experiência ou prova de submissão ao evangelho de Cristo e verdadeiro amor a todos os homens (v. 13). Observe: (1) O verdadeiro cristianismo é uma submissão ao evangelho, uma rendição da nossa vida à influência dominante das suas verdades e leis. (2) Devemos evidenciar a sinceridade da nossa submissão ao evangelho pelas obras de caridade. (3) Isso será para o mérito da nossa confissão e para o louvor e glória de Deus.

4. Aqueles cujas necessidades foram supridas buscam dar a sua melhor retribuição ao realizar muitas orações a Deus por aqueles que os socorreram (v. 14). Deveríamos retribuir a bondade que recebemos da mesma forma quando não temos condições de retribuir de outra forma. E visto que essa é a única retribuição que os pobres podem dar, essa é uma grande vantagem para os ricos. Por último, o apóstolo conclui essa questão com esta doxologia: “Graças a Deus, pois, pelo seu dom inefável” (v. 15).

Alguns acham que para o apóstolo esse dom inefável é o dom da graça conferido às igrejas, em torná-las capazes e dispostas a suprir as necessidades dos santos aflitos, que seriam atendidas com um beneficio inefável tanto para os doadores quanto para os receptores. Parece, no entanto, que ele tem Jesus Cristo em mente, que é, na verdade, o dom inefável de Deus para este mundo, um dom que nos torna muito gratos.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento 3º. Edição Comentário Bíblico NT. Mathew Henry

22 de fevereiro de 2010

O PRINCIPIO BIBLICO DA GENEROSIDADE – Primeira Parte

O PRINCIPIO BIBLICO DA GENEROSIDADE – Primeira Part

TEXTO ÁUREO = “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”. Gl. 6. 9

VERDADE APLICADA = Deus estimula seus filhos para amar o próximo, situando este preceito como um dos pilares dos mandamentos.

LEITURA BÍBLICA = Ec 11. 1-6

INTRODUÇÃO

Salomão fala da disposição que os cristãos devem ter a fim de praticar atos generosos em favor dos necessitados (Ec 11.1). Devemos contribuir liberalmente, pois é possível que um dia talvez nós mesmos venhamos a enfrentar unia grande necessidade (2 Co 8.10-15). Contribuir, de modo sacrificial, fez parte essencial do ministério de Jesus Cristo aqui no mundo (2 Co 8.9; Lc 12.15).

I. LANÇANDO O PÃO SOBRE AS ÁGUAS

Salomão faz referência à maneira de semear trigo no Egito, quando se espalhavam sementes sobre as águas que inundavam seu território a cada ano, ocasião em que o rio Nilo transbordava. Aparentemente, os grãos semeados ficavam esquecidos e soterrados, mas no tempo exato surgia a colheita. O cristão tem a certeza de que aquilo que hoje semeia com zelo será grandemente abençoado no futuro (Hb 6.10; = Ap 22.12).

a) O generoso receberá ampla recompensa — Eclesiastes 11.1 ensina-nos a estabelecer bons empreendimentos, seja com recursos financeiros ou esforço pessoal. Incentiva-nos, também, a ser generosos para com os que padecem necessidades (GI 6.9,10). A lei moral da colheita está sempre em harmonia com a da semeadura ( Gl 6:7). Por isso, a pessoa generosa granjeia ampla recompensa (Mt 19.29), pois Deus é fiel em cumprir suas promessas para aqueles que investem no seu reino (Fp 4.19; = 2 Co 9.9).

Para se compreender o ensinamento sobre a generosidade recorremos às instruções de Paulo em 2 Coríntios 8, onde primorosamente instrui a igreja de Corinto a respeito da contribuição, citando um belo exemplo da maneira de dar da igreja da Macedônia (2 Co 8.1). Para Paulo, contribuir era urna graça tão grande que ele mesmo usou a palavra grega cinco vezes neste pequeno texto do versículo 1: a graça “charin”; versículo 4: a graça “charas”; versículo 6: esta graça “charin”; versículo 7: abundeis nesta graça “charin”; e versículo 9 a graça “charin” Dar ou contribuir uma questão de graça (At 20.35). O cristão generoso revela possuir a natureza de Cristo. Por isto, será recompensado por Deus (Jo 15.7,8;16).

b) Repartindo com sete e ainda com oito — Salomão faz um apelo à filantropia, ressaltando a prática de distribuir gratuitamente porções aos pobres, em ocasiões festivas (Ec 11.2; = Ne 8.10). “Sete” como diz o sábio, analogicamente pode referir-se à perfeição; “oito” á além da obrigação (Lc 6.38). Jesus disse: “Se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mt 5.41). A primeira milha é a obrigação, a segunda é o amor (1 Co 16.14).

Em Romanos 12.8, o apóstolo Paulo situa o dom de repartir no elenco dos dons:”... o que reparte, faça- o com liberalidade . Outra versão cita repartir como contribuir. E muito provável que Paulo se referia as contribuições pessoais dos integrantes da igreja primitiva, pois era de se esperar que a igreja como fami2ia de Deus tivesse o dever moral e ético de assistir os mais carentes. Ser bondoso também é ser generoso, não devendo ostentar este gesto, mas fazê-lo com discrição (Mt 6.3). Toda contribuição deve ter como origem um coração humanitário, altruísta, jamais provocado por sentimentos egoístas de ser notabilizado pelas pessoas (Lc 6.30-3 6,). No Oriente Médio antigo, a generosidade era considerada um elemento essencial para a formação do caráter de uma pessoa justa e temente a Deus (2 Cr15.7; = Pv 12.14).

c) Sabendo que haverá socorro e providência — Isto fala dos tempos de dificuldade quando se precisa de amigos e investimentos seguros. A necessidade pode vir ao que tem abundância (Fp 4.11-13). O escritor vive movido pela fé e pelo amor fraternal (1 Co 13. 1-8), honrando a Deus e ajudando o próximo. Assim estará preparado para qualquer calamidade ou prejuízo, porque contará com a providência de Deus (Fp 4.19).

