AS
LIMITAÇÕES DOS DISCÍPULOS
Texto Áureo = “E roguei aos teus discípulos que o
expulsassem, e não puderam.” (Lc 9.40)
Verdade Prática =
Ao longo de seu ministério, Jesus foi seguido por homens simples, imperfeitos e
limitados, mas jamais os descartou por isso.
LEITURA
BIBLICA = Lucas 9.38-42,46-50
AS
LIMITAÇÕES DOS DISCÍPULOS
Tropa de Elite
Por
ocasião da morte de Osama Bin Laden em 2011, o mais temido terrorista do mundo
islâmico, a revista Época trouxe urna extensa matéria sobre o assunto. Foi dado
amplo destaque ao comando militar norte-americano denominado de SEALs como
sendo o responsável por essa proeza. De acordo com o jornal inglês The
Telegraph, a eliminação do terrorista número “foi uma intervenção cirúrgica,
levada a cabo por um pequeno grupo treinado para evitar efeitos colaterais”.
O
grupo, denominado de SEAL TEAM 6 da Marinha americana, é formado a partir de
uma rigorosa seleção e é considerado como o mais bem treinado do mundo. Os seus
componentes buscam a perfeição em seus treinamentos a fim de evitar cometerem
erros quando são enviados em alguma missão.
De
acordo com a revista Epoca:
Os
SEALs são super-soldados, treinados por dois anos além do normal para
fuzileiros navais e mantidos pelo governo com um orçamento de US$ 1 bilhão por
ano. No treinamento, disparam 3 mil tiros por semana, mais do que os colegas de
Forças Armadas disparam em um ano inteiro. O nome é uma corruptela dos
atributos especiais da tropa: São capazes de realizar operações no mar (“sea”,
em inglês), no ar (“air”) e na terra (“land”). Estima-se que existam hoje 2,5
mil soldados SEAL em atividade.
O
SEAL Team 6 é um grupo dentro dos SEALs escolhido pela Marinha para realizar as
missões mais difíceis, normalmente em parceria com a CIA, a agência de
inteligência do governo americano. Oficialmente, o grupo sequer existe, Um dos
antigos membros do Team 6, o atirador de elite Howard Wasdin, escreveu um livro
sobre seus tempos de combatente, a ser lançado na semana que vem.
A
primeira frase do livro explica em poucas palavras a importância da tropa:
“Quando a Marinha americana precisa de seus melhores homens, envia os SEALs.
Quando os SEALs precisam de seus melhores homens, enviam o SEAL Team 6”,
escreveu Wasdin.
HELL
WEEKnos últimos cinco dias de treinamento, conhecidos como “Semana Infernal”,
os postulantes a SEAL passam por uma simulação de guerra, com exercícios
físicos extenuantes, tiros e explosões. O treinamento dessa equipe é semelhante
à formação das principais tropas de elite no mundo. O exemplo brasileiro mais
próximo é o do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio, o
Bope, consagrado no filme Tropa de Elite.
A
diferença é que o regime imposto aos soldados SEAL é muito mais longo e
extenuante, Segundo o site da revista americana Newsweek, os últimos cinco dias
de treinamento são conhecidos como “Hell Week” (“Semana Infernal”, em tradução
livre), com simulação de um ambiente de guerra.
Os
soldados são submetidos a rigorosos testes físicos em meio a tiros e explosões.
Assim como acontece no treinamento do Bope, no Rio, quem não resiste à provação
pode tocar uma sineta e desistir. Ainda segundo a Newsweek, dois em cada três soldados
“pedem para sair”.
Quando
o presidente Barak Obama anunciou a morte de Bin Laden, a mídia imediatamente
posicionou suas lentes rumo a esse super comando. Seus soldados foram
ovacionados como heróis nacionais, tornaram-se motivo de orgulho da nação e
admiração no mundo inteiro. Que exército não gostaria de ter em suas fileiras
homens desse nível?
A Lógica do Reino de Deus
É
bastante conhecida a filosofia que afirma que somente os mais aptos sobrevivem;
que o mercado é seletivo, escolhendo os melhores e excluindo os piores. Essa é
a lógica! Como seres racionais estamos habituados com os princípios governados
pela lógica formal. Todavia, no reino de Deus as coisas nem sempre são assim.
