22 de janeiro de 2022

A ESTRUTURA DA BÍBLIA

 

A ESTRUTURA DA BÍBLIA

 

Texto Áureo:

                  (Para uma melhor compreensão do contexto, vamos analisar também os versículos 45 e 46).

 

44. E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos.

 

45. Então, abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.

 

46. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia, ressuscitasse dos mortos;

Lucas 24.44-46

Jesus abre as Escrituras para descerrar (abrir o que está cerrado, fechado) o entendimento aos que estão tomados pela incredulidade (Lucas 24.44-46). O argumento irresistível e cabal de Jesus para provar sua ressurreição, depois de mostrar as marcas dos cravos em suas mãos e em seus pés e depois de comer pão e mel (Lucas 24.36-43), foi abrir as Escrituras e mostrar aos discípulos que sua morte não foi um acidente nem sua ressurreição uma surpresa. Ele morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras, foi sepultado segundo as Escrituras e ressuscitou segundo as Escrituras (1Coríntios 15.1-3). William Barclay (professor das Sagradas Escrituras, pastor, escritor e teólogo escocês) diz que : “A cruz não foi algo forçado para Deus. Não foi uma medida de emergência quando tudo o mais havia fracassado e quando os planos haviam fracassado. A cruz estava na agenda de Deus desde a eternidade”. As três divisões da Bíblia Hebraica (Lei de Moisés, Profetas e Salmos) indicam que não há parte alguma das Escrituras que deixe de dar testemunho de Jesus.

Jesus mostra a seus discípulos que ele mesmo é a chave hermenêutica* para se compreender a essência da Lei, dos Profetas e dos Salmos. Só compreenderemos o Antigo Testamento se entendermos que a totalidade dele aponta para Cristo, sua morte e ressurreição, sua humilhação e sua exaltação. David Neale (Estudioso das Sagradas Escrituras) diz que; Aqui o Senhor ressurreto se torna um Mestre ressurreto e interpreta as Escrituras à luz de sua crucificação e ressurreição. Isso significa dizer que o propósito da Lei, dos Profetas e dos Salmos deve ser entendido como Escrituras que predizem a vida de Jesus enquanto contam a jornada de Israel com o Senhor. Eles são lidos através de novas lentes messiânicas, que são esclarecidas pela paixão e pela ressurreição de Jesus. Assim, as Escrituras adquiriram um nível de significado completamente novo - um nível messiânico. Os discípulos que haviam escutado de Jesus essas verdades ao longo de seu ministério, agora, porém, têm o entendimento aberto para compreenderem as Escrituras”. (Lucas 24.45,46).

 

(*Hermenêutica:1.ciência, técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos, especialmente das Sagradas Escrituras. 2.interpretação dos textos, do sentido das palavras)


Como a Bíblia Está Organizada

 

 

1.  Definição do termo “Bíblia”.

Como vimos na lição 2, a etimologia da palavra “Bíblia” é muito interessante, por nos remeter a Fenícia, tendo em vista que uma de suas cidades mais importantes era chamada exatamente de “biblos” (atual Gebal, cerca de quarenta quilômetros ao norte de Beirute). Biblos foi uma cidade muito conhecida na época por ser uma cidade comercial, onde se vendia de tudo um pouco, madeiras, perfumes, tecidos, couros e papiro. E é pelo fato de o papiro ser um dos produtos mais procurados no comércio, que aos poucos foi sendo chamada de biblos, em homenagem e referência a cidade com o mesmo nome. Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado "biblion" e vários destes eram uma "bíblia". Portanto, literalmente, a palavra bíblia quer dizer "coleção de livros pequenos". Com a invenção do papel, desapareceram os rolos, e a palavra biblos deu origem a "livro", como se em biblioteca, bibliografia, bibliófilo, etc.

Aproximadamente no ano 400 d. C., é que os escritores cristãos gregos começaram a chamar a Bíblia de “Os livros”, no plural indicando uma série de escritos da revelação divina. Mais tarde, no século XIII (séc. 13), o plural foi mudado para o singular, concordando com a concepção de que a Bíblia é uma expressão vocal de Deus. A Bíblia também é conhecida por Escrituras, que é um termo usado no N.T. para os livros sagrados do A.T., que eram considerados inspirados por Deus. (2 Timóteo 3.16; Romanos 3.2). Este termo também é usado no N.T. com referência a outras porções do N.T. (2 Pedro 3.15,16). A Bíblia também é conhecida por “Palavra de Deus”, este termo é usado em relação a ambos os testamentos em sua forma escrita (Mateus 15.6; João 10.35; Hebreus 4.12).