Infelizmente, nos dias atuais encontramos maus exemplos como no período bíblico. O filho pródigo somente teve amigos enquanto havia herança (Lc 15,11-32). O apóstolo Paulo foi vítima de desamparo dos amigos (2 Tm 4.10), na sua última defesa (2 Tm 4.16), teve a retribuição do bem praticado pelo mau companheiro (2 Tm 4.14), dentre outros. O próprio Cristo foi traído por alguém que ele tinha na condição de amigo (Mt 26.14). Que estes acontecimentos não se repitam nos dias atuais, mas que a igreja compreenda que é a união que garante a bênção de Deus (SI 133).

II. A BÊNÇÃO DA CONFIANÇA NA PROVISÃO DE DEUS

As nuvens que se enchem de água de chuva, não as guardam para si, mas as deixam cair em beneficio da terra (Ec 11.3). A terra, por sua vez, recebe a umidade e retoma-a para as nuvens, seguindo o ciclo natural. Da mesma forma, a um homem que é abençoado por Deus e enche-se de riqueza, ordena-se não entesourá-la para si, mas a derramar sua riqueza em caridade para os menos afortunados (l Tm 6. 17,18).

a) No lugar que a árvore cair, ali ficará — De uma árvore que não dá fruto ninguém cuida, e onde quer que ela venha cair, ali permanecerá.

Um rabino judaico disse, certa vez:”...Assim acontece com aquele que não distribui caridade: ninguém o ajudará quando necessitar” (Tg 2.13). Em Provérbios 2 1.13 Salomão ressalta: “O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido”. A avareza, ou o apego exagerado aos bens temporais, é abominável ao Senhor, sendo igualado na Bíblia como idolatria (Lc 22.15; = Cl 3.5). Quem se preocupa somente com seu bem-estar, não importando com seu próximo, negou a fé e a eficácia da piedade (1 Trn 5.8). Deus é o maior exemplo de ofertante (Jo 3.16). Este amor sacrificial ele deseja que seja cultivado na rotina da comunidade cristã (1 Pe .1.22-25). Os cristãos primitivos tinham tudo em comum, suprindo as carências uns dos outros (At 2.45-47).

Quem observa o vento nunca semeará— Salomão sabe que a hesitação traz prejuízo. Ele condena a passividade e a falta de iniciativa do preguiçoso (Pv 6.9-11). O lavrador indeciso não semeia nem ceifa, perde tempo. A ilustração da vida agrícola é uma advertência para o cristão indeciso. Quem espera um tempo exatamente propicio nunca agirá e sempre chegará ao fracasso: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos” (Jr 8. 20) O trabalho honesto dignifica a pessoa (Gn 30. 30). Deus ao criar o primeiro homem, Adão, deu-lhe incumbências e responsabilidades (Gn 2.15). Jesus, desde a infância, sempre trabalhou (Mt 13,54-58). Paulo trabalhou para manter-se no ministério construindo tendas (At 18. 1-3).

III. AS MISTERIOSAS OPERAÇÕES DE DEUS NA NATUREZA

Salomão discorre sobre as misteriosas operações de Deus na natureza, ao dizer: “Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da que está grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas” (Ec 11.5). Tanto â vento, como a criação da vida são obras da surpreendente sabedoria de Deus: “Então, vi toda a obra de Deus, que o homem não pode alcançar a obra que se faz debaixo do sol ( Ec 8.17).

a) O homem não conhece o caminho do vento — O vocábulo “vento” usado aqui é “neshamah” no hebraico, cujo sentido é “espírito”. Temos aqui uma repetição do ato criativo de Deus, quando o Senhor pós no homem o sopro da vida (Gn 2.7). Este sopro é que alenta o corpo do embrião que se forma no ventre da mãe (Ec 11.5). Em João 3.8, Jesus faz uma referência à relação do vento com o Espírito. “O vento assopra onde quer. Assim como o vento, embora invisível, é identificado por sua atividade e pelo seu sonido, o Espírito Santo também é observado pela sua atividade sobre os cristãos nascidos de novo (Jo 20.22).

b) O homem não sabe como se formam os ossos do embrião — Atualmente, sabemos mais do que sabiam os povos antigos sobre como se desenvolve o embrião humano no ventre materno, entretanto, ainda não se encontrou solução para todos os mistérios da concepção (Sl 139.13,14). Ninguém sabe minuciosamente como Deus faz nosso corpo (SI 139.15). O que sabemos é que o homem é um ser vivo, sendo favorecido pela providência divina, antes mesmo de vir à existência (SI 139. 16).

c) O homem não conhece integralmente as obras de Deus — O mistério sobre a formação do feto humano constitui-se num dos mais belos aspectos da obrado Deus. Daí vários eruditos afirmarem que Eclesiastes 11.5 refere-se ao sopro da vida que anima o corpo do embrião no ventre da mãe (Gn 2.7; = Zc 12.1). A criação da vida é obra da insondável sabedoria e onipotência divina, com a qual Salomão contrasta o fracasso da sabedoria humana (Jó 37.5).

