O Mistério
da Unidade Revelado
TEXTO ÁUREO
“O
qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora,
tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas.” (Ef 3.5)
VERDADE
PRÁTICA
Deus
revelou o mistério que esteve oculto, desde todos os séculos, aos profetas e
aos apóstolos do Novo Testamento.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE = Efésios 3.1-13
HINOS
SUGERIDOS: 53, 467, 614 da Harpa Cristã
INTRODUÇÃO
Nos três primeiros versículos, Paulo, mais uma vez, se identifica como
"o prisioneiro de Jesus Cristo" para cumprir a missão de despenseiro
da graça de Deus, ao qual foi revelado o mistério da verdadeira unidade
espiritual entre judeus e gentios.
"Por esta causa" (v. 1) é uma expressão referente a tudo
quanto havia escrito sobre as riquezas das bênçãos de Deus em Cristo (cap. 1) e
ao desenvolvimento que deu à questão do propósito de Deus em Cristo (cap. 3),
quando destaca a nova vida em Cristo, que reúne judeus e gentios num
só povo.
"... eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo" (v. 1). Ao identificar-se dessa maneira, Paulo queria mostrar dois lados da
mesma situação. No sentido real, ele estava preso em Roma. Por outro lado, essa prisão lhe dava a oportunidade
de tornar-se prisioneiro de Cristo, pois ali poderia prestar-lhe um serviço que
talvez não fizesse melhor se estivesse fora da prisão de Roma. Então, a
expressão "prisioneiro de Jesus Cristo" tem um sentido literal e
outro metafórico. Ao invés de lamentar o fato de estar Preso, ele inverte o seu
significado e torna sua prisão uma forma de servir melhor ao Senhor. Como
prisioneiro, sua epístola teria um efeito muito maior entre os crentes de
Éfeso.
"... dispensação da graça de Deus" (v. 2). O significado literal da palavra "dispensação" é
administração, portanto a frase fica melhor assim: "... tendes ouvido da
administração da graça de Deus a vós". Paulo se identifica aqui como um
administrador dos bens espirituais dados aos gentios, por isso mesmo é chamado
"apóstolo dos gentios (2 Tm
1.11).
Como
administrador ou despenseiro da graça de Deus, não significava que Paulo
tivesse poder para salvar ou para dar a graça de Deus aos homens, mas ele
agiria como um mordomo para distribuir e apresentar a graça e a salvação de
Deus (2 Co 10.1; Gl 5.2,3; Cl 1.23).
Alguns
pontos de destaque na revelação desse mistério:
1. O
mistério oculto no Antigo Testamento — vv. 3-5.
"Como me foi este mistério manifestado pela revelação" (v. 3). Paulo faz questão de frisar o fato de que o Evangelho aos gentios lhe
fora dado especialmente, para que eles (gentios) fossem incorporados aos
privilégios do reino de Deus, tanto quanto os judeus. A fonte do ministério de
Paulo aos gentios está na sua experiência com Cristo no caminho de Damasco.
Nessa
experiência, Paulo viu Jesus e ouviu sua ordenação para o ministério entre os
gentios conforme está em Atos 9.15, que diz: "... este é para mim um vaso
escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios e dos reis, e dos filhos de
Israel". A visão de Cristo não só o converteu como mudou o rumo da sua
vida. De apaixonado e fanático fariseu entre os judeus, tornou-se "o apóstolo
dos gentios" (At 9.15,16; Gl
1.15,16).
A
revelação inicial desse ministério deu-se ali no caminho de Damasco e,
posteriormente, essa visão tornou-se mais ampla. O grande mistério oculto só
foi conhecido dos gentios através de Paulo, a quem foi revelado. Ele tornou
conhecido a todos os homens o propósito divino para com suas vidas e a maneira
particular de Deus revelar-lhes o mistério divino de salvação. No verso 9,
as palavras "revelação" e "demonstrar" estão intimamente
ligadas com a palavra "mistério".
Esse
mistério é revelado em dois ângulos: a revelação de Cristo na sua forma
glorificada, e a revelação da união de judeus e gentios, formando um só povo e
participando dos mesmos privilégios.
A
revelação do mistério do Cristo glorificado e a razão dessa glória são quatro
destaques especiais: a) O mistério do Cristo encarnado (1 Tm 3.16); b) O
mistério da Igreja como o corpo de Cristo (1 Co 12.27); c) O mistério da
presença de Cristo dentro de nós, morando em nós (Cl 1.27); d) O mistério da
Igreja como esposa de Cristo (Ef 5.32). Esses mistérios estavam ocultos na
eternidade.
