28 de março de 2011

QUEM É O ESPÍRITO SANTO


QUEM É O ESPÍRITO SANTO?

TEXTO ÁUREO = “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” João 4.24

VERDADE PRÁTICA = O Espírito Santo, identificado como a terceira pessoa da Trindade, é igual ao Pai e ao Filho.

LEITURA EM CLASSE - ATOS 2.14-18; 37-41

INTRODUÇÃO

A Paracletologia divide-se, no estudo da Bíblia, em dois períodos: o do Antigo e o do Novo Testamento. No primeiro, as atividades e as manifestações do Espírito Santo eram esporádicas, específicas e em tempos distintos. No segundo, começa no dia de Pentecoste, quando suas atividades se concretizam direta e continuamente, através da Igreja. No Antigo Testamento, Ele se manifestava em circunstâncias especiais. No Novo Testamento, veio para morar nos corações dos crentes e enchê-los do seu poder. No Antigo Testamento, tinha- se um conhecimento limitado do Espírito Santo, pois o viam como um poder impessoal vindo da parte de Deus. Porém, no Novo Testamento, essa idéia foi aclarada quando Ele se manifestou de modo pessoal, racional e direto, ainda que invisível.

I. OS VÁRIOS SENTIDOS DA PALAVRA “ESPÍRITO” NA BÍBLIA

1. A palavra “espírito” nas línguas originais. Aprendamos a distinguir os vários sentidos desta palavra em toda a Bíblia. No Antigo Testamento, a língua hebraica a traduz como “ruach”, que significa, essencialmente, vento, hálito, respiração. No Novo Testamento, escrito na língua grega, a palavra “espírito” é “pneuma”. A raiz PNEU refere- se ao ar. O sufixo “ma” fala de ação, do movimento do ar.

2. “RUACH” e “PNEUMA” referem-se também ao espírito humano. Quando se refere ao “espírito humano” diz respeito ao fôlego de vida que tornou o homem um ser vivente (Gn 2.7; Mt 27.50; Lc 8.55; At 7.59). E a essência da humanidade, pois ele é que toma a alma humana distinta da irracional. O espírito representa a natureza suprema do homem e o habilita a ter comunhão pessoal com o seu Criador.

3. “Espírito”, relacionado aos anjos. Os anjos são espíritos criados, sem a necessidade de corpos materiais. Esta palavra refere-se tanto aos anjos bons como aos maus (ML 8.16; Mc 1.23; 1 Co 2.12; Lc 1.11; At 5.19; Hb 2.7).

4. “Espírito”, referindo-se a Deus. Quando se refere a Deus, tanto “ruach” como “pneuma” têm uma conotação especial, porque Ele é o “Espírito Eterno” (Hb 9.14).
A palavra “espírito” não limita o Espírito Santo a um sentido figurado, ou a uma mera representação impessoal. Ele é um fato. Não é uma mera energia ou influência de Deus. O Espírito é Deus, a terceira pessoa da Trindade.

II. A ASSEIDADE DO ESPÍRITO SANTO

A palavra “asseidade” é pouco usada na linguagem cotidiana das nossas igrejas. Trata-se de um termo especial com um significado singular, pois se refere a Deus. Define os dicionários bíblicos que se trata de um atributo de Deus pelo qual Ele existe por si mesmo. Portanto, “asseidade” atribui-se exclusiva- mente ao Ser divino, e o Espírito Santo é a manifestação da divindade.

1. A existência do Espírito Santo (Hb 9.14). Se o Espírito Santo existe como Ser divino, Ele não é uma parte deste, mas é o próprio Deus Espírito (Jo 4.24). Ele tem existência própria, mas isto não significa que esteja separado da divindade. As pessoas da Trindade são distintas em suas manifestações, mas pertencem à mesma essência Indivisível e eterna. O Espírito Santo não se originou em nada e em ninguém, pois tem origem em si mesmo. Ele é a expressão da unicidade de Deus.
Nós e os anjos fomos criados e, por isso, dependemos do Criador. Mas o Espírito Santo não depende e nem precisa de alguém, embora queira e possa livremente relacionar-se com sua criação. Jesus declarou que o Pai tem vida em si mesmo (Jo 5.26). Se o Pai pertence à mesma essência divina do Filho, o Espírito Santo também possui existência própria e total independência de todas as coisas.

2. Os atributos do Espírito Santo. Quando nos referimos ao termo “atributo”, falamos de algo que também pertence ao Espírito Santo. De fato, são propriedades qualitativas, Jamais adquiridas ou acrescentadas, mas pertencentes a Ele eternamente. Destacaremos, essencialmente, dois atributos:

a) imutabilidade. Ela é própria do Espírito Santo. Significa que Ele está livre de toda mudança (Ml 3.6).
Tudo o que se diz a respeito dele, como Deus Espírito, é perfeito e imutável. Este atributo não é exclusivo de uma pessoa da Trindade, mas pertencem as três (Rm 1.23; Hb 1.1

b) Eternidade (Hb 9.14). Ela é um atributo intrínseco na divindade. Por isso, o autor da Carta aos Hebreus identifica o Espírito Santo como “o Espírito Eterno”.
Ele transcende a todas as limitações temporais. Dois outros termos ligados à eternidade ilustram e aclaram ainda mais este atributo.
O Espírito Santo é infinito e imenso. Por infinidade, entende-se que sua existência não tem fim. Nada confina o Espírito Santo no espaço, nem o retém no tempo. Por imensidade, compreende-se que o Espírito é total, pleno e completo. Ele não se divide, mas pode estar presente em toda parte com todo o seu Ser (Sl 139.7-12).
Notem isto: os anjos são espíritos criados sem corpos materiais, mas nem por isso estão em todo o lugar ao mesmo tempo. Os homens são espíritos corporalizados e, portanto, limitados no espaço. Nem aos anjos e nem aos homens lhes é atribuída à qualidade divina da “imensidade”. A plenitude pertence, de fato, única e exclusivamente à divindade (Sl 97.1-12).

III. A DEIDADE DO ESPÍRITO SANTO

1. O Espírito é Deus. Esta declaração é comprovada na Bíblia e na experiência humana. Ele não é um deus entre outros. E identificado como a terceira pessoa da Trindade. As Escrituras relatam um episódio nos primeiros dias da Igreja, em Jerusalém, quando Manias e Safira tentaram enganá-lo.
Ele revelou ao apóstolo Pedro que o casal mentia, conforme registra Atos 5.3: “Porque encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?”
O versículo seguinte confirma: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”. A deidade do Espírito Santo está implícita na do Pai e do Filho. Ela é a mesma nas três pessoas. Não se separa, mas pertence à mesma essência divina do único Deus.