Muitas vezes essa “lógica” do reino
se apresenta totalmente invertida. Por exemplo, quem não
está disposto a perder também não ganha (Fp 3.7-8); quem não dá também não
recebe (At 20.35); quem não perdoa também não é perdoado (Mt 6.13); quem não se
humilha também não é exaltado (Lc 14.1); quem busca primeiramente as coisas
secundárias não receberá as primárias (Mt 6.33); quem quiser ser o maior então
deverá se tornar pequeno (Lc 22.26).
Isso
pode ser visto com toda clareza no processo de “seleção” feito por Deus. Quem
Ele escolhe?
“Porque os judeus pedem sinal, e os
gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo
para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são
chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e
sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque vede, irmãos, a vossa
vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos,
nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste
mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo
para confundir as fortes.
E Deus escolheu as coisas vis deste
mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que
nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em
Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria,
glorie-se no Senhor (1 Co 1.22-31).
Aqui
aparece uma lógica que parece não ter lógica alguma! Paulo fala que Deus
escolheu não os melhores, mas escolheu as coisas loucas, fracas, humildes,
desprezíveis e que não são! Deus foi até ao lixão da humanidade e dali escolheu
as suas escórias. (Por outro lado, a sabedoria de Deus transforma em tolo
aquele que parecia sábio (vv.19-22); transforma em fraco quem achava que era
forte (vv. 22-25) e deu realeza a quem não possuía nenhuma vv. 26-29).
O
expositor bíblico William Barclay destacou esse fato. Tanto os gregos, conhecidos
pela sua cultura, como os judeus piedosos, tinham em conta os cristãos como
néscios. Paulo faz uma citação livre do Profeta Isaias (Is 29.14 e 33.18) para
mostrar que a sabedoria humana havia fracassado. isso porque o mundo com toda a
sua sabedoria não havia chegado ao conhecimento de Deus e continua buscando e
tentando a1 cancã-la. Essa busca, sem sucesso, foi permitida por Deus para
mostrar sua própria incapacidade e preparar o caminho para Jesus, a verdadeira
sabedoria.
A mensagem pregada pelos primitivos
cristãos (At 2.14-39; 3.12-26; 4.8-12 e 10.36-43), que
provocou escândalo entre os judeus e tornou-se loucura para os gregos, pode ser
resumida como segue:
1.
Consistia no anúncio da chegada do reino de Deus;
2.
Era fundamentada no anúncio da morte e ressurreição de Jesus;
3.
Demonstrava que o que eles pregavam era cumprimento das profecias;
4.
Era de natureza escatológica, isto é, mostra que Jesus voltará outra vez;
5.
Chamava as pessoas ao arrependimento, mostrando que dessa forma era recebido o
dom do Espírito Santo.
Barclay
observa que os judeus se escandalizaram com essa mensagem por várias razões,
Primeiramente os judeus não podiam aceitar que alguém que fora morto em uma
cruz, instrumento de maldição para eles (Dt 21.23), fosse escolhido por Deus
para ser o Messias. Ao contrário de tudo isso, os judeus estavam na expectativa
de um Messias político, guerreiro que enfrentaria o Império Romano com a força
das armas.
Os gregos, por outro lado, não viam
qualquer sentido na mensagem dos apóstolos por outras razões,
Os gregos achavam uma falta de bom senso a ideia de um Deus que se fez homem,
tornando-se vulnerável como os mortais, sentindo fome e dores. Deus, na
concepção deles, era incapaz de possuir os sentimentos tão comuns aos mortais.
Era o que eles denominavam de aphateia. Para um dos seus principais filósofos,
Plutarco, era um insulto a Deus envolvê-lo em assuntos humanos, Portanto, a
ideia de Deus se fazendo homem, conhecida na teologia cristã como encarnação,
era totalmente repulsiva para os gregos. Não é de admirar que quando o apóstolo
Paulo pregou Jesus e a ressurreição em Atenas, os gregos o ridiculizaram, Eles
achavam que a “ressurreição”, que em grego é uma palavra feminina, seria a
esposa de Jesus (At 17.32),
Homens, não Deuses!
Na
cultura contemporânea traços dessa mentalidade judaica e grega ainda persistem
e contaminaram setores do cristianismo institucional. Mas não são esses os
princípios que apreendemos do cristianismo primitivo. Na escolha dos discípulos
de Jesus não vemos o mérito sendo usado como critério de seleção. Pelo
contrário, vemos a graça de Deus lidando com as imperfeições. Esses homens até
mesmo falharam quando esperávamos que acertassem.