2. O
mistério revelado no Novo Testamento — vv. 5,6
O
grande mistério que Paulo desejava revelar à igreja em Éfeso era a participação
plena dos crentes gentios na salvação efetuada na cruz. A posição dos gentios
no corpo de Cristo e a sua participação conjunta com os judeus veio de encontro
a vários conceitos errados sobre privilégios espirituais. A Igreja é a união de
todos os crentes em Cristo, independente de raça, língua ou nação. Ela é a
constituição divina formando um só povo, uma só fé, um só Senhor (Ef 4.1-7), todos com os mesmos
privilégios. A participação na filiação a Deus é direito comum a todos quantos
receberem a Cristo Jesus como Salvador (Jo
1.12).
Esse
mistério é apresentado com um sentido amplo, e a participação dos gentios na
nova ordem (a Igreja) é de igualdade de posição e privilégios em relação aos
judeus cristãos.
A
ampliação dessa participação gentios-judeus é compreendida pelo prefixo
grego sun, que significa iguais, sócios, participantes,
juntos, isto é, no mesmo nível: nem inferior nem superior aos outros. Este
prefixo sun equivale ao prefixo "co", em português,
quando Paulo afirma que os gentios são co-herdeiros, co-participantes e co-membros do
corpo de Cristo, conforme está no versículo 6.
A
palavra "co-herdeiros" refere-se à participação dos gentios e os
judeus crentes em Cristo na Igreja. A preocupação do apóstolo era desfazer um
falso ensino no seio da igreja de Éfeso. Alguns judeus afirmavam que nenhum
gentio crente poderia participar da herança ou parte dela prometida a Israel, a
não ser que o gentio se submetesse ao cumprimento de alguns ritos e cerimônias
estritamente judaicas como vimos na lição anterior em ebd areia
branca.
Entretanto,
a Paulo foi revelado que a graça de Deus para os gentios não exigia nenhum rito
judaico, visto que esses ritos eram especificamente para os judeus e dos
judeus. Em Cristo, os gentios têm direito a todas as bênçãos divinas com base
apenas nos méritos de Cristo Jesus. Eles são participantes das promessas de
Cristo e formam um só corpo espiritual com os judeus, cujo resultado
único é a Igreja (1 Co 12.13; Ef 2.13).
Os
gentios foram feitos "povo de Deus", "geração eleita",
"nação santa" e "povo adquirido" juntamente com os judeus,
tudo em Cristo Jesus (1 Pe 2.9).
3. Paulo
declara-se ministro dessa revelação — v. 7
As
palavras "do qual" no verso 7 referem-se ao Evangelho que
Paulo pregava e ensinava. O sentido da palavra "ministro" é bem mais
amplo. No original grego, a palavra empregada é diakonos, que
dá a ideia de um ofício específico (Fp
1.1; 1 Tm 3.8-12).
Já
o verbo diakonein designa aquele que vive e trabalha num
determinado serviço. Implica mais um serviço dinâmico do que uma posição
estática. No caso aqui, a palavra que cabe melhor para designar aquele que
serve a Cristo é diakonia (2 Co
3.6; Cl 1.23; 1 Tm 4.6).
O
que Paulo queria que todos soubessem em Éfeso era que ele tinha a função de um
servo investido da autoridade de Cristo. Como "ministro" dessa
revelação, Paulo era apenas o instrumento do Espírito Santo.
As
palavras que dão sequência à declaração de Paulo se referem a que ele
"foi feito ministro... pelo dom da graça de Deus" (v. 7), e isso
mostra a sinceridade e a humildade do apóstolo das gentes. O ministério
recebido não lhe foi dado por méritos pessoais, "mas segundo o dom",
em consequência de, e de acordo com "o dom da graça de Deus". Ainda o
final do versículo 7 apresenta: "... que me foi dado segundo a
operação do seu poder". Que poder é esse? Que operação é essa? A palavra
"operação", no original grego, tem o significado de energia.
Aclarando melhor a frase, a teríamos nessa forma: "segundo a
força operante do seu poder".
As
palavras "força", "energia" e "operação" indicam
a fonte dessa operação, que é "o poder de Deus" manifesto de forma
concreta na vida do ministro dessa revelação.
4. A
revelação do mistério das riquezas insondáveis em Cristo — v.
8
No
verso 8, Paulo usa um superlativo para poder dizer mais livremente das
verdades reveladas. Ele diz: "A mim, o mínimo [o menor] de todos os
santos", sendo que no original esse superlativo aparece ainda mais
acentuado: "A mim, que sou o menor dos menores entre todos os
santos". Sua afirmação não possui fingimento.
