A MORDOMIA
DAS OBRAS DE MISERICÓRDIA
Texto Base:
Atos 4:32-35; Lucas 10:30,36,37
“Porque
o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a
misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg.2:13).
INTRODUÇÃO
Nesta
Aula trataremos da Mordomia das obras de Misericórdia. Misericórdia é o amor
posto em ação, é a bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo Tiago,
como podemos dizer que amamos alguém se não suprimos as suas necessidades
(Tg.2:14-17), pois o amor não é amor de palavras, mas amor de obras (1João
3:16-18).
Jesus,
num espírito humanitário de misericórdia e compaixão voltado a todos, sempre
procurou socorrer os necessitados e tinha Sua atenção voltada para as pessoas,
colocando sempre as necessidades espirituais acima das necessidades materiais.
A Igreja, portadora do mesmo sentimento de amor, sempre foi voltada para o
social, procurando suprir as necessidades e socorrer aqueles que, realmente,
são necessitados. Valorizar a alma humana, com um valor maior que o mundo
inteiro, sempre foi a filosofia do Divino Mestre, mas não esquecendo das
necessidades físicas.
É
perturbador para uma igreja local, que enfatiza a justificação pela fé e tem
perdido de vista o fato de que aquilo que praticamos também se reveste de
grande importância. A ausência de obras de misericórdia é prova de ausência de
fé. A fé sem obras é morta (Tg.2:20). E a melhor caridade é aquela que é feita
com seus próprios recursos, dentro das suas possibilidades, pois fazer caridade
com riqueza dos outros não é caridade.
Fazer
obras de misericórdias era uma prática levada a sério no princípio da Igreja; o
seu altruísmo era uma característica marcante. O livro de Atos mostra isso ao
narrar a ressurreição de uma mulher chamada Dorcas, que era conhecida pelas
suas “boas obras e esmolas que fazia” (Atos 9:36).
O
exercício da misericórdia deve ser feito com alegria. De nada adianta gastarmos
todas as nossas finanças em benefício dos pobres ou necessitados ou, mesmo,
horas a fio de nosso tempo, para ouvir as pessoas, dar-lhes companhia e
conforto, se o fizermos por obrigação, por necessidade, sem alegria.
Qualquer
doação material feita por necessidade é apenas um gasto, uma despesa, sem
qualquer valor na dimensão espiritual, como também o uso de horas numa “obra de
misericórdia espiritual” nada mais será que perda de tempo. Se, porém, fizermos
com alegria, seremos agradáveis ao Senhor, porque Ele ama a quem dá com alegria
(2Co.9:7).
I.
SIGNIFICADO DE MISERICÓRDIA
1. Definição
Misericórdia
é lançar o coração na miséria do outro e estar pronto em qualquer tempo para
aliviar a sua dor; é ver uma pessoa sem alimento e lhe dar comida; é ver uma
pessoa solitária e lhe fazer companhia; é atender às necessidades e não apenas
senti-las. Enfim, misericórdia é mais do que sentir piedade por alguém, é a
capacidade de entrar em outra pessoa até que praticamente podemos ver com os
seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração.
“SENHOR, tem misericórdia de nós! Por ti temos
esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação em
tempos de tribulação” (Is.33:2).
As
obras de misericórdia, ou obras de caridade, nos mostram a disponibilidade de
desprendermo-nos do egoísmo e servir o próximo deliberadamente como fruto do
amor cristão. Essa é a vontade de Deus.
2.
Misericordioso
É
alguém que demonstra misericórdia; que é compassivo, bondoso, misericordioso
para seus semelhantes. Essa expressão indica o sentimento que vem do íntimo,
“das entranhas”, do “coração”. Por ser um atributo de Deus (Sl.103:8), e por
sermos seus filhos, devemos ser também misericordiosos, haja vista que temos o
Fruto do Espírito (Gl.5:22). Disse Jesus:
“bem-aventurados os misericordiosos, porque
eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7).
“Sede, pois,
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc.6:36).
Quem
exerce a misericórdia revela que serve a um Deus misericordioso, longânimo e
benigno - “Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em
benignidade” (Sl.103:8).
