29 de agosto de 2018

Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz


Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz

TEXTO ÁUREO = “Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.”(Hb 13.15)

VERDADE PRÁTICA = O crente oferece sacrifícios pacíficos a Deus quando pratica e semeia a paz do Senhor Jesus Cristo no poder do Espírito Santo.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = Levítico 7.11-21

OBJETIVO GERAL

Compreender que o crente oferece sacrifícios pacíficos a Deus quando pratica e semeia a paz do Senhor Jesus Cristo no poder do Espírito Santo.

HINOS SUGERIDOS: 17, 262, 400 da Harpa Cristã

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

I. Mostrar a excelência da oferta pacífica;
II. Discutir a respeito da oferta pacífica na história sagrada;
III. Compreender a oferta pacífica na vida diária.

INTRODUÇÃO

Embora o sacrifício pacífico exija a presença de animais e envolva derramamento de sangue, sua natureza e caráter não se caracterizam como sacrifícios de expiação. Embora ainda, o caráter e a natureza do sacrifício pacífico apresente semelhança com a oferta de manjares, pois não se tratam de “sacrifícios de expiação”, mas de “oferta de ações de graça” (Lv 2.12; 7.12,16; 23.9-15; Êx 23.16-19), um estudo comparativo entre estes dois tipos de rituais, suas semelhanças se conseguem dissolver rapidamente: Na oferta de manjares, por exemplo, a oferenda era tipicamente de alimentos (Lv 2.1-14; 23.9-15), enquanto que no sacrifício de ofertas pacíficas era de animais (Lv 3.1-6; 7.11-20); na oferta de manjares não havia derramamento de sangue (Lv 2.1-3), já no sacrifício pacífico havia (Lv 3.1-3); na oferta de manjares somos convidados a expressar nossa dedicação, compromisso e gratidão a Deus pela vida e pela provisão diária, enquanto que no sacrifício das ofertas pacíficas somos convidados a exprimir nossa comunhão, louvor, gratidão e regozijo, pelas bênçãos recebidas, livramentos acontecidos e cumprimento de votos ocorridos (Lv 3.12-17,30-31; 7.11-16).

UMA OFERTA PARA COMUNHÃO

Os sacrifícios pacíficos são conhecidos no livro de Levíticos, além de oferta pacífica, como ofertas de comunhão. O ritual do sacrifício apresentava em sua natureza o caráter de comunhão, pois o cerimonial se transformava em ocasião de regozijo em que todos: Deus, o sacerdote e o ofertante participavam e se alimentavam do mesmo sacrifício. Significando que o ofertante estava ali exercitando sua comunhão com Deus, com a família sacerdotal e com o povo, já que ele podia convidar outros da comunidade a também participarem da mesa.

Assim, cada vez que um israelita decidia oferecer uma oferta pacífica ele tinha não somente a oportunidade de refletir sobre os privilégios de fazer parte do povo de Deus, como também, a oportunidade de confraternizar e dividir os momentos alegres ao redor de uma “mesa” com Deus, com os sacerdotes, e com a comunidade. Nesse sentido, então, o cerimonial constituía, em si, uma espécie de serviço de comunhão. Algo meio que similar à ordenança da Ceia do Senhor, às quais a igreja comemora periodicamente (1 Co 11.23-25).

A comunhão do adorador

A oferta pacífica representa a comunhão do adorador com o Senhor. Como já dissemos, o ofertante come do sacrifício que pertence ao Senhor. Contudo, antes que qualquer pedaço da oferta pacifica pudesse ser consumida, a gordura tinha de ser queimada como oferta de cheiro suave. Significando que Deus ficava com a melhor parte. A gordura aqui representa a preciosidade de Cristo, a qual apenas Deus pode apreciar na sua totalidade. Hoje, para nós, adoradores, a comunhão é a certeza de que podemos, em Cristo, se aproximar de Deus, sentar-se à mesa com Ele, louvar e adorá-Lo em gratidão.

Comunhão com Deus

A oferta pacífica representa que a nossa comunhão com Deus se torna possível por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. Ela aponta para aquele que é a nossa paz e a nossa comunhão, feito pelo seu sangue derramado na cruz (Cl 1.20).

A imposição de mãos na cabeça do animal significa que o adorador e ofertante se faz um com ele (simbolicamente o animal aceitaria participar da natureza do ofertante), assim, como nós só poderemos aparecer diante de Deus e comungar com Ele mediante a “aceitação” de Cristo. Somente por meio de Cristo e pela contemplação de Seu sacrifício é que temos comunhão com o próprio Senhor, com Deus e com os irmãos.

Comunhão de toda família sacerdotal

Era basilar que os sacerdotes atuassem nos serviços cerimoniais das ofertas, sacrifícios e cultos oferecidos a Deus.
Em algumas solenidades as responsabilidades individuais ou coletivas dos sacerdotes podem também representar o papel e a ação coletividade dos cristãos no serviço de comunhão e adoração. Assim, como os sacerdotes exercia importante papel na comunhão do adorador, assim, cada um de nós, individualmente ou coletivamente devemos também contribuir para promover a comunhão de toda família e da comunidade cristã. Esta era a ideia usada pelo escritor de Atos, quando disse: “Diariamente perseveram unânimes no templo, no partir do pão de casa em casa e comiam suas refeições com alegria e singeleza de coração” (At 2.42).

UMA OFERTA DE GRATIDÃO

A pior doença da memória não é a amnésia, mas a ingratidão. As pessoas costumam buscar a Deus quase sempre nos momentos difíceis, com a finalidade de pedir. Mas, quantos dedicam momentos de suas vidas em agradecimentos a Deus? Outra importante finalidade pela qual Deus instituiu os sacrifícios pacíficos foi para que o povo não se esquecesse de serem gratos. Por isso, grande parte dos sacrifícios pacíficos era oferecida em caráter de agradecimento por uma necessidade suprida, por oração respondida ou por um voto ocorrido (Lv 7.11-12,15).

Em regra, o voto era uma promessa solene de oferecer um presente a Deus em agradecimento pela resposta ao favor solicitado e prontamente respondido por Deus, como: uma libertação, um livramento de morte, de enfermidades ou de aflições, etc (Sl 7.17; 56.12; 107.22; 116.17; Lv 22.18-23). Mas a gratidão não é para ser praticada só quando fazemos um voto, conseguimos uma casa nova, um carro novo, ou quando nos casamos... É para todas as horas. O Apóstolo Paulo é claro: “Em tudo dai graças” (1 Ts 5.18). 

Gratidão pelas necessidades supridas

Gratidão é uma atitude de reconhecimento pelas necessidades supridas. A começar pela vida temos muitos motivos para ser gratos a Deus: nossa salvação, nossa saúde, nossa casa, nossa família, nosso trabalho, nossos amigos, bem como outros inumeráveis benefícios que vão além de nossas meras necessidades supridas. Não podemos ficar esperando algum culto de gratidão para agradecer a Deus. Precisamos dar graça sempre.

 Gratidão pelas orações respondidas

A Gratidão é uma atitude de reconhecimento também pelas orações respondidas. A Bíblia contem muitos exemplos de pessoas que oraram a Deus, tiveram suas orações respondidas e foram gratos a Deus. Dentre muitos outros podemos citar Ana, Elias, Ezequiel e Daniel (1 Sm 2.1-10; 1 Rs 18.36-37; 2 Rs 19.15-19; Dn 9.3-21). O Apóstolo Paulo era um grande incentivador de não apenas fazer orações, mas também de sermos agradecidos: “Não estejais ansiosos de coisa alguma, mas em tudo, por oração e suplica, junto com agradecimento, fazei conhecer as vossas petições a Deus” (Fp 4.6-7).
Gratidão pela revelação de Deus

Outra grande razão pela qual a Bíblia nos ensina a ser grato é que Jesus cristo se fez carne a fim de que conhecêssemos o Pai (Jo 1.14,18). Sacerdotes mediavam com sacrifícios. Sangue inocente era derramado em favor de adoradores imperfeitos, injustos e pecadores para poderem ter acesso a Deus. Mas, agora através da revelação de Cristo e de seu sacrifício eficaz, Ele nos permite que tenhamos livre acesso e aproximemos Dele com coração sincero e purificado da má consciência (Hb 10.19-22).