Segundo “Paulo, “..o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura...” (l Co 2.14). O homem natural é o indivíduo sem a presença do Espírito de Deus, o homem ainda não-regenerado. As realidades espirituais, tais como o Evangelho, a redenção que há em Cristo, a iluminação espiritual e a glorificação final são as coisas que têm sido descritas nesta passagem, as quais também só podem ser reconhecidas mediante a operação do Espírito Santo, no íntimo. Por conseguinte, os sábios deste mundo, a exemplo dos filósofos, os escribas, os retóricos e sofistas são destituídos da autêntica sabedoria, porquanto também não têm o Espírito (Tg 3.17). Para nós, essas realidades não são mais “loucura” (1 Co 1.23). Hoje em dia podemos perceber certos aspectos da “mente de Cristo” (l Co 1.15,16)

IV. APROVEITANDO AS OCASIÕES

Cada época da nossa vida cristã traz oportunidades e deveres; nada disto se deve descuidar (Jr 48.10). O apóstolo Paulo nos recomenda a aproveitar o tempo da melhor maneira possível, porque os dias são maus (Ef 5.16).

a) O cristão deve ser um semeador em potencial — Salomão traz a figura de um agricultor ao escrever Eclesiastes 11.6: “Pela manhã, semeia atua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas”. Um agricultor deve manter- se ativo pela manhã e à noite, semeado e efetuando os atos normais envolvidos no plantio, a fim de que tenha uma boa colheita. Assim também deve a igreja, de modo incansável, semear a Palavra de Deus no mundo (Jo 16.15; = 1 Co 9.16).

b) A igreja deve intensificar a sua ação na evangelização — A frase de Salomão: “Não retires a tua mão” tem seu equivalente em “Não seja preguiçoso” (Pv 6. 6). A atividade evangelizadora da igreja deve ser permanente, pois não sabemos qual será a semente que prosperará: “...assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará vazia (Is 55.10,11). Só haverá fruto, se houver semeadura. A igreja precisa entender o que significa ser povo de Deus, o programa eterno do Criador e sua responsabilidade evangelizadora.

Como portadora do poder do Espírito Santo (At 1.8), a igreja precisa reunir todos os recursos a fim de alcançar todas as pessoas desta geração com o Evangelho.

E certa que nossa responsabilidade é muito maior do que a dos primitivos discípulos e missionários. Visto que dispomos de maiores oportunidades, é certo que seremos responsabilizados mais do que eles, que não dispunham de avião, automóveis, rádio, telefone, internet etc. Somos a geração que, com a unção poderosa do Espírito Santo e com os recursos tecnológicos disponíveis, podemos cumprir cabalmente a nossa missão evangelizadora.

c) A igreja que semeia terá boa colheita - Muitos interpretam as frases: “semeia a tua semente” e “não retires a tua mão” (Ec 11.6), como que Salomão esteja fazendo uma alusão profética à responsabilidade da igreja quanto à evangelização e ao discipulado (2 Tm 3.16; 4.2). “Semeia a tua semente” significa pregar a Palavra de Deus aos homens, enquanto “Não retires a tua mão” significa oferecer todo o cuidado necessário aos que receberam a Cristo como Salvador (2 Tm 2.9,10). Sem evangelização e discipulado a igreja fica fadada ao fracasso (Pv 6.9-11).

V - A GRAÇA DA DOAÇAO CRISTA == 2 Coríntios 8.1—9.15

Agora a atenção de Paulo se volta à coleta que ele organizou entre as igrejas missionárias na Galácia, na Acaia e na Macedônia (veja o mapa 1), para o alívio da comunidade cristã de Jerusalém (cf. Rm 15.22-28; 1 Co 16.1-4). Esta oferta parece ter sido muito significativa no ministério apostólico de Paulo, pois ele persistiu no seu piano de entrega pessoal, apesar dos perigos que sabia lhe esperavam em Jerusalém (At 20.3,23; 21.4,10-15; Rm 15.30-32). Além disso, a oferta foi acompanhada por uma delegação (8.16-24; At 20.4; 1 Co 16.3) que superava em muito o tamanho da oferta, ajulgar pela pobreza das igrejas de onde ela veio. O significado teológico da coleta foi resumido da seguinte forma:

1) Um ato de caridade cristã entre companheiros de fé, motivado pelo amor a Cristo; 2) um ato que expressava a solidariedade da comunhão cristã, apresentando uma evidência irrefutável de que Deus estava convocando os gentios à fé; 3) uma peregrinação escatológica dos cristãos gentios a Jerusalém, pela qual os judeus se- riam confrontados com a inegável realidade da dádiva divina da graça salvadora aos gentios, e por meio disso seriam, eles mesmos, levados pelo ciúme para que finalmente aceitassem o evangelho.

Este projeto de coleta estava em conformidade com a ética do concerto do Antigo

Testamento (Lv 19.17-18 e Mq 6.8), e com a caridade do judaísmo (Mt 6.2;At 3.2).2 Estava também de acordo com o ensino de Jesus sobre o auxílio aos pobres (Mt 5.42; 6.2; 25.43-46; Mc 10.21; Lc 19.2-9; J0 13.29). Este ensino, juntamente com a natureza do relacionamento interior do discípulo (Mt 20.24-25; Mc 10.42-45; Lc 22.24-27), atingiu uma realização surpreendente no espírito e na ação de ter “tudo em comum” na igreja primitiva (At 2.44; 4.32; cf. 6.1-8).

Tal amor fraternal espontâneo, efetivado por uma nova relação com Deus por meio do Espírito Santo, era mantido por Paulo no centro da ética cristã (Rm 12.8-13; 13.8-10; Gl 6.6; Fp 4.14-17). Para ele, “a preocupação com as necessidades de um irmão na fé era uma expressão direta da comunhão orgânica peculiar de que os cristãos desfrutavam “em Cristo” (Rm 5.5)

Uma oferta angariada entre as igrejas gentílicas para os cristãos judeus — “os pobres santos que estão em Jerusalém” (Rm 15.16) — daria testemunho da solidariedade da igreja como “um corpo em Cristo” (Rm 5.5; 1 Co 10.17; 12.12-27; Gl 3.28). Se os gentios que compartilharam as bênçãos espirituais dos judeus sentiram a obrigação de lhes serem úteis nas bênçãos materiais (Rm 15.26-29), os judeus se sentiriam obrigados a glorificar a Deus (9.12-41) pela autenticidade da fé dos gentios em Cristo. Eles veriam a realidade do laço de comunhão entre eles como membros igualmente privilegiados do corpo de Cristo. Paulo pediu aos romanos que orassem com ele para que a oferta fosse aceita nesse espírito (Rm 15.30-3 1). Ele sabia que se a igreja de Jerusalém recusasse tal presente, eles estariam negando a soberania de Cristo sobre a igreja (cf. 1 Co 1.13; 10.17; 11.29; 12.27).

