LIÇÃO 11 – ADOTADOS POR DEUS - 4º TRIMESTRE DE 2017 (Rm 8.12-17)
TEXTO ÁUREO
"Porque não recebestes o espírito de escravidão,
para, outra vez, estardes em temor,
mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo
qual clamamos: Aba, Pai." (Rm 8.15)
VERDADE PRÁTICA
A obra de salvação de Jesus Cristo nos possibilitou
ser adotados como filhos amados de Deus.
Introdução
A adoção espiritual é uma bênção
proveniente da obra salvífica de Cristo Jesus. Isso significa que deixamos a
condição de criaturas, servos e servas do pecado, para viver a condição de
filhos libertos que desfrutam dos privilégios da obra de salvação. Embora
usufruamos das inumeráveis bênçãos dessa condição atualmente, temos a esperança
de, num futuro bem próximo, desfrutarmos da adoção plena e gloriosa nos céus.
I - CONCEITO BÍBLICO DE ADOÇÃO
Definição etimológica
O dicionário Houaiss (2001, p. 88) diz que adoção é:
“ação ou efeito de adotar, de aceitar alguém ou algo; processo legal que
consiste no ato de se aceitar espontaneamente como filho, desde que respeitadas
as condições jurídicas para tal, aceitação como parte integrante da vida de uma
família, aceitação ou admissão do que antes era externo, alheio, estranho ou
não era conhecido ou cogitado, ato jurídico que cria relações de paternidade e
filiação entre duas pessoas e este ato faz com que uma pessoa passe a gozar do
estado de filho de outra pessoa”.
Conceito bíblico e teológico.
No sentido
bíblico, o ser humano caído em pecado é uma criatura e não filho de Deus. Para
se tornar filho de Deus é preciso crer no sacrifício vicário de Cristo para
então ser recebido pelo Pai como filho por adoção (Jo 1.12; Cl 4.5). Assim, é
possível fazer parte da família de Deus, desfrutando de uma relação terna e amorosa
cuja expressão mais peculiar para descrevê-la é Aba (paizinho). Pai (Gl 4.6).
É um privilégio
ser membro de uma família em que todos passam a chamar e a considerar uns aos
outros, irmãos em Cristo (l Ts 2.14). Toda essa bênção só é possível porque
fomos feitos "filhos de adoção por Jesus Cristo" (Ef 1.5).
Definição teológica.
A palavra grega traduzida para “adoção” é “huiothesia”
é uma palavra composta formada de “huios” que significa “filho”, e “thesis” que
por sua vez é “posição ou colocar” (Rm 8.15,23; 9.4, Gl 4.5; Ef 1.5). Portanto,
seu sentido primário é: “colocar como filho”, “dar a alguém a posição de
filho”.
Em escritos seculares gregos essa palavra era muitas
vezes usada no mesmo sentido que usamos a palavra adoção; isto é, aceitar
alguém que não era por natureza da família e legalmente recebê-lo e tratá-lo
como filho por nascimento […] é o ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe
outra como filho, independentemente de existir entre elas qualquer relação de
parentesco consanguíneo ou afinidade” (VINE, 2002, p. 374).
Benefícios da
adoção.
Fazer parte de
uma família, e nesse caso da família de Deus (Ef 2.19), traz inúmeros
benefícios: segurança, confiança e sentido de pertencimento a uma casa eterna.
Este termo lembra um lugar de refúgio, paz e descanso. Nesse sentido, num mundo
conturbado em que vivemos, encontrar a casa do Pai é um grande alívio e um
antídoto contra as perturbações, angústias e aflições nos dias atuais. Além
disso, a adoção divina nos tira o senso de inferioridade que o pecado carrega,
nos coloca num lugar elevado, tirando-nos "da potestade das trevas" e
transportando-nos "para o Reino do Filho do seu amor" (Cl 1.13).
Herdeiros da
promessa.