2. Atributos da deidade do Espírito Santo. Há três atributos pertencentes à deidade de cada uma das pessoas da Trindade que são: Onipotência, Onisciência e Onipresença. Estes não foram conferidos a anjos, nem a homens. Têm-se deificado a anjos e homens; entretanto, nunca foram não são, nem serão deuses, visto que não possuem as qualidades que pertencem natural e unicamente ao Deus Trino. A Bíblia, quando se refere ao Diabo como “deus deste século” (2 Co 4.4), coloca-o ao nível do pensamento humano.

a) Onipotência. Ele possui todo o poder. W.T.Conner, em “Docirina Cristiana”, escreveu o seguinte: “Por onipotência de Deus se entende que todo o poder que há no Universo, físico ou espiritual, tem sua origem em Deus.
Ele, por conseguinte, pode fazer qualquer coisa que o poder seja capaz”. Ao afirmarmos que Deus tem poder para fazer todas as coisas, não nos referimos às que fogem à ordem que Ele mesmo estabeleceu no mundo. Há o que Ele não pode fazer como mentir (Nm 23.1 9), pois contraria sua natureza moral. Ao usar a expressão “Deus não pode fazer” não significa limitá-lo às circunstâncias, pois Ele, como ser absoluto, está livre de qualquer impedimento.
Simplesmente, Deus não pode fazer algo que contrarie sua natureza divina. Ele tem todo poder, mas considera as próprias leis que estabeleceu. Por exemplo: respeita o livre-arbítrio do homem, porque foi Ele quem o deu. A Onipotência pertence, por igual, às três pessoas da Trindade. O poder do Pai é o mesmo existente no Filho e no Espírito Santo. Então, em sua Onipotência, o Espírito Santo faz o que lhe apraz (I Co 12.11); opera sinais e prodígios (Rm 15.19), etc.

b) Onisciência. Vem de duas palavras latinas “OMNES” que significa TUDO, e “SCIENTIA” que quer dizer CIENCIA.
O Espírito Santo, do mesmo modo que o Pai e o Filho têm total conhecimento de todas as coisas. Sua sabedoria é infinita, singular e indescritível. Ele sabe tudo acerca de si mesmo e do que criou (Sl 139.2,11, 13). Conhece os homens profundamente (I Rs 8.39; Jr 16.17; Rm 8.27). Ninguém pode esconder coisa alguma dele. Nem um só pensamento nosso passa despercebido do Espírito Santo.

c) Onipresença (Sl 139.7-10). O Espírito Santo penetra em todas as coisas e perscruta o nosso entendimento, pois está presente em toda a parte. Ele não se divide em várias manifestações, porque sua presença é total em cada lugar onde estiver (At 17.24-28; Jr 23. 23,24). Em relação à Trindade, cada pessoa destaca- se em manifestações distintas que mostram a Onipresença da divindade. O Pai tornou-se conhecido, através do Filho na Terra (Mt 11.27) e o Espírito Santo é a manifestação do Pai e do Filho na vida do crente (Jo 14.17, 19,20,23).

IV. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO

Um dos atributos da deidade é a personalidade que cada uma das três pessoas divinas possui. Às vezes, atribuímos à personalidade uma forma corpórea. Entretanto, Deus é Espírito, sem necessidade de corpo material. Identifica-Se como pessoa alguém que manifeste qualidades como o falar, o sentir e o fazer alguma coisa racional á provamos que o Espírito Santo é um Ser divino e pessoal e não meramente uma coisa, uma força ou uma energia cósmica.

1. Pronomes conferidos ao Espírito Santo. Em João 16.8,13, 14 encontramos algumas vezes os pronomes ele, aquele (no grego ekeinoS) que indicam a pessoa do Espírito Santo. Em João 14.16, encontra-Se a expressão “outro consolador”. Ela, mais uma vez, identifica a personalidade do Espírito Santo. A palavra “outro”, usada por Jesus, no grego “ALLOS”, significa “outro do mesmo tipo”.
O Filho de Deus revelou- se como pessoa, mas falou de outra que Ele enviaria após sua subida para o Céu.“Consolador”, no grego, “Paracleto”, significa “aquele que dá força” ou “aquele que encoraja”. O sentido, então, é Ajudador, advogado. Este é alguém convidado para representar uma pessoa. O Espírito Santo é o Consolador, isto é, o Ajudador e advogado dos fiéis de Cristo (1I Jo 2.1).

2. Atributos pessoais do Espírito Santo. Há três atributos que revelam a personalidade: o intelecto, à vontade e o sentimento. O primeiro faz com que o Espírito Santo fale, pense, raciocine e determine (Rm 8.27; 1 Co 2.10,11,16).
A vontade do Espírito Santo é conhecida na Palavra de Deus. Ele faz o que quer, quando precisa e como deseja pela capacidade do seu conhecimento (Hb 2.4).
Os dons do Espírito são distribuídos conforme sua vontade. Ele demonstra seu desejo, através do conhecimento inerente e pleno que possui, e está acima das circunstâncias e do tempo. Em relação ao sentimento do Espírito, entendemos que Ele possui todos os graus de afeição e sensibilidade de quem ama, geme, chora e intercede (Rm 8.26,27; Ef 4.30). 

V. ATIVIDADES DO ESPÍRITO SANTO

1. As três dimensões da operação do Espírito. Uma das principais atividades do Espírito Santo é trabalhar na vida dos pecadores a fim de convencê-los de seus pecados e da perdição eterna.
O Espírito Santo, em seu relacionamento com os homens, opera em três dimensões distintas: na mente, no sentimento e na vontade.

a) Na esfera da mente. O Espírito opera no intelecto humano convencendo o pecador acerca de sua necessidade de um Salvador pessoal.

b) Na esfera do sentimento. O Espírito procura sensibilizar o pecador acerca do seu estado espiritual procurando persuadi-lo à decisão para a salvação.
Pela área do sentimento, o Espírito conduz o pecador à emoção e à alegria de receber a dádiva divina: a salvação em Cristo. O Espírito Santo mostra-lhe a importância dessa decisão (Jo 1.12), levando o pecador a confessar e a deixar o pecado (Pv 28.13; II Tm 2.19; 1 Jo 1.9).

c) Na esfera da vontade. O Espírito Santo desperta o desejo da decisão por Cristo (Jo 16.8-10).

2. O Espírito convence o mundo do pecado, da justiça, e do juízo (Jo 16.8-11).

a) O Espírito convence do pecado. A missão do Espírito Santo é convencer o pecador sobre seu estado de perdição eterna, caso não aceite a única providência divina para salvação da humanidade: a expiação do pecado mediante o sacrifício vicário de Cristo. O pecador não é forçado pelo Espírito Santo a decidir-se ao lado de Cristo, ou a reconhecer-se culpado. O Espírito não se utiliza de argumentos da lógica humana; convence-o simplesmente pelo seu poderoso, amoroso e persuasivo testemunho.

b) O Espírito convence da justiça. Ao convencer o pecador de suas transgressões e, conseqüente dependência de Deus, o Espírito da verdade apresenta convincentemente a única solução para o homem; a redenção mediante a “justiça de Cristo” (Rm 3.21-25).

c) O Espírito convence do juízo (Jo 16.8,11). Cristo recebeu a condenação da nossa culpa (Is 5 3.4,5) que foi o juízo imediato contra o pecado. Porém, aqui a palavra “juízo” possui, também, sentido futuro, ou seja, o juízo divino que será derramado sobre aqueles que rejeitarem a graça salvadora de Cristo oferecida hoje.
O Espírito Santo trabalha diuturnamente no sentido de convencer as pessoas acerca do inevitável juízo futuro contra o pecado, os pecadores e o Diabo. De certo modo, o juízo contra o Diabo já foi decretado na consumação da obra expiatória de Cristo (Cl 2.14,15). Um dia todos os ímpios, de todas as eras, haverão de comparecer perante o grande Trono Branco no Juízo Final (Ap 20.11-15).

3. O Espírito opera na conversão dos pecadores. Há muita diferença entre sentir simpatia pelo evangelho e converter- se sinceramente a Cristo. Entretanto, quando alguém ouve atentamente a voz do Espírito de Deus e se convence da verdade do evangelho, sua vida é radicalmente mudada, transformada. Após o derramamento do Espírito no Dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro levantou sua voz e pregou com autoridade: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados” (At 3.19). Ora, a conversão promove mudança de comportamento; é como dar meia volta e retornar para Deus. A verdadeira conversão traduz-se no arrependimento sincero do pecador e na imediata regeneração operada pelo Espírito Santo no interior do homem.