II. A
MORDOMIA DA MISERICÓRDIA CRISTÃ
A
misericórdia é o dom de transformar em ações, em atitudes concretas, o bem que
desejamos a alguém; é a bondade tornada em ação concreta. Como diz o apóstolo
Tiago, “como podemos dizer que amamos alguém se não suprimos as suas
necessidades?” (Tg.2:14-17), pois o amor não é amor de palavras, mas amor de
obras (1João 3:16-18).
1. Obras de
misericórdia na prática
As
“obras de misericórdia” são definidas como sendo ações caritativas mediante as
quais ajudamos a nosso próximo em suas necessidades físicas e espirituais (cf.
Is.58:6,7; Hb.13:3). No Cristianismo, o ser vem antes do fazer. Quem é, faz. A
fé sem obras é morta (Tg.2:17). Veja um exemplo bíblico de misericórdia: a
Parábola do bom Samaritano (Lc.10:29-37). Um certo doutor da Lei perguntou a
Jesus:
“29.
...E quem é o meu próximo?
30.
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu
nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram,
deixando-o meio morto.
31.
E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o,
passou de largo.
32.
E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e vendo-o, passou de
largo.
33.
Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de
íntima compaixão.
34.
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e,
pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele;
35.
E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e
disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando
voltar”.
36.Qual,
pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos
salteadores?
37.E
ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e
faze da mesma maneira.
A
Parábola descreve tudo o que o samaritano fez para salientar que a prática da
misericórdia não tem fronteiras; é a necessidade do outro que diz o que precisa
ser feito. Esse samaritano, mesmo sendo odiado pelos judeus, interrompe a sua
viagem, chega perto, aplica óleo e vinho nas feridas do semimorto, tira-o do
lugar de perigo, leva-o a uma hospedaria segura e ainda paga o seu tratamento.
Isto é o que chamamos de misericórdia.
Para
os religiosos da parábola (o sacerdote e o levita), era um incômodo a ser
evitado, mas, para o Samaritano, era alguém que necessitava de amor e de ajuda,
de modo que ele lhe ofereceu cuidado. Esse samaritano quis transmitir a
seguinte mensagem: "o que é seu, é seu; mas o que é meu pode ser seu
também".
Contudo,
exercitar a misericórdia ao próximo não é apenas ajudar alguém do
ponto-de-vista material, mas, sobretudo, levar esse alguém a Cristo, a uma vida
de comunhão com Deus.
Portanto, o que Jesus disse ao doutor da Lei, ele diz
também a nós: “Vai e faz da mesma maneira”.
Se
a Parábola do Bom Samaritano fosse compreendia e praticada, removeria o
preconceito racial, o ódio e a inveja entre classes, e o mundo seria
extraordinariamente maravilhoso para se viver. Pense nisso!
-A prática
de Jesus.
Jesus estabeleceu uma comunidade de discípulos cujo relacionamento se baseava
no amor e na partilha. Ele foi o maior exemplo de misericórdia: Ele curou os
doentes, alimentou os famintos, abraçou as crianças, foi amigo dos pecadores,
tocou nos leprosos; fez que os solitários se sentissem amados; consolou os
aflitos, perdoou os pecadores e restaurou os que haviam caído em opróbrio. Ao
multiplicar os pães e peixes (Mc.6:30-44), Jesus se utiliza do pouco que alguém
se dispôs a partilhar. Partilhar o que se tem mexe com o nosso egoísmo. A grande lição que Jesus ensinou é que a
disposição para repartir o que se tem promove o
suprimento de todos.
“O que
oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do
necessitado”(Pv.14:31).
“Bem-aventurado
é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”(Sl.41:1).
2.
Bem-Aventurados são os misericordiosos
No
célebre sermão do monte, Jesus disse: “bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia” (Mt.5:7). Nessa bem-aventurança, Jesus falou
que a misericórdia é tanto um dever como uma recompensa. Os misericordiosos
alcançarão misericórdia.
Os
romanos não consideravam a misericórdia uma virtude, mas uma enfermidade da
alma. Vivemos num tempo em que a misericórdia parece ter desaparecido da terra.
Mas essa não é uma constatação nova. À época de Jesus, os judeus eram tão
cruéis quanto os romanos: eram orgulhosos, egocêntricos, hipócritas e
acusadores. Hoje, se formos misericordiosos, as pessoas vão nos explorar ou nos
perturbar de forma contumaz.