O Espírito Santo
testifica ao nosso coração que somos filhos de Deus (Rm 8.16). Somos filhos
porque fomos adotados pelo Pai, passamos a fazer parte de sua família e a
desfrutar do privilégio de sermos os seus herdeiros (Tt 3.7; Rm 8.17).
Por meio da
adoção divina, deixamos de ser escravos, sem herança nem direito, para nos
tornarmos filhos portadores de todos os privilégios da casa do Pai (Gl 4.7).
Logo, temos uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível que está
reservada nos céus para nós (1Pe 1.4).
A adoção é para todos os que creem
Os principais textos que tratam dos crentes como
filhos de Deus são (Sl 103.13; Ef 1.5; Gl 4.4,5; Rm 8.15-17; Jo 1.12; 2 Co 6.
18; Rm 8.15; 23; Gl 4.6; Hb 12.6; Hb 6.12; 1Pe 1.3,4; Hb 1.14). Continua-se a
observar os aspectos legais que ocorrem na vida do pecador que recebe a Cristo
como Salvador: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (Jo 1.12). A presunção humana
de achar que todos os homens são filhos de Deus não corresponde à verdade
bíblica.
II - ADOÇÃO DE FILHOS DE DEUS
A adoção nos torna filhos de Deus
Ninguém precisará jamais adotar um filho natural
porque já é filho. Deus tem apenas um Filho, o qual, por ser o único, é chamado
de Filho Unigênito (Jo 3.16). Os homens tornam-se filhos por adoção, e essa
adoção é um ato legal, pois ela inclui a pessoa salva na família de Deus,
responsabilizando-a pela obediência filial. Como consequência dessa filiação, o
crente passa a ter todos os direitos e privilégios de filho: “E, se nós somos
filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo
[…]” (Rm 8.17; ver Gl 4.5,6). “[…] deu-lhes o poder de seremfeitos filhos de
Deus […] ” (Jo 1.12). De “serem feitos” porque não eram antes (BRUNELLI, 2016,
p. 359).
A adoção nos dá os direitos de um filho natural
A adoção no mundo greco-romano era ordinariamente de
jovens de bom caráter que se tornavam os herdeiros e mantinham o sobrenome dos
ricos que não tinham filhos. Porém, o NT proclama a adoção corteza do Senhor a
pessoas pecadoras para se tornarem os herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo
(Rm 8.15-17; Gl 3.26, 27; 4.5,6; 1Jo 3.1). Em uma cerimônia legal, ao filho
adotado era concedido todos os direitos de um filho natural. Não existe
dignidade suficiente no homem que o faça merecer tão graciosa obra da salvação
(Ef 1.5; Gl 4.5; Rm 8.15). Quem não é filho, vive numa insegurança marcante,
porém quem é filho sente segurança: “porque não recebestes o espírito de
escravidão para viverdes, outra vez, atemorizados” (Rm 8.15) (ENNS, 1998, p.
35).
A adoção nos dá uma nova relação familiar
Pela adoção, os laços com a velha família são
quebrados, pois somos resgatados da lei (Gl.4.5); da escravidão (Rm 8.15); das
futilezas que cercavam a nossa vida (1Pd 1.18); e da maldição familiar (Ex
20.5). Pela adoção, um novo ambiente familiar é estabelecido.
A adoção vai ainda um pouco além, pois: “ela outorga
não apenas um novo nome, um novo status legal e uma nova relação familiar, mas
também uma nova imagem, a imagem de Cristo” (Rm 8.29; Ef 2.11-13; 19). O
adotado não tem nenhum mérito pela escolha do “adotador” pois a soberania
divina exclui com eficácia qualquer mérito (Ef 1.5; Gl 3.26; 4.4-7). “Adoção é
um ato por meio do qual Ele (Deus) nos faz membros da Sua família”. Filho, no
sentido legítimo da palavra, é alguém que tem em si os “genes” do pai e da mãe.
Todavia, há filhos adotados,por um ato de amor e, ao mesmo tempo, jurídico,
passando a desfrutar das mesmas regalias e direitos de um filho biológico; ou
ainda, pelo direito à cidadania estrangeira, como ocorreu com Paulo (At 22.25,26)
(BRUNELLI, 2016, p. 369).
