28 de maio de 2020

O Mistério da Unidade Revelado ESTUDO 02


O Mistério da Unidade Revelado

Texto Áureo

4. pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo,
5. o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas,
Efésios 3.4,5

VERDADE PRÁTICA

Deus revelou o mistério que esteve oculto, desde todos os séculos, aos profetas e aos apóstolos do Novo Testamento.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = Efésios 3.1-13

HINOS SUGERIDOS: 53, 467, 614 da Harpa Cristã

A palavra “mistério” aparece seis vezes na epístola (carta) aos Efésios (Efésios 1.9; 3.3; 3.4; 3.9; 5.32; 6.19). Precisamos ter em mente que as palavras em português e em grego não significam a mesma coisa (vamos ver isso no tópico 1). O mistério de que Paulo fala é o propósito de Deus no sentido de “tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Efésios 1.10), e incluir pessoas de todas as nações na promessa da vida eterna e da salvação (Romanos 16.25,26; 2 Timóteo 1.1). Dentre os judeus e as nações gentias (isto é, os não judeus) Deus criou em Cristo, um novo povo para ele mesmo (Efésios 1.4-6; 2.16; 4.4,16; Mateus 16.18; Colossenses 1.24-28; 1 Pedro 2.9,10).

1-      O Mistério Oculto no Antigo Testamento

1.      O conceito Bíblico de mistério.

Para uma melhor compreensão vejamos também o conceito populare etimológico da palavra mistério.
Mistério no conceito popular: Culto secreto em que só era permitida a participação dos iniciados, acervo de conhecimentos necessários para dominar uma técnica, arte ou ciência, verdade religiosa revelada, representação de algo bom ou ruim, algo enigmático, inexplicável, obscuro.
Mistério no conceito teológico:Verdade de Deus revelada, informações que não podem ser alcançadas apenas com as faculdades metais, mas apenas por revelações do Espírito de Deus.


Mistério no conceito grego: “Mistério” vem do Grego MÝEIN, “fechar”, especialmente os olhos. Quando uma pessoa era iniciada em algum ritual que exigisse segredo, ela devia se comportar como se estivesse com os olhos fechados quando lhe foram apresentadas aquelas informações. Seu significado atual gira em torno de “desconhecido, intrigante, não esclarecido”.  De MÝEIN se fez a palavra MÝSTES, “iniciado nos mistérios”, de onde derivou MYSTÉRION, “doutrina secreta, que não se pode desvendar, culto secreto”.  “Místico” deriva daí e tem o sentido de “obscuro, secreto, possuidor de propriedades mágicas, ligado a ritos esotéricos”
.
Entre os povos pagãos o conceito da palavra “mistério” causava grande espanto e admiração naqueles que a ouvissem, para eles tratava-se de algo tão difícil de entender que evitavam comentar ou tentar desvendar. 

Observações importantes: Nas palavras de Paulo a palavra “mistério” tem o sentido de “segredo que já foi revelado” (1 Timóteo 2.4). 

Mistério no conceito Bíblico.

Mistério no Antigo Testamento, aparece no livro de Daniel (Daniel 2.18,19,27,28,29,30,47; 4.9) falando dos segredos de Deus em relação a vida de Nabucodonosor que foram revelados a Daniel a fim de que ele e seus companheiros não perecessem.

Mistério no Novo Testamento refere-se a uma verdade divina, antes oculta, mas agora revelada de forma sobrenatural aos homens, e que só pode ser totalmente entendida pelos indivíduos salvos através da iluminação do Espírito Santo.

2.      O desconhecimento do mistério.

Mistério (que é explicado no versículo 6de Efésios 3),a saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho. (Trata-se dos gentios) Participando junto com os israelitas nas bençãos do Evangelho. Ainda com respeito ao “mistério” aprendemos que, o mistério, não fora revelado a outras gerações de maneira tão clara quanto foi para a geração de Paulo. Os judeus nem ao menos sonharam com semelhante coisa, os profetas nunca o disseram, isto não é referido no Velho Testamento, ou seja, a “igreja” (a união de judeus e gentios em Cristo, por assim dizer) só foi revelada a partir do Novo Testamento.