Por isso, não devemos apenas estar gratos, devemos ser gratos, pois a partir da revelação gloriosa de Jesus Cristo encontramos a entrada do aprisco e passamos a ter a oportunidade de saber que somos o seu povo e rebanho de seu pasto (Jo 10.2-4). O salmista convida a entrarmos por suas portas com ações de graça e nos seus átrios com hinos de louvor (Sl 100.1-4).

UMA OFERTA DE PAZ

Embora os sacrifícios pacíficos fossem em certo sentido como “ofertas de paz”. Não podemos apregoar dizendo que este tipo de sacrifícios tinha como finalidade apaziguar a ira de Deus. A natureza desse sacrifício não é expiatória, mas de ações de graça. Além do mais, o sentido da palavra tem sido motivo de algumas discussões no meio teológico, pois etimologicamente o terno original expressa muito mais “bem-estar” do que necessariamente “paz”. Daí a razão de alguns estudiosos e tradutores usarem a expressão “oferta de comunhão” ao invés de “oferta de paz”. Entendo que em razão desse tipo oferta ser obrigatoriamente oferecidos depois dos sacrifícios de expiação, faz sentido usar aqui a expressão “oferta de paz”, já que o ofertante no momento de sua oferta, já desfruta de plena paz com Deus. Por isso, a oferta além de ser agradável a Deus, proporcionava uma refeição em que Deus e o homem se encontram e se relacionam.

Paz interior

Paz interior é o estado de se estar espiritualmente em paz consigo mesmo. Ter paz interior não significa que não vamos ter problemas, dificuldades ou inquietações. É possível estarmos no meio de um bombardeio, acusações e questionamentos e ainda assim estarmos em plena paz. A paz de espírito não se evidencia necessariamente em nossos atos serenos e pacíficos, mas principalmente na tranquilidade da consciência e na certeza do coração que está em Deus. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se pertube nem se intimide o vosso coração” (Jo 14.27). Jesus é a nossa paz.




Paz com o próximo

A paz é uma virtude cristã e está intimamente relacionado com o fruto do Espírito (Gl 5.22). A Bíblia enfatiza a importância do bom relacionamento e principalmente o cuidado que devemos ter de uns para com os outros. O apóstolo Paulo, por exemplo, escrevendo aos Romanos disse: “Se possível, quando depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). O escritor aos hebreus disse: “Segui a paz com todos...” (Hb 12.14).

Quando os escritores sacros escrevem sobre a paz, suas intenções é deixar claro que não devemos apenas viver em paz, mas também cultivar e promover a paz com todos no que depender de nós. Devemos empenhar todas as nossas energias para que esse alvo seja alcançado. Jesus impetrou uma bem-aventurança sobre aqueles que são pacificadores (Mt 5.9).

Paz com Deus

Em Jesus Cristo estamos reconciliados e aceitos por Deus. Essa reconciliação nos traz ao coração um profundo sentimento de paz. Antes de aceitarmos a Cristo como Salvador e Senhor de nossas vidas nossa natureza interna estava um caos e em verdadeira guerra com Deus. Nossa razão em vez de ser guiada pelo conhecimento de Deus escolhe obedecer a uma imaginação corrompida. No entanto, quando aceitamos o sacrifício de Cristo, as coisas dentro de nós passaram a experimentar uma mudança agradável. É a paz com Deus, aquele que excede todo o entendimento (Fp 4.7).

CONCLUSÃO

O sacrifício pacífico na vida do crente israelita permitia que ele estivesse em harmonia com as exigências religiosas e automaticamente gozasse de uma comunhão com Jeová, do mesmo modo o crente em Jesus, além de gozar da salvação pela sua graça, usufrui de plena comunhão Deus. Que possamos oferecer continuamente a Deus sacrifícios de louvor, que é fruto de lábios que glorificam o seu nome (Hb 13.15-16). 


Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério - Em Dourados – MS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REVISTA BETEL DOMINICAL: Jovens e Adultos. Levítico – O ministério sacerdotal levítico e sua relevância para a Igreja. Rio de Janeiro: Editora Betel – 1º Trimestre de 2018. Ano 28 n° 106. Lição 04 – O sacrifício pacífico.

MESQUITA, Antônio Neves de. Estudo no Livro de Levítico. 3º Edição. Rio de Janeiro. JUERP, 1980.

COMENTÁRIO BÍBLICO BROADMAN, Tradução de Arthur Anthony Boorne - Volume 2 – Levítico a Rute. Rio de Janeiro. JUERP, 1986.

BÍBLIA DE ESTUDO MATTHEW HENRY. Português. Tradução Elen Canto, Eliane Mariano e outros. Editora Central Gospel Ltda. 1ª Edição. Rio de Janeiro – RJ. 2014.

BÍBLIA DE ESTUDO NVI - Português. Tradução de Nota: Chown, Gordon. Editora Vida.

COMENTÁRIOS ADICIONAIS


OFERTAS PACÍFICAS PARA UM DEUS DE PAZ

INTRODUÇÃO

Veremos, neste capítulo, por que a graça e a paz, tidas como virtudes teologais, são imprescindíveis à vida cristã. Nas epístolas paulinas, vêm mencionadas conjuntamente: são irmãs gêmeas, inseparáveis. Se nos voltarmos às ofertas pacíficas do livro de Levítico, constataremos que elas constituíam o cerne da alma do ofertante. Por essa razão, os princípios coinológicos, ou seja, de comunhão, que acompanhavam tais sacrificios, têm de ser aplicados com urgência escatológica ao mundo evangélico atual.

Embalada por tralhas, refugos e modismos, como a teologia da prosperidade e a confissão positiva, boa parte dos crentes, hoje, é mais doutrinada a pedir do que a agradecer. Em suas orações, quer públicas, quer privadas, os tais crentes não demonstram a mínima referência a Deus. Tratam-no como se Ele não passasse de um lacaio ou de um mero garoto de recados. Já não vêem Deus como Deus. Enxergam-no como o mordomo que, nas mansões e palacetes, inibe-se à espera do próximo capricho de um crente mundano e compromissado com as obras infrutuosas das trevas.

Nesse mundo estranho e bizarro, desprezam-se as ofertas de paz e os sacrifícios de louvor. Tais formas de adoração, tão comuns à Igreja Primitiva, rareiam-se hoje. Aliás, por que agradecer se é mais lucrativo exigir e determinar? Mas a Palavra de Deus exorta-nos à gratidão e ao reconhecimento. Ao bom e santo Senhor, deveríamos agradecer até mesmo pelas lutas e vicissitudes; sem estas, jamais teríamos qualquer experiência pessoal com Jesus Cristo.

A fim de compreendermos as ofertas de paz prescritas no Levítico, deter-nos-emos, inicialmente, em duas ciências teológicas que nem sempre são lembradas: a irenologia e a carislogia. Nesta era, de completa inversão de valores, até mesmo na Igreja de Cristo, é urgente um retorno à paz e à graça do Senhor Jesus.

I.  IRENOLOGIA, UM ESTUDO URGENTE

Quando ainda jovem, li um livro, escrito por um general francês, acerca da ciência da guerra. Já nas páginas iniciais, descobri que o estudo das artes bélicas recebe um nome quase eufônico: polemologia. Acredito que tal nomenclatura aplica-se também aos confrontos ideológicos e doutrinários. Mas, ao por-me a escrever o presente capítulo, veio-me à mente uma pergunta: “Existe alguma ciência dedicada à pesquisa científica da paz?”. Pesquisei. E vim a descobrir duas páginas que tratam do assunto, uma em latim e outra em espanhol. A esse saber, um tanto peregrino, dá-se o nome de irenologia.