Na
verdade, a misericórdia não é uma virtude natural. Por natureza, o homem é mau,
cruel, insensível, egoísta, incapaz de exercer a misericórdia. A pessoa precisa
de um novo coração, antes de ter um coração misericordioso.
Deus
é o Pai de misericórdias (2Co.1:3); dele procede toda misericórdia. Quando a
exercemos, nós o fazemos em seu nome, e por sua força e para a sua glória.
3. Somos
criados para as boas obras
Misericórdia
não é sentimento nem palavras, mas ação; é atender às necessidades, e não apenas
senti-las. O apóstolo Paulo escrevendo à igreja em Éfeso disse: “somos [...]
criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas” (Ef.2:10).
Escrevendo ao seu cooperador Tito, disse: “[...]
os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras...” (Tt.3:8). Assim,
devemos praticar as boas obras porque somos salvos, e fomos alcançados pela
graça de Deus. Diante do exposto:
a) Devemos
acudir ao necessitado. Davi disse: “Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor
o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na
terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O Senhor o assiste no leito
da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama” (Sl.4:1-3).
Isaias,
inspirado pelo Espírito Santo, disse: “e, se abrires a tua alma ao faminto e
fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão
será como o meio-dia” (Is.58:10).
b) Devemos
ser liberais na contribuição. Deus diz: ”Quando entre ti houver algum pobre
de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o SENHOR, teu Deus,
te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que
for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o
que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade” (Dt.15:7,8).
Deus
providenciou várias leis para cuidar dos pobres: nas colheitas, não se podia
apanhar o que caía no chão, era dos pobres. Paulo exorta os ricos: “façam o
bem, enriqueçam em boas obras, generosos em dar e pronto em repartir”
(1Tm.6:18).
Ajudando
aos necessitados, estaremos rompendo com nossos próprios interesses egoístas,
para acumular “tesouros no Céu” (Mt.6:19-21; Lc.12:33-34). O maior tesouro é,
sem dúvida, a salvação eterna, pela graça de Cristo (Ef.2:8-10), daqueles que
são levados a glorificar a Deus por nossas boas obras de generosidade (ver
Mt.5:16).
Lembramos
novamente que ter misericórdia é sentir a infelicidade, a miséria do outro e
tentar retirá-la ou, pelo menos, minorá-la. Deus não se agrada de quem se
alegra no mal do outro, ainda que seja do inimigo, do perverso(Pv.24:17),
porque isto é falta de misericórdia - “… o que se alegra da calamidade não
ficará impune” (Pv.17:5b) -, enquanto que o que se compadece do necessitado,
honra a Deus – “O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o
aquele que se compadece do necessitado”(Pv.14:31).
“Bem-aventurado
é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal”(Sl.41:1).
c) Devemos
ter o coração aberto para área da evangelização e das missões. Evangelizar
é exercer misericórdia, pois somente o Evangelho tem poder de libertar a
pessoa, destituída de Deus, das iguarias de Satanás e levá-la aos pastos
verdejantes do redil do Senhor Jesus.
É
muito clara a necessidade espiritual do mundo. Infelizmente, o investimento na
obra missionária ainda é muito pequeno. De um modo geral, gastamos mais com
outros empreendimentos e objetos pessoais do que investimos em missões e na
evangelização das almas perdidas.
Jesus,
após ter passado quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e
falado a respeito do reino de Deus (At.1:3), explicitamente determinou qual
seria a tarefa principal da Igreja: Evangelizar e ensinar - “Ide por todo o
mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc.16:15). Aqui, o verbo está no
modo imperativo, ou seja, trata-se de uma ordem, não de uma recomendação ou de
um conselho da parte do Senhor.
Nota-se
que Jesus ordenou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo, a toda a
criatura; uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto
de o apóstolo Paulo ter exclamado: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho
de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não
anunciar o evangelho!”(2Co.9:16).
A
ordem do Senhor de ir por todo o mundo lembra-nos de que a evangelização é
feita sem qualquer discriminação, sem qualquer parcialidade ou preferência
deste ou daquele lugar, desta ou daquela nacionalidade.