CONCLUSÃO

Quando o homem “nasce de novo”, sua nova vida em Cristo torna-se o centro das operações do Espírito, que produzem benefícios, tanto para o próprio crente como para a Igreja, o “corpo de Cristo”. O trabalho do Espírito é confirmar a salvação recebida (Rm 8.16), dando ao novo crente a certeza de que está realmente salvo. A partir de então, o Espírito Santo conduz o crente à vitória sobre o pecado, que antes o dominava. Confiemos, pois, pia- mente no trabalho do Espírito de Deus. Ele quer nos encher de poder e autoridade espirituais para nos tornar capazes de rejeitar o pecado e vencer as tentações. Se vivermos nos domínios do Espírito estaremos aptos a dominar as concupiscências da carne e o mundo (Rm 8.4; Gl 5.16).



Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

BIBLIOGRAFIA

Lições bíblicas CPAD 1994
Lições bíblicas CPAD 2001
Bíblia de Estudo Pentecostal

21 de março de 2011

PAULO TESTIFICA DE CRISTO EM ROMA

PAULO TESTIFICA DE CRISTO EM ROMA


TEXTO AUREO = “E, na noite seguinte, apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem ânimo! Porque, como de mim testifica em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” At 23: 11.


VERDADE PRÁTICA = A principal e a mais urgente missão da Igreja é a evangelização de todos os povos e nações.


Paulo Testifica Diante dos Poderosos = Atos 25.13-26.32


Introdução


O Senhor descreve sua comissão a Paulo (At 9.15). Até este trecho de Atos, o apóstolo Paulo já havia pregado muito aos gentios e judeus. “Este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel”. Agora, nestes capítulos, descreve-se como ele teve a oportunidade de falar a governadores e reis.


Paulo e Félix (At 24)


Paulo, ao chegar em Cesaréia, foi levado diante do governador Félix. Este ordenou que fosse guardado sob custódia até à chegada de seus acusadores. Poucos dias mais tarde, algumas autoridades religiosas dos judeus vieram de Jerusalém a Cesaréia.


Estavam acompanhadas por um advogado romano chamado Tértulo. Fizeram três acusações contra Paulo:


Sedição - levantar o povo contra o governo.


Heresia - causar divisões religiosas mediante a pregação de falsas doutrinas.


Sacrilégio - a profanação do Templo.

Os líderes judaicos vieram com seu advogado. Paulo também tinha Advogado (Mc 13.11) - um dos significados de Consolador e Exortador é também Advogado. Em poucos momentos, as acusações foram reduzidas a nada. Félix, que sabia alguma coisa sobre o Cristianismo, adiou indefinidamente a audiência seguinte.


A curiosidade de Félix foi despertada por aquele estranho prisioneiro. Tanto que o governador pediu uma apresentação particular da sua mensagem. E então foram invertidas as posições! Antes, tratava-se de Paulo diante de Félix. Agora, era Félix diante de Paulo! O libertino, espavorido, mandou Paulo retirar-se até uma ocasião mais conveniente. Destes dois homens, quem era realmente prisioneiro? Quem estava realmente livre?

Félix, esperançoso de receber dinheiro para declarar o prisioneiro inocente, mandou chamar Paulo muitas vezes. Este nada tinha que ver com aquele aspecto do assunto, e continuou na prisão. O período de Félix como governador terminou. Então, ele preparou seu relatório para o governo central em Roma. Como político, desejava obter apoio popular. Por este motivo deixou Paulo no cárcere, evitando que os judeus se queixassem de sua pessoa. Na realidade, Deus permitiu que Paulo ficasse na prisão. Assim preservaria sua vida, e o encaminharia a Roma.


Paulo e Festo (At 25)


Festo, o novo governador, desejava obter a boa-vontade dos judeus. Com este objetivo, perguntou se Paulo desejava ser processado diante do concílio em Jerusalém. Conhecendo a futilidade e o perigo de tal procedimento, Paulo, o

cidadão romano, apelou a César, ou seja, ao direito de ser processado em Roma diante do próprio imperador. “Apelaste para César? para César irás”. E assim estava para se cumprir o decreto divino de que Paulo seria testemunha em Roma (At 23.11). Apesar das ciladas dos judeus e da covardia moral dos governadores romanos, o caminho estava aberto para Roma.


Não há beco sem saída no caminho do cristão. Surgiu, nesta conjuntura, um problema para Festo. Paulo apelara à Corte Suprema em Roma, mas qual seria a acusação contra ele? (v. 27). Os judeus sugeriam crimes de sedição e tumulto. Mas, na verdade, o problema girava em torno das crenças religiosas dos judeus, que nada tinham a ver com a justiça civil. Herodes Agripa, príncipe judeu, ao qual os romanos permitiram que usasse o título de rei (sem soberania independente), de uma pequena região no Norte da Palestina, estava visitando a capital administrativa. Para este homem, conhecedor da religião judaica, Festo apresentou o estranho caso.


Paulo e Agripa (At 26)


No dia seguinte, Paulo foi ouvido diante de Agripa. A reunião contava com a presença de autoridades romanas e a aristocracia judaica da região. Agripa não tinha autoridade sobre Paulo, que ia ser encaminhado a Roma. Mesmo assim, houve muita pompa na reunião. Isto porque Festo sabia como os reizinhos, que deviam seus títulos a Roma, gostavam de cerimônia. Estando tudo pronto, disse o rei a Paulo: “Permite-se-te que te defendas”. Paulo revelou sua personalidade neste encontro. Não se impressionou com a falsa pompa de um rei sem autoridade. Porém, não desprezou a ocasião de defender o Evangelho. Quanto à sua segurança, não procurou agradar para receber favores na sua difícil posição de prisioneiro. Falou com seriedade e sinceridade, pleiteando os direitos de Cristo.


As armas dos soldados romanos não o amedrontavam.

Sua consciência estava tranqüila, e sua vida, “oculta com Cristo em Deus”, fora do alcance dos homens.

“Então Paulo, estendendo a mão [o gesto do orador que está com a palavra] em sua defesa, respondeu: Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus”. Paulo estava feliz, apesar das correntes e prisões. Estava feliz, não pelo privilégio de falar a um rei, mas porque este era considerado “especialista” em assuntos religiosos dos judeus.


E, era de se esperar, teria ponderação em escutar e examinar a questão da fé cristã.


1. Sua vida antes da sua conversão. (Vv. 4-1 1).


Paulo, desejava ser “cem por cento” dedicado a Deus. Por isso foi iniciado na fraternidade dos fariseus (eles tinham graus dentro da fraternidade e cerimônias de iniciação). Se a salvação pudesse ser merecida pela observância de leis e tradições, Paulo teria passado em todos os exames. Em resposta à dúvida que devia ter surgido na mente do rei:


“Por que, então, caiu até ao ponto de ser perseguido como herege?” Paulo continua: “E agora pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais estou aqui e sou julgado.

A qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continuamente, noite e dia”. Paulo, longe de se ter desviado da fidelidade religiosa, estava dentro do plano de Deus. Dentro da promessa que deu origem ao povo de Deus: “E em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Nesta promessa estava incluída a vinda do Messias, a “bendita esperança”, considerada a Promessa pelos escritores do Novo Testamento (At 13.23,32,33; Gl 3.14).


Jesus veio cumprir esta- promessa demonstrando que Deus é justo, cumprindo o que promete (Rm 15.8). Deus comprovou que seu Filho é o Messias, erguendo-o dentre os mortos (At 13.33).