1. Irenologia, a definição de uma ciência ainda desconhecida. A palavra irenologia é composta por dois vocábulos gregos: eirene, paz, e logos, estudo. Portanto, a irenologia é o estudo sistemático da paz conforme a concebem as diversas culturas, sociedades, religiões e saberes. Trata-se de uma disciplina acadêmica, que tem por objetivo investigar as condições, o ambiente e os envolvidos no esforço comum para se estabelecer, manter e promover a paz quer entre nações, quer entre grupos sociais ou mesmo entre indivíduos.

Os estudos irenológicos andam, paradoxalmente, de mãos dadas com os polemológicos. No estouro de um conflito, armado ou não, a primeira coisa a ser buscada é a paz. Nesse esforço, até mesmo um armistício é motivo de festejos e comemorações. Etimologicamente, o termo “armistício”, oriundo do latim armistitium, significa “cessação das armas”. Nessas ocasiões, como resultado dos movimentos diplomáticos, os lados envolvidos sentam-se a negociar uma paz definitiva; às vezes, nem provisoriamente se logra obtê-la. Naquele momento, os adversários igualam-se à mesa de negociações; todos querem acabar com o conflito; pelo menos é o que se espera.

Todavia, nem sempre a ausência de um conflito armado pode ser qualificada como paz. Há de fato ausência de guerra, mas não há presença de paz efetiva. Foi o que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial.
A União Soviética e os Estados Unidos, polarizando o mundo, viveram uma guerra fria de quatro décadas. Se nos voltarmos à Bíblia, porém, descobriremos que a paz é possível até mesmo em meio aos embates mais violentos.

2. Paz, uma definição sempre possível e esperada. Tenho para mim que a paz é caracterizada por uma serenidade íntima inexplicável. Foi o que Paulo escreveu aos irmãos de Filipos sempre às voltas com os inimigos da cruz: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.7, ARA). Como explicar semelhante paz que amaina até o sol mais abrasador ou a tempestade mais bravia.

Em hebraico, a palavra paz vai além de um mero enfoque filosófico. O termo shalom, além de paz, evoca augúrios de saúde, prosperidade e autocontrole. Quando um judeu pergunta ao seu companheiro: “Como vai você?”. Em hebraico: Ma sh1omía? Na verdade, indaga-lhe, antes de tudo: “Como vai a sua paz?”. Hoje, infelizmente, o poético e doce vocábulo foi reduzido a um trivial “oi” ou a um mero “olá”. É o que se observa no cotidiano israelense.

No grego, a palavra eirene, traduzida adequadamente para a língua portuguesa como paz, tem uma origem interessante, apesar da mitologia que a cerca. Irene era filha de Zeus e de Têmis. Juntamente com suas irmãs Eunomia e Dice, achava-se responsável pelo bom andamento das coisas. Enfim, a boa e solícita Irene tinha por tarefa zelar pelas afeições cósmicas. Se ela viesse a falhar, Céus e Terra perderiam toda a harmonia, melodia e ritmo; a música universal seria impossível.

Quando nos voltamos à Bíblia Sagrada, constatamos que a verdadeira paz vai além dos mitos e transcende as academias mais lógicas. Em Isaías, descobrimos que a paz tem como príncipe o Filho de Deus. O profeta, ao alinhar os principais títulos de Jesus Cristo, poeticamente anuncia: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6, ARA).

Se a paz tem como príncipe o Senhor Jesus, como podemos defini-la? Antes de tudo, ela não é uma simples e expectada ausência de conflitos; ela é possível até mesmo em meio aos entreveros mais indescritíveis. Alguém, certa vez, pintou-a como um pássaro a cantar em plena tempestade. Enquanto tudo ruía à sua volta, a avezinha teimosamente canora trinava uma bela melodia ao Criador. Se na paz, não temos paz, como nos comportaremos num conflito? Foi o que o Senhor indagou ao seu profeta: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5, ARA).


Às vezes, surpreendo-me na mesma condição de Jeremias. Embora tudo à minha volta rescenda à paz, acho-me em guerra comigo mesmo. Mas, como superar os conflitos que nos assolam a interioridade? A resposta é simples e teologicamente comezinha: encher-se do Espírito Santo, o promotor da paz por excelência.

3. Jesus é o Príncipe da Paz. Sim, o Senhor Jesus é o Príncipe da Paz. Que nobiliarquia pode ostentar semelhante título? Nenhum monarca terreno, ainda que traga a alcunha de pacífico, reúne as condições necessárias para efetivar a paz no coração humano. Uma paz, aliás, que só foi possível no Calvário, conforme escreve Paulo: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.1,2, ARA).

Nessa passagem, observamos que a verdadeira paz é o resultado de um processo redentor que, tendo início antes da fundação do mundo, culminou na morte, ressurreição e glorificação de Jesus Cristo. Por intermédio de seu sacrifício vicário, Ele reconciliou-nos com Deus, tornando-nos propícios à sua justiça. No exato instante em que o aceitamos como Salvador e Senhor, justificou-nos Ele perante o Justíssimo Deus. E, desde então, passamos a ser vistos, pelo Juiz de toda a Terra, como se jamais tivéssemos cometido qualquer delito, transgressão ou pecado. O encerramento desse processo judicial, junto à corte celeste, trouxe-nos uma paz que o mundo não pode conhecer.

É por essa razão, primordial e essencialmente soteriológica, que o Senhor Jesus foi honrado com a elevada nobiliarquia de Príncipe da Paz. Não podemos atribuir-lhe semelhante título apenas em virtude das profecias que o mostram a pacificar as nações no Milênio. Ele é assim chamado, porquanto infunde, nos corações mais tormentosos e revoltos, a paz que excede todo o entendimento.

No ato de nossa conversão, recebemos a paz como resultado do processo de justificação perante o trono de Deus. Todavia, para mantermos a qualidade e a excelência dessa mesma paz, é imperativo cultivá-la, não como um mero adorno processual, mas como fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Se o fizermos, não teremos dificuldade alguma em oferecer a Deus o que o autor sagrado chama de sacrifícios de louvor. Era assim que o adorador do Antigo Testamento apresentava-se ante Jeová para apresentar-lhe ofertas e dons pacíficos. Nesse ato litúrgico, ele sabia que estava sendo contemplado pela graça divina que, tanto naquele tempo quanto agora, deve acompanhar todas as nossas devoções.

II. CARISLOGIA, UM ESTUDO GRACIOSO

Nos meus primeiros estudos teológicos, deliciei-me ao descobrir que a definição de graça era favor imerecido. A partir daquele dia, sempre que me era facultada a oportunidade de pregar, gostava de evocar aquela lição que, conquanto simples, é tão elevada e eficaz.

Decorridas quatro décadas, ainda me delicio com o estudo da graça de Deus. Hoje, porém, constato que as implicações teológicas dessa virtude teologal são mais profundas do que eu supunha naquela época já distante e bela.

1. A graça não é uma deusa; é um dom de Deus. Não sei por que Homero e Hesíodo apraziam-se em ornar a árvore genealógica do imoral Zeus com as mais elevadas virtudes morais. A graça, por exemplo, era tida em tão alta conta que, no Olimpo, aparecia como trigêmea. Sempre juntas, as três irmãs, talvez as filhas mais queridas de Zeus, eram as divindades responsáveis pelos banquetes, encontros, concórdias e riquezas.

Vistas assim, as Graças do Olimpo em nada diferiam das socialites que estrelam nas revistas, jornais e televisões. Sua reputação, segundo Homero, era nada recomendável; faziam parte da comitiva de Afrodite, a deusa da libido, cuja alcovitice era bem conhecida nas paragens olímpicas e nos recônditos gregos.