• Ir:
proclamar o Evangelho em palavras e ações a toda criatura.
• Ensinar:
tanto aos novos convertidos como aos maturados na fé, tornando-os fiéis
seguidores de Cristo.
• Batizar:
integrar os novos convertidos na igreja local, a fim de que cresçam na graça e
no conhecimento por intermédio da ação do Espírito Santo em sua vida, e
desfrute sempre da comunhão dos santos.
A
Igreja pode fazer tudo aqui na terra, mas se não fizer missões e evangelismo,
não fez nada. Missões é urgente e imprescindível. Sem sombra de dúvidas, é a
suprema tarefa da Igreja.
4. Por que
devemos ser misericordiosos?
O
Rev. Hernandes Dias Lopes, em seu livro “Mateus – Jesus, o Rei dos reis”,
elenca algumas razões para sermos misericordiosos, como veremos a seguir.
a) porque a
prática das boas obras é o grande fim para o qual fomos criados. O apóstolo
Paulo diz: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas
obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef.2:10). Todas as
criaturas cumprem o papel para o qual foram criadas: as estrelas brilham, os
pássaros cantam, as plantas produzem segundo a sua espécie. O propósito da vida
é servir. Aquele que não cumpre a missão para a qual foi criado é inútil. Diz o
adágio: ”quem não vive para servir, não serve para viver”.
b) porque
pela prática da misericórdia nós resplandecemos o caráter de Deus, que é
misericordioso. Adverte o Senhor Jesus: “Sede misericordiosos, como também é
misericordioso vosso Pai celestial” (Lc.6:36). Deus é o Pai de toda
misericórdia (2Co.1:3). Deus se deleita na misericórdia (Mq.7:18). As suas
ternas misericórdias estão sobre todas as suas obras (Sl.145:9). Quando você
demonstra misericórdia, reflete Deus em sua vida.
c) porque a
demonstração de misericórdia é um sacrifício agradável a Deus. A Bíblia
diz: “Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação;
pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz (Hb.13:16).
Quando
você abre a mão para ajudar o necessitado, é como se estivesse adorando a Deus.
O anjo do Senhor disse a Cornélio: “Cornélio [...] as tuas orações e as tuas
esmolas subiram para memória diante de Deus (Atos 10:4).
A
prática da misericórdia é uma liturgia que agrada o coração de Deus. Dar pão ao
que tem fome, vestir o nu, ajudar aqueles que estão enfermos e que são
necessitados, é servir ao próprio Senhor Jesus (Mt.25:31-46). Segundo João
Batista, repartir pão e vestes é uma maneira concreta de demonstrar o
verdadeiro arrependimento – “E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas
túnicas, que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça da
mesma maneira” (Lc.3:11).
d) porque um
Dia daremos conta da nossa Mordomia. A Bíblia diz que somos mordomos e vamos um
Dia comparecer perante o Tribunal de Cristo para prestar contas de nossa
administração (Lc.16:2). É um grande perigo fechar as mãos aos necessitados.
No
Dia do Julgamento das nações, as pessoas serão julgadas pelo que deixaram de
fazer aos necessitados: “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes
de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes;
e estando enfermo e na prisão, não me visitastes” (Mt.25:41-43).
5. As
recompensas prometidas ao misericordioso
A
Palavra de Deus nos fala sobre algumas recompensas que o misericordioso
receberá.
a) Ele
receberá de Deus o que deu aos outros
Ele será feliz. Jesus disse que “mais bem-aventurado
é dar do que receber” (At 20:35). A pessoa feliz não é aquela que quer tudo para
si, mas é aquela que distribui e dá aos pobres e necessitados.
Ele receberá de Deus a recompensa. A
recompensa da misericórdia não virá daqueles a quem ela foi ministrada, mas de
Deus. Jesus Cristo foi a Pessoa mais misericordiosa que já existiu, mas o
povo pediu para Ele ser crucificado. Jesus não recebeu misericórdia alguma das
pessoas a quem dispensou misericórdia; dois sistemas impiedosos - o romano e o
judeu -, uniram-se para matá-lo.
A
misericórdia sobre a qual Jesus fala em Mateus 5:7 não é uma virtude humana que
traz sua própria recompensa. Não é essa ideia. Então, o que o Senhor está
querendo dizer?