Adoção nos dá privilégios espirituais
O status de filhos traz-nos alguns privilégios:
(a) tratar a Deus como Pai nas nossas orações e de
receber o perdão de nossos pecados: “Pai nosso, que estás nos céus […]” (Mt
6.9);
(b) ter o testemunho do Espírito acerca da nossa
salvação, o qual clama “Aba, Pai”, dando-nos o testemunho de que somos filhos
de Deus (Rm 8.15,16);
(c) sermos amados por ele, enquanto ignorados pelo
mundo (1Jo 3.1); (d) ter o privilégio de sermos guiados pelo Espírito Santo (Rm
8.14), (e) gozamos do cuidado do Pai (Mt 6.32) e da liberdade de lhe pedir o
suprimento das nossas necessidades (Mt 7.11); (f) podemos lhe pedir o Espírito
Santo (Lc 11.13) e gozarmos do direito a ter uma herança nos céus (G1 4.7; 1Pd
1.4), e, além de tudo, o salvo é colocando lado a lado com o Filho Unigênito do
Pai (Rm 8.17).
III - A DOUTRINA DA ADOÇÃO NO PASSADO, PRESENTE E
FUTURO
Depois de adotado por Deus, o crente passa a ser filho
do Pai Celeste: “Amados, agora somos filhos de Deus…” (1Jo 3.2); como irmão de
Jesus (Hb 2.11); e como herdeiro dos céus (Rm 8.17). De igual modo, é libertado
do medo (Rm 8.15) e desfruta de segurança e certeza de vida eterna (Gl 4.5,6).
A adoção no passado
A regeneração nos dá a natureza de filho de Deus, já a
adoção nos dá a posição de filhos. Em Efésios 1.4,5 está escrito que fomos
predestinados por Deus para adoção de filhos, “… antes da fundação do mundo […]
e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo […]”; portanto, antes
da existência do homem. Isso exclui qualquer mérito humano e somente revela a
graça infinita de Deus que é condicional.
A adoção no tempo presente
Há bênçãos desfrutadas já nesta vida, decorrentes da
adoção, como:
(a) o nosso nome de família: “chamados filhos de Deus”
(1Jo 3.1; Ef 3.14,15);
(b) o testemunho do Espírito Santo em nosso interior,
de que somos filhos de Deus (Rm 8.16);
(c) o recebimento do Espírito Santo (Rm 8.15; Lc
11.11-13);)
(d) a disciplina da parte de Deus como seus filhos:
“Se estais sem disciplina […] sois então bastardos, e não filhos” (Hb 12.8;
6-11);
(e) a nossa herança celestial, declarada e garantida
por Deus (Rm 8.17);
(f) Por meio da adoção, os nossos nomes foram
registrados no livro da vida do Cordeiro (Lc 10.20; Fp 4.3; Ap 17.8; 3.5; 13.8;
20.12,15; 21.27).
A adoção no tempo futuro
Paulo traz à mente do povo de Deus, que sua relação
com Deus agora em Cristo, é totalmente diferenciada. Não mais escravos, mas
filhos. Em Romanos 8.23, vemos que os nossos privilégios quanto à adoção de
filhos de Deus têm ainda um lado futuro: “… gememos em nós mesmos, esperando a
adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”. Isso se dará na vinda de Jesus
para levar a sua Igreja, o que nos mostra que a adoção de filhos se
concretizará de maneira plena no futuro com o arrebatamento da Igreja. “Vede
quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de
Deus […]. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que
havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes
a ele; porque como é o veremos […]” (1Jo 3.1-3).
IV - O QUE NÃO É
A ADOÇÃO
A adoção não é regeneração
A adoção lida com a nossa mudança de posição pois
éramos por natureza “filhos da ira” (Ef 2.3) e “filhos do diabo” (1Jo 3.10);
nossa posição era de alienação e condenação.