Nas Sagradas Escrituras, a graça jamais foi uma deusa. Quer no Antigo, quer em o Novo Testamento, ela aparece aqui, entre os apóstolos; ali, junto aos profetas e justos. E, mais além, ressurge com os peregrinos que subiam a adorar em Jerusalém. A graça é mais do que um atributo divino. Entre as perfeições, bondades e grandezas do Senhor, evidencia-se como a qualidade que lhe expressa o amor, até mesmo nos momentos de castigo, disciplina e provação. A graça não é uma deusa; é a mais sublime expressão do Deus amoroso e bom.

2. Graça, a virtude teológica por excelência. Na língua hebraica, há uma palavra usada para sublimar a graça divina: chesed. Seus significados emprestariam beleza ao cântico mais simples e à poesia mais singela: bondade, favor, amorosa benignidade. À semelhança de sua congênere grega, pode ser resumida numa única expressão: obséquio imerecido. Trata-se de algo que recebemos sem o merecermos.

Em grego, a palavra “graça” provém do vocábulo kharis; sua etimologia lembra alegria e contentamento, O seu real significado, porém, vai além da semiologia clássica. Nessa lexicografia, ajuntemos estes piedosos sinônimos: bondade, amor incondicional, dom gratuito, generosidade e, também, favor inesperado.

O substantivo “carislogia” é formado por dois vocábulos gregos: kharis: graça; e logia, estudo. Esse termo, que não é um simples neologismo, significa etimologicamente “estudo da graça”. Por ser a maior expressão do amor de Deus, a graça merece um estudo mais atento e próprio.

De meus estudos bíblicos, sou levado a inferir que a graça é a síntese das três virtudes cardeais que recebemos no ato da conversão: fé, amor e esperança. Aliás, a graça salvadora nos é manifestada antes mesmo de conhecermos a Jesus.
Mas é somente por meio da fé salvadora que começamos a experimentá-la interiormente. Quanto mais amamos a Deus e ao próximo, mais a graça, agora multiforme em seus feitos redentores, faz-se presente em nossa vida. Nessa militância por Jesus Cristo, ela é a esperança do arrebatamento; constrange-nos a ir além de nossos próprios limites.

Se, por acaso, vermo-nos cansados e já por esmorecer, ouviremos do Senhor aquele lenitivo que levou Paulo ao Terceiro Céu: “A minha graça te basta” (2 Co 12.9). Nessa declaração de Cristo, todas as nossas carências e necessidades, quer espirituais, quer emocionais, ou até mesmo físicas, são plenamente supridas; em glória são supridas (Fp 4.19). No enunciado ao apóstolo dos gentios, Jesus deixava-lhe bem claro que, em sua graça, temos as virtudes e provisões de que precisamos para alcançar a Jerusalém Celeste.

Quando o crente hebreu, por conseguinte, apresentava ao Senhor um sacrifício pacífico manifestava ali, diante do altar, por intermédio de gestos e ações dramáticas, a graça que lhe ia na alma, O ofertório era apenas a exteriorização daquilo que lhe inundava o coração: os favores imerecidos de Deus. E, se tantos favores recebia, por que não agradar a Deus com uma oferta de paz? Tal princípio não deve perder-se nas páginas do Levítico; tem de ser posto em prática em nosso atribulado dia a dia.

3. Graça e paz, a comunidade dos sacrificios de louvores. Em suas epístolas, Paulo saudava as igrejas com uma fórmula que, embora provinda do grego e do hebraico, expressava a plenitude do Evangelho: graça e paz (Rm 1.7; I Co 1.3; Ef. 1.2).

Ao dirigir-se aos santos com uma expressão tão profunda e significativa, o apóstolo conscientizava-os de que eles se constituíam na comunidade de sacrifícios de louvores e paz por excelência: obra da graça. Mesmo sem a beleza da liturgia e do cerimonialismo levíticos, não deixavam eles de expressar toda a formosura da vida cristã.

O que é um sacrifício de louvor? Atentemos às palavras do autor da Epístola aos Hebreus: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15, ARA). Nessa exortação, distinguimos a diferença entre o sacrifício de louvor do Antigo e o do Novo Testamento, O primeiro era gestual e dramático; o segundo é oral e marcado por amorosas proposições.

Aquele dependia de um altar; este tem como altar o próprio adorador que, soteriologicamente, é o templo do Espírito Santo. Na Antiga Aliança, o crente dependia de um lugar específico para oferecer a sua oferenda ao Senhor. Já em a Nova Aliança, o discípulo de Jesus é instado a demonstrar o seu culto racional em todos os tempos e lugares; ele é o altar e o santuário.

O sacrifício de louvor manifesta-se por meio do fruto dos lábios, Louvando a Deus em todo o tempo, não nos desboquemos em murmurações, impropérios e palavras de calão. Em todo o tempo, demonstremos nossa gratidão ao Senhor, Até mesmo nas instâncias mais insuportáveis, curvemo-nos, qual Jó resignado, a adorar aquEle que faz com que todas as coisas concorram para o bem dos que o amam.

Mais adiante, voltaremos a falar da Igreja de Cristo como a sociedade de sacrifício de louvores. Agora, faremos uma pausa para ver como os hebreus apresentavam suas oferendas pacíficas a Jeová.

III. A EXCELÊNCIA DA OFERTA PACÍFICA

Os dois sacrifícios mais antigos da História Sagrada são o holocausto e a oferta pacífica. Ambas as oferendas eram tidas, às vezes, como um único sacrifício,

1. Oferta pacífica. A voluntariedade da oferta pacífica fica bem evidente no livro de Levítico (Lv 7.12). A oferenda, para ser caracterizada como tal, deveria ser acompanhada de ações de graças; nenhuma petição era admitida, Naquele momento, o crente hebreu tinha como único desejo adorar e agradecer ao Senhor por todas as bênçãos, galardões e livramentos, Nos Salmos, as ofertas pacíficas manifestam-se em louvores ao Senhor por todas as suas benignidades (SI 106,1). Leia atentamente os Salmos 118 e 136.

Nas Escrituras do Novo Testamento, somos instados a oferecer a Deus contínuas ações de graças (I Ts 5.18). Dessa forma, jamais perderemos a comunhão quer com Deus, quer com a Igreja de Cristo (Cl 3.15).

2. Tipos de ofertas pacíficas. As ofertas pacíficas compreendiam três modalidades ou fases: ações de graças, voto e oferenda movida diante do altar.

a) Ações de graças. A fim de agradecer ao Senhor por um favor recebido, o crente hebreu oferecia-lhe bolos e coscorões ázimos amassados com azeite. Os bolos, feitos da flor de farinha, tinham de ser fritos (Lv 7.12-15). A carne, que acompanhava o sacrifício pacífico, devia ser consumida no mesmo dia (Lv 7.15).

Os produtos trazidos a Deus eram acompanhados de louvores (Hb 13.15). Tanto ontem quanto hoje, somos instados a louvar e a enaltecer continuamente o Senhor.

b) Voto. Nos momentos de angústia, os filhos de Israel faziam votos ao Senhor, prometendo-lhe ofertas pacíficas (Gn 28.20; I Sm 1.1 1). Nesse caso específico, o sacrifício poderia ser comido tanto no mesmo dia quanto no dia seguinte (Lv 7.15,16). No terceiro dia, nada dele podia ser ingerido. O voto, por ser uma ação voluntária, requeria igualmente uma atitude voluntária. Que o ofertante participasse das ofertas com alegria e regozijo.
c) Oferta movida. Na última etapa, o adorador entregava a oferta pacífica ao sacerdote que, seguindo o manual levítico, aspergia o sangue do sacrifício sobre o altar. Em seguida, queimava a gordura do animal (Lv 7.30). O peito era entregue a Arão e a seus filhos. Num último ato, o sacerdote movia a parte mais excelente da oferenda perante o altar: o peito e a coxa (Lv 7.31-35).