Paulo explica o mistério: os cristãos gentios encontram-se unidos aoscristãos judeus em um só corpo, a Igreja (Efésios 3.6). 

De uma maneira milagrosa Deus revelou a Paulo o seu plano de uma igreja composta de judeus e gentios convertidos. O apóstolo aludiu a esse mistério brevemente em Efésios1.9-14, 22-23 e 2.11-22.
Os judeus tiveram revelações no Velho Testamento sobre o Cristo e as bençãos prometidas aos gentios (não judeus), mas não de maneira tão clara quanto tiveram a partir do Novo Testamento.

3.      O mistério e os profetas da antiga aliança.

Os escritores do AntigoTestamento não apenas conheciam arespeito das bênçãos prometidas aosgentios; eles fizeram menção delas(Gênesis 12.3; 22.18; Isaías 11.10; 49.6; 54.1-3;60.1-3; Malaquias 1.11).

Há muita coisa no Antigo Testamento relacionada com a salvação dos gentios, particularmente em Isaías, mas esse “mistério” de que seriam ligados aos judeus em um só corpo (como “igreja”), era incompreensível para eles antes das revelações do Novo Testamento.Issoindica que os profetas da Antiga Aliança conheciam em parte, masnão tinham a revelação completa.

As Escrituras (do Antigo Testamento) continham a “revelação”, mas de forma abstrusa (difícil de compreender), no AT havia “tipos e sombras” do mistério revelado no NT, mas a verdade em si não era conhecida naquele tempo.

2-      O Mistério Revelado no Novo Testamento
3-       
1.      Revelado aos apóstolos e profetas.

Ao ensinar, pregar, orientar e confortar os irmãos da “igreja primitiva de um modo geral” Paulo deixa claro que as revelações que ele transmitia e a sua autoridade apostólica não foram dadas por homem algum, mas sim por Deus (1 Coríntios 15.1-10; Gálatas 1.1,11,12,16).  Paulo procurava fazer os irmãos compreenderem que a sua chamada, doutrina e comissão lhe foram divinamente confiadas pela revelação de Deus através de Jesus Cristo (Gálatas 1.12). Paulo procurava fazer com que os irmãos da igreja primitiva compreendessem também que o “mistério” ou revelações de Deus foram revelados por Deus para os seus santos (isto é, homens separados por Deus e para Deus para realizarem a missão de revelar e ensinar as revelações ou mistérios de Deus) apóstolos e profetas (Efésios 3.5). 

Como vimos na lição 8, note que nunca se levantou nenhum profeta de Deus contra a mensagem de Cristo, revelada e ensinada pelos seus apóstolos, antes, houve apoio dos profetas de Deus no NT para corroborar a mensagem dos apóstolos sobre Cristo e sua doutrina (para mais detalhes sobre isso leia nosso estudo da lição 8).

2.      O mistério oculto revelado.

O “mistério revelado (Efésios 3.3)” é a Igreja. A revelação começa pela declaração que o Pai idealizou tudo desde sempre (Efésios 1.14; 3.11); prossegue com a execução da obra de Cristo (Efésios 1.7; 2.15); a criação de uma nova humanidade (Efésios 2.1-10); a união de judeus e gentios como família de Deus e corpo de Cristo (Efésios 2.11-22; 3.6); e a comunicação dessas verdades aos santos apóstolos e profetas (Efésios 3.3,5).

John MacArthur observa que Paulo não somente escreveu a respeito do “mistério” que, em Cristo judeus e gentios (não judeus) se tornam um no reino e na família de Deus, mas (Paulo) também explicou com detalhes esta verdade maravilhosa, Paulo percebeu que o conhecimento espiritual deve preceder ( isto é, estar adiante) da aplicação prática. Porque o que não é entendido corretamente não pode ser aplicado corretamente.