Paulo ressaltou quão milagrosa foi a sua repentina conversão. Para isso, descreveu em detalhes, a fúria assassina com que perseguia os seguidores de Jesus. Jogava-os na prisão e procurava forçá-los a blasfemar o nome de Jesus. A cada oportunidade, votava em prol da pena de morte para eles. Em grande fúria, este homem, considerado profundamente “religioso”, exigia uma campanha nacional para extirpar os cristãos. A lição que podemos tirar desta parte da vida de Paulo é que a consciência humana não é infalível. E a sinceridade não é suficiente por si só.


2. Sua experiência de conversão. Vv. 12-18.


Naturalmente, a pergunta na mente de Agripa seria: “Então, como foi tão radicalmente mudada a sua vida?” Paulo, então, descreve sua experiência na estrada de Damasco, que transformou o lobo em ovelha.


3. Seu testemunho depois da conversão. (Vv. 19-23). “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial”. Agripa precisava entender que, quando Deus fala, o homem não tem outro caminho senão obedecer. Nem todas as visões são celestiais, mas toda visão que é realmente da parte de Deus deve ser obedecida. Esta obediência de Paulo, resumida no v. 20, incluía uma tremenda quantidade de serviço e abnegação. E num círculo sempre maior de atuação: Damasco, Jerusalém, Judéia e o mundo gentio (logo chegaria a Roma). Será que nós, hoje, estamos fazendo mais para Deus do que quando nos convertemos? O conteúdo resumido da pregação de Paulo era: arrependimento, conversão, prática de obras dignas - um plano excelente para todo pecador seguir. Qual foi o agradecimento que o mundo deu a Paulo por ter obedecido à visão celestial?


Vejamos o v. 21 e não fiquemos abalados se o mundo odiar a nós também! Como Paulo agüentava tudo isso? “Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço”. Deus nos dá poder a fim de perseverarmos na vida cristã. A mensagem que Paulo anunciava era para todos, “tanto a pequeno como a grande”. E, como explica no v. 22, não era novidade para atrair. Porém, uma religião sólida, firmemente baseada em todas as promessas de Deus no Antigo Testamento. E, também, na própria pessoa de Jesus Cristo, cumprimento total do plano de Deus.


4. O efeito do testemunho de Paulo sobre Festo. A esta altura, Paulo já estava falando com inflamado entusiasmo. Para o oficial romano de mentalidade prática e que levava uma vida muito afastada da religião, um discurso público que falava de visões, revelações e ressurreições era demais. Interrompeu, dizendo: “Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar”. Ver 1 Coríntios 1.18. A eloqüência de Paulo foi interrompida, mas não a sua firme confiança, nem sua cortesia. Com dignidade respondeu: “Não estou louco, ó excelentíssimo Festo; pelo contrário digo palavras de verdade e de bom senso”.


Houve, por certo, algo na maneira de Agripa que revelou que estava muito impressionado, e Paulo se dirigiu mais diretamente a ele: “Porque tudo isto é do conhecimento do rei, a quem me dirijo com franqueza, pois estou persuadido de que nenhuma destas cousas lhe é oculta; porquanto nada se passou aí, nalgum recanto”. A origem de muitas religiões pagãs se perde nas brumas das lendas e superstições. O Cristianismo, no entanto, é baseado em eventos históricos registrados por testemunhas oculares.


5. O efeito do testemunho de Paulo sobre Agripa.

Paulo não esperava muita compreensão do oficial romano, mas Agripa era diferente. Concluindo o seu argumento, perguntou: “Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês”. E Agripa respondeu: “Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!” Houve, por certo, grande dose de convicção nestas palavras, despertada pelo zelo e fé do apóstolo. Pode, no entanto, ter sido um pouco de cortesia, para encerrar o assunto e parar o discurso de Paulo. Ou um pouco de ironia, também. Seja como for, Paulo continuou com sinceridade, zelo e cortesia: “Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias”. Havia um belo espfrito de perdão nestas palavras. Nada de ressentimento contra judeus ou romanos. Paulo queria repartir sua fé, não as perseguições.


Considerando todos os romanos e judeus presentes, percebemos que o homem acorrentado era a alma mais nobre entre eles! Aqueles que andam segundo o Espfrito de Jesus são a verdadeira aristocracia desta terra.


Ensinamentos Práticos


1. O prisioneiro feliz. Paulo, depois de passar por muitos sofrimentos, agora era um prisioneiro que dia e noite ficava acorrentado a um soldado. Seria levado a Roma para aguardar julgamento e isto poderia significar muitos meses - ou até anos - de espera e suspense. Mesmo assim, disse: “Tenho-me por venturoso”.


Realmente, era o homem mais feliz da reunião. Certamente não gostaria de trocar de lugar com o mais ilustre de todos os presentes. Afinal, era embaixador do Rei dos reis. Se alguém tivesse mencionado suas tribulações, teria respondido: “Gloriemo-nos em nossas tribulações”. Será que, ao passamos por circunstâncias desagradáveis, temos suficiente graça da parte de Cristo para dizer:

“Tenho-me por venturoso”?


2. O erro de um homem bom.


Como um homem tão religioso como Saulo de Tarso pode chegar a ser um cruel perseguidor dos cristãos? “Bem tinha eu imaginado que...” (v. 9). Noutras palavras, tinha as melhores intenções quanto a servir a Deus. Todavia, suas ações foram inspiradas por seu próprio parecer e não pelo Espírito de Deus. Muitas desavenças em nossa família, igreja e em nosso próprio íntimo surgem por agirmos segundo o que imaginamos correto. Paulo abandonou seu erro. Estamos dispostos a fazer o mesmo?


3. Consolação para os intimidados. “... os obriguei a blasfemar”. Este era um método comum dos perseguidores. Durante as perseguições do Império Romano, a vida e liberdade eram oferecidas sob a condição de blasfemarem contra o nome de Cristo. O mundo moderno, mesmo nos países chamados cristãos, faz uma pressão enorme e incessante para que desonremos o nome de Jesus. Nos lares, empregos, escolas, coletivos e noticiários a tendência é blasfemar contra o nome do Senhor. E, também, procuram formar um ambiente para levar os cristãos a fazerem o mesmo. Os que se sentem oprimidos por algum companheiro, parente ou chefe devem renovar o ânimo: o mesmo Deus que alcançou Paulo pode transformar outros lobos em cordeiros! A estrada de Damasco, local da milagrosa conversão de Paulo, é uma realidade espiritual neste mundo moderno. E as conversões continuam quando menos se espera.


4. O homem com a experiência crescente. Paulo foi constituído ministro e testemunha do que Cristo lhe revelou. Tanto na ocasião da sua conversão como o que ainda lhe revelava (26.16). A experiência de Paulo na estrada de Damasco foi um milagroso começo para sua vida cristã. Mas não foi o ponto final. Mais revelações foram-se seguindo. Paulo foi um homem de experiências e testemunhos crescentes.


O Senhor nunca muda. Ele não tem necessidade de crescer. Somos nós quem devemos crescer no conhecimento dEle. Jó, passadas as aflições e com tudo restaurado, talvez pensasse ter recebido um Deus mais gracioso, mais poderoso. Na realidade, porém, tratava-se apenas de uma revelação mais profunda sobre o mesmo Deus eterno. É bom dar testemunho daquilo que Deus nos fez. Ao mesmo tempo, devemos ter o coração aberto para receber mais e mais da parte dEle.


Assim, sempre teremos novas bênçãos a contar.


5. Os escravos de Satanás.

Paulo testemunhava para converter os pagãos “do poder de Satanás a Deus”. Muitos pensadores modernos negam a existência de Satanás. No entanto, a negativa não tem reduzido o efeito de sua operação no mundo. Pelo contrário, as operações malignas têm- se multiplicado, enquanto muitos cristãos dormem espiritualmente. Não reconhecem que estão numa guerra contra as trevas, a qual exige oração, santificação e fé.