VI - PAULO COLETA UMA OFERTA, 8.1-15

Quando a missão de Paulo aos gentios foi reconhecida pelos principais apóstolos de Jerusalém como tendo o mesmo valor da missão deles aos judeus, foram-lhe dadas “as dêstras de comunhão” (koinonias, versão ARA), e lhe pediram somente que “se lembrasse dos pobres” (Gl 2.9-10). Devido a uma escassez de alimentos em Jerusalém, Paulo já tinha, juntamente com Barnabé, trazido uma contribuição de alívio de Antioquia a Jerusalém. Isto ocorreu antes ou durante a visita para a conferência de Jerusalém (At 15.1-31; Gl 2.1-1O). Agora, nesta sua terceira viagem, Paulo se incumbe de uma oferta muito mais ampla, ocasionada — embora não motivada exclusivamente pela necessidade entre os cristãos da Judéia.

Os prováveis fatores responsáveis pela condição de pobreza deles eram:

1) a continuidade da escassez de alimentos,

2) a perseguição econômica,

3) poucos ricos e muitos pobres na composição da igreja, e

4) a dissipação de quaisquer recursos financeiros que possuíssem.

Pelo menos um ano antes de ter escrito esta epístola, Paulo tinha pedido aos coríntios que contribuíssem com a oferta semanalmente, e que tivessem representantes prontos para acompanhá-lo na entrega da oferta (1 Co 16.1-4). Devido aos problemas entre eles, a igreja não tinha feito muito mais do que dar início à coleta (8.10; 9.2), de modo que ele procura reativar o projeto entre eles.

Naquilo que foi chamado de “Uma filosofia da doação cristã”, Paulo primeiramente fundamenta o seu pedido.

1) na “graça de participar do ministério para os santos”, 2) no exemplo de outras igrejas, 1-7; e 3) no exemplo do Senhor de todos, 8-15.

VII - A Liberalidade dos Macedônios (8.1-7)

Com muito tato, o apóstolo passa para o delicado assunto do dinheiro. A sua perspectiva é a da graça (charis, versículos 1, 4, 6, 7; cf. 9, 16, 19; 9.8, 14, 15).

As igrejas de Filipos, Tessalônica e Beréia tinham estado altamente motivadas nas suas doações, e os coríntios deveriam se sentir da mesma maneira. Vos fazemos conhecer (1) significa “nós precisamos informar a vocês” (KJV marg.).

Paulo deseja que os irmãos de Corinto conheçam a natureza da graça de Deus que foi dada às igrejas da Macedônia. Esta graça ou favor gratuito de Deus em

Cristo para os homens (8.9; Rm 3.24) é o âmago da teologia de Paulo, a partir do qual fluem todas as coisas. A resposta da Macedônia à graça divina foi tal que, em meio a muita prova (teste) de tribulação (Fp 1.29; 1 Ts 1.6-7; 2.14; 2 Ts 1.4-10), a abundância do seu gozo e a sua profunda pobreza” superabundou em riquezas da sua generosidade (2).

Este foi um tipo de paradoxo da graça (cf. versículo 9). Sob perseguições, e na pobreza, a graça produziu, na Macedônia, “duas das mais adoráveis flores do caráter cristão: a alegria e a generosidade.” A generosidade (haplotetos, simplicidade, sinceridade) aqui se refere não à dimensão da sua contribuição, mas à atitude de preocupação que motivou a participação deles (cf. 9.11,13; Rm 12.8). Foi o espírito de generosidade genuíno da parte deles, como indicam os versículos 3-5. Aqui havia uma evidência inquestionável da autenticidade da graça e da semelhança deles com Cristo (versículo 9; cf. Mc 12.41-44).

A generosidade dos cristãos da Macedônia estava evidenciada de três maneiras (3-5). Estes versículos são uma única sentença no texto original: Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente, pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus. O verbo deram (5) comanda toda a sentença. Primeiramente, eles deram acima do seu poder — acima dos limites da precaução normal para as suas próprias necessidades da vida, e eles o fizeram voluntariamente. Embora o apóstolo tivesse lhes pedido a doação, ele não os tinha pressionado.

Em segundo lugar, eles mesmos pediram ansiosamente a Paulo a graça da comunicação (participação, koinonian) do serviço para com os santos (cf. 1.1). O uso que Paulo faz de koinonia significando a coleta é significativo (cf. 9.13; Rm 12.13; 15.26-27; Gl 6.6; Fp 4.15). Relacionada ao uso desta expressão está a participação comum na vida ressurrecta de Cristo, que constitui a comunidade cristã (cf. 13.14; At 2.42; 1 Co 1.9; 10.16; Fp 1.5; 3.10; Fm 6; 1 Jo 1.37).

Aplicado à oferta, o termo indicava não apenas uma participação comum na oferta, mas também um relacionamento mais profundo “em Cristo”, do qual a participação na oferta é uma expressão essencial. Acrescentado a esta pequena seqüência de palavras espiritualmente significativas (charis, koinonia) com as quais Paulo descreve a coleta, aparece o serviço (tes diakonias; cf. At 6.1-

5; 11.29; 12.25). Esta era a designação favorita de Paulo para o seu próprio ministério (3.6; 4.1; 5.18; 6.3-4; 11.8, 23; cf. Mc 10.43-45). Como serviço (diakonia) ele considerava a coleta “um ato essencial de comunhão cristã realizado a serviço do Senhor” (cf. 9.1, 12).”