Uma pergunta para todos os pregadores, superintendentes, professores de EBDe líderes de ministério em geral é: Você entende corretamente aquilo que você tem aplicado na sua vida? Você procura aprender com detalhes o assunto, ou tema que você vai ensinar?

Se o Youtube for a sua única fonte de informação, cuidado. Saiba que o ensinador (de um modo geral) aprovado por Deus “lê, ora, pesquisa, reflete, lê, ora, pesquisa e reflete”muito, antes de pregar, ensinar e aconselhar.

3.      A magnitude do mistério.

Os judeus por terem algum conhecimento sobre bençãos prometida aos gentios (Gênesis 12.3; 22.18; Isaías 11.10; 49.6; 54.1-3;60.1-3; Malaquias 1.11), acreditavam que os gentios para serem abençoados por Deus, deveriam se tornar prosélitos, ou seja, eles (os judeus) tinham a crença de que Deus só abençoaria os gentios (não judeus) se eles se convertessem a fé judaica, isto é, os judeus entendiam que os gentios só seriam abençoados por Deus se estes assimilassem a Lei dada por intermédio de Moisés. Mas não era esse o plano de Deus.

Ninguém tinha ventilado apossibilidade da formação de um sópovo (sem a necessidade de guardar a lei dada por intermédio de Moisés) sem distinção de pessoas, etniaou classe social; mas em Cristo e porCristo, todos são um e participantesda mesma promessa (Gálatas, 3.28; Efésios 3.6, Colossenses 3.11). Até mesmo alguns líderes da “igreja” primitiva demoraram a entenderesse “mistério” onde todos são aceitosem Cristo (Atos 11.4-17).

4-      O Mistério Pré-Estabelecido por Deus
5-       
1.      As riquezas insondáveis de Cristo.

O mistério agora revelado eanunciado é considerado pelo apóstolocomo “riquezas insondáveis” (ou incompreensíveis) (Efésios 3.8).
A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo
Efésios 3.8

O evangelista Jimmy Swaggart faz o seguinte comentário sobre as riquezas incompreensíveis de Cristo. As riquezas de Cristo vem até nós exclusivamente através da cruz (obra redentora de Cristo), e essas riquezas são inesgotáveis e se alargarão cada vez mais, para sempre.

O Comentário Bíblico Broadmanobserva que Paulo se regozija no imensurável poder de Deus que o capacita a realizar a sua tarefa de pregar aos gentios uma mensagem que ele (Paulo) descreve como riquezas incompreensíveis de Cristo.

O Comentário Bíblico Beacon observa que a palavra “riquezas” não transmite quantidade (apenas) mas “preciosidade”. nos versículos de 8 a 12 de Efésios 3 Paulo explica a natureza destas riquezas.

2.      O eterno propósito de Cristo.

Como vimos anteriormente, o mistério“desde os séculos esteve oculto em
Deus, que tudo criou” (Efésios 3.9). O que significaque, desde o princípio dos tempos,o Criador manteve o mistério encobertopara ser revelado em tempo oportuno(1 Pedro 1.20). O comentário Beacon observa que, a primeira tarefa do apóstolo Paulo foi evangelizar os gentios, mas ao mesmo tempo ele demonstrou a todos, ou seja, esclareceu a toda a humanidade o modo como a verdade revelada satisfaz as necessidades dos homens. 

Tanto o “plano da salvação”, que abrange o “mistério da igreja”, quanto a “revelação desse mistério” sempreestiveram de acordo com o desígnio divino para ser executado porintermédio de Cristo. O eterno propósito relaciona-se, entre outros aspectos, com a providência divina para com a humanidade. Em outras palavras, Deus não deixou a humanidade exposta à própria sorte, mas providenciou um plano de redenção para os pecadores.

Embora os profetas e a nação de Israel do Velho Testamento tivessem várias revelações de Deus sobre o Cristo e a salvação dos gentios, eles não sabiam os detalhes, não sabiam como seria isso de maneira exata. Mas Deus já havia determinado tudo, antes mesmo da fundação do mundo.