Objetivos das ofertas pacíficas. Como já dissemos, eram dois os objetivos da oferta pacífica: aprofundar a comunhão entre Deus e o crente, e levar o ofertante a reconhecer que tudo quanto temos vem do Senhor, porque dEle é a terra e a sua plenitude (Sl 24.1).

IV. A OFERTA PACÍFICA NA HISTÓRIA SAGRADA

Neste tópico, veremos três exemplos de pessoas que fizeram voto ao Senhor, e foram plenamente atendidas: Jacó, Ana e Davi.

1. Jacó, filho de Isaque. Quando fugia de Esaú, seu irmão, Jacó fez um comovente voto ao Senhor. Depois de ter visto o céu aberto e os santos anjos subirem e descerem sobre uma escada que ligava a Terra ao Céu, prometeu ao Deus de seus pais: “Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus” (Gn 28.20,2 1). A partir daí, o patriarca tornou-se um fiel e zeloso adorador (Gn 35.1-3).

Fazer votos ao Senhor não constitui pecado algum. Lembro-me de que, certa vez, minha mãe fez um voto a Deus em favor de meu irmãozinho, que se achava gravemente enfermo. Segundo os médicos, a broncopneumonia acabaria por matar o Eliseu; um bebê frágil, já moribundo. Mas, para a nossa surpresa, Jesus interveio eficazmente, trazendo-o de volta a casa.

Não podemos fazer do voto, porém, um aríete contra a vontade divina. Quer Deus nos atenda, quer não, Deus continua a ser Deus. Além disso, o voto não pode contemplar o costumeiro e o ordinário de nossas obrigações junto ao Reino de Deus; antes, deve compreender o incomum e o extraordinário. Num voto, não há por que incluir o dízimo, por que este já é uma parte obrigatória da mordomia cristã. Prometamos-lhe, então, uma generosa oferta missionária.

2. Ana, mãe de Samuel. Afligida por sua rival, por não dar filhos a Elcana, seu marido, a desolada Ana fez este voto ao Senhor: “Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (I Sm 1.11, ARA). Após haver desmamado a Samuel, entregou-o ao Senhor, cumprindo a ordenança quanto ao sacrifício pacífico (I Sm 1.24-28).

O altruísmo de Ana caracteriza admiravelmente o sacrifício pacífico. Ela, que ainda não tinha filhos, rogava um ao Senhor, para, em seguida, santificá-lo ao serviço divino. Pode haver maior sacrifício que este? Em sua atitude, observamos uma forte convicção messiânico-soteriológica. Sem o saber, consagrava o seu primogênito à redenção de Israel. E, de acordo com a História Sagrada, o profeta Samuel impulsionou a libertação dos israelitas; julgou-os e ungiu-lhes os dois primeiros monarcas.

3. Davi, rei de Israel. Pelo que observamos nos Salmos, Davi foi o homem que, em todo o Israel, mais sacrifícios pacíficos apresentou ao Senhor (51 22.25; 56.12; 61.5,8). Aliás, os seus cânticos já são, em si mesmos, um sacrifício de louvor e paz ao Deus de Abraão.

Na biografia de Davi, encontramos não um rei, em primeiro plano, mas um homem apaixonado pelo Senhor. Tem-se a impressão de que ele andava de sacrifício em sacrifício e de voto em voto. Eis porque, ao pecar duplamente contra Deus, centuplicadamente viu-se no pó e na cinza. Para o homem segundo o coração de Jeová, mais valia um sacrifício de louvor do que mil pelo pecado.

V. A OFERTA PACÍFICA NA VIDA DIÁRIA

De que modo apresentaremos, hoje, nossos sacrifícios pacíficos ao Senhor? Há três maneiras: consagrando-nos; perseverando nos sacrifícios de louvores e adorando a Deus em todo o tempo.

1. Consagração incondicional. O melhor sacrifício que um crente pode oferecer ao Senhor é apresentar a si mesmo a Deus (Rm 12.1). Neste momento, nossa oferenda é, além de pacífica, amorosa e plena de serviços. A partir daí, começamos a experimentar as excelências da vontade divina. Paulo considerava-se uma libação ao Senhor Jesus (II Tm 4.6).

Num momento tão difícil e escatológico quanto este, entreguemo-nos sem reservas a Cristo. Que homens e mulheres, moços e moças e meninos e meninas, desprezando os encantos do presente século, deleitem-se em servi-lo. Já é momento de nos depositarmos no altar divino; sacrifício pacífico.

2. Sacrifícios de louvores. Oferecemos um sacrifício de louvor a Deus, quando lhe cumprimos plenamente à vontade (Hb 13.15). Mas, para que a plenifiquemos em nosso dia a dia, é imprescindível apresentarmo-nos diante dEle com um espírito humilde e quebrantado (SI 51.17). Ao nos conformarmos à sua vontade, entregamos-lhe a mais excelente das oferendas: nosso amor incondicional e provado.

Veja o Senhor Jesus. Até mesmo às vésperas de sua paixão louvou ao Pai; cantou um hino. Conquanto não lhe saibamos a letra, a melodia está em nossa alma. Isso é sacrifício de louvor; adorar a Deus ante o algoz.
3. Adoração contínua. Paulo e Silas, quando presos, cantavam e adoravam a Deus, ofertando-lhe um sacrifício que, além de pacífico, era profundamente redentor (At 16.25-31). Por isso, o apóstolo recomenda-nos a louvar continuamente a Deus (Ef 5.19; Cl 2.16).

Nesse momento, vejo-me a constrangido a perguntar-me: “Como está o meu louvor?” Canto na bonança ou na tempestade também canto? Ajuda-me Senhor.

CONCLUSÃO

Adoramos a Deus com ofertas pacíficas, quando nos apresentamos diante dEle com o propósito de render-lhe graças por todas as bênçãos recebidas. Com tal atitude, honramos ao Senhor com um culto racional, agradável e vivo.

Neste capítulo, vimos que, das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão de Israel com o seu Deus. Ao aproximar-se de Jeová, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (SI 103.1,2).

Que preciosa lição para os dias de hoje. Como agradecer ao Senhor Jesus Cristo por todos os benefícios que, diariamente, dEle recebemos?




Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério - Em Dourados – MS

Livro Adoração, Santidade e Serviço – lª. Edição CPAD –  Claudionor de Andrade



21 de agosto de 2018

Jesus, O Holocausto Perfeito


Jesus o Holocausto Perfeito

 

TEXTO ÁUREO = “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez.” (Hb 10.10)

 

VERDADE PRÁTICA = Os holocaustos da Antiga Aliança eram transitórios e imperfeitos, mas o sacrifício de Jesus Cristo é perfeito e eterno, porque Ele morreu e ressuscitou eficazmente por toda a humanidade.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE = Levítico 1.1-9

 

OBJETIVO GERAL

 

Conscientizar de que os holocaustos da Antiga Aliança eram transitórios e imperfeitos, mas o sacrifício de Jesus Cristo é perfeito e eterno.

 

HINOS SUGERIDOS: 29, 192, 236 da Harpa Cristã

 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

 

I. Mostrar que o holocausto é o sacrifício mais antigo;

II. Discutir a respeito do holocausto na história de Israel;

III. Compreender que Jesus Cristo é o holocausto perfeito.

 

INTRODUÇÃO

 

Holocausto é um termo que vem do grego Holocaustos, onde Holos significa “todo” e kaustos pode ser entendido como “queimado”. Originalmente o termo se referia à oferta queimada, um tipo de sacrifício onde animais são totalmente queimados pelo fogo.

 

Holocausto é toda oferta queimada; importa dizermos que nem todos os Holocaustos são feitos ao nosso Deus, na verdade no 74 d.C, foi extinta a prática de oferendas queimadas a Deus, pelo imperador romano dá época. Todas as ofertas de sacrifício foram exterminadas, então nos dias atuais não existi ofertas de Holocausto a Deus.