A terceira evidência da generosidade da Macedônia foi que, mais do que Paulo tinha esperado ou antecipado, eles a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós. A reação espontânea deles à coleta era um resultado direto do seu comprometimento com Cristo. Isto de acordo com a vontade de Deus, que se tornou conhecida através da graça de Deus em Cristo (versículo 1; cf. versículo 9), e assim deve ser. O amor de uns para com os outros como membros do corpo de Cristo não tinha sido um dos dons mais cultivados entre os coríntios (1 Co 8.1; 13.1). Paulo estava orgulhoso porque eles abundavam em tudo, de modo que certamente também iriam abundar nessa graça.

VIII - O Desafio da Generosidade de Cristo (8.8-15)

O desafio para que os coríntios completem a oferta continua. A maneira como Paulo procura motivá-los é completamente cristã. Hughes fala sobre a “diplomacia afetuosa” de Paulo. Embora ele tivesse o direito, em virtude da sua autoridade como apóstolo (1.1), Paulo não impõe a oferta como quem manda (8). Isto estaria em contradição com a sua natureza de um presente de amor. Em lugar disso, ele usa a diligência (lit., fervor; cf. versículo 7; 7.11-13) dos cristãos da Macedônia para provar (colocar à prova) a sinceridade da caridade dos coríntios. O amor “genuíno” (RSV) é o amor em ação.

Embora Ele existisse em forma de Deus, Ele não teve por

usurpação ser igual a Deus, Mas aniquilou-se a si mesmo,

tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;

e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente

obediente até à morte e morte de cruz.

O nosso Senhor desceu das alturas das riquezas para a profundidade da pobreza. E esta não era apenas uma demonstração geral da essência da graça divina, mas um exemplo pessoal aos coríntios de que Jesus se fez pobre, para que, pela sua pobreza, enriquecêsseis (cf. 1 Co 1.5). Tal graça, similar ao âmago do próprio ministério de Paulo (6.10), deveria certamente ser adequada para motivar os coríntios. Somente o amor de Cristo poderia verdadeiramente tornar genuíno o amor do homem em um projeto assim. Paulo não conhecia nenhuma diferença entre dogma e ética; para ele, as doutrinas mais difíceis entre todas, a Encarnação e a expiação, pertenciam ao âmago da ética prática de todo cristão.

O centro da nossa fé deve ser aplicado ao seu raio de ação, caso contrário seremos servos infiéis.Toda a riqueza é como o maná do Senhor, destinada não à falta de moderação ou ao luxo, mas sim ao alívio das necessidades dos irmãos. A riqueza aproveitada às expensas dos que têm necessidades em breve se estraga como o maná acumulado, e leva às diferenças que são contrárias à natureza da comunidade cristã. Provavelmente não existe lugar para a vaidade na comunhão da igreja; e certamente não há lugar para a fome e a nudez que possam ser aliviadas (cf. Pv 3.27-28; Mt 25.31-46; At 4.34). Hanson se refere aqui ao “amor auto-ajustável de Cristo nos seus membros que satisfaz a necessidade de cada um sem insuficiência nem embaraços”. “O critério da generosidade cristã” que Paulo aplica nestes versículos inclui:

1) a magnitude da graça de Cristo, 1-9;

2) a extensão da bênção material, 10-12; e

3) a dimensão das necessidades do corpo de Cristo, 13-15.

IX - As Bênçãos da Generosidade (9.6-15)

O tema abordado na última sentença do versículo 5 agora é expandido para mostrar como a generosidade, quando realizada com o espírito apropriado, pode ser uma fonte de bênçãos a todos aqueles que estão envolvidos — aos outros, a Deus, e a nós mesmos. Em primeiro lugar, o apóstolo explica que o cristão generoso é “alguém que semeia”. Não há medo de destituição na generosidade, pois “dar é semear” e semear significa esperar uma colheita. O mundo enriquece tirando dos outros; o cristão enriquece dando aos outros.

Em uma das suas expressões contrastantes (cf. 2.16; 4.3; 6.8; 1O;11-12; 13.3), Paulo sugere que existem duas maneiras de semear pouco e em abundância (6) com as colheitas correspondentes. “Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros, que retêm mais do que é justo, mas para a sua perda. A alma generosa engordará, e o que regar também será regado” (Pv 11.24-25; cf. 19.17; Gl 6.7-10). Aquele que semeia com abundância (ep eulogias) semeia “no princípio das bênçãos”, e com base nisto ele colhe. A idéia das bênçãos é o princípio da mordomia cristã (cf. Lc 6.38).

Há outro princípio coerente com este. Cada homem (7) só deve dar aquilo que tenha proposto anteriormente no seu coração (8.3; cf. At 4.32). O ato de dar não deve ser realizado com tristeza (lit.) ou por necessidade (compulsão).

O ato de dar que é motivado basicamente pela compulsão externa é realizado com dor e tristeza, e não pode estar de pleno acordo com a mente de Cristo (cf. 1 Co 2.16; Fp 2.5). Deus ama ao dá com alegria (Pv 22.8). O texto grego enfatiza alegria (hilaron) e em Deus. E da palavra hilaron que obtivemos a nossa palavra “hilariante”. Este versículo implica que o pagamento do dízimo meramente como uma obrigação legalista não é uma atitude cristã. O ato de dar, por parte de cada cristão, deve ser motivado adequadamente ele deriva da graça (8.1; 9.8) e almeja abençoar.

Deus é poderoso (8) para fornecer tanto a motivação quanto os meios para as doações generosas. A palavra-chave é graça, o conceito que fundamenta todo o tratamento que Paulo dá à coleta. E a graça que Deus é poderoso para tornar abundante. Assim o cristão, em tudo, com toda suficiência... pode superabundar em toda boa obra.5° A palavra suficiência ou “auto-suficiência” é a capacidade de ser independente de circunstâncias externas, no sentido de que se possa encarar o que se tem como sendo suficiente para suprir as próprias necessidades. O homem que tem a graça de se satisfazer com menos, tem mais para oferecer aos outros. Deus, através de seus dons de graça, pode prover tudo o que o homem necessita espiritual e materialmente de forma que este seja uma bênção para os outros. A graça de Deus é uma graça que doa, e que é capaz de engordar a alma mais magra e mesquinha.