3.      O plano divinamente pré-estabelecido.

Existem pregadores que acreditam (e infelizmente ensinam) que Deus pôs em prática um “plano B” quando Adão pecou, mas Deus não tem “plano B”, sempre foi o “plano A” que esteve em vigor. É claro que Deus não determinou a queda do homem, assim como pensava o teólogo francês João Calvino. Deus não determinou a queda do homem e nem o pecado no mundo, mas, pelo fato de Deus estar “fora do tempo”, Deus vê e sabe o que vai acontecer antes que aconteça. Deus está e sempre esteve no controle de tudo, e Deus preparou um plano de salvação para a humanidade caída antes mesmo que ela caísse (lembre-se, Deus não determinou a queda e o pecado do homem, mas, por estar fora do tempo, Deus sempre soube o que aconteceria antes que acontecesse).

Deus é soberano e nada foge do seu controle.Nesse eterno propósito, no tempo previamentedeterminado, o (plano) do mistério da “Igreja” foi executado em Cristo “no qualtemos ousadia e acesso com confiança,pela nossa fé nele” (Efésios 3.12).

Conclusão

O mistério da Igreja (isto é, a obra que Deus realizou por intermédio de Cristo) esteve oculto nasgerações passadas. No tempo estipulado,Deus revelou o seu eterno propósitoaos apóstolos e aos profetas. Judeus egentios estavam inseridos nesse mistérioidealizado por Deus. Tal mistério agorarevelado deve ser anunciado pela própriaigreja conforme os desígnios divinamentepré-estabelecidos desde a eternidade.

Por: Professor José Junior

Referências

Enciclopédia Bíblica Broadman,
Comentário Bíblico Beacon,
Bíblia do Expositor,
Bíblia de Estudo Explicada,
Bíblia de Estudo Pentecostal,
A mensagem de Efésios – John Stott, E-Book Subsídios EBD 20 – A Igreja Eleita,
Bíblia de Estudo Holman,
Bíblia de Estudo MacArthur,
Livro de Apoio do 2º trimestre – Adultos,
Apontamentos teológicos Professor José Junior.

Se este material foi útil pra você, compartilhe.
..de graça recebestes, de graça dai.
Mateus 10.8 b





O Mistério da Unidade Revelado - ESTUDO 01


O Mistério da Unidade Revelado

TEXTO ÁUREO

“O qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas.” (Ef 3.5)


VERDADE PRÁTICA

Deus revelou o mistério que esteve oculto, desde todos os séculos, aos profetas e aos apóstolos do Novo Testamento.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = Efésios 3.1-13

HINOS SUGERIDOS: 53, 467, 614 da Harpa Cristã

INTRODUÇÃO

 Nos três primeiros versículos, Paulo, mais uma vez, se identi­fica como "o prisioneiro de Jesus Cristo" para cumprir a missão de despenseiro da graça de Deus, ao qual foi revelado o mistério da verdadeira unidade espiritual entre judeus e gentios.

"Por esta causa" (v. 1) é uma expressão referente a tudo quanto havia escrito sobre as riquezas das bênçãos de Deus em Cristo (cap. 1) e ao desenvolvimento que deu à questão do propó­sito de Deus em Cristo (cap. 3), quando destaca a nova vida em Cristo, que reúne judeus e gentios num só povo.

"... eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo" (v. 1). Ao identificar-se dessa maneira, Paulo queria mostrar dois lados da mesma situação. No sentido real, ele estava preso em Roma. Por outro lado, essa prisão lhe dava a oportunidade de tornar-se prisioneiro de Cristo, pois ali poderia prestar-lhe um serviço que talvez não fizesse melhor se estivesse fora da prisão de Roma. Então, a expressão "prisioneiro de Jesus Cristo" tem um sentido literal e outro metafórico. Ao invés de lamentar o fato de estar Preso, ele inverte o seu significado e torna sua prisão uma forma de servir melhor ao Senhor. Como prisioneiro, sua epístola teria um efeito muito maior entre os crentes de Éfeso.