 

 

O HOLOCAUSTO, O SACRIFÍCIO MAIS ANTIGO

 

Um holocausto era um sacrifício totalmente queimado para Deus. O animal era morto e seu sangue era derramado sobre o altar onde a carcassa era queimada (Êxodo 29:16-18). O holocausto servia como pagamento pelo pecado.

 

Muito antes de Moisés receber a Lei de Deus, já era prática oferecer holocaustos a Deus. O holocausto era um animal sem defeito (boi, carneiro, bode ou pomba), que servia como substituto, levando o pecado da pessoa que o oferecia (Levítico 1:3-4).

 

Os israelitas deveriam oferecer holocaustos individualmente e como nação. Todos os dias holocaustos eram oferecidos a Deus pelo pecado do povo. Havia também datas e situações especiais em que as pessoas deveriam dar um holocausto a Deus. Era necessário oferecer holocaustos regularmente porque as pessoas voltavam a pecar e precisavam de novo do perdão de Deus.

 

Qual era o significado do holocausto?

 

O holocausto era uma forma receber perdão de Deus pelos pecados. Deus é justo, por isso o pecado precisa ser punido. O castigo pelo pecado é a morte e a separação eterna de Deus. Mas Deus nos ama e quer ter um relacionamento conosco. Por isso, Ele permitiu o sacrifício da morte de um substituto inocente e sem defeito, em lugar do pecador (Levítico 17:11).

 

O holocausto apenas tinha valor se a pessoa se arrependesse do pecado. O holocausto mostrava que a pessoa entendia as consequências do pecado mas queria mudar de vida. O fogo consumia completamente o holocausto, assim como o castigo de Deus consome o pecado. O sangue derramado do animal representava a morte da pessoa que tinha cometido pecado.

 

O holocausto não servia para “alimentar” Deus. Ele não precisa de sacrifícios para comer (Salmos 50:12-15). O holocausto servia para salvar as pessoas do pecado, não para o benefício de Deus.

 

O HOLOCAUSTO NAS HISTORIA DE ISRAEL

 

A antiguidade do holocausto. O holocausto é também o mais antigo sacrifício da História Sagrada. Introduzido mui provavelmente por Abel, foi observado durante todo o período do Antigo Testamento. É o cerimonial que mais caracteriza o culto levítico; descreve gestualmente, a peregrinação da alma penitente da Queda, no jardim do Éden, à Redenção, no monte Calvário.

 

Pelo que depreendemos da narrativa sagrada, após a morte de Jó, o holocausto, como o praticara os primeiros descendentes de Noé, não demoraria a desaparecer. Manter-se-ia, porém, no clã de Abraão, o ramo mais nobre de Sem; messiânico e soteniológico.

 

Em Canaã, se o holocausto noético foi alguma vez oferecido, não tardou a dar espaço a celebrações sórdidas, lascivas e criminosas. Naqueles templos e lugares altos, dominados por régulos tiranos e sanguinários prostituição e homicídio litúrgico eram livremente praticados. Já Egito, sacrifícios como o holocausto eram algo impensável. Se bovinos e ovinos eram deuses, por que lhes tirar a vida?

 

Nas escavações arqueológicas realizadas nos entornos das pirâmides, animais mumificados são descobertos em nichos e santuários. Aqui, um macaco; ali, um falcão. E quanto ao boi? Era intocável; personificava a Terra. Imolá-lo? Sacrilégio dos sacrilégios aos olhos egípcios.

 

No Cairo, capital do Egito, existe um museu em que é possível constatar que os ídolos, nos quais Faraó depositava toda a sua confiança, eram absurdamente esdrúxulos. Cada um deles, embora tivesse corpo de homem, carregava uma cabeça de animal. Até deus com cara de cachorro pode ser visto ali entre múmias de reis e carcaças de nobres.

 

Já que a religião egípcia tinha o holocausto como algo abominável, como descrever-lhe a soteriologia? Para mim, semelhante religião nem soteriologia possui. O mais acertado seria qualificá-la de tanatologia: doutrina ou estudo da morte. Isso porque, no Egito, empregavam-se todos os recursos para dar a Faraó, após o seu falecimento, confortos, regalias e honras. O reino do Nilo mais parecia uma imensa casa funerária.

 

A bem da verdade, os egípcios não acreditavam na vida eterna, mas numa morte sem fim. No mundo além, dependiam do mundo aquém. Nem mesmo Aquenáton que, reinando no século XIV antes de Cristo, buscou estabelecer um culto monoteístico em ambos os Egitos (alto e baixo), logrou uma doutrina da salvação que tivesse a Deus como redentor. Adorando o Sol, ignorou o Criador dos Céus e da Terra. Retornemos, agora, aos descendentes de Noé que perseveraram em seguir-lhe as pisadas.

 

O holocausto no período patriarcal. Se considerarmos o sacrificio que Abel ofereceu ao Senhor uma espécie de holocausto, então essa oferenda foi, de fato, a mais antiga da História Sagrada (Gn 4.4). O costume seria preservado pelos filhos de Abraão em Isaque e Jacó (Gn 8.20; 22.13).

A religião divina, como Adão e Noé a transmitiram a seus descendentes, foi preservada nos holocaustos que, sem interrupção, foram oferecidos ao Senhor desde Abel até a destruição do Templo de Esdras, no ano 70 de nossa era. Cada vez que um desses crentes imolava um animal, profetizava ele, tipologicamente, a morte de Cristo no Calvário. Em cada oferenda, sustentada pela fé, havia uma súmula da soteriologia que hoje professamos.

 

O holocausto no período mosaico. Após a saída dos filhos de Israel do Egito, o Senhor instruiu Moisés a sistematizar o culto divino, para evitar impurezas pagãs. Quanto ao holocausto, por exemplo, apesar de já ser uma tradição na comunidade de Israel, teria de observar preceitos e normas. A partir daquele momento, haveria um altar específico para as ofertas queimadas (Êx 31.9). Tudo deveria ser executado de acordo com as normas estabelecidas por Deus (Lv. 1-6).

 

Em sua peregrinação, os israelitas retornam livremente ao holocausto. Se, no Egito, era abominação imolar um animal a Jeová, agora, naquele deserto inóspito, o sacrifício de animais veio a constituir-se na parte mais bela e nobre da religião hebréia. Os sacerdotes, agora, ofereciam redis inteiros ao Senhor.

 

Como puderam eles criar tantos animais, não apenas consumo próprio, como também para oferecê-los a Deus? Se em prados verdejantes e junto a águas tranquilas já é difícil tanger bois e carneiros, o que fazer em regiões ermas e abrasadoras? Quando nos pomos a servir a Deus, tudo Ele dispõe a nosso favor. À noite, orvalhava o maná para o sustento do povo. Durante o dia, providenciava o pasto àqueles rebanhos que se esparramavam pelo Sinai.

 

A instituição e a continuidade do culto levítico, no deserto, constitui, em si, um grande milagre. Uma religião como a hebréia que, litúrgica e teologicamente, requer animais, perfumes, incensos e pães, não pode sobreviver sem uma logística perfeita. Num grande centro urbano, não haveria problemas; fornecedores de matérias-primas não faltam. Mas, no Sinai, já distante do Egito e ainda longe de Canaã, adorar ao Senhor, com os rigores e demandas do culto levítico, era um desafio cotidiano. Sem mencionar a construção do Tabernáculo em si.

 

O holocausto na Terra de Israel. Após a conquista de Canaã, os holocaustos continuaram a ser oferecidos livremente ao Deus de Abraão. Josué celebrou uma importante vitória sobre os cananeus com holocaustos e ofertas pacíficas Os 8.31). Gideão, ao ser comissionado pelo Senhor para libertar Israel, ofertou-lhe um holocausto (Jz 6.26). Quanto a Samuel, ofereceu o mesmo sacrifício ao Poderoso de Jacó, antecipando uma grande vitória sobre os filisteus (I Sm 13.9,10).

