21 de fevereiro de 2024

 A Disciplina na Igreja

TEXTO ÁUREO

E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido. (Hb 12.5)

Entenda o Texto Áureo

Aqui o escritor lembra e expõe Pv 3.11-12. As provações e os sofrimentos na vida cristã vêm de Deus, que os usa para instruir e disciplinar os cristãos com essas experiências. Esse procedimento é evidência do amor de Deus por seus filhos (cf. 2Co 12.7-10).

 

VERDADE PRÁTICA

 

A disciplina cristã é uma doutrina bíblica necessária, pois permite ao crente refletir o caráter de Cristo.

Entenda a Verdade Prática

Por sermos ainda pecadores e imperfeitos, entendemos que a disciplina é uma necessidade também para nossos dias. Cristo nos ensinou e ordenou a sua prática (Mt 18.15-20).

 

LEITURA BÍBLICA = Hebreus 12.5-13

 

5. E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido;

Esta exortação é encontrada em Provérbios 3: 11-12. O objetivo do apóstolo em introduzi-lo aqui é mostrar que as aflições foram designadas por Deus para produzir alguns efeitos felizes na vida de seu povo, e que eles devem, portanto, suportá-los pacientemente. Nos versículos anteriores, ele os direciona para o exemplo do Salvador. Neste versículo e no seguinte, para o mesmo objeto, ele direciona sua atenção para o projeto de provações, mostrando que elas são necessárias para o nosso bem-estar e que são, de fato, uma prova do cuidado paterno de Deus.

 

6. porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho.

Açoita. Refere-se a fustigar com um açoite, que era um modo cruel c doloroso de flagelação comum entre os judeus (cf. Mt 10.17; 23.34). Esta também é uma citação de Provérbios 3. Significa que é uma regra universal que Deus envie provações àqueles a quem ele realmente ama. Evidentemente, isso não significa que ele envie um castigo que não é merecido; ou que ele a envia “para o mero propósito” de infligir dor. Mas isso significa que, com seus castigos, ele mostra que tem um cuidado paterno por nós. Ele não nos trata com negligência e desinteresse, como um pai costuma fazer com seu filho ilegítimo.

O próprio fato de ele nos corrigir mostra que ele tem em relação a nós os sentimentos de um pai e exerce em relação a nós um cuidado paterno. Se ele não o fizesse, ele nos deixaria continuar sem atenção e nos deixaria seguir um curso de pecado que nos envolveria em ruínas. Restringir e governar uma criança; corrigi-lo quando ele erra, mostra que há uma solicitude dos pais para ele e que ele não é um pária. E como existe na vida de todo filho de Deus algo que merece correção, acontece que é universalmente verdade que “a quem o Senhor ama, ele castiga”.

E açoita todo filho a quem recebe – a quem recebe ou reconhece como seu filho. Isso não é citado literalmente do hebraico, mas da Septuaginta. O hebraico é: “como pai, filho em quem se deleita”. O sentido geral da passagem é mantido, como é frequentemente o caso nas citações do Antigo Testamento. O significado é o mesmo que na parte anterior do versículo, de que todo aquele que se torna filho de Deus é tratado por ele com aquele cuidado vigilante que mostra que ele sustenta em relação a ele a relação paterna.

 

7. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem opai não corrija?

Filhos. Uma vez que todos são imperfeitos e precisam dc disciplina e instrução, todos os verdadeiros filhos de Deus são castigados num momento ou noutro, de uma maneira ou de outra.

 

8. Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos.

Bastardos. A palavra é encontrada somente aqui no NT, mas é usada em outra passagem na literatura grega cm referência àqueles que nasciam de escravas ou concubinas. Poderia incluir uma referência implícita a Agar e Ismael (Cn 16), a concubina de Abraão e seu filho ilegítimo.

 

9. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?

Submissão. Respeitara Deus equivale a submeter-se à sua vontade e lei, e aqueles que prontamente recebem o castigo do Senhor terão uma vida mais rica e mais abundante (cf. Sl 119.165).

Pai espiritual. Provavelmente a melhor tradução seja "Pai de nosso espírito", em contraste com "pais segundo a carne" (literalmente "pais de nossa carne").

 

10. Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.

- para aproveitamento. Os pais humanos imperfeitos aplicam uma disciplina imperfeita, mas Deus é perfeito e, consequentemente, sua disciplina é perfeita e sempre busca o bem espiritual de seus filhos.

11. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.

Gozo…tristeza – A objeção de que a punição é dolorosa é aqui antecipada e respondida. Parece apenas para aqueles que estão sendo castigados, cujos julgamentos são confundidos pela dor presente. Seu fruto final compensa amplamente qualquer dor temporária. O objetivo real dos pais em correção não é que eles sintam prazer na dor das crianças. Os desejos satisfeitos, nosso Pai sabe, seriam muitas vezes nossas reais maldições.

Fruto pacífico de justiça – a justiça (na prática, brotando da fé) é o fruto produzido pela correção (Filipenses 1.11). “Pacífico” (compare com Isaías 32.17): em contraste com a provação do conflito pela qual ele foi vencido. “Fruto de justiça para ser desfrutado em paz após o conflito” (Tholuck). Como a coroa de oliveira, o emblema da paz, assim como a vitória, era colocada na cabeça do vencedor nos jogos.

Exercitados por ela – como atletas exercitados em treinamento para a competição. Castigo é o exercício para dar experiência e tornar o combatente espiritual irresistivelmente vitorioso (Romanos 5.3). [Jamieson; Fausset; Brown]

 

12. Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados,

Exercitados. A mesma palavra usada em 5.14 é traduzida por "exercitadas" (cf. 1Tm 4.7).