Paulo ilustra aquilo que está dizendo a partir de, onde o homem que serve ao Senhor espalha a sua riqueza como o fazendeiro espalha as suas sementes, dando aos pobres, a sua justiça permanece para sempre (9; cf. 1, 3). O homem que expressa a sua justiça em atos e dons de bondade nunca terá falta dos meios para fazê-lo. Justiça aqui significaria, então, “dar esmolas, caridade” (cf. Mt 6.1-4). Se a justiça é basicamente uma qualidade da vida, ela resistirá à prova do julgamento. As duas idéias estão provavelmente presentes aqui, como em Mateus.

Assim, para resumir tudo, os coríntios irão enriquecer para toda a beneficência (11; haplot eta, generosidade; cf. 8.2). A “colheita da justiça” é um espírito sincero de generosidade, de onde nasce a doação altruísta para as necessidades dos outros. Este tipo de generosidade na forma concreta da coleta angariada e entregue por meio de Paulo e seus colaboradores aos santos de Jerusalém — irá produzir ações de graças a Deus.

A oferta tem um resultado duplo. Ela não só supre (plenamente) as necessidades (cf. 8.14) dos santos (12), mas também redunda em muitas graças, que se dão a Deus. De maneira interessante, Paulo chama isto de administração (diakonia; cf. 8.4; 9.1,13) desse serviço (leitourgias; cf. Rm 15.27; Fp 2.17). Ele está utilizando a linguagem do sacrifício (cf. Lc 1.23; Hb 8.6), como faz freqüentemente para as obras cristãs (Rm 12.1; 15.16). Aquilo que se faz em nome de Cristo tem parte no caráter do seu serviço sacrificial.

Paulo conclui o tema da coleta com uma explosão de gratidão. Graças (charis) a Deus, pois, pelo seu dom inefável (15). O dom (dorea) éo presente indescritível e soberano de si mesmo em seu Filho. Aqui está a fonte de toda a graça e todo o amor que irão fluir pelas igrejas como resultado da oferta (cf. Rm 8.32). O apelo do apóstolo provou-se eficaz, pois alguns meses mais tarde ele escreveu de Corinto aos romanos: “Pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” (15.26).

Paulo nos dá (6.15) três “motivos válidos para uma atitude generosa e uma doação com alegria”:

1) doar com um espírito apropriado é uma semeadura que garante uma colheita, 6-7;

2) Deus é poderoso e deseja assegurar tudo o que um homem necessita interior e exteriormente para compartilhar generosa e amorosamente com outros, 8-10;

3) aquilo que é doado faz mais do que simplesmente satisfazer necessidades materiais; tem implicações espirituais emocionantes e bênçãos para todos os lados, 11-15.

Se alguém juntar todos os termos significativos que Paulo aplica à coleta nos capítulos 8 e 9, poderá concluir que a doação cristã é:

1) uma expressão da graça (charis, 8.1,4, 6-7,9; 9.8,14);

2) motivada livre e sinceramente (haplotetos, 8.2; 9.11,13);

3) a implementação da comunhão cristã (koinonia, 8.4; 9.13-15; Rm 15.26-27); 4) uma parte indispensável de um ministério cristão (diakonia, 8.4,19-20; 9.1,12-13);

5) um dom generoso (hadrotes, 8.20);

6) um meio de bênçãos espirituais (eulogia, 9.5-6); e

7) um ministério sagrado (leitourgia, 9.12).

X - NOSSA GENEROSIDADE SERÁ MEDIDA

Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. Lucas 6.38 (arc).

Em conformidade com o princípio do amor, devemos dar aos necessitados (ver 2 co. 8.2 nota). O próprio Deus medirá a generosidade do crente e o recompensará. A medida da benção e da recompensa a recebermos será proporcional ao nosso interesse pelos outros e à ajuda que lhes damos (ver 2 Co. 9.6). (bep).

X.1. - SER GENEROSO TRAZ FELICIDADE

Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber. Atos 20. 35 (arc).

Essa é a visão de Paulo a respeito do dinheiro e do ministério. O dinheiro não era sua motivação (v.33). Ele sustentava o seu ministério fazendo tendas (ver 18.3), causando, desse modo, um fardo financeiro pequeno nas igrejas em que ministrava (v.34) Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber refere-se tanto ao nosso tempo quanto ao nosso dinheiro, pois trabalhando assim, auxiliamos os enfermos, os primeiros receptores de nossa doação, os menos afortunados. (bep)

X.2. - O COMPORTAMENTO DA IGREJA PRIMITIVA

Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade. Atos 2.45(arc)

Não há aqui qualquer afetação intelectual! Não há qualquer superioridade social, intolerância racial ou privilégios temperamentais aqui! Estavam todos juntos, ligados em comunhão pelas mesmas idéias (a doutrina dos apóstolos), pelas mesmas práticas (o partir do pão), pelos mesmos hábitos religiosos (as orações) e pelos mesmos direitos e responsabilidades de fundo econômico (o fato de que vendiam suas possessões e bens e distribuíam o produto entre todos, segundo a necessidade de cada um). (nti).

X.3. - FUJAMOS DA MALDIÇÃO

O que dá ao pobre não terá necessidade, mas o que esconde os olhos terá muitas maldições. Provérbios 28.27(arc)

O que dá ao pobre não terá falta. A mensagem da primeira linha deste versículo é a mesma que as duas linhas de Prov. 19.17. É bom negócio ser bondosos com os pobres. Ao homem generoso nada faltará, e o Senhor será o seu benfeitor.

Aquele que usa de misericórdia com os pobres empresta ao Senhor, e o Senhor cuidará para que o homem prospere. (ati).