Simplesmente o seguinte: “Sejam misericordiosos com os outros,
e Deus será misericordioso com vocês” (Mt.5:7). Deus é o sujeito da segunda
parte da frase.
Portanto,
não são as pessoas que recompensarão o misericordioso com misericórdia, mas
Deus. O Deus misericordioso abre as torneiras celestiais sobre a sua cabeça;
Ele abre os celeiros da Céu para abastecer a própria alma.
Ser
misericordioso, portanto, não é o meio de ser salvo, mas o meio de demonstrar
que se está salvo pela graça. O seu coração é misericordioso? Você sente a dor
do outro? Abre-lhe o coração, a mão e o bolso? Você se importa com as almas que
perecem? Você tem usado o que Deus lhe deu para abençoar as pessoas? O mundo
tem sido melhor porque você existe? Pense nisso!
b) Ele será
recompensado nesta vida
Ele será abençoado em sua pessoa –
“Bem-aventurado aquele que acode ao necessitado” (Sl.41:1).
Ele será abençoado em
seu nome
– “Ditoso é o homem que se compadece e empresta…não será jamais abalado; será
tido em memória eterna” (Sl.112:5,6).
Ele será abençoado em sua prosperidade – “A alma generosa prosperará e a quem dá a beber será dessedentado”
(Pv.11:25).
Ele será abençoado em sua posteridade – “...a sua descendência será uma bênção” (Sl.37:26). Não apenas ele
é abençoado, mas seus filhos também serão abençoados.
Ele será abençoado com vida longa –
“Bem-aventurado o que acode ao necessitado. O Senhor o livra no
dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra”
(Sl.41:1,2). Ele ajuda os outros a viver e Deus lhe preserva e lhe dilata a
vida.
c) Ele será
recompensado na vida por vir
Não são as nossas boas obras que nos levam ao Céu, mas nós as levamos para o Céu (Ap.14:13). A salvação
é pela fé sem as obras, mas a fé salvadora nunca vem só. A fé nos justifica
diante de Deus, e as obras diante dos homens.
Receberemos galardão no Céu até por um copo de água fria que dermos a alguém em nome de Jesus (Mt.10:42).
A Bíblia diz: “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu
benefício” (Pv.19:17).
Jesus diz: “Daí, e dar-se-vos-á; boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão…” (Lc.6:38).
No dia do julgamento das nações, no final da Grande Tribulação, Jesus
dirá aos que estiverem à sua direta: “Vinde benditos
de meu Pai, entrai na posse do Reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo, porque eu tive fome e me deste de comer…” (Mt.25:34-40).
III.
CUIDADOS NA PRÁTICA DAS BOAS OBRAS
A
prática da bondade é um elemento indispensável na vida do crente, que deverá
fazê-lo não só individualmente, como mostra o testemunho eloquente de Barnabé
no livro de Atos dos Apóstolos, como também coletivamente, como dão exemplo
robusto as igrejas locais dos tempos apostólicos - seja a igreja de Jerusalém,
sejam as igrejas em Corinto, na Acaia, ou na Macedônia. O próprio Jesus, em Seu
ministério, tinha um grupo de pessoas que cuidavam dos pobres, tanto que havia
uma bolsa, que ficava a cargo de Judas Iscariotes, para esta finalidade (João
12:4-8).
-Temos uma
bolsa para os pobres, ou seja, há, no nosso orçamento doméstico, uma verba para
fazermos o bem, ajudarmos os necessitados, ou o consumismo desenfreado, os
gastos supérfluos, as vaidades humanas têm devorado esta quantia e, tal como
Judas Iscariotes, lançamos mão daquilo que deveria ajudar a quem precisa?
-Nossa
igreja local tem uma bolsa para os pobres, ou, também, tem se envolvido em
tantas atividades e tantas obras que não resta qualquer ajuda aos necessitados,
até mesmo para os crentes, que dirá para os não-crentes da área abrangida por
nossa igreja local?
-Temos
ajudado as iniciativas de irmãos valorosos e abnegados, que têm
procurado minorar a crescente miséria da população que nos cerca, ou temos nos
comportado como aqueles descritos em Tg.2:16? - “e algum de vós lhes disser:
Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias
para o corpo, que proveito virá daí?”.