Talvez você se pergunte;

Ué, mas Bíblia não é uma palavra de origem grega?

A resposta é SIM, a cidade da antiga Fenícia chamada “Biblos” tinha esse nome devido a influência grega.

 

2.  O cânon da Bíblia.

Cânon é a coleção completa dos livros divinamente inspirados que constituem a Bíblia.

O significado da palavra “Cânon”. (A palavra cânon tem raiz na palavra “cana”, “junco” (do hebraico geneh através do grego kanon). O “Junco” era usado como uma vara para medir e, por fim, veio a significar “padrão”.

No sentido religioso, Cânon não significa vara de medir, mas aquilo que serve de norma ou regra. Origenes (teólogo e filósofo. Um dos cristãos mais influentes dos primeiros séculos) empregou a palavra "cânon para indicar aquilo que chamamos de regra de fé, o padrão pelo qual devemos medir e avaliar" Mais tarde teve o sentido de “lista” ou “rol”.

Aplicada as Escrituras, a palavra cânon significa Uma lista de livros oficialmente aceitos”. Deve se ter em mente que a “Igreja” não criou o cânon, nem os livros que estão incluídos naquilo que chamamos de Escrituras. Ao contrario, a “Igreja” reconheceu os livros que foram inspirados desde o principio. Tais livros foram inspirados por Deus ao serem escritos (não pela “Igreja”).

 

3.  Os dois testamentos bíblicos.

A palavra “Testamento”, nas designações Antigo Testamento e Novo Testamento, tem sua origem no vocábulo latim “testamentum” e, no vocábulo grego, “diathéke”, cujo significado, na maioria de suas ocorrências na Bíblia grega, é “concerto” ou aliança”, em vez de “testamento”. Em Jeremias 31.31, foi profetizado um novo concerto que iria substituir aquele que Deus fez com Israel no deserto (Êxodo 24.7- 8). Lemos em Hebreus 8.13: Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro”.

Os escritores do Novo Testamento vêem o cumprimento da profecia do novo concerto na nova ordem inaugurada pela obra de Cristo. Suas próprias palavras, ao instituir esse concerto (1 Coríntios 11.25), dão autoridade a esta interpretação. Os termos Antigo Testamento e Novo Testamento, nomeados para as duas coleções de livros da Bíblia, entraram no uso geral entre os cristãos na última parte do século 2 d. C. Tertuliano (um dos “pais” da “Igreja”) traduziu o vocábulo grego diathéke para o termo latim instrumentum (um documento legal) e, também, por testamentum. Infelizmente, foi a última palavra que vingou, considerando-se que as duas partes da Bíblia não são “testamentos” no sentido ordinário do termo.

Fonte: Enciclopédia Estudos de Teologia vol. 1, pag: 28.

Você sabia?

Os livros antigos tinham forma de rolo (Jeremias 36.2). Eram feitos de papiro ou pergaminho.

 

O papiro é uma planta aquática que cresce junto a rios lagos e banhados no oriente, cuja entrecasca servia para escrever. Essa planta ainda existe no Sudão, na Galiléia superior e no vale de Saron. Seu uso na escrita vem de 3000 a.C.

O pergaminho é de pele de animais geralmente cabra ou carneiro e seu uso é mais recente, vem dos primórdios da era cristã. É um material gráfico superior ao papiro. Ainda hoje, devido aos ritos tradicionais, os rolos sagrados das escrituras hebraicas continuam em uso nas sinagogas judaicas.

 

2- O Antigo Testamento

 

1.  Os livros do Antigo Testamento.

2.  Canonicidade do Antigo Testamento.

3.  Particularidades do Antigo Testamento.

Na Bíblia hebraica, os livros estão dispostos em três divisões: lei, profetas e os escritos. Ao todo, somam 24 livros, sendo que esses livros correspondem exatamente ao nosso computo (cálculo) comum de 39, visto que os judeus contam como sendo um único livro os doze profetas, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas e Esdras- Neemias.

Escrito originalmente em hebraico, com exceção de pequenos trechos em aramaico, esse vernáculo, ou seja, o Antigo Testamento, foi trazido por Israel em sua bagagem quando regressou da Babilônia. Há, também, algumas palavras persas. O historiador judeu Flávio Josefo contou 22 livros porque reuniu Rute a juizes e Lamentações a Jeremias.