Fruto de justiça. Essa é a mesma expressão que aparece em Tg 3.18.

 

13. e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado.

O autor retoma a metáfora da corrida que começou nos vs. 1-3 (cf. Pv 4.25-27) e incorpora uma linguagem extraída de Is 35.3 para descrever a condição do indivíduo disciplinado como um corredor cansado cujos braços caem e os joelhos vacilam. Quando estiver passando por provações na vida, o cristão não deve permitir que as circunstâncias levem vantagem sobre ele. Pelo contrário, ele deve suportar e recuperar as forças para continuar a corrida.

 

INTRODUÇÃO

 

Por sermos ainda pecadores e imperfeitos, entendemos que a disciplina é uma necessidade também para nossos dias. Cristo nos ensinou e ordenou a sua prática (Mt 18.15-20). Uma igreja que não exerce a disciplina aos membros faltosos, destrói a si mesma e perverte o ensino do Evangelho de nosso Senhor Jesus. Uma igreja que não pratica a disciplina certa, bíblica, constante, cuidadosa, atenciosa, respeitosa, firme e afetuosa, não deve observar a Ceia do Senhor. A disciplina deve ser feita com amor, compaixão, sem vingança, ódio ou retaliação (Gl 6.1).

Vale lembrar que disciplina é um ato de compaixão, purificação e amor de nosso Pai (Pv 13.24; Hb 12.4-8). “A disciplina eclesiástica, em grande parte, ocorre de maneira informal na medida em que cristãos falam a verdade em amor entre si e apontam uns aos outros para a graça do evangelho. Entretanto, no mundo caído, há momentos em que a disciplina informal não é suficiente; quando aqueles que pertencem à igreja se recusam a se arrepender e prosseguem nas veredas do pecado. É para tais ocasiões que Jesus proveu instruções para a disciplina eclesiástica: “Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano”. (Mt 18.15-17)

 

PALAVRA-CHAVE: Disciplina

 

Depois da pregação da Palavra, a administração fiel da disciplina é uma das características da igreja verdadeira.

 

A produção de um plano de aula como subsídio é trabalhoso e desgastante. Considere citar a fonte ao reproduzir o texto. Considere também ser generoso com este ministério!

 

I. A NECESSIDADE DA DISCIPLINA BÍBLICA

 

1. Deus é santo. No episódio narrado em Lucas 5.8, a pesca extraordinária foi claramente um milagre, surpreendendo a todos os pescadores de Cafarnaum (v. 9). Pedro imediatamente percebeu que estava na presença daquele que era santo e que estava exercendo o seu poder divino, e foi tomado de vergonha pelo seu próprio pecado (Êx 20.19; 33.20; Jz 13.22; Jó 42.5-6). Esse mesmo temor diante da santidade de Deus levou Isaías a reconhecer que era um homem de lábios impuros (Is 6.5). Se os lábios estão impuros, também o coração o está. A visão da santidade de Deus fez o profeta lembrar-se de maneira muito intensa da sua própria indignidade, que é merecedora de condenação. Jó (Jó 42.6) e Pedro (Lc 5.8) tiveram a mesma experiência a respeito de si mesmos, quando foram confrontados com a presença do Senhor (Ez 1.28 2.27; Ap 1.17).

 

2. A Igreja é santa. A santidade, em essência, define a nova natureza e conduta do cristão em contraste com o seu estilo de vida anterior à salvação. A razão para praticarem um estilo santo de vida é que os cristãos estão associados com o Deus santo e devem tratar a ele e sua Palavra com respeito e reverência. Portanto, nós o glorificamos da melhor maneira quando somos semelhantes a ele (1Pe 1.16-17; Mt 5.48; Ef 5.1; cf. Lv 11.44-45; 18.30; 19.2; 20.7; 21.6-8). A complacência, a cumplicidade com o pecado pode corromper todo o corpo. Ao disciplinar um membro, a igreja deve fundamentar seus argumentos nas Sagradas Escrituras, não na tradição nem no sentimentalismo. E ao disciplinar deve também cuidar, tratar e curar a pessoa ou pessoas envolvidas.

 

3. Quando a igreja não disciplina. Depois da pregação da Palavra, a administração fiel da disciplina é uma das características da igreja verdadeira; mas esta característica está desaparecendo em nossos dias. Os sermões não atacam os pecados sociais e o materialismo. E os pecados morais raramente são confrontados. O resultado dessa atitude é uma gradual infiltração do mundanismo na igreja. Muitas igrejas pensam que uma estrita aceitação da disciplina na igreja é subversiva ao seu crescimento. Para uma época que não vê nada menos que sucesso em números, a disciplina se torna uma desvantagem. Exceto nos casos de pecados horríveis, a disciplina na igreja tem sido amplamente abandonada por muitos. Aquele que ordena a disciplina na igreja é o mesmo que estabelece o padrão a ser seguido no exercício da mesma. Esse padrão consiste primeiramente em amor paternal (Hb 12.4-13). É certo que o mundo vê a disciplina como expressão de ira e hostilidade, mas as Escrituras mostram que a disciplina de Deus é um exercício do seu amor por seus filhos. Amor e disciplina possuem conexão vital (Ap 3.19). Além do mais, disciplina envolve relacionamento familiar (Hb 12.7-9), e quando os cristãos recebem disciplina divina, o Pai celestial está apenas tratando-os como seus filhos. Deus não disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegítimos (v. 8). O padrão de disciplina divina revela também maravilhosos benefícios. A disciplina que vem do Senhor "é para o nosso bem (v. 10)." Ainda que seja inicialmente doloroso receber disciplina, a mesma produz paz e retidão (v. 11). O v. 13 ensina que o propósito de Deus em disciplinar não é o de incapacitar permanentemente o pecador, mas antes de restaurá-lo à saúde espiritual.