X.4. - FIQUEMOS NA BENÇÃO

Há quem dê generosamente, e vê aumentar suas riquezas; outros retêm o que deveriam dar, e caem na pobreza. - O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá. Provérbios 11.24 e 25 (nvi)

Deus promete a quem dá com generosidade, receber de volta mais do que aquilo que deu. Ele abençoa os bondosos e generosos que dão dos seus recursos, ou dão de si mesmos. O NT ensina que somos mordomos dos dons de Deus e que devemos usá-los em prol da sua causa e visando o bem dos necessitados (Mt. 25. 26,27; ver 2 Co. 8.2 nota; 9.8 nota). (bep).

X.5. - CONTRIBUIR É UM PRIVILÉGIO

Todavia, assim como vocês se destacam em tudo: na fé, na palavra, no conhecimento, na dedicação completa e no amor que vocês tem por nós, destaquem-se também neste privilégio de contribuir. II Coríntios 8.7 (nvi)

É como se o apóstolo tivesse escrito: "Visto que transbordais em vossas expressões, em todas as outras coisas, cuidai para que também ‘abundeis’ na questão deste ‘serviço gracioso’ (graça) de contribuirdes para as necessidades alheias".

Os crentes coríntios não deveriam permitir que a parcimônia caracterizasse esse aspecto de sua vida cristã, visto que a "abundância" na bondade caracterizava-os em todos os demais aspectos. (nti).

X.6. - QUANTO COLHEREMOS?

Lembrem-se: Aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente. II Coríntios 9.6 (nvi).

O cristão pode contribuir generosamente, ou com avareza. Deus o recompensará de acordo com o que ele lhe dá (Mt. 7. 1,2). Para Paulo, a contribuição não é uma perda, mas uma forma de economizar; ela trará benefícios substanciais para quem contribui (ver 8.2 nota; 9. 11 nota). Paulo não fala primeiramente da quantidade ofertada, mas da qualidade dos desejos e dos motivos do nosso coração ao ofertarmos. (bep).

X.7. - QUEREMOS SER AMADOS POR DEUS?

Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria. II Coríntios 9.7 (nvi).

A idéia que Deus "...ama..." tal pessoa, neste caso, expressa o seu deleite, o seu senso de ser "fortemente agradado" com o indivíduo que dá como Deus quer, isto é, livremente, com singeleza, sem motivos duvidosos. É extremamente duvidoso que, sem alguma espécie de operação na alma, um homem pode ser essa espécie de doador. (nti).

X.8. - O GENEROSO HERDARÁ O REINO

E colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. - "Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: 'Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. - Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; - Necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram". Mateus 25. 33 a 36 - Ler vv.31 a 46 (nvi)

Importantíssima em seu alcance é a lição deste texto; e também um tanto perturbadora para uma igreja que tem de tal maneira enfatizado a justificação pela fé que tem perdido de vista o fato de que aquilo que praticamos também se reveste de vasta importância. A ausência de tais obras é prova da ausência de fé. A presença e o desenvolvimento dessas obras, que operam através do princípio do amor, neste texto é considerada como prova de que a pessoa pertence ao grupo das "ovelhas", que ela é um filho autêntico do reino, e que aquele grande e bendito reino será a sua herança.

XI - O CUIDADO DOS POBRES E NECESSITADOS

Am. 5.12-14 “Porque sei que são muitas as vossas transgressões e enormes os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate e rejeitais os necessitados na porta. Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau. Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis.” Neste mundo, onde há tanto ricos quanto pobres, freqüentemente os que têm abastança material tiram proveito dos que nada têm, explorando-os para que os seus lucros aumentem continuamente (ver SI 10.2,9,10; = Is 3.14,15; = Jr 2.34; Am 2.6,7; = 5.12,13; = Tg 2.6). A Bíblia tem muito a dizer a respeito de como os crentes devem tratar os pobres e necessitados.

XII - O ZELO DE DEUS PELOS POBRES E NECESSITADOS.

Deus tem expressado de várias maneiras seu grande zelo pelos pobres, necessitados e oprimidos.

(1) O Senhor Deus é o seu defensor.

Ele mesmo revela ser deles o refúgio (SI 14.6; = Is 25.4),

O socorro (SI 40.17; = 70.5; = Is 41.14),

O libertador (1 Sm 2.8; = SI 12.5; = 34.6; = 113.7; = 35.10; cf. Lc 1.52,53)

E provedor (cf. SI 10.14; = 68.10; = 132.15).

(2) Ao revelar a sua Lei aos israelitas, mostrou-lhes também várias maneiras de se eliminar a pobreza do meio do povo (ver Dt 15.7-11 nota). Declarou- lhes, em seguida, o seu alvo global: “Somente para que entre ti não haja pobre; pois o SENHOR abundantemente te abençoará na terra que o SENHOR, teu Deus, te dará por herança, para a possuíres” (Dt 15.4). Por isso Deus, na sua Lei, proíbe a cobrança de juros nos empréstimos aos pobres (Ex 22.25; Lv 25.35,36). Se o pobre entregasse algo como “penhor”, ou garantia pelo empréstimo, o credor era obrigado a devolver-lhe o penhor (uma capa ou algo assim) antes do pôr-do-sol. Se o pobre era contratado a prestar serviços ao rico, este era obrigado a pagar-lhe diariamente, para que ele pudesse comprar alimentos a si mesmo e à sua família (Dt 24.14,15).

Durante a estação da colheita, os grãos que caíssem deviam ser deixados no chão para que os pobres os recolhessem (Lv 19.10; Dt 24.19-21); e mais: os cantos das searas de trigo, especificamente, deviam ser deixados aos pobres (Lv 19.9). Notável era o mandamento divino de se cancelar, a cada sete anos, todas as dívidas dos pobres (Dt 15,1-6). Além disso, o homem de posses não podia recusar-se a emprestar algo ao necessitado, simplesmente por estar próximo o sétimo ano (Dt 15.7-1 1). Deus, além de prover o ano para o cancelamento das dívidas, proveu ainda o ano para a devolução de propriedades o Ano do Jubileu, que ocorria a cada cinqüenta anos.