"... dispensação da graça de Deus" (v. 2). O significado literal da palavra "dispensação" é administração, portanto a frase fica melhor assim: "... tendes ouvido da administração da graça de Deus a vós". Paulo se identifica aqui como um administrador dos bens espirituais dados aos gentios, por isso mesmo é chamado "apóstolo dos gentios (2 Tm 1.11).

Como administrador ou despenseiro da graça de Deus, não significava que Paulo tivesse poder para salvar ou para dar a graça de Deus aos homens, mas ele agiria como um mordomo para distribuir e apresentar a graça e a salvação de Deus (2 Co 10.1; Gl 5.2,3; Cl 1.23).


Alguns pontos de destaque na revelação desse mistério:

1.      O mistério oculto no Antigo Testamento — vv. 3-5.

"Como me foi este mistério manifestado pela revelação" (v. 3). Paulo faz questão de frisar o fato de que o Evangelho aos gentios lhe fora dado especialmente, para que eles (gentios) fossem incorpora­dos aos privilégios do reino de Deus, tanto quanto os judeus. A fonte do ministério de Paulo aos gentios está na sua experiência com Cristo no caminho de Damasco.

Nessa experiência, Paulo viu Jesus e ouviu sua ordenação para o ministério entre os gentios conforme está em Atos 9.15, que diz: "... este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios e dos reis, e dos filhos de Israel". A visão de Cristo não só o converteu como mudou o rumo da sua vida. De apaixonado e fanático fariseu entre os judeus, tornou-se "o após­tolo dos gentios" (At 9.15,16; Gl 1.15,16).

A revelação inicial desse ministério deu-se ali no caminho de Damasco e, posteriormente, essa visão tornou-se mais ampla. O grande mistério oculto só foi conhecido dos gentios através de Paulo, a quem foi revelado. Ele tornou conhecido a todos os homens o propósito divino para com suas vidas e a maneira particular de Deus revelar-lhes o mistério divino de salvação. No verso 9, as palavras "revelação" e "demons­trar" estão intimamente ligadas com a palavra "mistério".

Esse mistério é revelado em dois ângulos: a revelação de Cristo na sua forma glorificada, e a revelação da união de judeus e gentios, formando um só povo e participando dos mesmos privilégios.

A revelação do mistério do Cristo glorificado e a razão dessa glória são quatro destaques especiais: a) O mistério do Cristo encarnado (1 Tm 3.16); b) O mistério da Igreja como o corpo de Cristo (1 Co 12.27); c) O mistério da presença de Cristo dentro de nós, morando em nós (Cl 1.27); d) O mistério da Igreja como esposa de Cristo (Ef 5.32). Esses mistérios estavam ocultos na eternidade.

2. O mistério revelado no Novo Testamento — vv. 5,6

O grande mistério que Paulo desejava revelar à igreja em Éfeso era a participação plena dos crentes gentios na salvação efetuada na cruz. A posição dos gentios no corpo de Cristo e a sua participação conjunta com os judeus veio de encontro a vários conceitos errados sobre privilégios espirituais. A Igreja é a união de todos os crentes em Cristo, independente de raça, língua ou nação. Ela é a constituição divina formando um só povo, uma só fé, um só Senhor (Ef 4.1-7), todos com os mesmos privilégios. A participação na filiação a Deus é direito comum a todos quantos receberem a Cristo Jesus como Salvador (Jo 1.12).

Esse mistério é apresentado com um sentido amplo, e a partici­pação dos gentios na nova ordem (a Igreja) é de igualdade de posição e privilégios em relação aos judeus cristãos.
A ampliação dessa participação gentios-judeus é compreendida pelo prefixo grego sun, que significa iguais, sócios, participantes, juntos, isto é, no mesmo nível: nem inferior nem superior aos outros. Este prefixo sun equivale ao prefixo "co", em português, quando Paulo afirma que os gentios são co-herdeiros, co-participantes e co-membros do corpo de Cristo, conforme está no versículo 6.