 

II. O PROPÓSITO DA DISCIPLINA BÍBLICA

 

1- Manter a honra de Cristo. A igreja deve disciplinar procurando a glória e a honra do nome de Cristo. Não disciplinar membros que cometem pecados escandalosos desonra o nome do Senhor. “Desde o tempo dos reformadores, para distinguir entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, teólogos têm descrito três “marcas” da igreja: a pregação adequada da Palavra de Deus, a administração apropriada dos sacramentos e a administração apropriada da disciplina eclesiástica. Embora não seja controverso pensar que uma igreja verdadeira ensinaria a Palavra de Deus e obedeceria o mandamento de Cristo para observar os sacramentos, muitos cristãos duvidariam que a disciplina eclesiástica é necessária para se ter uma verdadeira igreja. Na realidade, contudo, a ideia da disciplina na igreja é um paralelo essencial às primeiras duas marcas. Afinal, a Bíblia não nos diz que não é suficiente que a Palavra seja ensinada e pregada apropriadamente, mas que ela também deve ser obedecida e praticada (Rm 2.13; Tg 1.22)? E como a igreja pode administrar os sacramentos apropriadamente sem determinar a quem eles se aplicam? A disciplina eclesiástica é o mecanismo que o Senhor decretou para designar e edificar a sua igreja, a família de Deus. A igreja não é apenas uma organização — é a personificação do propósito e do plano de Deus para redimir pecadores e reconciliá-los consigo mesmo. O mesmo crente em Jesus Cristo que é justificadoatravés da fé também é adotado através da fé. Nosso grande Deus triuno não se satisfaz apenas com o fato de seu povo ser declarado não culpado diante do seu trono de julgamento (Rm 5.1).

Ele também torna cada pecador redimido seu filho, parte da família de Deus (João 1.12). Quando vemos a igreja como uma família, começamos então a ver o propósito e a bênção da disciplina eclesiástica. Assim como pais e mães que carinhosamente amam os seus filhos devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los, pastores e presbíteros que amam o Senhor e o povo do Senhor devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los.”

 

2. Frear o comportamento pecaminoso. Embora estas coisas possam fazer parte de nossa experiência de igreja, o Novo Testamento deixa claro que a igreja é fundamentalmente um povo, uma congregação caracterizada por seu compromisso com Cristo e uns com os outros. Portanto, quando a Bíblia fala de disciplina na igreja, isto envolve o cuidado espiritual das pessoas.

 

É o processo pelo qual os membros de uma igreja se protegem mutuamente do engano do pecado e reafirmam a verdade do evangelho. Sem disciplina não há possibilidade de restauração. Mais cedo ou mais tarde os pecados virão à luz, e quando a liderança da igreja tem conhecimento e não toma posição, ela coloca a igreja sob a opressão do diabo. A disciplina procura gerar quebrantamento, arrependimento e o desafio da pessoa andar com Cristo corretamente (Hb 12.11- 13).

 

3. Não tolerar a prática do pecado. A igreja em Corinto não era apenas uma igreja dividida, mas também desonrada. Havia pecado no meio de sua congregação, e, infelizmente, todos sabiam disso. No entanto, a igreja demorou a tomar uma atitude. Nenhuma igreja é perfeita, mas a imperfeição humana jamais deve servir de pretexto para o pecado. Os cristãos são "chamados para ser santos" (1Co 1.2), e isso significa uma vida de santidade para a glória de Deus. “Mas tenho contra ti que “toleras” Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria” (Ap 2.20).

 

Tolerar significa aceitar com indulgência, ou seja, ser indulgente, admitir, deixar passar algo, permitir ou consentir tacitamente ou suportar. Um dos grandes perigos para aqueles que vivem um cristianismo autêntico e bíblico é se conformar e tolerar erros e pecados de membros e ministros.  Creio também que tolerância a erros doutrinários e ministeriais são tão nocivos a Igreja do Senhor que igualmente merecem repreensão e uma severa atitude por parte da liderança.

 

III. AS FORMAS DE DISCIPLINA BÍBLICA

 

1. A disciplina como modo de correção. É necessário dizer que não ficará impune pelo Senhor todo aquele que for conivente e tolerante a tais práticas.  E tudo isso acaba sendo motivo de escândalo e descrédito da Igreja perante o mundo. A palavra de Deus mesmo nos adverte como agir em casos desse tipo. Foi Jesus mesmo que nos advertiu claramente quanto aos escândalos e atitude da Igreja do Senhor em tais casos:

 

E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos. Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe (Lc 17.1-3);

 

E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua fornicação; e não se arrependeu. Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras. (Ap 2.21-22).

 

“Se a disciplina eclesiástica é uma marca de uma igreja legítima, e se isso é uma extensão da disciplina amorosa de Deus para com seus filhos, por que ela não é praticada em mais igrejas? Por que ela é tão subestimada? A resposta para tais perguntas é frequentemente encontrada na maneira como a disciplina eclesiástica é (mal) praticada. Assim como os pais devem cuidar de aplicar fielmente e biblicamente  disciplina a seus filhos, os líderes da igreja devem usar a sua autoridade com coerência e amor.