A
graça dos mistérios de Cristo era maior do que ele podia, humanamente,
compreender. Paulo sabia quão insondável é penetrar nos arcanos divinos, a não
ser que Deus os revele, como lhe havia feito. O grande mistério revelado
alcançava um grau superior, além das possibilidades da mente humana. "As
riquezas insondáveis de Cristo" não eram apenas o Evangelho poderoso ou o
conhecimento da doutrina de Cristo, ou uma revelação parcial da glória de
Cristo expressa no Calvário e na sua ressurreição, mas era o próprio Cristo (Mt 13.44).
O
privilégio de Paulo era pregar aos gentios a Cristo como Salvador e declará-los
incluídos como participantes das bênçãos de Cristo (At 9.15, 22.21; 26.17; Rm 11.13; 15.16-21; Gl 2.7-9).
Norman
Harrison, escritor norte-americano, comenta assim o versículo 8: "O
que sabemos das 'riquezas incompreensíveis de Cristo' são:
a) As riquezas da sua glória essencial: igual ao Pai; criador de todas as
coisas; recebedor do culto e da honra devidos à divindade.
b) As riquezas do seu próprio empobrecimento voluntário por amor
de nós: através dele, que 'sendo rico, por amor de vós
se fez Pobre'; 'para que por sua pobreza enriquecêsseis' (2 Co 8.9); a
história da sua humilhação (Fp 2.5-8); a sua disposição para, embora sendo o
Criador, tornar-se simples criatura, na encarnação.
c) As riquezas da sua glória moral: manifesto como homem entre os homens; a
perfeição do seu caráter pessoal, incomparável aos outros; a sabedoria
procedente dos seus lábios: 'Nunca homem algum falou como este'; as maravilhas
de suas obras: 'Nunca tal se viu'; a retidão das suas ações: nunca precisou
desculpar-se por algum erro de julgamento, de objetivo ou de algum ato — em
tudo isso foi um exemplo não ultrapassado, sim, nem aproximado.
d) A riqueza de sua morte: alcançando a finalidade de sua vinda 'para
dar a sua vida' — com as qualidades da divindade e de perfeita natureza humana
— 'em resgaste de muitos'.
e) As riquezas da sua glória como Mediador, levantado e glorificado, um homem no
Céu; a sua intercessão incessante por nós abriu-nos acesso ao Pai; o seu
cuidado protetor constante como 'O Grande Pastor das ovelhas'.
f) A riqueza da sua presença entre o seu povo: conosco 'todos os dias'; em nós em
poder transformador para reproduzir o seu próprio caráter e semelhança; o poder
da vida sem fim.
g) A riqueza da sua volta e do seu reino: Ele reclama para os que são seus
a coroa da recompensa prometida; o chamado da sua noiva para participar dos
direitos do seu reino, a herança dos séculos, de mundos conhecidos e
desconhecidos, feitos seus e nossos". (BOYER, O.S. Efésios — O
evangelho das regiões celestiais, 1959, pág. 86).
5. A
dispensação do mistério — v. 9
"E
demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério". Nesse versículo,
Paulo enfatiza sua missão de apenas "tornar conhecidas" as
insondáveis riquezas desse mistério de Cristo. A palavra "demonstrar"
tem o sentido de aclarar a todos ou iluminar (Sl 18.28; Ef 1.18; Hb 6.4).
Já
a palavra "dispensação" tem o sentido de mordomia. No grego, essa
palavra aparece como economia, ou aquilo que regula a distribuição de alguma
coisa, ou a forma de dar a conhecer o mistério.
6. O
mistério estava oculto em Deus — v. 9
O
mistério revelado é a união de gentio e judeu. Esse mistério foi traçado e planejado no Conselho Divino antes da
existência dos séculos, e só agora foi revelado a Paulo. Por que esse
fato estava envolto em mistério? No texto está assim: "... que desde os
séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou". A expressão "desde os
séculos esteve oculto" explica-se no original grego como sendo:
"desde o começo das idades" (Rm
16.25; 1 Co 2.7; Ef 1.4).
As
idades" são longos espaços de tempo marcados por sucessivas etapas da
criação. O mistério esteve oculto "em Deus". Assim como todas as
coisas foram criadas por Deus, Ele tem o direito de manter em segredo o que lhe
convém, e só revelar quando satisfizer seus propósitos. O mistério da salvação
foi oculto dos homens por várias dispensações (tempos) e somente revelado no
Novo Testamento. Esse mistério foi guardado por Deus para o tempo que Ele
designou na sua presciência, e só revelado agora, na presente dispensação.