Por
serem discípulos de Jesus, começamos a imaginar que esses homens eram os melhores
em suas áreas. Gostaríamos que os discípulos de Jesus fossem uma espécie de
SEAL TEAM 6. E mais, por terem aprendido aos pés do maior Mestre da história da
humanidade, pensamos que os mesmos chegaram à perfeição.
Mas
não é isso que descobrimos quando lemos os Evangelhos. As narrativas bíblicas
em vez de apresentarem heróis, mostram homens rodeados de imperfeições e
limitações. Aprenderam sim com o Mestre e nunca mais foram as mesmas pessoas,
mas não deixaram de ser humanos.
Às
vezes se tem a ideia de que a fé cristã para ser genuinamente bíblica deve
anular todas as fragilidades humanas, eliminar todos as suas limitações. Mas
não é assim que a coisa acontece, nem tampouco é isso o que ensinam os
Evangelhos. Deus trabalha sim com homens, mas homens imperfeitos, limitados e
que constantemente estão dependendo dEle. Esse princípio é valido para todas as
áreas da vida cristã. Estão presente na vida do leigo e também do clérigo. São
esses princípios que nos tornam humanos ou que revelam a nossa humanidade e
consequentemente a nossa carência de Deus.
Decepcionados ao Pé do Monte
Deus
é soberano, age, intervém, mas atua respeitando nossas limitações. E o mesmo
princípio que encontramos na vida dos discípulos de Jesus.
“E aconteceu, no dia seguinte, que,
descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão. E eis que um
homem da multidão clamou, dizendo, Mestre, peço-te que olhes para meu filho,
porque é o único que eu tenho. Eis que um espírito o toma, e de repente clama,
e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei
aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam. E Jesus, respondendo,
disse: O geração incrédula e perversa! Até quando estarei ainda convosco e vos
sofrerei? Traze-me cá o teu filho. E, quando vinha chegando, o demônio o
derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o
menino, e o entregou a seu pai” (Lc 9.37-43).
A
meu ver esse é um dos textos mais contundentes sobre as limitações dos
discípulos de Jesus. É um texto que mostra claramente que os discípulos não
eram homens perfeitos nem ilimitados. Eles foram derrotados diante de um
possesso de demônio. Um desesperado pai exclama: “Roguei a teus discípulos que
o expulsassem, e não puderam!” Não é que eles não tentaram! Tentaram, mas não
puderam. E por que não puderam? As razões podem ser muitas. Jesus os censurou
denominando-os de “geração incrédula” (Lc 9.41).
Eles
não apenas faziam parte de uma cultura incrédula, como também assimilaram seus
valores. Foram contaminados pela cultura ao seu redor! Essa “contaminação
cultural” sempre foi um perigo iminente para o povo de Deus.
Na
passagem paralela do Evangelho de Marcos encontramos o texto: “Quando eles se
aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas
discutiam com eles” (Mc 9,14). Em vez de expelir o demônio, entraram em
divagações teológicas com os escribas. Perderam o foco! Quando se perde o foco,
os debates teológicos se tornam mais importantes do que a missão de libertar
vidas.
Por
outro lado, os discípulos aprenderam a viver à sombra do seu Mestre.
Acostumaram apenas a assistir Jesus expulsar os demônios e agora que tinha
chegado o momento deles mesmos fazerem isso, não fizeram. Jesus também os
alertou sobre a necessidade da oração em casos como esse (Mc 9. 29).
Em outras palavras, não basta
recorrer ao uso de técnicas e fórmulas na solução de coisas espirituais.
Antes, é preciso cultivar um relacionamento com Deus, Os discípulos parecem ter
esquecido que o ministério de libertação dependia do Espírito Santo, O
Evangelho de Mateus associa o Espírito Santo com a expulsão de demônios durante
o ministério público de Jesus: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de
Deus, certamente é chegado o reino de Deu sobre vós” (Mt 12.28). Esse mesmo
texto na teologia carismática de Lucas recebe a seguinte redação: “Se, porém,
eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus
sobre vós” (Lc 11.20).
Não
creio que os discípulos tivessem que passar por esse vexame. Como vimos em
outro lugar desse livro, o Senhor deu-lhes autoridade sobre as forças do mal
(Lc 10.17-19; Cl 2.14,15; Ef 1.20; 2.6).
Essa
autoridade, portanto, não acontece fora do senhorio de Jesus nem tampouco vem
de forma automática. É fruto de um relacionamento com Deus e do poder do
Espírito Santo. Se os princípios do evangelho do reino são seguidos, então não
tem como dar errado.