Vejamos cada divisão:

A lei {tora)·, comumente chamada de Pentateuco, essa parte é composta por cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Os profetas {nebhiim)·. desdobram-se em duas subdivisões: os “primeiros profetas”, compreendendo Josué, Juizes, Samuel e Reis; e os “últimos profetas”, formados por Isaías, Jeremias, Ezequiel e Livro dos doze profetas”.

Os Escritos {kethbhim)·. contêm o restante dos livros; a saber: Salmos, Provérbios, Jó. Há, ainda, os “cinco rolos” {megilloth): Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações de Jeremias, Eclesiastes e Ester. E, finalmente, os livros históricos: Daniel, Esdras,Neemias e Crônicas.

Esta divisão em três partes da Bíblia hebraica está de acordo com as palavras de Jesus, que disse: “São estas as palavras que vos disse, estando ainda convosco”: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos (Lucas 24.44).

Mais comumente, o Novo Testamento refere-se “à Lei e aos Profetas” (Mateus 7.12) ou “a Moisés e aos Profetas” (Lucas 16.29).

Na época de Jesus, os 39 livros do Antigo Testamento já eram plenamente aceitos pelo judaísmo como sendo divinamente inspirados. Todavia, foi somente no ano 90 d.C, em *Jâmnia, perto da moderna Jope, em Israel, que os rabinos, num Concilio sob a presidência de Yohanan Ben Zakai (um dos mais importantes sábios judeus) , reconheceram e fixaram o cânon do Antigo Testamento. Por isso, não houve canonização de livros em Jâmnia. O trabalho desse Concilio foi somente ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através dos séculos.

Flávio Josefo, historiador judeu (37 - 100 d.C.), contemporâneo do apóstolo Paulo, em um de seus escritos, intitulado “Contra Apion”, declarou:

“Porque não temos entre nós uma quantidade enorme de livros, que discordam e se contradizem entre si (como acontece com os gregos), mas apenas vinte e dois livros, que contêm os registros de todos os tempos passados, que cremos justamente serem divinos [...] e quão firmemente damos crédito a esses livros de nossa própria nação fica evidente pelo que fazemos; porque, durante tantos séculos que já se passaram, ninguém teve ousadia suficiente para acrescentar nada a eles, cancelar qualquer coisa, nem fazer neles qualquer modificação; tendo-se tornado natural a todo judeu, desde o seu nascimento, a estimar esses livros como contendo doutrinas divinas e a perseverar nelas; e, caso necessário, morrer voluntariamente por elas”.

 

Quais critérios foram utilizados na formação do cânon?

O princípio básico parece ter sido o do reconhecimento da autoridade, em vez de imposição da autoridade. Em outras palavras, os documentos em questão eram reconhecidos como algo que já possuía autoridade, em vez de esta lhes haver sido imposta de forma arbitrária.

 

(*Jâmnia. depois da destruição de Jerusalém (no ano 70 d.C.), tornou-se a sede do Sinédrio - o Supremo Tribunal dos judeus).

3 O Novo Testamento

 

1.  Os livros do Novo Testamento.

2.  Canonicidade do Novo Testamento.

 

 

Antes do final do século 1 d.C., todos os livros do Novo Testamento já estavam escritos. O que demorou foi o reconhecimento canônico, e isso devido ao cuidado que as “Igrejas” tinham em preservar a doutrina.

Nesse tempo, surgiram muitos escritos heréticos e espúrios (não genuínos) com pretensão apostólica. Muitas doutrinas heréticas eram encontradas nesses livros, como, por exemplo, as doutrinas e ensinos defendidos pelos gnósticos, que negavam a encarnação de Cristo; pelos céticos, que negavam a realidade da humanidade de Cristo; e pelos monofisistas, que rejeitavam a dualidade da natureza de Cristo.

Muitos livros, antes de serem reconhecidos como canônicos, foram duramente debatidos.