A palavra "co-herdeiros" refere-se à participação dos gentios e os judeus crentes em Cristo na Igreja. A preocupação do apóstolo era desfazer um falso ensino no seio da igreja de Éfeso. Alguns judeus afirmavam que nenhum gentio crente poderia participar da herança ou parte dela prometida a Israel, a não ser que o gentio se submetesse ao cumprimento de alguns ritos e cerimônias estritamente judaicas como vimos na lição anterior em ebd areia branca.

Entretanto, a Paulo foi revelado que a graça de Deus para os gentios não exigia nenhum rito judaico, visto que esses ritos eram especifi­camente para os judeus e dos judeus. Em Cristo, os gentios têm direito a todas as bênçãos divinas com base apenas nos méritos de Cristo Jesus. Eles são participantes das promessas de Cristo e formam um só corpo espiritual com os judeus, cujo resultado único é a Igreja (1 Co 12.13; Ef 2.13).

Os gentios foram feitos "povo de Deus", "geração eleita", "nação santa" e "povo adquirido" junta­mente com os judeus, tudo em Cristo Jesus (1 Pe 2.9).

3. Paulo declara-se ministro dessa revelação — v. 7

As palavras "do qual" no verso 7 referem-se ao Evangelho que Paulo pregava e ensinava. O sentido da palavra "ministro" é bem mais amplo. No original grego, a palavra empregada é diakonos, que dá a ideia de um ofício específico (Fp 1.1; 1 Tm 3.8-12).

Já o verbo diakonein designa aquele que vive e trabalha num determinado servi­ço. Implica mais um serviço dinâmico do que uma posição estática. No caso aqui, a palavra que cabe melhor para designar aquele que serve a Cristo é diakonia (2 Co 3.6; Cl 1.23; 1 Tm 4.6).

O que Paulo queria que todos soubessem em Éfeso era que ele tinha a função de um servo investido da autoridade de Cristo. Como "ministro" dessa revelação, Paulo era apenas o instrumento do Espírito Santo.

As palavras que dão sequência à declaração de Paulo se refe­rem a que ele "foi feito ministro... pelo dom da graça de Deus" (v. 7), e isso mostra a sinceridade e a humildade do apóstolo das gentes. O ministério recebido não lhe foi dado por méritos pesso­ais, "mas segundo o dom", em consequência de, e de acordo com "o dom da graça de Deus". Ainda o final do versículo 7 apresenta: "... que me foi dado segundo a operação do seu poder". Que poder é esse? Que operação é essa? A palavra "operação", no original grego, tem o significado de energia. Aclarando melhor a frase, a teríamos nessa forma: "segundo a força operante do seu poder".
As palavras "força", "energia" e "operação" indicam a fonte dessa operação, que é "o poder de Deus" manifesto de forma concreta na vida do ministro dessa revelação.

4. A revelação do mistério das riquezas insondáveis em Cristo — v. 8

No verso 8, Paulo usa um superlativo para poder dizer mais livremente das verdades reveladas. Ele diz: "A mim, o mínimo [o menor] de todos os santos", sendo que no original esse superlativo aparece ainda mais acentuado: "A mim, que sou o menor dos menores entre todos os santos". Sua afirmação não possui fingimento.

A graça dos mistérios de Cristo era maior do que ele podia, humanamente, compreender. Paulo sabia quão insondável é penetrar nos arcanos divinos, a não ser que Deus os revele, como lhe havia feito. O grande mistério reve­lado alcançava um grau superior, além das possibilidades da mente humana. "As riquezas insondáveis de Cristo" não eram apenas o Evangelho poderoso ou o conhecimento da doutrina de Cristo, ou uma revelação parcial da glória de Cristo expres­sa no Calvário e na sua ressurreição, mas era o próprio Cristo (Mt 13.44).

O privilégio de Paulo era pregar aos gentios a Cristo como Salvador e declará-los incluídos como participan­tes das bênçãos de Cristo (At 9.15, 22.21; 26.17; Rm 11.13; 15.16-21; Gl 2.7-9).