Lembro
que no final dos anos 80 e início dos anos 90 eu e mais dois companheiros
estávamos fazendo um trabalho evangelístico em um dos bairros da nossa cidade.
Quando chegamos à determinada residência, vimos um aglomerado de pessoas
naquela casa. Após pedirmos permissão, adentramos no recinto e encontramos uma
jovem deitada sobre uma cama, aparentemente sem nenhum sinal de vida.
Foi
nos informado pelo dono da casa que ela era a rainha de um culto
afro-brasileiro e que havia tomado dezessete comprimidos de uma vez na intenção
de cometer suicídio. Após recebermos autorização para fazermos uma oração por
aquela jovem, desloquei-me em sua direção e impondo minhas mãos sobre ela
percebi que forças malignas eram responsáveis por aquela situação.
Ao
confrontar as forças do mal no poderoso nome de Jesus, vi aquela moça
levantar-se com grande fúria e ficar frente a frente comigo. Falando em voz
cavernosa e masculina disse que ia matá-la. Eu retruquei que isso não iria
acontecer mais porque eles iriam ter que sair no nome de Jesus. Dito isso a
jovem caiu no chão para logo em seguida se levantar, Confessou o Senhor Jesus
como Senhor e Salvador e continua servindo a Ele com a sua família até hoje.
Primazia e Exclusivismo
“Levantou-se
entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, sabendo o
que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si e lhes
disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a
mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de
todos, esse é que é grande” (Lc 9.46-48).
Bispo de Alexandria
O
escritor egípcio Michael Youssef ilustrou como esse desejo por primazia se
torna uma poderosa ferramenta nas mãos do Diabo. Youssef conta que no século V,
um famoso homem santo costumava passar muito tempo orando no deserto, tal como
fez Jesus, Assim como Cristo, esse homem santo sofria tentações.
Tão
santo era ele, que o Diabo enviou um pelotão inteiro de demônios com o intuito
específico de fazê-lo tropeçar e pecar — em suma, fazer o que fosse necessário
para que o homem de Deus caísse. Eles utilizaram todos os métodos usuais. Pensamentos
lascivos para arrastar seu espírito para baixo. Fadiga, para impedi-lo de orar.
Fome, para fazê-lo abandonar seus jejuns. Mas não importava o que eles
tentassem, ou quão arduamente trabalhassem, seus esforços sempre eram inúteis,
No fim, Satanás estava tão irritado com a incompetência de seus lacaios, que os
afastou do projeto e assumiu ele mesmo a operação.
“O
motivo do fracasso”, ensinava ele a seus seguidores, “é que vocês usaram
métodos muitos toscos com aquele homem. Ele não sucumbirá a um ataque direto.
Vocês precisam ser sutis e atacá-lo de surpresa. Agora, observem o mestre em
ação!”
O
Diabo, então, aproximou-se do homem santo de Deus e, muito suavemente,
sussurrou estas palavras em seus ouvidos: “Seu irmão foi ordenado Bispo de
Alexandria”,
Imediatamente,
o maxilar do homem de Deus se enrijeceu. Seus olhos se apertaram. Suas narinas
se dilataram, O Bispo de Alexandria! Seu irmão! Que ultraje!
Continuando,
diz Yosseff, “Bem, isso é urna lenda, não urna história. Mas ela mostra um
ponto importante. Observe que os demônios que tentaram o homem santo não
chegaram a lugar nenhum usando os grandes pecados morais. Ele podia vê-los
chegando a um quilômetro de distância, e conseguia defender-se, Então, o que
fez Satanás? Usou um pecado socialmente aceitável.
Ele
até mesmo o adequou à fraqueza particular daquele homem. Ele sabia que o homem
estava vigilante contra a tentação da carne, e que era inútil tentar emboscá-lo
daquela maneira. Assim, entrou de forma sutil usando a inveja e orgulho
espiritual, e o fez pensar: ‘Ei, eu sou o santo da família. Por que o meu irmão
está sendo ordenado Bispo de Alexandria e não eu?”
Querer
ser o primeiro, o maior, o chefe ainda continua sendo cima poderosa tentação
para muitos cristãos. Quando acontece no meio da liderança então, os seus
efeitos são muito mais catastróficos. Hoje estamos vivenciando uma verdadeira
fragmentação da igreja evangélica no Brasil e a causa principal é a disputa
pela liderança. Ninguém quer mais ser índio, todos querem virar cacique.