A reforma de Ezequias foi marcada por generosos holocaustos (II Cr 29.7-35). Após o retorno do exílio, os judeus, agradecidos a Deus pela restauração de seu culto, também ofereceram-lhe holocaustos que iam além de suas posses (Ed 8.35).

 

A essa altura, o que era tradição adâmica e noética torna-se instituição religiosa em Israel. Agora, o holocausto é visto como a principal liturgia do culto israelita. Se fizermos uma pesquisa no âmbito da história, da cultura e da antropologia, concluiremos que apenas a linhagem de Sem observou a prática de ofertas queimadas ao Senhor. Quanto aos camitas, que povoaram a África e partes do Oriente Médio, e aos jáfetitas, que colonizaram a imensa região da Eurásia, temos evidências de que não deram continuidade a oferenda com que Noé inaugurara a segunda civilização humana.

 

As etnias acima citadas praticavam sacrifícios cruentos; nenhum desses, porém, assemelhava-se ao holocausto semítico. Entre os povos tidos como bárbaros, houve (e ainda há) abate ritual de animais e de seres humanos.

 

Mas holocausto, semelhante ao hebreu e com a sua essência teológica, não; é algo exclusivo de Israel, a linhagem mais nobre e representativa de Sem. E, por se falar em sacrifícios humanos, veremos, daqui a pouco, por que esse tipo de oferenda jamais seria aceito por Deus.

 

A IMPLICAÇÃO TEOLÓGICA DO HOLOCAUSTO

 

Em todo sacrifício levítico, subjaz uma teologia que tem, em sua natureza, uma soteriologia que nos remete, de imediato, à morte vicária de Jesus Cristo. Sendo assim, precisamos descobrir aquilo que não seria incorreto chamar de a mecânica teológica do holocausto.

 

A consciência do pecado humano. Quando um crente hebreu propunha-se a oferecer um holocausto ao Senhor, a primeira coisa que lhe vinha ao coração era a sua própria culpabilidade (Sl 51.5). Ele sabia que, em Adão, todos haviam pecado; ninguém seria tido por inocente diante de Deus. Até mesmo o recém-nascido, apesar de ainda não ter a experiência do pecado, já carregava, em si, a essência da ofensa adâmica (Rm 3.23; 5.12).

Se a situação do peregrino é tão desfavorável, o que fazer?

 

Ele não poderia apresentar a si próprio a Deus, pois não ignorava a pecaminosidade que lhe ia na alma. Por isso, buscava num animal tenro, bom e geneticamente perfeito (símbolo de um intermediário eficaz); uma ponte que o conduzisse a Deus. Sem o saber, o penitente evocava perspectivamente, pela fé, ali, junto àquele altar, o sacrifício do Senhor Jesus Cristo no Calvário.

O Filho de Deus haveria de morrer, de fato, em favor de todos os filhos de Adão: pelos contemporâneos da cruz, pelos que viriam a nascer e pelos que já haviam morrido.

 

A consciência da justiça divina. Já diante do altar, esse mesmo crente sabia que, confrontado pela justiça de Deus, merecia apenas uma coisa: a morte; o salário mais adequado ao pecado adâmico. Nesse impasse, a pergunta vinha-lhe à mente: “Como aplacar um Deus irado?”. Se, por um lado, ele sabia que Deus é justo, por outro, não ignorava que a justiça divina jamais deixava de vir acompanhada por um amor que, incompreensivelmente, se dá. Por essa razão, apresentava ao Senhor a vítima do holocausto, como a rogar-lhe: “Nele, perdoa-me”. E, pela fé, era não apenas perdoado, mas justificado imediatamente.

 

A justificação não é uma doutrina exclusivamente apostólica; no âmbito profético, era já conhecida e praticada junto ao trono divino. O salmista, ao discorrer sobre a ousada ação de Fineias no episódio de Baal-Pedor, reconhece: “Isso lhe foi imputado por justiça, de geração em geração, para sempre” (Sl 106.31, ARA).

 

No episódio narrado pelo autor sagrado, observa-se que Fineias assim agiu porque fora movido por uma fé incomum na santidade divina. E, por essa mesma fé, foi justificado. O mesmo acontecia àquele que, crendo na justiça divina, apresentava-lhe um holocausto. No ato da matança e da queima do animal, mostrava ele a Deus a sua confiança num sacrifício vicário que alcançaria o mundo todo. No ato do holocausto, desfilava diante de Deus toda a soteriologia do Novo Testamento.

 

A consciência da propiciação diante de Deus. O que o crente hebreu mais ansiava era tornar-se propício a Deus. Todavia, ninguém poderia fazê-lo por si só, a não ser por meio de um intermediário, que fosse visto pelo justíssimo Deus como alguém igualmente justo, santo, inocente e eficaz como salvador; o próprio Filho de Deus.

 

Nos tempos dos patriarcas, ainda não se tinha um retrato do Messias como hoje encontramos nos Salmos e nos Profetas. Davi, em vários de seus cânticos, descreveu a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Já Isaías, no capítulo 53 de seu livro, pinta o Servo de Jeová em tons fortes e inapagáveis.

 

Ambos os autores sagrados já não precisavam do holocausto para saber que o Filho de Deus, ao vir a este mundo como homem, teria o mesmo destino do animal oferecido a Deus numa oferta queimada. Eis porque o rei de Israel, numa evocação messiânica, lembra a transitoriedade do holocausto na soteriologia messiânica: “Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres” (51 40.6, ARA).

 

Davi, como bom teólogo, sabia que o homem, para tornar-se propício diante de Deus, carece não propriamente de um animal perfeito, mas de um perfeitíssimo medianeiro. Já antevendo não apenas o Messias, mas também o Consolador, roga ele a Jeová, depois de haver quebrantado duplamente a lei divina:

 

Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. (SI 51.9-12, ARA)

 

Observemos que Davi, embora almejasse a aceitação de Deus, não lhe ofereceu um único holocausto. Sua compreensão das coisas divinas ia além da pedagogia das oferendas e dos sacrifícios. Naquele momento, ofertório algum, ainda que duplamente cruento, ser-lhe-ia útil.

 

Por essa razão, evocando implicitamente a intermediação de Jesus Cristo, o Holocausto dos holocaustos, confessa sua confiança no verdadeiro Mediador entre Deus e os homens: “Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.16,17, ARA).

 

Não procuramos, aqui, ao evocar Davi e Isaías, invalidar o holocausto na compreensão da soteriologia bíblica. Sem esse sacrifício, o profeta e o rei jamais viriam a entender adequadamente a mecânica da redenção que Deus, em Jesus Cristo, nos providenciara antes mesmo da fundação do mundo.

 

A consciência de um sacrificio perfeito diante de Deus. Assombrado pela justiça divina, indaga o profeta:

 

Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus. (Mq 6.6-8 ARA)

 

Sim, indaga Miquéias: “Com que me apresentarei ao SENHOR?”. Buscando a propiciação divina, o crente hebreu poderia oferecer diversas coisas a Deus: bezerros, carneiros e azeite.

Numa instância já desesperada, não hesitaria em dar-lhe o próprio filho; o primogênito da alma. Vejamos a inadequabilidade desses ofertórios. Iniciemos por examinar a oferta que mais dor custaria a um pai.

 

Antes de tudo, deixemos bastante claro, que Deus jamais exigiu sacrifícios humanos. A razão é bastante simples. Não obstante o custo espiritual, moral e espiritual que tal demanda acarretaria ao adorador, o seu efeito redentor e soteriológico seria inútil perante a justiça divina. Se todos pecaram e carecem da glória de Deus, quem estaria apto a morrer vicariamente por alguém? Um recém-nascido?

 

Embora ainda inocente, já traz em si a semente da transgressão adâmica. Até mesmo os três homens mais justos da História Sagrada não seriam capazes de se darem vicária e salvificamente em favor dos transgressores, como o próprio Deus o demonstra através do profeta Ezequiel:

 

Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, cometendo graves transgressões, estenderei a mão contra ela, e tornarei instável o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e eliminarei dela homens e animais; ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, salvariam apenas a sua própria vida, diz o SENHOR Deus. (Ez 14.13,14, ARA).