As verdadeiras forças deste mundo, sejam boas ou más, são espirituais. A luta real, em última análise, é “contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.


Multidões jazem na potestade de Satanás. Nossa tarefa é vestir-nos de toda a armadura de Deus e trazê-las para dentro da verdade que liberta, “orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica” (Ef 6.18).


6. Fidelidade à visão. Talvez você não tenha recebido uma visão celestial visível. Na sua conversão, porém, ganhou uma visão espiritual da vida e serviço que Deus requer de você. Uma boa pergunta para fazer diariamente a si próprio é: “Estou sendo obediente à visão celestial?” Por mais que já tenha percorrido o caminho cristão, a reconsagração é sempre valiosa: “Arrepende-te, e pratica as primeiras obras” (Ap 2.5).


7. Santa loucura. “Estás louco, Paulo”. Certa menina, com uma deformidade, era forçada a curvar-se para um lado ao andar. Depois de uma série de operações, fez seu primeiro passeio normal. Ao começar a andar, gritou aflita:


“Mamãe, estou toda torta!” Andou tanto tempo na anormalidade que o normal lhe parecia errado. A civilização anda na anormalidade espiritual há tanto tempo, que o pregador que leva o Evangelho a sério provoca gritos de: “Fanático! Louco! Exagerado! Anormal!”


Quando o mundo taxa os cristãos de loucos, é bom sinal. Demonstra que o Evangelho está sendo apresentado como algo vivo; desafiando o egoísmo e a complacência do mundo. A fé cristã não pode deixar de ser “louca”, de estar acima das probabilidades e provas do mundo. Se deixar de desprezar a interesseira prudência mundana que procura alvos materialísticos, não será o Cristianismo verdadeiro.


8. A paixão pelas almas.


Agripa esperava ser agradado pelo prisioneiro para obter misericórdia e favores. No entanto, viu-se fortemente exortado a aceitar a Cristo. Paulo não estava preocupado em defender seus próprios interesses diante dos juízes ou da opinião pública. Sua paixão de verdadeiro pregador era ganhar almas para Cristo.

Ninguém pode ser um obreiro cristão legítimo sem essa paixão dominante: “O amor de Cristo nos constrange”.


9. A Palavra de Deus e a experiência pessoal. Paulo, desejando ganhar Agripa para Cristo, contou sua experiência espiritual e apelou para as Escrituras (v. 27). Precisamos de ambas. Mas em primeiro lugar vem a Palavra de Deus, fundamento da nossa eterna salvação. Nossa experiência pessoal é a confirmação individual da eterna e universal veracidade da Palavra.


De Malta a Roma (28.11-16)

O tempo passado na ilha de Malta foi três meses (11), provavelmente novembro, dezembro e janeiro. Durante esta época, não havia navegação no Mediterrâneo. Plínio, em seu livro Natural History (ii. 47), diz que a navegação começou no dia 7 de fevereiro, com a chegada da primavera. Outro autor romano, Vegécio, declara que os mares estavam fechados de 11 de novembro até 5 de março, e eram perigosos desde 14 de setembro.


E óbvio que havia alguma divergência de opinião sobre a duração exata da estação de navegação. Mas todos concordam que durante novembro, dezembro e janeiro não era seguro aventurar-se no Mediterrâneo. Josefo fala de mensageiros enviados de Roma à Palestina que “foram surpreendidos por uma tempestade e ficaram detidos no mar durante três meses”.


Ao final de três meses em Malta, Lucas diz: partimos — “embarcamos num navio” (NASB) — num navio de Alexandria — outro navio que levava trigo do Egito à Itália, como aquele que tinha naufragado (cf. 27.6) — que invernara na ilha — provavelmente no porto principal de Valetta. O qual tinha por insígnia Castor e Pólux. Estas são somente duas palavras em grego. A primeira é um adjetivo que significa “marcado com um sinal”, aqui usado como um substantivo”, “figura de proa”. A segunda é Dioskouroi, que significa.


“Os irmãos gêmeos”. Assim, uma possível tradução é: “Que tinha os irmãos gêmeos como sua figura de proa” (NASB). A referência é aos dois filhos de Zeus, Castor e Pólux. Estes deuses gêmeos “eram objeto favorito de adoração dos marinheiros, que a eles pediam ajuda em ocasiões de tempestade”.6 Aparentemente, as imagens eram esculpidas de cada lado da proa do navio; Castor de um lado e Pólux do outro.


Aparentemente, o navio partiu de Malta em fevereiro. Ramsay sugere: “Como o outono era normalmente tempestuoso, é provável que o tempo mais agradável tivesse começado mais cedo”.

Evidentemente, um constante vento sul começou a soprar, pois eles navegaram quase que diretamente para o norte até Siracusa — “Há não mais de um dia de viagem de Malta” (cerca de oitenta milhas náuticas). Siracusa (12), na costa leste da Sicília, era o principal porto e a principal cidade daquela ilha.


Ali eles permaneceram durante três dias, supostamente porque o vento favorável tinha cessado.

De Siracusa, eles prosseguiram costeando (13) — “fizeram uma curva” (RSV) ou “deram a volta” (Phillips) — e chegaram a Régio. Esta era uma cidade na extremidade sul da Itália, cerca de onze quilômetros do outro lado do estreito de Messina, na Sicília. Parece que, depois de esperar em vão durante três dias em Siracusa, que o vento sul soprasse novamente, finalmente partiram e tomaram um vento nordeste, fazendo uma viagem mais longa até Régio.


Mas ali foram favorecidos. Soprando, um dia depois — de um atraso adicional

em Régio — um vento do sul, chegamos no segundo dia a Putéoli, “tendo percorrido uma distância de cerca de quase 180 milhas náuticas em menos de dois dias”. Navegando a favor do vento, desfrutavam um tempo excelente. Smith escreve: “Putéoli era então, como é agora, a parte mais abrigada da baía de Nápoles. Era o principal porto do sul da Itália e... um grande empório para os navios de trigo de Alexandria”.


Em Putéoli... achando alguns irmãos (14). Isto foi provavelmente um grande conforto para Paulo, Lucas e Aristarco, que provavelmente não tinham visto outros cristãos em seis meses. O centurião graciosamente permitiu que Paulo passasse uma semana com esses crentes.


Em lugar de nos rogaram — lit., “imploraram” (a palavra também pode significar “confortaram”) — alguns manuscritos apresentam: “Estavam confortados, porque ficamos”.

E depois nos dirigimos a Roma é literalmente “e assim chegamos a Roma” (NASB). O texto parece um pouco estranho, quando comparado a “logo que chegamos a Roma” (16). Ramsay opina que Roma significa todo o distrito em 14, mas a cidade propriamente dita em 16.690 Mas Lake e Cadbury rejeitam esta teoria por causa da expressão de lá (de Roma), no versículo 15. Eles sugerem uma interpretação mais simples e satisfatória:


“Portanto o provável significado é simplesmente: ‘E de Putéoli fomos diretamente a Roma”. E acrescentam: “Depois desta afirmação geral, na qual houtos [depois] enfatiza o cumprimento da profecia, o autor prossegue dando detalhes deste último estágio da viagem”.


Sobre a frase “Logo que chegamos a Roma”, Knowling faz esta pertinente observação: “Existe um tipo de triunfo nas palavras. Como um imperador que lutou e venceu uma batalha naval, Paulo entrou naquela cidade imperial; ele nunca tinha estado mais perto da sua coroa; Roma o recebeu atado è viu-o coroado e proclamado vencedor”.