Todas as terras que tivessem mudado de dono desde o Ano do Jubileu anterior teriam de ser devolvidas à família originária (ver Lv 25.8-55). E, mais importante de tudo: a justiça haveria de ser imparcial. Nem os ricos nem os pobres poderiam receber qualquer favoritismo (Ex 23.2,3,6; Dt 1.17; cf. Pv 3 1.9). Desta maneira, Deus impedia que os pobres fossem explorados pelos ricos, e garantia um tratamento justo aos necessitados (ver Dt 24.14).

(3) Infelizmente, os israelitas nem sempre observavam tais leis. Muitos ricos tiravam vantagens dos pobres, aumentando-lhes a desgraça. Em conseqüência de tais ações, o Senhor proferiu, através dos profetas, palavras severas de juízo contra os ricos (ver Is 1 .21-25; = Jr 17.11; = Am 4.1-3; = 5.11-13; = Mq 2.1-5; = Hc 2.6-8; = Zc 7.8-14).

XIII - A RESPONSABILIDADE DO CRENTE NEOTESTAMENTÁRIO DIANTE DOS POBRES E NECESSITADOS.

No NT, Deus também ordena a seu povo que evidencie profunda solicitude pelos pobres e necessitados, especialmente pelos domésticos na fé.

(1) Boa parte do ministério de Jesus foi dedicado aos pobres e desprivilegiados na sociedade judaica. Dos oprimidos, necessitados, samaritanos, leprosos e viúvas, ninguém mais se importava a não ser Jesus (cf. Lc 4.18,19; = 21.1-4; = Lc 17.11-19; = Jo4.1-42; = Mt 8.2-4; = Lc l7.11 19; = Lc 7.11-15; = 20.45-47). Ele condenava duramente os que se apegavam às possessões terrenas, e desconsideravam os pobres (Mc 10.17-25; = Lc 6.24,25; = 12.16-20; = 16.13-l5,19, 3I).

(2) Jesus espera que seu povo contribua generosamente com os necessitados (ver Mt 6.1-4). Ele próprio praticava o que ensinava, pois levava uma bolsa da qual tirava dinheiro para dar aos pobres (ver J0 12.5,6; 13.29). Em mais de uma ocasião, ensinou aos que o queriam seguir a se importarem com os marginalizados econômica e socialmente (Mt 19.21; = Lc 12.33; = 14.12- 14,16-24; = 18.22). As contribuições não eram consideradas opcionais. Uma das exigências de Cristo para se entrar no seu reino eterno é mostrar-se generoso para com os irmãos e irmãs que passam fome e sede, e acham-se nus (Mt 25.31-46).

(3) O apóstolo Paulo e a igreja primitiva demonstravam igualmente profunda solicitude pelos necessitados. Bem cedo, Paulo e Barnabé, representando a igreja em Antioquia da Síria, levaram a Jerusalém uma oferta aos irmãos carentes da Judéia (At 11.28-30). Quando o concílio reuniu-se em Jerusalém, os anciãos recusaram-se a declarar a circuncisão como necessária à salvação, mas sugeriram a Paulo e aos seus companheiros “que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência” (Gl 2.10). Um dos alvos de sua terceira viagem missionária foi coletar dinheiro “para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” (Rm 15.26). Ensinava as igrejas na Galácia e em Corinto a contribuir para esta causa (1 Co 16.1-4).

Como a igreja em Corinto não contribuísse conforme se esperava, o apóstolo exortou demoradamente aos seus membros a respeito da ajuda aos pobres e necessitados (2 Co 8;9). Elogiou as igrejas na Macedônia por lhe terem rogado urgentemente que lhes deixasse participar da coleta (2 Co 8.1-4; 9.2). Paulo tinha em grande estima o ato de contribuir. Na epístola aos Romanos, ele arrola, como dom do Espírito Santo, a capacidade de se contribuir com generosidade às necessidades da obra de Deus e de seu povo (ver Rm 12.8 nota; ver 1 Tm 6.17-19).

(4) Nossa prioridade máxima, no cuidado aos pobres e necessitados, são os irmãos em Cristo. Jesus equiparou as dádivas repassadas aos irmãos na fé como se fossem a Ele próprio (Mt 25.40,45). A igreja primitiva estabeleceu uma comunidade que se importava com o próximo, que repartia suas posses a fim de suprir as necessidades uns dos outros (At 2.44,45; 4.34-37). Quando o crescimento da igreja tornou impossível aos apóstolos cuidar dos necessitados, de modo justo e equânime, procedeu-se a escolha de sete homens, cheios do Espírito Santo, para executar a tarefa (At 6.1-6). Paulo declara explicitamente qual deve ser o princípio da comunidade cristã: “Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10).

Deus quer que os que têm em abundância compartilhem com os que nada têm para que haja igualdade entre o seu povo (2 Co 8.14,15; cf. Ef 4.28; = Tt 3.14). Resumindo, a Bíblia não nos oferece outra alternativa senão tomarmos consciência das necessidades materiais dos que se acham ao nosso redor, especialmente de nossos irmãos em Cristo.

CONCLUSÃO

A igreja deve ser caracterizada por um ministério de serviço. Cada membro deve agir como um servo da Palavra de Deus, compartilhando sua mensagem ousada e corajosamente. Não é uma tarefa fácil, pois a Palavra de Deus enfrenta violenta oposição, mas a igreja do Senhor não pode se acovardar diante dessa sua árdua, porém nobre missão (Mc 16.15). Em João 9.4, Jesus ressaltou:

“Convém que eu faça as obras daquele que me chamou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar”.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

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