 

O Antigo Testamento está cheio de advertências sobre os perigos do favoritismo (como Jacó com José e seus irmãos), e a falha em aplicar a disciplina (como Eli e seus filhos). O Senhor de fato disciplina aqueles a quem ele ama (Hb 12.6), e a igreja também deve fazê-lo. Mas nunca podemos nos esquecer que a disciplina eclesiástica é um exercício de amor. Isso significa que a disciplina na igreja não é algo que deve ser buscado apenas após uma situação não parecer mais ter jeito. Disciplina não é a “gota d’água”, onde o julgamento é pronunciado. Disciplina eclesiástica bíblica é uma cultura de responsabilidade, crescimento, perdão e graça que deve permear as nossas igrejas. Cada membro de igreja tem a responsabilidade de ajudar os outros em suas lutas contra o pecado — não através de julgamento e críticas, mas, ao invés disso, com gentileza e visando à restauração, sabendo que ele mesmo também está sujeito à tentação (Gl 6.1).

 

Mateus 18 não descreve uma espécie de litígio alternativo; é uma cartilha sobre como abordamos amorosamente uns aos outros, pacientemente esgotando os passos menores (por exemplo, ir até a pessoa) antes de passar para os passos maiores (por exemplo, levar à igreja). Os líderes da igreja devem sempre se lembrar que a autoridade que eles possuem quanto à disciplina não vem deles mesmos, mas é a autoridade de pastoreio de Cristo. Esta é a igreja de Cristo (Ef 1.22-23; Cl 1.18), e é ele quem a está edificando para torná-la sem mácula (Ef 5.27).

 

Os líderes, portanto, devem fazer todo esforço para evitar agir de maneira dominadora e tirânica simplesmente para resolver rapidamente os problemas (1Pe 5.3), ou demonstrando parcialidade em disciplinar alguns enquanto ignora outros (Tg 2.1). Os membros devem saber que o processo de disciplina não é um método secreto de punição, mas é a maneira de Deus restaurar pecadores, curar relacionamentos e honrar a sua Palavra.

Os líderes não devem temer que a disciplina na igreja seja vista à luz do dia, ao passo que, ao mesmo tempo, devem empregar todo esforço para proteger a reputação dos membros de desnecessária notoriedade e potenciais fofocas. O fim almejado não é simplesmente resolução, mas o fortalecimento de crentes individuais e de todo o corpo de Cristo.”

 

2. A disciplina como forma de restauração. “a disciplina eclesiástica é algo que requer oração, reflexão e coerência, porque possui propósitos importantes na vida da igreja. Há três propósitos principais para a disciplina na igreja. Primeiro, a disciplina na igreja existe para recuperar o pecador de volta à igreja, e em última análise, ao Senhor. A disciplina eclesiástica que é praticada em amor é uma poderosa maneira de confrontar um pecador com seu pecado e mostrar que a igreja o ama, não desistirá dele e deseja vê-lo restaurado à plena comunhão. Em um sentido muito real, a disciplina pode ser a atuação do evangelho diante dos nossos olhos. Devemos reconhecer o nosso pecado, nos arrepender e pedir perdão, o qual é livre e plenamente concedido.

 

Segundo, a disciplina é necessária para manter a pureza da igreja e seu testemunho diante de um mundo vigilante. Isso não significa que colocamos uma máscara hipócrita de perfeccionismo, mas admitimos diante do mundo que a Palavra de Deus é o padrão para as nossas vidas e que somos verdadeiros cristãos — não perfeitos, mas perdoados.

 

Por último e mais importante, a disciplina na igreja é feita para a glória de Deus. Cristãos são exposições vivas da glória de Deus, e nós mostramos muito mais a sua glória quando lutamos para refletir seu amor e seu santo caráter (Ef 3.10). Que maneira melhor de mostrar que um Deus santo é um Deus amoroso do que através da disciplina? Conforme buscamos a restauração daqueles que tropeçam, em espírito de amorosa humildade, colocamos em exposição uma honorável conduta que apontará para aquele que é a fonte de toda a restauração no universo (1Pe 2.12).”

 

3. A disciplina como modo de exclusão.

 

O último recurso da disciplina é o da exclusão, na qual o ofensor é privado de todos os benefícios da comunhão. Nesse caso, o ofensor é tido como gentio (a quem não era permitido entrar nos átrios sagrados do templo do Senhor) e publicano (que eram considerados traidores e apóstatas: Lc 19.2-10). Com estes não há mais comunhão cristã, pois deliberadamente recusam os princípios da vida cristã (1 Co 5.11). Se o seu pecado é heresia, ou seja, o desvio doutrinário das verdades fundamentais ensinadas nas Escrituras, eles não devem nem mesmo ser recebidos em casa (2 Jo 10-11). É claro que cada um desses passos envolve dor, tempo, amor e transparência. Nenhum deles é agradável e eles só prosseguem diante de dureza de coração do ofensor, ou seja, a recusa ao arrependimento. Há porém o conforto de saber que a presença e o poder de Jesus são reais mesmo no contexto desse processo (Mt 18.19-20).

Assim, a disciplina eclesiástica "não é uma atividade a ser realizada facilmente, mas algo a ser conduzido na presença do Senhor..

 

CONCLUSÃO

 

Laney adverte para o fato de que "a disciplina é como um medicamento muito forte: pode trazer a cura ou causar maior dano."

 

Nenhum profissional médico, porém, se recusa a aplicar um medicamento que pode curar o seu paciente apenas porque o mesmo é forte. Também, nenhum doente faz opção pela morte ou pela continuidade da doença se a vida e a cura podem estar tão próximas. Uma séria reflexão bíblica sobre a disciplina eclesiástica evidencia dois princípios básicos. Primeiro, que a disciplina na igreja não é uma opção, mas sim uma ordenança e, consequentemente, uma bênção divina (Hb 12.5-7). Segundo, que a disciplina requer profundo amor por parte da igreja que a aplica e semelhante humildade e quebrantamento por parte daquele que é disciplinado (2 Co 2.5-11).