 

No entanto, se o Senhor Jesus Cristo estivesse nessa mesma cidade, Ele, em virtude de sua justiça vicária, certamente morreria; ela, porém, seria poupada. Foi o que disse mui sabiamente o sumo sacerdote Caifás:

 

“Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação” (Jo 11.49,50, ARA). Ao registrar o fato, o apóstolo João, com a sua elevadíssima acuidade teológica, assim interpretou a alocução de Caifás:

 

Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos. (Jo 11.51,52, ARA).

 

Inspirados por esse modelo teológico, como explicaremos a experiência de Abraão ao ser instado pelo Senhor a oferecer-lhe Isaque? O patriarca, como o melhor teólogo da época, depois de Melquisedeque, sabia que, seja desta seja daquela forma, haveria de recobrar o filho, pois tinha irrestrita fé na promessa divina. Mas, ainda que viesse a imolar o seu querido unigênito, a morte deste poderia ser doxológica, mas jamais soteriológica e redentora, porque Abraão já havia sido justificado ao crer em Deus (Gn 15.6).


No instante extremo da provação, o Senhor interveio, não permitindo que o hebreu lhe imolasse o filho da promessa (Gn 22.11-13). Vicariamente, o ser humano é ineficaz até para si mesmo. Se a nossa morte fosse suficiente para salvar-nos, bastaríamos optar pelo suicídio, e a nossa situação, diante de Deus, estaria resolvida de vez, O suicídio, todavia, não tem qualquer eficácia remidora. Se assim fosse, Judas Iscariotes estaria hoje no Paraíso junto ao Senhor Jesus. Mas sabemos que, perdendo-se ele, foi para o seu próprio lugar.

 

Se a morte do meu primogênito é ineficaz para tornar-me aceitável diante do Senhor, o que lhe entregarei? Rios de azeite? O fruto da oliveira pode (e deve) ser apresentado ao Senhor como dízimo e ação de graças, mas, soteriologicamente, que eficácia tem? Afinal, não somos salvos pelas obras, mas pela fé em Jesus Cristo. Logo, tais ofertas servem apenas evidenciar-nos a salvação; somos salvos não pelas boas obras, mas à prática de obras boas, meritórias e que mostrem, por intermédio delas, o nosso compromisso com o Pai Celeste.

 

Restam-nos, agora, os bezerros de um ano e os carneiros tenros e bons. Tornar-nos-ão propícios a Deus? Como símbolos e tipos são eficazes. Mas, vicariamente, não. Se a simbologia e tipologia desses animais fossem recebidas pela fé, o adorador não deixaria de ver, em cada um deles, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

 

Caso contrário, a morte desses bichos não passaria de um desperdício litúrgico, um pesado encargo ao crente, um enfado ao sacerdote e um enojamento ao Senhor.

 

O adorador que, pela fé, oferecia um holocausto ao Senhor, demonstrava a eficácia desse sacrifício, em sua vida, na prática da justiça, no exercício da misericórdia e na vivência do amor divino em seu cotidiano. E, no final de tudo, veria naquele bezerro ou naquele carneirinho, o Cordeiro de Deus.

 

JESUS CRISTO O HOLOCAUSTO PERFEITO

 

Sempre que se fala em holocausto somos remetidos ao Velho Testamento e aos sacrifícios de animais, porém nunca trazemos para os nossos dias o sacrifício que agrada a Deus. Quando Jesus morreu em nosso lugar, Ele cumpriu todas as profecias, toda a lei e substituiu todos os holocaustos feitos através dos animais por um único e suficiente sacrifício: Sua própria Vida, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

 

Isso significa que não precisamos mais sacrificar animais para pedir perdão a Deus pelos nossos pecados, ou para agradecer Suas bênçãos, tudo é feito através de Jesus. A questão é que Deus não riscou de Seu dicionário a palavra “sacrifício”, o que mudou é a forma de se sacrificar. Vamos entender direitinho como funciona?


O mais importante sacrifício, aquele que agrada “em cheio” a Deus é reconhecer Jesus como Salvador, é reconhecer o sacrifício Dele na cruz para pagar pelos nossos pecados. Ponto. Feito isso, você começa uma jornada com Jesus, que se chama santificação. Neste processo, você vai fazer vários sacrifícios visando seu crescimento espiritual. Como assim? O sacrifício depois da conversão é não pecar? Claro que não, pessoal, isso é consequência de sua vida com o Espírito Santo e não dói nadinha, até porque, não se deixa velhos hábitos e pecados de estimação na unha, na marra, isso é tarefa do Espírito de Deus.

 

Os sacrifícios da vida cristã são bem diferentes dos holocaustos do Velho Testamento, que se baseava no sacrifício de animais. Agora os holocaustos são outros, leia: “Amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar ao próximo como a si mesmo é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas." (Marcos 12:33). Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo agrada a Deus mais que qualquer sacrifício e oferta.

 

Isso não elimina a prática das ofertas voluntárias, aquelas que você faz por amor ao Senhor Jesus, para contribuir com Sua Obra sobre a face da terra e nem os dízimos devidos a Deus, você só não pode fazer nada “da boca pra fora”, tudo depende do seu coração, portanto, faça de coração puro e não para “aparecer” diante do homem.

 

Outra coisa. Fazer a vontade de Deus em nossas vidas e adorá-lo de forma racional são sacrifícios agradáveis a Ele, veja: “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:1,2).

 

O que é um culto racional? Não há uma receita prontinha de como devemos adorar a Deus, mas existe uma regrinha de ouro: não exagerar na dose. Somos humanos e temos uma tendência horrível de julgar pela aparência e de estimular nossas emoções, então arrepios não indicam a presença de Deus, podem acontecer em situações especiais, mas não são a regra. A regra está escrita na Bíblia, leia: “Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles". (Mateus 18:20).

 

Onde se reunirem duas, ou mais pessoas para orar a Deus, Jesus estará no meio delas. E quando eu estiver orando sozinho em meu quarto, Jesus não estará comigo? Claro que sim. Você e o Espírito Santo somam duas pessoas, quórum mínimo para Jesus estar presente.

 

O fato é que a vida cristã é feita de belas vitórias, batalhas parcialmente ganhas e convivência com Jesus. Na medida em que sua intimidade com Ele aumentar, muito mais você terá a oferecer como sacrifício agradável a Deus. Agora é só experimentar.

 

CONCLUSÃO

 

O sistema de sacrifícios atinge seu ponto máximo com a nação de Israel. Deus ordenou que esta nação executasse inúmeros sacrifícios diferentes. De acordo com Levítico 1:1-4, um certo procedimento era para ser seguido. Primeiro, o animal tinha que ser perfeito. Segundo, a pessoa que estava oferecendo o animal tinha que se identificar com ele. Então, a pessoa oferecendo o animal tinha que infligir morte ao animal. Quando feito em fé, esse sacrifício providenciava perdão dos pecados. Um outro sacrifício chamado de dia de expiação, descrito em Levítico 16, demonstra perdão e a retirada do pecado. O grande sacerdote tinha que levar dois bodes como oferta pelo pecado. Um dos bodes era sacrificado como uma oferta pelo pecado do povo de Israel (Levítico 16:15), enquanto que o outro bode era para ser solto no deserto (Levítico 16:20-22). A oferta pelo pecado providenciava perdão, enquanto que o outro bode providenciava a retirada do pecado.

 

Jesus Cristo realizou um único e perfeito sacrifício, suficiente para nos abrir um novo e vivo caminho até a presença do Pai. Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. (Hb 10:12-13)

 

Evangelista Isaias Silva de Jesus

 

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério - Em Dourados – MS

 

Bibliofrafia

 


 


 


 

Livro Adoração, Santidade e Serviço – lª. Edição CPAD –  Claudionor de Andrade