1. As boas
obras devem glorificar a Deus
No
Sermão do Monte, Jesus disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos
céus” (Mt.5:16). Quando a luz da Igreja brilha, as pessoas devem ver não sua
pujança, mas suas boas obras. Essas obras não devem ser apenas boas, mas também
belas e atraentes. Mas, a Igreja não faz boas obras a fim de atrair a atenção
das pessoas para si; ela o faz para levá-las a conhecerem a bondade de Deus e
glorificá-lo. Portanto, quando um cristão faz boas obras, ele as realiza pelo
poder de Deus e para a glória de Deus.
2. As boas
obras não podem ser corrompidas pelas motivações egoístas
Disse Jesus: “Quando,
pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em
verdade vos digo que já receberam o seu galardão” (Mt.6:2). Mesmo as coisas
mais sagradas, como a misericórdia, podem ser corrompidas pelas motivações
egoístas. Com base nesta advertência de Jesus aos judeus de sua época, podemos
afirmar que:
a) A
misericórdia é uma expressão legítima da espiritualidade cristã. Em Israel,
à época de Jesus, dar dinheiro aos pobres era um dos mais sagrados deveres no
judaísmo. O socorro aos necessitados é uma expressão da verdadeira fé. Quem ama
a Deus, prova isso amando o próximo. Quem foi alvo da misericórdia divina, é
instrumento da misericórdia ao próximo. A pessoa não é salva pelas obras de
caridade, mas evidencia sua salvação por meio delas. A salvação não é pelas
obras, mas para as boas obras. A graça é a causa da salvação, a fé é o
instrumento, e as boas obras, o resultado.
b) A
misericórdia é uma prática esperada pelo cristão. Jesus não
diz “se deres esmola”, mas “quando deres esmola”. Com isso, Jesus afirma que se
espera que o cristão exerça a caridade. Um coração regenerado prova sua
transformação em atos de misericórdia. O cristão tem um coração aberto, o bolso
aberto, as mãos abertas e a casa aberta.
c) A
misericórdia não pode ser ostentatória. A prática da misericórdia não pode ser
ostentatória. Não é suficiente fazer a coisa certa: dar esmolas; é preciso
também fazer com a motivação certa. Dar esmolas e depois tocar trombeta,
chamando atenção para si, é uma espiritualidade farisaica, e não cristã.
d) A
misericórdia ostentatória só tem recompensa das pessoas, e não de Deus. O hipócrita
é a pessoa que desempenha um papel no palco como se fosse outra pessoa. Alguém
disse, e concordo com ela: “é mais fácil alguém fazer de conta que é reto, do
que ser reto de verdade”. A recompensa do hipócrita, que faz propaganda de seus
próprios feitos, é receber o aplauso das pessoas e nada mais. Jesus disse que o
hipócrita já recebeu o recibo de quitação plena de toda recompensa que tinha de
receber - “...Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão”.
e) A
misericórdia precisa vir de mãos dadas com a discrição (Mt.6:3) – “Mas,
quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”.
O cristão não dá ao pobre para ser visto nem para ser exaltado pelas pessoas,
nem para receber uma recompensa em alguma dimensão espiritual, mas dá para que
o necessitado seja suprido e Deus seja glorificado.
f) A misericórdia
exercida com a motivação certa recebe de Deus a recompensa (Mt.6:4) – “para que
a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará publicamente”. Aquilo que é feito ao próximo em secreto, longe dos
holofotes, recebe de Deus, que vê em secreto, a verdadeira recompensa.
3. As obras
de misericórdia são obras de amor ao próximo
Na
parábola do bom samaritano (Lc.10:25-27), Jesus mostrou que próximo é qualquer
um que esteja em nosso caminho e, em algumas oportunidades, o apóstolo Paulo
ensinou que fazer o bem a outrem é uma qualidade que não pode faltar àqueles
que dizem servir a Deus (Rm.12:13-21; Cl.3:12-14; 1Ts.4:9-12). O salvo não pode
se isentar de toda e qualquer ação que venha promover o bem-estar da
coletividade, que venha mitigar o sofrimento daquele que está ao nosso redor.