As palavras e depois nos dirigimos a Roma poderiam ser a base de um sermão sobre “o preço da obediência”, onde poderíamos observar: 1. O panorama (19-21; cf. Rm 1.15); 2. A promessa (23.11); 3. O preço (em Jerusalém, em Cesaréia e no mar). Mas finalmente chegamos a Roma (16). Definitivamente, independentemente dos problemas no caminho, todas as almas obedientes atingem o destino indicado por Deus. Isto se aplica tanto aos objetivos nesta vida como em relação à nossa morada eterna.


A distância entre Putéoli e Roma era de aproximadamente 224 quilômetros, uma jornada razoavelmente longa para aqueles dias. Mas alguns dos irmãos (15) em Roma, tendo sabido da chegada de Paulo à Itália, lhes saíram ao encontro à Praça de Apio, a 69 quilômetros de Roma na antiga via Apia. Outros cristãos juntaram-se ao grupo em Três Vendas, a 53 quilômetros de Roma.


A respeito de encontro — lit., “para um encontro” — Bruce escreve: “Apantesis parece ser um tipo de termo técnico para a recepção oficial de um dignitário recém- chegado por uma delegação que saía da cidade para encontrá-lo e escoltá-lo; portanto, existe um profundo significado no uso desta palavra para descrever a recepção oferecida a Paulo pela igreja romana”.


Paulo, vendo os cristãos que tinham vindo encontrá-lo, deu graças a Deus e tomou ânimo. O apóstolo pode ter imaginado que tipo de recepção ele teria por parte da igreja romana. Se ele tivesse alimentado quaisquer dúvidas ou medos, teriam sido rapidamente dissipados pela calorosa recepção que lhe foi dada. A presença destes crentes amistosos deve ter trazido grande conforto para o apóstolo.


Logo que chegamos a Roma (16) — mais apropriadamente “quando entramos em Roma” (NASB) — o centurião entregou os presos ao general dos exércitos. Provavelmente era o comandante da guarda pretoriana. Como um favor especial para o seu extraordinário prisioneiro, a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta, com o soldado que o guardava. Podemos ter certeza de que o centurião tinha recomendações sobre Paulo. A carta que Festo enviou também indicaria que Paulo não era um criminoso perigoso.


O último nós (subentendido aqui) do livro aparece aqui. Lake e Cadbury observam: “O versículo 16 encerra as ‘seções — nós’, e o autor adiciona um parágrafo de conclusão, resumindo os dois anos seguintes, que Paulo passou em Roma”.


Roma, 28.17-31

A Reunião com os Líderes Judeus (28.17-22)


Três dias depois (17) — provavelmente passados em visitas dos cristãos que tinham vindo para vê-lo — Paulo convocou os principais dos judeus.

Cláudio tinha decretado o desterro de todos os judeus de Roma (18.2), mas está claro que muitos tinham retornado, O apóstolo estava dando continuidade, mesmo em Roma, a sua política de ministrar primeiramente aos judeus.


A estes líderes judeus locais, ele disse que embora não tivesse feito nada contra o povo ou contra os ritos paternos, ainda assim acabou sendo... entregue nas mãos dos romanos. Quando examinado por eles, ele poderia ter sido libertado (18), mas quando os judeus pareciam determinados a vê-lo morto, ele tinha apelado a César (19).


Então ele acrescentou: não tendo, contudo, de que acusar a minha nação. O que ele evidentemente quer dizer é que estava completamente na defensiva nos seus julgamentos perante Félix e Festo; ele não trouxe acusações contra aqueles que o tinham acusado. Os judeus ainda eram o seu povo.

Paulo então anunciou a razão pela qual tinha desejado falar com eles: porque pela esperança de Israel estou com esta cadeia (20). Esta era a esperança messiânica e a fé na ressurreição (cf. 23.6; 26.6-8).


Em resposta, os líderes judeus de Roma disseram que eles não tinham recebido nenhuma carta de Jerusalém a respeito dele, nem alguma informação de alguém da Judéia contra ele (21). Isto parece um pouco surpreendente, devido aos dois anos que Paulo passou na prisão em Cesaréia. Bruce fazuma sugestão útil: “A lei romana era severa contra os acusadores malsucedidos; é provável, portanto, que eles tenham abafado o caso”. Os judeus queriam ouvir Paulo falar por si mesmo (22). Tudo o que eles sabiam era que quanto a esta seita (hairesis; cf. 5.17; 15.5; 24.5, 14) notório nos é que em toda parte se fala contra ela.


A Rejeição de Jesus (28.23-29)


Foi definido um dia em que Paulo pudesse explicar a sua posição religiosa (23). No dia indicado, muitos foram ter com ele à pousada, ou “como seus convidados” (NEB). A eles, declarava — “explicava” — com bom testemunho — lit., “confirmava com o seu testemunho” — o Reino de Deus. Ele tinha um conhecimento original do Reino em seu próprio coração. Desde pela manhã até à tarde, Paulo discursou e procurou persuadi-los à fé de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas. Esta deve ter sido uma exposição magnífica, superada apenas por aquela que o próprio Senhor Jesus fez aos discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.27).


Como sempre, a resposta foi mesclada: alguns criam — lit., “foram persuadidos” — no que se dizia, mas outros não criam (24). Mesmo na atualidade, o pregador do Evangelho passa pela mesma reação dupla por parte dos seus ouvintes. Maclaren nos lembra que “cada um de nós pertence a uma ou a outra dessas duas classes”, e prossegue: “O mesmo fogo derrete a cera e endurece a argila; a mesma luz é alegria para os olhos sadios e agonia para os enfermos; a mesma palavra tem sabor de vida para a vida, e sabor de morte para a morte; o mesmo Cristo existe para a queda e para a ressurreição dos homens, e é para alguns a fundação segura sobre a qual eles constroem com segurança — mas para outros a pedra sobre a qual eles tropeçam e se machucam, e que, quando cai sobre eles, os reduz a pó”.


Quando os judeus começaram a discutir entre si, Paulo lhes disse esta palavra:

Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías (25). Este é um dos muitos testemunhos que o Novo Testamento dá sobre a inspiração e autoridade divinas do Antigo Testamento. A citação dos versículos 26 e 27 é de Isaías 6.9-10. Paulo já a tinha usado em Romanos 11.8. De maneira semelhante, Jesus aplicou-a aos judeus que o rejeitaram (Mt 13.13- 15; ver BBC, VI, 132-33).


A seguir, Paulo repetiu uma declaração que ele tinha feito, em essência, em duas ocasiões anteriores (cf. 13.46; 18.6). Ele disse: Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão (28). Bruce comenta: “Assim, enquanto o livro de Atos registra a expansão do Evangelho entre os gentios, também registra progressivamente a rejeição dele pela maior parte da nação judaica”. O versículo 29 não está presente nos manuscritos gregos mais antigos. Por essa razão, ele também tem sido omitido por várias versões atuais (ERV, ASV, RSV, NEB, NASB).


Dois Anos em Roma (28.30-3 1)


Por que o livro de Atos termina com a menção de Paulo passando dois anos na prisão em Roma? A dedução mais natural é que ele foi libertado no final dos dois anos inteiros (30). Alguns pensam que ele pode ter sido absolvido. Por exemplo, Ramsay escreve: “O fato de que ele foi absolvido é uma exigência, tanto por parte das evidências em Atos... quanto por outras razões bem fundamentadas e propostas por outros” No entanto, em um artigo posterior, Ramsay adotou a opinião de Lake, fornecida a seguir.


Lake sugere que os acusadores judeus deixaram de aparecer, e assim Paulo foi libertado. Ele especula — não há um conhecimento seguro sobre este ponto — que dois anos pudessem ser o limite legal para manter um prisioneiro à espera de julgamento. Bruce conclui: “Depois de dois anos, o caso provavelmente prescrevia”. De acordo com isto, Winn diz: “Não é improvável que o caso tenha prescrito por falta de acusação”.