 

Amem

 

A Disciplina na Igreja

 

A Disciplina na Igreja

TEXTO ÁUREO

E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido. (Hb 12.5)

Entenda o Texto Áureo

Aqui o escritor lembra e expõe Pv 3.11-12. As provações e os sofrimentos na vida cristã vêm de Deus, que os usa para instruir e disciplinar os cristãos com essas experiências. Esse procedimento é evidência do amor de Deus por seus filhos (cf. 2Co 12.7-10).

 

VERDADE PRÁTICA

 

A disciplina cristã é uma doutrina bíblica necessária, pois permite ao crente refletir o caráter de Cristo.

Entenda a Verdade Prática

Por sermos ainda pecadores e imperfeitos, entendemos que a disciplina é uma necessidade também para nossos dias. Cristo nos ensinou e ordenou a sua prática (Mt 18.15-20).

 

LEITURA BÍBLICA = Hebreus 12.5-13

 

5. E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido;

Esta exortação é encontrada em Provérbios 3: 11-12. O objetivo do apóstolo em introduzi-lo aqui é mostrar que as aflições foram designadas por Deus para produzir alguns efeitos felizes na vida de seu povo, e que eles devem, portanto, suportá-los pacientemente. Nos versículos anteriores, ele os direciona para o exemplo do Salvador. Neste versículo e no seguinte, para o mesmo objeto, ele direciona sua atenção para o projeto de provações, mostrando que elas são necessárias para o nosso bem-estar e que são, de fato, uma prova do cuidado paterno de Deus.

 

6. porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho.

Açoita. Refere-se a fustigar com um açoite, que era um modo cruel c doloroso de flagelação comum entre os judeus (cf. Mt 10.17; 23.34). Esta também é uma citação de Provérbios 3. Significa que é uma regra universal que Deus envie provações àqueles a quem ele realmente ama. Evidentemente, isso não significa que ele envie um castigo que não é merecido; ou que ele a envia “para o mero propósito” de infligir dor. Mas isso significa que, com seus castigos, ele mostra que tem um cuidado paterno por nós. Ele não nos trata com negligência e desinteresse, como um pai costuma fazer com seu filho ilegítimo.

O próprio fato de ele nos corrigir mostra que ele tem em relação a nós os sentimentos de um pai e exerce em relação a nós um cuidado paterno. Se ele não o fizesse, ele nos deixaria continuar sem atenção e nos deixaria seguir um curso de pecado que nos envolveria em ruínas. Restringir e governar uma criança; corrigi-lo quando ele erra, mostra que há uma solicitude dos pais para ele e que ele não é um pária. E como existe na vida de todo filho de Deus algo que merece correção, acontece que é universalmente verdade que “a quem o Senhor ama, ele castiga”.

E açoita todo filho a quem recebe – a quem recebe ou reconhece como seu filho. Isso não é citado literalmente do hebraico, mas da Septuaginta. O hebraico é: “como pai, filho em quem se deleita”. O sentido geral da passagem é mantido, como é frequentemente o caso nas citações do Antigo Testamento. O significado é o mesmo que na parte anterior do versículo, de que todo aquele que se torna filho de Deus é tratado por ele com aquele cuidado vigilante que mostra que ele sustenta em relação a ele a relação paterna.

 

7. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem opai não corrija?

Filhos. Uma vez que todos são imperfeitos e precisam dc disciplina e instrução, todos os verdadeiros filhos de Deus são castigados num momento ou noutro, de uma maneira ou de outra.

 

8. Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos.

Bastardos. A palavra é encontrada somente aqui no NT, mas é usada em outra passagem na literatura grega cm referência àqueles que nasciam de escravas ou concubinas. Poderia incluir uma referência implícita a Agar e Ismael (Cn 16), a concubina de Abraão e seu filho ilegítimo.

 

9. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?

Submissão. Respeitara Deus equivale a submeter-se à sua vontade e lei, e aqueles que prontamente recebem o castigo do Senhor terão uma vida mais rica e mais abundante (cf. Sl 119.165).

Pai espiritual. Provavelmente a melhor tradução seja "Pai de nosso espírito", em contraste com "pais segundo a carne" (literalmente "pais de nossa carne").

 

10. Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.

- para aproveitamento. Os pais humanos imperfeitos aplicam uma disciplina imperfeita, mas Deus é perfeito e, consequentemente, sua disciplina é perfeita e sempre busca o bem espiritual de seus filhos.

11. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.

Gozo…tristeza – A objeção de que a punição é dolorosa é aqui antecipada e respondida. Parece apenas para aqueles que estão sendo castigados, cujos julgamentos são confundidos pela dor presente. Seu fruto final compensa amplamente qualquer dor temporária. O objetivo real dos pais em correção não é que eles sintam prazer na dor das crianças. Os desejos satisfeitos, nosso Pai sabe, seriam muitas vezes nossas reais maldições.

Fruto pacífico de justiça – a justiça (na prática, brotando da fé) é o fruto produzido pela correção (Filipenses 1.11). “Pacífico” (compare com Isaías 32.17): em contraste com a provação do conflito pela qual ele foi vencido. “Fruto de justiça para ser desfrutado em paz após o conflito” (Tholuck). Como a coroa de oliveira, o emblema da paz, assim como a vitória, era colocada na cabeça do vencedor nos jogos.

Exercitados por ela – como atletas exercitados em treinamento para a competição. Castigo é o exercício para dar experiência e tornar o combatente espiritual irresistivelmente vitorioso (Romanos 5.3). [Jamieson; Fausset; Brown]

 

12. Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados,

Exercitados. A mesma palavra usada em 5.14 é traduzida por "exercitadas" (cf. 1Tm 4.7).