Norman Harrison, escritor norte-americano, comenta assim o versículo 8: "O que sabemos das 'riquezas incompreensíveis de Cristo' são:

a) As riquezas da sua glória essencial: igual ao Pai; criador de todas as coisas; recebedor do culto e da honra devidos à divindade.

b) As riquezas do seu próprio empobrecimento voluntário por amor de nós: através dele, que 'sendo rico, por amor de vós se fez Pobre'; 'para que por sua pobreza enriquecêsseis' (2 Co 8.9); a história da sua humilhação (Fp 2.5-8); a sua disposição para, embora sendo o Criador, tornar-se simples criatura, na encarnação.

c) As riquezas da sua glória moral: manifesto como homem entre os homens; a perfeição do seu caráter pessoal, incomparável aos outros; a sabedoria procedente dos seus lábios: 'Nunca homem algum falou como este'; as maravilhas de suas obras: 'Nunca tal se viu'; a retidão das suas ações: nunca precisou desculpar-se por algum erro de julgamento, de objetivo ou de algum ato — em tudo isso foi um exemplo não ultrapassado, sim, nem aproximado.

d) A riqueza de sua morte: alcançando a finalidade de sua vinda 'para dar a sua vida' — com as qualidades da divindade e de perfeita natureza humana — 'em resgaste de muitos'.

e) As riquezas da sua glória como Mediador, levantado e glorificado, um homem no Céu; a sua intercessão incessante por nós abriu-nos acesso ao Pai; o seu cuidado protetor constante como 'O Grande Pastor das ovelhas'.

f) A riqueza da sua presença entre o seu povo: conosco 'todos os dias'; em nós em poder transformador para reproduzir o seu próprio caráter e semelhança; o poder da vida sem fim.

g) A riqueza da sua volta e do seu reinoEle reclama para os que são seus a coroa da recompensa prometida; o chamado da sua noiva para participar dos direitos do seu reino, a herança dos séculos, de mundos conhecidos e desconhecidos, feitos seus e nossos". (BOYER, O.S. Efésios — O evangelho das regiões celestiais, 1959, pág. 86).

5. A dispensação do mistério — v. 9

"E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério". Nesse versículo, Paulo enfatiza sua missão de apenas "tornar conhecidas" as insondáveis riquezas desse mistério de Cristo. A palavra "demonstrar" tem o sentido de aclarar a todos ou iluminar (Sl 18.28; Ef 1.18; Hb 6.4).

Já a palavra "dispensação" tem o sentido de mordomia. No grego, essa palavra aparece como eco­nomia, ou aquilo que regula a distribuição de alguma coisa, ou a forma de dar a conhecer o mistério.

6. O mistério estava oculto em Deus — v. 9

O mistério revelado é a união de gentio e judeu. Esse mistério foi traçado e planejado no Conselho Divino antes da existência dos séculos, e só agora foi revelado a Paulo. Por que esse fato estava envolto em mistério? No texto está assim: "... que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou". A expressão "desde os séculos esteve oculto" explica-se no original grego como sendo: "desde o começo das idades" (Rm 16.25; 1 Co 2.7; Ef 1.4).

As idades" são longos espaços de tempo marcados por sucessivas etapas da criação. O mistério esteve oculto "em Deus". Assim como todas as coisas foram criadas por Deus, Ele tem o direito de manter em segredo o que lhe convém, e só revelar quando satisfizer seus propósitos. O mistério da salvação foi oculto dos homens por várias dispensações (tempos) e somente revelado no Novo Testamento. Esse mistério foi guardado por Deus para o tempo que Ele designou na sua presciência, e só revelado agora, na presente dispensação.