7. O
mistério revelado à Igreja — v. 10
No
verso 10 temos a revelação de que a Igreja é constituída de ambos os povos —
judeus e gentios. Ela não foi uma solução acidental nem um remédio de última
hora. A Igreja sempre fez parte do plano preestabelecido e elaborado por Deus
antes da fundação do mundo (Ef 1.3-5).
A
sua constituição é a revelação do mistério oculto em Deus; não a igreja
meramente humana, ou política, mas a
Igreja que forma o corpo místico de nosso Senhor Jesus Cristo.
8. O
mistério revelado aos anjos — v. 10
A
revelação desse mistério foi feita não só à Igreja, mas também aos
"principados e potestades nos céus".
Que
são os "principados e potestades nos céus"? Até ser revelado à
Igreja, o mistério da salvação era desconhecido dos anjos. Foi través dela que
eles vieram a conhecer esse mistério. "Principados e Potestades" são
categorias especiais de anjos, tanto entre os anjos de Deus como entre os anjos
caídos. Assim, tanto os anjos bons como os maus passaram a conhecer a revelação
do mistério quando Deus o fez conhecido à Igreja. A expressão "seja
conhecida dos principados e potestades" nos dá a ideia de que tanto os
anjos de Deus como os anjos caídos foram surpreendidos com a revelação feita
inicialmente à Igreja, e não a eles.
9. O
mistério foi revelado conforme o propósito preestabelecido por Deus — vv.
11-13
"Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus" (v. 11). A execução desse propósito só poderia ter acontecido por meio de Jesus
Cristo. O plano divino tinha a pessoa de Cristo como o seu objetivo central. A
expressão "propósito eterno" nos ensina que todas as coisas na
criação seguem um propósito preestabelecido. Na sabedoria divina, esse
propósito foi elaborado na eternidade e executado na manifestação do Filho de
Deus feito carne (Jo 1.14).
Em
obediência a esse propósito, a Igreja segue para o seu destino eterno, e cada
crente em Cristo, particularmente, como parte da Igreja, tem ousadia
(liberdade) em Cristo e acesso (livre entrada) ao reino de Deus. Ninguém pode
ter acesso a Deus por outra via, a não ser Jesus (Jo 14.6).
"Portanto,
peço-vos que não desfaleçais nas minhas tributações" (v. 13). A igreja em
Éfeso sabia que Paulo passava por tribulações e que as enfrentava por amor a
Deus e para o bem da sua igreja querida. Em outros textos das Escrituras (At 20.18-35), o apóstolo fala de suas
tribulações passadas em Éfeso. À igreja em Corinto, ele lembra as aflições
sofridas na Ásia (2 Co 1.8-11).
O
apóstolo lembra as suas tribulações e as reputa como glória da igreja em Éfeso,
para que os crentes não venham a desfalecer. Sabendo que os crentes estavam
enfrentando lutas e tentações a ponto de quase esmorecerem na fé, Paulo os
anima, pedindo-lhes que não desfalecessem pelo fato de ele estar preso. A
grande lição do apóstolo dos gentios é a de que a igreja tirasse proveito
espiritual dos seus sofrimentos e entendesse a glória escondida no mistério
dessa prisão. Ele estava preso porque expusera sua vida para pregar-lhes o
Evangelho.
Seus
sofrimentos não deviam representar um peso na consciência dos efésios, mas
lucro e glória para eles por Jesus Cristo. Sua prisão não seria impedimento
para o exercício do seu ministério: no interior frio e cinzento do cárcere de
Roma, Paulo havia recebido a revelação do grande mistério da salvação para os
gentios.
Conclusão
O
apóstolo Paulo foi escolhido por Deus para esclarecer e explicar pelo menos
duas grandes revelações. A primeira delas é o próprio Evangelho - as boas novas
da salvação através da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. A segunda
era a verdade da Igreja como o corpo de Cristo. Nas grandes epístolas
evangélicas – Romanos, I e II Coríntios e Gálatas – Paulo desenvolve
extensamente a primeira revelação. Nas epístolas do presente grupo cronológico,
as "Epístolas da Prisão", ele trata em grande parte da segunda dessas
revelações – a Igreja como o corpo de Cristo. O capítulo 3 forma o clímax da
primeira divisão principal da epístola, que nos dá a nossa posição em Cristo.
Bibliografia E.
Cabral
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