Fruto de justiça. Essa é a mesma expressão que aparece em Tg 3.18.

 

13. e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado.

O autor retoma a metáfora da corrida que começou nos vs. 1-3 (cf. Pv 4.25-27) e incorpora uma linguagem extraída de Is 35.3 para descrever a condição do indivíduo disciplinado como um corredor cansado cujos braços caem e os joelhos vacilam. Quando estiver passando por provações na vida, o cristão não deve permitir que as circunstâncias levem vantagem sobre ele. Pelo contrário, ele deve suportar e recuperar as forças para continuar a corrida.

 

INTRODUÇÃO

 

Por sermos ainda pecadores e imperfeitos, entendemos que a disciplina é uma necessidade também para nossos dias. Cristo nos ensinou e ordenou a sua prática (Mt 18.15-20). Uma igreja que não exerce a disciplina aos membros faltosos, destrói a si mesma e perverte o ensino do Evangelho de nosso Senhor Jesus. Uma igreja que não pratica a disciplina certa, bíblica, constante, cuidadosa, atenciosa, respeitosa, firme e afetuosa, não deve observar a Ceia do Senhor. A disciplina deve ser feita com amor, compaixão, sem vingança, ódio ou retaliação (Gl 6.1).

Vale lembrar que disciplina é um ato de compaixão, purificação e amor de nosso Pai (Pv 13.24; Hb 12.4-8). “A disciplina eclesiástica, em grande parte, ocorre de maneira informal na medida em que cristãos falam a verdade em amor entre si e apontam uns aos outros para a graça do evangelho. Entretanto, no mundo caído, há momentos em que a disciplina informal não é suficiente; quando aqueles que pertencem à igreja se recusam a se arrepender e prosseguem nas veredas do pecado. É para tais ocasiões que Jesus proveu instruções para a disciplina eclesiástica: “Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano”. (Mt 18.15-17)

 

PALAVRA-CHAVE: Disciplina

 

Depois da pregação da Palavra, a administração fiel da disciplina é uma das características da igreja verdadeira.

 

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I. A NECESSIDADE DA DISCIPLINA BÍBLICA

 

1. Deus é santo. No episódio narrado em Lucas 5.8, a pesca extraordinária foi claramente um milagre, surpreendendo a todos os pescadores de Cafarnaum (v. 9). Pedro imediatamente percebeu que estava na presença daquele que era santo e que estava exercendo o seu poder divino, e foi tomado de vergonha pelo seu próprio pecado (Êx 20.19; 33.20; Jz 13.22; Jó 42.5-6). Esse mesmo temor diante da santidade de Deus levou Isaías a reconhecer que era um homem de lábios impuros (Is 6.5). Se os lábios estão impuros, também o coração o está. A visão da santidade de Deus fez o profeta lembrar-se de maneira muito intensa da sua própria indignidade, que é merecedora de condenação. Jó (Jó 42.6) e Pedro (Lc 5.8) tiveram a mesma experiência a respeito de si mesmos, quando foram confrontados com a presença do Senhor (Ez 1.28 2.27; Ap 1.17).

 

2. A Igreja é santa. A santidade, em essência, define a nova natureza e conduta do cristão em contraste com o seu estilo de vida anterior à salvação. A razão para praticarem um estilo santo de vida é que os cristãos estão associados com o Deus santo e devem tratar a ele e sua Palavra com respeito e reverência. Portanto, nós o glorificamos da melhor maneira quando somos semelhantes a ele (1Pe 1.16-17; Mt 5.48; Ef 5.1; cf. Lv 11.44-45; 18.30; 19.2; 20.7; 21.6-8). A complacência, a cumplicidade com o pecado pode corromper todo o corpo. Ao disciplinar um membro, a igreja deve fundamentar seus argumentos nas Sagradas Escrituras, não na tradição nem no sentimentalismo. E ao disciplinar deve também cuidar, tratar e curar a pessoa ou pessoas envolvidas.

 

3. Quando a igreja não disciplina. Depois da pregação da Palavra, a administração fiel da disciplina é uma das características da igreja verdadeira; mas esta característica está desaparecendo em nossos dias. Os sermões não atacam os pecados sociais e o materialismo. E os pecados morais raramente são confrontados. O resultado dessa atitude é uma gradual infiltração do mundanismo na igreja. Muitas igrejas pensam que uma estrita aceitação da disciplina na igreja é subversiva ao seu crescimento. Para uma época que não vê nada menos que sucesso em números, a disciplina se torna uma desvantagem. Exceto nos casos de pecados horríveis, a disciplina na igreja tem sido amplamente abandonada por muitos. Aquele que ordena a disciplina na igreja é o mesmo que estabelece o padrão a ser seguido no exercício da mesma. Esse padrão consiste primeiramente em amor paternal (Hb 12.4-13). É certo que o mundo vê a disciplina como expressão de ira e hostilidade, mas as Escrituras mostram que a disciplina de Deus é um exercício do seu amor por seus filhos. Amor e disciplina possuem conexão vital (Ap 3.19). Além do mais, disciplina envolve relacionamento familiar (Hb 12.7-9), e quando os cristãos recebem disciplina divina, o Pai celestial está apenas tratando-os como seus filhos. Deus não disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegítimos (v. 8). O padrão de disciplina divina revela também maravilhosos benefícios. A disciplina que vem do Senhor "é para o nosso bem (v. 10)." Ainda que seja inicialmente doloroso receber disciplina, a mesma produz paz e retidão (v. 11). O v. 13 ensina que o propósito de Deus em disciplinar não é o de incapacitar permanentemente o pecador, mas antes de restaurá-lo à saúde espiritual.