Devido à remoção do pecado e à obra meritória de
Cristo nossa posição muda, de modo que agora somos chamados filhos de Deus. O
filho adotivo retém a natureza de seus pais biológicos; ele não assume a
natureza de pai adotivo. Mas Deus, na regeneração, permite que seus filhos,
“nascidos de novo”, se tornem participantes da sua natureza santa e amorosa,
como seu Pai celestial (2Pd 1.4). Deus fez o que nenhum pai ou mãe humanos
podem fazer quando adotam uma criança que é mudar a personalidade e a natureza
da criança que adotaram de modo que sejam semelhantes às deles. Os judeus
contemporâneos de Jesus alegaram ser filhos de Deus, porém, suas atitudes não
demonstravam essa condição de filhos de Deus; por isso, Jesus chamou-os de “filhos
do diabo” (Jo 8.41-44) (BRUNELLI, 2016, p. 369).
Adoção não é justificação
A justificação lida com a nossa mudança de estado pois
estávamos por natureza “condenados” e agora somos “livres” pois recebemos o
perdão e a reconciliação com Deus. Por isso, a adoção é uma bênção que nos leva
da sala do tribunal para o seio da família (2Sm 9.11). Concebe-se a
justificação em termos da lei, a adoção, em termos do amor. A justificação vê
Deus como juiz, a adoção, como um pai (Rm 8.14, Ef 1.5). As Escrituras deixam
claro que uma coisa é ser “julgado justo” (justificação), e outra é ser
“colocado entre os filhos de Deus” (adoção). A justificação envolve uma relação
judicial; a adoção, uma relação pessoal. O fato de um juiz pronunciar a sentença
de “não culpado” não o compromete a levar o acusado para sua casa e
conceder-lhe todos privilégios de filho. Uma coisa é Deus nos aceitar como
Juiz, outra, aceitar-nos como Pai (BRUNELLI, 2016, p. 369).
A adoção não é santificação
A santificação lida com a nossa mudança de natureza
pois éramos por natureza “impuros” e agora somos “santos” (Jo 1.12; Rm 8.17).
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus” (Mt
5.48).Paulo também disse: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”
(Ef 5.1). Trata-se simplesmente do filho de Deus ter os sinais característicos;
fiel ao seu Pai, ao seu Salvador e a si próprio. A responsabilidade de viver no
status de filho, temos que viver como família de Deus. Por isto Jesus afirmou:
“Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai” (Mt 5.48). Somos convidados a viver
este novo estilo de vida: “Como filhos da obediência não vos amoldeis às
paixões que tínheis anteriormente” (1Pd 1.14). Devemos ter compromisso com o
funcionamento da nova família: “Vivei de modo digno da vocação a que fostes
chamados” (Ef 4.1).
Para isso Paulo nos adverte: “Sede, pois, imitadores
de Deus, como filhos amados […]” (Ef 5.1,2 ver 1Pd 1.14-16; Mt 5.16). Por isso
que Paulo ainda diz: “[…] para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros,
filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta […]”
(Fp 2.14-16). Nesta atitude de honrar e glorificar o Pai é que somos
reconhecidos como seus filhos: “Nisto são manifestos os filhos de Deus e os
filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus […]”
(1Jo 3.10 ver 1Pd 2.11,12).
COCLUSÃO
A doutrina da adoção nos mostra que somos filhos de
Deus e que um dia fomos aceitos por Ele por causa do seu grande amor. Foi a
obra de Cristo na cruz que tornou esse processo de adoção possível. Agora, nos
tornamos herdeiros de todas as coisas juntamente com Cristo Jesus.
Firmados na doutrina gloriosa da adoção, podemos nos
sentir amados e cuidados por Deus, em Cristo Jesus, pois somos objetos do seu
inefável amor.
Elaboração pelo Pb. Mickel Porto
REFERÊNCIAS
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Norman. Teologia Sistemática. CPAD.
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HOUAISS,
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VINE, W.E, et
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