Um Alerta contra o Consumismo
“A
seguir, dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso, eu vos advirto:
não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo
vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que o
alimento, e o corpo, mais do que as vestes” (Lc 12.22,23).
Na
passagem paralela de Mateus os discípulos são advertidos pelo Senhor a não
assumirem o comportamento dos gentios. Os gentios aqui representam uma
mentalidade mundana e consumista.
“Por
isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de
comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis
de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a
vestimenta? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam
em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta.
Não
tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os
seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário,
porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não
trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória,
se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que
hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós,
homens de pequena fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou
que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios
procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas
coisas; Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas
coisas vos serão acrescentadas, Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã,
porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt
6.25.34).
A
preocupação demasiada com as coisas desta vida demonstrou a imaturidade dos
discípulos que ainda não tinham conseguido adquirir uma mentalidade diferente
daquela da cultura à sua volta. Jesus deixou bem claro que os “gentios procuram
todas essas coisas” (Mt 6,32). Que coisas?
1. Os gentios valorizavam mais o
corpo do que a alma, mais a estética do que a ética (Mt 6.25). Os
gentios, especialmente os gregos, não apenas cuidavam do corpo mas o cultuavam.
Havia um verdadeiro culto somático na Grécia antiga. Evidentemente que esse
cuidado tinha reflexos na escala de valores onde o estético se sobrepunha ao
ético. Não é errado cuidar do corpo nem tampouco zelar pela sua aparência, mas
isso não constitui essência da existência humana. Hoje há uma preocupação
demasiada com a imagem, com o que é visto e tocado. Todavia não há esse mesmo
interesse naquilo que parece abstrato, como os valores da alma.
2. Os gentios entesouravam na
terra, mas não possuíam reservas no céu (Mt 6.26). Jesus
incentivou o investimento em valores espirituais e não a simples aquisição de
coisas materiais. Mais importante do que construir grandes impérios terrenos é
a aquisição de tesouros eternos.
3. Os gentios buscavam as coisas
grandes esquecendo-se das pequenas (Mt 6.28-30). A
busca pelas coisas grandes acaba por ofuscar a forma como se vê as pequenas.
Qual o valor de um passarinho ou uma plantinha? Que lições elas podem nos
ensinar? Deus está preocupado com coisas tão pequenas? A ideia que se tem é que
Deus tem coisas mais importante para fazer. Todavia, nos ensinos de Cristo, as
pequenas coisas são revestidas de um grande valor diante de Deus. Ele se
preocupa com elas. Nós, como criaturas feitas pela sua própria mão, somos muito
mais importantes.
4. Os gentios priorizavam a
obrigação, mas esqueciam a devoção (Mt 6.33).
A
lógica prioriza a obrigação, o trabalho, a empresa, os negócios. Não há nada
errado em se trabalhar, cumprir horários e buscar o resultado na produção. Isso
faz parte da vida. Todavia, na vida cristã, a obrigação e a devoção são como os
dois lados da mesma moeda. Na verdade, à luz do Novo Testamento, não existe um
dualismo que separa o trabalho da adoração. O nosso culto deve ser racional e,
portanto, envolve todas as dimensões do nosso ser. Todavia, quando o reino é
sacrificado por conta de uma inversão de valores, colocando-se Deus em segundo
plano, então alguma coisa está errada, O reino deve vir em primeiro lugar.
5. Os gentios preocupavam-se muito
com o futuro, mas esqueciam o presente (Mt 6.35). Como
será o dia de amanhã? Ninguém sabe, senão Deus! Então porque se preocupar tanto
com o amanhã? Os gentios não apenas se preocupam com o dia de amanhã ou fazem
projetos para isso, mas querem controlá-lo. Somente Deus conhece o futuro e tem
o poder de controlá-lo.
Tudo o que escrevi tem a ver com
uma cultura de consumo. O consumismo parece ser uma
prática humana bem antiga, pois Jesus já advertia seus discípulos para não
andarem preocupados com o dia de amanhã. O cuidado com a aparência e o estômago
tem sido uma das principais preocupações da sociedade pós-moderna. Zygmunt
Bauman observou acertadamente que “em uma sociedade de consumidores é muito
difícil ser sujeito (gente) sem primeiro virar mercadoria”. E verdade! O desejo
pelo bem-estar e a busca desenfreada pelo prazer é uma das principais marcas
dessa geração.
Elaboração pelo:-
Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja
Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
BIBLIOGRAFIA
Lucas
– O Evangelho de Jesus, O Homem Perfeito, Pr José Gonçalves- CPAD