 

II. O PROPÓSITO DA DISCIPLINA BÍBLICA

 

1- Manter a honra de Cristo. A igreja deve disciplinar procurando a glória e a honra do nome de Cristo. Não disciplinar membros que cometem pecados escandalosos desonra o nome do Senhor. “Desde o tempo dos reformadores, para distinguir entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, teólogos têm descrito três “marcas” da igreja: a pregação adequada da Palavra de Deus, a administração apropriada dos sacramentos e a administração apropriada da disciplina eclesiástica. Embora não seja controverso pensar que uma igreja verdadeira ensinaria a Palavra de Deus e obedeceria o mandamento de Cristo para observar os sacramentos, muitos cristãos duvidariam que a disciplina eclesiástica é necessária para se ter uma verdadeira igreja. Na realidade, contudo, a ideia da disciplina na igreja é um paralelo essencial às primeiras duas marcas. Afinal, a Bíblia não nos diz que não é suficiente que a Palavra seja ensinada e pregada apropriadamente, mas que ela também deve ser obedecida e praticada (Rm 2.13; Tg 1.22)? E como a igreja pode administrar os sacramentos apropriadamente sem determinar a quem eles se aplicam? A disciplina eclesiástica é o mecanismo que o Senhor decretou para designar e edificar a sua igreja, a família de Deus. A igreja não é apenas uma organização — é a personificação do propósito e do plano de Deus para redimir pecadores e reconciliá-los consigo mesmo. O mesmo crente em Jesus Cristo que é justificadoatravés da fé também é adotado através da fé. Nosso grande Deus triuno não se satisfaz apenas com o fato de seu povo ser declarado não culpado diante do seu trono de julgamento (Rm 5.1).

Ele também torna cada pecador redimido seu filho, parte da família de Deus (João 1.12). Quando vemos a igreja como uma família, começamos então a ver o propósito e a bênção da disciplina eclesiástica. Assim como pais e mães que carinhosamente amam os seus filhos devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los, pastores e presbíteros que amam o Senhor e o povo do Senhor devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los.”

 

2. Frear o comportamento pecaminoso. Embora estas coisas possam fazer parte de nossa experiência de igreja, o Novo Testamento deixa claro que a igreja é fundamentalmente um povo, uma congregação caracterizada por seu compromisso com Cristo e uns com os outros. Portanto, quando a Bíblia fala de disciplina na igreja, isto envolve o cuidado espiritual das pessoas.

 

É o processo pelo qual os membros de uma igreja se protegem mutuamente do engano do pecado e reafirmam a verdade do evangelho. Sem disciplina não há possibilidade de restauração. Mais cedo ou mais tarde os pecados virão à luz, e quando a liderança da igreja tem conhecimento e não toma posição, ela coloca a igreja sob a opressão do diabo. A disciplina procura gerar quebrantamento, arrependimento e o desafio da pessoa andar com Cristo corretamente (Hb 12.11- 13).

 

3. Não tolerar a prática do pecado. A igreja em Corinto não era apenas uma igreja dividida, mas também desonrada. Havia pecado no meio de sua congregação, e, infelizmente, todos sabiam disso. No entanto, a igreja demorou a tomar uma atitude. Nenhuma igreja é perfeita, mas a imperfeição humana jamais deve servir de pretexto para o pecado. Os cristãos são "chamados para ser santos" (1Co 1.2), e isso significa uma vida de santidade para a glória de Deus. “Mas tenho contra ti que “toleras” Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria” (Ap 2.20).

 

Tolerar significa aceitar com indulgência, ou seja, ser indulgente, admitir, deixar passar algo, permitir ou consentir tacitamente ou suportar. Um dos grandes perigos para aqueles que vivem um cristianismo autêntico e bíblico é se conformar e tolerar erros e pecados de membros e ministros.  Creio também que tolerância a erros doutrinários e ministeriais são tão nocivos a Igreja do Senhor que igualmente merecem repreensão e uma severa atitude por parte da liderança.

 

III. AS FORMAS DE DISCIPLINA BÍBLICA

 

1. A disciplina como modo de correção. É necessário dizer que não ficará impune pelo Senhor todo aquele que for conivente e tolerante a tais práticas.  E tudo isso acaba sendo motivo de escândalo e descrédito da Igreja perante o mundo. A palavra de Deus mesmo nos adverte como agir em casos desse tipo. Foi Jesus mesmo que nos advertiu claramente quanto aos escândalos e atitude da Igreja do Senhor em tais casos:

 

E disse aos discípulos: É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos. Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe (Lc 17.1-3);

 

E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua fornicação; e não se arrependeu. Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras. (Ap 2.21-22).

 

“Se a disciplina eclesiástica é uma marca de uma igreja legítima, e se isso é uma extensão da disciplina amorosa de Deus para com seus filhos, por que ela não é praticada em mais igrejas? Por que ela é tão subestimada? A resposta para tais perguntas é frequentemente encontrada na maneira como a disciplina eclesiástica é (mal) praticada. Assim como os pais devem cuidar de aplicar fielmente e biblicamente  disciplina a seus filhos, os líderes da igreja devem usar a sua autoridade com coerência e amor.