7.  O mistério revelado à Igreja — v. 10

No verso 10 temos a revelação de que a Igreja é constituída de ambos os povos — judeus e gentios. Ela não foi uma solução acidental nem um remédio de última hora. A Igreja sempre fez parte do plano preestabelecido e elaborado por Deus antes da fundação do mundo (Ef 1.3-5).
A sua constituição é a revelação do mistério oculto em Deus; não a igreja meramente humana, ou política, mas a Igreja que forma o corpo místico de nosso Senhor Jesus Cristo.

8. O mistério revelado aos anjos — v. 10

A revelação desse mistério foi feita não só à Igreja, mas também aos "principados e potestades nos céus".

Que são os "principados e potestades nos céus"? Até ser revela­do à Igreja, o mistério da salvação era desconhecido dos anjos. Foi través dela que eles vieram a conhecer esse mistério. "Principados e Potestades" são categorias especiais de anjos, tanto entre os anjos de Deus como entre os anjos caídos. Assim, tanto os anjos bons como os maus passaram a conhecer a revelação do mistério quando Deus o fez conhecido à Igreja. A expressão "seja conhecida dos principados e potestades" nos dá a ideia de que tanto os anjos de Deus como os anjos caídos foram surpreendidos com a revelação feita inicialmente à Igreja, e não a eles.

9. O mistério foi revelado conforme o propósito preestabelecido por Deus — vv. 11-13

"Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus" (v. 11). A execução desse propósito só poderia ter acontecido por meio de Jesus Cristo. O plano divino tinha a pessoa de Cristo como o seu objetivo central. A expressão "propósito eterno" nos ensina que todas as coisas na criação seguem um propósito preestabelecido. Na sabedoria divina, esse propósito foi elaborado na eternidade e executado na manifestação do Filho de Deus feito carne (Jo 1.14).

Em obediência a esse propósito, a Igreja segue para o seu destino eterno, e cada crente em Cristo, particularmente, como parte da Igreja, tem ousadia (liberdade) em Cristo e acesso (livre entrada) ao reino de Deus. Ninguém pode ter acesso a Deus por outra via, a não ser Jesus (Jo 14.6).

"Portanto, peço-vos que não desfaleçais nas minhas tributa­ções" (v. 13). A igreja em Éfeso sabia que Paulo passava por tribulações e que as enfrentava por amor a Deus e para o bem da sua igreja querida. Em outros textos das Escrituras (At 20.18-35), o apóstolo fala de suas tribulações passadas em Éfeso. À igreja em Corinto, ele lembra as aflições sofridas na Ásia (2 Co 1.8-11).

O apóstolo lembra as suas tribulações e as reputa como glória da igreja em Éfeso, para que os crentes não venham a desfalecer. Sabendo que os crentes estavam enfrentando lutas e tentações a ponto de quase esmorecerem na fé, Paulo os anima, pedindo-lhes que não desfalecessem pelo fato de ele estar preso. A grande lição do apóstolo dos gentios é a de que a igreja tirasse proveito espiritual dos seus sofrimentos e entendesse a glória escondida no mistério dessa prisão. Ele estava preso porque expusera sua vida para pregar-lhes o Evangelho.


Seus sofrimentos não deviam re­presentar um peso na consciência dos efésios, mas lucro e glória para eles por Jesus Cristo. Sua prisão não seria impedimento para o exercício do seu ministério: no interior frio e cinzento do cárcere de Roma, Paulo havia recebido a revelação do grande mistério da salvação para os gentios.

Conclusão

O apóstolo Paulo foi escolhido por Deus para esclarecer e explicar pelo menos duas grandes revelações. A primeira delas é o próprio Evangelho - as boas novas da salvação através da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. A segunda era a verdade da Igreja como o corpo de Cristo. Nas grandes epístolas evangélicas – Romanos, I e II Coríntios e Gálatas – Paulo desenvolve extensamente a primeira revelação. Nas epístolas do presente grupo cronológico, as "Epístolas da Prisão", ele trata em grande parte da segunda dessas revelações – a Igreja como o corpo de Cristo. O capítulo 3 forma o clímax da primeira divisão principal da epístola, que nos dá a nossa posição em Cristo.

Bibliografia E. Cabral