Algo muito interessante de observar é que nenhum dos livros conhecidos como “Apócrifos” foi considerado pelos antigos rabinos ou por Josefo como pertencendo à Escritura judaica. Esses livros (Apócrifos) são principalmente aqueles que foram acrescentados ao Cânon hebraico na LXX

( versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria) . Uma vez que esta “versão” grega tomou-se a Bíblia da Igreja primitiva, é notável que nenhum Apócrifo tenha sido citado no NT, como Escritura. Alguns supõem que Judas cita o livro de Enoque dessa maneira, mas é altamente questionável se ele realmente tenciona mencioná-lo como Escritura. É digno de nota que Melito (ou Melitão) de Sardis (Uma grande autoridade na “Igreja” primitiva em cerca de 170 d.C.) considerou necessário consultar os judeus nos países onde o Antigo Testamento se originou para resolver a questão do seu conteúdo. Ao mesmo tempo, ele usou a LXX, mas claramente não considerou que era autoritativa para os livros adicionais.

 

Os livros apócrifos foram incluídos na Vulgata (tradução da Bíblia feita por Jerônimo) de Jerônimo e desta forma tornaram- se parte das Escrituras da Igreja Católica Romana. Os reformadores (em suma, aqueles que se levantaram contra os abusos da Igreja Católica) rejeitaram os apócrifos, retirando-os do Cânon, mas permitiram-nos para simples leitura.

 

Como o Antigo Testamento estava estabelecido como Palavra de Deus, fez-se necessário que a Igreja de Cristo administrasse diligentemente sua coleção de livros sagrados após a morte dos apóstolos. Os seguintes princípios foram usados para determinar a posição de um livro no cânon sagrado:

Apostolicidade

Ou seja, o livro foi escrito por um apóstolo ou por alguém associado, de perto, com os apóstolos? Essa questão tinha especial importância com respeito aos evangelhos de Marcos e de Lucas e dos livros de Atos e Hebreus, já que Marcos e Lucas não se encontravam entre os doze e a autoria de Hebreus era desconhecida.

 

Conteúdo espiritual

O livro estava sendo lido nas igrejas e o seu conteúdo era um meio de edificação espiritual? Esse era um teste muito prático.

 

Exatidão doutrinária

O conteúdo do livro era doutrinariamente correto? Qualquer livro contendo heresia ou que fosse contrário aos livros canônicos já aceitos era rejeitado.

Uso

O livro foi universalmente reconhecido nas igrejas, sendo amplamente citado pelos Pais da Igreja?

 

Inspiração divina

O livro apresentava verdadeira evidência de inspiração divina?

 

O teólogo Norman L. Geisler ensinava que; Os pais da igreja tinham a pratica de "em caso de dúvida, jogue fora" Isso acentua a validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos”. Geisler dizia ainda que; Os pais da igreja observavam que, para serem reconhecidos como canônicos os livros deviam ter “poder divino” e “causar transformação de vidas”.

 

3.  Particularidades do Novo Testamento.

De modo indireto, os fenícios exerceram um papel importante na transmissão da Bíblia ao inventarem o veículo básico de propagação das letras: o alfabeto por volta do século 15  a.C.

 

O alfabeto grego desenvolveu-se por volta do século 9 a.C. (cerca de 600 anos depois do alfabeto fenício).

O Novo Testamento foi escrito em grego. Mas o grego do Novo Testamento não é o grego clássico dos filósofos, mas o dialeto popular do homem da rua, dos comerciantes, dos estudantes... Era o grego koiné, que todos podiam entender.

A mão de Deus pode ser vista nisto, porque o grego era o idioma internacional do século 1 d.C., tornando, assim, possível a divulgação do evangelho por todo o mundo então conhecido.

O alfabeto grego tem 24 letras. A primeira chama-se Alfa e a última, Omega.

Conclusão:

O conjunto dos 66 livros forma um único livro: a Bíblia Sagrada. Esses livros constituem o cânon bíblico do Antigo e do Novo Testamento. Os critérios para avaliação da canonicidade são a inspiração, o reconhecimento e a preservação dos livros como Palavra de Deus. A comprovação desses critérios revela que as Escrituras foram aceitas e preservadas como livros autorizados por Deus.

 

 

Fontes:

A Bíblia Interpretada Versículo por Versículo – Russel Norman Champlin,

Bíblia de Estudo Arqueológica,

Bíblia de Estudo Pentecostal,

Comentário Bíblico MacArthur,

Revista Cristão Alerta 1º Trimenstre de 2022,

Enciclopédia Estudos de Teologia vol. 1,

Enciclopédia da Bíblia Tenney vol. 1,

Examine as Evidências - Ralph O. Muncaster,

Comentários Expositivos Hagnos,

Teologia para Pentecostais – Walter Brunelli,

Apontamentos teológicos professor José Junior.