 

O Antigo Testamento está cheio de advertências sobre os perigos do favoritismo (como Jacó com José e seus irmãos), e a falha em aplicar a disciplina (como Eli e seus filhos). O Senhor de fato disciplina aqueles a quem ele ama (Hb 12.6), e a igreja também deve fazê-lo. Mas nunca podemos nos esquecer que a disciplina eclesiástica é um exercício de amor. Isso significa que a disciplina na igreja não é algo que deve ser buscado apenas após uma situação não parecer mais ter jeito. Disciplina não é a “gota d’água”, onde o julgamento é pronunciado. Disciplina eclesiástica bíblica é uma cultura de responsabilidade, crescimento, perdão e graça que deve permear as nossas igrejas. Cada membro de igreja tem a responsabilidade de ajudar os outros em suas lutas contra o pecado — não através de julgamento e críticas, mas, ao invés disso, com gentileza e visando à restauração, sabendo que ele mesmo também está sujeito à tentação (Gl 6.1).

 

Mateus 18 não descreve uma espécie de litígio alternativo; é uma cartilha sobre como abordamos amorosamente uns aos outros, pacientemente esgotando os passos menores (por exemplo, ir até a pessoa) antes de passar para os passos maiores (por exemplo, levar à igreja). Os líderes da igreja devem sempre se lembrar que a autoridade que eles possuem quanto à disciplina não vem deles mesmos, mas é a autoridade de pastoreio de Cristo. Esta é a igreja de Cristo (Ef 1.22-23; Cl 1.18), e é ele quem a está edificando para torná-la sem mácula (Ef 5.27).

 

Os líderes, portanto, devem fazer todo esforço para evitar agir de maneira dominadora e tirânica simplesmente para resolver rapidamente os problemas (1Pe 5.3), ou demonstrando parcialidade em disciplinar alguns enquanto ignora outros (Tg 2.1). Os membros devem saber que o processo de disciplina não é um método secreto de punição, mas é a maneira de Deus restaurar pecadores, curar relacionamentos e honrar a sua Palavra.

Os líderes não devem temer que a disciplina na igreja seja vista à luz do dia, ao passo que, ao mesmo tempo, devem empregar todo esforço para proteger a reputação dos membros de desnecessária notoriedade e potenciais fofocas. O fim almejado não é simplesmente resolução, mas o fortalecimento de crentes individuais e de todo o corpo de Cristo.”

 

2. A disciplina como forma de restauração. “a disciplina eclesiástica é algo que requer oração, reflexão e coerência, porque possui propósitos importantes na vida da igreja. Há três propósitos principais para a disciplina na igreja. Primeiro, a disciplina na igreja existe para recuperar o pecador de volta à igreja, e em última análise, ao Senhor. A disciplina eclesiástica que é praticada em amor é uma poderosa maneira de confrontar um pecador com seu pecado e mostrar que a igreja o ama, não desistirá dele e deseja vê-lo restaurado à plena comunhão. Em um sentido muito real, a disciplina pode ser a atuação do evangelho diante dos nossos olhos. Devemos reconhecer o nosso pecado, nos arrepender e pedir perdão, o qual é livre e plenamente concedido.

 

Segundo, a disciplina é necessária para manter a pureza da igreja e seu testemunho diante de um mundo vigilante. Isso não significa que colocamos uma máscara hipócrita de perfeccionismo, mas admitimos diante do mundo que a Palavra de Deus é o padrão para as nossas vidas e que somos verdadeiros cristãos — não perfeitos, mas perdoados.

 

Por último e mais importante, a disciplina na igreja é feita para a glória de Deus. Cristãos são exposições vivas da glória de Deus, e nós mostramos muito mais a sua glória quando lutamos para refletir seu amor e seu santo caráter (Ef 3.10). Que maneira melhor de mostrar que um Deus santo é um Deus amoroso do que através da disciplina? Conforme buscamos a restauração daqueles que tropeçam, em espírito de amorosa humildade, colocamos em exposição uma honorável conduta que apontará para aquele que é a fonte de toda a restauração no universo (1Pe 2.12).”

 

3. A disciplina como modo de exclusão.

 

O último recurso da disciplina é o da exclusão, na qual o ofensor é privado de todos os benefícios da comunhão. Nesse caso, o ofensor é tido como gentio (a quem não era permitido entrar nos átrios sagrados do templo do Senhor) e publicano (que eram considerados traidores e apóstatas: Lc 19.2-10). Com estes não há mais comunhão cristã, pois deliberadamente recusam os princípios da vida cristã (1 Co 5.11). Se o seu pecado é heresia, ou seja, o desvio doutrinário das verdades fundamentais ensinadas nas Escrituras, eles não devem nem mesmo ser recebidos em casa (2 Jo 10-11). É claro que cada um desses passos envolve dor, tempo, amor e transparência. Nenhum deles é agradável e eles só prosseguem diante de dureza de coração do ofensor, ou seja, a recusa ao arrependimento. Há porém o conforto de saber que a presença e o poder de Jesus são reais mesmo no contexto desse processo (Mt 18.19-20).

Assim, a disciplina eclesiástica "não é uma atividade a ser realizada facilmente, mas algo a ser conduzido na presença do Senhor..

 

CONCLUSÃO

 

Laney adverte para o fato de que "a disciplina é como um medicamento muito forte: pode trazer a cura ou causar maior dano."

 

Nenhum profissional médico, porém, se recusa a aplicar um medicamento que pode curar o seu paciente apenas porque o mesmo é forte. Também, nenhum doente faz opção pela morte ou pela continuidade da doença se a vida e a cura podem estar tão próximas. Uma séria reflexão bíblica sobre a disciplina eclesiástica evidencia dois princípios básicos. Primeiro, que a disciplina na igreja não é uma opção, mas sim uma ordenança e, consequentemente, uma bênção divina (Hb 12.5-7). Segundo, que a disciplina requer profundo amor por parte da igreja que a aplica e semelhante humildade e quebrantamento por parte daquele que é disciplinado (2 Co 2.5-11).

 

Amem