Durante estes dois anos, Paulo ficou na sua própria habitação que alugara. Lake e Cadbury preferem a expressão “às suas próprias custas” (cf. RSV, NEB). Eles dizem: “Não existem evidências de que misthoma signifique ‘uma casa alugada’ (AV)”. Paulo recebia todos quantos vinham vê-lo, pregando (30-3 1)— “proclamando” — o Reino de Deus e ensinando as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo. Assim, o seu ministério era uma combinação de pregação e de ensino. Ele fazia isto com toda a liberdade. O substantivo grego parresia é uma palavra interessante (cf. 4. 13,29,31), e significa: “1. Falar abertamente, franqueza, objetividade no falar, que não esconde nada e não ignora nada... 2. ‘Abertura’ algumas vezes leva à abertura ao público, diante de quem ocorre o falar e o agir... 3. Coragem, confiança, ousadia, destemor, especialmente na presença de pessoas de nível elevado”.


Sem impedimento algum é uma única palavra em grego, um advérbio que significa “sem nenhum obstáculo”. Arndt e Gingrich traduziram as duas últimas frases como “bastante abertamente e sem obstáculos”.709 Este foi o triunfo final de Paulo no livro de Atos. Ele tinha se erguido corajosamente diante de Félix, de Festo e de Agripa, testemunhando destemidamente a favor de seu Senhor. Agora, como um prisioneiro romano, ainda pregava o Evangelho eterno.

Ele não tinha a liberdade de sair, mas ministrava a todos aqueles que vinham a ele.


Desta cena final do livro de Atos, dois pontos significativos são sugeridos porAlexander Maclaren: 1. Os caminhos inesperados e nem sempre bem-vindos de Deus para realizar os nossos desejos, e os seus propósitos. Paulo desejou durante um longo tempo pregar em Roma (Rm 15.23), mas ele não teria escolhido esta maneira de ir até lá — como um prisioneiro acorrentado.


“A fúria judaica, os ardis do estado e a permanência da lei romana, dois anos em uma prisão, uma viagem em meio a uma tempestade, um naufrágio, acabaram por conduzi-lo ao seu objetivo tão desejado, por tanto tempo”. 2. A equivocada estimativa de grandeza do mundo. Maclaren escreve: “Quem era o maior homem em Roma naquela época? Não o César, mas o pobre prisioneiro judeu”.


Como o propósito de Lucas era descrever a divulgação do Evangelho, desde Jerusalém até Roma, ele termina com um breve resumo do ministério de Paulo nesta cidade imperial. Não conhecemos o motivo por que ele interrompe o livro aqui. Qualquer resposta seria somente especulação.


Alguns opinam que Lucas pretendia escrever um terceiro volume. Mas isto é duvidoso. Outros opinam que Paulo foi executado. Mas isto não combina facilmente com o silêncio de Lucas a esse respeito. A conclusão mais natural é que Paulo foi libertado e Lucas simplesmente terminou a história.


Paulo Prega Dois Anos em Roma = vv.30,31


Aqui estamos nos despedindo da história do bendito Paulo; e, portanto, visto que Deus achou por bem que nós não soubéssemos nada mais a seu respeito, nós devemos cuidadosamente tomar nota de cada detalhe das circunstâncias nas quais nós devemos aqui deixá-lo. Não pode senão ser um problema para nós que devamos deixá-lo preso por Cristo, mais ainda, que não tenhamos nenhuma expectativa de que ele seja posto em liberdade. Dois anos inteiros da vida desse bom homem são aqui gastos em confinamento e, pelo que parece, ele não foi questionado novamente, todo esse tempo, por aqueles de quem ele era prisioneiro.


Ele apelou para César na esperança de uma rápida libertação de seu aprisionamento, os governadores tendo informado à sua majestade imperial a respeito do prisioneiro de que ele nada fizera que fosse digno de morte ou prisões, ainda assim ele está detido como prisioneiro.


Tão pouca razão nós temos para confiar nos homens, especialmente prisioneiros desprezados em homens importantes; atentem ao caso de José, de quem o copeiro-mor não se lembrou, mas esqueceu (Gn 40.23). Alguns pensam ainda que embora não seja mencionado aqui, foi no primeiro desses dois anos, e bem no início daquele ano, que ele foi pela primeira vez levado diante de Nero, então suas prisões em Cristo foram manifestas na corte de César, como ele diz (Fp 1.13). E nessa primeira defesa foi que ninguém o assistiu (2 Tm 4.16).


Mas parece que ao invés de ser posto em liberdade por essa apelação, como ele esperava, malmente escapou das mãos do imperador com vida; ele chama isso de libertação da boca do leão (2 Tm 4.17), e o fato de ele falar de sua primeira defesa dá a entender que teve uma segunda, na qual se saiu melhor porém ainda não foi liberto.


Durante esse aprisionamento de dois anos, ele escreveu sua epístola aos Gaiatas, depois sua segunda epístola a Timóteo, em seguida aquelas aos Efésios, Fiipenses, Colossenses e a Filemom, nas quais ele menciona varias coisas particularmente relacionadas a seu aprisionamento; e, por último, sua epístola aos Hebreus, pouco depois que ele foi posto em liberdade, como Timóteo também foi, que, vindo visitá-lo, foi de um modo ou outro feito seu co-prisioneiro (com o qual, Paulo escreve aos Hebreus, cap. 13.23, se vier depressa vos verei), mas como ou por quais meios ele obteve a liberdade não nos é dito, apenas que por dois anos foi prisioneiro.


A tradição diz que depois de sua libertação ele foi da Há- lia para a Espanha, de lá para Creta, e então com Timóteo para a Judéia, e de lá foi visitar as igrejas na Asia, e, por fim, foi uma segunda vez a Roma, e ali foi decapitado no último ano de Nero. Mas o próprio Baronius confessa que não há certeza de qualquer coisa a respeito dele entre sua libertação desse aprisionamento e seu martírio; mas é dito por alguns que Nero, quando começou a representar o tirano, tendo se colocado contra os cristãos, e os perseguido (e ele foi o primeiro imperador que promulgou uma lei contra eles, como Tertuliano diz, Apol., cap. 5), a igreja em Roma foi muito enfraquecida pela perseguição, e isso trouxe Paulo uma segunda vez a Roma para restabelecer a igreja ali, e confortar a alma dos discípulos que foram deixados, e assim caiu uma segunda vez nas mãos de Nero.


E Crisóstomo relata que uma jovem que era uma das senhoritas (para falar com elegância) de Nero, ao ser convertida pela pregação de Paulo à fé cristã, e desse modo tirada da forma lasciva de vida em que ela vivia, Nero ficou exaltado contra Paulo por isso, e ordenou primeiro que fosse aprisionado, e em seguida, entregue à morte.


Mas para ficar nesse breve relato dado aqui: 1. E angustiante pensar que um homem útil como Paulo ficasse tanto tempo reprimido. Por dois anos ele foi prisioneiro de Félix (cap. 24.27), e, além de todo o tempo que passou entre isso e a sua vinda a Roma, ele fica aqui mais dois anos como prisioneiro de Nero.

Quantas igrejas Paulo poderia ter plantado, quantas cidades e nações poderia ele ter levado a Cristo nesse período de cinco anos (pois foi no mínimo isso), se ele tivesse estado em liberdade! Mas Deus é sábio, e mostrará que Ele não é devedor dos instrumentos mais úteis que Ele emprega, mas pode e realizará seu próprio interesse, tanto sem seus serviços quanto através dos seus sofrimentos.