Portanto,
as obras de misericórdia são parte da prática do amor cristão, que, segundo
Jesus, deve ser estendido até mesmo ao inimigo (Mt.5:44) – “ Eu, porém, vos
digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que
vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”.
Obedecendo
esta mesma linha de ensino de Jesus, o apóstolo Paulo assim se expressa:
“Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe
de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça”
(Rm.12:20). Isto é fácil? Claro que não! Somente com a graça de Deus, e na
força do Espírito Santo, o cristão pode cumprir o mandamento de amar o inimigo.
4. As obras
de misericórdia são atos de benignidade. "Que o teu coração não seja
maligno, quando lhe deres"(Dt.15:10a). Pobreza não é maldição, é
consequência do sistema controlado por homens gananciosos. Os pobres estão no
nosso meio para que tenhamos oportunidade de exercitar amor.
“Livremente
lhe darás, e não fique pesaroso o teu coração quando lhe deres; pois por esta
causa te abençoará o Senhor teu Deus em toda a tua obra, e em tudo no que
puseres a mão"(Dt.15:10).
Não
se arrependa de haver dado, nem sinta dor no coração. O apóstolo João é
enfático: quem vir a seu irmão padecer necessidade e não suprir essa
necessidade não é cristão - “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu
irmão necessitado, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de
Deus?”(1João 3:17).
5. As obras
de misericórdia são um mandamento divino. Este mandamento é dito tanto no
Antigo Testamento como no Novo Testamento, ou seja, ele foi dado para Israel e
para Igreja.
Deus
reconheceu a existência dos pobres no meio do seu povo e ordenou providência a
respeito deles - “Pois nunca cessará o pobre do meio da terra”(Dt.15:11a). Esta
é a frase que mais contraria a pregação contemporânea da teologia da
prosperidade. Pretende-se exterminar a pobreza no meio da igreja, no entanto, o
texto declara: "Pois nunca cessará o pobre do meio da terra". E Jesus
ratifica: "Porque os pobres sempre os tendes convosco"(João 12:8). O
sábio Salomão enfatiza que o pobre foi feito por Deus – “O rico e o pobre se
encontram; a um e a outro faz o SENHOR” (Pv.22:2).
Compete
àqueles que tem recursos, minimizar a situação dos pobres. Deus não prometeu
riquezas para todos, porém, daqueles a quem ele deu e dá riqueza, no exercício
da Mordomia Cristã das obras de misericórdia, Ele quer que os pobres não sejam
esquecidos, tal como aconteceu na Igreja de Jerusalém - “Não havia entre eles
necessitado algum...”(Atos 4:34). Pobres, sim; necessitados, não. Esta é a
regra a ser seguida pela Igreja, hoje.
CONCLUSÃO
É
mister que a Igreja dê o exemplo, que tenha, a partir de sua membresia, ações
efetivas que mostrem ao mundo que somos diferentes e que cremos num Deus
poderoso, justo e misericordioso. Enquanto nós mesmos nos mantivermos alheios
ao sofrimento do irmão, egoístas e sem compaixão, seremos totalmente impotentes
com relação ao lamentável estado de coisas que vive a nossa sociedade e, pior
do que isto, cúmplices e envolvidos em toda a sorte de desatinos, desvios e
corrupções, como, lamentavelmente, têm ocorrido em escândalos cada vez mais
frequentes no nosso meio. Que Deus nos desperte e que tenhamos misericórdia,
benignidade e bondade em nossas obras. As obras de misericórdias são o
testemunho bíblico da nossa fé.
Referências
Bibliográficas:
Bíblia
de Estudo Pentecostal.
Bíblia
de estudo – Aplicação Pessoal.
Comentário
Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.
Revista
Ensinador Cristão – nº 79. CPAD.
Comentário
Bíblico Pentecostal. CPAD.
Comentário
do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
Pr.
Elinaldo Renovato. Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel e prudente com
as coisas que Deus nos tem dado. CPAD.
Ev.
Caramuru Afonso Francisco. Benignidade e Bondade, o fruto gêmeo.PortalEBD_2005.
Rev.
Hernandes Dias Lopes. Mateus – Jesus, o Rei dos reis.
Disponível
no Blog: http://luloure.blogspot.com