Até mesmo as prisões de Paulo contribuíram para maior proveito do evangelho (Fp 1.12-14). 2. Porém, mesmo o aprisionamento de Paulo foi em alguns aspectos um beneficio para ele, porque passou esses dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e isso foi mais, que eu saiba, do que ele jamais fizera antes.

Ele sempre esteve acostumado a se hospedar na casa dos outros, agora ele tem uma casa que é sua — sua enquanto ele pagar o aluguel; e um retiro como esse seria um alívio para alguém que passou todos os seus dias como itinerante. Ele sempre esteve acostumado a se mudar, raras vezes se demorava em um lugar mas agora ele morou por dois anos na mesma casa; de maneira que a sua remoção para essa prisão foi como o chamado de Cristo a seus discípulos para virem a um lugar deserto e repousar um pouco (Mc 6.31).


Quando estava em liberdade, estava continuamente com medo das ciladas dos judeus (cap. 20.19), mas agora sua prisão era sua fortaleza. Assim, do comedor saiu comida, e doçura saiu do forte.

Todavia, é um prazer para nós (porque nós temos certeza de que foi para ele) que, embora nós o deixemos em prisões por Cristo, também o deixamos trabalhando por Cristo, e isso tornou suas prisões suportáveis para que ele não fosse por elas impedido de servir a Deus e fazer o bem. Sua prisão se torna um templo, uma igreja, e assim é para ele um palácio.

Suas mãos estão amarradas, mas, graças a Deus, sua boca não foi amordaçada; um ministro zeloso e fiel pode suportar melhor qualquer dificuldade do que ser silenciado. Aqui Paulo é um prisioneiro, e, no entanto, um pregador; ele está preso, mas a palavra do Senhor não.


Quando escreveu sua epístola aos Romanos, disse que desejava vê-los, para lhes comunicar algum dom espiritual, afim de que fossem confortados (Rm 1.11); ele estava contente de ver alguns deles (v. 15), mas sua alegria seria incompleta a menos que pudesse dividir com eles algum dom espiritual, que aqui ele tem uma oportunidade de fazer, e então ele não se queixará de seu confinamento. Observe:


1. A quem ele pregava: para todo aquele que tinha disposição para ouvi-lo, quer judeus quer gentios. Não parece que ele tinha liberdade de ir para as outras casas para pregar; é provável que não; mas quem quer que tivesse liberdade de vir à sua casa para ouvir era bem-vindo: ele recebia todos quantos vinham vê-lo. Note:


As portas dos ministros devem estar abertas para aqueles que desejam receber instrução deles, eles devem ficar contentes de ter oportunidade de aconselhar aqueles que se importam com sua alma. Paulo não podia pregar em uma sinagoga, ou qualquer lugar de encontro que fosse suntuoso e espaçoso, mas ele pregava em sua pobre cabana. Note:


Quando não podemos fazer o que gostaríamos para o serviço de Deus, devemos fazer o que podemos. Aqueles ministros que têm apenas pequenas casas alugadas devem antes pregar nelas, se tiverem a permissão de fazer isso, e não ficar calados.


Ele recebia todos quantos vinham vê-lo, e não tinha medo dos grandes, nem se envergonhava dos pequenos. Ele estava pronto para pregar no primeiro dia da semana aos cristãos, no sétimo dia aos judeus, e a todos que quisessem vir em qualquer dia da semana; e ele podia esperar que o bem fosse promovido porque eles vinham vê-lo, o que pressupunha um desejo de serem instruídos e disposição para aprender e onde há esses elementos é provável que algum bem possa ser feito.


2. O que ele pregava. Ele não enche a cabeça deles com especulações curiosas, nem com questões de estado e política, mas se mantém na sua área, se ocupa de seus negócios como apóstolo. (1) Ele é embaixador de Deus, e por isso, prega o Reino de Deus, faz tudo o que pode para pregá-lo, administra suas tarefas para o progresso de todos os seus interesses verdadeiros. Ele não interfere nos assuntos dos remos dos homens; que aqueles que tratam deles se ocupem com isso.


Ele prega o Reino de Deus entre os homens e a palavra daquele reino; o mesmo que ele declarava em seus debates públicos, o bom testemunho do reino de Deus (v. 23), ele destacava em sua pregação pública, como aquilo que, se recebido corretamente, torna a todos nós sábios e bons, mais sábios e melhores, que é a finalidade da pregação. (2) Ele é um agente de Cristo, um amigo do noivo, e por isso ensina as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo — toda a história de Cristo, sua encarnação, doutrina, vida, milagres, morte, ressurreição e ascensão; tudo que se relaciona ao mistério da piedade.


Paulo prendia-se ainda ao seu princípio — não sabei’ nem pregar nada senão Cristo, e esse crucificado. Os ministros, quando na pregação são tentados a se desviar daquilo que é sua função principal, deveriam se limitar com esta pergunta: O que isso tem que ver com o Senhor Jesus Cristo?


Que força tem isso para nos levar a Ele e nos manter no caminho com Ele? Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus.


3. Com que liberdade ele pregava. (1) A graça divina lhe deu liberdade de espírito. Ele pregava com toda confiança, como alguém que estava bem seguro da verdade do que proclamava — isso ele ousava sustentar; e também do seu valor — por isso ele ousava sofrer. Ele não se envergonhava do evangelho de Cristo. (2) A Providência divina lhe deu liberdade para falar: Ele pregava sem impedimento algum; ninguém ficava monitorando suas atividades ou impondo qualquer restrição.


Os judeus que costumavam proibi-lo de falar aos gentios não tinham autoridade aqui; e o governo romano ainda não considerava que seguir o cristianismo fosse um crime.


Nisso nós devemos reconhecer a mão de Deus: [1]

Ao estabelecer limites à fúria dos perseguidores; onde Ele não converte o coração, Ele ainda pode amarrar a mão e refrear a língua. Nero era um homem sanguinário, e havia muitos, tanto judeus quanto gentios, em Roma, que odiavam o cristianismo; e, no entanto, acontecia inexplicavelmente que Paulo, embora um prisioneiro, fosse tolerado como pregador do evangelho, e isso não era interpretado como violação da ordem pública. Desse modo, Deus faz a cólera do homem redundar em seu louvor e o restante da cólera, ele a restringe (Sl 76.10).


Embora houvesse muitos que tinham poder de proibir a pregação de Paulo (mesmo o soldado comum que o guardava poderia tê-lo feito), Deus ordenou de tal forma que ele pregasse sem impedimento algum. [2] Veja aqui Deus proporcionando conforto para alívio do perseguido. Embora fosse uma esfera muito baixa e estreita de oportunidade na qual Paulo estava aqui colocado, comparada com aquela em que ele tinha estado, porém, tal como era, ele não era molestado nem perturbado.


Embora não fosse uma porta ampla que estava aberta para ele, mesmo assim foi mantida aberta, e nenhum homem teve a permissão de fechá-la; e ela foi para muitos uma porta eficaz, de maneira que havia santos até na casa de César (Fp 4.22). Quando a cidade de nossas solenidades é desse modo feita uma habitação tranqüila a qualquer tempo, e nós somos alimentados dia após dia com o pão da vida, sem nenhum homem nos proibindo, nós devemos dar graças a Deus por isso e nos preparar para mudanças, ainda que desejando aquela sagrada montanha na qual jamais haverá sarça de espinhos nem abrolhos dolorosos.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS


BIBLIOGRAFIA

Comentário Bíblico Beacon

Comentário Bíblico Atos – Myer Pearlman

Comentário Bíblico Mathew Henry - Novo Testamento Edição Completa